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Roberto Máquina de escrever VENDA PROIBIDA Todos os direitos reservados. Copyright © 2023 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na web e outros), sem permissão expressa da Editora. Preparação dos originais: Cristiane Alves Revisão: Miquéias Nascimento Adaptação da capa: Elisangela Santos Projeto gráfico e Editoração: Elisangela Santos Conversão para Ebook: Cumbuca Studio CDD: 240 – Moral Cristã e Teologia Devocional e-ISBN: 978-65-5968-213-3 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 2009, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário. Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: https://www.cpad.com.br. SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373 Casa Publicadora das Assembleias de Deus Av. Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro – RJ CEP 21.852-002 1ª edição: 2023 https://www.cpad.com.br/ E Apresentação stimados leitores, é com muito temor e tremor diante de Deus que lhes apresento a obra A Igreja de Cristo e o Império do Mal: como Viver Neste Mundo Dominado pelo Espírito da Babilônia, que chega em suas mãos ou em sua tela virtual. O tema e a abordagem aqui delineados são espinhosos, porém imprescindíveis para o posicionamento da Igreja hodierna. Em tempos de narrativas e cultura de cancelamento, a liberdade de expressão, de pensamento, de culto e de crença está sob ameaça. A pregação das doutrinas bíblicas tornou-se alvo de patrulhamento ideológico. A defesa da fé ortodoxa é classificada como discurso de ódio e enquadrada como homofóbica, preconceituosa, discriminatória, entre outros. Não obstante, apesar desses ataques, a Escritura exorta-nos “a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 1.3). Nesse contexto, este livro retrata que a Igreja de Cristo tem atravessado um período de muitas dificuldades. Estamos num período em que “o espírito da Babilônia” está dominando a sociedade em que estamos inseridos. Quando o livro de Apocalipse usa o termo “Babilônia”, refere-se a um império que tinha completo domínio global, bem como domínio sobre o ser humano. A expressão “mercadores de almas de homens” (Ap 18.13) simboliza a dimensão e o poder desse reinado de trevas. Em nossos dias, vivemos num contexto parecido em que muitas ideias anticristãs dominam o mundo atual e que, infelizmente, têm influenciado muitas igrejas. Nesse cenário, o propósito desta obra é mostrar que o “espírito de Babilônia” atua livremente na pós-modernidade, da mesma forma como exerce nociva interferência na fé cristã, e que valores e princípios têm sido solapados em muitos lugares por meio do enfraquecimento de importantes doutrinas, por exemplo: a relativização da doutrina do Pecado Original, que acaba sendo uma porta aberta para uma série de distorções, tais como o progressismo, a desconstrução masculina e feminina do papel de ambos conforme a Bíblia ensina e a distorção de uma visão bíblica elevada do corpo, etc. O presente trabalho, portanto, pretende ser um guia que revele esses problemas e, ao mesmo tempo, promova orientação e aconselhamento pastoral para o Corpo de Cristo: a Igreja. A obra também possui a pretensão de formar cristãos comprometidos com a verdade bíblica e, desse modo, cumprir o papel de auxiliar as Lições Bíblicas da Escola Dominical. Ressalta- se que o pressuposto doutrinário e as afirmações dogmáticas escudam-se na Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil. A fonte de consulta bibliográfica, tal como as demais obras de minha autoria, baseia-se em renomados escritores da teologia pentecostal. A obra, contudo, não ignora os bons intérpretes da teologia romanista e/ou reformada, cuja abordagem identifica-se, ao menos nos pontos tratados no livro, com a confissão de fé das Assembleias de Deus. Agradeço o privilégio de contribuir com o Reino, que me é concedido pelo Pr. José Wellington da Costa Júnior, presidente da CGADB. Registro minha gratidão ao Dr. Ronaldo Rodrigues de Souza, diretor executivo da CPAD, e ao pastor Alexandre Claudino Coelho, gerente de Publicações, pela honra de publicar esta obra. Ainda meu especial muito obrigado ao Pr. José Wellington Bezerra da Costa, presidente do Conselho Administrativo da CPAD, pela deferência e confiança depositada em nossa pessoa. Agradeço também aos membros do Ministério da Assembleia de Deus de Missão no Distrito Federal (ADMDF) pelas orações, apoio, incentivo e compreensão. Agradeço ao Ev. Carlos Matheus Maninho, que muito me auxiliou na digitação dos manuscritos. Por fim, dedico este livro ao nosso Deus Eterno, Único, Santo e Verdadeiro, à minha querida mãe, Maria Regina de Almeida Baptista, à minha amada esposa, Missionária Dirlei da Silva da Costa Baptista, às nossas lindas filhas, Priscila e Jéssica, aos estimados genros Mauricio e Matheus, e à princesinha Catarina, a bela e charmosa netinha com que o Senhor agraciou nossa família. Desejo-lhe uma abençoada leitura! Brasília, 29 de março de 2023 Pr. Douglas Roberto de Almeida Baptista Líder do Conselho de Educação e Cultura da CGADB Comentarista de Lições Bíblicas da CPAD Sumário Apresentação Capítulo 1 A Igreja diante do Espírito da Babilônia Capítulo 2 A Deturpação da Doutrina Bíblica do Pecado Capítulo 3 O Perigo do Ensino Progressista Capítulo 4 Quando a Criatura Vale mais que o Criador Capítulo 5 A Dessacralização da Vida no Ventre Materno Capítulo 6 A Desconstruçãoda Masculinidade Bíblica Capítulo 7 A Desconstrução da Feminilidade Bíblica Capítulo 8 Transgênero – que Transrealidade É essa Capítulo 9 Uma Visão Bíblica do Corpo Capítulo 10 Renovação Cotidiana do Homem Interior Capítulo 11 Cultivando a Convicção Cristã Capítulo 12 Sendo a Igreja do Deus Vivo Capítulo 13 O Mundo de Deus no Mundo dos Homens Referências Bibliográficas A Capítulo 1 A Igreja diante do Espírito da Babilônia E na sua testa estava escrito o nome: MISTÉRIO, A GRANDE BABILÔNIA, A MÃE DAS PROSTITUIÇÕES E ABOMINAÇÕES DA TERRA (Ap 17.5) Babilônia foi uma importante cidade-estado situada na região da Mesopotâmia. Historicamente, surgiu por volta do século XIX a.C., sendo considerada como o berço da civilização nas áreas políticas e culturais, sociais e econômicas. Porém, quando o livro de Apocalipse cita essa cidade (e.g. Ap 17.5), não se refere ao local geográfico da Babilônia, mas, sim, ao simbolismo que ela representa. O uso de diferentes métodos de interpretação bíblica provocou variadas posições escatológicas entre os estudiosos do livro de Apocalipse. Portanto, ressalta-se que, nesta obra, não está em debate o método empregado na interpretação da literatura apocalíptica. O propósito deste capítulo é elucidar alguns personagens do livro das revelações, tais como a “grande prostituta” (Ap 17.1) e a “besta de cor escarlate” (Ap 17.3), bem como alertar a Igreja acerca dos aspectos gerais do espírito da Babilônia no cenário global que vivemos, tanto no sistema religioso, quanto no social, cultural, político e econômico. Por fim, desvela-se que o papel do cristão neste mundo, que jaz no Maligno (1 Jo 5.19), é o de manter uma fé correta (ortodoxia), uma vida correta (ortopraxia), um verdadeiro caráter cristão, andar em santidade e aguardar a volta do Senhor Jesus (Hb 12.14; Fp 3.20). I. BABILÔNIA E OS SEUS SIGNIFICADOS 1. A Cidade-Estado da Babilônia A Bíblia menciona a Babilônia cerca de 200 vezes. Essas menções, na maioria das vezes, referem-se a “antiga cidade-estado situada em ambas as margens do rio Eufrates na terra de Sinar”,1 distante cerca de 1.500 quilômetros de Jerusalém, fundada pelos descendentes de Cuxe e do seu filho, Ninrode (Gn 10.8-10). Nesse aspecto, Bruce Waltke (2019, p. 203) salienta que a biografia de Ninrode Explica a origem racial, política e espiritual de Babilôniae Assíria, as duas grandes potências mesopotâmicas que venceram Israel e o mantiveram nos exílios. Ninrode funda seu império em evidente agressão (Gn 10.8). Seu poder é tão imenso que se torna proverbial em Israel (Gn 10.9). Seu império incluía toda a Mesopotâmia, tanto a Babilônia ao sul (Gn 10.10) quanto a Assíria ao norte (Gn 10.11-12). Como principais centros de seu império, ele funda a grande cidade de Babilônia, mais notavelmente Babel (Gn 10.10). Assim, da descendência de Cam, filho de Noé, nasceu Cuxe, o pai de Ninrode (Gn 10.6-8), que se tornou o patriarca de duas grandes civilizações antigas: Babilônia e Assíria. Essas nações foram proeminentes na cultura antiga e, por diversas, vezes foram empecilhos para a nação escolhida, Israel.2 Destaca-se que, nas Escrituras, o termo Babilônia refere-se tanto à nação como a capital da nação-estado. De outro modo, a Bíblia também identifica esse local como a Terra de Sinar (Gn 10.10; Gn 11.2; Is 11.11) e também como a Terra dos Caldeus (Jr 24.5; Jr 25.12; Ez 12.13). Noutra perspectiva, salienta-se que condutas abomináveis e repugnantes para o povo hebreu, tais como o politeísmo, a promiscuidade moral, a imoralidade sexual, a idolatria e todas as mazelas contrárias à dignidade da vida humana, eram praticadas e celebradas entre os babilônios (Lv 18.1-23; 20.10-22). Nesse contexto, o Enuma Elish, epopeia babilônica sobre a criação, assevera diversas fantasias animalescas contrárias à revelação bíblica, a exemplo de que os humanos foram criados a partir do sangue de um deus rebelde (Kingu) e que os céus e a terra são formados a partir do cadáver de um deus massacrado (Tiamat).3 Acrescenta-se, além de toda a depravação, a violência e a crueldade do Império Babilônico. Em 587 a.C., quando da invasão à nação de Judá, os babilônicos (caldeus) queimaram o Templo e os palácios, derrubaram os muros de Jerusalém, assassinaram homens, mulheres, velhos e crianças e arrastaram centenas de hebreus para serem escravos na Terra de Sinar (2 Cr 36.6-20). Por essas razões, figuradamente, Babilônia representa devassidão, paganismo, sincretismo, violência e rebeldia aos mandamentos divinos. O espírito da Babilônia faz uso da cultura e da ideologia secularista para persistentemente oferecer resistência contra tudo o que se chama Deus (2 Ts 2.4). 2. A Grande Prostituta e a Besta Apocalipse possui uma série de visões (Ap 9.17; 13.1; 21.2; 22.8), uma viagem celestial (Ap 4.1), mensagens angelicais (Ap 1.12ss; 10.1,8,9; 17.3-7; 22.8-16) e uma profunda escatologia apocalíptica.4 O livro também apresenta uma personagem enigmática, a grande prostituta, com a qual se prostituiram os reis da terra (Ap 17.1,2). Sublinha-se que as Escrituras citam diversas meretrizes, só que essa mulher não é apenas uma prostituta (Ap 17.1; 19.2), mas, sim, uma grande prostituta (gr. pórnes tés megáles). É interessante destacar que o autor bíblico utilizou-se de um adjetivo no genitivo (megáles) para enfatizar a amplidão de perversidade dessa mulher. Acerca desse adjetivo, o Comentário Bíblico Pentecostal (STRONSTAD, 2003, p. 1.907) assevera que: Qualquer que seja o padrão terreno, a prostituta do Apocalipse é uma figura imponente. Ela é grande (v.1, 5, 18), que pode, provavelmente, ser melhor traduzido como enorme ou mesmo voluptuosa. Ela não é uma meretriz vulgar, mas uma prostituta de alta classe, uma prostituta real. O texto bíblico igualmente enfatiza que essa prostituta “está assentada sobre muitas águas” (Ap 17.1). A expressão simboliza as multidões seduzidas pela idolatria, o paganismo e a sua oposição à fé cristã (Ap 17.15). A prostituta (gr. pórnes) não apenas se prostituiu com os reis da terra (gr. pornéuo), como também vive em prostituição (gr. porneia). No profetismo judaico, essas expressões apontam para a idolatria, isto é, a prostituição espiritual (Na 3.4; Is 23.15; Jr 2.20). O cálice na sua mão são as imundícias da sua prostituição (Ap 17.4c), o que representa toda a forma obscena e impura de intoxicação moral e espiritual da sociedade. Assim, a prostituta é identificada como uma das facetas da imoralidade e do falso sistema religioso representado pelo espírito da Babilônia (Ap 14.8; 17.5). Além disso, João contempla uma mulher montada sobre uma besta (Ap 17.3a). Reitera-se que a figura dessa mulher é a descrição da própria prostituta. Ela veste-se de púrpura e de escarlata, bem como se adorna com ouro, pedras preciosas e pérolas (Ap 17.4), que significa reinado, luxo, materialismo e poder econômico. Essa fera em que a mulher está montada é a besta que saiu do mar (Ap 13.1). Trata-se do Anticristo, que, pelo poder de Satanás, faz oposição a Cristo (2 Ts 2.4,9,10). Ele profere blasfêmias em consciente repulsa ao senhorio de Cristo (Ap 13.6; 17.3b). As suas sete cabeças e dez chifres simbolizam os poderes do mundo e a sua força política (Ap 17.3c,10,12). A união entre o cavaleiro (grande prostituta) e a montaria (besta) simbolizam a nefasta força do sistema religioso, econômico e político do espírito da Babilônia. 3. Mistério: a Grande Babilônia Após descrever a grande prostituta, João desvenda o nome dessa meretriz: “MISTÉRIO, A GRANDE BABILÔNIA” (Ap 17.5a). Nesse aspecto, frisa-se que a palavra grega mysterion, utilizada por João, significa segredo ou doutrina secreta. Esse termo assinala alguma verdade divina que esteve oculta e passou a ser conhecida. O referido vocábulo é empregado 27 vezes no Novo Testamento.5 Assim sendo, o termo “mistério” indica que o nome Babilônia não é meramente um local geográfico, mas, sim, um simbolismo. Nesse sentido, a “maior cidade daquele tempo, Roma”,6 foi chamada de Babilônia por Pedro (1 Pe 5.13). E, embora poderosa e de vasto alcance, com “controle econômico e [...] [querendo] ditar no mundo inteiro”,7 não conseguirá prosperar de modo perene, pois “o Senhor desfará pelo assopro da sua boca e aniquilará pelo esplendor da sua vinda” (2 Ts 2.8). Nesse entendimento, Adolf Pohl (2001, p. 170, 171) leciona que: É evidente que o conceito geográfico foi reinterpretado espiritualmente [...] contudo, a cidade exerceu verdadeira posição de Império mundial somente por tempo breve e transitório [...] é certo que a Babilônia gera ideia de Império mundial, porém a concretização não obtém sucesso [...] Portanto, a Babilônia é a sociedade que desenvolveu admirável capacidade de se instalar nesta terra. Por conseguinte, salienta-se que “a nova Jerusalém representa o povo de Deus [...] e a Babilônia representa os habitantes do mundo”.8 Em vista disso, a Babilônia sinaliza o espírito de perseguição e de desconstrução da fé bíblica. Desse modo, o simbolismo da Babilônia não significa apenas uma cultura sem Deus, mas, sobretudo, de uma cultura contra Deus. Por conseguinte, define-se o espírito da Babilônia como um sistema global deliberadamente anticristão. II. O ESPÍRITO DA BABILÔNIA 1. No Sistema Religioso Como já estudado, a Babilônia representa um conjunto de práticas reprováveis diante de Deus. O sistema religioso da Babilônia era literalmente nefasto e mitológico. Em virtude disso, o mensageiro angelical fez uso de um simbolismo perfeitamente entendível pelo apóstolo João e os seus contemporâneos (Ap 17.1). Nesse sentido, a Bíblia de Estudo Pentecostal (STAMPS, 1995, p. 2.003) arrazoa que a “Babilônia religiosa abrange todas as religiões falsas, inclusive o cristianismo apóstata [...] os termos prostituição e adultério, quando empregados figuradamente, normalmente denotam apostasia religiosa e infidelidade a Deus”.9 Nessa direção, o espírito da Babilônia faz com que as pessoas sejam seduzidas pela “prostituição espiritual” (Ap 17.2). Não se adora mais o Deus Todo-poderoso, mas há um culto ao próprio ego, o que torna o ser humano amante de si mesmo, do dinheiro e dos deleites desse mundo (2 Tm 3.2-4). Nesse entendimento, o Comentário Esperança (POHL, 2001, p. 168) registra que: A premissa básica dessa cultura e civilização, por meio da qual a Babilônia mantém sob o seu fascínio os povos, é a prostituição, o desenfreamento.Para ela a rigor tudo é permitido e nada constitui uma verdade compromissiva. Toda espécie de vínculo com os mandamentos de Deus é queimada, de modo a desenvolver sobre essa cratera de vulcão um modo de vida sem Deus e sem Cristo. Dessa maneira, sob o argumento de suposta liberdade, estimula- se a devassidão por meio do afrouxamento da moral. Para os adeptos desse conceito, não existe valor absoluto. Tudo passa a ser questionado: a autoridade da Bíblia, os valores da família, as leis, os costumes, as regras cristãs e até mesmo o divino e o sagrado. Em contraponto, a verdadeira Igreja professa e ensina que “a Bíblia é a mensagem clara, objetiva, entendível, completa e amorosa de Deus, cujo alvo principal é, pela pessoa do Espírito Santo, levarmos a Redenção em Cristo Jesus”.10 Somam-se aos males da falsa religiosidade: o ecumenismo doutrinário, que provoca a erosão da fé bíblica (Gl 1.6,8); o relativismo, que rejeita as doutrinas bíblicas (2 Tm 4.3); o humanismo, que ressignifica os mandamentos (2 Pe 3.16); e o sincretismo religioso, que mistura o sagrado e o profano (2 Co 6.16,17). Tudo passa a ser permitido, e a verdade é desconstruída (2 Tm 3.7). Em consequência, a igreja é brutalmente perseguida (Mt 24.9). Na lista de perseguições, citam-se o cerceamento da liberdade religiosa, a supressão do culto e a criminalização da ortodoxia. 2. No Sistema Político, Cultural e Econômico Como já observado, João arrazoa que “o mundo inteiro jaz do Maligno” (1 Jo 5.19, ARA). Significa que, embora Deus seja Soberano sobre tudo e todos, o mundo está sob o domínio de Satanás em rebelião ao governo divino (Lc 13.16; 2 Co 4.4). A Bíblia de Estudo Pentecostal (STAMPS, 1995, p. 1.965) arrazoa que: Na presente era da história, Deus tem limitado seu supremo poder e domínio sobre o mundo. Esta autoeliminação é apenas temporária, porque no tempo determinado pela sua sabedoria, Ele destruirá toda a iniquidade e o próprio Satanás (Ap 19.20). Em função disso, enquanto o tempo determinado não se cumpre, o espírito da Babilônia exerce forte influência na política, na cultura e na economia. As pautas progressistas de inversão de valores são impostas ao cidadão em afronta aos valores cristãos, tais como: apologia ao aborto, ideologia de gênero, legalização das drogas e da prostituição.11 Os que se manifestam contrários a tais práticas tornam-se alvo do patrulhamento ideológico. Por meio de termos pejorativos, são classificados de intolerantes, machistas, fascistas, homofóbicos, preconceituosos e outros adjetivos depreciativos. Esse tipo de ação estigmatiza como “fundamentalista” quem ousa discordar do sistema mundano (Lc 6.22; 1 Pe 4.4). Outrossim, o ativismo judicial, que é a extrapolação do Judiciário na interferência dos outros poderes republicanos, censura preventivo e pospositivo quem defende os valores bíblicos, estereotipa e profere conceitos prévios em desfavor dos seguidores de Cristo (Lc 12.11,12; 1 Tm 6.3-5). Inclusive, os cristãos foram designados em recente decisão como pessoas de “mentes sombrias”, “retrógrados”, “espantalhos da moral”, “fundamentalistas religiosos”, “reacionários morais” e outros aviltantes adjetivos.12 Portanto, em tempos de ataques ideológicos contra a cultura judaico-cristã em pleno século XXI, a Igreja não deve furtar-se de ser o “sal da terra” e a “luz do mundo” (Mt 5.13,14). Por isso, ratifica- se que a Bíblia é o fundamento para o viver ético-moral dos cristãos. É a única regra infalível de fé e de conduta para o cristão (2 Tm 3.16). Ademais, salienta-se que o “deus deste século” (2 Co 4.4), o Adversário, influencia esse mundo juntamente com as suas hostes malignas (Ef 6.12). Em razão disso, o espírito da Babilônia é perceptível na cultura, na política, na economia e nas demais áreas do saber. Nessa perspectiva, o livro de Apocalipse registra o enriquecimento dos mercadores por meio da exploração da luxúria e da licenciosidade do espírito da Babilônia (Ap 18.3). O comércio e o governo subornam os cidadãos por avareza, dinheiro e poder (Mq 2.1-3; Ap 18.12,13). As pessoas são motivadas a levar vantagem financeira, ilícita e imoral em prejuízo do próximo provocando injustiças e caos social. Em consequência, o cidadão instigado a confiar no materialismo e na autossuficiência mantém-se afastado de Deus. A grande mídia, as artes, a literatura e a educação promovem o doutrinamento contrário à fé cristã (Jo 15.19). Coagida pelo “politicamente correto”, a sociedade assimila e defende a “nova cultura” (1 Jo 4.5,6). Nesse contexto, cristãos genuinamente bíblicos são perseguidos e julgados (Lc 21.16,17). Os que controlam a economia impõem embargos, tributos e multas em desfavor de quem adota os princípios bíblicos (Tg 2.6,7; Ap 13.16,17). Não obstante, o espírito que escraviza o homem na incredulidade e pecaminosidade finalmente será derrotado quando Cristo retornar em glória, ocasião em que Ele extirpará a grande Babilônia e o domínio do Anticristo (Ap 18.2-19.21). III. A POSIÇÃO DA IGREJA 1. Manter a Ortodoxia Bíblica A palavra ortodoxia vem do grego orthós, que significa correto, e da expressão dóxa, do verbo dokéo, com o sentido de crer. A junção desses termos veio a indicar a “crença correta”. Embora o termo seja conhecido entre os cristãos, não se trata de uma expressão bíblica. Foi utilizado na Igreja Primitiva para contender os falsos ensinos.Gonzalez (2010, p. 211) destaca que: [...] o termo [ortodoxia] é usado para se referir aos pontos essenciais da doutrina cristã sobre os quais toda a igreja — ou quase todos — concordaram por muito tempo, e é por isso que muitas igrejas protestantes tradicionais definem a ortodoxia como concordando com as decisões dos primeiros quatro — ou às vezes sete — concílios ecumênicos. (tradução nossa) Nesse aspecto, a ortodoxia pentecostal tem a Bíblia como a suprema e inquestionável árbitra em matéria de fé e prática. Não obstante, “a Bíblia precisa ser interpretada e compreendida”.13 Assim, no decorrer da história, surgiram credos e confissões denominacionais. Nesse propósito, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus, o documento oficial de interpretação, serve “como proteção contra as falsas doutrinas e [contribui] para a unidade do pensamento teológico”.14 Por conseguinte, a Igreja precisa reafirmar a verdade bíblica como valor universal e imutável (Sl 100.5; Mt 24.35). Assim, por meio do estudo bíblico sistemático e doutrinário, torna-se possível capacitar o crente para o enfrentamento do espírito da Babilônia e as suas ideologias contrárias aos valores absolutos da fé cristã (1 Pe 3.15,16). Nesse condão, Lira e Silva (2014, p. 34) destacam que: A Igreja precisa mais do que ortodoxia, ela precisa de ortopraxia. Ortodoxia significa “doutrina correta”. Ter doutrina correta é muito importante e necessária. Mas a palavra que expressa a necessidade da Igreja hoje é ortopraxia, que significa “conduta correta”. A conduta condizente com a fé, eis o de que a Igreja necessita hoje. A eficácia do discurso da Igreja só alcança até onde vai a sua ação. O ensino do Espírito Santo através de Tiago é: “assim falai e assim procedei” (Tg 2.12). Isso significa que uma ortodoxia morta não tem valor (Tg 2.26). Sinaliza que “a fé, e não o que fazemos, estabelece o nosso relacionamento com Deus. No entanto, essa fé precisa de conteúdo, ou seja, uma fé genuína sempre produz uma vida justa na prática”.15 Uma fé [ortodoxia] sem prática [ortopraxia] não possui nenhuma utilidade no combate ao espírito da Babilônia. Somente uma vida cristã autêntica pode fazer a diferença (Mt 5.16). 2. Formar o Caráter Cristão O caráter cristão refere-se à nova vida, ao modo de pensar e agir dos que pertencem a Cristo (Ef 4.22-30). Nesse sentido, faz-se necessário enfatizar que é o fruto do Espírito que desenvolve o caráter do salvo (Gl 5.22-25). A Bíblia registra que o fruto do Espírito consiste em nove graças (Gl 5.22,23). O fruto encontra-se no singular, e isso se refere à unidade que o Espírito Santo cria na vida dos que se sujeitam a Ele. O domínio próprio pareceser o somatório de todas as outras graças, gerando autocontrole e a autodisciplina. O Comentário Aplicação Pessoal (RIBAS, 2009, p. 298) avalia que: Ironicamente os nossos desejos pecaminosos, que prometem autorrealização e poder, inevitavelmente nos levam à escravidão. Quando nos rendemos ao Espírito Santo, inicialmente sentimos como se tivéssemos perdido o controle, mas Ele nos leva a exercer o autocontrole que seria impossível somente com as nossas próprias forças. Portanto, o que vive na carne é escravo do pecado, e a característica de quem já foi liberto é a manifestação do Fruto do Espírito Santo. Nesse sentido, “o fruto tem a ver com o crescimento e o caráter; o modo da vida é o teste fundamental da autenticidade”.16 Assim sendo, o cristão controlado pelo Espírito Santo não pode ceder às paixões carnais e nem tão pouco ser escravizado pelo pecado (Gl 2.20; 1 Pe 1.18). Além disso, Jesus ensinou que é pelo fruto que se conhece uma árvore (Mt 12.33). Paulo observa que o melhor antídoto contra o veneno e o jugo do pecado é andar no Espírito (Gl 5.16,17). A falha na formação moral do caráter produz pseudocristãos escravizados pela carne (Jd 12,13). A igreja que prima pelo estudo e aplicação da Palavra de Deus produz crentes espiritualmente maduros, capazes de resistir ao espírito da Babilônia (Rm 8.35,38,39). 3. Aguardar a Volta de Cristo O retorno de Cristo está sobejamente registrado nas Escrituras. Os seguidores de Jesus receberam a garantia da sua volta (Jo 14.3; At 1.11). A dispensação da graça termina com o arrebatamento da Igreja antes da Grande Tribulação (1 Co 15.51-52; 1 Ts 1.10; 4.13- 18; 5.9; 2 Ts 2.6-10). O Céu é a pátria definitiva dos remidos. Estes aguardam o dia em que o Senhor Jesus virá buscá-los para estar juntamente com Ele (Fp 3.20).17 A Teologia Sistemática (HORTON, 1996, p. 627) assinala que: A Bíblia demonstra que a nossa única Esperança é que Deus intervirá, pronunciará o seu juízo contra o presente sistema mundial, e enviará Jesus de volta à Terra para estabelecer o seu governo e tornar eterno o trono de Davi. O fato de que Jesus virá de novo à terra está mais do que claro nas Escrituras. Acerca dos sinais que precedem a volta de Cristo, destacamos: a apostasia, a inversão de valores, a perseguição, as guerras, a fome, as pestes e os terremotos (Mt 24.5-12,24; 1 Tm 4.1; 2 Tm 4.3). Mercê desses eventos, o cristão é exortado a não viver desapercebido, mas, sim, a esperar o seu Senhor em oração e vigilância (Mc 13.33). Ainda se requer do salvo, enquanto aguarda a bendita esperança, a renúncia à impiedade e às paixões mundanas, bem como a viver neste presente século uma vida de autodomínio, de integridade e de santidade (Tt 2.12,13). CONCLUSÃO Vivemos num período em que o espírito da Babilônia exerce forte influência na sociedade global. As suas ações buscam o completo domínio político, econômico, cultural e religioso em oposição aos valores e à fé cristã. O avanço dessas ideologias aponta para a iminente volta de Cristo (Lc 21.28). Nesse interlúdio, é dever da Igreja oferecer resistência ao mal (2 Ts 2.6,7), ensinar a doutrina bíblica (Mt 28.20), formar o caráter dos discípulos (Gl 4.19) e santificar-se para a vinda do Senhor (Hb 12.14). 1 PFEIFFER, Charles J. et al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 249. 2 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento – volume I/Pentateuco. Santo André: Geográfica Editora, 2006, p. 75. 3 HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 39-42. 4 STRONSTAD, Roger & ARRINGTON, French (ed). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1824-1825. 5 BAPTISTA, Douglas. Igreja Eleita: Redimidos pelo sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo da Promessa. Rio de Janeiro: CPAD, 2020, p. 101. 6 STRONSTAD, Roger & ARRINGTON, French (ed). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1.908. 7 HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 637. 8 STRONSTAD & ARRINGTON, 2003, p. 1.908. 9 STAMPS, Donald (ed.). Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 2.003. 10 SOARES, Esequias (org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 29. 11 Para mais informações sobre esses temas, recomenda-se a leitura do livro Valores Cristãos: enfrentando as questões morais do nosso tempo, publicado pela CPAD. 12 Expressões retiradas do acórdão (sentença de colegiado) da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADI) n.º: 26, do Supremo Tribunal Federal (STF). Disponível em <https://portal.stf.jus.br/proce ssos/downloadPeca.asp? id=15344606459&ext=.pdf>. Acesso em: 24.jan.2023. 13 SOARES, Esequias (org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 15. 14 SOARES, 2017, p. 19. 15 SILVA, Eliezer de Lira e. Fé e Obras: ensinos de Tiago para uma vida cristã autêntica. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 34. 16 HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 488. 17 SOARES, Esequias (org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 113. https://portal.stf.jus.br/proce A Capítulo 2 A Deturpação da Doutrina Bíblica do Pecado Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado (Rm 3.20) Queda no jardim do Éden transmitiu à humanidade a inclinação para o erro. A regeneração é o único meio possível de desfazer as consequências do pecado. Portanto, a natureza humana somente pode ser transformada pela obra de Cristo (Tt 3.5,6). Não obstante, por influência de teologias modernas, a doutrina do pecado original vem sendo enfraquecida. Essa deturpação tornou- se porta de entrada para a normalização do pecado. Quando o mal é reinterpretado, a consciência humana fica cauterizada e aprisionada ao engano (1 Tm 4.1,2). Essa ação é proposital a fim de manter o homem afastado de Deus e impedindo- o de ser salvo (Jo 3.19,20). Por essa razão, Paulo alerta a Igreja acerca das falsas doutrinas, que, pela artimanha e astúcia, induzem as pessoas ao erro (Ef 4.14). Desse modo, de forma sucinta, abordaremos o perigo dessas estranhas teologias para a ortodoxia cristã. I. A NATUREZA PECAMINOSA 1. Definição de Pecado A Escritura faz uso variado de termos para referir-se ao pecado. Algumas dessas expressões realçam as suas causas, a sua natureza e as suas consequências.18 O teólogo Bruce Marino (HORTON, 1996, p. 281) considera que “descrever o pecado é uma tarefa difícil. Talvez a dificuldade provenha de sua natureza parasítica, posto que não tem existência em separado, mas é condicionado por aquilo que se agarra”, uma vez que ele aprisiona e cega o pecador (Is 35.5; Jo 9.5). No Antigo Testamento, a mais importante expressão hebraica é o conjunto de palavras representado por chatta’th, que possui o sentido básico de errar um alvo ou um caminho (Gn 4.7; Pv 19.2).19 No grego do Novo Testamento, o principal termo para designar o pecado é hamartia, que possui conotação de “erro moral” (2 Pe 2.13,14). Essa palavra aparece cerca de 300 vezes, com o sentido de errar o alvo propositalmente. Nesse aspecto, Millard J. Erickson (2015, p. 551) arrazoa que “esse pecado é sempre contra Deus, visto que não se atinge a marca que ele estabeleceu, seu padrão de amor e obediência perfeitos devido a ele”. Além disso, a Bíblia Sagrada disciplina: “quem comete pecado, comete iniquidade, porque o pecado é iniquidade” (1 Jo 3.4). Nesse contexto, a palavra “iniquidade” ou “ilegalidade” significa uma atitude de rebelião geral contra os mandamentos de Deus.20 Desse modo, abrange não apenas errar o alvo, mas deliberadamente acertar o alvo errado. Trata-se de desobediência intencional contra Deus e a sua Palavra (1 Sm 15.22,23). Em consequência, o pecado afasta o homem de Deus e faz com que este peque contra o próximo. O pecado não é somente praticar obras contra o Senhor, mas incluia omissão em praticar o bem (Tg 4.17). Pecado, portanto, é a condição do homem não regenerado e só pode ser expelido por meio do novo nascimento (Jo 3.3-7). Essa reconciliação do homem com Deus só é possível em Cristo (2 Co 5.19). 2. O Pecado Original e a Depravação Total A doutrina do pecado original está sobejamente registrada nas Escrituras (Rm 5.12-21; 1 Co 15.21,22, Ef 2.1-3). Essa obra não se propõe ao debate das modulações interpretativas dessa doutrina, tais como a teoria federal, teoria realista, da imputação mediata, da teoria arminiana-wesleyana, dentre outras.21 Desse modo, sublinha-se que o ser humano foi criado em estado de inocência, não impecável e nem pecaminoso, mas perfeito (Ec 7.29) e dotado de livre-arbítrio (Gn 2.16,17). O primeiro homem, porém, escolheu desobedecer a Deus, e a sua Queda contaminou toda a humanidade (Gn 3.9-19). A Bíblia de Estudo Pentecostal (STAMPS, 1995, p. 1.706) salienta que: Através da transgressão e queda de Adão, o pecado como princípio ou poder ativo conseguiu penetrar na raça humana [...] Todos os seres humanos passaram a nascer propensos ao pecado e ao mal [...] A raça humana experimentou a morte não porque transgrediu a lei oral de Deus, com sua pena de morte, como no caso de Adão (Rm 5.13,14), mas por que os seres humanos realmente eram pecadores pela prática, bem como pela sua natureza e transgrediram a lei da consciência, escrita em seus corações (Rm 2.14,15). Nesse contexto, o pecado original de Adão passou a toda a raça humana (Rm 5.12). De tal modo que, a partir da Queda, todos os serem humanos nascem em pecado (Sl 51.5). Portanto, o pecado não é passado adiante meramente pela força do mau exemplo, mas é um mal inerente à natureza humana (Rm 7.14-24). Jacó Armínio salienta que a “abrangência deste pecado [...] não é peculiar aos nossos primeiros pais, mas é comum a toda a raça humana e a toda sua posteridade”.22 Em consequência, todo ser humano está debaixo da escravidão do pecado e da condenação da morte (Rm 3.23; 6.23). Contudo, apesar de corrompida, a natureza humana pode ser eficazmente regenerada pela fé em Cristo (Rm 3.24; 2 Co 5.17). Porém, em decorrência do pecado de Adão, o homem encontra-se espiritualmente morto e incapacitado de vir a Deus por si mesmo (Ef 2.1). Significa que, por causa da Queda, todas as áreas de nosso ser foram afetadas. Esse estado de corrupção mental, moral e espiritual da natureza humana é denominado de Depravação Total, ou seja, a inclinação para fazer o errado resultante do pecado original. Essa depravação impede o homem de tomar a iniciativa no processo de regeneração (Rm 8.7,8). Jacó Armínio (vol. 2, 2015, p. 406) assinala que: O livre-arbítrio é incapaz de iniciar ou aperfeiçoar qualquer bem verdadeiro e espiritual, sem a graça [...] Confesso que a mente de um homem carnal e natural é obscura e sombria, que os seus afetos são corruptos e desordenados, que a sua vontade é obstinada e desobediente, e que o próprio homem está morto em pecados. Dessa forma, “em seu estado de descuido e pecado, o homem não é capaz de pensar, nem querer ou fazer por si mesmo o que é realmente bom; pois é necessário que ele seja regenerado e renovado [...] por Deus, em Cristo, por intermédio do Santo Espírito”.23 Por conseguinte, o homem só pode ser liberto do pecado se Deus buscá-lo primeiro (Fp 1.6). Sem a ajuda de Deus, ninguém pode ser transformado (2 Co 5.17; Tt 3.5). Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 113) arrazoa que: Todos os homens e mulheres foram atingidos pelo pecado a tal ponto que, embora tenha sido feito a imagem de Deus, não podem, por si mesmos, chegar a Deus [...] todavia os seres humanos, influenciados pela graça que habilita a livre escolha, são livres para escolher (Jo 7.17). Isso significa que o homem não pode dar início ao processo da salvação, pois o seu livre-arbítrio precisa ser divinamente restaurado (Rm 2.4). Por isso, somente ao ser atingido pela graça preveniente (ação divina que antecede a conversão) é que o homem recebe a capacidade de arrependimento e fé, e isso mostra que a fé antecede a regeneração. Em síntese, o pecado original e a depravação tornaram o homem totalmente incapaz de até mesmo desejar aproximar-se de Deus.24 Todavia, por meio da graça preveniente, recebe divinamente a capacidade para crer, arrepender-se e ser salvo (Rm 3.24,25). Portanto, a libertação do pecado não provém de nenhum esforço humano, mas é gratuita e divinamente ofertada (Rm 6.23; Ef 2.8,9). II. AS TEOLOGIAS MODERNAS 1. Teologia do Pecado Social Com o advento do Renascentismo e do Iluminismo (Séc. XIV a XVII), o antropocentrismo teológico desenvolveu doutrinas em desacordo com a Bíblia. Nessa premissa da centralidade do homem, a teologia católica passou a discutir a Doutrina Social da Igreja (DSI). Leão XIII promulgou a Rerum novarum (1891–1931), cujo intento era manter o primado dos valores morais e mediar o conflito entre socialismo e liberalismo.25 Em seguida, Pio XI e Pio XII propuseram uma “nova Cristandade” (1931–1958), uma “terceira via” entre o capitalismo e o comunismo. Na sequência, no Concílio Vaticano II (1962–1965), a Doutrina Social da Igreja, que é outro termo para pecado social, foi institucionalizada pelo catolicismo.26 Desde então, a hermenêutica moveu-se da revelação bíblica para o antropocentrismo teológico. Bartolomeo Sorge (2017, p. 15) registra que: Não se parte mais dos altíssimos princípios da revelação [...] para daí deduzir um modelo de sociedade cristã [...] mas se parte da leitura [...] confiada às diversas comunidades cristãs, para interpretá-los depois a luz do Evangelho e o ensinamento da Igreja e deduzir, enfim, as escolhas a realizar junto com todos os homens de boa vontade. Nessa perspectiva, os concílios católicos de Medellín (1968, Colômbia) e Puebla (1979, México) arrazoaram que o pecado é algo que se constrói por meio de estruturas opressoras, tais como a pobreza, a injustiça e a desigualdade. Dessa forma, a redenção do pecado não se restringe ao aspecto espiritual, sendo forçoso resolver as questões sociais. Na prática, esse conceito prioriza a “questão social” em detrimento da moral. Entretanto, essa ordem de valores mostra-se equivocada. As injustiças sociais são apenas sintomas; as causas do sofrimento são as ações de ordem moral. A corrupção, a fraude, o suborno, a ganância, dentre outros males morais, são a origem das mazelas sociais. Essa mudança de ênfase no pecado original (natureza humana) para o pecado social (estrutural) enfraquece a responsabilidade moral do pecador. Os temas morais passam a ser tolerados ou ignorados e deixam de ser primazia no trato com o pecado. Deixa- se de abordar a causa do pecado para tratar-se os sintomas (Mt 23.27,28). A partir daí, a solução da “questão social” é vista como a solução do mal. Um erro gritante, uma vez que o mal a ser combatido é o pecado (1 Co 6.10-12). 