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A Igreja de Cristo e o Império do Mal

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Prévia do material em texto

Roberto
Máquina de escrever
VENDA PROIBIDA
Todos os direitos reservados. Copyright © 2023 para a língua
portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus.
Aprovado pelo Conselho de Doutrina.
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em
parte, sob quaisquer formas ou meios (eletrônico, mecânico,
gravação, fotocópia, distribuição na web e outros), sem permissão
expressa da Editora.
Preparação dos originais: Cristiane Alves
Revisão: Miquéias Nascimento
Adaptação da capa: Elisangela Santos
Projeto gráfico e Editoração: Elisangela Santos
Conversão para Ebook: Cumbuca Studio
CDD: 240 – Moral Cristã e Teologia Devocional
e-ISBN: 978-65-5968-213-3 
As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e
Corrigida, edição de 2009, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo
indicação em contrário.
Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os
últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site:
https://www.cpad.com.br.
SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373
Casa Publicadora das Assembleias de Deus
Av. Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro – RJ
CEP 21.852-002
1ª edição: 2023
https://www.cpad.com.br/
E
Apresentação
stimados leitores, é com muito temor e tremor diante de
Deus que lhes apresento a obra A Igreja de Cristo e o
Império do Mal: como Viver Neste Mundo Dominado pelo
Espírito da Babilônia, que chega em suas mãos ou em sua tela
virtual. O tema e a abordagem aqui delineados são espinhosos,
porém imprescindíveis para o posicionamento da Igreja hodierna.
Em tempos de narrativas e cultura de cancelamento, a liberdade de
expressão, de pensamento, de culto e de crença está sob ameaça.
A pregação das doutrinas bíblicas tornou-se alvo de patrulhamento
ideológico. A defesa da fé ortodoxa é classificada como discurso de
ódio e enquadrada como homofóbica, preconceituosa,
discriminatória, entre outros. Não obstante, apesar desses ataques,
a Escritura exorta-nos “a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos
santos” (Jd 1.3).
Nesse contexto, este livro retrata que a Igreja de Cristo tem
atravessado um período de muitas dificuldades. Estamos num
período em que “o espírito da Babilônia” está dominando a
sociedade em que estamos inseridos. Quando o livro de Apocalipse
usa o termo “Babilônia”, refere-se a um império que tinha completo
domínio global, bem como domínio sobre o ser humano. A
expressão “mercadores de almas de homens” (Ap 18.13) simboliza
a dimensão e o poder desse reinado de trevas. Em nossos dias,
vivemos num contexto parecido em que muitas ideias anticristãs
dominam o mundo atual e que, infelizmente, têm influenciado muitas
igrejas.
Nesse cenário, o propósito desta obra é mostrar que o “espírito de
Babilônia” atua livremente na pós-modernidade, da mesma forma
como exerce nociva interferência na fé cristã, e que valores e
princípios têm sido solapados em muitos lugares por meio do
enfraquecimento de importantes doutrinas, por exemplo: a
relativização da doutrina do Pecado Original, que acaba sendo uma
porta aberta para uma série de distorções, tais como o
progressismo, a desconstrução masculina e feminina do papel de
ambos conforme a Bíblia ensina e a distorção de uma visão bíblica
elevada do corpo, etc. O presente trabalho, portanto, pretende ser
um guia que revele esses problemas e, ao mesmo tempo, promova
orientação e aconselhamento pastoral para o Corpo de Cristo: a
Igreja.
A obra também possui a pretensão de formar cristãos
comprometidos com a verdade bíblica e, desse modo, cumprir o
papel de auxiliar as Lições Bíblicas da Escola Dominical. Ressalta-
se que o pressuposto doutrinário e as afirmações dogmáticas
escudam-se na Declaração de Fé das Assembleias de Deus no
Brasil. A fonte de consulta bibliográfica, tal como as demais obras
de minha autoria, baseia-se em renomados escritores da teologia
pentecostal. A obra, contudo, não ignora os bons intérpretes da
teologia romanista e/ou reformada, cuja abordagem identifica-se, ao
menos nos pontos tratados no livro, com a confissão de fé das
Assembleias de Deus.
