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ead.faminas.edu.br 1 ead.faminas.edu.br 2 Unidade 3: Psiquiatria e Psicologia Jurídica: fundamentos e aplicações Sumário UNIDADE III - Psiquiatria e Psicologia Jurídica ............................................................. 3 OBJETIVOS ................................................................................................................. 3 APRESENTAÇÃO ........................................................................................................ 3 1. Conceitos e fundamentos de saúde mental .............................................................. 4 2. Psicopatologias: estruturas psíquicas ....................................................................... 9 3. Imputabilidade, semi-imputabilidade e inimputabilidade .......................................... 10 4. Sugestões de Leitura .............................................................................................. 14 RESUMO .................................................................................................................... 15 ATIVIDADES DE FIXAÇÃO ........................................................................................ 16 GABARITO ................................................................................................................. 17 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 18 file://///10.31.16.21/EAD$/Ana%20Carolina/EAD%20-%202020-1/Psicologia%20Juridica/Unidade%203/PsicologiaJuridica_Unidade3%20Revisada.docx%23_Toc33712923 file://///10.31.16.21/EAD$/Ana%20Carolina/EAD%20-%202020-1/Psicologia%20Juridica/Unidade%203/PsicologiaJuridica_Unidade3%20Revisada.docx%23_Toc33712924 file://///10.31.16.21/EAD$/Ana%20Carolina/EAD%20-%202020-1/Psicologia%20Juridica/Unidade%203/PsicologiaJuridica_Unidade3%20Revisada.docx%23_Toc33712925 file://///10.31.16.21/EAD$/Ana%20Carolina/EAD%20-%202020-1/Psicologia%20Juridica/Unidade%203/PsicologiaJuridica_Unidade3%20Revisada.docx%23_Toc33712930 file://///10.31.16.21/EAD$/Ana%20Carolina/EAD%20-%202020-1/Psicologia%20Juridica/Unidade%203/PsicologiaJuridica_Unidade3%20Revisada.docx%23_Toc33712931 file://///10.31.16.21/EAD$/Ana%20Carolina/EAD%20-%202020-1/Psicologia%20Juridica/Unidade%203/PsicologiaJuridica_Unidade3%20Revisada.docx%23_Toc33712932 file://///10.31.16.21/EAD$/Ana%20Carolina/EAD%20-%202020-1/Psicologia%20Juridica/Unidade%203/PsicologiaJuridica_Unidade3%20Revisada.docx%23_Toc33712933 ead.faminas.edu.br 3 UNIDADE III Este é o terceiro capítulo do livro sobre Psicologia Jurídica que aborda a importância do diálogo entre a Psicologia e o Direito. Neste capítulo, abordaremos acerca das questões relacionadas à Saúde Mental, sendo necessário a interlocução não somente das duas disciplinas já citadas, mas também da Psiquiatria. Apresentaremos os conceitos e fundamentos de Saúde Mental, bem como alguns pontos sobre psicopatologias, imputabilidade, inimputabilidade e semi-imputabiidade, procurando relacionar os conceitos com relatos da prática e também com vídeos e depoimentos que enriquecerão a discussão. Abordaremos as possibilidades, os perigos e os desafios do ato de diagnosticar. Pretendemos que ao final desta Unidade você consiga, a partir da reflexão que será realiza, ampliar e rever, se for o caso, alguns pontos de sua percepção acerca das questões concernentes à Saúde Mental, ao que é considerado normal e patológico, a partir do convite a um olhar profissional, respeitoso e humano em relação às questões apresentadas, em detrimento à uma visão limitada e até mesmo preconceituosa ainda vigente no senso comum. O objetivo com esse estudo é refletirmos sobre alguns conceitos, visando fundamentar a prática profissional diante de situações complexas que exigem respostas diversificadas, alcançadas por meio de ações contextualizadas e construídas coletivamente. OBJETIVOS Apresentar os conceitos e fundamentos de Saúde Mental. Compreender sobre imputabilidade, inimputabilidade e semi- imputabilidade. Expor alguns elementos sobre as Psicopatologias. Refletir sobre a prática. UNIDADE III - Psiquiatria e Psicologia Jurídica APRESENTAÇÃO ead.faminas.edu.br 4 1. Conceitos e fundamentos de saúde mental