2. Teologia da Libertação Nessa mudança de paradigmas, abre-se o espaço para o surgimento da Teologia da Libertação (TdL). Essa teologia tem afinidade com as ideias socialistas/comunistas de Karl Marx (1818– 1883), que apregoa uma luta entre classes, uma revolução social, prometendo libertação das supostas estruturas opressoras da sociedade. Mercê dessas premissas, surge na década de 70 com Gustavo Gutiérrez (Peru) e com Clodovis e Leonardo Boff (Brasil) a teologia da libertação (TdL). Assim, o encontro da DSI com a TdL resultou em um fazer teológico não centrado em doutrinas bíblicas para libertar o homem do pecado moral, mas na indignação para libertar o homem da injustiça social, econômica e cultural. A premissa da TdL é “inculturar uma fé libertadora nas camadas populares que favoreça a formação da consciência crítica”.27 Desse impulso, surgem teologias de cunho emancipatório de gênero, sexualidade e de raças. Uma das suas vertentes é a Teologia da Missão Integral (TMI). Apesar de os seus autores negarem, a TMI é a vertente protestante da teologia da libertação católica. A ideologia e o fundamento da TMI são inegavelmente deinfluência marxista.28 Essas teologias reduzem a fé cristã em militância ideológica, política, socialista e marxista. As pautas sociais e progressistas são postas acima dos valores morais do Reino de Deus. Transforma-se o evangelho em inconformismo, luta de classes e assistencialismo (1 Co 15.19; Fp 3.18-20). O arrependimento, a libertação do pecado, a transformação de caráter e uma nova vida em Cristo são negligenciados (Gl 6.14,15). Nesse contexto, convém esclarecer que o autêntico cristão não é insensível ou alienado das causas sociais. Pelo contrário, destaca- se que a justiça social sempre foi uma bandeira defendida pelo cristianismo. O que não se admite é que a ideologia marxista sequestre o evangelho de Cristo e reivindique para si a paternidade das pautas sociais, em desfavor dos valores morais do Reino de Deus. 3. Liberalismo Teológico O liberalismo teológico, no qual a razão sobrepõe-se à revelação divina, floresceu após a Reforma Protestante (1517). Friedrich Schleiermacher (1768–1834) é considerado o pai do liberalismo teológico. Influenciado pelos racionalistas e por Immanuel Kant (1724–1804), o teólogo alemão colocava em dúvida a historicidade da Bíblia, “sua concentração era na consciência humana [racionalismo], em vez da revelação”.29 Nesse aspecto, a teologia liberal teve o seu ponto de partida em Schleiermacher. Por conseguinte, o ideário da teologia liberal é de oposição ao conservadorismo teológico, que se fundamenta na revelação bíblica (2 Tm 4.3). Assim, a inspiração, a inerrância e a infalibilidade das Escrituras são constantemente questionadas, e as doutrinas da fé são reinterpretadas e ressignificadas. Entre outros males, o liberalismo substitui a mensagem da salvação de arrependimento, da confissão de pecados e da mudança de caráter por uma visão progressista que enfatiza a transformação social pelo paradigma marxista. O pecado é relativizado, prega-se o ecumenismo religioso e toda a experiência espiritual é considerada válida. Nesse cenário, os milagres e o sobrenatural são considerados mitológicos. Rudolf Bultmann ((1884–1976)) questionou a veracidade das Escrituras e propôs um processo de desmitologização do Novo Testamento. Segundo Bultmann, a Bíblia só é crível se dela extirparmos os mitos — milagres, sinais, teofanias e outras revelações sobrenaturais.30 O teólogo de Marburg escreveu que “a visão bíblica do mundo é mitológica e, portanto, é inaceitável para o homem moderno, cujo pensamento tem sido modelado pela ciência e já não tem mais nada de mitológico”.31 Somado a isso, o método hermenêutico proposto por Bultmann busca redescobrir o significado oculto atrás das concepções mitológicas. Nesse diapasão, a teologia pentecostal afirma que defensores de teorias como as de Bultmann causam inevitáveis consequências ao evangelho, tais como “incredulidade; leniência para com o pecado; relativismo moral e ético; relaxo para com a evangelização, etc”.32 Desse modo, contrapondo a posição que questiona a autoridade bíblica, o pentecostalismo reconhece as Escrituras como suprema e inquestionável árbitra em matéria de fé e prática.33 III. A NORMALIZAÇÃO DO PECADO 1. Crise Ética e Moral Em termos gerais, define-se ética como os valores que regulam a conduta de uma pessoa (1 Pe 1.15); já a moral é a prática dessa conduta. Nessa concepção, a obediência aos princípios bíblicos reflete o caráter de um cristão (Rm 12.2). Dessa forma, a obra Valores Cristãos (BAPTISTA, 2018, p. 10) destaca que: Os padrões da ética e da moral cristã não sofrem mutações. A verdade bíblica não pode ser relativizada ou flexibilizada para atender o egoísmo e o hedonismo da raça humana. O texto bíblico permanece inalterado e imexível. Por isso, os valores cristãos são permanentes, pois a fonte de autoridade é permanente. No entanto, o conceito deturpado e relativizado do pecado resulta em desvio e falha de caráter (2 Tm 3.5), haja vista que a sociedade deixa de ser eticamente sólida e torna-se moralmente desajustada (Hc 1.4). Dessa crise de integridade, irrompem-se ações incompatíveis com a fé bíblica (Rm 2.21,22). Na política, governos corruptos e desprovidos de moral recebem apoio desde que defendam pautas sociais (2 Jo 1.11). Os temas progressistas passam a ser normalizados, tais como a imoralidade sexual, o aborto e o uso de drogas ilícitas (1 Sm 2.6; Rm 1.27; 1 Co 6.15,19). Na época do profeta Isaías (cerca de 739 a.C.–681 a.C.), uma grave crise ética e moral impregnava a nação de Israel. Os governos das cidades eram corruptos, e os juízes aceitavam suborno. A luxúria, a ociosidade e a embriaguez aumentavam a pobreza e a criminalidade. Superstições haviam poluído a religião pura. As mulheres eram vulgares, sensuais, bêbadas, mimadas e negligentes. O orgulho e a autossuficiência levavam o povo a esquecer-se de qualquer dependência de Deus.34 Nesse cenário de podridão moral e espiritual, Deus levantou um atalaia para profetizar contra a nação. Entre os alertas, o profeta vaticinou “sete ais” que confrontavam o comportamento inadequado daquele povo (Is 5.8-23).35 Em nossos dias, o quadro caótico assemelha-se à situação do povo de Israel. A conduta reprovável e imoral dos israelitas causou a derrocada daquela nação (Is 5.24,25). A advertência das Escrituras é que “tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7). Assim, sem arrependimento, não haverá escape para quem relativiza a verdade bíblica (2 Pe 2.1-3). 2. A Imoralidade Sexual O enfraquecimento da doutrina do pecado favorece o avanço da imoralidade sexual (Rm 1.24). Em defesa da liberdade de decisão sobre o corpo, banalizam-se o sexo pré-conjugal e o extraconjugal e normaliza-se a homoafetividade (Rm 1.26,27). As ações governamentais, a mídia, a cultura, a arte e o entretenimento engajam-se para fazer da prática imoral algo comum. Eleva-se a imoralidade sexual ao status de direito fundamental (Ef 5.5,6; 1 Tm 4.2). Quem pensa diferentemente torna-se alvo do ódio da militância e do patrulhamento ideológico. Nesse aspecto, o afrouxamento da moral impõe o ensino da ideologia de gênero nas escolas e a erotização da infância. Essas ações promovem luxúria e licenciosidade em busca de legitimar a imoralidade. O pecado é tolerado, a família é desconstruída, e a doutrina da santidade é negligenciada (Hb 13.4). A castidade é vista como algo opressor (Rm 6.12), e as teologias inclusivas rendem-se ao pecado da diversidade sexual (2 Pe 2.19,20). Desse modo, qualquer escolha ou opção de sexualidade é validada como normal. Em contrapartida, a Escritura ensina que “os devassos”, “os adúlteros”, “os efeminados” e “os sodomitas” cometem imoralidade sexual (Lv 18.22-29; Rm 1.18-32; 1 Co 6.10; 1 Tm 1.9-11). Entretanto, os cristãos devem estar atentos para não errar em desprezar as pessoas, mas abominar apenas a prática do pecado. O Comentário do Novo Testamento: Aplicação Pessoal (2009, v. 2, p. 129) afirma que: Aqueles que cometem o ato homossexual não devem ser temidos, ridicularizados ou odiados. Eles podem ser perdoados e suas vidas podem ser transformadas. A igreja deve ser um refúgio de perdão e cura para os homossexuais que se arrependem, sem abrir mão de sua posição contrária ao comportamento homossexual. Essa é a posição das Assembleias de Deus explicitada em nossa Declaração de Fé: Rejeitamos o comportamento pecaminoso da homossexualidade por ser condenada por Deus nas Escrituras, bem como qualquer configuração social que se denomina família, cuja existência é fundamentada em prática, união ou qualquer conduta que atenta contra a monogamia e a heterossexualidade, consoante o modelo estabelecido pelo Criador e ensinado por Jesus.36 Apesar desse enfático posicionamento, não poucas vezes somos forçados a esclarecer e diferenciar que ser contrário à homossexualidade não significa ser homofóbico. 3. A Dessacralização da Vida A Igreja de Cristo defende a dignidade humana desde a concepção (Sl 139.16). A Bíblia ensina que a vida humana é sagrada e não pode ser violada (1 Sm 2.6). Ratifica-se a sacralidade da vida humana nasua origem divina (Gn 1.27). Por conseguinte, a vida é inviolável e deve ser valorizada (2 Pe 1.3). O corpo humano deve ser cuidado, alimentado, respeitado e preservado (Ef 5.29). Nesse sentido, Andrade (2017, p. 44) arrazoa que: A Bíblia nos informa sobre a origem da vida. Diz o Gênesis: “e formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn 2.7). Depois que o homem estava formado, pelo processo especial da combinação das substâncias que há na terra, o Criador lhe soprou o fôlego da vida, dando início, assim, à vida humana. Entendemos, com base nesse fato, que, cada ser que é formado, a partir da fecundação, o sopro de vida lhe é assegurado pela lei biológica estabelecida por Deus. Contudo, na contramão da revelação bíblica, a vulgarização do pecado fomenta ideologias que desprezam a sacralidade e a dignidade humana. Propala-se a autonomia incondicional sobre o próprio corpo sem as devidas limitações éticas e morais. O slogan “Meu corpo, minhas regras” reivindica o pseudodireito de a pessoa usar drogas, prostituir-se, abortar, cometer o suicídio e a eutanásia. Assim, o corpo, que é templo do Espírito Santo, é acintosamente profanado, maculado e desonrado (1 Co 6.19). A criatura, influenciada e dominada pelo espírito da Babilônia, propositalmente afronta a vontade do Criador (Rm 1.25). Nesse diapasão, biblicamente, toda ideologia que seculariza os princípios bíblicos deve ser tenazmente combatida (2 Tm 3.8,9). CONCLUSÃO A relativização do pecado que o restringe à solução de pautas sociais em prejuízo da moral, e, por sua vez, o exclusivismo moral em detrimento de causas sociais igualmente não retratam a fé cristã. Apesar de a Igreja não ser apolítica e nem insensível às desigualdades sociais, o mal primário a ser combatido é o pecado inerente à natureza humana. O homem, uma vez regenerado pela fé em Cristo, repudia as injustiças contra o seu próximo (Rm 1.18; 1 Co 13.6). A Igreja atuante é aquela que ainda milita na terra contra a carne, o mundo, o Diabo, o pecado e a morte (Ef 6.12). 18 ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 547. 19 HORTON, Stanley (ed.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 283; ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, ٢٠١٥, p. ٥٥٠ e HARRIS, Laird R. et al. Dicionário Internacional do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, ١٩٩٨, p. ٤٥٠. 20 STRONSTAD, Roger & ARRINGTON, French (Ed.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1.779. 21 Para o conhecimento dessas teorias, sugere-se a leitura das seguintes obras: DANIEL, Silas. Arminianismo: a mecânica da salvação. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 309-343; HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 263-299. 22 ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio. Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 439. 23 ARMÍNIO, vol. 1, 2015, p. 231. 24 MAIA, Carlos Kleber. Depravação Total. São Paulo: Reflexão, ٢٠١٥, p. ٧٥. 25 SORGE, Bartolomeo. Breve Curso de Doutrina Social. São Paulo: Paulinas, 2017, p. 13-16. 26 COMPAGNONI, Francisco; PIANA, Gianino, PRIVITERA, Salvatore. (Coord.) Dicionário de Teologia Moral. Tradução de Lourenço Costa, Isabel Fontes L. Ferreira e Honório Dalbosco. São Paulo: Paulus, 1997, p. 260. 27 SORGE, Bartolomeo. Breve Curso de Doutrina Social. São Paulo: Paulinas, 2017, p. 175. 28 Missão integral: proclamar o reino de Deus, vivendo o evangelho de Cristo. / 2. Congresso Brasileiro de Evangelização, Belo Horizonte, 27 de outubro a 1 de novembro de 2003. — Viçosa, MG: Ultimato; Belo Horizonte: Visão Mundial, 2004, p. 304. 29 GONZÁLEZ, Justo L. Uma História do Pensamento Cristão: da Reforma Protestante ao século ٢٠. Vol. 3. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2015, p. 344. 30 GILBERTO, Antonio (Ed.). Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p. 23. 31 BULTMANN, Rudolf. Jesus Cristo e Mitologia. São Paulo: Editora Novo Século, 2000, p. 29. 32 GILBERTO, 2013, p. 24. 33 GILBERTO, 2013, p. 24. 34 HARPER, A. F. (Ed.). Comentário Bíblico Beacon. Vol. 4. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 22. 35 BAPTISTA, Douglas. Valores cristãos: enfrentando as questões morais de nosso tempo. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 26. 36 SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 203-204. A Capítulo 3 O Perigo do Ensino Progressista Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos (2 Tm 3.1) s teologias liberais enfraquecem a autoridade da Bíblia Sagrada. As suas heresias propagam que as Escrituras contêm erros, que Deus não é soberano e que o sobrenatural é mitológico. São indiferentes ao pecado original, relativizam os valores morais e ressignificam a fé cristã. Por conseguinte, os seus ensinos progressistas resultam na descaracterização do cristianismo bíblico. Neste capítulo, veremos alguns dos seus heréticos conceitos e os meios espirituais para a Igreja resistir aos seus efeitos maléficos (Jd v. 3). I. A DESCARACTERIZAÇÃO DO CRISTIANISMO 1. A Deterioração Moral O apóstolo Paulo é, sem dúvida, o maior missionário da história cristã. A partir do evento em Damasco (At 26.15,16), Paulo passou a ser um atalaia de Cristo. Em vista disso, sublinha-se que as “epístolas de Paulo são teologias aplicadas, e o objetivo dele [...] é que seus leitores vejam o mundo e a forma como eles vivem diante de Deus”.37 Nessa perspectiva, Paulo escreve a Timóteo alertando-o que “nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos” (2 Tm 3.1). A expressão “últimos dias” faz alusão ao período anterior à volta de Cristo, sendo retratado como um tempo “extremamente difícil”. O termo é usado por Lucas e pelo escritor aos Hebreus para referir-se “à vinda de Cristo, ao advento da nova era, e à era cristã (At 2.16- 21; Hb 1.2)”.38 Nessa direção, Stamps (1995, p. 1.880) enfatiza que: Os últimos dias inclui a era cristã na sua totalidade. Paulo, porém, profetiza pelo Espírito Santo que as coisas se tornarão piores à medida que o fim se aproximar [...] Os últimos dias serão assinalados por um aumento cada vez maior de iniquidade no mundo, um colapso nos padrões morais e a multiplicação de falsos crentes e falsas igrejas dentro do Reino de Deus [...] esses tempos serão espiritualmente difíceis e penosos para os verdadeiros servos de Deus. Nesse contexto, Paulo adverte que o comportamento humano estará associado à impiedade, com características de profunda degradação moral (2 Tm 3.2-4). O apóstolo apresenta uma lista de dezoito repugnantes pecados praticados pela sociedade a fim de demonstrar a escalada de deterioração da humanidade.39 Assim, o atual e alarmante crescimento do pecado é uma indicação de que já vivemos esses últimos dias. O enfraquecimento da doutrina bíblica, bem como o relativismo que não aceita norma moral absoluta, instigam a má conduta humana. Não obstante, apesar das investidas heréticas, a Bíblia adverte-nos a viver em santidade em qualquer época da jornada cristã (1 Pe 1.15, 23-25). 2. A Erosão da Ortodoxia e a Corrupção da Fé O ensino progressista representa um ataque teológico à ortodoxia. As suas teses reduzem o texto bíblico a um mero registro de experiências religiosas. Desse modo, o principal fundamento da fé cristã é questionado, isto é, a autoridade bíblica é rejeitada, e as suas verdades, negligenciadas. Os que propagam tais heresias são identificados nas Escrituras como falsos mestres, hipócritas, charlatões, imorais e com falha de caráter (2 Tm 3.5-7). Nesse entendimento, “a série de expressões descritivas usadas ao longo das epístolas pastorais salientam a falta de padrões éticos apropriados”40 que eram reproduzidos pelos pseudos-mestres e os seus seguidores, identificando-os como “amantes dos prazeres do que amigos de Deus” (2 Tm 3.4, NVI). Além disso, Keener (2017, p. 737) destaca que: Tanto a religião judaica com a filosofia grega condenava aqueles que fingiam devoção,mas cujo coração não correspondia a essa pretensa piedade. Para Paulo, uma religião que não seja acompanhada da transformação divina do coração é inútil. Acerca dessa conduta, Hendriksen (2001, p. 351) avalia que: Tais pessoas carecem de dinamite espiritual. Não nutrem amor por Deus, nem por sua revelação em Cristo Jesus, nem pelo povo. Daí, visto não serem homens cheios do Espírito, não surpreende que lhes falte poder. Desse modo, “na época, assim como agora, o núcleo de todas as falsas doutrinas é hedonista e racionalista”.41 O conteúdo doutrinário cede espaço para a cultura, entretenimento e pragmatismo. A religiosidade da igreja fica desprovida do poder do Espírito, sendo incapaz de transformar o caráter das pessoas (2 Tm 3.5; 2 Co 4.2,3). Em consequência, com o caráter humano maculado e com a erosão da ortodoxia, o cristianismo e a fé bíblica são descaracterizados propositalmente. O apóstolo Paulo enfatiza que esses hereges cativam as pessoas por meio da sedução e do engano. Por conseguinte, os adeptos dessas falsas doutrinas geram disputas na igreja (2 Tm 2.23), causam contendas e cismas (1 Tm 6.4,5) e são capazes de minar a fé de quem lhes dá ouvidos e atenção (2 Tm 2.14-18). Os que são seduzidos passam a ser escravos das paixões e são convencidos de que os prazeres do corpo não podem contaminar a alma. Dessa forma, os pecados morais, a libertinagem e o abuso do corpo são tolerados e escravizam, tais como a prostituição, a homossexualidade, a ideologia de gênero, as drogas e o aborto. Por fim, o embuste desses mestres e dos seus seguidores será objeto do juízo divino (2 Tm 3.8). De outro lado, ratifica-se que a ortodoxia professa ser a Bíblia Sagrada a única revelação escrita de Deus, dada pelo Espírito Santo, capaz de constranger a consciência dos pecadores (2 Tm 3.16,17). 3. O Caso de Janes e Jambres Na advertência contra os falsos mestres, Paulo compara a rebeldia dos hereges com a resistência que Janes e Jambres fizeram a Moisés (2 Tm 3.8). Contudo, salienta-se que o cânon veterotestamentário não cita nominalmente esses dois personagens. Entretanto, “Paulo aqui se vale de uma tradição judaica não encontrada no Antigo Testamento. Segundo a tradição muito disseminada entre os judeus [...], Janes e Jambres, irmãos, eram magos do Faraó que se opuseram a Moisés em Êxodo 7.11”.42 Portanto, o nome desses homens era bem conhecido entres os judeus, de tal modo que a referência não necessitava de maiores explicações.43 E, como os falsos mestres utilizam-se de mitos judaicos, Paulo “cita a história como forma de dar um nome a essas figuras”.44 Assim, a conduta de rebelião e o uso de falsos sinais por parte desses dois mágicos servem como símbolo das artimanhas satânicas e da oposição à verdade.45 II. AS TEORIAS PROGRESSISTAS 1. Definição de Progressismo Pode-se definir progressismo como o conjunto de ensinamentos filosóficos, sociais e econômicos baseados na ideia de que o progresso é fundamental para o aprimoramento do ser humano. Bobbio (1998, p. 1.009) enfatiza que o progressismo está alinhado com o progresso material, moral e social em que uma sociedade caminha. Essa ideia é oriunda dos filósofos franceses do século XVIII, os quais proclamavam um progresso mundial secular, isto é, sem Deus. Nessa premissa, os teóricos subsequentes passaram a pregar um progressismo científico (Augusto Comte), progressismo econômico (Karl Marx), progressismo biológico (Charles Darwin), entre outros. Destaca-se que o progressismo inclui ideais ateístas e racionalismo exacerbado. Henry (2007, p. 472) afirma que, “entre os progressistas, alguns eram secularistas que rejeitavam completamente a religião tradicional”. Do pensamento progressista, surgem alguns dogmas que propõem a erradicação da divindade por meio de concepções seculares. Dentre elas, destacamos: 1.1. O Iluminismo: movimento intelectual e filosófico do século XVIII que enfatizava principalmente a razão e defendia ideias como progresso, tolerância, fraternidade, governo constitucional e separação entre Igreja-Estado.46 1.2. O Marxismo: doutrina filosófica/política desenvolvida pelos alemães Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX, cuja ideologia serviu de base para o programa político do Partido Comunista Alemão e que pregava a revolução por meio da luta de classes entre a burguesia (patrões) e o proletariado (empregados).47 1.3. Darwinismo: teoria de Charles Darwin (Séc. XIX), autor da obra A Origem das Espécies (1859), na qual defende que “todos os seres vivos, incluindo o homem, são resultado de transformações progressivas em longo prazo”. O darwinismo prega o progressismo atrelado “à lei do mais forte”, ou seja, somente os melhores sobrevivem na seleção natural.48 É fato que o progressismo é bem amplo e não se limita a esses movimentos. Podem ser incluídos, ainda, o positivismo, o cientificismo, o tecnicismo, entre outros. Porém, os já citados são suficientes para o propósito dessa abordagem. De modo geral, o progressismo questiona a divindade e repudia os valores religiosos. Por conseguinte, o uso do termo “progressista” aqui adotado refere- se às teorias e aos temas que se distanciam da visão tradicional do papel da religião, em especial dos valores da cultura judaico-cristã, tais como a doutrina, a moral e os costumes cristãos (Fp 3.18,19; 2 Pe 2.19). 2. A Desconstrução da Bíblia Ratificamos que a Bíblia Sagrada é “divinamente inspirada” (٢ Tm 3.16). Essa tradução vem do termo grego theopneustos, que significa literalmente que toda a Escritura foi respirada ou soprada por Deus, o que a distingue de qualquer outra literatura, manifestando, assim, o seu caráter sui generis.49 Desse modo, a inspiração é chamada de verbal porque Deus soprou nos escritores sagrados o que deveria ser escrito (Ap 19.9; 1 Co 14.37). O pastor Antonio Gilberto (2019, p. 41) leciona que: O que diferencia a Bíblia de todos os demais livros do mundo é a sua inspiração divina (Jó 32.8; 2Tm 3.16; 2Pe 1.21). Portanto, inspiração divina é a influência sobrenatural do Espírito Santo como um sopro, sobre os escritores da Bíblia, capacitando-os a receber e transmitir a mensagem divina sem mistura de erro. A própria Bíblia reivindica para si a inspiração de Deus, pois a expressão “Assim diz o Senhor”, como carimbo de autenticidade divina, ocorre mais de 2.600 vezes nos seus 66 livros; isso além de outras expressões equivalentes. Contudo, o ensino progressista, que é o desdobramento do liberalismo teológico, repudia a inspiração, a inerrância e a infalibilidade da Bíblia (2 Tm 3.16). A ênfase dos progressistas repousa no antropocentrismo (homem como centro). Esse ensino produz pessoas egocêntricas e retira a convicção do pecado (2 Tm 3.2). O parâmetro progressista é de desprezo ou de reinterpretação da Bíblia para satisfazer a concupiscência humana (2 Tm 4.3). Propaga-se um “evangelho” em que a salvação do homem ocorre por meio de uma reforma social com relativização do pecado, da moral e da fé bíblica (Gl 1.7-10). Como já observado, os progressistas propõem anulação ou reinterpretação, ressignificação e atualização dos textos bíblicos a fim de ajustar os anseios de uma sociedade que se recusa a crer na supremacia das Escrituras. Nesse sentido, Childers (2022, p. 176) assevera que, conforme o cristianismo progressista tem-se infiltrado nas igrejas, os cristãos haverão de decidir “quanta autoridade esse livro tem sobre as nossas vidas?” e que teremos de decidir por seguir “a mentalidade de uma cultura sem Deus ou podemos optar por seguir a Jesus”. 3. O Teísmo Aberto Outra corrente da teologia liberal/progressista é o ensino do teísmo aberto. O conceito surge de modo formal nos Estados Unidos em 1994, com a publicação do livro The Openness of God [A Abertura de Deus]. Também é conhecido como Teísmo da Vontade Livre, Abertura de Deus ou ainda Teologia Relacional. Esses títulos referem-se ao fato de que Deus estaria aberto a aprender sobre os eventos da história. Mattos Neto (2007, p. 125) avalia que o método hermenêutico adotado pelos neoteístas temimplicações diretas para a ortodoxia cristã, tais como: a) a desconsideração da infalibilidade e inerrância das Escrituras, b) a negação da morte vicária e/ou substitutiva de Cristo, c) torna-se desnecessário o temor a Deus, tendo em vista que o mesmo não pune, d) a autolimitação divina conduz o homem a uma vida de riscos. Não é só Deus que se arrisca pelo homem, mas o homem também se arrisca por Deus, e) Nada é mais pela graça, mas pelas obras, f) não existe mais absolutos, g) com a perspectiva do neoteísmo, não há mais como evangelizar, g) Deus tem emoções e é governado por elas. Deus é governado por sua mudança de humor, h) confundem promessas condicionais com as incondicionais, i) sua hermenêutica é metafísica e não epistemológica. Na interpretação do teísmo aberto, Deus é limitado, não conhece o futuro em detalhes e não exerce controle absoluto sobre o Universo e nem sobre a vida humana. Afirmam que o conhecimento divino das coisas por acontecer depende das ações livres dos homens. Rejeitam o conceito de presciência, em que Deus sabe todas as coisas antecipadamente. Nessa compreensão, Deus foi surpreendido pelo pecado no Éden e forçado a redesenhar a história. Essa ênfase extremada nas decisões do homem sacrifica a soberania de Deus. Essa autolimitação divina anula o que a Bíblia ensina sobre a Queda e a corrupção do gênero humano e afeta a doutrina da providência divina e da presença do mal moral no mundo. Em refutação, nossa Declaração de Fé professa: O conhecimento de Deus é perfeito e absoluto sobre todas as coisas no céu e na terra, de todos os eventos e de todas as circunstâncias que devem e podem ser, que serão e que seriam por toda a eternidade passada e futura [...] (Is 46.10).50 Além disso, é importante frisar que a onisciência divina não está limitada a nosso conceito humano de futuro. Isso porque Deus conhece o fim de determinada coisa antes mesmo de esta ter sido iniciada.51 4. A Teologia da Desmistificação Em 1958, Rudolph Bultmann propôs um programa de demitização do texto bíblico. O mito é uma história de caráter religioso que não tem fundamento na realidade e que se destina a transmitir um conceito de fé. Para esse teólogo alemão, havia mitos na Bíblia, e era preciso separá-los da verdade. Nesse pensamento, Céu e Inferno, a tentação, os demônios e as possessões passam a ser vistos como mitológicos. Nas ideias de Bultmann, a doutrina da concepção e do nascimento virginal e até mesmo a promessa da vinda de Cristo são classificadas como mitologia. Nessa teologia, a Bíblia só é crível se dela forem extirpados os milagres, os sinais e outras revelações sobrenaturais. Em oposição a esses disparates, a ortodoxia ratifica que a Bíblia não é mitológica, sendo ela a verdade plena de Deus (2 Pe 1.21).52 III. REFUTANDO O ENSINO PROGRESSISTA 1. Fortalecendo a Autoridade Bíblica Em refutação ao ensino progressista, é indispensável fortalecer a doutrina da inspiração divina, verbal e plenária da inerrante Palavra de Deus (2 Tm 3.16,17).53 Validar o princípio de Sola Scriptura instituído na Reforma, que estabelece a Bíblia Sagrada como a única regra infalível e autoridade final de fé e prática. Para Lutero, o sentido de Sola Scriptura era literal, ou seja, somente a Escritura — e não a Escritura somada à tradição da Igreja — é a fonte de revelação cristã. A sua defesa era pela centralidade da Palavra de Deus. Lutero não reconhecia nenhuma outra fonte como autoridade infalível de fé e de conduta que não fosse a Bíblia Sagrada. O reformador alemão escreveu: Contendemos pela firmeza e pureza da fé e das Escrituras [...] Pois devemos estabelecer a distinção mais nítida possível entre o que nos foi entregue por Deus nos textos sagrados e o que foi inventado na Igreja pelos homens, não importa a eminência da santidade ou da erudição dele. (LUTERO, 2016, p. 126) Zwínglio (1484–1531) ensinou que a igreja não possui outra autoridade além da Bíblia.54 Calvino (1509–1564) defendia a Bíblia como base e firme alicerce para as crenças e estruturas cristãs, e Menno Simons (1496–1561) fazia apelo urgente à autoridade da Bíblia.55 Jacó Armínio (1560–1609) considerava que a perfeição das Escrituras era retirada e solapada quando a inspiração perfeita dada aos profetas e apóstolos, que administram as Escrituras, é negada, e a necessidade e a frequente ocorrência de novas revelações depois daqueles homens santos são declaradas abertamente.56 Nossa Declaração de Fé ratifica que “a Bíblia é nossa única regra de fé e prática, a inerrante, completa e infalível Palavra de Deus, que não pode ser anulada”.57 Desse modo, a autoridade bíblica é ratificada quando a supremacia das Escrituras é propagada em resistência à presunção das ideologias humanas em acrescentar ou retirar alguma coisa da Palavra de Deus (Ap 22.18,19). 2. Ensinando as Doutrinas Bíblicas A Grande Comissão confiada à Igreja consiste em fazer e ensinar discípulos (Mt 28.19,20). Nesse aspecto, o ensino cristão sempre esteve relacionado ao “Ide” estabelecido por Jesus. Compreende uma ordenança proclamadora e um mandato educacional. É responsabilidade dos discípulos de Cristo evangelizar e ensinar as doutrinas bíblicas (١ Tm 4.13; 2 Tm 4.2). A incumbência é tanto de formação de indivíduos como de transformação da sociedade. Em vista disso, Paulo exorta a necessária dedicação ao ensino (Rm 12.7). O apóstolo aponta para o indispensável “esmero” e “diligência” no exercício do dom de ensinar. A erudição pentecostal enfatiza que aquele que ensina deve ser “regular, constante e diligente no ensino; que permaneça naquilo que é a sua própria função”.58 Significa que o chamado para essa atividade precisa apegar-se ao ensino, isto é, manter o foco e aperfeiçoar a capacitação recebida a fim de oferecer o melhor ao Corpo de Cristo. Desse modo, dentre outras obrigações, os ensinadores necessitam buscar e evidenciar profundo conhecimento bíblico, esmerar-se na correta aplicação das regras da hermenêutica e da exegese e desenvolver acentuada habilidade no emprego dos métodos do ensino-aprendizagem. Para alcançar esse ideal do talento recebido do Senhor, aquele que ensina tem o dever de estudar e instruir-se constantemente. Um fator a ser observado é que essa atividade é essencial para instruir, expor e corrigir o erro (2 Tm 3.16). Essa atuação é primordial na transformação da velha natureza (Ef 4.22-24), na formação do caráter cristão (Ef 4.13) e na proteção contra as heresias (Ef 4.14). Resulta no genuíno crescimento de uma igreja espiritualmente saudável e doutrinariamente bíblica (Ef 4.16). Ainda convém destacar que o ensino das doutrinas bíblicas não são a exposição de opiniões ou pensamentos pessoais. Não se trata de “novas revelações” do Texto Sagrado. A teologia ortodoxa assevera que “todas as doutrinas necessárias para o cristão já nos foram transmitidas pelas Escrituras”.59 O compromisso inegociável daquele que ensina deve ser de total fidelidade à revelação da Palavra de Deus. 3. Enfatizando a Santificação O fortalecimento da autoridade bíblica e o aprendizado das doutrinas cristãs precisam estar atrelados a uma vida de santidade (1 Pe 1.16). O verbo santificar vem do grego hagiazõ, que significa “separar, purificar, consagrar”. O adjetivo “santo” é tradução do vocábulo hagios. Desse modo, a santificação é a operação do Espírito Santo em manter o salvo separado do pecado (Rm 12.1,2). Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 112) ratifica que: Já salvo, justificado e adotado como filho de Deus, o novo crente entra, de imediato, no processo de santificação, pois assim o requer a sua nova natureza em Cristo [...] (Rm ٦.٢٢; ١ Ts 4.3). Santificação é o ato de separar- se do pecado e dedicar-se a Deus. Ele exige santidade de seus filhos [...] (1 Pe 1.15,16); pois sem a santificação ninguém verá o Senhor [...] (Hb 12.14). Assim, a doutrina da santificação enfatiza que a eleição em Cristo predestina os crentes a ser “santos e irrepreensíveis diante dele” (Ef 1.4c). Esses termos bíblicos apontam para o mais alto padrão ético e moralde vida a fim de agradar a Deus (Ef 5.1-3). Nesse sentido, a regeneração preordena os crentes para uma vida afastada do pecado e, por conseguinte, a uma conduta ilibada. Em decorrência, o ser santo denota dois aspectos: um estado de pureza interior que reflete no ser irrepreensível que resulta numa condição de pureza externa. O ensino é de admoestações contra a velha conduta, tais como a mentira, o furto, as palavras torpes, a amargura, a ira e a cólera (Ef 4.25,28,29,31).60 Nessa concepção, são contundentes as advertências contra a prostituição, a impureza, a avareza e a embriaguez, entre outros (Ef 5.3,15,18). A santificação é, portanto, a continuação da obra iniciada na regeneração (Ef 1.13), quando o salvo recebe novidade de vida (2 Co 5.17) e estende-se até o dia da glorificação do crente (Rm 6.22). A ênfase está na obediência à Palavra de Deus (Tg 1.22), abandono das concupiscências (1 Pe 1.13,14) e uma vida de retidão moral em toda a maneira de proceder (1 Pe 1.15). CONCLUSÃO As Escrituras advertem que a conduta humana dos “últimos dias” é de repulsiva descaracterização da fé. A heresia progressista critica as Escrituras, promove o enfraquecimento da ortodoxia, instiga a frouxidão moral e afasta as pessoas do verdadeiro cristianismo. Contudo, a postura da Igreja não deve ser de inércia, mas, sim, de resistência à iniquidade. A defesa da fé ocorre quando os valores imutáveis e atemporais da Bíblia são exercitados pelo poder de Deus na vida diária do crente salvo (1 Co 2.4,5). 37 ZUCK, Roy B. Teologia do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 332. 38 STRONSTAD, Roger & ARRIGTON, French (ed). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1.497. 39 STRONSTAD & ARRIGTON, 2003, p. 1.497. 40 ZUCK, 2008, p. 371. 41 ZUCK, 2008, p. 372. 42 KEENER, Craig. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 2017, p. 738. 43 HARPER, A. F. (Ed.). Comentário Bíblico Beacon. Gálatas a Filemon. Vol. 9. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 526. 44 KEENER, 2017, p. 738. 45 PFEIFFER, Charles J. et al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 1.010. 46 HENRY, Carl (org.). Dicionário de Ética Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, ٢٠٠٧, p. ٣٤٦. 47 FERRARI, Sonia Campaner Miguel (org.). Filosofia Política. São Paulo: Saraiva Educação, ٢٠١٩, p. ١٣٧-١٤٢. 48 HENRY, 2007, p. 157. 49 SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 25. 50 SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 33. 51 JOYNER, Russel E. O Deus único e verdadeiro. In. HORTON, Stanley (ed.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 133. 52 Para ler mais sobre essa temática, consultar o capítulo 3 desta obra, “A deturpação da doutrina da natureza humana”, no ponto II. As teologias modernas, item 3. Liberalismo Teológico. 53 Consultar nesse capítulo o ponto II. As teorias progressistas, item 2. A desconstrução da Bíblia. 54 MCGRATH, Alister. A Revolução Protestante. Brasília: Editora Palavra, 2012, p. 74. 55 GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: vida Nova, 1993. p. 259. 56 ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio. Rio de Janeiro: CPAD, 2015. vol. 1. p. 364. 57 SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 26. 58 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento – Atos a Apocalipse. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 389. 59 ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio. Rio de Janeiro: CPAD, 2015. vol. 1. p. 377. 60 SOARES (Org.), 2017, p. 160. A Capítulo 4 Quando a Criatura Vale mais que o Criador Pois mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém! (Rm 1.25) soberba, a insensatez e a autossuficiência do homem ímpio mantêm-no afastado da verdade absoluta de Deus. Com o advento da revolução do pensamento, o ser criado passou a priorizar cada vez mais a criatura em detrimento do Criador. A autoexaltação, a autoidolatria, o coração perverso e a escolha pelos prazeres carnais colocaram a raça humana em inimizade contra Deus (2 Tm 3.4). Este capítulo é um alerta acerca do que ocorre quando o Senhor deixa de ser a medida de todas as coisas (Rm ١.١٨). I. O DESPREZO À VERDADE 1. Tempos de Pós-Verdade O Dicionário de Oxford define “pós-verdade” como aquilo que é relativo ou referente a circunstâncias nas quais os fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais.61 Significa que a verdade perdeu a importância e o valor. Os fatos e a realidade são desprezados e escolhe-se acreditar na narrativa. Esse movimento afeta a imprensa, a política, a justiça, a economia, a religião e o cotidiano da vida em sociedade. Essa desconstrução da verdade é uma das principais estratégias secularistas de oposição ao cristianismo. Na esteira das proposições do humanismo renascentista e dos ideais iluministas, o progressismo fomenta e fartamente se utiliza do conceito de “pós- verdade”. Nos moldes do perspectivismo moral de Nietzsche (1844– 1900), o fundamento dessa assertiva é de que “não há fatos, apenas interpretações”.62 Acerca desse tema, Isaac Pereira (2009) argumenta que: De maneira inconcebível, as igrejas deram lugar à pós-verdade [...] Crescem aqueles que negam as questões mais basilares da fé sob o argumento de ser matéria de interpretação pessoal. Inventaram, por assim dizer, um “pós- evangelho” que retira de Deus o protagonismo e autoria, pondo o homem no lugar de preeminência, assim como sugere o progressismo e o liberalismo teológico. Parafraseando o filósofo alemão, “não há verdades bíblicas absolutas, apenas interpretações pessoais” [...] A pós-verdade nada mais é do que uma mentira maquiada com o objetivo de fomentar o sistema enganoso deste mundo. Esta era já estava prevista (2Ts 2.11; 2Tm 4.4) e se tornou uma excelente oportunidade para o cristão se destacar como um pequeno farol que defende, compartilha e expõe com clareza a verdade factual (Ef 4.25). Nesse sentido, a “pós-verdade” é a negação ou relativização da verdade. O apóstolo Paulo assevera que são os homens ímpios e injustos que mudam “a verdade de Deus em mentira” (Rm 1.25). Acerca dos que praticam ou são coniventes com essa ideologia, o apóstolo João assevera com veemência que todo e “qualquer que ama e comete a mentira” (Ap 22.15) será impedido de entrar no Reino dos céus. 2. A Impiedade e a Injustiça Ao abordar essa inversão de valores, Paulo revela que “do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça” (Rm 1.18). Aqui o termo impiedade é tradução do grego asebeia com o sentido de “irreligiosidade”. A conduta de impiedade é uma forma ativa e virulenta do mal. É aquilo que é maligno ou falso diante de Deus.63 Refere-se à ação humana intencional de viver como se Deus não existisse (Sl 36.1; Jd 1.14,15). O vocábulo injustiça, por sua vez, vem do grego adikia e significa “sem retidão”. Alude a ação daquele que tem prazer na iniquidade, não um mal intelectual, mas moral; o desgosto pela verdade é o precursor da sua rejeição.64 É a atitude de não ser reto diante de Deus e nem com o próximo (٢ Pe 2.15). Declara a situação geral da humanidade não regenerada (Rm 1.18). Aqui, Paulo emprega ambos os termos, “impiedade” e “injustiça”, para retratar a conduta humana de idolatria, de culto à criatura (Rm 1.19-23), de perversidade e de depravação moral (Rm 1.25-32). Expressa a decisão deliberada de desprezo à verdade divina (Rm 1.19,20). Essa investida contra o temor a Deus e a relativização do pecado aprisionam e cauterizam a consciência humana, fomentada pela hipocrisia de homens que falam mentiras (1 Tm 4.2). O Comentário Bíblico Beacon (2014, vol. 7, p. 480) acrescenta: O termo hipocrisia fala do esforço consciente e deliberado em enganar o conhecimento moral de que os ensinos que eles propagamsão mentiras. Esses indivíduos estão tão cegos pela incredulidade e são tão endurecidos de coração que a consciência não é mais capaz de exercer suas funções designadas. Ela está cauterizada. Assim, ratificamos que esses termos enfatizam a condição de depravação moral do ser humano não apenas no tempo de Paulo, mas também em todas as épocas e culturas da vida em sociedade (Rm 1.18-32). Em consequência de tais atos abomináveis, a ira de Deus será derramada sobre os pecadores impenitentes (Rm 1.18a). A recusa insensata do homem em glorificar o Criador irá conduzi-lo à perdição eterna (Rm 1.21). 