Agradeço o privilégio de contribuir com o Reino, que me é
concedido pelo Pr. José Wellington da Costa Júnior, presidente da
CGADB. Registro minha gratidão ao Dr. Ronaldo Rodrigues de
Souza, diretor executivo da CPAD, e ao pastor Alexandre Claudino
Coelho, gerente de Publicações, pela honra de publicar esta obra.
Ainda meu especial muito obrigado ao Pr. José Wellington Bezerra
da Costa, presidente do Conselho Administrativo da CPAD, pela
deferência e confiança depositada em nossa pessoa.
Agradeço também aos membros do Ministério da Assembleia de
Deus de Missão no Distrito Federal (ADMDF) pelas orações, apoio,
incentivo e compreensão. Agradeço ao Ev. Carlos Matheus
Maninho, que muito me auxiliou na digitação dos manuscritos. Por
fim, dedico este livro ao nosso Deus Eterno, Único, Santo e
Verdadeiro, à minha querida mãe, Maria Regina de Almeida
Baptista, à minha amada esposa, Missionária Dirlei da Silva da
Costa Baptista, às nossas lindas filhas, Priscila e Jéssica, aos
estimados genros Mauricio e Matheus, e à princesinha Catarina, a
bela e charmosa netinha com que o Senhor agraciou nossa família.
Desejo-lhe uma abençoada leitura!
Brasília, 29 de março de 2023
Pr. Douglas Roberto de Almeida Baptista
Líder do Conselho de Educação e Cultura da CGADB
Comentarista de Lições Bíblicas da CPAD
Sumário
Apresentação
Capítulo 1
A Igreja diante do Espírito da Babilônia
Capítulo 2
A Deturpação da Doutrina Bíblica do Pecado
Capítulo 3
O Perigo do Ensino Progressista
Capítulo 4
Quando a Criatura Vale mais que o Criador
Capítulo 5
A Dessacralização da Vida no Ventre Materno
Capítulo 6
A Desconstruçãoda Masculinidade Bíblica
Capítulo 7
A Desconstrução da Feminilidade Bíblica
Capítulo 8
Transgênero – que Transrealidade É essa
Capítulo 9
Uma Visão Bíblica do Corpo
Capítulo 10
Renovação Cotidiana do Homem Interior
Capítulo 11
Cultivando a Convicção Cristã
Capítulo 12
Sendo a Igreja do Deus Vivo
Capítulo 13
O Mundo de Deus no Mundo dos Homens
Referências Bibliográficas
A
Capítulo 1
A Igreja diante do Espírito da
Babilônia
E na sua testa estava escrito o nome: MISTÉRIO, A GRANDE BABILÔNIA, A
MÃE DAS PROSTITUIÇÕES E ABOMINAÇÕES DA TERRA (Ap 17.5)
Babilônia foi uma importante cidade-estado situada na região da
Mesopotâmia. Historicamente, surgiu por volta do século XIX
a.C., sendo considerada como o berço da civilização nas áreas
políticas e culturais, sociais e econômicas. Porém, quando o livro de
Apocalipse cita essa cidade (e.g. Ap 17.5), não se refere ao local
geográfico da Babilônia, mas, sim, ao simbolismo que ela
representa.
O uso de diferentes métodos de interpretação bíblica provocou
variadas posições escatológicas entre os estudiosos do livro de
Apocalipse. Portanto, ressalta-se que, nesta obra, não está em
debate o método empregado na interpretação da literatura
apocalíptica.
O propósito deste capítulo é elucidar alguns personagens do livro
das revelações, tais como a “grande prostituta” (Ap 17.1) e a “besta
de cor escarlate” (Ap 17.3), bem como alertar a Igreja acerca dos
aspectos gerais do espírito da Babilônia no cenário global que
vivemos, tanto no sistema religioso, quanto no social, cultural,
político e econômico.