O médico tenta adaptar o corpo doente ao corpo são; mas nós não sabemos o que é são ou doente na vida social (PESSOA, 2006, p.177). Você já parou para pensar como está a saúde mental das pessoas ao seu redor? Façamos essa reflexão a partir das características abaixo. Segundo Fiorelli & Mangini (2015), uma pessoa saudável mentalmente: compreende que não é perfeita; entende que não pode ser tudo para todos; vivencia uma vasta gama de emoções; enfrenta desafios e mudanças da vida cotidiana; procura ajuda para lidar com traumas e transições importantes. Os pontos citados sinalizam algumas atitudes da pessoa que está com a saúde mental preservada, mas também aspectos da vida em comum, relacional que podem ajudar ou dificultar praticar tais atitudes. Um exemplo nesse sentido: Uma adolescente de 16 anos morava somente com sua mãe, após o pai ter saído de casa e ido residir com outra mulher com a qual tivera um relacionamento extraconjugal por vários anos. Tal vivência acarretou que a mãe apresentasse um transtorno depressivo1 e iniciasse um tratamento com a equipe de saúde mental do município em que morava, com o uso de medicação, inclusive. Uma ex-nora da mãe começou a pressioná-la para o pagamento da pensão alimentícia do neto, já que o pai do menino não pagava, o que agravara ainda mais o adoecimento da mãe. A adolescente, filha dessa mãe adoecida, vai até o local de trabalho da ex-nora da mãe e tenta matá-la com golpes de faca. 1 De acordo com Fiorelli & Mangini (2015), alguns sinais do transtorno depressivo são: o indivíduo se entregar a profunda desesperança, não sentir prazer pelas atividades, aparentar contínua tristeza. Um evento traumático pode desencadear estados depressivos. ead.faminas.edu.br 5 Ao ser questionada em relação ao seu ato, alegou que precisava proteger a sua mãe que estava muito fragilizada. Não teceremos maiores considerações a respeito desse relato que traz vários elementos, apenas salientemos a complexidade que envolve as questões de saúde mental, nesse caso, tanto da mãe como da filha. A adolescente comete um ato, um ato infracional. “[...] o ato diz do sujeito, e se acolhido, escutado, pode rearticular o sujeito ao laço social” (OLIVEIRA, 2019, p. 75). Essa acolhida e escuta podem ocorrer juntamente com as sanções que devem ser aplicadas como consequências do ato praticado. Para saber mais sobre adolescência e ato acesse: http://www.isepol.com/asephallus/numero_04/traducao_02.htm Continuando a compreensão acerca do conceito de saúde mental, Garcia (2002) salientou alguns critérios que se referem a um conceito de Saúde Mental, tais como: capacidade de viver perdas e lutos, capacidade de tolerar frustrações e seus próprios sentimentos agressivos sem grande culpabilidade. O autor ainda nos apresenta que há também, por parte de alguns, uma compreensão do conceito de Saúde Mental como um termo empregado com relação a uma comunidade, articulado no nível coletivo. Nessa vertente, temos a disciplina denominada Epidemiologia https://www.google.com.br/search?source=hp&ei=zDM0XqG6Ad7Y5OUPpLK7iAY&q=epidemiologia&oq= epid&gs_l=psyab.1.2.0l10.937.2413..6255...0.0..0.134.444.2j2......0....1..gwswiz.PDRN8hXT_18) Discorrermos sobre a relação entre saúde e doença nos auxilia na compreensãodesses conceitos e nos adverte quanto às possibilidades de posicionamento de acordo com o modo que se pensa essa relação. Segundo Canguilhem (2009), há alguns médicos que querem restaurar na norma desejada o organismo afetado pela doença, não depositando expectativa alguma que a própria natureza do organismo se Epidemiologia é uma disciplina básica da Saúde Pública voltada para a compreensão do processo saúde-doença no âmbito de populações, aspecto que a diferencia da clínica, que tem por objetivo o estudo desse mesmo processo, mas em termos individuais. http://www.isepol.com/asephallus/numero_04/traducao_02.htm https://www.google.com.br/search?source=hp&ei=zDM0XqG6Ad7Y5OUPpLK7iAY&q=epidemiologia&oq=epid&gs_l=psyab.1.2.0l10.937.2413..6255...0.0..0.134.444.2j2......0....1..gwswiz.PDRN8hXT_18 https://www.google.com.br/search?source=hp&ei=zDM0XqG6Ad7Y5OUPpLK7iAY&q=epidemiologia&oq=epid&gs_l=psyab.1.2.0l10.937.2413..6255...0.0..0.134.444.2j2......0....1..gwswiz.PDRN8hXT_18 