3. A Insensatez Humana Paulo assegura que a raça humana possui conhecimento sobre Deus por meio da revelação da natureza (Rm 1.19,20a). Por isso, o homem não é indesculpável acerca da existência divina e nem do seu eterno poder (Rm 1.20b). Isso significa que nenhuma criatura poderá alegar desconhecimento de Deus durante o julgamento divino. A obra Supremacia das Escrituras (BAPTISTA, 2021, p. 21) destaca: Como Deus é infinito e os seres humanos são finitos, se estes quiserem conhecer a Deus, tal conhecimento deverá ocorrer pela iniciativa do próprio Deus em se revelar. A palavra revelação significa “descobrimento, desvelamento, divulgação”. Em vista disso, o conhecimento de Deus é o conhecimento revelado por Ele mesmo. Nessa compreensão, o estudo da autorrevelação de Deus para a humanidade é classificado de duas formas: (i) a revelação geral e (ii) a revelação especial. Chama-se de revelação geral aquela em que Deus se fez conhecer em toda parte por três maneiras: (a) história, (b) universo e (c) ser-humano. Não obstante, mesmo estando consciente da existência de Deus, o homem iníquo não o glorifica como Deus e nem lhe rende graças (Rm 1.21a). Em lugar de reconhecer o Criador, o ser criado age como se não fosse criatura e comporta-se como se fosse divino (Gn 3.5). Por causa das especulações pretensiosas do seu coração e da autoidolatria, o seu raciocínio e intelecto quanto à verdade tornam- se inúteis (Rm 1.21b). As suas ideologias e narrativas rejeitam, pervertem e substituem a verdade de Deus pela mentira humana. Dessa insensatez resulta a idolatria e a perversão moral (Rm 1.22- 25). 4. O Culto à Criatura Ao rejeitar Deus e as suas leis divinas, os “filhos da ira” (Ef 2.3) são deixados à mercê dos seus desejos pecaminosos, dentre eles a impureza sexual e a degradação do próprio corpo. Por isso: “Deus os entregou às concupiscências do seu coração, à imundícia, para desonrarem o seu corpo entre si” (Rm 1.24). Essa deplorável corrupção moral do homem deriva da sua rebelião contra o Senhor. A natureza caída troca a verdade pelo engano e prefere honrar e servir a criatura em lugar do Criador (Rm 1.25a). Ao discorrer acerca dessa forma de idolatria, o Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal (2009, vol. 2, p. 22, 23) enfatiza: Sem respostas baseadas na realidade de Deus, as pessoas procuram heróis entre aqueles que afirmam ser sábio e dizem de maneira destemida que não há respostas [...] O denominador comum é este: os idólatras adoram as coisas que Deus fez, em vez de adorarem o próprio Deus. José Gonçalves (2016, p. 23) destaca: O apóstolo continua sua argumentação que justifica o julgamento de Deus. Em vez de glorificar a Deus, o homem se afastou ainda mais. Deus os entregou à idolatria (Rm 1.23); imoralidade (Rm 1. 26) e animosidade (Rm 1. 30). Um abismo chama outro abismo. C. Marvin observa que “entregar” (Rm 1. 24) aqui tem o sentido de “deixar as pessoas sofrerem as consequências de conseguirem o que desejam. Em outras palavras, nos tornamos semelhantes àquilo que adoramos”. Ao escolher adorar a criatura em lugar do Criador, ser o centro de si mesmo em vez de ter Deus com o centro de tudo, o homem mergulhou nas profundas trevas do pecado. Desse modo, a idolatria ao homem prolifera-se de todas as formas e em todas áreas da vida. Na religião, os seres criados são cultuados como se fossem Deus. Nas ciências, o sistema intelectual e a racionalidade são colocados acima de Deus. Na sociedade em geral, a ascensão e a fama de um artista, atleta, político ou líder eclesiástico torna-se em culto à pessoa em afronta ao Criador, que é bendito eternamente. Amém! (Rm 1.25b). II. A REVOLUÇÃO DO PENSAMENTO 1. Renascentismo Historicamente, o Renascimento foi o período de transição entre o feudalismo e o capitalismo. Culturalmente falando, foi uma revolução de pensamento de retorno à cultura pagã. A Renascença surgiu na Europa ocidental entre os séculos XIV e XVI. As suas primeiras aparições foram na Itália, especialmente na cidade de Florença. A característica dessa época foi o seu profundo racionalismo. Os renascentistas recusavam-se a acreditar em qualquer coisa que não pudesse ser provada. Durante esse período, que coincide com o início da Idade Moderna, a visão teocêntrica, em que Deus era a medida de todas as coisas, foi mudada por uma concepção antropocêntrica, em que o homem tornava-se a única medida de todas as coisas. Carl Henry (2007, p. 515) anota que: A renascença foi um complexo movimento que afetou muitas áreas da vida. Uma das suas caraterísticas unificadoras é a secularização da vida, do pensamento e da cultura. O reavivamento da literatura clássica grega e romana e o estudo do homem como ser terrestre foram seus dois motivos dominantes [...] O mundanismo e o paganismo da literatura romana clássica, porém, encorajaram uma atitude crítica e cética quanto à religião. Desse modo, foi a partir do Renascimento que surgiram os primeiros efeitos da secularização da cultura, quando a vida social que era pautada pela religiosidade cedeu o espaço para o racionalismo e o ceticismo (Jo 20.25,29). Em outras palavras, o período renascentista retirou Deus do centro da vida e do Universo e colocou o homem no seu lugar. Por conseguinte, a revolução científica e literária que se deu no Renascimento contribuiu para a propagação do Humanismo. 2. Humanismo Em termos gerais, Humanismo é “qualquer filosofia ou sistema de pensamento que parte do homem para buscar um significado unificado para a vida”.65 A Itália foi o principal centro humanista no fim do século XV. Para os humanistas, a ética e a moral dependem do homem — a base de todos os valores —, e não da divindade. Fomentam o relativismo, a ausência de valores absolutos e o culto ao homem. Os humanistas aprofundavam os seus estudos na História Antiga a fim de desconstruir os livros sagrados. Carl Henry (2007, p. 336) ensina: Foi na renascença que o termo humanismo foi cunhado para definir a preocupação com a humanidade; e com o iluminismo, passou a significar a dicotomia entre a razão e a fé cristã. Finalmente, o humanismo veio a significar uma verdadeira religião na qual a glória do homem deveria ser promovida e exaltada. Anderson Reis (2014, vol. 1, p. 175) enfatiza que o Humanismo: Privilegiava o ensino das matérias humanísticas, em oposição às matérias divinas ou teológicas. [...] Essa ênfase na ação humana está na origem de uma concepção antropocêntrica, isto é, na valorização do ser humano como centro do Universo. [...] Um dos resultados do antropocentrismo foi o surgimento da noção de racionalismo: a valorização da razão humana como instrumento transformador da natureza, da sociedade e da política. Logo, segundo essa perspectiva, o ser humano ocupa um lugar de destaque no Universo [....] O desenvolvimento dessas ideias ampliou, a partir do século XV, a importância e a abrangência do humanismo. Nessa concepção, “o passado era visto como o registro das conquistas humanas, e não como o plano divino da salvação”.66 Apesar de alguns humanistas identificarem-se como cristãos, foram os conceitos secularistas e racionalistas que prevaleceram. Por essa razão, muitos historiadores afirmam que os séculos XV e XVI foram períodos de irreligiosidade e ateísmo. De positivo, destaca-se que valorizam os direitos individuais do cidadão. Essa, porém, não é uma bandeira própria do Humanismo. A Bíblia possui um arcabouço de concepções libertáriase igualitárias (Dt 6.1-9) que antecedem muitos dos direitos que iriam reaparecer apenas em tempos modernos. Destaca-se ainda que a Escritura prega a igualdade entre raças, classe social e gênero (Gl 3.28). 3. Iluminismo e Pós-Modernismo O movimento iluminista deu-se na Europa entre os séculos XVII e XVIII. Os seus adeptos rejeitavam a tradição e buscavam respostas na razão. Defendiam que o homem era o senhor do seu próprio destino e que a igreja era uma instituição dispensável. Rejeitavam a religião tradicional e atacavam-na. Ensinavam que o “homem poderia conhecer a lei moral inerente à natureza, e não seria necessário ter qualquer revelação especial”.67 Carl Henry (2007, p. 515) registra que: Ao erigir sua estrutura humanista, o Iluminismo estabeleceu uma base de conduta sobre a consciência imperfeita do homem natural e não sobre uma ética social e pessoal cristã. [...] O papel de Deus foi drasticamente diminuído, a revelação foi eliminada e a importância do homem imensamente inflada. O homem tinha valor em si mesmo, como ser autoconsciente. Nessa direção, a Pós-modernidade ou Modernidade Líquida surge a partir da metade do século XX. Para Zygmunt Bauman (1925– 2017), a sociedade deixa de ser “sólida” e passa a ser “líquida”. Para ele, os primeiros sólidos a derreter foram as lealdades tradicionais, os direitos costumeiros e as obrigações. Os valores deixam de ser “absolutos” e tornam-se “relativos”. Ao abordar o tema, o sociólogo polonês Bauman questiona: A modernidade não foi um processo de “liquefação” desde o começo? Não foi o “derretimento dos sólidos” seu maior passatempo e principal realização? Em outras palavras, a modernidade não foi “fluida” desde sua concepção? [...] Essa intenção clamava, por sua vez, pela “profanação do sagrado”: pelo repúdio e destronamento do passado, e, antes e acima de tudo, da “tradição” — isto é, o sedimento ou resíduo do passado no presente; clamava pelo esmagamento da armadura protetora forjada de crenças e lealdades que permitiam que os sólidos resistissem à “liquefação”. (BAUMAN, 2001, p. 7,8) Em outras palavras, para dar-se lugar ao “novo”, é preciso livrar-se do que é “antigo”. No aspecto social, a coletividade foi substituída pelo egocentrismo. As relações humanas tornam-se superficiais e baseadas no interesse. Um dos imperativos é o hedonismo e o narcisismo. Na busca do bem-estar humano tudo se torna válido:o uso das pessoas, o abuso do corpo, a depravação e o consumismo desenfreado. III. TIPOS DE AUTOIDOLATRIA 1. Definição de Idolatria Quando alguém adora algo diferente de Deus, está cometendo o pecado de idolatria. Trata-se da substituição da adoração ao Deus Verdadeiro por um ou mais deuses falsos. A Bíblia afirma que todas essas formas falsas de adoração são uma degeneração do monoteísmo original (Rm 1.21-25).68 O Dicionário Wycliffe (2006, p. 944) define idolatria como: Uma transliteração da palavra gr. eidololatria, cujo significado entendemos ser “a adoração a ídolos; a adoração a imagens como divinas e sagradas” [...] O segundo termo é latreia, significando “culto ou adoração aos deuses”. Idolatria, então é prestar honras divinas a qualquer produto de fabricação humana, ou atribuir poderes divinos a operações puramente naturais. Claudionor de Andrade (1998, p. 182) assinala: A idolatria pode ser considerada também amor excessivo por uma pessoa, ou objeto. Amor este que suplanta o amor que se deve devotar, voluntariamente, ao único e verdadeiro Deus. Nesse sentido, a avareza também é idolatria (Cl 3.5). Qualquer amor que suplanta o amor que se deve a Deus, é idolatria. Nessa perspectiva, ratifica-se que a idolatria é tudo o que se coloca no lugar da adoração a Deus (Êx 20.3-5). Tanto a idolatria (o pecado da mente contra Deus) quanto a imoralidade (os pecados contra a carne) estão relacionados à falta de conhecimento e de gratidão a Deus. Um idólatra é um escravo de ideias depravadas que os seus ídolos representam.69 2. Idolatria da Autoimagem O culto da autoimagem é uma forma de idolatria. Enquanto Cristo refletia a imagem de Deus (Hb 1.2,3) o narcisismo humano reflete a natureza do pecado (Jo 8.34). Uma pessoa narcisista nutre amor excessivo por si mesmo, é praticante da autoadoração. Em termos psicanalíticos, é o produto da fixação da libido no ego da pessoa.70 Caroline Barbosa (2021, vol. 32, p. 4) esclarece que: O mito de Narciso sempre é lembrado quando queremos nos referir ao amor que alguém sente por si mesmo. Nele, o apaixonamento pela própria imagem na água é tão intenso que o sujeito se torna incapaz de abandoná-la ou ver qualquer outra coisa ao seu redor. Preso à própria imagem, ao final, ele definha e morre sozinho. Nesse sentido, as Escrituras retratam que o homem é escravo daquilo que o domina (٢ Pe 2.19). Paulo apresenta uma lista de ações que arrastam o homem para o abismo. Entre elas, estão: o egoísmo — o ser amante de si mesmo (2 Tm 3.2a); a avareza — o ser amante do dinheiro (2 Tm 3.2b); a insensibilidade — não ter amor para com o próximo (2 Tm 3.3a); a rebeldia — não ter amor para com Deus; (2 Tm 3.4a); e o hedonismo — ser amante dos deleites (2 Tm 3.4b). Nesse processo de decadência moral, uma pessoa não regenerada sente necessidade de autopromoção, desenvolve opinião elevada de si mesmo (Lc 18.11), anseia por reconhecimento e busca ilicitamente estar em evidência (Lc 22.24-26). Em oposição à prática da autoidolatria, a Bíblia ensina que a primazia é de Cristo, e não do homem (Jo 3.30). 3. Idolatria no Coração Na linguagem bíblica, o coração não se refere meramente às emoções ou à vontade, mas também ao centro de toda a personalidade (Rm 9.2; 10.6; 1 Co 4.5). Para os judeus, “o coração era o núcleo da personalidade, a pessoa interior completa, o centro do pensamento e do julgamento moral”.71 O coração humano, portanto, é descrito como enganoso e perverso (Jr ١٧.٩). É do interior do coração que saem os maus pensamentos, as imoralidades, a avareza, a soberba e a insensatez (Mc 7.21,22). Em vista disso, Deus condena a adoração de ídolos no coração (Ez 14.3). O Comentário Bíblico Beacon (2014, vol. 7, p. 480) adverte: Somente uma salvação radical pode purificar o corrupto coração humano [...]. Se o coração de um homem tiver caráter degenerado, sua situação será desesperadora. Todos esses males procedem do coração humano e, na verdade, eles realmente contaminam o homem. O ser humano precisa da “lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tt 3.5). A santidade do coração e da vida será o único e adequado remédio. Nesse contexto, algumas pessoas aparentam adorar a Deus, mas no coração servem a ídolos (Mt 15.8). Quem não teme a Deus traz a idolatria no seu íntimo quando, por exemplo: prioriza a sua reputação pessoal; busca o prazer como o bem maior; nutre tendências supersticiosas e possui excessivo apego aos bens materiais. Ao contrário dessa postura, somos advertidos a guardar no coração a Palavra de Deus para não pecarmos contra Ele (Sl 119.11). 4. Idolatria Sexual A falha no controle dos impulsos sexuais está associada à sensualidade (Rm 1.27), à imoralidade (Rm 13.13, NVI) e à libertinagem (2 Co 12.21, NVI). A concupiscência da carne caracteriza quem é dominado pelo pecado sexual (Gl 5.19). Não se trata apenas da prática do ato imoral, mas também da busca intencional e compulsiva pelo prazer sexual ilícito (Rm 1.26,27; 1 Co 6.15). Steve Gallagher (2003, p. 10) descreve a escravidão sexual nos seguintes termos: Quando os homens enfatizam demasiadamente a importância do sexo na vida deles, este começa a ditar-lhes um estilo de vida, e eles ficam obcecados por pensamentos sexuais. No fim, perdem o controle sobre com que frequência, com quem e sob quais circunstâncias terão relações sexuais. Eles tornam-se prisioneiros de um comportamento sexual compulsivo [...] Se continuarem sem se arrepender, Deus irá entregar-lhes a um sentimento perverso (Rm 1.28). Refere-se a um altar de idolatria sexual edificado no coração (Mc 7.21). A adoração a Deus é trocada pelo culto ao corpo a fimde satisfazer o ídolo da perversão e da lascívia, tais como: o adultério, a fornicação, a pornografia, a prostituição e a homossexualidade (1 Pe 4.3, NAA). A orientação bíblica para escapar desse mal é “vivam no Espírito e vocês jamais satisfarão os desejos da carne” (Gl 5.16, NAA). Para libertar-se desse pecado, é necessário fazer uma avaliação sincera de nossos pensamentos e atitudes (1 Ts 4.3,4). Torna-se indispensável ser consciente de que o ídolo da idolatria sexual lutará com todas as forças para continuar sobre o trono de nosso coração. Por isso, não seja ingênuo; peça ajuda (Hb 13.7). A idolatria sexual é um ídolo poderoso a ser vencido, mas, caso lhe derrube, não recue diante da queda; levante-se e prossiga na batalha (Sl 37.24). Vigie para não cair; mas, se cair, não fique prostrado (Sl 14.1;1 Co 10.12).72 CONCLUSÃO A corrupção da raça humana é o desfecho da sua rebelião contra a verdade divina. A impiedade e a ausência de retidão resultaram em teorias de autossuficiência em que a criatura ergue-se acima do seu Criador. Ao colocar-se como medida única de todas as coisas, o homem eleva o seu interesse acima da vontade divina. As consequências são a autoidolatria, a depravação moral e a decadência social e espiritual. Não obstante, as Escrituras alertam que a ira divina permanece sobre os que são desobedientes à verdade (Rm 2.8). 61 OXFORD Languages. Word of the Year 2016. Oxford University Press. Disponível em: https://languages.oup.com/word-of-the-year/2016/. Acesso em 6 mar. 2023. 62 NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Fragmentos Póstumos. Outono 1887. Manuscrito publicado postumamente onde estabelece repetidamente que “não há fatos, somente interpretações”. 63 PFEIFFER, Charles. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 960. 64 VINE, W. E. Dicionário Vine. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 713. 65 HENRY, Carl (Org). Dicionário de Ética Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, ٢٠٠٧, p. 336. 66 HENRY, 2007, p. 515. 67 HENRY, Carl (Org). Dicionário de Ética Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, ٢٠٠٧, p. 347. 68 SOARES, Esequias. Os Dez Mandamentos: valores divinos para uma sociedade em constante mudança. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 29. 69 VINE, W. E. et all. Dicionário Vine: o significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 713. 70 CABRAL, Álvaro; NICK, Eva. Dicionário Técnico de Psicologia. São Paulo: Cultrix, 2006, p. 215. 71 RIBAS, Degmar (Trad.). Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, vol. 2, p. 321. 72 FELIPE, Wesley. Idolatria Sexual: 3 Maneiras Eficazes de Combatê-la. Ministério ler, 2019. Disponível em: <https://ministerioler.com.br/idolatria-sexual/>. Acesso em: 4 março 2023. https://languages.oup.com/word-of-the-year/2016/ https://ministerioler.com.br/idolatria-sexual/ D Capítulo 5 A Dessacralização da Vida no Ventre Materno E eis que em teu ventre conceberás, e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome Jesus. (Lc 1.31) eus é o autor supremo da dádiva da vida (Gn 2.7). As Escrituras valorizam a vida desde a concepção no ventre materno (Sl 139.13-16). Qualquer ideologia que objetiva ressignificar o conceito da vida desqualifica a autoridade bíblica e faz apologia à cultura da morte. A ideia progressista, que reivindica ao homem a autonomia sobre a vida, afronta a soberania divina. Neste capítulo, estudaremos a concepção sobrenatural de Cristo, a apologia ideológica da morte e o conceito da sacralidade da vida intrauterina. I. A CONCEPÇÃO DE CRISTO 1. O Anúncio do Nascimento Maria, uma virgem comprometida em casar-se com José, recebe em Nazaré a visita do anjo Gabriel (Lc 1.26,27). O ser angelical faz uma revelação a ela: “em teu ventre conceberás [...] e pôr-lhe-ás o nome Jesus” (Lc 1.31). Diante do inusitado, Maria indaga: “[...] Como se fará isso, visto que não conheço varão?” (Lc 1.34). A pergunta demonstra a perplexidade da jovem de como se daria a concepção sem a intervenção de um homem, uma vez que ela era virgem. O anúncio faz referência à profecia messiânica de Isaías: “eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel” (Is 7.14). Explicita-se que o termo “virgem” usado pelo profeta, no vernáculo original, é almah. Acentua-se que os adversários da concepção virginal de Cristo alegam que essa palavra (almah) pode também ser indicativo de mulher casada. Eles ainda verberam que, se o profeta quisesse anunciar a figura de uma virgem, deveria ter usado o termo hebraico betulah em lugar de almah.73 No entanto, Campos (2014, p. 415-417) avaliza que o termo betulah também pode referir-se à mulher casada, viúva e outras classificações que identificam alguém com experiências sexuais. Por essa razão, o profeta Isaías, sob a orientação do Espírito Santo, fez uso do termo almah, que apropriadamente identifica uma moça jovem (donzela) ainda virgem. Nesse aspecto, é importante frisar que “a palavra almah é o termo mais restritivo que se refere a uma jovem mulher de virgindade biológica”.74 Destaca-se, ainda, que o detalhe geográfico registrado por Lucas, em que o anúncio fora dado em “uma cidade da Galileia, chamada Nazaré” (Lc 1.26), possui alto valor profético, pois o Cristo viveria em Nazaré e seria chamado “nazareno” (ver Mt 2.23). O texto lucano, de igual forma, é objetivo em ressaltar a virgindade da donzela ao repetir “uma virgem desposada” e “o nome da virgem era Maria” e, ainda, em enfatizar a descendência de José “da casa de Davi” (Lc 1.27). Essas informações integram as profecias messiânicas e tornam fidedigno o relato bíblico (Is 7.14; Sl 89.3,4). 2. A Miraculosa Concepção Neste ponto, convém salientar que tanto o “nascimento virginal” quanto a “concepção virginal” são doutrinas cristãs. Contudo, o “milagre está na concepção antes do nascimento”; isso porque a “concepção foi sobrenatural, mas o nascimento é natural”.75 Dessa forma, destaca-se que Jesus nasceu de um parto natural, comum como qualquer outro ser humano.76 Ratifica-se, contudo, que Jesus foi concebido no ventre de Maria por “obra miraculosa do Espírito Santo e sem um pai humano”.77 Nesse aspecto, o mensageiro celestial explica à virgem que a concepção seria singular e miraculosa: “descerá sobre ti o Espírito Santo” (Lc 1.35a) e, por isso, declara que “[...] o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35b). Apesar da clareza das Escrituras, um dos paradoxos mais contestados na história do cristianismo é a negação da concepção e do nascimento virginal de Jesus, inclusive por muitos teólogos liberais. As Escrituras, entretanto, asseveram categoricamente que Maria era virgem por ocasião da ação sobrenatural do Espírito Santo e que Jesus foi gerado e desenvolveu-se nos órgãos reprodutivos da jovem desposada com José (Mt 1.18; Lc 1.27).78 Sendo assim, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus (2017, p. 49) assim ratifica: Cremos na concepção e no nascimento virginal de nosso Senhor Jesus Cristo, conforme as Escrituras Sagradas e anunciado de antemão pelo profeta Isaías, e que ele foi concebido pelo Espírito Santo no ventre da virgem Maria. Mercê da revelação angelical, Maria não pediu sinal algum, mas o anjo comunica-lhe da gravidez de Isabel como um incentivo à sua fé: “tua prima, concebeu um filho em sua velhice” (Lc 1.36a). O testemunho das mulheres estéreis que ficaram grávidas prepararam o mundo para crer no milagre da concepção, inclusive de uma virgem esperando um filho. Acerca dessa realidade, o anjo endossa ao referir-se à gestação de Isabel “e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril” (Lc 1.36b). Ao finalizar a mensagem, Gabriel arremata “porque para Deus nada é impossível” (Lc 1.37). E Maria assentiu ao declarar: “sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra” (Lc 1.38, NVI). 3. A Dádiva do Nascimento A vida gerada no ventre de uma mulher é um milagre (Ec 11.5). A Bíblia Shedd (1997, p. 969) destaca que “tanto o ventre, como a criação da vida, são obras da insondável sabedoriae onipotência divinas, com a qual Salomão contrasta o fracasso da sabedoria humana”. As Escrituras asseguram que Deus criou o ser humano e dotou-o com a dádiva da procriação, isto é, a capacidade de ser fértil e de multiplicar-se (Gn 1.28). Nessa perspectiva, o nascimento de filhos é uma recompensa divina (Sl 127.3). F. F. Bruce (2008, p. 911) enfatiza que “a família é confirmada como unidade básica da sociedade, propositadamente planejada por Deus para ser fonte de conforto e energia e, por outro lado, esfera de responsabilidade”. Contudo, sem o dom da fertilidade, um ventre estéril torna-se obstáculo para a maternidade (Gn 30.1,2). Acerca disso, Elaine Neuenfeldt (2007, p. 3) descreve que, na cultura judaica: A infertilidade é extremamente negativa para as mulheres. As situações de infertilidade sempre estão rodeadas de conflitos entre as mulheres: Sara é infértil enquanto que Hagar engravida de Abraão (Gn 16); Raquel tem ciúme de Lia, pois esta engravida dando descendência a Jacó (Gn 30); Ana é infértil e por isso, tem conflitos com Penina, a outra mulher de Elcana (1 Sm 1). Em vista dessa dificuldade, era comum as mulheres inférteis frustrarem-se e adoecerem (Gn 30.1,2; 1 Sm 1.7,8). Pesquisadores bíblicos perguntam-se por que Sara, Rebeca e Raquel, as esposas dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, eram mulheres estéreis, que engravidaram somente após um longo tempo de sofrimento e aflição? Suzana Chwarts (2004, p. 14) apresenta três abordagens: 1) As matriarcas são estéreis para depois poderem gerar heróis. 2) As matriarcas são estéreis para enaltecer as origens de Israel, cujos ancestrais são gerados com a intervenção divina. 3) As matriarcas são estéreis porque sua esterilidade faz parte da história dos obstáculos ao cumprimento da promessa de Deus a Abraão. Contudo, qualquer que seja a compreensão, para Chwarts (2004, p. 21), “a Bíblia hebraica é inequívoca quanto ao postulado teológico de que toda esterilidade é criada por Deus e só pode ser redimida por Deus”. Desse modo, a gestação e a sacralidade da vida no ventre materno são evidenciados no texto bíblico como bênção divina altamente valorada e desejada (Dt 28.4,11; Sl 128.3,4). Nesse contexto, a gestação de mulheres estéreis é o resultado de miraculosa intervenção divina (Lc 1.24,25). Assim, no relato lucano, a gravidez de uma virgem e a de uma mulher de idade avançada assinalam nítida ação sobrenatural (Lc 1.34,36). Isabel trazia no seu ventre João, que nasceu com o fim de preparar ao Senhor um povo bem-disposto (Lc 1.15-17). Maria portava no ventre o Filho do Altíssimo, o Rei eterno (Lc 1.32,33), que nasceu para ser o Salvador do mundo, que é Cristo, o Senhor (Lc 2.11). II. A CULTURA DA MORTE 1. O Projeto Ideológico A cultura da morte é um conjunto de ideias que visa modificar o conceito de vida e de família. Entre as suas pautas, estão a legalização do aborto e da eutanásia, a apologia ao suicídio e o controle da natalidade. Mediante estratégias culturais, intelectuais, políticas e jurídicas, impõe-se uma agenda de desconstrução da cultura cristã. Instiga-se, por exemplo, a deplorável prática da “eugenia” — o descarte do ser humano com alguma má formação ainda no útero materno. No Brasil, em 12 de abril de 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF), com a chegada de novos Ministros na Corte,79 decidiu por oito votos a dois e uma abstenção que o feto anencefálico pode ser abortado.80 A ação foi representada pelo então advogado Luís Roberto Barroso, hoje Ministro do STF, indicado pelo governo de Dilma Rousseff (PT). Nessa perspectiva, a “cultura da morte se manifesta na tendência a eliminar física ou moralmente pessoas e grupos que não possuam as características preconizadas pelas culturas dominantes”.81 Para o jurista Ives Gandra Martins, no caso do aborto de anencefálo, “o Supremo Tribunal Federal, como se fosse Poder Legislativo, criou uma terceira hipótese de impunidade ao aborto, ou seja, o aborto eugênico, não constante do Código Penal”.82 A militância ideológica também atua, pelos meios de comunicação, na depreciação da maternidade a fim de que a mulher não deseje ser mãe. O conceito de saúde reprodutiva é ressignificado para justificar o aborto como medida de saúde feminina. O direito à vida intrauterina é substituído pelo direito incondicional da mulher sobre o próprio corpo, que, por meio do aborto, decreta a morte do fruto do seu ventre. 2. O Direito sobre o Corpo A cultura pós-moderna, associada ao liberalismo do século XIX, insiste que é direito da pessoa exercer autonomia sobre o próprio corpo. O Fundo de População das Nações Unidas no Brasil (UNFPA) anota que “autonomia corporal significa ter o poder e a capacidade de fazer escolhas sobre nossos corpos e futuros, sem violência ou coerção. Isso inclui quando, se ou com quem fazer sexo. Inclui quando, se ou de quem você deseja engravidar”.83 O conceito de autonomia corporal é positivo quando se aplicam a ética e a moral, a fim de não submeter o corpo a atos depreciativos e imorais, bem como o direito da integridade física a fim de recusar agressões e violência. Porém, a ideia apregoada é de liberdade irrestrita do controle individual sobre a constituição física e o comportamento. Assim, o slogan “meu corpo, minhas regras” é utilizado em defesa das liberdades sexuais e reprodutivas e a escolha de vida ou de morte. Nessa percepção, estão os “direitos” à prostituição, ao aborto, à eutanásia, ao suicídio e outros. Qualquer opinião contrária é considerada violação da liberdade humana. Nesse quesito, as Escrituras asseveram que o corpo deve ser nutrido e respeitado (Ef 5.28,29); que, embora livre, o homem não tem o direito de profaná- lo (1 Co 6.13); e que a vida só tem sentido quando está sob o controle absoluto do seu Criador (Gl 2.20). Nesse sentido, Claudionor de Andrade (2017, p. 72) ratifica que: O corpo, de fato, é nosso. Por seu intermédio, entramos em contato com o mundo exterior e expressamo-nos como seres autônomos. Não nos esqueçamos, todavia, de quem o temos recebido (1 Co 15.38). Por isso, urge-nos tratá-lo como templo do Espírito Santo (1 Co 6.19). Desse modo, a autonomia corporal sensata não é absoluta ou ilimitada. Uma autonomia responsável sofre mitigações legais e espirituais. Assim, o direito à vida “não compreende somente o resguardo da integridade física, mas também a preservação da vida em sua melhor condição”.84 E, no contexto bíblico, o corpo não pertence ao cristão para este fazer dele o que bem entender de modo irresponsável; o corpo pertence a Cristo, ou “que vocês não pertencem a vocês mesmos?” (1 Co 6.19, NAA). 3. A Prática do Aborto O aborto é a interrupção do nascimento por meio da morte do embrião ou do feto. Algumas literaturas identificam o aborto como feticídio, cujo significado é “morte do feto”. As opiniões acerca do tema divergem em duas vertentes: os Pró-Vida, que são contrários ao aborto, e os militantes Pró-Escolha, que são favoráveis.85 Por conseguinte, o ato de abortar é caracterizado pela descontinuidade da gestação do ser vivo. O termo gestação vem do latim “gestacione” e refere-se ao tempo em que o embrião fica no útero desde a concepção até o nascimento. Desse modo, a aplicação do termo “descontinuidade da gestação” refere-se à interrupção da gravidez da mulher. Ratifica-se que a essa interrupção dá-se o nome de aborto, que pode ser involuntário ou provocado com ou sem a expulsão do feto, resultando na morte do nascituro. Na Lei Mosaica, provocar a interrupção da gravidez da mulher é ato criminoso (Êx 21.22,23). No Decálogo, o sexto mandamento proíbe o homem de matar, o que significa literalmente “não assassinar” (Êx 20.13). Os intérpretes do Decálogo concordam que o aborto está incluso nesse mandamento. Então, quem mata um embrião ou feto atenta contra a dignidade humana e a sacralidade da vida no ventre materno. Kaiser Jr (2016, p. 148,149), ao comentar a relevância do embrião, discorre: Para Deus, o embrião não é só um punhado de tecidos em vida. Ao contrário, Deus já sentia amor e afeto por nósquando estávamos sendo tecidos no útero da nossa mãe. [...] Deus demonstra enorme respeito e cuidado pelo embrião desde os primeiros instantes de sua concepção até o dia de sua morte. Nenhum de nossos dias, seja anterior ao nascimento seja posterior a ele, é irrelevante para Deus. Não obstante, a legislação brasileira autoriza a interrupção da gravidez resultante de estupro, o aborto terapêutico e nos casos de anencefalia do feto, estabelecido pela Suprema Corte. Além disso, tramita no STF uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) para que o aborto seja permitido em qualquer caso até a 12ª semana de gestação. Nesse aspecto, ratifica-se que os movimentos pró-aborto, estrategicamente, a fim de sensibilizar a opinião pública, conduzem o debate como se a interrupção da gravidez fosse uma questão de saúde pública, de direitos reprodutivos da mulher. Aqui convém enfatizar que a posição cristã, que é contrária ao aborto, não significa insensibilidade às dificuldades e à complexidade de uma gravidez indesejada, e sim que, a despeito das decisões humanas, a verdade bíblica quanto à defesa da vida não pode ser relativizada. III. A SACRALIDADE DA VIDA 1. A Vida É Inviolável A vida humana é sagrada por tratar-se de um ato criativo de Deus. Ele é o Autor e a fonte originária do fôlego da vida (Gn 2.7; Jó 12.10). O princípio de sacralidade assegura a dignidade da pessoa humana e a inviolabilidade do direito à vida (Sl 36.9; 90.12). O valor da vida, portanto, é absoluto e deve sobrepor-se a qualquer outro direito ou interesse (Jo 10.10). Pesquisadores do tema asseguram que o “princípio da sacralidade da vida assegura o valor moral da existência humana e fundamenta diferentes mecanismos sociais que garantem o direito de estar vivo”.86 Contudo, a militância ideológica não reconhece que a sacralidade da vida está atrelada à santidade da vida, isto é, não admite que a vida seja intocável por razões religiosas. Essa falaciosa distinção condena o homicídio de crianças já nascidas, mas defende o assassinato dessas crianças no ventre da mãe. Nesse aspecto, Claudionor de Andrade (2017, p. 77) afirma: A Lei de Deus não faz distinção entre aborto e infanticídio. Tanto Faraó que ordena a matança dos infantes hebreus, quanto a mulher que, por motivos fúteis, interromper a gravidez, quebrantam o sexto mandamento (Êx 1.22; 20.13). Por isso, não sejamos permissivos nem lenientes quanto ao crime. Defendamos a santidade da vida humana como dádiva divina. Em contrapartida, o discurso extremista e contraditório da militância pró-aborto faz constantes e agressivos ataques de desconstrução dos valores judaico-cristãos. O patrulhamento ideológico atua para amordaçar as vozes em contrário. A cultura de cancelamento entra em ação toda vez que alguém ousa defender a absoluta inviolabilidade, sacralidade e santidade da vida. Nancy Pearcey (2021, p. 118) adverte que: Na cultura da morte, as divergências não são permitidas. Isso quer dizer que, algum dia, os profissionais médicos cristãos do mundo todo poderão ser forçados pela lei agir contra suas convicções bíblicas, ou perder o seu emprego e fechar as suas instalações médicas. Nessa perspectiva, o princípio de defesa da vida humana, desde a concepção no útero materno, não pode conter exceções. Somente Deus tem poder sobre a vida e a morte (1 Sm 2.6). Numa sociedade secularizada, o cristão precisa tomar cuidado com o relativismo, não fazer concessões e estar alerta quanto às ações de manipulação da consciência e o desrespeito à vida humana (2 Co 4.2; 1 Tm 4.1,2). 2. O Começo da Vida O profeta Jeremias é incisivo ao ensinar que a vida tem início na fecundação (Jr 1.5). O rei Davi corrobora que a pessoa é conhecida e cuidada pelo Senhor desde a concepção (Sl 139.13a). Deus é quem forma o ser vivo dentro do ventre da mãe (Sl 139.13b,14). O salmista afirma que o Senhor vê o embrião ainda informe e que o ama em todos os processos formativos da vida intrauterina, desde a fecundação até o nascimento e por toda a sua vida (Sl ١٣٩.