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Unidade 3 Resumo

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Conceitos e fundamentos de saúde mental
Uma pessoa saudável mentalmente: 
· compreende que não é perfeita; 
· entende que não pode ser tudo para todos; 
· vivencia uma vasta gama de emoções; 
· enfrenta desafios e mudanças da vida cotidiana; 
· procura ajuda para lidar com traumas e transições importantes. 
Os pontos citados sinalizam algumas atitudes da pessoa que está com a saúde mental preservada, mas também aspectos da vida em comum, relacional que podem ajudar ou dificultar praticar tais atitudes.
Acerca do conceito de saúde mental, Garcia (2002) salientou alguns critérios que se referem a um conceito de Saúde Mental, tais como: capacidade de viver perdas e lutos, capacidade de tolerar frustrações e seus próprios sentimentos agressivos sem grande culpabilidade. O autor ainda nos apresenta que há também, por parte de alguns, uma compreensão do conceito de Saúde Mental como um termo empregado com relação a uma comunidade, articulado no nível coletivo.
A doença difere da saúde, o patológico difere do normal, como dois estados totalmente distintos e separados um do outro. Mas Canguilhem (2009) descreveu também uma teoria que relaciona o normal e o patológico, segundo a qual os fenômenos patológicos nos organismos vivos são variações quantitativas dos fenômenos fisiológicos correspondentes.
A complexidade em se definir o que é normal e o que é patológico, pois, aquilo que é normal, apesar de ser normativo em determinadas condições, pode se tornar patológico em outra situação, se permanecer inalterado. Como exemplo é citado o astigmatismo, que poderia ser considerado normal em uma sociedade agrícola, mas patológico para alguém que estivesse na marinha ou na aviação. Portanto, o patológico não possui uma existência em si, podendo apenas ser concebido numa relação.
Acerca da conceituação de saúde e doença temos uma complexidade e considerando isso, inclusive, não somente nas questões relacionadas à saúde, mas em outras que podem gerar a desinserção social, Garcia (2002) nos alerta para a importância da abertura dos profissionais da rede de atendimento àqueles que se encontram nessa situação. 
Garcia (2002) cunhou a expressão “Rede de redes” como uma nova forma de pensar e tratar o sistema de atendimento e cuidados em casos de desinserção social (o adolescente autor de um ato infracional, um aluno que está com fraco rendimento ou mesmo já abandonou a escola, a dependência de drogas, o louco, dentre outros). Essa experiência do funcionamento em rede começou em Belo Horizonte, no atendimento a usuários da Saúde Mental.
É necessário ampliar também a disponibilidade do sistema de justiça de correr riscos e aumentar sua margem de responsabilização quanto ao tipo de pacto social que propõe para os adolescentes. Todavia, não é apenas para o sistema de justiça que trabalha com esse grupo de pessoas que esse convite é feito.
Um importante integrante dessa rede é o Judiciário, com sua função fundamental de aplicar sentenças, dar a última palavra. Nesse sentido, Barros-Brisset (2010) ressalta: 
O conceito de defesa social em jogo na política de segurança pública precisa ser redesenhado de acordo com a pluralidade das formas razoáveis de laço social na sociedade contemporânea e exige a invenção de novos modos de aplicação das sentenças judiciais (p. 16). 
Na perspectiva da interface entre o Judiciário a Saúde Mental, na conexão entre essas duas instâncias do serviço público brasileiro havia um tensionamento originado pelo acúmulo de usuários que chegavam às portas do hospital psiquiátrico, oriundos do Judiciário, quando esses usuários haviam recebido uma medida de segurança, após terem sido considerados inimputáveis diante do juiz.
Psicopatologias: estruturas psíquicas
As estruturas psíquicas demarcam um modo de funcionamento psíquico e, consequentemente, influenciam comportamentos. Estrutura traz a ideia de algo fixo, algo de uma certa estabilidade que embasa o funcionamento psíquico.
A Psicologia Forense tem um interesse particular no transtorno de personalidade antissocial, também denominado psicopatia, sociopatia, transtorno de caráter, transtorno sociopático, transtorno dissocial”. Os autores ainda salientam que ele tem como característica essencial o padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros. Nesse caso, o indivíduo não se enquadra na categoria de portador de doença mental, porém encontra-se à margem da normalidade psicoemocional e comportamental. Esse transtorno também é conhecido como transtorno de conduta, mas é importante ressaltar que nem todo psicopata é criminoso. 