ead.faminas.edu.br 6 encarregue da cura. Nesses casos, a intervenção médica deve ser iniciada rapidamente com vistas à cura que somente poderá vir a partir dessa intervenção. Já uma outra concepção que também norteia o pensamento dos médicos, segundo o autor, é contrária a primeira pela compreensão que o organismo desenvolve uma doença para se curar, sendo assim, pode-se apostar na capacidade do próprio organismo restabelecer-se. Diante disso, a terapêutica utilizada pelo médico deve tolerar, aguardar um pouco, esse movimento espontâneo do organismo. Nas duas concepções a doença difere da saúde, o patológico difere do normal, como dois estados totalmente distintos e separados um do outro. Mas Canguilhem (2009) descreveu também uma teoria que relaciona o normal e o patológico, segundo a qual os fenômenos patológicos nos organismos vivos são variações quantitativas dos fenômenos fisiológicos correspondentes. Fenômenos fisiológicos? A fisiologia é uma parte da Biologia dedicada à compreensão do funcionamento do corpo, sendo responsável por desvendar todos os processos físicos, químicos e mecânicos envolvidos na manutenção da vida. Ainda em sua obra, Canguilhem (2009) nos alertou para a complexidade em se definir o que é normal e o que é patológico, pois, aquilo que é normal, apesar de ser normativo em determinadas condições, pode se tornar patológico em outra situação, se permanecer inalterado. Como exemplo é citado o astigmatismo, que poderia ser considerado normal em uma sociedade agrícola, mas patológico para alguém que estivesse na marinha ou na aviação. Portanto, o patológico não possui uma existência em si, podendo apenas ser concebido numa relação. O autor acrescenta ainda que é o indivíduo que pode avaliar essa transformação porque é ele quem sofre as consequências. Nessa perspectiva, ele valoriza, em detrimento à norma padronizada, uma normatividade da vida, ou seja, uma norma individual em que cada indivíduo tem a sua concepção do que é normal para si. ead.faminas.edu.br 7 Não é absurdo considerar o estado patológico como normal, na medida em que exprime uma relação com a normatividade da vida. Seria absurdo, porém, considerar esse normal idêntico ao normal fisiológico, pois trata-se de normas diferentes. Não é a ausência de normalidade que constitui o anormal. Não existe absolutamente vida sem normas de vida, e o estado mórbido é sempre uma certa maneira de viver (CANGUILHEM, 2009, p. 92). Vemos, então, que o autor salienta a importância de se considerar a subjetividade na compreensão do que é patológico ou não. Todavia, é importante ressaltarmos que essa consideração é importante e tem cabimento desde que não comprometa o pacto social, pois caso isso ocorra, no caso de uma infração, por exemplo, as medidas pertinentes devem ser tomadas. Sendo assim, conceituar saúde e doença não é tão simples assim, também no campo da saúde mental. Atualmente, a expressão “transtorno mental” é usada no lugar de “doença mental”. “As características dos transtornos, orgânicos ou mentais, transformam-se com o passar do tempo. Novos são identificados, alguns acentuam-se, enquanto outros apresentam redução” (FIORELLI & MANGINI, 2015, p. 97). ATENÇÃO! É indispensável que o diagnóstico seja realizado por profissionais especializados. Após discorrermos sobre a complexidade acerca da conceituação de saúde e doença e considerando isso, inclusive, não somente nas questões relacionadas à saúde, mas em outras que podem gerar a desinserção social, Garcia (2002) nos alerta para a importância da abertura dos profissionais da rede de atendimento àqueles que se encontram nessa situação. Garcia (2002) cunhou a expressão “Rede de redes” como uma nova forma de pensar e tratar o sistema de atendimento e cuidados em casos de desinserção social (o adolescente autor de um ato infracional, um aluno que está com fraco rendimento ou mesmo já abandonou a escola, a dependência de drogas, o louco, dentre outros). Essa experiência do funcionamento em rede começou em Belo Horizonte, no atendimento a usuários da Saúde Mental. “Não há repetente, nem egresso, nem reincidente quando pensamos o atendimento a partir de uma rede de