١٥,16). O pastor Elinaldo Renovato (2002, p. 44) assevera: A Bíblia nos informa sobre a origem da vida. Diz o Gênesis: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn 2.7). Depois que o homem estava formado, pelo processo especial da combinação das substâncias que há na terra, o Criador lhe soprou o fôlego da vida, dando início, assim, à vida humana. Entendemos, com base nesse fato, que, cada ser que é formado, a partir da fecundação, o sopro de vida lhe é assegurado pela lei biológica estabelecida por Deus. Keith Moore (2008, p. 16) leciona: O desenvolvimento humano inicia-se na fecundação, quando um gameta masculino, ou espermatozoide, se une ao gameta feminino, ou ovócito, para formar uma única célula – o zigoto. Esta célula totipotente e altamente especializada marca o início de cada um de nós como indivíduo único. O zigoto, visível a olho nu como um pequeno grão, contém os cromossomos e os genes (as unidades de informação genética) derivados da mãe e do pai. Por conseguinte, de acordo com as Escrituras e corroborados pela embriologia, professamos que a vida começa quando ocorre a união do gameta masculino ao feminino. Essa nova célula é um ser humano e possui identidade própria, e, portanto, o seu direito de nascer não pode ser interrompido por vontade, desejos ou caprichos humanos (Dt 32.39; Rm 9.20).87 3. A Posição Cristã A igreja que mantém o princípio teológico da autoridade bíblica (2 Tm 3.16) defende a dignidade humana, a sacralidade e a inviolabilidade da vida desde a sua concepção. Ensina que a vida humana é sagrada em todas as etapas do desenvolvimento do ser vivo e que não pode ser violada por nenhum tipo de cultura (1 Sm 2.6). Ratifica que toda ideologia que seculariza os princípios bíblicos deve ser combatida (2 Tm 3.8). Nesse sentido, a posição das Assembleias de Deus no Brasil foi assim exarada: “a CGADB é contrária a essa medida [aborto], por resultar numa licença ao direito de matar seres humanos indefesos, na sacralidade do útero materno, em qualquer fase da gestação, por ser um atentado contra o direito natural à vida” (Carta de Brasília, 41ª AGO, 2013). Em 6 de agosto de 2018, esse posicionamento foi ratificado por ocasião de audiência pública no Superior Tribunal Federal (STF), perante a ministra Rosa Weber, relatora da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF ٤٤٢), que pretende legalizar a interrupção voluntária da gravidez até a 12ª semana de gestação. O conjunto das argumentações das Assembleias de Deus divide- se em quatro pontos: i) porque o direito à vida não pode e não deve ser violado; ii) porque o abortamento está em desacordo com a moral razoável dos brasileiros; iii) porque a matéria é de competência legislativa; e iv) porque o aborto faz apologia à cultura da morte. E, por fim, invoca-se a autoridade bíblica para afirmar que a Palavra de Deus diz: “não matarás o inocente” (Êx 23.7).88 CONCLUSÃO A gestação e a procriação do ser humano são bençãos divinas (Gn 9.7). A concepção de Cristo no ventre de uma virgem certifica a sacralidade da vida intrauterina. A interrupção da vida em qualquer fase da gravidez é uma agressão ao direto inviolável de nascer. A valorização da dignidade humana, o direito à vida e o cuidado à pessoa vulnerável são princípios imutáveis do cristianismo (Jo 10.10). Acerca do assunto, a Bíblia assegura que Deus é o autor e o detentor da vida humana (Jó 12.10). 73 CAMPOS, Heber Carlos de. A Pessoa de Cristo: as duas naturezas do redentor. São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 414. 74 CAMPOS, 2014, p. 418. 75 CAMPOS, 2014, p. 413. 76 SOARES, Esequias. Cristologia: a doutrina de Jesus Cristo. São Paulo: Hagnos, 2008, p. 48. 77 GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 435. 78 BAPTISTA, Douglas. Teologia Sistemática I. Livro Didático. Curitiba: FCC, 2021, p. 76. 79 Os novos Ministros que passaram a integrar o STF durante o período de julgamento do abortode feto anencefálico são: Ricardo Lewandowski (16 mar. 2006); Carmem Lucia (21 jun. 2006); Dias Toffoli (23 out. 2009); Luiz Fux (3 mar. 2011); e Rosa Weber (19 dez. 2011). Todos indicados na gestão do PT no Governo Federal. 80 Os Ministros Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso votaram contra, e Dias Toffoli declarou-se impedido pela sua manifestação pública a favor da prática quando era advogado-geral da União. 81 TRASFERETTI, José Antonio. Teologia moral, bioética e cultura da morte: desafios para a Pastoral. Rev. Pistis Prax., Teol. Pastor., Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2013, p. 160. 82 MARTINS, Ives Gandra (Coord.). Justiça e Religião: uma integração necessária? Contribuição da religião para o direito e efetivação da justiça. São Paulo: Lex, 2021, p. 93. 83 Meu corpo me pertence: reivindicando o direito à autonomia e à autodeterminação. Disponível em: <https://brazil.unfpa.org/sites/default/files/pub- pdf/swop2021-highlights-br_web_1.pdf>. 84 PEREIRA JÚNIOR, Antônio Jorge, et al. O limite da autonomia em face do direito à vida e a recusa a tratamento médico em casos de doenças crônicas. Revista Brasileira de Direito Civil – RBDCivil. Belo Horizonte, v. 17, jul./set. 2018, p. 208. 85 BAPTISTA, Douglas. Valores Cristãos: enfrentando as questões morais do nosso tempo. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 51,52. 86 DINIZ, Débora. Quando a morte é um ato de cuidado: obstinação terapêutica em crianças. Caderno Saúde Pública. Rio de Janeiro, ago./2006, p. 1742. 87 Para aprofundamento desse tema, consultar o capítulo 4 “Ética Cristã e Aborto” da obra: BAPTISTA, Douglas. Valores Cristãos: enfrentando as questões morais de nosso tempo. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 51-65. 88 BAPTISTA, Douglas Roberto de Almeida. O Ethos Pentecostal Assembleiano na Esfera Pública: Ação Política e suas Relações com o Estado Democrático de Direito. Tese (doutorado) — Doutorado em Teologia, Escola Superior de Teologia, São Leopoldo, 2022, p. 68. https://brazil.unfpa.org/sites/default/files/pub-pdf/swop2021-highlights-br_web_1.pdf O Capítulo 6 A Desconstruçãoda Masculinidade Bíblica E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar (Gn 2.15) conceito progressista de ruptura de padrões bíblicos atua até na desconstrução da masculinidade. Os marcos judaico-cristãos de concepção do papel do homem são questionados. Nesse contexto, a masculinidade é relativizada, e o modelo de homem é modificado. Neste capítulo, apresentamos o mandado divino para o homem, as ofensivas de desmasculinização e um exemplo de masculinidade bíblica. A finalidade é mostrar que Deus requer do homem cristão que este se comporte conforme a norma bíblica. I. MASCULINIDADE BÍBLICA 1. A Criação Divina do Homem Deus é o criador de todas as coisas nos céus, na terra e no mar (Gn 1.1; At 4.24). As Escrituras registram que Ele criou o ser humano e definiu-o pelo sexo: macho e fêmea, homem e mulher (Gn 1.27). Essa diferenciação visa ao complemento mútuo na união conjugal e ao desempenho dos papéis divinamente designados a cada um (1 Co 11.11,12). Desse modo, pode-se afirmar que nenhuma outra criatura foi feita como o ser humano. A Teologia Sistemática na Perspectiva Pentecostal (HORTON, 2001, p. 244), ao descrever a origem da raça humana, enfatiza: Os textos bíblicos mais precisos indicam que Deus criou o primeiro homem diretamente do pó (úmido) da terra. Não há lugar aqui para o desenvolvimento paulatino de formas mais singelas de vida em outras mais complexas, tendo o ser humano como ponto culminante. Em Marcos 10.6, o próprio Jesus declara: “desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea”. Não pode haver dúvida quanto ao desacordo do evolucionismo com o registro bíblico. Nessa direção, a teologia pentecostal enfatiza que “a teoria da evolução não passa de um arranjo teórico para explicar cientificamente a origem do homem e de todas as coisas, visando desacreditar a Deus e afastar o homem do seu Criador”.89 Nossa Declaração de Fé ratifica que Deus é o “Criador do Universo, de todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, e, de maneira especial, os seres humanos, por um ato sobrenatural e imediato, e não por um processo evolutivo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29; Gn 1.1; 2.7; Hb 11.3 e Ap 4.11)”.90 No relato de Gênesis, destaca-se o uso da expressão “conforme a sua espécie” no ato da criação de toda erva do campo e das árvores (Gn 1.11,12) e na criação de todos os animais irracionais (Gn 1.20,21,24,25). O destaque está na segurança observável da natureza: trevo produz trevo, trigo produz trigo, etc. E assim foi, diz o texto bíblico (Gn 1.11) — e até hoje continua sendo assim.91 Uma vez que as coisas criadas não seguiram um molde, ratifica-se que a erva do campo, os peixes, as aves e todos os outros animais foram produzidos “segundo a sua espécie”. Porém, ao criar o homem, Deus poderosamente o fez olhando para si mesmo, isto é, para a sua própria imagem e semelhança (Gn 1.26). O ser humano não é meramente um animal racional, mas um ser espiritual. Por conseguinte, o ser humano é considerado a coroa da criação. 2. Características da Masculinidade As ciências sociais apresentam a masculinidade como uma construção cultural. Afirma-se que tanto a masculinidade como a feminilidade são socialmente construídas. Que os papéis dos homens e das mulheres são o resultado de valores e costumes transmitidos e impostos por meio de um longo processo de doutrinação e socialização. Desse modo, alegam ser necessário rever e alterar a função do homem como ser social. Em vista disso, Stuart Scott (2014, p. 22) avalia: Na história ocidental mais recente, o relativismo crescente (a crença de que não existe um padrão absoluto) e o individualismo resultante (“só eu sei o que é certo para mim”) têm exercido forte impacto no conceito dos gêneros. Tal mentalidade “sem absolutos” significa que cada pessoa vive por conta de sua própria sabedoria em relação à masculinidade. [...] Em consequência disso, há grande relutância em se fazer qualquer afirmação a respeito do que é a verdadeira masculinidade. De outro lado, as Escrituras revelam um conjunto bem definido de características do papel do homem na história. Ao criar o homem, Deus confiou duas tarefas primárias e essenciais a ele: “E tomou o SENHOR Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar” (Gn 2.15). Esses dois termos, “cultivar e guardar”, resumem o encargo divino para o comportamento masculino. Aqui o decreto do Senhor era que o homem fosse o provedor da sua família e o protetor da criação.92 Scott enfatiza que, para cumprir o papel de provedor, o homem deve evidenciar características como, por exemplo, diligência, envolvimento pessoal e atitude de servo. Ele ainda acrescenta que as qualidades de um bom protetor são: coragem, ousadia, força física e espiritual e vigilância.93 Desse modo, a função de provedor e protetor é própria da natureza do homem. Assim sendo, Paulo ratifica que cabe ao homem proteger a sua esposa e a sua família, bem como lhes prover uma vida digna (Ef 5.28-30). Ressalta-se que a “masculinidade” ama e cuida da mulher e que “o machismo” inferioriza-a e desonra-a. Nesse aspecto, a Bíblia ensina ao homem tratar a mulher com dignidade (1 Pe 3.7). 3. A Liderança Masculina Deus confiou ao homem a responsabilidade da liderança (Gn 1.26; 3.16). A aptidão para liderar implica em capacidade intelectual adequada para argumentar, organizar, planejar, avaliar e fazer escolhas certas em todo o tempo.94 Na Bíblia, o princípio da liderança é apresentado na seguinte ordem: Deus é a cabeça de Cristo; Cristo é a cabeça do homem; e o homem é a cabeça da mulher (1 Co 11.3). Stuart Scott (2014, p. 22) argumenta: Cristo é o retrato perfeito de liderança. Aquele que O segue precisa saber quando e como tomar decisões piedosas e sábias. Isso só acontece quando há liderança! O homem e o marido, segundo os critérios de Deus, não podem fugir de decisões, abusar do privilégio de tomar decisões ou tomá-las de maneira mística. Não obstante,o movimento feminista de viés neomarxista considera esse modelo como um sistema opressor do homem para com a mulher. Argumenta-se que o texto bíblico promove profunda doutrinação de inferioridade da mulher e que o modelo de família patriarcal (liderança confiada aos homens) adotado nas Escrituras é essencialmente machista. Gerda Lerner (2019, p. 252) questiona o relato bíblico do seguinte modo: As metáforas de gênero mais fortes da Bíblia foram as da Mulher, criada a partir da costela do Homem, e de Eva, a sedutora, fazendo com que a humanidade caísse em desgraça. Por mais de dois mil anos, isso é citado como prova da subordinação da mulher como castigo divino. Como tal, tem exercido um poderoso efeito ao definir valores e práticas relativos às relações de gênero. Embora se espere que as interpretações de um composto poético, mítico e folclórico, como o Livro do Gênesis, variem para se ajustar às necessidades do intérprete, deve-se notar que a tradição da interpretação é predominantemente patriarcal. Apesar desse falacioso argumento, Paulo revela que o homem deve liderar a sua família do mesmo modo como Cristo lidera a Igreja (Ef 5.29). Uma vez que Cristo entregou-se pelo bem-estar da Igreja, a liderança masculina requer até a prática de algum tipo de sacrifício (Ef 5.25b). Nesse sentido, no exercício da liderança, o homem deve evidenciar atributos, tais como força, sabedoria, coragem, amor e respeito mútuo (Jz 6.14; 2 Cr 1.10; Ne 6.11; Jo 15.13-15). Ratifica-se que homens e mulheres são iguais perante Deus, mas que lhes foram confiadas funções distintas. II. A EROSÃO DA MASCULINIDADE 1. Apologia à Homossexualidade Em tempos pós-modernos, a “ideologia de gênero” faz contínua investida de legitimação da prática da homossexualidade. Esse conceito ignora as características físicas e biológicas e alega que o ser humano nasce sexualmente neutro. Essa ideologia também é conhecida como “ausência de sexo”. Nessa concepção, invalidam a criação divina da raça humana como ser binário “masculino” e “feminino” (Gn 1.27). Ensinam que a identidade de gênero e a orientação sexual independem da anatomia do corpo, isto é, que a genitália masculina ou feminina não é um fator determinante. Assim, não aceitam que os órgãos do sistema reprodutor humano sirvam de parâmetro para a sexualidade. Em consequência, a sexualidade antinatural, ou seja, “contrário à natureza”, é ideologicamente incentivada (Rm 1.26,27). Contrapondo essa ideia, Robert Gagnon (2021, p. 258-260) esclarece: Tendo em vista o significado de “contrário a natureza” (para physin) e de expressões comparáveis usadas por escritores judeus do período para designar o intercurso homossexual, o sentido da expressão em Paulo é claro. [...] Em um linguajar mais direto, Paulo, na prática, defende que até mesmo os pagãos que não têm acesso algum ao livro de Levítico deveriam saber que o erotismo homossexual é “contrário a natureza”, porque os órgãos sexuais básicos do homem e da mulher se encaixam, o que não acontece com os de duas mulheres ou dois homens. [...] Para Paulo, era uma simples questão de, com base no senso comum, observar a anatomia humana, e a função procriadora, e concluir que até mesmo pagãos, que desconheciam a revelação direta de Deus na Bíblia, não tinham desculpa para não saber. Não obstante, os defensores e praticantes da sexualidade “contrária à natureza”, em busca de aceitação popular, investem na normalização dessa conduta. Daí decorre crise de masculinidade por meio de comportamentos efeminados e devassidão em clara afronta às Escrituras (1 Co 6.10). Nessa perspectiva, a masculinidade foi relativizada, e “a postura, outrora máscula, foi distorcida, proporcionando, com isso, uma grave crise comportamental na sociedade, além de uma nítida inversão de papéis”.95 2. Responsabilidade Negligenciada Em virtude da relativização da masculinidade, o modelo bíblico vem sendo abandonado e depreciado. A identidade masculina, que deveria estar associada à responsabilidade, à virilidade, à capacidade de prover, de proteger e de liderar uma família vem sendo substituída por indivíduos de duplo ânimo, vacilantes e inconsequentes (Tg 1.8). Essa situação é resultante da inexistência de “uma compreensão clara da masculinidade, pois nossa sociedade abandonou a única fonte absolutamente confiável que existe; a Palavra de Deus”.96 Desse modo, a rejeição ao padrão bíblico arrasta o homem para o abismo moral, mantém-no prisioneiro de ideologias anticristãs e impede o seu pleno amadurecimento. Infelizmente, constata-se sob a ótica humana que essa deplorável conduta tende a aumentar. Nesse contexto, Renato Vargens (2020, p. 39) apresenta um quadro caótico: Do ponto de vista comportamental, maturidade é sinônimo de responsabilidade, ou seja, se você é uma pessoa madura, isso é sinal de que você é responsável o suficiente para assumir algo – um casamento, um trabalho, ou outra coisa do tipo. No entanto, vivemos em uma época em que um número incontável de homens não amadureceu. [...] Na verdade, esse tipo de homem, por motivos diversos, costuma desenvolver, no cotidiano, uma espécie de comportamento adolescente, desprovido de responsabilidade e maturidade emocional. Nesse cenário, uma parcela é incapaz de sustentar a sua própria casa — não pelo desemprego, mas pela aversão ao trabalho (Pv 21.25). Outros são desprovidos de maturidade para assumir a vida conjugal e os compromissos da paternidade (1 Tm 4.2,3). Alguns de caráter dúbio produzem insegurança na prole (Pv 24.10), e muitos são omissos na liderança e formação espiritual do seu respectivo lar (Ef 6.4). Os efeitos desse comportamento resultam em inúmeros casos de desajustes familiares e divórcio. Na contramão dessas atitudes desprezíveis, a masculinidade bíblica requer do homem alto padrão de responsabilidade. Paulo escreveu “portai-vos varonilmente” (1 Co 16.13), que significa “ajam como homens, não como crianças. Era um chamado a mostrarem- se homens valentes em um momento em que era necessário liderar com maturidade”.97 Esse tipo de postura sinaliza que, “no coração de uma masculinidade madura, está um sentido de responsabilidade benevolente para liderar, prover e proteger”.98 3. Crise de Liderança A crise de masculinidade tem gerado homens incapacitados de cumprir o seu papel de líder. Em consequência, a sociedade e a Igreja hodierna experimentam uma grave crise de liderança. Uma sociedade sem liderança eficaz transforma-se em anarquia. Desse modo, tanto o mundo quanto a Igreja clamam e almejam por líderes eficientes. Como já observado, em tempos pós-modernos, multiplicam-se os desafios para uma liderança nos moldes bíblicos. Entre os obstáculos a serem vencidos, destacam-se: o relativismo cultural, que despreza as leis divinas e condiciona à verdade a consciência humana, que considera tudo igualmente válido e despreza os valores absolutos; o patrulhamento ideológico, que desqualifica quem pensa diferente; e o cerceamento da liberdade de expressão por meio das grades do “politicamente correto”. Somado a tudo isso, muitos homens estão acovardados e negligenciam o seu papel de líder pelo temor de serem mal compreendidos ou de serem alvos da “cultura do cancelamento”. Contudo, um líder autêntico não vacila por causa da opinião popular. Se determinada posição é bíblica, um bom líder não pode hesitar simplesmente porque outros não aprovam.99 No período do profeta Ezequiel (593–571 a.C.), o Oriente Médio passava por uma crise internacional. Israel e Judá encontravam-se no exílio. Tinham sido conquistados pelos seus opressores como punição dos seus pecados contra o Senhor Deus. As nações estavam sendo massacradas pela corrupção desenfreada, pela usura contumaz, pelo suborno insolente, pelas predições mentirosas, pela opressão implacável, pela avareza injustificada e pela violência reinante (Ez 22.2-13). Ao revelar-se para o profeta, o Senhor descreveu que uma das causas da destruição iminente era a crise de liderança. Deus procurava alguém entre os líderes para trazer suspensão do julgamentocontra o pecado, alguém para reverter a situação: “[...] um homem que estivesse tapando o muro e estivesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei” (Ez 22.30). Nesse caso, a busca divina foi em vão, e o juízo tornou-se inevitável. Por isso, e apesar disso, “Deus ainda procura esse tipo de homem para destacar no horizonte da história humama”.100 Homens de verdade, que possam liderar pelo paradigma da masculinidade, isto é, segundo o modelo preconizado nas Escrituras (1 Rs 2.2). III. BOAZ, SÍMBOLO DE MASCULINIDADE 1. Modelo de Generosidade A generosidade relaciona-se com a benignidade e a bondade. A benignidade é considerada como “uma virtude que nos dá condições de tratar os outros com carinho e meiguice [...] A Bíblia fala da benignidade de Jesus (2 Co 10.1). É dessa fonte que o Espírito Santo transmite a benignidade como fruto”.101 A benignidade, de igual forma, indica “agir com delicadeza, com benevolência com relação aos outros como Deus fez conosco”.102 A bondade descreve aquele que é “bom” em caráter, moralmente honesto e agradável a Deus, e ainda representa generosidade de coração.103 Retrata as obras e atos de bondade em favor do próximo. Refere-se à bondade em ação, que se expressa em atitudes de ternura e compaixão com o outro. A bondade identifica “aquele compromisso firme para o benefício dos outros [...]. Reflete o caráter de seu Criador e deste modo é santo, justo e bom (Rm 7.12)”.104 Por evidenciar essas virtudes, apresentamos Boaz como modelo de homem generoso. Boaz era parente de Elimeleque, o falecido esposo de Noemi (Rt 2.1). Num período de quase dez anos, Noemi perdera o marido e os filhos (Rt 1.3-5). Ao retornar para Judá, ela estava acompanhada apenas por Rute, uma das suas noras moabitas, que também ficara viúva e sem filhos (Rt 1.16). Para sobreviver e sustentar a sogra, Rute foi trabalhar no campo de Boaz (Rt 2.3,5,6). Ao saber que Rute deixara a sua terra para apoiar a sogra, Boaz tratou-a com brandura e generosidade (Rt 2.11,12). Dirigiu-se a Rute com ternura e benevolência (Rt 2.8); protegeu-a para não ser molestada ou assediada pelos trabalhadores do campo (Rt 2.9); alimentou-a com fartura (Rt 2.14); e ordenou que fosse favorecida na colheita e que não fosse censurada ou reprendida no seu labor (Rt 2.15,16). Todavia, apesar de todo o cuidado dispensado por Boaz, pela Lei uma viúva sem filhos só poderia ser resgatada pelo casamento com um parente próximo do falecido (Dt 25.5,6; Rt 4.9,10). Não obstante, embora toda a compaixão demonstrada por Boaz, Noemi e Rute ainda estavam em grandes dificuldades. A solução para aquelas mulheres repousava na esperança de um Resgatador. 2. Padrão de Virilidade Virilidade é uma característica masculina, do homem, e é somente ele que a possui. Ao contrário do que se apregoa, a virilidade na concepção cristã não está relacionada com corpo atlético ou musculoso, nem tampouco se correlaciona com truculência, ignorância, desleixo ou insensibilidade. Virilidade é definida como a capacidade que o homem tem de realizar o ato sexual, mas também é sinônimo de vigor físico e de força moral. Salomão, antes de assumir a responsabilidade de reinar sobre Israel, foi advertido pelo rei Davi com as seguintes palavras: “Esforça-te, pois, e sê homem” (1 Rs 2.2). Essa exortação é similar à de Moisés quando admoestou Josué a “ser homem” e encarar a sua responsabilidade de liderança com coragem (Dt 31.7,8). O próprio Deus disse a Josué no início do seu ministério: “Seja forte e corajoso” (Js 1.6, NTLH).105 Entretanto, a questão de gênero deturpa o conceito de virilidade. A ideologia ignora o fato fisiológico e alega que a masculinidade é socio-culturalmente construída. Ela avalia que inexiste um modelo de masculinidade e alega que a virilidade é uma equivocada atribuição do sexo masculino. Na esteira dessa desconstrução, “o homem moderno trocou a aparência viril por uma estética mais delicada, quase beirando a imagem feminina”.106 Entretanto, destaca-se que, nas Escrituras, a virilidade é demonstrada por atos de coragem, mas também de autocontrole (Pv 16.32). Nesse aspecto, Boaz é visto como um homem viril “valente e poderoso” (Rt 2.1). A Bíblia registra que Rute, durante a noite, deitara-se ao lado de Boaz para pedir-lhe que a resgatasse (Rt 3.4,9). Ao notar a presença da bela moabita, Boaz subjugou os seus instintos sexuais e não a tocou (Rt 3.8). Ele simplesmente a respeitou, entendeu a sua petição, reconheceu-a como mulher virtuosa e prometeu fazer o possível para casar-se com ela (Rt 3.10-13). A robustez moral de Boaz assemelha-se a de José, quando este resistiu ao assédio da esposa de Potifar (Gn 39.7-10). Virilidade, portanto, não significa apetite sexual desordenado ou desrespeito para com as mulheres. A virilidade bíblica é demonstração de coragem, firmeza de caráter e conduta ilibada. 3. Exemplo de Responsabilidade Etimologicamente, o termo “responsabilidade” tem origem no latim responsabilitatis e significa “caráter ou estado de responsável. Obrigação geral de responder pelas consequências dos próprios atos ou pelos dos outros [...] que deve prestar contas de suas ações”.107 Nessa concepção, a ética cristã estabelece uma estreita ligação entre o caráter virtuoso e a responsabilidade moral. Carl Henry (2007, p. 519) apresenta a seguinte definição: Responsabilidade e moralidade são inseparáveis. Uma não pode existir sem a outra. Uma filosofia mecanicista ou comportamentista não admite nenhuma delas. Outros filósofos fazem diferença entre elas com respeito às bases ou naturezas de obrigação. [...] O cristianismo, é claro, baseia a responsabilidade na imposição dos mandamentos do criador. Nesse aspecto, Boaz encontrava-se diante de um impasse moral com a legislação vigente, isto é, o casamento do levirato determinado por Moisés. Boaz comprometeu-se em resgatar Rute e a herança de Elimeleque; contudo, ele estava ciente de que a responsabilidade de casar-se com a moabita era de um parente mais próximo que ele (Rt 3.12,13). O Dicionário Wycliffe (2006, p. 390) arrazoa: O casamento de uma viúva sem filhos com o irmão de seu marido era um costume antigo praticado na época dos Patriarcas (Gn 38.8) que mais tarde foi incorporado à lei de Moisés (Dt 25.5-10). [...] Era preciso que um irmão ou parente próximo do sexo masculino gerasse uma semente em nome do falecido. Se essa obrigação era negada, a viúva poderia expor essa pessoa à execração pública. Mercê da norma em vigor e movido pelo senso de responsabilidade e honra, Boaz levou o caso aos anciãos (Rt 4.1,2). Na audiência, explicou que as terras de Elimeleque estavam à venda e que aquele que as comprasse deveria casar-se com Rute (Rt 4.4,5). O parente que tinha a primazia renunciou ao seu direito e dever e autorizou Boaz a comprar as terras e a casar-se com a moabita (Rt 4.6,9,10). Ao adquirir a propriedade e tomar Rute por mulher, Boaz tornou-se o líder, o provedor e o protetor daquela família (Rt 4.13-16). O casal gerou Obede, avô do rei Davi, de cuja linhagem nasceu o Cristo (Rt 4.22; Mt 1.5,6,16). Por conseguinte, Boaz é símbolo de masculinidade enquanto cidadão, marido, pai e líder exemplar. CONCLUSÃO Deus criou o ser humano com dois gêneros: masculino e feminino (Gn 1.27). A diferenciação dos sexos é um princípio determinado pela criação divina (Gn 2.23). A masculinidade é um conjunto de atributos e funções inerentes ao homem. A desmasculinização decorre da inversão dos papéis do homem na sexualidade, na liderança e na prática dos seus deveres. A masculinidade bíblica exige o autocontrole, o sacrifício e a firmeza de caráter no encargo das suas tarefas. Nesse sentido, a sociedade, a família e a igreja anseiam por homens que honrem a sua masculinidade. 89 GILBERTO, Antonio (Org.). Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p. 293. 90 SOARES, E. (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 21. 91 HARPER, 2005, p. 33. 92 VARGENS, Renato. Masculinidade em crise e seusefeitos na igreja. São José dos Campos: Fiel, 2020, p. 33. 93 SCOTT, Stuart. O homem bíblico: masculinidade, liderança e decisões. São Paulo: NUTRA Publicações, 2014, p. 36. 94 HARPER, A. F. (Ed.). Comentário Bíblico Beacon. Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 32. 95 VARGENS, 2020, p. 19. 96 SCOTT, 2014, p. 24. 97 PIPER, John. Qual a diferença? Niterói: Tempo de Colheita, 2010, p. 88. 98 WIERSBE, Warren. Comentário Bíblico Expositivo. Vol.? Santo André: Geográfica, 2019, p. 818. 99 SCOTT, 2014, p. 83. 100 MULDER, Chester O. et al. Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. vol. 4, p. 461. 101 BERGSTÉN, Eurico. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p. 94. 102 RIBAS, Degmar (Trad.). Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Rio: CPAD, 2009. vol. 2, p. 297. 103 VINE, W. E. Dicionário Vine: o significado exegético de todas as palavras do Antigo e Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 437. 104 STRONDAD, Roger; ARRIGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1.182. 105 WIERSBE, vol. 2, 2019, p. 396. 106 VARGENS, 2020, p. 22. 107 CARVALHO, Laiz Barbosa. Dicionário Larousse da Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Lafonte, 2009, p. 718. A Capítulo 7 A Desconstrução da Feminilidade Bíblica Enganosa é a beleza e vã a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa sim será louvada (Pv 31.30, ACF) s Escrituras apresentam a mulher virtuosa como símbolo da feminilidade (Pv 31.10-31). Essa mulher é retratada como modelo de esposa fiel, mãe amorosa e administradora exemplar. Porém, a feminilidade bíblica vem sendo desconstruída em tempos pós-modernos. Neste capítulo, apresentamos o mandado divino para a mulher, as investidas do ativismo feminista e o exemplo bíblico de feminilidade. O propósito é mostrar que Deus requer da mulher cristã que esta se comporte conforme a revelação da Palavra de Deus. I. FEMINILIDADE BÍBLICA 1. A Criação Divina da Mulher Ratifica-se que homens e mulheres foram criados à imagem de Deus (Gn 1.27). Na ordem da criação, Adão foi formado antes da mulher (Gn 2.7,15). Em seguida, o Criador concluiu: “[...] Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18,20). Assim, o Senhor criou a mulher da carne e dos ossos do homem (Gn 2.21,22), e este a identificou: “[...] Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada” (Gn 2.23, NVI). Stanley Horton (1997, p. 244) descreve que: Num trecho curioso, Gênesis registra a criação especial da mulher: “E da costela que o Senhor Deus tomou do homem formou uma mulher; e trouxe-a a Adão” (2.22). A palavra original traduzida por “costela” é tsela, termo este que não é usado em outra parte do Antigo Testamento nesse sentido. [...] A mulher foi feita “da mesma matéria” que o homem, compartilhava da mesma essência. Além disso, esse e outros textos deixam claro que a mulher foi alvo direto da atividade criadora de Deus, da mesma maneira que o homem. Wayne Grudem (1999, p. 375) arrazoa que: O homem e a mulher foram feitos igualmente à imagem de Deus, e tanto homens como mulheres refletem o caráter divino. Isso significa que devemos enxergar os aspectos do caráter de Deus uns nos outros. [...] Mas se somos igualmente à imagem de Deus, então certamente homens e mulheres são igualmente importantes para Deus e igualmente valiosos para ele. Temos igual valor perante ele por toda a eternidade. O fato de as Escrituras dizerem que homens e mulheres são “à imagem de Deus” deve excluir todo sentimento de orgulho ou inferioridade, e qualquer ideia de que um sexo é “melhor” ou “pior” do que o outro. Em especial, ao contrário de muitas culturas e religiões não cristãs, ninguém deve se sentir orgulhoso ou superior por ser homem, e pessoa nenhuma deve se sentir frustrada ou inferior por ser mulher. Assim sendo, no ato criativo, a imagem divina foi distribuída sem distinção entre homens e mulheres, fazendo-os iguais diante de Deus. Adão e Eva foram criados iguais em pessoalidade, valor, honra e respeito. Essa igualdade, porém, não significa uniformidade de papéis (Gn 1.26-28; 3.16-19). A Bíblia ensina a igualdade de importância de ambos, mas com funções e autoridades diferentes (1 Co 11.11,12). 2. A Bênção da Maternidade No mandado criacional, Deus ordenou ao homem frutificar, multiplicar e encher a terra (Gn 1.28) — obviamente, uma tarefa impossível para Adão realizar sozinho. Assim, a mulher foi criada com a bênção da maternidade e o privilégio de ser esposa e mãe. Adão chamou-a de Eva, “porquanto ela era a mãe de todos os viventes” (Gn 3.20). Quanto ao privilégio da gestação, Renato Vargens (2022, p. 87) ratifica que: O Antigo Testamento mostra que, se estéril, a mulher sofria muito. Veja, por exemplo, a história de Sara, esposa de Abraão. A Bíblia registra que, por inúmeros anos, ela, com o coração angustiado e ansioso, esperou o cumprimento da promessa do Senhor. Veja Rebeca (Gn 25.21-26) e a esposa de Manoá (Jz 13.1-7,24). Com isso, perceba que boa parte das histórias bíblicas se desenrolam em torno das gestações. Eva, a primeira mãe, foi quem disse que o Senhor a havia ajudado a ter seu filho (Gn 4.1). [...] Ana, mãe do profeta Samuel desejou muito ter um filho, tanto que compôs uma oração em gratidão a Deus quando engravidou (1Sm 1.1-28; 2.1-10); Isabel esperou com fé o nascimento de João Batista (Lc 1.24); Maria foi a mãe do Salvador (Mt 1.18-25). [...] Por meio da mulher, Deus, o autor da família e da maternidade, planejou manifestar sua graça de geração em geração, fazendo dela coparticipe da construção nos rumos do seu povo no decorrer da história. Luise Schottroff (2008, apud Schroer, p. 156) reconhece que: De acordo com as ideias e a fé de Israel, o ventre da mulher, o útero pertencia a Deus, Deus não somente o criou, como também tem o poder de fechar ou abrir o útero. [...] Nos salmos, essa criação misteriosa do ser humano no útero é um milagre que evoca admiração e gratidão (Sl 139.15). Em última instância, é o próprio Deus que recebe, como uma parteira na hora do parto, o ser humano ao sair do útero (Sl 22.10). Em Israel, o útero fértil e os seios, fontes de leite materno, eram uma imagem da benção (Gn 49.25) que não foi feita por seres humanos, mas somente podia ser recebida de Deus como presente. Desse modo, o papel natural da mulher inclui a dádiva da procriação, de cuidadora do lar e dos filhos (1 Tm 5.14). As feministas, no entanto, consideram esses papéis um ultraje que limitam a função social da mulher e, por isso, lutam por emancipação dos afazeres do lar e da maternidade. Conquanto, diante da miraculosa concepção no seu ventre, a virgem Maria irrompeu em cânticos de gratidão ao Altíssimo pela bênção da maternidade (Lc 1.46-48). 3. A Mulher como Auxiliadora A mulher foi criada para ser auxiliadora do homem (1 Co 11.9). O termo “auxiliador” também é empregado para referir-se ao Senhor (Sl 33.20; 121.2). Portanto, ser auxiliar não é algo depreciativo, e sim uma nobre função de ajuda e socorro. O fato de Deus chamar a si mesmo de nosso “auxiliador” confere dignidade e honra a esse papel e título.108 Entretanto, Rebekah Merkle (2020, p. 122-124) arrazoa que: O verdadeiro problema surge quando lemos “auxiliadora” e dizemos mentalmente “inferior”. [...] Algumas pessoas leem a Bíblia dessa maneira e, então, iram-se e tentam minimizá-la (feministas), outras a leem, dizendo “amém” ao que é, na verdade, um conceito errado propriamente seu (chauvinistas), mas, entranhadamente, ambas estão cometendo o mesmo erro. [...] Em 1Coríntios 11, Paulo está claramente apontando diferenças entre homens e mulheres e nossos papéis criacionais. [...] Observar que algo é fundamentalmente diferente de outro não é a mesma coisa que insinuar que um é melhor que o outro. [...] O feminismo se ressente da mera sugestão de que as mulheres tenham um papel diferente do papel dos homens. Nesse aspecto, Wayne Grudem (2009, p. 65) leciona que: A mulher não auxiliará o homem como alguém inferior a ele. Antes, será “uma auxiliadora apropriada para ele”, e aqui a palavrahebraica kenegdô significa uma auxiliadora que corresponda a ele, isto é, adequada, apropriada, que convém perfeitamente a ele. Eva, portanto, foi criada para ser uma auxiliadora, mas uma auxiliadora igual a Adão e diferente dele; diferente dele naquilo que complementaria exatamente quem Adão era. Nessa perspectiva, a Bíblia enfatiza que o Senhor criou a mulher para ser uma “ajudadora idônea” (ver Gn 2.18). Adão convivia com todos os seres criados, mas não se achava auxiliar semelhante a ele (Gn 2.19,20). Refere-se à pessoa igual e adequada, alguém capaz de suprir essa necessidade. Então, Deus fez a mulher para cooperar com o homem, não como alguém inferior, mas como complemento com as suas igualdades e diferenças. Essa complementaridade mútua é necessária à formação do casal, à procriação, à satisfação sexual e à vivência afetuosa e prazerosa (Pv 5.18). II. EROSÃO DA FEMINILIDADE 1. O Ativismo Feminista O protofeminismo remonta ao século XVIII na Grã-Bretanha. Nesse horizonte, destaca-se Mary Wollstonecraft (1759–1797), que viveu no auge do Iluminismo. Ela mantivera um caso extraconjugal com um colega apoiador da Revolução Francesa. Após a publicação de Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher (1792), Mary mudou-se para a França, onde teve um caso com um americano. Rejeitada pelo amante, retornou para a Inglaterra com uma filha ilegítima e várias vezes tentou o suicídio.109 Mais tarde, casou-se com o radical William Godwin (1756–1836). O casal morava em casas separadas e teve uma filha, Mary Godwin. As suas ideias incluíam o amor livre e a rejeição da sexualidade tradicional. Aos dezesseis anos, a filha do casal, Mary Godwin (1797–1851), tornou-se amante do poeta Percy Shelley (1792–1822), de quem ficou grávida. Diante da situação, a esposa de Shelley cometeu suicídio, e Mary Godwin casou-se com o marido dela três semanas depois. Foi nesse tempo que, agora com o nome de casada, Mary Shelley, começou a escrever o romance Frankenstein.110 No século XIX, acontece na Europa e nos EUA a primeira onda do ativismo feminista. As mulheres reivindicam direitos iguais aos dos homens. Nos Estados Unidos, destacam-se as americanas Elizabeth C. Stanton e Susan B. Anthony. Essas mulheres lutaram pela proibição da escravatura, pela criminalização do álcool e pelo direito feminino ao voto. Não obstante, Rebekah Merkle (2020, p. 56-61) pontua que “não demorou muito para que as feministas nos Estados Unidos começassem a falar sobre sexo também” e que embarcassem na “cruzada para trazer controle de natalidade e abortos ‘seguros’ às mulheres americanas [...] emancipação essencialmente de seus próprios corpos [...] e a defesa da eugenia e da esterilização compulsória dos inadequados”. No século XX, a segunda onda do feminismo passa a lutar pela emancipação da “domesticidade”, pelos direitos reprodutivos e por liberdade sexual. A Mística Feminina (1963), obra publicada pela americana Betty Friedan (1921–2006), é o estopim para essa fase do movimento. As mulheres são incentivadas a abandonar os deveres do lar e a seguir uma carreira profissional fora do ambiente doméstico. A identidade de uma mulher não deveria ser o papel de procriadora e administradora da casa. Ela deveria buscar a autorrealização e libertar-se dos afazeres domésticos.111 Entre as pautas ideológicas, defendem-se a libertação da maternidade e a legalização do divórcio. Nesse contexto, a ativista e marxista francesa Simone de Beauvoir (1908–1986) (2012, p. 11), na sua obra O Segundo Sexo (1949), estabelece uma das máximas do feminismo: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. Esse ativismo avança e incendeia a discussão de gênero e transgeneridade. Alguns consideram a inserção dessa pauta como a terceira onda do feminismo. Atualmente, a filósofa norte-americana Judith Butler, militante LGBTQI+ (ou LGBTQIA), apresenta-se como uma das maiores defensoras do feminismo e da Teoria Queer (contrário a heterocisnormatividade). Autora da obra Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade (1990), Butler afirma que o gênero é socialmente construído. Em 2011, em nome da autonomia irrestrita sobre o próprio corpo, a partir de Toronto, introduz-se o slogan “Meu corpo, minhas regras”. Nesse diapasão, o movimento toma conotações de “empoderamento” da mulher, desconstrução de identidades e notável aversão à fé cristã.112 Destaca-se que a fé cristã reconhece a importância do movimento em prol dos direitos das mulheres e no combate à discriminação. Porém, o feminismo erra quando se posiciona contrário aos valores bíblicos. 