Por fim, desvela-se que o papel do cristão neste mundo, que jaz
no Maligno (1 Jo 5.19), é o de manter uma fé correta (ortodoxia),
uma vida correta (ortopraxia), um verdadeiro caráter cristão, andar
em santidade e aguardar a volta do Senhor Jesus (Hb 12.14; Fp
3.20).
I. BABILÔNIA E OS SEUS SIGNIFICADOS
1. A Cidade-Estado da Babilônia
A Bíblia menciona a Babilônia cerca de 200 vezes. Essas menções,
na maioria das vezes, referem-se a “antiga cidade-estado situada
em ambas as margens do rio Eufrates na terra de Sinar”,1 distante
cerca de 1.500 quilômetros de Jerusalém, fundada pelos
descendentes de Cuxe e do seu filho, Ninrode (Gn 10.8-10).
Nesse aspecto, Bruce Waltke (2019, p. 203) salienta que a
biografia de Ninrode
Explica a origem racial, política e espiritual de Babilôniae Assíria, as duas
grandes potências mesopotâmicas que venceram Israel e o mantiveram nos
exílios. Ninrode funda seu império em evidente agressão (Gn 10.8). Seu
poder é tão imenso que se torna proverbial em Israel (Gn 10.9). Seu império
incluía toda a Mesopotâmia, tanto a Babilônia ao sul (Gn 10.10) quanto a
Assíria ao norte (Gn 10.11-12). Como principais centros de seu império, ele
funda a grande cidade de Babilônia, mais notavelmente Babel (Gn 10.10).
Assim, da descendência de Cam, filho de Noé, nasceu Cuxe, o pai
de Ninrode (Gn 10.6-8), que se tornou o patriarca de duas grandes
civilizações antigas: Babilônia e Assíria. Essas nações foram
proeminentes na cultura antiga e, por diversas, vezes foram
empecilhos para a nação escolhida, Israel.2
Destaca-se que, nas Escrituras, o termo Babilônia refere-se tanto à
nação como a capital da nação-estado. De outro modo, a Bíblia
também identifica esse local como a Terra de Sinar (Gn 10.10; Gn
11.2; Is 11.11) e também como a Terra dos Caldeus (Jr 24.5; Jr
25.12; Ez 12.13).
Noutra perspectiva, salienta-se que condutas abomináveis e
repugnantes para o povo hebreu, tais como o politeísmo, a
promiscuidade moral, a imoralidade sexual, a idolatria e todas as
mazelas contrárias à dignidade da vida humana, eram praticadas e
celebradas entre os babilônios (Lv 18.1-23; 20.10-22).
Nesse contexto, o Enuma Elish, epopeia babilônica sobre a
criação, assevera diversas fantasias animalescas contrárias à
revelação bíblica, a exemplo de que os humanos foram criados a
partir do sangue de um deus rebelde (Kingu) e que os céus e a terra
são formados a partir do cadáver de um deus massacrado
(Tiamat).3
Acrescenta-se, além de toda a depravação, a violência e a
crueldade do Império Babilônico. Em 587 a.C., quando da invasão à
nação de Judá, os babilônicos (caldeus) queimaram o Templo e os
palácios, derrubaram os muros de Jerusalém, assassinaram
homens, mulheres, velhos e crianças e arrastaram centenas de
hebreus para serem escravos na Terra de Sinar (2 Cr 36.6-20).
Por essas razões, figuradamente, Babilônia representa
devassidão, paganismo, sincretismo, violência e rebeldia aos
mandamentos divinos. O espírito da Babilônia faz uso da cultura e
da ideologia secularista para persistentemente oferecer resistência
contra tudo o que se chama Deus (2 Ts 2.4).