redes. Há sujeitos que não se sentem bem em lugares que lhes foram atribuídos pelo sistema social, sujeitos em processo de desinserção” (GARCIA, 2002, p.109). ead.faminas.edu.br 8 Em concordância com Garcia (2002), encontramos Rosa (2015) ao afirmar que é necessário “ampliar também a disponibilidade do sistema de justiça de correr riscos e aumentar sua margem de responsabilização quanto ao tipo de pacto social que propõe para os adolescentes” (Rosa, 2015, p. 136 e 137). Nesse caso, lendo todo o trabalho da autora, observamos que ela se referiu aos adolescentes autores de um ato infracional. Todavia, não é apenas para o sistema de justiça que trabalha com esse grupo de pessoas que esse convite é feito. A proposta que Garcia (2002) nos faz é a da invenção, da possibilidade da novidade em cada encontro. “Cabe ao sistema como um todo não se apresentar sempre no mesmo lugar. A primeira a reincidir é a instituição em sua mesmice, em seu anacronismo, em seus hábitos, quanto tudo em volta já evoluiu” (p.109). Um importante integrante dessa rede é o Judiciário, com sua função fundamental de aplicar sentenças, dar a última palavra. Nesse sentido, Barros-Brisset (2010) ressalta: O conceito de defesa social em jogo na política de segurança pública precisa ser redesenhado de acordo com a pluralidade das formas razoáveis de laço social na sociedade contemporânea e exige a invenção de novos modos de aplicação das sentenças judiciais (p. 16). Na perspectiva da interface entre o Judiciário a Saúde Mental, Garcia que fez o prefácio de Barros Brisset (2010) salientou que na conexão entre essas duas instâncias do serviço público brasileiro havia um tensionamento originado pelo acúmulo de usuários que chegavam às portas do hospital psiquiátrico, oriundos do Judiciário, quando esses usuários haviam recebido uma medida de segurança, após terem sido considerados inimputáveis diante do juiz. Esse será o assunto do terceiro tópico dessa Unidade. Após toda a discussão realizada até aqui, nesta Unidade especialmente, mas também nas duas anteriores, vamos apresentar alguns elementos acerca das psicopatologias. Sem esse percurso anterior, poderia ser feita uma leitura empobrecida e estereotipada do que veremos a seguir, o que não é, de maneira nenhuma, a proposta. ead.faminas.edu.br 9 2. Psicopatologias: estruturas psíquicas As estruturas psíquicas demarcam um modo de funcionamento psíquico e, consequentemente, influenciam comportamentos. Estrutura traz a ideia de algo fixo, algo de uma certa estabilidade que embasa o funcionamento psíquico. Estabelecer um diagnósticoé avaliar sintomas e sinais a fim de classificá-los. Citemos o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM V, publicado em 2014, documento com quase 1000 páginas que descreve inúmeros transtornos especificando as características de cada um deles. Para saber mais acesse: http://www.niip.com.br/wp- content/uploads/2018/06/Manual-Diagnosico-e-Estatistico-de- Transtornos-Mentais-DSM-5-1-pdf.pdf No primeiro tópico desta Unidade, comentamos brevemente sobre o transtorno depressivo, salientando algumas de suas características. Complementando as informações que demos com as do Manual citado acima, podemos dizer que: “A característica comum desses transtornos é a presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo (DSM 5, p. 155). Citemos outro que “tem particular interesse para a Psicologia Forense o transtorno de personalidade antissocial, também denominado psicopatia, sociopatia, transtorno de caráter, transtorno sociopático, transtorno dissocial” (FIORELLI & MANGINI, 2015, p. 108). Os autores ainda salientam que ele tem como característica essencial o padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros. Nesse caso, o indivíduo não se enquadra na categoria de portador de doença mental, porém encontra-se à margem da normalidade psicoemocional e comportamental. Esse transtorno também é conhecido como transtorno de conduta, mas é importante ressaltar que nem todo psicopata é criminoso. O transtorno de conduta envolve um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual os direitos básicos dos outros ou as principais normas ou regras sociais apropriadas à idade são