2. A Liberdade Sexual A Bíblia refere-se ao sexo como algo prazeroso entre um marido e a sua mulher (Pv 5.18,19). A satisfação sexual deve ocorrer dentro do matrimônio e ser precedida de amor mútuo entre macho e fêmea (1 Co 7.3-5). Todavia, para o filósofo francês Michel Foucault (1926– 1984), um dos teóricos seguidos pelas feministas, esse modelo bíblico é repressivo e deve ser combatido em busca de “libertação” sexual. Foucault não prega meramente a “liberação” dos desejos e práticas sexuais consideradas moralmente ilícitas e nem apenas a “libertação” dos grilhões sexuais opressores da moral, da religião e do conservadorismo.113 Isso não é suficiente para ele e nem para as feministas, por isso alegam que uma pessoa pode viver relações sexuais livres sem restrições às regras morais e, mesmo assim, não desfrutar de “liberdade sexual”. Michel Foucault (2017, p. 260) arrazoa que: O problema não seria antes tentar definir as práticas de liberdade através das quais seria possível definir o prazer sexual, as relações eróticas, amorosas e passionais com os outros? O problema ético da definição das práticas de liberdade é, para mim, muito mais importante do que a afirmação, um pouco repetitiva, de que é preciso liberar a sexualidade ou o desejo. Em outras palavras, nessa teoria, considera-se a liberação sexual necessária, como, por exemplo, a liberação da sexualidade da mulher em relação à dominação do marido e da moral opressora e heteronormativa.114 Contudo, Foucault (2017, p. 260-261) apregoa que a liberação não faz surgir o ser feliz e pleno de uma sexualidade na qual o sujeito tivesse atingido uma relação completa e satisfatória. A liberação abre um campo para novas relações de poder, que devem ser controladas por práticas de liberdade. Não obstante, na prática, o movimento feminista extremado atua na imposição da “liberdade sexual” controlando as esferas de poder para direcionar a ação do outro. Na defesa dessa ideologia, as feministas pretendem dominar o comportamento sexual, requerem que nenhum modo de relação sexual deva ser considerado certo ou errado. Aqui são incluídos a iniciação sexual precoce das crianças, a prática da homossexualidade, a fornicação, o adultério e a prostituição (1 Co 6.10). Nessa esteira, temas como aborto de gravidez indesejada e desconstrução da família patriarcal são radicalizados pelo ativismo ideológico do movimento. 3. A Família Patriarcal As Escrituras ensinam que o casamento é monogâmico, heterossexual e indissolúvel (Mt 19.5,6), tendo o homem como líder da família (Ef 5.23). Porém, para Karl Marx (1818–1883), outro teórico seguido pelas feministas, essa forma bíblica de matrimônio escraviza a mulher, obriga o casal a ter relações sexuais apenas com o seu próprio cônjuge e tiraniza os laços conjugais que não podem ser rompidos. Nos escritos de Marx, a propagação de ideias por parte de quem detém o poder produz uma “falsa consciência” que leva à aceitação de padrões de comportamento que são impostos ao cidadão. O conceito de ideologia deixa de ser apenas “o conhecimento das ideias” e passa a ser um “instrumento” que serve para assegurar o domínio de uma classe ou grupo social que impõe aos outros os seus ideais de comportamento.115 Assim, do contexto social marxista que deu origem à “luta de classes” (burguesia versus proletariado), surgiu na pós-modernidade a ideologia culturalista como sendo “luta de gêneros”, ou seja, uma luta de classes ou de poder “entre homens e mulheres”.Desse modo, o marxismo exerce forte influência no feminismo, especialmente o livro A Origem da Família, a Propriedade Privada e o Estado (1884), em que o modelo bíblico de família é tratado como sistema opressor do homem para com a mulher. Nesse sentido, a visão marxista adotada pelo movimento feminista é de desconstrução da família patriarcal, promoção da liberdade sexual e dissolução do matrimônio. Dessa maneira, ratifica-se que o ativismo radical rejeita a maternidade, faz apologia ao aborto, banaliza o divórcio, considera ofensivo o papel da mulher como auxiliadora do homem, enaltece a lascívia e engaja-se numa luta de gênero contra os homens. III. MULHER VIRTUOSA: SÍMBOLO DE FEMINILIDADE 1. Modelo de Esposa Fiel Conforme as Escrituras, a mulher virtuosa é de inestimável valor: “[...] muito excede o de rubins” (Pv 31.10). A Bíblia declara que “o coração do seu marido está nela confiado” (Pv 31.11a). O texto revela total confiança do esposo nas ações e na conduta moral da sua mulher. A atitude dessa esposa é ilibada em todas as áreas do relacionamento a dois, tais como: lealdade conjugal, pureza sexual, administração do lar e das finanças, bem como o cuidado com as refeições da família e a educação dos filhos. O excelente gerenciamento dessa mulher não coloca a família em necessidade; por isso, nessa casa “não haverá falta de ganho” (Pv 31.11b, NAA). A gestão dessa esposa não provoca endividamento financeiro; pelo contrário, promove prosperidade. O Comentário Beacon (2005, vol. 3, p. 418-419) avalia que essa mulher é tão infalível na sua dedicação ao seu marido que lhe “não faltam riquezas” (Pv 31.11; versão BJ; “não há falta de ganho honesto, nem necessidade de saque desonesto”, AT Amplificado). A Escritura diz que ao marido “ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida” (Pv 31.12). O Comentário de Estudos da Bíblia de Genebra (1999, p. 767) arrazoa que “tal esposa não é um sonho impossível, mas pode ser difícil de encontrar”. O Comentário Bíblico Expositivo Wiersbe (2008, p. 524-525) considera que “o marido e a esposa são felizes e abençoados quando confiam no Senhor e um no outro. Os votos do casamento são promessas que devem ser levadas a sério. A quebra desses votos é pecado diante de Deus e diante um do outro”. A esposa fiel proporciona contínuo bem-estar ao seu marido. Ela é uma mulher confiável, não é instável ou temperamental. As suas ações inspiram a indispensável confiança que faz do seu marido um homem bem-sucedido. Ele é estimado entre os juízes, e ela é conhecida pela fidelidade à família (Pv 31.23).116 Nesse sentido, a Palavra de Deus assevera que uma mulher sábia é capaz de edificar a sua casa tanto quanto uma mulher insensata é capaz de destruir um lar (Pv 14.1). 2. Padrão de Mãe Amorosa De acordo com as Escrituras, a mulher virtuosa é também uma mãe dedicada: “Ainda de noite, se levanta e dá mantimento à sua casa e a tarefa às suas servas” (Pv 31.15a). Ela acorda quando ainda está escuro e providencia a refeição para a família. Pelo bem-estar do seu marido e filhos, ela gerencia as diversas tarefas do lar (Pv 31.15b). Ela é uma mãe protetora, e os seus filhos estão adequadamente vestidos tanto no calor como no frio: “Não receia a neve por seus familiares, pois todos eles vestem agasalhos” (Pv 31.21, NVI). Entretanto, apesar de o texto bíblico enaltecer as virtudes de uma boa mãe, o radicalismo feminista avança para cercear das mulheres a experiência da maternidade. Argumentam que, desde a revolução feminista e a inserção das mulheres no mercado de trabalho, a gestação está sempre associada ao sentimento de culpa em ter que interromper a carreira profissional. Reclamam que o papel familiar e social da mulher é reorganizado com a maternidade, sendo necessário fazer inúmeras adaptações; que o estereótipo de mãe perfeita e profissional bem-sucedida traduz-se em sobrecarga emocional e adoecimento mental.117 Como resultado da desconstrução da maternidade, cresce no Brasil e no mundo o número de mulheres que fazem opção de não ser mãe. Renato Vargens (2022, p. 49-50) alerta que: Em recente pesquisa realizada pela Farmacêutica Bayer, com apoio da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). [...] as mulheres estão optando passar pela vida sem experimentar a benção de ser mãe. Por mais alarmante que isso seja, esse comportamento, comum a milhões de mulheres, recebeu até nome: “Geração NoMo” (abreviação da expressão em inglês No Mother, no sentido de não se tornar mãe), a saber, mulheres que, lutando contra aquilo que consideram uma pressão social, decidem não ser mãe. Esse mesmo grupo combate a crença absurda (segundo elas) de que a mulher deve dar à luz ao menos uma vez. Boa parte dessas mulheres prefere ser “mãe de pet” a gerar uma vida dentro do próprio útero. A despeito do desmantelamento da gestação e da dádiva de ser mãe apregoado pelas feministas, o texto bíblico enfatiza que uma mãe virtuosa dedica-se na educação da sua prole com sabedoria e bondade (Pv 31.26), antecipa-se às dificuldades domésticas e “não come o pão da preguiça” (Pv 31.27). Essa mulher é recompensada quando os seus filhos reconhecem o seu incalculável valor, quando a elogiam, agradecem e retribuem o amor recebido dessa mãe altruísta (Pv 31.28a). 3. Exemplo de Administradora O texto bíblico destaca que a mulher virtuosa também é uma notável administradora. Como comerciante, ela adquire tecidos, confecciona roupas, lençóis e colchas de boa qualidade (Pv 31.15,22), negocia bens importados e de elevado padrão para a sua casa (Pv 31.14), compra propriedades e gerencia negócios lucrativos (Pv 31.16) e administra a produção e as vendas do seu comércio (Pv 31.18,24). Nesse contexto, Rebekah Merkle (2020, p. 122-124) pondera que: Administrar uma família e ser uma esposa e mãe piedosa é uma habilidade que requer prática, ensino e experiência. [...] Somos uma geração que precisa recuperar o senso da importância do lar e da importância de esposas e mães [...] Em Provérbios 31, podemos ver pela maneira como a família dessa mulher lhe responde, que todo o seu trabalho, todas as suas compras, vendas e trocas era uma benção direta para eles. Seus filhos se levantam e a chamam ditosa, o coração de seu marido confia nela [...]. Eles estão vestidos de escarlate por meio do trabalho diligente dessa mulher [...] É uma mulher impressionante, trabalhadora, bem-sucedida e de alta renda. De fato, biblicamente, essa mulher é aguerrida e próspera, mas também é generosa e sensível na ajuda aos pobres e necessitados (Pv 31.20). Ela é cheia de energia e de bom caráter e é autoconfiante em relação ao futuro (Pv 31.25). Essa mulher, esposa, mãe e empreendedora é louvada pela sua família (Pv 31.28,29). O seu valor imensurável não reside na aparência física, mas num coração temente a Deus, o Senhor (Pv 31.30). O exemplo e as virtudes dessa mulher serão publicamente reconhecidos (Pv 31.31). CONCLUSÃO A Bíblia revela que homens e mulheres complementam-se (Gn 2.24). Dessa forma, marido e esposa são iguais como pessoas, mas diferentes nas funções divinamente estabelecidas. Dentre outros papéis, Deus confiou às mulheres a dádiva da maternidade e o privilégio de serem auxiliadoras. Essas características enobrecem, e não estigmatizam as mulheres. Contudo, a desconstrução da feminilidade coloca-as em rota de colisão com a vontade divina. Por isso, a mulher cristã é instruída a honrar a sua feminilidade e, assim, glorificar a Deus na sua soberania (Lc 1.38,46-48). 108 GRUDEM, Wayne. Confrontando o Feminismo Evangélico. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 64. 109 MERKLE, Rebekah. Eva no Exílio: a restauração da feminilidade. São Paulo: Trinitas, 2020, p. 50. 110 MERKLE, 2020, p. 51. 111 MERKLE, 2020, p. 69. 112 CAMPAGNOLO, Ana Caroline. Feminismo: perversão e subversão. Campinas: Vide Editorial, 2019, p. 234. 113 BUTLER, Judith. A Vida Psíquica do Poder: teorias da sujeição. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2017, p. 109. 114 FOUCAULT, Michel. A Ética do Cuidado de si como Práticada Liberdade (1984): In: Motta, M. (org.) Ditos e escritos V. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2017, p. 261. 115 SILVA, Afrânio et al. Sociologia em Movimento. São Paulo: Editora Moderna, 2013, p. 67,68. 116 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Wiersbe Antigo Testamento. Santo André: Geográfica, 2008. p. 524. 117 ESTRELA, Jadne Meder; MACHADO, Maiara da Silva; CASTRO, Amanda. O “Ser Mãe”: representações sociais do papel materno de gestantes e puérperas. Id on Line Rev. Mult. Psic., 2018, vol.12, n.42, Supl. 1, p. 569-578. B Capítulo 8 Transgênero – que Transrealidade É essa Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne (Gn 2.24) iblicamente, os seres humanos possuem um sexo biologicamente determinado e conformação heterossexual (Gn 2.24). No entanto, a desconstrução dos valores e a revolução sexual apresentam novas formas de sexualidade, entres elas a transgeneridade. Neste capítulo, veremos as características desse fenômeno, a visão bíblica de sexo e gênero e os efeitos da ideologia transgênero. A meta é mostrar o quanto Deus deseja que o ser humano viva de maneira coerente por meio do seu sexo biológico. I. O FENÔMENO DA TRANSGENERIDADE 1. Identidade de Gênero O gênero identifica os seres inequívocos do sexo masculino e feminino. Não obstante, na década de 1970, as feministas usavam o termo “gênero” para diferenciá-lo do “sexo” anatômico. As ciências sociais passaram a enfatizar que o comportamento social dos gêneros é estabelecido pela cultura, e não pelas características biológicas do sexo. Esse conceito também alcançou a educação formal em todos os seus níveis. Por exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),118 formulados pelo MEC para o Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), trazem a seguinte definição: O conceito de gênero diz respeito ao conjunto das representações sociais e culturais construídas a partir da diferença biológica dos sexos. Enquanto o sexo diz respeito ao atributo anatômico, no conceito de gênero toma-se o desenvolvimento das noções de “masculino” e “feminino” como construção social. O uso desse conceito permite abandonar a explicação da natureza como a responsável pela grande diferença existente entre os comportamentos e os lugares ocupados por homens e mulheres na sociedade. [...] Tome-se como exemplo a discussão do tema da homossexualidade. Muitas vezes se atribui conotação homossexual a um comportamento ou atitude que é expressão menos convencional de uma forma de ser homem ou mulher. [...] mas há tantas maneiras de ser homem ou mulher quantas são as pessoas. Baseados nesses critérios, os conteúdos de orientação sexual dos PCN (1998, p. 316) para o Ensino Fundamental foram organizados em apologia à “liberdade sexual”: O desafio que se coloca é o de dar visibilidade a esses aspectos, considerados fundamentais. [...] O trabalho com Orientação Sexual supõe refletir sobre e se contrapor aos estereótipos de gênero, raça, nacionalidade, cultura e classe social ligados à sexualidade. Implica, portanto, colocar-se contra as discriminações associadas a expressões da sexualidade, como a atração homo ou bissexual, e aos profissionais do sexo. Nessa perspectiva, gênero passa a significar que homens e mulheres são produtos da realidade social, e não decorrência da anatomia dos seus corpos. Desse modo, argumentam que uma pessoa não precisa comportar-se de acordo com o seu sexo de nascimento. Alegam que o gênero e a orientação sexual não são determinados pelo sexo biológico. Nesse caso, avaliam que a relação sexual entre macho e fêmea corresponde a papéis sociais impostos pelo contexto cultural e social, e não pela constituição anatômica do corpo humano. Assim sendo, validam toda e qualquer prática sexual. 2. Cisgênero e Transgênero Cisgênero classifica a pessoa cujo gênero está em concordância com o sexo de nascimento. A fêmea nascida com genitália feminina que se reconhece mulher, e o nascido macho que se reconhece homem. No portal Dicionário Informal, cisgênero é o termo utilizado para referir-se ao indivíduo que se identifica, em todos os aspectos, com o seu “gênero de nascença”.119 De acordo com Jaqueline Jesus (2012, p. 10), cisgênero é “um conceito que abarca as pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi determinado quando de seu nascimento”. Transgênero classifica a pessoa cujo gênero está em oposição ao sexo de nascimento, ou seja, um indivíduo que nasce com genitália masculina, mas que se assume mulher, e o nascido fêmea que se comporta como homem. São pessoas que alegam ter nascido no corpo errado e identificam-se com o gênero diferente do sexo biológico. Esse sentimento de incompatibilidade entre sexo físico e gênero psicológico também é chamado Disforia de Gênero. Argumenta-se que o gênero é independente do corpo.120 Nancy Pearcey (2021, p. 198) esclarece que: O termo transgênero foi expandido como termo guarda-chuva que cobre várias categorias que costumavam ser distintas, como travestis e transexuais. Como transgênero é mais aceito socialmente do que os termos anteriores, o termo passou a ter uso crescente nos anos recentes. Hoje, ele também e utilizado para incluir várias categorias novas tais como gênero- queer (pessoas que não se consideram nem masculinas nem femininas), bigênero, gênero fluido e muitas outras. Essa cosmovisão ratifica a ideia de que a identidade de gênero independe do sexo biológico, ou seja, argumentam que não há conexão entre corpo e identidade de gênero. A narrativa transgênero separa completamente o gênero da anatomia do corpo humano.121 Dessa forma, toda expressão de sexualidade é considerada normal, defendida e incentivada. O movimento social de representatividade é chamado de LGBTQIA+.122 3. Transgênero e sexualidade Para os sexólogos, a orientação sexual de uma pessoa é definida de acordo com o gênero que ela identifica-se e por qual gênero sente atração sexual, a saber: (a) heterossexual, quando a atração é pelo gênero oposto; (b) homossexual, quando a atração é pelo mesmo gênero; (c) bissexual, quando a atração é por ambos os gêneros; (d) assexual, quando inexiste atração por gênero algum; (e) pansexual, quando a atração não depende de gênero. Além dessas categorias, existem pessoas que se denominam não- binárias, que não se encaixam em nenhum gênero, nem masculino e nem feminino. Com essa classificação, não se fala mais em sexualidade no singular, mas em sexualidades no plural, ou ainda, diversidade sexual. Nesse diapasão, a orientação sexual passa a referir-se à atração afetivo-sexual por alguém de qualquer gênero. Nessa filosofia, inexiste norma de orientação sexual em função do gênero das pessoas. Considera-se que a prática heterossexual não é a única sexualidade possível. A mesma explicação apregoa-se acerca da identidade de gênero, isto é, para o ativismo de libertação sexual, nem toda pessoa é naturalmente cisgênero. Nesse cenário, tal qual as demais, uma pessoa transgênero pode ser bissexual, heterossexual ou homossexual, dependendo do gênero que adota e do gênero com relação ao qual se atrai e relaciona-se afetiva e sexualmente.123 Jaqueline Jesus (2012, p. 15,16) pontua que: Pessoas transexuais geralmente sentem que seu corpo não está adequado à forma como pensam e se sentem, e querem “corrigir” isso adequando seu corpo à imagem de gênero que têm de si. Isso pode se dar de várias formas, desde uso de roupas, passando por tratamentos hormonais e até procedimentos cirúrgicos. Para a pessoa transexual é imprescindível viver integralmente, exteriormente, como ela é por dentro, seja na aceitação social e profissional do nome pelo qual ela se identifica ou no uso do banheiro correspondente à sua identidade de gênero, entre outros aspectos. Assim, como nessa ideologia não há conexão entre sexo biológico e gênero, uma pessoa que se identifica como transgênero transita livremente em todo tipo de relação sexual. Dessa maneira, o significado de sexualidade deixou de ser algo extraído da anatomia do corpo e tornou-se algo imposto aocorpo. A partir do pressuposto da sexualidade como construção social, a identidade sexual foi reduzida a um conceito pós-moderno completamente desconectado do corpo.124 II. A VISÃO BÍBLICA DE GÊNERO 1. A Constituição Biológica O homem, do hebraico adham, foi formado do pó úmido da terra (Gn 2.7). Cristo ratificou que, “desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea” (Mc 10.6). Nossa Declaração de Fé professa que o ser humano é constituído de três substâncias, uma física: corpo; e duas imateriais: espírito e alma (1 Ts 5.23; Hb 4.12). Desse modo, o corpo físico é o invólucro das partes imateriais (Gn 35.18; Dn 7.15). O gênero desse corpo é definido pelo sexo de criação geneticamente determinado: homem ou mulher (Gn 1.27; 2.24). O sexo e o gênero estão relacionados com as características orgânicas do corpo e dos órgãos genitais. Significa que, na criação divina, os cromossomos sexuais XY determinam o sexo masculino (macho), e os cromossomos sexuais XX determinam o sexo feminino (fêmea). Dessa forma, a ética sexual cristã está fundamentada no modo como os seres humanos foram originalmente criados.125 Nancy Pearcey (2021, p. 163) pondera que “a questão central é como definimos a nossa identidade. Atualmente, a suposição geral é que os seres humanos são movidos, fundamentalmente, por desejos, sentimentos e atrações — que os seus sentimentos sexuais definem a sua identidade”. Em contrapartida, biblicamente, os anseios de nosso corpo precisam estar sobre o controle do Espírito Santo (Gl 5.16). Acerca dessa temática, o apóstolo Paulo alerta que a “carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne” (Gl 5.17). E ainda adverte que nosso corpo mortal inclina-se para a prática da imoralidade sexual, tais como adultério, fornicação, impureza e lascívia (Gl 5.19). Por conseguinte, os sentimentos e os desejos carnais não servem como guia confiável dos propósitos de Deus para nosso corpo. O marcador mais confiável de quem somos é nossa identidade física e corporificada, dada por Deus, como homem e mulher.126 Enquanto o ativismo da diversidade sexual presume que o corpo biológico não serve como referência para nossa identidade de gênero ou para nossas escolhas de ordem moral, “o cristianismo honra o corpo como macho e fêmea, em vez de subordinar o sexo biológico a sentimentos psicológicos”.127 2. A Constituição Moral O homem foi criado, dentre outros aspectos, à imagem e semelhança moral de Deus (Gn 1.26,27). A imagem de Deus pertence a nossa natureza moral-intelectual-espiritual.128 O Comentário Beacon (2005, vol. 1, p. 33) descreve que o “Homem Feito à Imagem de Deus” é um ser espiritual apto para a imortalidade (Gn 1.26a), é um ser intelectual com a capacidade da razão e de governo (Gn 1.26b) e é um ser moral que tem a semelhança de Deus (Gn 1.27). Stanley Horton (1996, p. 260) leciona que: A respeito da imagem moral de Deus nos seres humanos, “Deus fez ao homem reto” (Ec 7.29). Até mesmo os pagãos, que não possuem conhecimento da lei escrita de Deus, conservam uma lei moral escrita por Ele em seus corações (Rm 2.14,15). Em outras palavras, somente os seres humanos possuem a capacidade de sentir o que é certo e errado, bem como o intelecto moral e a vontade necessários para escolher entre eles. Por essa razão, os seres humanos são chamados livres agentes morais. Não obstante, o pecado corrompeu a moralidade do gênero humano (Gn 6.5). Por causa da Queda, todas as áreas de nosso ser foram afetadas, inclusive nosso arbítrio, e, portanto, a humanidade é incapaz de salvar a si mesma, pois “neste estado [caído], o livre- arbítrio do homem para o que é bom não somente está ferido, aleijado, enfermo, distorcido e enfraquecido; ele também está aprisionado, destruído e perdido”.129 Desse modo, “em seu estado de descuido e pecado, o homem não é capaz de pensar, nem querer ou fazer por si mesmo, o que é realmente bom; pois é necessário que ele seja regenerado e renovado”.130 Por isso, no plano divino, os crentes precisam ser restaurados segundo a semelhança moral original (Ef 4.22-24; Cl 3.10). Essa renovação é obra do Espírito Santo, operando interiormente e promovendo a santificação do espírito, da alma e do corpo (Rm 8.2- 5,13,14; 1 Ts 5.23). Assim, aos salvos a Escritura diz: “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal [...]” (Rm 6.12). Desse modo, as práticas sexuais ilícitas são proibidas, tais como o adultério (Êx 20.14) e a homossexualidade (Rm 1.26,27). A Bíblia ensina que a imoralidade sexual afronta o corpo, que é templo e morada do Espírito Santo (1 Co 6.18-20). 3. A Constituição da Sexualidade Ao criar o ser humano “macho e fêmea”, Deus também instituiu a sexualidade (Gn 1.27,28). Sempre fez parte da criação original de Deus o homem unir-se sexualmente numa só carne com a sua mulher (Gn 2.24). Cristo, ao abordar o tema, associou a anatomia dos sexos com o propósito divino da sexualidade e da reprodução (Mt 19.4-6). O’Donovan (apud. Pearcey, 2021, p. 32) assevera que “ter um corpo masculino é ter um corpo ordenado estruturalmente para a união amorosa com um corpo feminino, e vice-versa”. Nancy Pearcey (2021, p. 32, 34) endossa que: O corpo tem um telos, ou propósito intrínseco. [...] A moralidade bíblica expressa uma visão maior da dignidade e do significado do corpo. A visão bíblica da sexualidade não é baseada em uns poucos versículos bíblicos espalhados. É baseada em uma cosmovisão teleológica que nos incentiva a viver de acordo com o design físico de nosso corpo. Ao respeitar o corpo, a ética bíblica supera a dicotomia que separa o corpo da pessoa. Ela cura a alienação e cria integridade e plenitude. A raiz da palavra integridade significa completo, integrado, unificado — a nossa mente e emoções em sintonia com o nosso corpo físico. Nessa direção, ela acrescenta que: A cosmovisão bíblica leva a uma visão positiva do corpo. Ela diz que a correspondência biológica entre macho e fêmea é parte da criação original. A diferenciação sexual é parte do que Deus declarou ser “muito bom” — moralmente bom — o que significa que fornece um ponto de referência para a moralidade. Há um propósito nas estruturas físicas de nosso corpo que somos chamados a respeitar. A moralidade teleológica cria harmonia entre a identidade biológica e a identidade de gênero. O corpo/pessoa é uma unidade psicossexual integrada. A matéria importa. Assim sendo, o relacionamento sexual conforme idealizado pelo Criador prevê uma realização completa entre macho e fêmea na busca do prazer conjugal e na procriação da espécie (Ec 9.9; Sl 127.3-5). A união monogâmica e heterossexual configura o modelo bíblico da sexualidade (1 Co 7.3,4). Desse modo, no plano divino, o sexo, o gênero e a sexualidade não são meros estereótipos de construção social, mas estão intrinsecamente relacionados. III. EFEITOS DA IDEOLOGIA TRANSGÊNERO 1. Depreciação da Heterossexualidade Nas Escrituras, o modelo de sexualidade é a heterossexual, isto é, a relação sexual deve ocorrer entre um homem e uma mulher (Gn 2.24; Mt 19.5; Mc 10.7; Ef 5.31). No entanto, ativistas sexuais atuam na desconstrução da orientação sexual bíblica. Em 1991, o teórico social Michael Warner cunhou o termo heteronormatividade, que passou a ser utilizado em depreciação da prática heterossexual. O termo hetero significa outro, diferente. Diz respeito à atração sexual que uma pessoa sente por outra de sexo diferente do seu. O vocábulo norma significa algo que regula e que busca tornar igual. O termo “norma” também está associado ao que é normal, ou seja, àquilo que segue uma norma. Assim, pode-se compreender o termo heteronormatividade como aquilo que é tomado como parâmetro de normalidade em relação à sexualidade para designar como norma e como normal a atração e/ou o comportamento sexual entre indivíduos de sexos diferentes.131 Nessa concepção, a heteronormatividade é vista como um modo opressor de regular, normatizar e obrigar as pessoas a relacionarem-se sexualmente entre macho e fêmea. Acusa-se a heterossexualidade de impor um regra pela perspectivabiológica determinista e pela construção social estereotipada. Alega-se que o padrão heterossexual é discriminatório, preconceituoso e transfóbico. Nesse condão, o ativismo atua na imposição de um “novo normal”: a “diversidade sexual”. Nessa direção, Analídia Petry (2011, p. 194) constata que: Pessoas que se submeteram à cirurgia de redesignação sexual têm comparecido a programas de televisão para falar de suas vidas. Indivíduos do sexo feminino, com aparência corporal reconhecida como masculina no âmbito da cultura, com tóraxes mastectomizados e peludos, e com abdomens grávidos estampam capas de revistas. O desenvolvimento tecnológico ocorrido nos últimos anos tem possibilitado a implementação de procedimentos e terapêuticas farmacológicas e de técnicas cirúrgicas antes impensáveis nos domínios de gênero e sexualidade [...]. Não seria exagero, pois, dizer que, como impulsionadora ou na esteira desses desdobramentos biotecnológicos, a transexualidade tem pautado um extenso debate político, social e intelectual que tem colocado em xeque, dentre outras, noções essencialistas sobre gênero, sexo, sexualidade e identidade. A estratégia perpassa pelo ativismo parlamentar e jurídico na busca de reconhecimento legal da identidade transexual e a criminalização de quem pensa diferente. Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) criminalizou a divulgação de toda e qualquer opinião considerada ofensiva sobre os diferentes modos de exercício da sexualidade.132 Com a decisão, o Supremo atropelou o Poder Legislativo e cedeu ao patrulhamento da militância LGBTQIA+. Nessa esteira, o ativismo infiltrou-se no sistema educacional por meio da imposição da “ideologia de gênero” nos currículos escolares. 2. Construção de Narrativas A militância trans alega que a subjetividade de alguém se sentir homem ou mulher deve sobrepor os aspectos biológicos. Exigem terapia hormonal e cirurgia de redesignação sexual como solução para adequar o corpo à mente. O ativismo na educação e saúde pública impõe-se no doutrinamento de crianças e adolescentes. Na busca de aceitação social, divulgam a ideia do já citado “nascimento no corpo errado”. Em contrapartida, em 2017, o American College of Pediatricians133 publicou que o uso indiscriminado de terapia hormonal e a prática da cirurgia de mudança de sexo são um erro. No relatório, destacam-se os seguintes pontos: (a) conflitos entre mente e corpo devem ser corrigidos pelo alinhamento do gênero com o sexo anatômico; (b) meninos não nascem com cérebro feminilizado, e meninas não nascem com cérebro masculinizado; e (c) pessoas presas no corpo errado é uma crença ideológica que não tem base na ciência rigorosa (Rm 9.20). Somados a essas questões, levantamentos sobre a violência contra homossexuais e transexuais no Brasil, realizados por ONGs e instituições acadêmicas e amplamente divulgados pela grande mídia, fundamentam-se em notícias de jornais interpretadas de modo falacioso. A maior parte dos casos catalogados e noticiados não caracteriza violência motivada por preconceito sexual. Essa constatação não quer dizer que a discriminação inexiste; apenas que os dados são maquiados a fim de impressionar e sensibilizar a opinião pública em favor da militância. A falácia “desses relatórios sustenta as afirmações, muito repetidas, de que o Brasil é o país que mais mata homossexuais e transexuais no planeta”.134 3. Linguagem Neutra O movimento LGBTQIA+ requer a inserção de uma terminologia neutra ou não-binária na linguagem. O objetivo é identificar quem não se reconhece como masculino ou feminino. Os ativistas consideram a gramática normativa como machista e elitista. Ignoram o fato de que, na língua portuguesa, o gênero neutro é absorvido pelo masculino. No uso correto das regras gramaticais, o masculino é usado de modo genérico para identificar a espécie humana (homens e mulheres). Não obstante, a utilização do masculino como “neutro” passa a não ser aceito, pois, segundo o ativismo, silencia e apaga dos discursos as mulheres e as pessoas trans não-binárias Nessa concepção e na tentativa de construir um vocabulário próprio, por meio da massificação ideológica, os ativistas pretendem impor à sociedade uma linguagem inclusiva a fim de que “pessoas que fogem do espectro binário de gênero possam ser visibilizadas especialmente na forma oral da Língua Portuguesa”.135 Dessa forma, a militância viabiliza ações governamentais para substituir as vogais “a” e “o” na pretensão de neutralizar o gênero. Algumas propostas de grafia são: elu (em lugar de ele ou ela); todes (em lugar de todos); e (c) amigues (em lugar de amigos). Assim sendo, a norma gramatical é desconstruída para atender a ideologia de gênero (Is 5.21). CONCLUSÃO O sexo, o gênero e a sexualidade fazem parte da constituição anatômica e fisiológica divinamente instituída. Nas Escrituras, existem apenas duas possibilidades de gênero e de anatomia sexual humana, ou seja, masculino/macho e feminino/fêmea (Gn 1.27). Ao término da criação, “viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (Gn 1.31). Deus não errou ao criar a sexualidade heterossexual como norma para a humanidade. Portanto, ninguém nasce predeterminado a identificar-se como transgênero. Muda-se a cultura, mas a palavra do Senhor permanece imutável (Mt 24.35). 118 BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Volume 10.5 – Temas Transversais – Orientação Sexual. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 321, 325. 119 DICIONÁRIO INFORMAL. Conceito de Cisgênero. Disponível em: <https://www.dicionarioinformal.com.br/>. Acesso em: 15 mar. 2023. 120 PEARCEY, Nancy. Ama teu corpo. Rio de Janeiro: CPAD, 2021, p. 33. 121 PEARCEY, 2021, p. 198. 122 A sigla LGBTQIA+ significa Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgênero, Queer, Intersexo e Assexual. O símbolo de “mais” (+) inclui outras identidades de gênero e orientações sexuais que não se encaixam no padrão cisgênero, mas que não aparecem em destaque antes do símbolo. Disponível em: <https://www.fundobrasil.org.br/blog/o-que-significa-a-sigla-lgbtqia/>. Acesso em: 15 mar. 2023. 123 JESUS, Jaqueline Gomes de. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Brasília, e-book, 2012. https://www.dicionarioinformal.com.br/ https://www.fundobrasil.org.br/blog/o-que-significa-a-sigla-lgbtqia/ 124 PEARCEY, 2021, p. 33. 125 PEARCEY, 2021, p. 163. 126 PEARCEY, 2021, p. 158. 127 PEARCEY, 2021, p. 163. 128 HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 259. 129 ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio. Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 473. 130 ARMÍNIO, 2015, vol. 1, p. 231. 131 PETRY, Analídia Rodolpho; MEYER, Dagmar Elisabeth Estermann. Transexualidade e heteronormatividade: algumas questões para a pesquisa. Textos & Contextos (PUC – Porto Alegre), v. 10, n. 1, p. 193 – 198, jan./jul. 2011. 132 AGU. Embargos de Declaração na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO no 26). Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/acao- agu.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2023. 133 CRETELLA, Michelle. Ideologia de Gênero: estudo do American College of Pediatricians. Gazeta do Povo, nov. 2017. Disponível em: <https://especiais.gazetadopovo.com.br/ideologia-de-genero>. Acesso em: 16 mar. 2023. 134 CORDEIRO, Tiago. Os verdadeiros números sobre a morte de LGBTs no Brasil. Gazeta do Povo, mar. 2019. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/os-verdadeiros-numeros-sobre-a-morte- de-lgbts-no-brasil-95bmcp4302gyjdozzpjmiuhyl/> Acesso em: 16 mar. 2023. 135 LAU, Héliton Diego. O uso da Linguagem neutra como visibilidade e inclusão para pessoas trans não-binárias na língua portuguesa. Universidade Federal do Paraná. V SIES – Simpósio Internacional em Educação Sexual, abr. 2017, p. 5. https://www.conjur.com.br/dl/acao-agu.pdf https://especiais.gazetadopovo.com.br/ideologia-de-genero https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/os-verdadeiros-numeros-sobre-a-morte-de-lgbts-no-brasil-95bmcp4302gyjdozzpjmiuhyl/D Capítulo 9 Uma Visão Bíblica do Corpo Mas o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo (1 Co 6.13b) eus criou o ser humano para o louvor da sua glória (1 Co 6.20). Em vista disso, o homem deve viver em santidade (1 Pe 1.15). Contudo, os conceitos secularistas propagam uma forma de vida independente dos preceitos divinos. Neste capítulo, estudaremos a criação do homem do pó da terra e as características do corpo humano nas Escrituras, além de correlacionar esse tema com a visão secular na atualidade. O objetivo é apresentar a visão bíblica a respeito do corpo, o seu propósito e a sua glorificação final. I. A CRIAÇÃO DO SER HUMANO 1. A Origem da Raça Humana O homem é o único ser vivo criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26,27). Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 21) ensina que o Deus Trino criou todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, e, de maneira especial, os seres humanos, por um ato sobrenatural e imediato, e não por um processo evolutivo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29; Gn 1.1; 2.7; Hb 11.3 e Ap 4.11). A Teologia Sistemática Pentecostal (2008, p. 87-88) corrobora que: A raça humana teve a sua origem em Deus, através de Adão: “o primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente” (I Co 15.45); “de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra” (At 17.26). [...] O ser humano não é meramente um animal racional, mas um ser espiritual, criado à imagem e semelhança de Deus. O homem recebeu diretamente de Deus o sopro de vida em suas narinas (Gn 2.7). [...] Portanto, não há, nas Escrituras Sagradas, nada que apoie o darwinismo e as suas várias interpretações inverídicas. O homem e os animais surgiram na Terra da mesma forma como eles são hoje. Salienta-se que temos duas narrativas a respeito da criação da humanidade no livro de Gênesis. Ressalta-se que não existe contradição entre elas; ao contrário, uma passagem complementa a outra.136 Dessa forma, a primeira narrativa declara resumidamente a intenção de Deus em criar a sua obra-prima, os seres-humanos e o propósito deles em governar as demais criaturas (Gn 1.26,27). Logo após, o escritor bíblico ortografa em detalhes a criação do homem (Gn 2.7) e da mulher (Gn 2.21,22). Nessa compreensão, ratifica-se que Adão foi o primeiro homem a ser criado (Gn 2.15,19,20). A primeira mulher, Eva, foi formada do corpo de Adão (Gn 2.22; 3.20). O homem (adham) foi formado do pó úmido da terra (Gn 2.7). O uso do hebraico adham denota nome próprio, mas também é genérico, significando “homens” e “humanidade” (Sl 73.5; Is 31.3). Assim, homens e mulheres são descritos como criaturas da terra, porém Deus “soprou em seus narizes o fôlego da vida” (Gn 2.7b). O Senhor não fez isso com os animais. O sopro dEle foi a outorga do espírito, e isso distingue a humanidade dos demais seres criados. 