O transtorno de conduta envolve um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual os direitos básicos dos outros ou as principais normas ou regras sociais apropriadas à idade são violados. Os comportamentos específicos característicos do transtorno da conduta encaixam-se em uma de quatro categorias: agressão a pessoas e animais, destruição de propriedade, fraude ou roubo ou grave violação a regras. (DSM 5, p. 659)
Há críticas importantes ao ato de diagnosticar, a partir dos fenômenos. Como o exemplo da medicina moderna com condutas terapêuticas predeterminadas, padronizadas que não tem nenhuma marca subjetiva. 
Trata-se, ao diagnosticar, de inserir o sujeito em um grupo, de definir algumas propriedades que passarão a representá-lo, com todos os efeitos de mortificação que daí advêm. Por mais que se busque preservar a singularidade, a atribuição de um diagnóstico é necessariamente a atribuição de um juízo de valor, que incorpora o sujeito a uma classe (VIEIRA, 2001, p. 171). 
Alguns pontos que ainda chamam a nossa atenção, deixando-nos alertas quanto à árdua tarefa de diagnosticar: 
As características dos transtornos, orgânicos ou mentais, transformam-se com o passar do tempo. Novos são identificados, alguns acentuam-se, enquanto outros apresentam redução.
Imputabilidade, semi-imputabilidade e inimputabilidade
Os conceitos de imputabilidade, semi-imputabilidade e inimputabilidade que se referem à capacidade de responsabilização ante o cometimento de um crime.
Compreendamos melhor o que isso quer dizer, considerando a definição de Rosa (2015): 
Entendemos responsabilidade como o compromisso do sujeito e do campo social com as leis construídas para gerir o campo social, assim como com as respostas à lei. Já a responsabilização refere-se ao exercício ético/político de posicionar-se no laço social sustentando um pacto que garante não só a contenção de excessos, mas também um lugar para a alteridade e diferença (p. 139).
O Código Penal legislou sobre a capacidade relacionada às pessoas com transtorno mental. Vejamos: “Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”.
A imputabilidade penal implica que a pessoa entenda a ação praticada como algo ilícito, ou seja, contrário à ordem jurídica e que possa agir de acordo com esse entendimento, compreensão esta que pode estar prejudicada em função de psicopatologias ou, ainda, de deficiências cognitivas (FIORELLI & MANGINI, 2015, p. 115).
A definição de imputabilidade, então, significa que a pessoa pode ser alvo de imputação, de acusação. Ao contrário da inimputabilidade que diz respeito ao: [...] “isento de pena” e a sua condição é que a pessoa apresente uma doença mental ou um retardo que a impeça de entender a ilicitude de seu ato.
Enquanto a inimputabilidade é concebida a partir de uma incapacidade total da pessoa; a semi-imputabilidade refere-se ao indivíduo que não tem plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se conforme esse entendimento. 
O parágrafo único do artigo 26 do Código Penal: “a pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-sede acordo com esse entendimento”. 
No capítulo VIII do Código de Processo Penal que se refere à insanidade mental do acusado, está registrado que: “Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal”. 
Aos portadores de sofrimento psíquico que praticaram ilícitos penais caberá, havendo constatação de distúrbio psíquico impeditivo de discernimento sobre o ato praticado, a determinação, em função deste entendimento, em lugar de pena, medida de segurança na modalidade de internação ou tratamento (FIORELLI & MANGINI, 2015, p. 115).
Com a internação ou o tratamento ambulatorial objetiva-se que ocorra a cessação da periculosidade do autor do ato ilícito, devendo ocorrer, periodicamente, uma avaliação em relação a isso pelos profissionais competentes.
Atividades de fixação
1. Marque (V) para a alternativa verdadeira e (F) para a falsa, fazendo a correção das alternativas falsas: 
a) ( V ) A imputabiidade está relacionada com a capacidade da pessoa entender a ilicitude de uma ação e se orientar por essa compreensão. 
b) ( F ) Inimputabilidade está relacionada com a pessoa ter relativa capacidade de compreender a ilicitude de sua ação e se orientar por essa compreensão. 
c) ( F ) Semi-imputabilidade está relacionada com a pessoa, devido a um transtorno mental, ser incapaz de entender a ilicitude do seu ato e se orientar por esse entendimento. 
As definições das letras b) e c) estão invertidas.
2. Por que é necessário que os profissionais do Direito conheçam acerca das questões trabalhadas nessa Unidade? 
Para saberem quando, em determinados casos que envolvam questões de transtornos mentais, acionarem profissionais de outras áreas para auxiliar nas decisões mais assertivas.

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