violados. Os comportamentos específicos característicos do transtorno da conduta encaixam-se em uma de quatro categorias: agressão a pessoas e animais, destruição de propriedade, fraude ou roubo ou grave violação a regras. (DSM 5, p. 659). http://www.niip.com.br/wp-content/uploads/2018/06/Manual-Diagnosico-e-Estatistico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5-1-pdf.pdf http://www.niip.com.br/wp-content/uploads/2018/06/Manual-Diagnosico-e-Estatistico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5-1-pdf.pdf http://www.niip.com.br/wp-content/uploads/2018/06/Manual-Diagnosico-e-Estatistico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5-1-pdf.pdf ead.faminas.edu.br 10 Contudo, há críticas importantes ao ato de diagnosticar, a partir dos fenômenos. Vieira (2001) cita o exemplo da medicina moderna com condutas terapêuticas predeterminadas, padronizadas que não tem nenhuma marca subjetiva. Trata-se, ao diagnosticar, de inserir o sujeito em um grupo, de definir algumas propriedades que passarão a representá-lo, com todos os efeitos de mortificação que daí advêm. Por mais que se busque preservar a singularidade, a atribuição de um diagnóstico é necessariamente a atribuição de um juízo de valor, que incorpora o sujeito a uma classe (VIEIRA, 2001, p. 171). Alguns pontos que ainda chamam a nossa atenção, deixando-nos alertas quanto à árdua tarefa de diagnosticar: “As características dos transtornos, orgânicos ou mentais, transformam-se com o passar do tempo. Novos são identificados, alguns acentuam-se, enquanto outros apresentam redução” (FIORELLI & MANGINI, 2015, p. 97). 3. Imputabilidade, semi-imputabilidade e inimputabilidade Após refletirmos sobre os conceitos e os fundamentos de saúde mental, bem como sobre algumas psicopatologias, podemos compreender os conceitos de imputabilidade, semi-imputabilidade e inimputabilidade que se referem à capacidade de responsabilização ante o cometimento de um crime. Capacidade de responsabilização? Compreendamos melhor o que isso quer dizer, considerando a definição de Rosa (2015): Entendemos responsabilidade como o compromisso do sujeito e do campo social com as leis construídas para gerir o campo social, assim como com as respostas à lei. Já a responsabilização refere-se ao exercício ético/político de posicionar-se no laço social sustentando um pacto que garante não só a contenção de excessos, mas também um lugar para a alteridade e diferença (p. 139). A partir do que já estudamos na Unidade 1 sobre o sujeito do Direito e o sujeito da Psicologia, poderíamos pensar que a responsabilidade estaria mais relacionada ao primeiro e a responsabilização ao segundo? ead.faminas.edu.br 11 Vamos entender com mais clareza o que significa posicionamento ético/político e também humano no laço social2, a partir de um exemplo: Em uma sala de aula do 3º ano do Ensino Fundamental, alunos de 9 anos de idade, a professora devolve uma prova de Português, após a correção. Um dos alunos tirou zero na prova e começou a chorar em sala, na presença dos demais. Um colega se sensibiliza com a situação e vai conversar com ele tentando acalmá-lo e incentivá-lo a continuar estudando, afirmando que aquela nota não era o “fim do mundo”. Esse colega que se sensibilizou e teve o posicionamento de ir até o garoto que chorava demonstrou cuidado e zelo. Mesmo sem ele ter maturidade para ter consciência do aspecto ético/político de seu ato, podemos destacar que tal atitude vai na contramão dos valores vigentes em nossa sociedade capitalista e consumista, onde o que produzimos e consumimos vale mais do que nós somos. Nessa vertente, tirar um zero numa prova é falhar e falhas assim são inaceitáveis e incompreensíveis. O Código Penal legislou sobre a capacidade relacionada às pessoas com transtorno mental. Vejamos: “Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. A imputabilidade penal implica que a pessoa entenda a ação praticada como algo ilícito, ou seja, contrário à ordem jurídica e que possa agir de acordo com esse entendimento, compreensão esta que pode estar prejudicada em função de psicopatologias ou, ainda, de deficiências cognitivas (FIORELLI & MANGINI, 2015, p. 115). A definição de imputabilidade, então, significa que a pessoa pode ser alvo de imputação, de acusação. Ao contrário da inimputabilidade que diz respeito ao: [...] “isento de pena” e a sua condição é que a pessoa apresente uma doença mental ou um retardo que a impeça de entender a ilicitude de seu ato. ATENÇÃO: as condições estão relacionadas umas com as outras e precisam ser muito bem avaliadas pelos profissionais competentes (Psiquiatras, Psicólogos, entre outros), apontando para a importância da interface entre Direito e Psicologia, dentre outras. 