2. A Constituição do Ser Humano Elinaldo Renovado (apud GILBERTO, 2008, p. 289) reitera que Deus fez todas as coisas do nada e, no caso do ser humano, tomando a matéria inanimada, “do pó da terra”, ou das substâncias químicas existentes na argila, pelo seu poder fez o homem, com a sua extraordinária complexidade espiritual, mental, moral e biológica. E assim o fez composto de espírito, alma e corpo. Esequias Soares (2017, p. 78) corrobora que a natureza humana consiste numa parte externa, o corpo ou a carne (Gn 6.3; Sl 78.39) chamada “homem exterior”, e uma parte interna, denominada “homem interior”, composta do espírito e da alma (2 Co 4.16; 1 Ts 5.23). Essa constituição humana é denominada de tricotomia, isto é, três substâncias: espírito, alma e corpo (Hb 4.12). A parte “exterior” do ser humano veremos de modo específico, a seguir, no ponto II deste capítulo, com o subtítulo “O Corpo Humano na Bíblia”. Quanto à parte “interior”, nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 78) leciona que: Praticamente tudo o que a Bíblia diz a respeito da alma fala também do espírito, pois ambos deixam o corpo por ocasião da morte e sobrevivem a ela (Ec 12.7; Ap 6.9). Às vezes, o ser humano é tido como “corpo e alma” (Mt 10.28) e, outras vezes, “corpo e espírito” (Tg 2.26). Deus é revelado como espírito (Jo 4.24) e alma (Is 42.1). Essa interligação, às vezes, confunde os termos alma e espírito (Lc 1.46,47). Entretanto, eles são distintos entre si. O Espírito Santo opera por meio do espírito humano (Rm 8.16); mas isso nunca se diz com respeito à alma humana. A Bíblia fala sobre o homem perder a sua alma (Mt 16.26); essa linguagem, todavia, nunca é usada a respeito do espírito. A alma e o espírito são substâncias espirituais incorpóreas e invisíveis. Apesar dessas características comuns, são entidades distintas, porém inseparáveis; são os dois lados da substância não física do ser humano, o “homem interior” (Ef 3.16). Com essa assertiva, a tricotomia honra as Escrituras e harmoniza- se com elas, pois, de acordo com a Bíblia, o homem tem uma constituição tríplice.137 A Bíblia de Estudo Pentecostal (1995, p. 979- 980) ratifica que o espírito é o componente pelo qual se tem comunhão com o Espírito de Deus. A alma é definida pelos aspectos da mente, das emoções e da vontade. O corpo é a parte que volta ao pó e que, no caso dos salvos, será transformado no dia da ressurreição (1 Co 15.42). 3. Queda e Restauração Humana A Bíblia revela que todas as áreas de nosso ser foram afetadas pelo pecado (Rm 7.20-23). Essa verdade assinala que todos “somos pessoas decaídas, e isso inclui a nossa mente, as nossas emoções, a nossa vontade e o nosso corpo”, mas esse fato não sinaliza que “todos os seres humanos sejam potencial e extremamente maus”, e sim que todos os seres humanos “não são tão bons quanto precisariam ser”.138 Isso acontece pelo fato de a corrupção do gênero humano atingir o homem em toda a sua composição: espírito, alma e corpo (Rm 2.9; 8.10; 2 Co 7.1) Nesse aspecto, Timothy Munyon (apud HORTON, 1996, p. 252) arrazoa que, embora constituído de três substâncias, aquilo que afeta um elemento do ser humano afeta a pessoa inteira; o que toca numa parte afeta a totalidade. Nessa perspectiva, o “interior” do homem não pode estar à parte do seu “exterior”. A vida espiritual não pode estar desassociada do corpo: “[...] glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1 Co 6.20). Não obstante, a natureza humana, por si própria, é incapaz de viver esse padrão de santidade exigido por Deus. Desse modo, o homem não consegue voltar-se para Deus sem o auxílio da graça divina (Jo 6.44). O ser humano não possui fé salvadora em si mesmo, nem no poder do seu livre-arbítrio.139 Assim sendo, neste estado [caído], o livre-arbítrio do homem para o que é bom não somente está ferido, aleijado, enfermo, distorcido e enfraquecido; ele também está aprisionado, destruído e perdido.140 Apesar de tudo, a imagem de Deus no homem não foi aniquilada (Gn 9.6); foi, no entanto, desfigurada a tal ponto que a sua restauração só é possível em Cristo (Ef 2.10).141 Não obstante, com a vida escondida em Cristo (Cl 3.3), uma conduta irrepreensível é requerida ao cristão tanto no espírito, como na alma e no corpo (1 Ts 5.23). Significa que a santificação deve atingir a parte material e imaterial do homem. A santificação é uma “obra progressiva da parte de Deus e do homem que nos torna cada vez mais livres do pecado e semelhantes a Cristo em nossa vida presente”.142 Contudo, em nossa trajetória cristã, continuamos sendo santificados, mas nunca chegaremos à santificação total até chegarmos ao Céu. Quer dizer que, somente no fim do processo da salvação, a glória perdida no Éden pelo primeiro Adão será finalmente restaurada (1 Co 15.45). II. O CORPO HUMANO NA BÍBLIA 1. Parte Exterior do Homem No Antigo Testamento, a palavra hebraica nephesh é traduzida como corpo quatro vezes; contudo, a sua tradução mais comum é alma (428 vezes) e vida (119 vezes). Talvez a palavra basar, carne, seja a que mais se aproxima da distinção entre corpo e espírito.143 No Novo Testamento, o termo “corpo”(gr. soma) normalmente identifica a parte exterior do ser humano (Mt 10.28; 1 Co 15.38). A palavra carne (gr. sarx), quando se refere ao homem físico, inclui a sua dimensão exterior (Lc 24.39; At 2.31). Ambos indicam a parte visível e material da natureza humana. Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 78) traz a seguinte definição: O corpo é o invólucro do espírito e da alma [Gn 35.18; Dn 7.15]. É a parte física, o homem exterior, que se corrompe, ou seja, envelhece e é mortal. O homem é carne como criatura perecível: “porque toda a carne é como erva” (1 Pe 1.24). Rejeitamos a ideia de ser o corpo a prisão da alma e do espírito ou de ser inerentemente mau e insignificante, pois ele é templo do Espírito Santo e templo de Deus, uma vez que o Espírito Santo habita em nós [1 Co 3.16,17; 6.19]. O corpo é importante, pois Deus o ressuscitará [...] (1 Co 15.42). Myer Pearlman (1898–1943) (2006, p. 108) descreve o corpo com três características: (i) Casa, ou tabernáculo, (2 Co 5.1). É a tenda na qual a alma do homem, qual peregrina, mora durante sua viagem do tempo para a eternidade. À morte, desarma-se a barraca e a alma parte; (ii) Invólucro, (Dn 7.15). O corpo é a “bainha” da alma. A morte é o desembainhar da espada. (iii) Templo. O templo é um lugar consagrado pela presença de Deus, um lugar onde a onipresença de Deus é localizada. Quando Deus entra em relação espiritual com uma pessoa, o corpo dessa pessoa torna-se um templo do Espírito Santo (1 Co. 6.19). Esses conceitos não reduzem o corpo humano a um simples “tabernáculo”, e nem tampouco o corpo é “coisificado”, como argumentam alguns. Reitera-se que o credo oficial das Assembleias de Deus “rejeita a ideia de ser o corpo a prisão da alma e do espírito ou de ser inerentemente mau e insignificante”. Quando a Escritura descreve a carne (corpo) em sentido negativo: “na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7.18), esse tom depreciativo diz respeito à natureza pecaminosa do homem, e não especificamente do corpo físico. Reitera-se que o corpo dos salvos será transformado no dia da ressurreição, quando, então, a sua redenção estará completa.144 2. Templo do Espírito Santo A Escritura declara que “o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor” (1 Co 6.13b). Não por acaso, Paulo enfatiza que as obras da carne manifestam-se com pujança na área sexual, as quais são: “[...] prostituição, impureza, lascívia” (Gl 5.19). Deus, porém, planejou o corpo humano para ser dedicado a Ele, e não à imoralidade sexual.145 O corpo é para Deus, está destinado à ressurreição e será transformado na vinda do Senhor (1 Co 6.14). O corpo pertence ao Criador e a Ele deve estar unido, e não em depravação sexual: “[...] o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito” (1 Co 6.17). A passagem sinaliza que é inconcebível alguém em uma união tão próxima com Cristo viver ao mesmo tempo unido à luxúria e à licenciosidade. O Comentário de Aplicação Pessoal (2009, vol. 2, p. 131) avalia que: Paulo queria que os seus leitores enxergassem a perversão que seria usar um corpo dado por Deus para cometer o pecado sexual com uma prostituta (talvez até uma prostituta do templo pagão, o que tornaria o pecado sexual uma forma de idolatria). Estes pecados não são meramente físicos; eles têm um forte efeito sobre a vida espiritual da pessoa que os comete. Eles são profundamente emocionais e até místicos, no caso da união criada entre os parceiros sexuais. As consequências de tais pecados são profundas. Nessa compreensão, aquele que comete o pecado da imoralidade sexual junta-se ou “une-se” em conjunção carnal com um(a) parceiro(a) que não seja o seu cônjuge (1 Co 6.16). Em contraste, o cristão está unido ao Senhor em união com Cristo, sendo feito participante do seu Espírito pela fé (1 Co 6.17).146 A dádiva e o prazer da relação sexual possuem aprovação divina somente na união matrimonial (Gn 2.24). Nesse sentido, o cristão é exortado a não pecar contra o próprio corpo (1 Co 6.18). Literalmente significa proibido de práticas imorais (Rm 6.13,19; 1 Co 6.15,16). O texto bíblico enfatiza que os corpos dos salvos são metaforicamente membros do corpo de Cristo (1 Co 6.15; cf. Rm 12.4,5). Assim, o pecado sexual torna-se uma violação contra o próprio corpo, que pertence a Cristo (1 Co 6.18). Nesse diapasão, Paulo ratifica o que já havia ensinado, isto é, que os cristãos tornaram-se o templo onde o Espírito de Deus habita: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3.16; 6.19; cf. Ef 2.22). Assim sendo, o apóstolo reitera que o corpo não nos pertence, mas pertence a Deus: “[...] não sois de vós mesmos” (1 Co 6.19b). Isso porque um resgate de alto preço foi pago por Cristo (1 Co 6.20a; 7.23; cf. 1 Pe 1.18,19). Desse modo, o corpo deve ser santo e usado para glorificar a Deus (1 Co 6.20b). Por conseguinte, o corpo como santuário nunca deve ser profanado ou aviltado por impureza alguma. 3. Glorificado na Ressurreição A ressurreição de Cristo aniquilou o império da morte (Hb 2.14,15). O império da morte sob o comando de Satanás relaciona-se ao seu nefasto estratagema de introduzir o pecado no mundo, uma vez que “o pecado reinou pela morte” (Rm 5.21), e a morte provém do pecado (Tg 1.15).147 Não obstante, a vitória de nosso Salvador Jesus Cristo “aboliu a morte” (٢ Tm ١.١٠) e garantiu nossa ressurreição (١ Co ٦.١٤; ٢ Co ٤.١٤). No entanto, apesar de o Diabo e da morte terem sido derrotados por Cristo na obra da cruz (Jo 10.10; 1 Jo 3.8), tanto o Diabo como a morte permanecem atuando na humanidade (Rm 6.12; 2 Co 4.4; 1 Pe 5.8). Os efeitos totais da vitória de Cristo serão plenamente percebidos por ocasião do retorno do Senhor, quando “os mortos ressuscitarão incorruptíveis [...] e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória” (1 Co 15.52,54). Não obstante, há um estado intermediário entre a morte e a ressurreição do corpo, onde o imaterial (espírito e alma) subsiste de modo consciente e onde o corpo volta ao pó da terra (Lc 9.28-31; 16.22-31). Contudo, nosso corpo carnal não pode herdar o Reino de Deus (1 Co 15.50). Por isso, a derradeira etapa de nossa salvação é a glorificação (Rm 8.30). Nela estão inclusas a redenção e a transformação de nosso corpo mortal conforme o corpo glorioso de Cristo (Rm 8.23; Fp 3.21). O Comentário Bíblico Pentecostal do N.T. (2003, p. 1.056-1.057) leciona que: A mudança que acontece é mais do que uma reanimação ou ressurreição de um corpo morto. É a transformação pela qual o corpo é ressuscitado em incorrupção, isto é, não é mais sujeito a morte e a deterioração. [...] Paulo estaria então exortando os crentes a se amoldarem a imagem de Cristo, aconselhando-os a se prepararem para o futuro. A conformidade completa à imagem de Cristo, porém, não pode ser alcançada nesta vida. Acontecerá na parousia. O apóstolo João disse que “quando Ele se manifestar seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (1 Jo 3.2) A salvação, portanto, começa com um ato jurídico (justificação), prossegue em processo vitalício de afastar-se do pecado (santificação) e culmina com nosso corpo transformado num corpo incorruptível e imortal (glorificação).148 Ratifica-se que a glorificação ocorrerá quando o Senhor Jesus voltar (1 Ts 4.13-17). Na ressurreição, a parte imaterial será reunida em um corpo incorruptível, glorificado, espiritual e imortal (1 Co 15.42-44,52-54). Assim, a morte é o último inimigo a ser vencido (1 Co 15.26). III. A VISÃO SECULAR DO CORPO 1. Hedonismo e Narcisismo O hedonismo alega que o objetivo da vida é a obtenção do prazer e a fuga do sofrimento. Essa mentalidade foi desenvolvida por Aristipo de Cirene (435 a.C.–356 a.C.), fundador da escola cirenaica. Na ética hedonista cirenaica, cabem todos os excessos, visto que o fim da ação proposta é todo e qualquer prazer que resulta das sensações.149 Nesse aspecto, tudo é permitido, tais como a prática da imoralidade e dos vícios em geral. O narcisismo reflete o mitogrego de Narciso. Relata a mitologia que, um dia, ao debruçar-se sobre um lago, Narciso viu o seu próprio rosto refletido na água. Sem saber que o reflexo era do seu próprio rosto, ele imediatamente se apaixonou pela imagem. Narciso ficou naquele lugar, hipnotizado, dias e dias sem comer nem beber, ficando cada vez mais fraco. Assim, acabou morrendo ali mesmo, com o rosto pálido voltado para as águas. Esse foi o castigo de Narciso, cujo destino foi amar a si próprio.150 Desse modo, narcisismo é a alusão à pessoa que tem amor excessivo por si mesma. Extremamente vaidosa e egocêntrica, tal conduta prima pela autoexaltação e sentimento de superioridade. No contexto dessa abordagem, refere-se ao indivíduo que persegue insensatamente o corpo ideal por meio da boa estética a qualquer custo e que se porta com ostentação em busca da autorrealização de ser admirado. Em oposição a essa cultura, Paulo ensina que “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm” (1 Co 6.12a). Indica que os crentes não devem cometer certos atos para que não estejam escravizados àquilo que não convém.151 Zelar, cuidar e manter o corpo saudável são formas de glorificar a Deus (Ef 5.29). Contudo, na busca da felicidade, o hedonismo e o narcisismo — que, juntos, resultam no “culto ao corpo” — são incutidos na sociedade como modelo de bem-estar. 2. Erotização e Libertinagem Ao formar o ser humano, Deus também criou a sexualidade (Gn 1.27,28). Não se trata, portanto, de algo impuro. O pecado não está no sexo, mas na perversão do seu propósito. Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, 204) leciona que a relação sexual não é só para procriar, mas também para o prazer, dentro dos limites do matrimônio e do uso natural do corpo (Rm 1.26,27; Hb 13.4). Todavia, em nossos dias, tem-se percebido o abuso da grande mídia em veicular e induzir cada vez mais a erotização e a libertinagem. A sensualidade do corpo humano é explorada nos filmes, novelas, artes, músicas e literaturas, dentre outros meios. O objetivo é de sedução e estímulo da sexualidade e das suas práticas sexuais ilícitas. Como resultado, a licenciosidade — a conduta sexual desregrada e imoral — prolifera assustadoramente (1 Co 6.10). Os desafios de nosso tempo são cada vez maiores; o casamento e o divórcio estão banalizados e deturpados (Mt 19.7,8). Muitos estão chafurdados no pecado de adultério e escravizados pela pornografia (Mt 5. 28; 19.9). Na sociedade depravada, o sexo grupal e o swing (troca de casais) são praticados e estimulados. O vocabulário é permeado de palavras de lascívia e expressões maliciosas (Cl 3.8). As crianças estão sendo submetidas à erotização precoce no ambiente escolar por meio da imposição da ideologia de gênero. Diante disso, Paulo adverte os cristãos para que “fujam da imoralidade sexual” (1 Co 6.18a, NVI) e orienta o crente salvo dizendo que “todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (1 Co 6.12b, NAA). Isso significa que todas as coisas estão em nosso poder, mas não podemos ser colocados sob o poder de nenhuma delas. Assim, devemos estar alerta quanto aos desejos que podem ter domínio sobre nós.152 3. Liberdade e Autonomia A Bíblia atesta que o homem é dotado de livre-arbítrio (Gn 2.16,17). Isso indica autonomia para tomar as próprias decisões e autogovernar-se. Sim, somos livres, porém qualquer ato nosso será alvo do juízo divino (Ec 12.14). O Comentário Beacon (2005, vol. 3, p. 467) discorre: Deus é um Deus santo, e Ele está preocupado com a santidade ética dos homens. Ele vai trazer a juízo toda obra — até mesmo tudo o que está encoberto. Cada ato e cada pensamento do homem, tudo vai ser julgado tendo como base se foi bom ou mau. A igreja em Corinto estava fazendo mau uso da sua liberdade em Cristo. Alguns dos seus membros colocaram-se acima das limitações morais e sentiam-se no direito de fazer o que quisessem com os seus próprios corpos (1 Co 5.1,6.13). O apóstolo já havia tratado desse problema na igreja da Galácia: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne” (Gl 5.13). Nos seus ensinos, Paulo orientava- os a controlar os apetites carnais (2 Co 7.1). Não obstante, no atual cenário, ideias secularistas promovem a banalização do corpo. O existencialismo ateu, por exemplo, afirma que o homem deve usufruir de liberdade incondicional para descobrir o sentido da vida. Nesse aspecto, livre de qualquer moral divina, o indivíduo passa a exercer total controle sobre o corpo. Desse modo, os seus adeptos atuam contra o corpo na legalização do aborto, prostituição, drogas, suicídio assistido, entre outros. Contrário a essa falsa ideia de liberdade, a Palavra de Deus assevera que “[...] todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). O Comentário Bíblico Moody (2010, vol. 2, p. 442) arrazoa que “a indulgência em um hábito que se apossa de alguém não é liberdade, mas escravidão”. French Arrington (2003, p. 967) assegura que “aquele que exercita a liberdade desenfreada torna-se realmente um escravo dessa liberdade, que não é outra coisa senão libertinagem”. CONCLUSÃO Criado da terra à imagem e semelhança divina, o homem é constituído de três substâncias: espírito, alma e corpo (1 Ts 5.23). Nessa concepção, não podemos cometer pecado com o corpo sem afetar o espírito e a alma (1 Co 6.15-17). O corpo é a morada do Espírito, que não habita em santuário impuro (1 Co 6.18,19). O corpo dos santos será glorificado na vinda de Cristo (1 Co 15.52). Assim, o corpo não deve ser tratado como algo pejorativo. O princípio de cuidado e santidade do corpo deve ser observado por aqueles que pertencem a Deus (1 Co 6.20). 136 HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 21. 137 GILBERTO, Antonio (Ed.). Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 270. 138 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, vol. 2, p. 128-129. 139 MARIANO, W. O que É Teologia Arminiana? São Paulo: Reflexão, 2015, p. 19. 140 ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, vol. 1, p. 473. 141 SOARES, E. (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 58. 142 GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 622. 143 PFEIFFER, Charles J. et al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 465. 144 STAMPS, Donald (ed.). Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 980. 145 ARRINGTON, French L. Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 966. 146 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Novo Testamento. Vol. 1-2. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 453. 147 HAGNER, Donald A. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Hebreus. São Paulo: Vida, 1997, p. 65. 148 BAPTISTA, Douglas. A Igreja Eleita. Rio de Janeiro: CPAD, 2020, p. 75. 149 SANTOS, Rogério Lopes. O Prazer (Hedoné) como Fim (télos) da Ação e como Fonte de Perturbação da Mente Segundo Epicuro. Revista Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 31, n. 61, p. 475-490, jan./abr. 2017. 150 VASCONCELLOS, Paulo Sérgio de. Mitos Gregos. São Paulo: Objetivo, ١٩٩٨, p. ١٧, ١٨. 151 RIBAS, Degmar (Trad.). Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, vol. 2, p. 130. 152 RIBAS, 2009, vol. 2, p. 130. A Capítulo 10 Renovação Cotidiana do Homem Interior Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia (2 Co 4.16) s adversidades do ser humano são uma incontestável realidade (Rm 8.22,23). Apesar disso, os salvos experimentam renovação interior por meio do Espírito Santo (2 Co 4.16). Não obstante, durante nossa existência, o corpo mortal permanecerá sujeito às vicissitudes da vida (2 Co 5.2-4). Neste capítulo, veremos o sofrimento do homem exterior, o fortalecimento do homem interior e os desafios a enfrentar diante da agenda anticristã na pós-modernidade. A finalidade é mostrar que o crente espiritualmente renovado pode resistira qualquer ataque das trevas. I. O SOFRIMENTO EXTERIOR 1. A Experiência de Paulo A Bíblia ensina que o tesouro do Evangelho está guardado em vasos de barro (2 Co 4.6,7). O Comentário de Aplicação Pessoal (2009, vol. 2, p. 208) discorre que “as pessoas guardam seus tesouros em cofres e caixas-fortes. Mas Deus coloca seu precioso tesouro — a mensagem que liberta as pessoas do pecado — em vasos de barro, isto é, nos seres humanos”. Temos aqui uma menção à natureza do homem feito do pó, a mortalidade do corpo e a fragilidade da pessoa humana (2 Co 7.5). Nesse aspecto, o homem exterior padece e sofre ataques por causa da cruz de Cristo (2 Tm 2.9,10). Os aborrecimentos, as oposições e as prisões que Paulo experimentou brotaram diretamente do seu testemunho firme sobre a ressurreição de Cristo.153 Paulo declara que fora de sobremodo agravado, com uma intensidade extraordinária, acima de qualquer força comum do homem, ou de cristãos normais.154 Por causa do evangelho, o apóstolo relata tribulação a tal ponto de perder a esperança da própria vida (2 Co 1.8). Ele ainda relaciona prisões, açoites, apedrejamentos, perseguições, fadiga, fome, sede, frio e nudez (2 Co 11.23-27). O Comentário Bíblico Pentecostal (2003, p. 1.114) descreve que: Paulo começa a catalogar as tribulações e os sofrimentos suportados em seu serviço a Cristo. [...] A lista é longa e inclui perseguições (2 Co 11.24- 25b, 32-33), risco de perder a vida (2 Co 11. 25c-26), dificuldades físicas (2 Co 11.27) e fardos psicológicos advindos de uma preocupação pastoral pelas igrejas (2 Co 11.28). Paradoxalmente, ele não se gloria nos sucessos, mas naquilo que normalmente seria visto como um fracasso (2 Co 11.24-27), não em obras poderosas, mas em fraqueza (2 Co 11.29,30). Nesse contexto, o apóstolo dos gentios ratifica o rigor dessa jornada quando disse: “Na verdade, todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Tm 3.12, NAA). O Comentário Bíblico de Beacon (2005, vol. 9, p. 529) assevera que podemos ser cristãos nominais sem sofrer muitos inconvenientes. Mas os que querem ser cristãos genuínos têm de pagar o preço inevitável do sofrimento, embora tenham a garantia do poder libertador de Deus. Nessa assertiva, o crente falso não sofre por causa da fé, mas o fiel é alvo de desmedida importunação (Jo 15.20). 2. O Exemplo do Apóstolo Mesmo diante do sofrimento, Paulo não retrocede e tampouco nega a fé (2 Tm 4.7; Hb 10.39). As provações forjaram a sua total confiança em Deus (2 Co 1.9,10; Fp 4.12,13). Ele reconhece que as suas fraquezas são instrumentos do poder de Deus (2 Co 2.4; 4.11; 12.9,10). A sua vida está a serviço do Mestre, em favor dos escolhidos e para a glória de Deus (2 Co 1.12-14; 4.11,12-15). O Dicionário de Paulo e suas Cartas (2017, p. 1.181) leciona que: Para Paulo, toda vez que os cristãos sofrem realmente, também eles devem enfrentar o sofrimento com alegria, sabendo que a tribulação não é sem sentido, mas é o meio divinamente orquestrado pelo qual Deus fortalece sua resignação e sua esperança fiéis, derramando seu amor e seu Espírito para sustentá-los ou livrá-los no infortúnio (Rm 5.3-5; 8.12-39; 2Co 1.6). Em resultado, eles também vêm a personificar em suas vidas a cruz e a ressurreição, como testemunho para outros da verdade de Cristo, em especial quando isso se reflete na capacidade de amar os outros mesmo quando passam por tribulações (2Co 8.1-2; 1Ts 1.2-7; 2Ts 1.3-5). Por conseguinte, Paulo exorta os leitores a ser pacientes e perseverantes na adversidade, que é a defesa de sua fé (Rm 12.12; 2Tm 4.5), pois ele sabe que só os que sofrem com Cristo na resignação da fé também serão glorificados com Cristo (Rm 8.17). Nessa compreensão, o apóstolo enxerga propósitos positivos no sofrimento. É nas tribulações que o cristão aprende a confiar inteiramente em Deus e na sua soberania e ainda se habilita a consolar os que padecem das mesmas aflições (2 Co 1.4-6). Na adversidade, o crente liberta-se da sua independência e autoconfiança e, assim, é forçado a olhar além de si mesmo para o “Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação” (2 Co 1.3b).155 Cônscio da sua vocação, Paulo declara: “Por isso, não desfalecemos[...] ainda que o nosso homem exterior se corrompa” (2 Co 4.16a). A confiança no poder de Cristo, o zelo pelo evangelho e o amor pelas almas (2 Co 4.13-15) serviam como “base de coragem para enfrentar o esgotamento de seus recursos físicos e mentais”.156 O legado do apóstolo é de perseverança. Embora o homem exterior seja consumido pelas tribulações, o crente salvo não pode desanimar e nem recuar. Acerca disso, Cristo assegurou: “[...] no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33). 3. A Esperança do Crente As Escrituras asseveram que a fraqueza humana serve para engrandecer a mensagem do poder de Cristo (2 Co 12.9). A debilidade do vaso humano requer e prova que “a excelência do poder é de Deus e não de nós” (2 Co 4.7b). Nossas fragilidades auxiliam na formação de nosso caráter cristão, amadurecem nossa espiritualidade e aprofundam nossa confiança e adoração (2 Co 4.17). Ao reconhecer nossas fraquezas, reconhecemos o poder de Deus (2 Co 12.9). Esse paradigma ensina que, embora nosso corpo esteja sujeito ao pecado e ao sofrimento, Deus sempre provê um meio de escape (1 Co 10.13). Como Cristo obteve êxito sobre a morte, do mesmo modo temos esperança de plena vitória e de vida eterna (2 Co 4.14). Nosso corpo debilitado pelas aflições não é esquecido por Deus. Todas as nossas lutas, dores, angústias e tribulações são experiências de crescimento e demonstração do poder de Cristo: “[...] a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança. E a esperança não traz confusão” (Rm 5.3,4). Com esse entendimento, Matthew Henry (2008, vol. 2, p. 514) enfatiza que: Deus muitas vezes leva seu povo a enfrentar grandes dificuldades, para que possam perceber sua própria insuficiência em se ajudar, e sejam persuadidos a colocar sua confiança e esperança no Deus Todo-Poderoso. Nosso limite é a oportunidade de Deus. [...] Experiências passadas são grande alento para a fé e a esperança, e ajudam para confiarmos em Deus para o futuro. Nós menosprezaremos as nossas experiências se desconfiarmos de Deus em futuras dificuldades, que continuará a nos livrar como em tribulações passadas. Nesse contexto, Paulo estabelece o contraste entre as aflições do homem e o poder de Deus. De um lado, a investida maligna e mortífera contra a fragilidade humana, que atinge o cristão com ímpeto e fúria a fim de derrotá-lo. E, de outro lado, a manifestação graciosa da grandeza e da providência divina em propiciar ao crente fiel força suficiente para obter livramento e vitória. Desse modo, Paulo assegura que somos: (a) “atribulados, mas não angustiados” (2 Co 4.8a). Significa que, mesmo pressionado pelo mal, o crente não é esmagado; (b) “perplexos, mas não desanimados” (2 Co 4.8b). Indica que, mesmo confuso, o crente não se desespera; (c) “perseguidos, mas não desamparados” (2 Co 4.9a). Sinaliza que, mesmo ameaçado, o crente não é abandonado por Deus; e (d) “abatidos, mas não destruídos” (2 Co 4.9b). Mostra que, mesmo derrubado, o crente não perde as suas forças. Por conseguinte, gloriamo-nos na esperança da glória de Deus (Rm 5.2). II. A RENOVAÇÃO INTERIOR 1. O Fortalecimento Diário A Bíblia enfatiza que o Espírito Santo é a única força que habilita o cristão a manter-se firme na adversidade (Jo 14.16,17). Esse poder atua no homem interior e capacita o crente a perseverar e a viver afastado do pecado (1 Co 2.12-16). Paulo ressalta que, apesar da fraqueza e sofrimento exterior, nosso “interior, contudo, se renova de dia em dia” (2 Co 4.16b). Ele refere-se à operação do Espírito, que qualifica o salvo a não desfalecer. O Comentário Bíblico Beacon (2005, vol. 8, p. 428) esclarece que: Paulo não “desanima” (RSV), apesar do processo mortal que está operando no seu “homem exterior”. Mesmo que a sua “humanidade exterior” (NES) esteja “decaindo”constantemente (ASV), o homem “interior, contudo, se renova de dia em dia” (Rm 7.22; Ef 3.16). Os dois verbos estão no presente, indicando um processo contínuo. Paulo é extremamente otimista. A sua vida, na relação com Cristo, consiste na recepção diária dos recursos espirituais que são renovados diariamente (Rm 12.2; Tt 3.5). Ela está constantemente aumentando. Embora um processo inevitavelmente deva terminar com a morte, o outro irá, com a mesma certeza, resultar na vida que é eterna. Nesse diapasão, Lloyd-Jones (1992, vol. 3, p. 122, 124) avalia que: Primeiramente, a mente precisa ser fortalecida num sentido espiritual. Isso porque somos assaltados por dúvidas. [...] Ou podemos ser perturbados por maus pensamentos que invadem a mente. [...] Outro problema é o de pensamentos dispersos. [...] Quantas vezes vacilamos e fracassamos em nossa mente, em nosso coração ou em nossa vontade! Se fossemos deixados entregues a nós mesmos, não haveria esperança para nós, e não haveria ninguém para recomendar o Evangelho. [...] Não posso fazer-me forte: não posso introduzir este ferro nas muralhas da minha alma; faça o que fizer, fracassarei. Mas eis aí a força que vem de Deus. Ele é totalmente suficiente! Esse renovo ocorre por meio da santificação pessoal, fidelidade, reverência, oração, leitura bíblica, jejum e temor a Deus (1 Co 7.5; Ef 5.18; Hb 12.14,28). Contudo, não podemos alcançar ou merecer o favor e a justiça do Reino de Deus meramente observando as disciplinas cristãs. A disciplina cristã é um meio de aproximarmo-nos de Deus, um meio de semear para o Espírito (Gl 6.8).157 Portanto, não permita que a aflição venha desanimá-lo. Renove seu compromisso de servir a Cristo e permita que o poder do Espírito de Deus fortaleça-o a cada dia (1 Co 16.13). 2. O Eterno Peso de Glória Paulo declara que “[...] a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2 Co 4.17). No texto, o apóstolo faz um contraste entre o sofrimento presente e o futuro glorioso. A menção da glória de Deus é referência à promessa e à esperança que sustenta a fé do crente em meio ao sofrimento, isto é, Cristo em nós, que é “a esperança da glória” (Cl 1.27). Ela ensina que as provações desse tempo presente são ferramentas divinas no contínuo processo de aperfeiçoamento do crente, até alcançar “à medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4.13). Paulo afirma que a tribulação é leve se comparada ao peso da glória; que a aflição é passageira, enquanto a glória é eterna. Essa glória supera tanto o sofrimento — em intensidade e em duração — que realmente não pode haver comparação (Rm 8.18).158 O Comentário Bíblico Pentecostal (2003, p. 1.092) assevera que: Deus está produzindo “para” (ou, talvez melhor “em”) nós uma glória eterna que excede em muito todas as dificuldades temporais (2 Co 3.17; 4.17; Rm 8.17,18,29,30,37,39). Essa transformação ocorre à medida que suportamos as tribulações, aguardando ansiosamente a realidade eterna que nos espera e que mesmo agora está sendo operada em nós. Não obstante, Warren Wiersbe (2019, vol. 5, p. 842) alerta que: Não devemos interpretar esse princípio equivocadamente e pensar que o cristão pode viver como bem entender e esperar que, no final, tudo se transforma em glória. Paulo escreve sobre tribulações que sofria dentro da vontade de Deus e enquanto realizava a Obra do Senhor. Deus pode transformar o sofrimento em glória, e é exatamente o que Ele faz; mas Deus não pode transformar pecado em glória. O pecado deve ser julgado, pois não possui glória alguma. [...] Em si mesmo, o sofrimento não tem poder para nos tornar homens e mulheres mais santos. A menos que nos entreguemos ao Senhor, busquemos sua Palavra e confiemos que Ele irá operar, o sofrimento só servirá para prejudicar a nossa vida cristã. Assim, a adversidade sofrida por causa da consciência para com Deus (1 Pe 2.19) é que serve de instrumento que encoraja o homem interior e impulsiona-o a prosseguir (Fp 3.13,14). Ela mostra que a fé renova-se à medida que o crente é capaz de suportar as tribulações (Jó 42.5; Sl 119.67). Portanto, faz-se necessário fugir da murmuração e aceitar as lutas segundo o critério de Deus. A Palavra de Deus ratifica que as aflições deste tempo não podem ser comparadas com a glória do porvir (Rm 8.18). 3. A Visão da Eternidade Paulo exorta o cristão a não atentar “nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; por que as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2 Co 4.18). Aqui, o apóstolo apresenta o contraste entre as coisas visíveis e as invisíveis, as coisas temporárias e as que são eternas. O autor do livro de Hebreus também faz um apelo veemente para o exercício da fé bíblica: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11.1). Quanto ao conceito de fé, Fritz Laubach (2000, p. 182) esclarece que: Em Hebreus 11.1 ressalta-se que a pessoa que crê foi presenteada com uma certeza, com uma nova perspectiva da realidade invisível de Deus. Justamente o que parece contraditório e até impossível para a capacidade de raciocínio natural do ser humano não redimido, realiza-se na vida do fiel: “não atentando nós nas coisas que se veem, mas que não se vem” (2Co 4.18). Pela fé, de fato descerra-se para nós um mundo inteiramente novo. Obtemos acesso à gloria de Deus. Justamente naquilo que para o ser humano natural é inconcebível, enquanto ainda estiver fora da vida com Deus, torna-se realidade máxima para os fiéis. O mundo eterno de Deus torna-se realidade para nós, de maneira bem diferente de tudo o que constatamos neste mundo objetivo. Assim sendo, a orientação paulina ratifica que o crente deve estar sempre de bom ânimo, “porque andamos por fé e não por vista” (2 Co 5.7). Somado à renovação diária, o salvo deve viver sustentado pela fé bíblica, esperança e visão da eternidade. Refere-se a uma importante motivação para o não desfalecimento nas tribulações. Se o cristão perder o foco do que é celestial, estará fadado à derrota. Ló, por exemplo, vivia segundo o que podia ver e, por causa disso, acabou escolhendo o que era errado, o que prejudicou a sua família (Gn 13; Hb 11.10). Nossos esforços devem buscar as coisas que são de cima (Cl 3.1). Na marcante comparação anotada por Paulo, duas diferentes visões estão envolvidas: (1) o que pode ser visto pelo olho humano e (2) o que pode ser visto somente pelos olhos espirituais — aquilo que é efêmero e aquilo que é permanente; as coisas terrenas como um processo de dor inevitável, e a celestial como suprema esperança de vida eterna isenta de aflições (Is 25.8). Acerca dessa expectativa, o apóstolo acrescenta: “Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra” (Cl 3.2). Desse modo, devemos desenvolver uma visão “espiritual” que mantenha um foco firme não no mundo visível desta vida temporal, mas no invisível mundo eterno.159 III. OS DESAFIOS DE HOJE 1. Cultura Secularista O termo “secular” e as palavras derivadas “secularismo”, “secularidade” e “secularização” adquirem um significado moderno a partir da distinção medieval entre a jurisdição eclesiástica (igreja) e a jurisdição secular (mundo).160 A secularização em si mesma não é propriamente maléfica; só que, quando colocada contra a religião, se torna numa hostil opositora da fé. Acerca do tema, Carl Henry (2007, p. 541) argumenta que: Até o século dezenove o termo secularismo, geralmente, se referia à separação entre a autoridade civil e a autoridade eclesiástica. [...] Hoje o “secular” é posto, geralmente, em contraste ao “sagrado”, substituindo o contraste anteriormente feito entre o sagrado e o profano. Igualmente, secularização é o nome dado ao processo mediante o qual um entendimento sobrenaturalista do mundo é substituído por um entendimento naturalista, e a religião deixa de ser uma influência social ou cultural efetiva. [...] A centelha que provocou essa explosão foi desprendida pelas cartas de Dietrich Bonhoeffer, escritas da prisão. Essas cartas foram publicadaspor seu amigo Eberhart Bethge, em 1951. [...] O livro de Paul Van Buren [...] foi um dos primeiros livros dos anos sessenta a dar prestígio ao secular [...]. Muitos outros escritores tomaram o mesmo tema, advogando um cristianismo secular, com um Cristo secular, uma salvação secular, uma conversão secular, uma missão secular e um futuro secular. Assim, a teologia secular estava pronta para se fundir à teologia “da morte de Deus” da última metade dos anos sessenta e com as teologias da esperança e do futuro, às quais se alinhava, e que fundiam a escatologia do NT com a doutrina marxista do progresso histórico-social. Nesse arcabouço, por meio do “espírito” da Babilônia, a cultura secularista opõe-se aos valores cristãos (Ap 17.5). Por conseguinte, o sistema iníquo prepara o mundo para o advento do Anticristo (2 Ts 2.4). O materialismo nega a realidade espiritual; o ateísmo nega a existência de Deus; o relativismo nega a verdade bíblica; o humanismo cultua o homem; o sincretismo profana o sagrado; e o ecumenismo corrói a ortodoxia. Essas ideologias, corrompidas pelo pecado, promovem estratégica perseguição à Igreja de Cristo. Leis são promulgadas, e sentenças são prolatadas em desconstrução da religião e da liberdade de culto. O patrulhamento ideológico amordaça a voz da Igreja e aprisiona a fé no espaço privado. Nesse cenário, o Espírito de Deus busca crentes renovados e capazes de tomar posição contra as forças do mal (Ez 22.30). 