2. A Grande Prostituta e a Besta
Apocalipse possui uma série de visões (Ap 9.17; 13.1; 21.2; 22.8),
uma viagem celestial (Ap 4.1), mensagens angelicais (Ap 1.12ss;
10.1,8,9; 17.3-7; 22.8-16) e uma profunda escatologia apocalíptica.4
O livro também apresenta uma personagem enigmática, a grande
prostituta, com a qual se prostituiram os reis da terra (Ap 17.1,2).
Sublinha-se que as Escrituras citam diversas meretrizes, só que
essa mulher não é apenas uma prostituta (Ap 17.1; 19.2), mas, sim,
uma grande prostituta (gr. pórnes tés megáles). É interessante
destacar que o autor bíblico utilizou-se de um adjetivo no genitivo
(megáles) para enfatizar a amplidão de perversidade dessa mulher.
Acerca desse adjetivo, o Comentário Bíblico Pentecostal
(STRONSTAD, 2003, p. 1.907) assevera que:
Qualquer que seja o padrão terreno, a prostituta do Apocalipse é uma figura
imponente. Ela é grande (v.1, 5, 18), que pode, provavelmente, ser melhor
traduzido como enorme ou mesmo voluptuosa. Ela não é uma meretriz
vulgar, mas uma prostituta de alta classe, uma prostituta real.
O texto bíblico igualmente enfatiza que essa prostituta “está
assentada sobre muitas águas” (Ap 17.1). A expressão simboliza as
multidões seduzidas pela idolatria, o paganismo e a sua oposição à
fé cristã (Ap 17.15). A prostituta (gr. pórnes) não apenas se
prostituiu com os reis da terra (gr. pornéuo), como também vive em
prostituição (gr. porneia).
No profetismo judaico, essas expressões apontam para a idolatria,
isto é, a prostituição espiritual (Na 3.4; Is 23.15; Jr 2.20). O cálice na
sua mão são as imundícias da sua prostituição (Ap 17.4c), o que
representa toda a forma obscena e impura de intoxicação moral e
espiritual da sociedade. Assim, a prostituta é identificada como uma
das facetas da imoralidade e do falso sistema religioso representado
pelo espírito da Babilônia (Ap 14.8; 17.5).
Além disso, João contempla uma mulher montada sobre uma
besta (Ap 17.3a). Reitera-se que a figura dessa mulher é a
descrição da própria prostituta. Ela veste-se de púrpura e de
escarlata, bem como se adorna com ouro, pedras preciosas e
pérolas (Ap 17.4), que significa reinado, luxo, materialismo e poder
econômico. Essa fera em que a mulher está montada é a besta que
saiu do mar (Ap 13.1).
Trata-se do Anticristo, que, pelo poder de Satanás, faz oposição a
Cristo (2 Ts 2.4,9,10). Ele profere blasfêmias em consciente repulsa
ao senhorio de Cristo (Ap 13.6; 17.3b). As suas sete cabeças e dez
chifres simbolizam os poderes do mundo e a sua força política (Ap
17.3c,10,12). A união entre o cavaleiro (grande prostituta) e a
montaria (besta) simbolizam a nefasta força do sistema religioso,
econômico e político do espírito da Babilônia.
3. Mistério: a Grande Babilônia
Após descrever a grande prostituta, João desvenda o nome dessa
meretriz: “MISTÉRIO, A GRANDE BABILÔNIA” (Ap 17.5a). Nesse
aspecto, frisa-se que a palavra grega mysterion, utilizada por João,
significa segredo ou doutrina secreta. Esse termo assinala alguma
verdade divina que esteve oculta e passou a ser conhecida. O
referido vocábulo é empregado 27 vezes no Novo Testamento.5
Assim sendo, o termo “mistério” indica que o nome Babilônia não é
meramente um local geográfico, mas, sim, um simbolismo. Nesse
sentido, a “maior cidade daquele tempo, Roma”,6 foi chamada de
Babilônia por Pedro (1 Pe 5.13). E, embora poderosa e de vasto
alcance, com “controle econômico e [...] [querendo] ditar no mundo
inteiro”,7 não conseguirá prosperar de modo perene, pois “o Senhor
desfará pelo assopro da sua boca e aniquilará pelo esplendor da
sua vinda” (2 Ts 2.8).