2 Forma de fazer laço com o outro, ou seja, de se relacionar. ead.faminas.edu.br 12 Dentro desse tema, sugiro que assistam o vídeo: “O caso das irmãs Papin” https://www.youtube.com/watch?v=RDqSlhmSy8k . Um vídeo curto, de 12 min. que relata um homicídio cometido por duas irmãs. VALE A PENA CONFERIR! Enquanto a inimputabilidade é concebida a partir de uma incapacidade total da pessoa; a semi-imputabilidade refere-se ao indivíduo que não tem plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se conforme esse entendimento. Vejamos o parágrafo único do artigo 26 do Código Penal: “a pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. No capítulo VIII do Código de Processo Penal que se refere à insanidade mental do acusado, está registrado que: “Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício oua requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal”. Aos portadores de sofrimento psíquico que praticaram ilícitos penais caberá, havendo constatação de distúrbio psíquico impeditivo de discernimento sobre o ato praticado, a determinação, em função deste entendimento, em lugar de pena, medida de segurança na modalidade de internação ou tratamento (FIORELLI & MANGINI, 2015, p. 115). Com a internação ou o tratamento ambulatorial objetiva-se que ocorra a cessação da periculosidade do autor do ato ilícito, devendo ocorrer, periodicamente, uma avaliação em relação a isso pelos profissionais competentes. Mas na prática, como tem-se vivenciadas essas concepções quando se trata do louco infrator? Silva tece algumas considerações a respeito. Aos criminosos loucos têm sido impostas penas e, assim, os cárceres estão repletos de loucos. E lá não há como tratá-los. (...) Assim, esvaziam-se os hospitais psiquiátricos, lugar onde eles podem encontrar descanso, sossego e descontinuidade no moto perpétuo em que a psicose lhes coloca. Estão indo, ao contrário, para as prisões (SILVA, 2011, p. 262). https://www.youtube.com/watch?v=RDqSlhmSy8k ead.faminas.edu.br 13 O autor se referiu ao movimento da reforma psiquiatra, movimento que gerou uma nova direção para a assistência psiquiátrica ao privilegiar a convivência familiar e comunitária do paciente psiquiátrico. Ele nos aponta a reflexão de que algumas situações ainda têm muito o que avançar e que o tratamento é fundamental para os pacientes psiquiátricos, quando infracionam, inclusive. Sobre isso, leiam o que escreveu o Desembargador Sérgio Antônio de Resende, Presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais: É preciso lembrar que, antes do ato criminoso, existe uma longa trajetória de sofrimento mental. O crime é uma consequência dessa história. No entanto, mesmo diante de um ato trágico, é possível apostar que essa pessoa é capaz de outras respostas em sua convivência social (p. 10). Nessa perspectiva, assistam o vídeo a seguir sobre o Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário - PAI-PJ: https://www.youtube.com/watch?v=85DuccX3xO4 https://www.youtube.com/watch?v=85DuccX3xO4 ead.faminas.edu.br 14 4. Sugestões de Leitura 4.1 Livro O Normal e o patológico de Georges Canguilhem Acesse: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3114962/mod_r esource/content/1/O_Normal_e_o_Patologico.pdf 4.2 Filmes Perfume (Tom Tykwer, 2006) Melhor é impossível (James L. Brooks, 1997) https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3114962/mod_resource/content/1/O_Normal_e_o_Patologico.pdf https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3114962/mod_resource/content/1/O_Normal_e_o_Patologico.pdf ead.faminas.edu.br 15 Nesta Unidade, apresentamos os conceitos e fundamentos de Saúde Mental, bem como alguns pontos sobre psicopatologias, refletindo