2. Relativismo Doutrinário Na Antropologia, o combate à ideia de homogeneidade cultural é chamado de multiculturalismo. Esse termo também designa um movimento teórico e político em defesa da pluralidade e da diversidade cultural que reivindica o reconhecimento e a valorização da cultura das chamadas minorias.161 Como movimento, o multiculturalismo é legítimo e um importante instrumento de luta contra o racismo, a discriminação e o preconceito contra determinados grupos percebidos como diferentes e marginalizados. O problema do multiculturalismo está no ranço ideológico contrário à cultura judaico-cristã. Por vezes, extremistas e críticos exacerbados colocam as mazelas sociais de grupos minoritários como sendo culpa da supremacia da religião cristã. Desse modo, o movimento multiculturalista faz empenho em questionar, culpar e desconstruir a cultura cristã. Uma das ferramentas utilizadas com esse propósito é a propagação do “relativismo cultural”. Na língua portuguesa, a palavra “relativismo” tem origem no latim relatus, que significa “aquilo que é relativo”, que depende de alguma coisa. A ideia central dessa teoria é de que não existe verdade absoluta. O filósofo grego Pirro de Élis (360–270 a.C.) desenvolveu a ideia de que coisa alguma pode ser afirmada com absoluta certeza, e Protágoras (490–410 a.C.) tornou-se famoso pela citação “O homem é a medida de todas as coisas”. O conceito afirma que a verdade não é algo fixo, que sofre modificações e está condicionada a cada sociedade conforme a sua época e cultura. Nesse cenário, destaca-se que, entre os sinais que antecedem a volta de Cristo, estão o surgimento de falsos cristos, falsos profetas e a apostasia (Mt 24.5,11,24). Desse modo, na pós-modernidade, mercê do liberalismo teológico de desconstrução da fé ortodoxa, a autoridade bíblica é contestada, e o relativismo doutrinário é instalado. Faz-se uma releitura seletiva da Bíblia para agregar à igreja os que não aceitam a sã doutrina (2 Tm 4.3). Alega-se que a ética e a moral cristã não podem ser parâmetro para o modo de vida e visão de mundo das pessoas e que a fé cristã, por ser o construto da sociedade, deve ser modificada e adequada aos tempos modernos. O relativismo doutrinário, aliado à ideologia secularista, impõe o que deve ser considerado como ideal. Assim, o pecado é aceito e tolerado. O crente renovado, todavia, deve reagir contra essa inversão de valores e “[...] batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd v. 3). 3. Batalha Espiritual As Escrituras dizem que Satanás é o “deus deste século” e que o mundo jaz no Maligno (2 Co 4.4; 1 Jo 5.19). Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 90) realça que o modus operandi dos demônios e do seu Maioral é a mentira, o erro e o engano. A mentira é uma das características da natureza satânica. Jesus disse que o Diabo é o pai da mentira (Jo 8.44). Com o engano, ele começou as suas atividades contra o ser humano (Gn 3.13; 2 Co 11.3). É com essa arma que ele e os seus agentes ainda seduzem as pessoas (Ap 12.9). Diante dessa realidade, Esequias Soares (2018, p. 34, 35) traz o seguinte alerta: A cegueira espiritual e a falta de discernimento são desafios para os servos de Deus. No contexto da culta brasileira, em que as manifestações de espíritos acontecem em diversos cultos religiosos, o assunto de batalha espiritual não parece estranho às pessoas porque é algo que se vê. Assim, os crentes identificam com facilidade quando há uma atuação demoníaca. Mais difícil, entretanto, é perceber a atuação do inimigo no sistema de ideias e nas estruturas que estão fundamentadas na injustiça e no pecado. De fato, as artimanhas malignas não ocorrem de forma perceptível a todos. Os espíritos malignos têm capacidade de influenciar os que vivem na desobediência (Ef 2.2). Refere-se a uma ação demoníaca que manipula e aprisiona pessoas, colocando-as contra Deus. Somente os espirituais e amadurecidos na fé recebem capacidade para discernir os ardis de Satanás (Hb 5.13,14). A sabedoria humana não é eficaz na batalha espiritual (1 Co 2.13,14).162 Por conseguinte, a Bíblia alerta que nossa luta não é contra o homem, mas contra os demônios (Ef 6.12). Deus, contudo, não deixou a sua Igreja vulnerável diante das hostes do mal. Ao contrário, uma poderosa armadura espiritual está disponível a todos os cristãos (Ef 6.11,13). Assim, o crente renovado, de posse da armadura de Deus, deve posicionar-se “contra as astutas ciladas do Diabo [...], orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito” (Ef 6.11,18). CONCLUSÃO Durante a existência do corpo mortal, nosso homem exterior estará sujeito às tribulações (2 Co 4.11). Apesar do padecimento e das aflições, nosso homem interior não deve desfalecer, mas ser renovado por meio do poder do Espírito Santo (2 Co 4.16). Os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com o peso de glória eterna reservada aos fiéis (2 Co 4.17). Em tempos pós-modernos, de ataques e desconstrução da fé cristã, necessitamos a cada dia de renovação interior para o enfrentamento do poder do pecado e do mal. 153 HARRISON, Everett (Ed.). Comentário Bíblico Moody. São Paulo: Editora Batista Regular, 2010, vol. 2, p. 649. 154 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento – Atos a Apocalipse. Rio: CPAD, 2008, p. 514. 155 ARRINGTON, French (Ed.). Comentário Bíblico Pentecostal do N.T. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1.077. 156 HARPER, A. F. Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, vol. 8, p. 428. 157 BAPTISTA, Douglas. A Supremacia das Escrituras. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p. 152. 158 HARPER, 2006, vol. 8, p. 428. 159 ARRINGTON, 2003, p. 1.092. 160 HENRY, Carl (org.). Dicionário de Ética Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007, p. 541. 161 SILVA, Afrânio et al. Sociologia em Movimento. São Paulo: Editora Moderna, 2013, p. 121. 162 BAPTISTA, Douglas. Igreja Eleita. Rio de Janeiro: CPAD, 2020, p. 175. D Capítulo 11 Cultivando a Convicção Cristã Porque a nossa exortação não foi com engano, nem com imundícia, nem com fraudulência (1 Ts 2.3) iante das incertezas do tempo presente e dos ataques às doutrinas bíblicas, torna-se indispensável o crente cultivar profunda convicção cristã (2 Tm 1.12-14). Não cabe ao salvo esmorecer em meio às tribulações, mas prosseguir confiante pelo prêmio da soberana vocação (2 Co 4.1; Fp 3.14). Neste capítulo, estudaremos os aspectos da convicção espiritual, moral e social de nossa fé cristã. O objetivo é despertar em cada cristão o desejo de ser um autêntico “embaixador de Cristo” em um mundo de trevas. I. CONVICÇÃO ESPIRITUAL1. Poder do Espírito Na segunda viagem missionária de Paulo (49–52 d.C.), por orientação divina, o evangelho de Cristo foi proclamado na Europa. Após ter sido impedido pelo Espírito Santo de anunciar a Palavra na Ásia e na Bitínia (At 16.6,7), o apóstolo teve uma visão em que um homem dizia-lhe: “Passa à Macedônia e ajuda-nos!” (At 16.9). A partir dessa revelação, a mensagem da cruz foi anunciada em Filipos e, depois, em Tessalônica e Corinto (At 16.10-12; 17.1; 18.1). David J. Williams (1996, p. 307) arrazoa que: Os missionários reconheceram o sonho de Paulo como orientação divina (o verbo significa “somar parcelas”, à semelhança de nossa expressão “somando tudo”) de modo que logo depois desta visão, procuramos partir, isto é, eles “procuraram” meios de obedecer (este é o sentido do grego) – inquirindo a respeito de navios e outras coisas. A partir de Trôade, Paulo e os seus companheiros Silas, Timóteo e Lucas navegaram em direção à Macedônia (At 16.11,12). Chegando a Filipos, uma colônia romana, após expulsar um “espírito de adivinhação” de uma jovem pitonisa, Paulo e Silas foram severamente castigados com varas em praça pública e lançados na parte inferior da prisão municipal (At 16.16,18,22,23). Esses sofrimentos, contudo, não os dissuadiram, pois, cheios do poder do Espírito Santo, oravam e cantavam hinos a Deus perto da meia-noite (At 16.25). Ao milagre da graça demonstrado nas vidas dos missionários, Deus acrescentou outro de caráter natural: um grande terremoto sacudiu a prisão e soltou a cadeia de todos (At 16.26).163 E, naquela madrugada, o carcereiro e toda a sua casa receberam a salvação (At 16.33,34). Após sofrerem tais tribulações, ainda com os vergões das varas e as marcas dos grilhões no corpo, os missionários viajaram para Tessalônica tomados de plena convicção (At 17.1-10). Mais tarde, o apóstolo atestaria que o anúncio do evangelho em Tessalônica não foi mero discurso racional, “mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” (1 Ts 1.5, ARA). Significa que, na pregação, os missionários conheceram a sanção do Espírito Santo, dando força espiritual às palavras que diziam e produzindo neles grande confiança.164 A Boa Nova foi ministrada com total ousadia no poder do Espírito, de modo que resultou na salvação e libertação de almas (1 Ts 1.6-10). Assim, constata-se que, na ausência de convicção espiritual, a Palavra de Deus é reduzida a mero intelecto humano, e o seu resultado é inócuo na transformação de vidas (Mt 7.29; 1 Co 2.1-5). 2. Confiança em Deus Paulo declara que, mesmo tendo “padecido e sido agravados em Filipos” (1 Ts 2.2a) a fé deles não estava abalada. O registro bíblico revela que a irritação das autoridades deu-se, porque se perdera a esperança de lucro, por causa do exorcismo do espírito da pitonisa (At 16.19). A narrativa, porém, foi a de acusar os missionários de introduzir práticas ilícitas na cidade, “propagando costumes que [aos] romanos não [era] permitido aceitar nem praticar” (At. 16.21, NVI). O Comentário Bíblico Pentecostal (2003, p. 721) destaca que: esta acusação se refere aos missionários converterem cidadãos romanos [...] os romanos eram proibidos pela lei de se converterem [...]. Assim toda a pregação evangelística feita pelos missionários seria visto como contrário a lei. Aqui, os magistrados cometeram abuso de poder. Os direitos de cidadão romano de Paulo e Silas foram violados e, arbitrariamente, sem julgamento formal, ambos foram condenados à prisão (At 16.35-40). Matthew Henry (2008, vol. 1. p. 77) enfatiza que: há, nesta história, um exemplo vivo da afronta e fúria dos perseguidores (que é o que podemos encontrar se formos chamados a sofrer por Cristo) e da coragem e consolo do perseguido. Neste cenário, a convicção espiritual é o que impulsionava os missionários a prosseguir, tornando-os ousados em Deus (1 Ts 2.2b). O Comentário do N. T. Aplicação Pessoal (2009, vol. 2, p. 437) esclarece que: Somente esta coragem sobrenatural poderia ajudar os homens a enfrentar a perseguição com ousadia, porque a ameaça da oposição não tinha ficado para trás, em Filipos. [...] Em Tessalônica, os inimigos tinham iniciado uma revolta contra Paulo e Silas e seus ensinos. Os líderes judeus tinham declarado que Paule e Silas eram culpados de traição contra César, porque estavam professando fidelidade a outro rei, Jesus (At 17.7). Em nosso atual contexto, a perseguição religiosa já é perceptível em nosso país. Cita-se, por exemplo, que a pregação contrária à homossexualidade pode ser enquadrada na lei do racismo, com punição de um a cinco anos de prisão e multas (Art. 20, Lei 7.716/1989). A condenação e a expulsão de espíritos malignos podem ser enquadrados como racismo e preconceito religioso (Dec. 11.446/2023). Infelizmente, a “laicidade”, ou “laicismo”, tornou-se a ordem do dia, silenciando, pela simples menção, toda e qualquer tentativa de análise teológica de nossa realidade política.165 Não obstante, em Tessalônica, em meio às perseguições e lutas, Paulo e os seus companheiros anunciaram o evangelho de Cristo com ousada confiança no Deus Todo-poderoso (1 Ts 2.2c). Desse modo, somos igualmente encorajados a não desfalecer na pregação do evangelho, mas, confiados em Deus, jamais recuar e nem mesmo se atemorizar diante das ameaças de prisões ou de morte (Ap 2.10). 3. Fidelidade na Pregação Paulo assegura que o evangelho anunciado em Tessalônica “não foi com engano, nem com imundícia, nem com fraudulência” (1 Ts 2.3a). Nesse versículo, ele enumera três das principais acusações recebidas dos judeus. Em primeiro lugar, os seus adversários procuravam colocar o evangelho em descrédito, argumentando que a mensagem da cruz era um engano ou erro, dando a ideia de que Paulo estava iludindo as pessoas, principalmente quanto à sua identificação de Jesus como o Messias.166 Em segundo lugar, os opositores questionavam a integridade moral e a motivação do apóstolo. Eles equiparavam a fé cristã com os ritos de imoralidade sexual dos cultos pagãos e difamavam o cristianismo como praticante da mesma imundície. Por fim, retratavam o apóstolo como fraudulento, que usava de artifícios para atrair e ludibriar a fé de pessoas ingênuas e incautas objetivando vantagens de ordem pessoal. Defendendo-se, Paulo declara que o evangelho é de Deus e que foi Ele próprio que o comissionou como arauto (1 Ts 2.4a). O apóstolo demonstra total fidelidade ao evangelho que lhe fora confiado, “não como para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos corações” (1 Ts 2.4b). Ratifica que a doutrina cristã não procede de fábulas inventadas, condutas indecorosas ou de artimanhas para seduzir as pessoas a crer em mentiras (1 Ts 2.5; 2 Pe 1.16). Dessa forma, o propósito paulino não era o de satisfazer os seus ouvintes com falsos discursos (1 Ts 2.6; Tg 1.22). O Comentário Bíblico Pentecostal do N.T. (2003, p. 1373) arrazoa que: As mesmas linhas de ataques e acusações podem ser identificadas em nosso século [...] infelizmente, os ministérios públicos sinceros e os charlatões provavelmente têm sido pintados com o mesmo pincel dos céticos. Quer sejam inflamados pelo erro na pregação de alguém, sem nenhuma razão – dizendo ser a religião fora de moda que só procura o poder ou edificar um império, ou trapacear os inocentes e incautos no que se refere a dinheiro – o combustível para as fornalhas das acusações tem permanecido essencialmente o mesmo. Nesse sentido, somos exortados a manter fidelidade na pregação bíblica. Nosso compromisso é defender a verdade do evangelho, repudiar os falsificadores da Palavra de Deus e anunciar a Cristo com sinceridade (2 Co 2.17). French Arrington (2003, p. 1373) observa que “precisamos considerar o dever de viver a pureza e uma vida reta a fim de evitar trazer reprovação ao nome de Cristo” (Tt 1.6-9; 1 Pe 3.13-17; 4.14-19). II. CONVICÇÃO MORAL 1. Retidão nas Ações O Dicionário Vine (2002, p. 949) descreve “retidão” como “caráter ou qualidade de ser reto ou justo”. Acrescenta que o termo faz alusão “a tudo o que é certo oujusto em si mesmo, ao que quer que se conforme com a vontade revelada de Deus” (Mt 5.6,10,20; Jo 16.8,10). Nesse conceito, a conversão opera transformação e retidão moral na vida do crente salvo (2 Co 5.17). Desse modo, a Bíblia orienta-nos, dentre outras coisas, a deixarmos a mentira e falarmos a verdade (Ef 4.25); a deixarmos o furto e sermos honestos (Ef 4.28) e a não pronunciarmos palavras torpes e dizermos apenas o que edifica (Ef 4.29). Nesse aspecto, na obra Igreja Eleita (2020, p. 44), enfatiza-se que: Segundo a revelação das Escrituras, o crente salvo deve pautar as suas atitudes segundo a moral bíblica, baseado na integridade, e não de acordo com o contexto social em que se está inserido. [...] Desse modo, um crente fiel não só deve fazer a diferença, como também o seu comportamento deve ser referencial para a sociedade. Como resultado, velhos hábitos são abandonados, condutas reprováveis são descartadas, e nítidas mudanças comportamentais são percebidas. Assim, aqueles que desenvolvem “a nova natureza de Cristo adquirem caráter que não somente perdura, como também transforma”. Coerente com a mensagem transformadora do evangelho, Paulo reivindica a retidão das suas ações ao afirmar à igreja em Tessalônica que “nunca usamos de palavras lisonjeiras, nem houve um pretexto de avareza” (1 Ts 2.5). O apóstolo novamente refuta a infâmia e a calúnia dos judeus acerca da sua conduta. Ao contrário de alguns retóricos ambulantes da época, que buscavam obter fins egoístas mediante discurso insincero,167 Paulo enfatiza que jamais usou de falso sentimento para obtenção de favor algum. E, ainda, o apóstolo ratifica que a sua motivação era desprovida de qualquer ambição financeira (1 Ts 2.5b). Paulo assegura que jamais fizera do seu ministério um pretexto de ganância ou de fins lucrativos. Ao contrário dos falsos oradores do seu tempo, que ensinavam o que as pessoas pagavam para ouvir, o apóstolo não almejava nenhum benefício pecuniário. Para autenticar a retidão da sua postura, Paulo invoca o próprio Deus como a sua testemunha (1 Ts 2.5c). Contudo, lamentavelmente, não são poucos os falsificadores da Palavra de Deus em nossos dias. Os tais, motivados pelo desejo de ascensão, cobiça e demais interesses espúrios, fazem uso de lisonjas e adulações para manipular, seduzir e extorquir os fracos na fé e os que têm falta de discernimento (2 Tm 4.3,4). Somente o falso cristão é que busca poder, o lucro e a influência por meio da bajulação mentirosa (Rm 16.18). A conduta de retidão é virtude do crente regenerado (Cl 3.23; 1 Jo 3.18). 2. Reputação Ilibada Considera-se portador de reputação ilibada o que tem reconhecida idoneidade moral (At 6.3). O conceito de idoneidade moral relaciona-se diretamente às virtudes de respeitabilidade, de honra, de dignidade, de seriedade e de bons costumes.168 Em virtude da relevância do termo, sendo esse um requisito para o acesso a cargos públicos, o ex-Senador da República Pedro Simon (PMDB– RS) propôs alteração na Lei de Introdução ao Código Civil. O Projeto de Lei do Senado (PLS 401/2009) assim define os conceitos de reputação ilibada e idoneidade moral: I – Reputação ilibada: é a situação em que a pessoa não teve, e não tem contra si, antecedentes de processos penais transitados em julgado ou processos judiciais criminais em andamento. II – Idoneidade moral: é o atributo da pessoa íntegra, imaculada, incorrupta, que, no agir, não ofende os princípios éticos vigentes em dado lugar e época. No contexto da ética e da moral cristã, Paulo avalia ser portador de idoneidade moral e de reputação ilibada por meio do versículo: “E não buscamos glória dos homens, nem de vós, nem de outros” (1 Ts 2.6a). Somado às demais virtudes, o apóstolo ratifica que o seu interesse na proclamação do evangelho não incluía a busca de reconhecimento, exaltação, aplausos ou elogios de homens. Aos Gálatas, ele escreveu que o seu chamado não consistia em agradar aos homens, mas a Deus (Gl 1.10). Nesse quesito, o Comentário Beacon (2006, vol. 9, p. 368) conjectura que: Se tais expressões ocorreram, poderiam ser apreciadas de passagem, sem serem aproveitadas como um fim em si mesmas. Não devemos considerar estas palavras como desaprovação de expressões amáveis de estima a quem ministra. [....] Autopromoção, vantagem egoísta, glorificação de si mesmo — como são sutis estas tentações na vida do trabalhador cristão que é inflamado com a ambição de ganhar almas para Cristo e promover o seu Reino! Mas, como atesta Paulo, “os limpos de coração” estão cientes da pureza de motivos. Paulo adotou essa conduta em todo lugar, demonstrando a coerência e a integridade do seu apostolado. Ele não procurava obter “vantagem” e nem “honra” em parte alguma (1 Ts 2.5,6). Aos Coríntios, escreveu que o crente deve gloriar-se no Senhor, e não em si próprio (1 Co 1.29,31). Os que aspiram fama e prestígio caem em tentação e maculam o evangelho. Nosso viver deve glorificar a Deus. A Ele seja a glória, na Igreja e em Cristo Jesus, para sempre! (Ef 3.21). 3. Vida Irrepreensível O adjetivo irrepreensível denota uma conduta que não pode ser censurada (Ef 5.27: 1 Ts 3.13). Quando usado como advérbio, significa que nenhuma acusação pode ser mantida, absolutamente nenhuma acusação pode ser feita.169 Nesse contexto, Paulo invoca tanto a Deus como a igreja em Tessalônica como testemunhas da sua postura “santa, e justa e irrepreensível” (1 Ts 2.10). Essa tríade de termos empregados por Paulo pode ser assim definida: (1) santamente ou piamente, que descreve o dever da pessoa para com Deus; (2) justamente ou retamente, que indica o dever para com os homens, mas também enfatiza a vida justa perante Deus; (3) irrepreensivelmente, que denota comportamento pessoal incensurável, inculpável.170 Essas designações implicam em obediência nas questões morais, atitude de retidão exemplar e conduta sem motivo algum de reprovação (1 Co 9.16-23). Denota o padrão de comportamento para com Deus, para com os homens e para consigo mesmo (1 Co 9.27). O apóstolo era ciente da influência que a sua vida exercia sobre os fiéis. A conduta acima de qualquer suspeita vivenciada diariamente por Paulo certamente servia de aprendizado para a Igreja: “[...] para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes” (2 Ts 3.9). Nesse mister, “aqueles que transmitem a mensagem do Evangelho a outros devem não apenas proclamar a mensagem, mas também vivê-la; eles devem ser exemplos dignos de ser seguidos”.171 A respeito desse dever, Mattew Henry (2008, vol. 2. p. 681) salienta que: A conduta geral e o comportamento deles deve ser de acordo com o bom exemplo que o apóstolo e aqueles que estavam com ele deram a eles: vós mesmos sabeis como convém imitar-nos (2Ts 3.7). Aqueles que plantaram a religião no meio deles tinham dado um bom exemplo diante deles; e os ministros do evangelho deveriam ser exemplos ao rebanho. O dever dos cristãos não é somente andar de acordo com as tradições dos apóstolos, e as doutrinas que pregavam, mas também de acordo como o bom exemplo que deixaram [...] O bom exemplo particular que o apóstolo menciona era diligência deles, que era tão diferente das pessoas desregradas que andavam no meio deles. Nessa concepção, avalia-se positivamente o desprendimento de Paulo e dos seus companheiros não apenas em atender o chamamento divino, mas também o de apresentar-se como modelo de fé para a Igreja (1 Co 4.16; 11.1; 9.26,27; Fp 3.17). Do contrário, os missionários assemelhar-se-iam à hipocrisia dos escribas e fariseus (Mt 23.15). Desse modo, constata-se que o grau de comprometimento adotado pelo crente que possui os valores do Reino é o reflexo do nível da sua comunhão com Deus (1 Co 10.32). III. CONVICÇÃO SOCIAL 1. Bem-Estar Comum O bem-estar comum alcança o homem nas suas necessidades físicas e espirituais. O bem comum constitui-se ao mesmo tempo de um direito e de um dever do cidadão. A consciência de ser responsável pelo bem comum na sociedade pertence à tradição cristã. Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 28) ensina que aBíblia é o manual de Deus para toda a humanidade e que as suas instruções também visam à felicidade humana e ao bem-estar espiritual e social de todos os seres humanos (2 Tm 3.16,17). O papel da Igreja é o de proclamar o evangelho (Mt 28.19) e aliviar o sofrimento promovendo bem-estar social (Tg 2.15,16). No âmbito social, por exemplo, a Igreja pode e deve somar esforços no combate à fome, ao desemprego, à violência, à injustiça e à discriminação, dentre outros. Reitera-se que a justiça social sempre foi uma bandeira defendida pelo cristianismo (Tg 1.27; 2.15- 18). A pauta social, todavia, foi sequestrada pelo espectro secularista-ideológico e também pelo liberalismo teológico que reivindica para si a paternidade das questões sociais. Carl Henry (2007, p. 228) analisa que: Na América do século dezenove, parece que os evangelistas e os revivalistas que viajavam até a fronteira não só pregavam o evangelho da salvação interna como também defendiam os desempregados, desprovidos, ébrios, analfabetos, a viúva, o órfão, ameríndio caçado e o negro escravizado. [...] O avivamento teológico ligado a Karl Barth havia trazido, no final das décadas de 1940 e 1950, uma forte reavaliação do idealismo social [...] não será exagero dizer que o evangelho social teria se tornado prisioneiro de interesses radicais. Faltando a correção das Escrituras e a direção do Espírito Santo, ele deixou de ser uma expressão saudável da consciência social da igreja e, mutas vezes, tornou-se refúgio para extremistas e anarquistas. O profeta Habacuque registra que os problemas sociais da sua época eram resultado dos pecados cometidos, tais como inversão de valores; violência e injustiças (Hc 1.1-4). Assim, o mal social tem origem no pecado, por isso, deve ser denunciado e abandonado por meio da pregação do evangelho. A prática do amor cristão é antídoto para as injustiças sociais. Ciente disso, Paulo escreve: “[...] quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas ainda a nossa própria alma” (1 Ts 2.8). Esse sentimento paulino para com a igreja é comparado ao cuidado de uma mãe que se preocupa e protege os filhos (1 Ts 2.7). Também é equiparado ao proceder de um pai amoroso que se interessa pelos problemas dos filhos (1 Ts 2.11b). Era assim que Paulo encorajava, confortava e servia de exemplo à igreja (1 Ts 2.11a). Nessa direção, o dever cristão engloba a moral e o social. Salienta-se, porém, que o exclusivismo moral em detrimento de pautas sociais e, por sua vez, a causa social em prejuízo da moral não retratam o genuíno evangelho de Cristo (Tg 4.17). 2. Dedicação Altruísta Paulo dedicou-se com profundo altruísmo na propagação do evangelho (At 20.24). Apesar do direito inerente ao seu apostolado, ele decidiu nada receber: “[...] ainda que podíamos, como apóstolos de Cristo, ser-vos pesados” (1 Ts 2.6b). Paulo teve uma dedicação altruísta em favor do Reino de modo que, sempre que possível, ele recusava ajuda financeira (At 20.33,34). Isso não significa que, quando necessário, ele não tenha recebido de bom grado o apoio pecuniário da Igreja (1 Co 16.17; Fp 4.18). Contudo, em boa parte do seu ministério, o apóstolo valeu-se do seu ofício de fabricante de tendas para prover o necessário sustento (At 18.3). E, acerca disso, recordava aos irmãos do seu “trabalho e fadiga; pois, trabalhamos noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós” (1 Ts 2.9). Para não se tornar um fardo para a igreja, Paulo desgastou-se numa atividade laboral extenuante. A Bíblia não condena a provisão financeira para os obreiros. O próprio Paulo escreveu: “[...] aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho” (1 Co 9.14), e ainda: “[...] Digno é o obreiro do seu salário” (1 Tm 5.18). O apóstolo explica que não usou dessa prerrogativa porque conhecia a extrema pobreza da igreja (2 Co 8.1,2), que suportou as restrições para não criar obstáculo ao evangelho (1 Co 9.11,12); que tudo fez para ganhar o maior número possível de almas (1 Co 9.19). Nesse contexto, French Arrington (2003, p. 1.375) enfatiza que: A história do modelo de liderança sacrificial de Paulo ressoa através dos séculos, e pode ser claramente ouvida por todos os que são chamados para as posições de liderança, quer sejam remuneradas ou não. Deve-se esperar que o ministério demande muita força de vontade, seja um trabalho árduo e exija muito daqueles que nele trabalham. Aqueles que sinceramente cuidam de pessoas e honram o chamado de Deus serão considerados imitadores da dedicação de Paulo. Assim sendo, todos quantos possuem plena convicção da sua salvação e chamado são motivados a trabalhar não por vanglória humana, mas para a glória de Deus (1 Co 10.31). O amor sacrificial e o abnegado trabalho são essenciais para o crescimento do Reino. Quanto ao galardão, o escritor aos Hebreus declara que Deus não é injusto para esquecer-se da vossa obra e deseja que “cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança” (Hb 6.10,11). CONCLUSÃO Paulo foi submetido a uma série de provações durante o seu ministério cristão (1 Ts 2.2). Não obstante, o apóstolo deixou-nos um exemplo de intensa convicção de nosso chamado e eleição em Cristo (1 Co 11.1). Destacam-se: a sua convicção espiritual resultante do poder do Espírito (1 Ts 2.4); a sua convicção moral como reflexo do temor a Deus (1 Ts 2.5) e a sua convicção social demonstrada pela abnegação em servir (1 Ts 2.9). Ratifica-se que carecemos em nossos dias dessa firme convicção em defesa dos interesses do Reino de Deus na terra. 163 WILLIAMS, David J. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Atos. São Paulo: Vida. 1996, p. 318. 164 HARPER, A. F. (Ed.). Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, vol. 9, p. 362. 165 RUSHDOONY, Rousas. Cristianismo e Estado. Trad. Fabrício Tavares de Moraes. Brasília: Editora Monergismo, 2018, p. 24. 166 ARRINGTON, French (Ed.). Comentário Bíblico Pentecostal do N.T. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1.372. 167 HARPER, A. F. Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, vol. 9, p. 368. 168 ALANO, Mayara de Sousa. Possibilidade de Inscrição nos Quadros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Inidoneidade Moral em Razão de Violência Contra Mulher. (Monografia apresentada ao Curso de Direito). Tubarão: Universidade do Sul de Santa Catarina, 2019, p. 29. 169 VINE, W. E. Dicionário Vine. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p 724. 170 RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave Linguística do NT Grego. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 438. 171 RIBAS, Degmar (Trad.). Comentário do Novo Testamento: Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, vol. 2, 471. O Capítulo 12 Sendo a Igreja do Deus Vivo Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja (Ef 5.32) s efeitos da secularização são percebidos quando a sociedade deixa de ser pautada pelos valores da fé cristã (2 Tm 3.1-5). Infelizmente, a Igreja não está imune a essas influências nocivas (2 Pe 2.1). Neste capítulo, abordaremos a natureza da Igreja, o seu relacionamento com Cristo e as armas que impedem a secularização da igreja local. A proposta é chamar a atenção para o papel da Igreja do Deus vivo como coluna e firmeza da verdade (1 Tm 3.15). I. A NATUREZA DA IGREJA DE CRISTO 1. Cristo, o Fundamento da Igreja Paulo afirma que, nesse edifício espiritual, “Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” (Ef 2.20). Aqui, o apóstolo faz alusão à arquitetura antiga, em que a construção de um edifício requeria uma pedra angular. “Pedra angular” é traduzida como a “pedra mais importante” ou “pedra principal”, na qual a estrutura da construção era sustentada. Nesse contexto, aprendemos no Sermão do Monte que o homem prudente edifica a sua “casa espiritual” sobre essa rocha, que é Cristo Jesus (Mt 7.24).172 Nessa direção, William Hendriksen (2013, p. 170) esclarece que: Além de ser a pedra angular de um edifício parte do fundamento, e, portanto, suporte da superestrutura, ela determina sua forma final, visto que, ao estar colocada na esquina formada pela junção de duas paredes primárias,fixa a posição de duas paredes e das que cruzam no resto do edifício. Todas as demais pedras devem ajustar-se a ela. Desse modo, John Stott (2007, p. 73) pondera que: Assim como um edifício depende, para sua coesão e para o seu desenvolvimento, de ser seguramente vinculado a uma pedra angular, assim também Cristo, a pedra angular, é indispensável para a união e o crescimento da igreja. A não ser que esteja constante e seguramente relacionada com Cristo, a união da Igreja desintegrar-se-á e seu crescimento cessará ou será desordenado. Nessa concepção, somente a verdadeira Igreja de Cristo subsistirá. Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 119) ratifica que a Igreja foi fundada por nosso Senhor Jesus Cristo, pois Ele mesmo disse: “[...] sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Essa pedra é o próprio Cristo: “Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina” (At 4.11), tendo a doutrina dos apóstolos por fundamento e Jesus como a principal pedra de esquina. 2. A Casa do Deus Vivo Paulo orienta Timóteo como “andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo” (1 Tm 3.15a). A expressão “casa de Deus” foi emprestada do Antigo Testamento, em que o termo frequente é “Casa do SENHOR” (1 Rs 3.1; 1 Cr 22.11). Nesse sentido, Hendriksen (2001, p. 173) lembra que casa, aqui, “é a tradução correta (no sentido de habitação), e não família (ou casa no sentido de família). Os crentes são a casa de Deus ou seu santuário, porque Deus habita neles”. O uso original do termo refere-se ao Templo, mas o complemento “que é a igreja do Deus vivo” inclui o conjunto de membros da igreja. O apóstolo ainda utiliza os vocábulos “família da fé” (Gl 6.10, NAA); “família de Deus” (Ef 2.19); “corpo de Cristo” (1 Co 12.27); e “templo de Deus” (1 Co 3.16). Além dessas designações, existem várias outras expressões no Novo Testamento em referência à Igreja. O Dicionário Exegético Vine (2002, p. 419, 485, 511 e 819) leciona que: Ekklesia: Esta é a palavra grega mais comumente usada para designar a igreja no Novo Testamento. Ela significa “assembleia” ou “congregação” (Mt 16.18; At 2.47). [...] Koinonia: Esta palavra grega é usada para descrever a comunhão que os crentes têm uns com os outros (1Co 1.9; 1Jo 1.7). [...] Corpo de Cristo: Este termo é usado para descrever a união entre os crentes e Cristo (1Co 12.27: Cl 1.18). [...] Noiva de Cristo: Este termo é usado para descrever a relação entre Cristo e a igreja como uma união matrimonial (Ap 19.7). A sentença “Deus vivo” enfatiza o verdadeiro Deus em contraste com os ídolos mortos (1 Co 8.4; 2 Co 6.16; 1 Ts 1.9). Mathew Henry (2008, vol. 2, p. 692) discorre que Deus é a fonte da vida. Ele é a própria vida e aquEle que dá a vida. A Igreja é a casa do Deus vivo; Ele mora lá. Ali podemos ver o poder e a glória de Deus. É a Igreja do Deus vivo, pois é a presença vivificadora de Deus que impulsiona o todo.173 Isso faz alusão ao “teísmo”, cuja doutrina professa que Deus é um ser pessoal, transcendente, imanente e que atua na história humana (Dn 4.25; At 17.24). 3. A Coluna e Firmeza da Verdade Paulo assegura Timóteo de que a Igreja do Deus vivo é “a coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3.15b). Nessa metáfora, a Igreja é o fundamento que sustenta a verdade. Significa que foi instituída como guardiã da verdade por Deus revelada (2 Tm 1.13,14). A maior parte das ocorrências do termo “verdade” no Novo Testamento encontra-se nas Epístolas de Paulo e é muitas vezes equivalente ao “evangelho” ou “mensagem” (Rm 2.2,16; Cl 1.5; Gl 2.14).174 Portanto, essa verdade é o Evangelho de Cristo, as Boas Novas de salvação e as suas imutáveis doutrinas (Gl 2.5; Ef 1.13; Cl 1.5). O Comentário Bíblico Pentecostal (2003, p. 1.465) discorre que: É aconselhável que a congregação saiba como se comportar, pois a igreja é o povo de Deus, “a coluna e firmeza da verdade”. A confiança sagrada da igreja é verdadeira, se a verdade for comprometida, a própria igreja estará em risco. Os falsos mestres, por exemplo, já abandonaram a verdade (1 Tm 6.5; 2Tm 2.18; 3.8; 4.4). É crucial que Timóteo não somente silencie os falsos mestres (1 Tm 1.3-11), mas também coloque a igreja novamente sobre o seu correto alicerce. Nesse aspecto, Matthew Henry (2008, vol. 2, p. 692) esclarece que: Não que a autoridade das Escrituras dependa da autoridade da Igreja, como os papistas querem, porque a verdade é a coluna e fundamento da Igreja; mas é a Igreja que anuncia as Escrituras e a doutrina de Cristo, como a coluna à qual uma proclamação é afixada. [...] Quando a Igreja deixa de ser a coluna e o fundamento da verdade, vamos acabar abandonando-a; porque nosso respeito pela verdade deve ser maior do que o nosso respeito pela Igreja; já não somos mais obrigados a continuar na Igreja quando ela deixa de ser a coluna e o fundamento da verdade. Por conseguinte, é responsabilidade da Igreja propagar, testemunhar e defender a verdade (Mt 28.20; Jo 18.37; Jd 1.3). Desse modo, no zelo pela verdade, os líderes da igreja devem ser irrepreensíveis (1 Tm 3.1-13) e capazes de repudiar os falsos mestres e as suas heresias (1 Tm 1.3-11). Se a verdade do evangelho for corrompida, a Igreja deixa de ser o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5.13,14). Ratifica-se que a verdade refere-se à mensagem do evangelho, que “Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores” (1 Tm 1.15), verdade esta que Paulo identifica como o “mistério da piedade” (1 Tm 1.16). 4. O Mistério da Piedade A verdade do evangelho é personificada em Cristo (Jo 14.6). F. F. Bruce (2002, p. 256) destaca que “Jesus não é somente o caminho até Deus; ele é a verdade de Deus — como poderia ser diferente, já que ele é a corporificação da autorrevelação de Deus?”. Nessa concepção, Paulo diz: “[...] grande é o mistério da piedade” (1 Tm 3.16a). A expressão “mistério da piedade” ocorre somente aqui, embora a palavra “mistério” apareça outras vezes nos escritos de Paulo. O termo “mistério” sinaliza que a verdade do evangelho foi revelada aos santos (Cl 1.26). O vocábulo “piedade” retrata a base do cristianismo, isto é, a fé cristã. Na sequência, o apóstolo faz uma síntese do mistério da piedade, o evangelho revelado, a base da fé cristã: “Aquele que se manifestou em carne foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo e recebido acima, na glória” (1 Tm 3.16). O Comentário Bíblico Beacon (2014, vol. 9, p. 477) elucida que: Aqui, como em outras ocasiões, supomos que o apóstolo está usando o fragmento de um hino cristão primitivo que, a seu modo, esboça o drama do evento-Cristo. [...] No conjunto, é melhor reconhecermos uma progressão cronológica no hino (supondo que o seja), e propormos que diz respeito a: 1) a encarnação, 2) a ressurreição, 3) a ascensão, 4) a pregação do Evangelho, 5) a resposta dada ao Evangelho e 6) a vitória final de Cristo. “Justificado em espírito” [...], quer dizer, ressuscitado pelo poder do Espírito Santo. Este é, então, o mistério da piedade ou, como traduz certa versão, “a verdade revelada da nossa religião” (NTLH). E esta mensagem da qual a igreja coletivamente e cada cristão individualmente é “coluna e baluarte”. Em síntese, o mistério da piedade é o conjunto das doutrinas elementares do cristianismo. Por esse motivo, ratifica-se, então, que: (i) “Deus manifestou-se em carne”, isto é, Cristo fez-se carne; (ii) “foi justificado no Espírito”, ou seja, Cristo morreu e ressuscitou; (iii) foi “visto dos anjos”, isto é, Cristo foi adorado nos céus na ascensão; (iv) “pregado aos gentios”, ou seja, indica que Cristo foi anunciado; (v) “crido no mundo”, isto é, Cristo foi aceito como Salvador; e (vi) “recebido acima na glória”, o que aponta que Cristo ascendeu em triunfo ao Céu de glória e assentou-se à destra do Pai. Aleluia! A Igreja é a fiel portadora dessa verdade (2 Co 2.17). II. CRISTO E O RELACIONAMENTO COM A IGREJA 1. Santificação e Pureza Paulo ensina que Cristo morreu pela Igreja “para que a santificasse,tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra” (Ef 5.26, ARA). O texto mostra que Cristo purifica-nos do pecado na regeneração (1 Co 6.11; Tt 3.5) e que nossa santificação estava inclusa no propósito do calvário (1 Ts 4.16; Hb 13.12). A lavagem da água é usada de forma figurada; simboliza a Palavra de Deus, que opera limpeza espiritual (Jo 15.3). Alguns intérpretes consideram que a expressão “por meio da lavagem de água” também faz referência ao batismo nas águas. No entanto, é preciso atentar que o ato do batismo é um símbolo de nossa união com Cristo e, ao mesmo tempo, a confissão pública dessa união (Rm 6.3-5). “O batismo não é salvação; somos salvos pela graça mediante a fé [Ef 2.8,9]. O perdão dos pecados está em conexão com o arrependimento que precede o batismo”.175 Não se refere, portanto, à regeneração pelo batismo, mas à pureza da regeneração, que é testemunhada pelo batismo (Tt 3.5).176 Não obstante, o enfoque está na santificação da Igreja. E, nesse sentido, Cristo orou: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). A santificação é o ato de separar-se do pecado em toda a maneira de viver, bem como preparar-se para a volta do Senhor (1 Pe 1.15; Hb 12.14). No Antigo Testamento, a palavra hebraica qadash, traduzida por “ser santo”, possui o significado básico de separação do uso comum para a dedicação a Deus e ao seu serviço.177 O Novo Dicionário de Teologia (2009, p. 892) leciona que “santificação” apresenta a ideia tanto de limpeza (Êx 19.10,14) quanto de consagração, além de dedicação ao serviço de Deus (Êx 19.22; Dt 15.19; 2 Sm 8.11; Is 13.3). Contudo, o significado de santificação e santidade estende-se além do ritual para a esfera moral. No Novo Testamento, o termo grego mais comum traduzido por santo é hagios. No singular, é usado com o adjetivo para descrever Deus e o seu Espírito. No plural, é empregado como substantivo para referir-se ao povo de Deus.178 O verbo hagiazo é utilizado no sentido ritual de separar algo dentre o que é comum para a utilização com propósitos sagrados (Mt 6.9; Jo 10.39; 1 Pe 3.15). A expressão hagnos refere-se particularmente à pureza no sentido ético. Em termos gerais, “a obra da santificação é a separação de tudo que é contrário à pureza do Espírito”.179 Esse processo de santificação da Igreja é contínuo e prossegue até a glorificação final no dia de Cristo (Rm 6.22; 8.30; Fp 3.21). 