acerca do que pode ser considerado normal e patológico, limites que não ficam tão bem definidos na contemporaneidade. Essa constatação, foi no intuito não de buscarmos essa delimitação, mas sim termos cuidado com nossos pré- julgamentos. Além disso, isso justifica ainda mais a necessidade do diálogo do Direito com outras disciplinas como a Psicologia e Psiquiatria. Abordamos as possibilidades, os perigos e os desafios do ato de diagnosticar. Discorremos sobre os conceitos de imputabilidade, inimputabilidade e semi-imputabiidade, apresentando os artigos do Código Penal que abordam esse assunto. O que altera na conceituação é a capacidade da pessoa para reconhecer a ilicitude do ato e agir em conformidade com essa compreensão. Foi citado a respeito do Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário – PAI – PJ do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que começou como um Projeto pioneiro em Minas Gerais, alcançando hoje reconhecimento nacional e até mesmo internacional. RESUMO ead.faminas.edu.br 16 1. Marque (V) para a alternativa verdadeira e (F) para a falsa, fazendo a correção das alternativas falsas: a) ( ) A imputabiidade está relacionada com a capacidade da pessoa entender a ilicitude de uma ação e se orientar por essa compreensão. b) ( ) Inimputabilidade está relacionada com a pessoa ter relativa capacidade de compreender a ilicitude de sua ação e se orientar por essa compreensão. c) ( ) Semi-imputabilidade está relacionada com a pessoa, devido a um transtorno mental, ser incapaz de entender a ilicitude do seu ato e se orientar por esse entendimento. 2. Por que é necessário que os profissionais do Direito conheçam acerca das questões trabalhadas nessa Unidade? _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ ATIVIDADES DE FIXAÇÃO ead.faminas.edu.br 17 1. Marque (V) para a alternativa verdadeira e (F) para a falsa, fazendo a correção das alternativas falsas: a) ( V ) A imputabiidade está relacionada com a capacidade da pessoa entender a ilicitude de uma ação e se orientar por essa compreensão. b) ( F ) Inimputabilidade está relacionada com a pessoa ter relativa capacidade de compreender a ilicitude de sua ação e se orientar por essa compreensão. c) ( F ) Semi-imputabilidade está relacionada com a pessoa, devido a um transtorno mental, ser incapaz de entender a ilicitude do seu ato e se orientar por esse entendimento. As definições das letras b) e c) estão invertidas. 2. Por que é necessário que os profissionais do Direito conheçam acerca das questões trabalhadas nessa Unidade? Para saberem quando, em determinados casos que envolvam questões de transtornos mentais, acionarem profissionais de outras áreas para auxiliar nas decisões mais assertivas. GABARITO ead.faminas.edu.br 18 BARROS-BRISSET, Fernanda Otoni de. Por uma política de atenção ao louco infrator. Belo Horizonte: Tribunal de Justiça de Minas Gerais, 2010. 58 p. BRASIL. DECRETO-LEI No 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Dispõe sobre o Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 05 fev. 2020. BRASIL. DECRETO-LEI No 3.689, de 3 de outubro DE 1941. Dispõe sobre o Código de Processo Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del3689.htm>. Acesso em: 05 fev. 2020. CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. Tradução de Mana Thereza Redig de Carvalho Barrocas; Revisão técnica Manoel Barros da Motta; tradução do posfácio de Piare Macherey e da apresentação de Louis Althusser, Luiz Otávio Ferreira Barreto Leite. - 6.ed. rev. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. 154 p. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3114962/mod_resource/content/1/O_Normal_ e_o_Patologico.pdf>. Acesso em 15 jan. 2020. 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Dando nome aos bois: sobre o diagnóstico em psicanálise. In: Ana Cristina Figueiredo. (Org.). Psicanálise - pesquisa e clínica. 1 ed. Rio de Janeiro: IPUB/UFRJ, 2001, v. 1, p. 171-181. Disponível em: <http://litura.com.br/artigo_repositorio/dando_nomes_aos_bois_pdf_1.pdf>. Acesso em 01 fev. 2020. http://litura.com.br/artigo_repositorio/dando_nomes_aos_bois_pdf_1.pdf
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