2. Gloriosa e Irrepreensível A santificação tem como alvo preparar uma “igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5.27). A Bíblia compara Cristo e a Igreja com a relação que existe entre marido e esposa (2 Co 11.2). Assim, a Igreja é a noiva de Cristo, que se prepara para a festa nupcial (Ap 21.2,9). Durante essa espera, por meio do Espírito Santo, Cristo santifica-a para apresentá-la a si mesmo totalmente pura (2 Ts 2.13). John Stott (2017, p. 171) descreve que: A santificação parece referir-se ao processo presente de torná-la santa no caráter e na conduta pelo poder do Espírito que nela habita, ao passo que a apresentação é escatológica e ocorrerá quando Cristo voltar para tomá-la para si mesmo. Ele a apresentará a si mesmo gloriosa (endoxon). [...] “Glória” (doxa) é o irradiar de Deus, o brilho e a manifestação do seu ser, doutra forma ficaria oculto. Assim, também, a natureza verdadeira da Igreja se tornará aparente. Na terra, frequentemente está em trapos e farrapos, manchada e feia, desprezada e perseguida. Um dia, porém, será vista pelo que ela é, nada menos do que a noiva de Cristo, “sem mácula, sem ruga, sem qualquer deformação”, santa e sem defeito, bela e gloriosa. É com esse fim construtivo que Cristo tem trabalhado e continua trabalhando. A noiva não se torna apresentável; é o noivo que trabalha para embelezá-la, a fim de apresentá-la a si mesmo. Nesse aspecto, o Espírito Santo usa a palavra de Deus para operar a santificação em nossa vida (Cl 3.16, 17). Warren Wiersbe (2019, vol. 6, p. 66) pontua que “uma vez que a Igreja é contaminada pelo mundo, precisa sempre ser purificada, e o agente dessa purificação é a palavra de Deus”. A ausência de “mácula” e de “ruga” significa sem mancha alguma de ordem moral ou espiritual. À medida que a Igreja é purificada pela Palavra Deus, as manchas desaparecem. Vestida nesse grau de pureza, somente a Igreja “santa e imaculada” terá acesso à ceia das bodas do Cordeiro (Ap 19.7-9). Acerca disso, Cristo advertiu não ser possível entrar nas bodas sem a devida veste nupcial (Mt 22.11-13). 3. O Mistério de Cristo e da Igreja Paulo assevera que: “Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja” (Ef 5.32). Como já visto, “mistério” refere-se à revelação de algo desconhecido. Esse versículo tem relação com unidade. Assemelha-se ao mistério da união de todas as coisas em Cristo (Ef 1.9,10) e da união entre judeus e gentios no Corpo de Cristo (Ef 3.3-6). Desse modo, o “mistério revelado” aqui diz respeito à união entre Cristo e a Igreja. William Hendriksen (2013, p. 305) ratifica que: Evidentemente Paulo quer dizer que o mistério é a comparação do matrimônio com a união entre Cristo e a Igreja. A união de Cristo com a Igreja, que do eterno deleite na presença do Pai de tal maneira arrastou o unigênito Filho de Deus para submergir-se nas pavorosas trevas e terríveis angustias do Calvário, salvando seu povo rebelde, eleito dentre todas as nações, e chegando ainda a habitar em seus corações por meio do Espírito Santo com a finalidade de apresentá-lo – embora um povo inteiramente indigno – a si mesmo como sua própria esposa, com quem chegou a ter uma comunhão tão intima que não existe no mundo uma metáfora sequer que lhe pudesse fazer jus, tal união é em e por si mesmo um mistério. O Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal (2009, vol. 2, p. 349) corrobora que: O quadro que vivenciamos no casamento é uma analogia do relacionamento entre Cristo e os crentes. [...] Quando Paulo contemplou o amor e a lealdade mútuos, a liderança afetuosa do marido e a submissão amorosa da esposa, as riquezas guardadas, a intimidade e a unidade, e o auto sacrifício que devem caracterizar todo casamento, ele viu nestes um retrato de Cristo e sua Igreja. Desse modo, ratifica-se que o matrimônio é empregado como uma imagem da Igreja e a sua relação com Cristo. Essa união somente é possível como resultado do amor e sacrifício de Cristo pela sua noiva (Ef 5.25). A expressão “grande é este mistério” refere-se, portanto, a uma importante e profunda verdade que está sendo revelada. A ênfase dessa revelação é a comunhão entre a Igreja e o Senhor Jesus que culminará com as bodas do Cordeiro (Ap 19.7). III. AS ARMAS DA IGREJA CONTRA A SECULARIZAÇÃO 1. O Zelo pela Verdade Enfatizamos que a verdade bíblica é absoluta e imutável (Lc 21.33; Jo 17.17). O evangelho de Cristo é a única verdade (Jo 14.6). John Higgins (apud HORTON, 1997, p. 107) reitera que “a inspiração verbal e plenária eleva o conceito da inspiração até à plena infalibilidade, posto que todas as palavras são, em última análise, palavra de Deus. A Escritura é infalível porque é a Palavra de Deus, e Deus é infalível”. Por essa razão, a Bíblia não falha; não erra; é a verdade em tudo quanto afirma (Mt 5.17,18; Jo 10.35). A Teologia Sistemática Pentecostal (2013, p. 24) corrobora que: Os ortodoxos afirmamos que a Bíblia é a Palavra de Deus. Dessa forma, colocamo-la no lugar em que ela tem de estar como a nossa suprema e inquestionável árbitra em matéria de fé e prática. Se a Escritura diz, é a nossa obrigação ser-lhe obediente sem quaisquer questionamentos. Ela é soberana! Os cristãos jamais deixaram de ser dogmáticos quanto à origem divina da Bíblia. Nossa Declaração de Fé (2017, p. 26) é enfática ao afirmar que: A inspiração da Bíblia é especial e única, não existindo um livro mais inspirado e outro menos inspirado, tendo todos o mesmo grau de inspiração e autoridade. A Bíblia é nossa única regra de fé e prática, a inerrante, completa e infalível Palavra de Deus: “alei do SENHOR é perfeita” (Sl 19.7). É a Palavra de Deus, que não pode ser anulada: “e a Escritura não pode falhar” (Jo 10.35 – ARA). A Igreja é a “fiel depositária” dessa verdade revelada nas Escrituras (1 Tm 3.15). Os crentes em Cristo são despenseiros da mensagem da redenção (1 Co 4.2; 1 Pe 4.10). Jesus fez uso desse símbolo nas suas parábolas: “os dois servos” (Mt 24.45-51); “os talentos” (Mt 25.14-30); “o servo vigilante” (Lc 12.35-38); “o mordomo infiel” (Lc 16.1-13); e “as dez minas” (Lc 19.12-26). Significa que, durante a espera pelo retorno de Cristo, cada discípulo deve cumprir o seu dever com irrestrita lealdade. Por conseguinte, esse compromisso é inegociável. A Igreja deve zelar pela verdade das Escrituras, viver e propagar a mensagem bíblica com toda a fidelidade (2 Tm 4.2). Nesse caso, o verdadeiro cristão não cede às ideias secularistas, em que a fé cristã não serve de parâmetro para a ética e a moral da vida em sociedade. Para o crente salvo, a verdade é única e absoluta: Cristo Jesus! (Jo 14.6). 2. O Ensino da Verdade Deus constituiu líderes para o aperfeiçoamento e edificação da Igreja (Ef 4.11,12). O líder, portanto, deve estar apto para ensinar a verdade bíblica (1 Tm 3.2). Refere-se à capacidade de compreender as Escrituras, defender a ortodoxia e refutar as heresias (Tt 1.9). Paulo deixa claras exortações quanto a esse compromisso: “Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.2). O Comentário Bíblico Beacon (2019, vol. 9, p. 531, 532) explica que: Por a palavra o apóstolo quer dizer a mensagem relativa a Cristo como Redentor, Salvador e Senhor. É o que o Novo Testamento quer dizer por querigma ou proclamação. Este deve ser o teor da pregação cristã. Nenhum sermão é realmente sermão, a menos que deixe explícita a verdade bíblica. Instes a tempo e fora de tempo pode ser traduzido por “insista em todas as ocasiões, convenientes ou inconvenientes” (NEB; cf. BJ, BV, CH, NTLH). Esta determinação nos mostra o senso de urgência que deve caracterizar nossa pregação. Isso acarreta necessariamente a responsabilidade de corrigir e repreender (redarguas e repreendas; cf. BAB, BV, RA), e o dever mais positivo de animar (exortes; cf. CH, NTLH). Temos de provocar em todos que nos ouvem a disposição de reagir em total obediência à Palavra de Deus. Acima de tudo, o servo de Deus deve cultivar a graça da paciência (longanimidade; cf. BJ, CH, NTLH, NVI) em seus esforços de levar as pessoas a Cristo e ministrar-lhes o ensino segundo a verdade cristã (doutrina; cf. AEC, CH, NTLH). Dessa forma, a verdade bíblica deve ocupar a primazia na Igreja (1 Tm 4.13; 2 Tm 2.15). Lutero ensinou na Tese 54 que se ofende a Palavra de Deus quando, no sermão, não se dedica o tempo ao estudo da Bíblia. Não ensinar as Escrituras, relativizar as suas doutrinas ou fazer concessões ao pecado equivale a fazer a Igreja refém da secularização. Somente a verdade é capaz de libertar o pecador (Jo 8.32). Desse modo, um líder vocacionado não cede ao liberalismo teológico, ao ecumenismo e ao sincretismo religioso (2 Co 2.17; 2 Tm 4.3,4). 3. A Defesa da Verdade A Palavra de Deus adverte a Igreja a não ensinar outra doutrina (1 Tm 1.1-7), ratifica que há um só Mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2.5) e assevera que não há salvação fora de Cristo (At 4.12). Essa verdade é inamovível (Ap 22.18,19). Por conseguinte, a defesa da fé decorre do zelo e do ensino da verdade, mas também da oposição às heresias. Os falsos ensinos são propagados por aqueles que têm a consciência e o entendimento corrompidos pelo erro, e esses falsos mestres precisam ser desmascarados (Tt 1.11,15). O meio mais eficaz para refutar a mentira é confrontar o engano com a verdade (2 Co 13.8). Não ensinar a igreja equivale a deixá-la perecer. Não obstante, a verdade das Escrituras não deve ficar restrita à liturgia do culto no templo. Embora o secularismo e o laicismo acuem a igreja no espaço privado, Cristo ordenou que a mensagem fosse pregada em todo o mundo (Mt 28.19,20). O líder que não está apto para defender a fé conduzirá um rebanho doente e suscetível a todo vento herético. A Bíblia diz que não tem a Deus quem ensina falsas doutrinas, não concorda com a sã doutrina e nela não permanece (1 Tm 6.3; 2 Jo 1.9). Quem tolera ou justifica tal atitude faz-se cúmplice das suas obras más (2 Jo 1.10,11). Por isso, a Igreja não pode temer o patrulhamento ideológico e nem o politicamente correto. Somos o baluarte da verdade, compelidos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos (Jd v. 3). CONCLUSÃO Mercê dos ataques de desconstrução da fé, a Igreja do Deus vivo precisa ser vigilante (1 Co 16.13). Ela é a guardiã da única verdade que liberta (Jo 8.36). A mensagem da cruz não pode ser ressignificada. Cristo morreu e ressuscitou por amor à Igreja e requer que ela seja santa, pura e irrepreensível (Ef 5.27). A noiva de Cristo, portanto, não pode ser secularizada a fim de não macular as suas vestes. O seu papel abarca ensinar e defender com todo o zelo a integridade da verdade revelada (1 Tm 4.16). 172 BAPTISTA, Douglas. A Igreja Eleita. Rio de Janeiro: CPAD, 2020, p. 92,93. 173 HARPER, A. F. (Ed.). Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, vol. 2, p. 692. 174 HARRISON, Everett F. (Ed.). Comentário Bíblico Moody: Mateus a Apocalipse. São Paulo: Editora Batista Regular, 2010, vol. 2, p. 635. 175 SOARES, E. (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 128. 176 ARRINGTON, L. F. (Ed.). Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1.260. 177 JENNEY, Timothy (apud HORTON, 1996, p. 412). 178 JENNEY, Timothy (apud HORTON, 1996, p. 419). 179 HENRY, Carl (org.). Dicionário de Ética Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, ٢٠٠٧, p. ٥٣٧. A Capítulo 13 O Mundo de Deus no Mundo dos Homens Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel. (Emanuel traduzido é: Deus conosco) (Mt 1.23) s Escrituras revelam que haverá um futuro Reino literal de Deus; porém, na presente dispensação, o Reino é espiritual: “ele está entre vós, no meio de vós, e dentro de vós” (Lc 17.21 ARC, TB, HD). Neste capítulo, veremos a implantação do Reino de Deus no mundo e o contraste entre o viver de quem pertence ao Reino e o viver de quem pertence ao mundo. O propósito é lembrar como Deus age para habitar conosco e reforçar que, embora vivamos grandes desafios, o Reino de Deus permanece agindo no mundo por meio da Igreja (Mt 5.16). I. O REINO DE DEUS NO MUNDO 1. A Encarnação de Cristo Mateus assevera que a profecia messiânica cumpre-se no nascimento de Jesus (Mt 1.21,22; Is 14.7). Cristo, o “EMANUEL: Deus conosco” (Mt 1.23) foi concebido pelo Espírito Santo no ventre da virgem Maria. Os Evangelhos ratificam que Ele é “filho do Deus Altíssimo” (Mc 1.1; Lc 1.32). João revela que o “Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Significa que Cristo fez-se homem no tempo determinado (Gl 4.4). Ele agora possui duas naturezas, verdadeiro homem e verdadeiro Deus (Rm 9.5). A essa doutrina dá- se o nome de “União Hipostática”. David R. Nichols (apud HORTON, 1997, p. 324, 325) descreve que: A união hipostática descreve a união entre as naturezas humana e divina na Pessoa única de Jesus. [...] O ensino bíblico acerca da humanidade de Jesus revela-nos que, na encarnação, Ele tornou-se plenamente humano em todas as áreas da vida, menos na prática de um eventual pecado. [...] Na experiência que Jesus teve da morte, temos uma das comprovações mais poderosas de que sua humanidade foi completa. Ele era tão humano que sofreu a morte de um criminoso. [...] Jesus era capaz de sentir em profundidade as emoções humanas. Conforme vemos nos evangelhos, Ele sentia dor, tristeza, alegria e esperança. Assim acontecia porque Ele compartilhava conosco a realidade da alma humana. [...] Finalmente Jesus possuía um corpo humano, igual ao nosso. [...] Era igual a nós em todos os aspectos,exceto que nunca pecou. E, quanto a divindade de Cristo, acrescenta que: Os escritos do Novo Testamento atribuem divindade a Jesus em vários textos importantes. [....] As informações do Novo Testamento a respeito desse assunto levam-nos a reconhecer que Jesus não deixou de ser Deus durante a encarnação. Pelo contrário, abriu mão apenas do exercício independente dos atributos divinos. Ele ainda era plena Deidade no seu próprio ser, mas cumpriu o que parece ter sido imposto pela encarnação: limitações humanas reais, não artificiais. [...] Certamente, a Bíblia apresenta amplas evidências de suas afirmações sobre a humanidade e a divindade de Jesus. A sua encarnação fez-se necessária para satisfazer a justiça de Deus: o pecado entrou no mundo por um homem, Adão; assim, tinha de ser vencido por um homem, Jesus (1 Tm 2.5). O pecado de Adão trouxe “juízo de condenação”, mas a obediência de Cristo trouxe “justificação de vida” (Rm 5.12,18,19). Ele participou de nossa natureza para expiar nossos pecados (Hb 2.14-18). A expiação constitui-se na razão da encarnação e da morte de Jesus.180 2. A Mensagem do Reino João Batista foi o precursor de Cristo na implantação do Reino. A mensagem apregoada no deserto da Judeia requeria mudança de vida: “[...] Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mt 3.2). Após ser batizado no Jordão e vencer a tentação no deserto, Cristo deu início ao seu ministério: “Desde então, começou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mt 4.17). Portanto, a mensagem do Reino contém forte apelo ao arrependimento (Mt 3.2; 9.3). O Dicionário Bíblico Wycliffe (2006, p. 209) leciona que: As palavras heb. mais comuns para arrependimento vêm da raiz naham e significam uma mudança de ideia ou de propósito, ou, às vezes, lamentar-se. O conceito do NT, porém, é mais corretamente expressado pelo verbo heb. shub, que significa “converter-se”, ou “retornar”, e é, às vezes, traduzido como “arrepender-se” (Ez 14.6; 18.30). [...] A doutrina do arrependimento é apresentada mais claramente no NT pelo substantivo metanoia e seu verbo coligado. Onde quer que esse substantivo ou verbo ocorra, há um convite para que os homens se convertam de seus pecados e busquem a graça de Deus, ou ainda um registro ou referência desta atitude de arrependimento. O Dicionário Vine (2002, p. 415) destaca que: O verbo grego metanoeõ [...] sempre envolve no Novo Testamento uma mudança para o melhor, uma emenda, e sempre, exceto em Lc 17.3,4, diz respeito ao “arrependimento” do pecado. A palavra é encontrada nos Evangelhos Sinópticos, em Lucas, nove vezes, em Atos, cinco vezes, em Apocalipse, 12 vezes, sendo oito nas mensagens às igrejas (Ap 2.5, duas vezes; Ap 2.16; 2.21, duas vezes; Ap 3.3,19 — as únicas igrejas nesses capítulos que não contêm exortação ao arrependimento são as que estão em Esmirna e Filadélfia). Nesse aspecto, ratifica-se que arrependimento significa mudança de mente e abrange o abandono do pecado e o voltar-se para Deus (Lc 24.46,47). Compreende uma nova atitude espiritual e moral, bem como uma nova conduta (At 26.20; Ef 4.28). Somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Cristo podem restaurar o homem a Deus (At 3.19; Rm 3.23-25; 2 Co 7.10). Nesse sentido, a Escritura ensina que Deus “quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2.4). Contudo, Ele próprio estabeleceu as condições para ser salvo A condição mais elementar é estar em Cristo (Ef 1.1-4). E, para estar em Cristo, é preciso ter fé (Ef 3.17) e arrepender-se dos seus pecados (At 2.38). Porém, nenhuma dessas condições é meritória, e nenhum homem pode cumpri-las sem o auxílio e a capacitação divina. Por conseguinte, o papel da Igreja é proclamar essa mensagem do Reino em todo o mundo (Mt 24.14). 3. Os Valores do Reino Carl Henry (2007, p. 548) enfatiza que o Sermão do Monte “tem sido entendido como a aplicação maior da ética de amor ao próximo [...] ele nos aponta ao Senhor, forçando assim uma decisão quanto à nossa obediência”. O Sermão proferido por Cristo reúne princípios do mais alto idealismo moral. No Sermão do Monte, Cristo revela os elementos da ética e da moral do Reino, que têm como objetivo indicar a conduta ideal para a retidão cristã. Esse comportamento precisa exceder a justiça dos escribas e fariseus (Mt 5.20). Contudo, a nova justiça não é a repetição do legalismo judaico; pelo contrário, ela é alcançada por meio da obra redentora de Cristo, que conduz o crente à obediência (2 Co 10.5). Nicholas T. Wrigth (2009, p. 138) avalia que: O reino de Deus invadiu o mundo presente, ofereceu um alvo que Aristóteles e seus colegas jamais imaginariam. Os seres humanos foram chamados, por fim, a redescobrir para que foram criados, para que Israel foi criado. Deveriam ser, afinal, reis e sacerdotes, seguir a Jesus na conquista completa do reino e sacerdócio, e precisavam aprender, a partir do zero, o que isso significa. Seria necessário praticar a virtude – de um tipo nunca pensado. No compêndio de virtudes, Cristo apresenta alguns exemplos, tais como: o necessário controle da ira (Mt 5.21,22); a fuga da imoralidade sexual (Mt 5.27,28); o casamento indissolúvel (Mt 5.31,32); a honestidade no falar (Mt 5.33-37); o não revidar as ofensas (Mt 5.38-44); a esmola, a oração e o jejum a partir de um coração sincero (Mt 6.1,5,16); o não julgar os outros (Mt 7.1,2); o alerta sobre os dois caminhos (Mt 7.13,14); a advertência contra os falsos profetas (Mt 7.15-23); e a exortação para a prática desses valores (Mt 7.24-29). Nesse sentido, o sermão representa uma nova postura, que nos chama para uma vida de perfeição (Mt 5.48) e convida-nos a priorizar o Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6.33). O Sermão do Monte é prático e relevante como a nova vida em Cristo — e, como tal, é um dom e uma tarefa ao mesmo tempo.181 Assim, os filhos do Reino devem expressar esses valores no seu viver diário (Ef 5.8). Não de modo farisaico ou de aparência de religiosidade, pois “os discípulos são chamados a estabelecer os sinais de uma nova justiça e a contar com o poder das possibilidades de Deus em sua obediência”.182 II. AS BÊNÇÃOS DE UMA VIDA NO REINO 1. Remissão dos Pecados Aos Gálatas, Paulo retrata a nova posição dos crentes em Cristo. O apóstolo afirma que “[...] éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo” (Gl 4.3). Significa que, antes do Evangelho do Reino, a percepção espiritual tanto de judeus como de gentios era limitada, legalista e supersticiosa. Porém, no tempo assinalado, “[...] Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4) para remir a humanidade da escravidão do pecado (Gl 4.5a). O Comentário Bíblico Pentecostal (2003, p. 1.165/66) assevera que: As palavras “Deus enviou o seu Filho” e “nascido de mulher” se referem à pré-existência de Cristo e sua encarnação (Jo 1.14; Fp 2.5-11). A encarnação de Cristo é qualificada adicionalmente pelas palavras “nascido sob a lei”. [...] A encarnação de Cristo dentro do contexto racial e religioso do judaísmo foi feita “para que” o plano de Deus pudesse ser realizado. [...] Em sua vida obedeceu à lei, e em sua morte recebeu a penalidade máxima da lei. Deste modo Ele era especialmente qualificado para “resgatar” ou “redimir” aqueles que foram escravizados pela lei. [...] Aqueles que estavam debaixo da lei foram libertos de sua direção opressora e adotados, passando a fazer parte da família de Deus. Desse modo, a morte expiatória de Cristo libertou o homem da maldição da Lei e da potestade das trevas (Gl 3.13; Cl 1.13). O termo “expiação” ou o verbo “expiar” refere-se a sacrifício para purificação e perdão dos pecados, só que o significado primário dessa palavra é “cobrir”, cuja ideia é de cobrir com sangue: “[...] porquanto é o sangue que fará expiação pela alma” (Lv 17.11). Enquanto princípio, é reafirmado no Novo Testamento: “[...] sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb 9.22).183 A Teologia Sistemática Pentecostal (2008,p. 354) esclarece que: Cristo na cruz, pelo seu sangue expiou os nossos pecados uma vez para sempre — “... porque isso fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo” (Hb 7.27); “doutra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo; mas, agora, na consumação dos séculos, uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb 9.26) —, mas a salvação só se realiza na vida de cada pecador quando este aceita o Redentor, Jesus Cristo. Assim, o sacrifício de Cristo operou uma grande redenção (Ef 1.7). Outro aspecto importante é a reconciliação dos pecadores com Deus por intermédio da cruz de Cristo (Ef 2.13;16). A obra da cruz é ratificada como suficiente para a remissão de nossos pecados. Pecadores, outrora escravos e condenados e, pelos méritos de Cristo, agora livres e perdoados são elevados à condição de filhos por adoção (Gl 5.5b). 2. Adoção de Filhos Adotar é tornar alguém “filho” pela lei e pelo afeto. Pode-se definir “adoção” como a inserção num ambiente familiar, de forma definitiva e com aquisição de vínculo jurídico próprio da filiação, segundo as normas legais.184 Entre os gentios, a adoção era um ato voluntário que abrangia os privilégios da herança e obediência ao pai adotivo. Paulo faz analogia ao filho adotado (cristão), que, sob a autoridade do pai adotivo (Deus), recebe o direito de pertencer à família cristã (Rm 8.15; Gl 4.5; Ef 1.5). Germano Soares (2015, p. 101) pondera que: A redenção a respeito da lei é, sem dúvida, o pressuposto para receber a filiação, e isto para todos, tanto judeu quanto gentios. Estes foram recebidos como filhos por meio da adoção. A palavra traduzida como adoção é um termo técnico jurídico. [...] A nova posição do homem, a de não ser mais escravo da lei do mundo, acontece a partir do momento em que aceita a Cristo como filho. O homem é livre enquanto está unido juridicamente ao pai por uma arte de direito. O conceito de filiação ressalta a livre ação de Deus não apoiada em existência alguma e, ao mesmo tempo, a mediatização da nossa categoria de filho. A obra Igreja Eleita (2020, p. 46) assevera que: Paulo é o único escritor do Novo Testamento que emprega o termo “adoção” (Rm 8.15,23; 9.4; Gl 4.5; Ef 1.5). A prática da adoção não fazia parte do sistema legal judaico, porém era comum entre os romanos e perfeitamente conhecida entre os gentios. Assim, o apóstolo enfatiza que foi do agrado de Deus predestinar os eleitos a ser adotados como filhos “segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef 1.5b). Nossa posição é imerecida, contudo, aprouve ao Pai fazê-lo assim conforme o seu querer (Mt 11.26). Essa constatação exalta a misericórdia divina e assinala que a adoção foi motivada pelo “muito amor com que nos amou” (Ef 2.4). Assim, noutro tempo, éramos estranhos e inimigos, mas agora somos filhos reconciliados em Cristo (Cl 1.21). Deus concedeu aos filhos a dádiva de um novo nome e uma nova imagem: a de Cristo (Rm 8.29; Ap 2.17). A redenção e a remissão de pecados são concedidas, e a comunhão é restabelecida com a intimidade de clamar “Aba, Pai” (Gl 4.6). A filiação abrange deveres com o Pai e com a Igreja de Cristo, cujo papel é refletir o Reino de Deus no mundo (Ef 5.1,2).185 3. Herdeiros de Cristo Como resultado de nossa adoção, agora como filhos, somos “também herdeiros de Deus por Cristo” (Gl 4.7). Deus é o autor de toda riqueza que agora está a nossa disposição por realmente termos sido adotados como filhos.186 Os benefícios dessa herança já podem ser desfrutados no tempo presente e serão plenos após a Segunda Vinda do Senhor. Paulo enfatiza que passamos a ser herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm 8.17). Matthew Henry (2008, vol. 2, p. 354) elucida que: O céu é uma herança de que todos os santos são herdeiros. Eles não chegam a ele como pessoas que o adquiriram por qualquer mérito ou aquisição da sua parte; mas como herdeiros, puramente pela ação de Deus, pois Deus os torna herdeiros. [...] Temos aqui um resumo da herança: (1) “...herdeiros de Deus...”. O próprio Senhor é a porção da herança dos santos (Sl 16.5), uma herança formosa (Sl 16.6). [...] (2) “...coerdeiros de Cristo”. Diz-se que Cristo, como Mediador; é o herdeiro de todas as coisas (Hb 1.2), e os verdadeiros crentes, em virtude de sua união com Ele, “...herdarão todas as coisas” (Ap 21.7). Aqueles que agora participam do Espírito de Cristo, como seus irmãos, participarão, como seus irmãos, de sua glória (Jo 17.24), se assentarão com Ele em seu trono (Ap 3.21). Nessa herança, estão inclusas as promessas feitas à Abraão (Gl 3.29). Isso não diz respeito à Terra Prometida a Abraão, mas, sim, “às bençãos espirituais da justificação por meio da fé, que incluem todos os aspectos da vida cristã, tanto na vida presente como na futura. São herdeiros no sentido absoluto”.187 Ratifica-se, aqui, a maravilhosa herança da vida eterna (Tt 3.7; Ef 3.6) e o privilégio de conhecer Deus face a face (1 Co 13.12) Não obstante, ao ser aceitos, fomos transformados em filhos “para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado” (Ef 1.6). O propósito da remissão de pecados — a filiação e a herança — não tem outro alvo senão a glória de Deus (Ef 1.6,12,14). A Igreja nunca terá glória em si mesma; toda a glória é exclusivamente tributada a Deus por intermédio da obra de Cristo (Sl 115.1; Jo 13.31,32). Assim, a Igreja é o campo onde se exterioriza o Reino de Deus aqui no mundo (Ef 3.10-12). III. OS MALES DE UMA VIDA NO MUNDO 1. Escravidão do Pecado A Bíblia assevera que quem comete pecado é servo do pecado (Jo 8.34). F. F. Bruce (2002, p. 174) enfatiza que Jesus “faz ver que existe outro tipo de escravidão, além da sujeição social ou econômica. O pecado é um senhor de escravos, e é possível até que as pessoas que se consideram livres sejam escravas do pecado”. Significa que o ser humano é escravo daquilo que o controla (2 Pe 2.19). O Comentário Bíblico Expositivo Wiersbe (2019, vol. 6, p. 592) alerta que: Devemos ter cuidado com o “engano do pecado” (Hb 3.13). O pecado sempre promete liberdade, mas, no final traz escravidão. Promete vida, mas, em vez disso, traz morte. O pecado tem como característica amarrar a pessoa aos poucos até ela não ter como escapar sem a intervenção do Senhor em sua graça. Até mesmo a escravidão que o pecado cria é enganosa, pois as pessoas amarradas, acreditam, de fato, que são livres! Descobrem tarde demais que são prisioneiros dos próprios apetites e hábitos. Dessa forma, o pecado torna o homem incapaz de aceitar a Palavra de Deus (Jo 8.43). Quem é dominado pelo pecado não consegue receber o evangelho, porque não entende a essência da mensagem que é transmitida. A soberba impede-o de reconhecer a própria escravidão (Jo 9.41). Quem está nas trevas é culpado da própria obscuridade, porque a autoilusão faz com que ele feche os olhos para a luz da verdade.188 Deliberadamente se recusa a sair da escuridão, e o pecado permanece (Jo 3.20). O espírito do erro impele-o ao assassinato, ao aborto e ao suicídio, a proferir mentiras e a abraçar ideias progressistas (Jo 8.44), fazendo-o adotar a conduta imoral do adultério, da fornicação, da prostituição e da homossexualidade (1 Co 6.10). Subjugado pela carne, entrega-se à desonestidade, às injustiças, às glutonarias, ao uso de álcool, à nicotina e aos demais vícios (Rm 13.13). É o retrato de uma vida escravizada, sem paz de espírito, que trilha o caminho das trevas e necessita de urgente libertação (Jo 8.36). 2. Filhos da Ira A Bíblia enfatiza que os homens escravizados pelos desejos e pensamentos da carne são “por natureza filhos da ira” (Ef 2.3). Refere-se à inclinação em satisfazer as paixões e a praticar o mal inerente ao homem não regenerado (Gn 6.5). Indica toda sorte de perversão e todo apetite carnal desordenado. John Stott (2007, p. 48) registra que “incluem os desejos errados da mente e não somente do corpo, ou seja: pecados tais como a soberba intelectual, a falsa ambição, a rejeição da verdade conhecida e pensamentos maliciosos e vingativos”.Essas inclinações carnais — a imoralidade, a impureza, a avareza e a idolatria, entre outros — resultam na “ira de Deus sobre os filhos da desobediência” (Ef 5.3-6). Significa que a ira de Deus recai sobre tais pessoas a partir de agora, resultando em condenação no dia do julgamento (Rm 1.18; Ef 4.17,18).189 O apóstolo também adverte que a ira divina é inevitável sobre os filhos da insubordinação (Cl 3.6). O julgamento de Deus sobre esses pecados é amplamente atestado em toda a Sagrada Escritura (Rm 1.18-32; 1 Co 5.10,11; 6.9,10; 1 Ts 4.3-6).190 O Comentário do N. T. Aplicação Pessoal (2009, vol. 2) retrata que: A ira de Deus refere-se ao juízo de Deus sobre estes tipos de comportamentos. Deus não revela a sua ira arbitrariamente; a sua natureza moral perfeita não permitirá que o pecado e a maldade fiquem impunes. Embora a ira ocorra no presente — no momento em que chegam as consequências naturais do comportamento pecaminoso —, a culminação final da vontade de Deus vem com a punição futura e final que o Senhor infligirá sobre a iniquidade. As pessoas podem tentar evitá-la e fugir dela, mas a punição certamente alcançará queles que pecaram e que não creram em Cristo como salvador. Essa constatação implica em afirmar que tais pessoas não conhecem a Deus e/ou não obedecem ao evangelho e, por isso, estão debaixo de maldição e eterna perdição (Jo 3.36; 2 Pe 2.12-14; 2 Ts 1.8,9). Portanto, ninguém pode minimizar a seriedade do pecado e as suas terríveis consequências. O juízo divino alcançará tanto os insensatos e incrédulos quanto os iníquos e os falsos adoradores (Ec 11.9; 12.14; At 17.31; Rm 2.16). 3. Condenação Eterna Cristo ensinou que aquele que “não crê já está condenado” (Jo 3.18b). Quem não entrega a sua vida ao Salvador é condenado porque se recusa a crer “no nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3.18c). O pecado da incredulidade é o clímax da rebeldia que resiste a salvação ofertada em Cristo (Lc 7.30; At 7.51). O Comentário Bíblico de Beacon (2019, vol. 7, p. 52) discorre que: O propósito da Dádiva de Deus não era levar os homens a um julgamento, mas sim à salvação. Apesar disso, o julgamento é inevitável, e é o próprio homem que o causa, quando se recusa a aceitar a Dádiva mediadora e expiatória de Deus. O homem é livre para escolher o tormento sem Deus ao invés da felicidade em Deus [...]. O julgamento e a condenação não vêm para o homem que tem fé, porque quem crê nele não é condenado (Jo 3.18). A tradução literal seria: “Aquele que põe a sua fé nele [i.e., em Jesus Cristo] não está sendo julgado”. Quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. Esta afirmação forte por si mesma adquire um novo peso de advertência quando consideramos o tempo dos dois verbos: está condenado e não crê. No grego, ambos estão em tempo passado perfeito, apresentando um estado presente que é o resultado de uma ação passada. Assim, nesta vida, a condenação é um fato porque quem não crê já foi julgado. A condenação é um estado presente porque o que não crê se recusou a crer. Nessa concepção, qualquer um que deliberadamente rejeita a ética e a moral do Reino de Deus será julgado por causa da sua impiedade (2 Pe 2.12-14). O destino dos incrédulos é a condenação eterna ao Inferno (Mt 25.41). Não obstante, reitera-se que aquele que crê não é condenado (Jo 3.18a). Assim sendo, somos exortados: “Aquele, porém, que ficar firme até o fim, esse será salvo” (Mt 24.13 NAA). CONCLUSÃO Os judeus aguardavam um Reino literal para libertá-los da opressão política, social e econômica. Cristo corrigiu-os e afirmou que o “Reino de Deus não vem com aparência exterior” (Lc 17.20), isto é, não seria terreno, mas espiritual. O Reino literal ainda será implantado; mas Cristo veio para resgatar o homem do pecado no período da graça. Isso requer arrependimento e fé no sacrifício da cruz. Os que recusam a ética e a moral do Reino são condenados à morte eterna. Assim, os valores cristãos devem ser observados pela Igreja, cuja missão é anunciar o Reino de Deus ao mundo (Mt 28.19,20). 180 HAGNER, Donald. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Hebreus São Paulo: Vida, 1997, p.71. 181 HENRY, Carl. Dicionário de Ética Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 549. 182 BORNKAMM, G. Jesus de Nazaré. São Paulo: Teológica, 2005, p. 184. 183 SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 61. 184 MINISTÉRIO PÚBLICO. 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Com sólida fundamentação acadêmica, o autor apresenta, à luz da Declaração de Fé das Assembleias de Deus, a vitalidade da doutrina teológica institucional na formação do "ethos", isto é, da identidade http://www.mynextread.de/redirect/Amazon+%28BR%29/3036000/9786559682133/9786559682195/8708372ed8f83e0705b199aaaf23d730?dipaMethod=AUTHOR&ibpPosition=END&orderId=0 pentecostal e demonstra sua influência na esfera pública Compre agora e leia http://www.mynextread.de/redirect/Amazon+%28BR%29/3036000/9786559682133/9786559682195/8708372ed8f83e0705b199aaaf23d730?dipaMethod=AUTHOR&ibpPosition=END&orderId=0 Encorajamento, Instrução E conselho (Livro de Apoio Jovens) Santos, Thiago 9786559682430 160 páginas Compre agora e leia A leitura do livro de Salmos nos ensina o que é adoração. Adoração é muito mais do que cantar um hino ou tocar um instrumento musical. É mais que acordes e melodias. Adoração é um viver em santidade, verdade, quebrantamento e obediência ao Todo-Poderoso. Desejamos que você estude sistematicamente o livro de Salmos, não somente para ensiná-lo em sua classe de Escola Dominical, mas aplicando à sua vida. A leitura e o estudo sistemático vai permitir que você encontre um ensinamento novo da parte do Pai para cada dia do ano. http://www.mynextread.de/redirect/Amazon+%28BR%29/3036000/9786559682133/9786559682430/f3169ebd156995f825062732b31ad83f?dipaMethod=GENRE&ibpPosition=END&orderId=1 Compre agora e leia http://www.mynextread.de/redirect/Amazon+%28BR%29/3036000/9786559682133/9786559682430/f3169ebd156995f825062732b31ad83f?dipaMethod=GENRE&ibpPosition=END&orderId=1 Os Ataques Contra a Igreja de Cristo Gonçalves, José 9786559681105 160 páginas Compre agora e leia Neste livro, o pastor e escritor José Gonçalves mostra as esferas sociopolítica, ético-moral e espiritual onde o ataque a fé cristã tem se concentrado. Banalização da Graça de Deus, imoralidade sexual, normalização do divórcio, mídias sociais, materialismo, enfraquecimento da identidade pentecostal são algumas entre diversas outras sutilezas do inimigo abordadas nessa necessária. Compre agora e leia http://www.mynextread.de/redirect/Amazon+%28BR%29/3036000/9786559682133/9786559681105/b747824f73febded6957762eb8f1d18b?dipaMethod=TOPSELLER&ibpPosition=END&orderId=2 http://www.mynextread.de/redirect/Amazon+%28BR%29/3036000/9786559682133/9786559681105/b747824f73febded6957762eb8f1d18b?dipaMethod=TOPSELLER&ibpPosition=END&orderId=2 Aviva a Tua Obra Lima, Elinaldo Renovato de 9786559682645 160 páginas Compre agora e leia A realidade espiritual do mundo, nos últimos tempos, tem afastado a muitos que já tiveram conhecimento do evangelho, no seio das igrejas. É tempo de buscarmos um avivamento espiritual. Neste livro, o leitor aprenderá o conceito de avivamento e o reconhecerá descrito no Antigo e no Novo Testamento. Além disso, essa obra também aborda o avivamento espiritual no mundo e no Brasil e, por fim, a necessidade de um grande clamor nestes tempos que antecedem a vinda de Jesus. Compre agora e leia http://www.mynextread.de/redirect/Amazon+%28BR%29/3036000/9786559682133/9786559682645/a637c37060fd37eb5b9f0498c98c3ff2?dipaMethod=TOPSELLER&ibpPosition=END&orderId=3 http://www.mynextread.de/redirect/Amazon+%28BR%29/3036000/9786559682133/9786559682645/a637c37060fd37eb5b9f0498c98c3ff2?dipaMethod=TOPSELLER&ibpPosition=END&orderId=3 A Justiça Divina Soares, Esequias Soares & Daniele 9786559682911 160 páginas Compre agora e leia O livro de Ezequiel inaugurou o estilo literário apocalíptico no Antigo Testamento e revela a soberania e o poder de Deus sobre todas as nações da terra e sobre a história. Este livro será de grande ajuda para a compreensão da mensagem de Ezequiel pois a restauração da nação de Israel predita pelo profeta é um sinal importante da proximidade da vinda de Cristo. 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