Nesse entendimento, Adolf Pohl (2001, p. 170, 171) leciona que:
É evidente que o conceito geográfico foi reinterpretado espiritualmente [...]
contudo, a cidade exerceu verdadeira posição de Império mundial somente
por tempo breve e transitório [...] é certo que a Babilônia gera ideia de
Império mundial, porém a concretização não obtém sucesso [...] Portanto, a
Babilônia é a sociedade que desenvolveu admirável capacidade de se
instalar nesta terra.
Por conseguinte, salienta-se que “a nova Jerusalém representa o
povo de Deus [...] e a Babilônia representa os habitantes do
mundo”.8 Em vista disso, a Babilônia sinaliza o espírito de
perseguição e de desconstrução da fé bíblica. Desse modo, o
simbolismo da Babilônia não significa apenas uma cultura sem
Deus, mas, sobretudo, de uma cultura contra Deus. Por
conseguinte, define-se o espírito da Babilônia como um sistema
global deliberadamente anticristão.
II. O ESPÍRITO DA BABILÔNIA
1. No Sistema Religioso
Como já estudado, a Babilônia representa um conjunto de práticas
reprováveis diante de Deus. O sistema religioso da Babilônia era
literalmente nefasto e mitológico. Em virtude disso, o mensageiro
angelical fez uso de um simbolismo perfeitamente entendível pelo
apóstolo João e os seus contemporâneos (Ap 17.1).
Nesse sentido, a Bíblia de Estudo Pentecostal (STAMPS, 1995, p.
2.003) arrazoa que a “Babilônia religiosa abrange todas as religiões
falsas, inclusive o cristianismo apóstata [...] os termos prostituição e
adultério, quando empregados figuradamente, normalmente
denotam apostasia religiosa e infidelidade a Deus”.9
Nessa direção, o espírito da Babilônia faz com que as pessoas
sejam seduzidas pela “prostituição espiritual” (Ap 17.2). Não se
adora mais o Deus Todo-poderoso, mas há um culto ao próprio ego,
o que torna o ser humano amante de si mesmo, do dinheiro e dos
deleites desse mundo (2 Tm 3.2-4).
Nesse entendimento, o Comentário Esperança (POHL, 2001, p.
168) registra que:
A premissa básica dessa cultura e civilização, por meio da qual a Babilônia
mantém sob o seu fascínio os povos, é a prostituição, o desenfreamento.Para ela a rigor tudo é permitido e nada constitui uma verdade
compromissiva. Toda espécie de vínculo com os mandamentos de Deus é
queimada, de modo a desenvolver sobre essa cratera de vulcão um modo de
vida sem Deus e sem Cristo.
Dessa maneira, sob o argumento de suposta liberdade, estimula-
se a devassidão por meio do afrouxamento da moral. Para os
adeptos desse conceito, não existe valor absoluto. Tudo passa a ser
questionado: a autoridade da Bíblia, os valores da família, as leis, os
costumes, as regras cristãs e até mesmo o divino e o sagrado. Em
contraponto, a verdadeira Igreja professa e ensina que “a Bíblia é a
mensagem clara, objetiva, entendível, completa e amorosa de Deus,
cujo alvo principal é, pela pessoa do Espírito Santo, levarmos a
Redenção em Cristo Jesus”.10
Somam-se aos males da falsa religiosidade: o ecumenismo
doutrinário, que provoca a erosão da fé bíblica (Gl 1.6,8); o
relativismo, que rejeita as doutrinas bíblicas (2 Tm 4.3); o
humanismo, que ressignifica os mandamentos (2 Pe 3.16); e o
sincretismo religioso, que mistura o sagrado e o profano (2 Co
6.16,17). Tudo passa a ser permitido, e a verdade é desconstruída
(2 Tm 3.7). Em consequência, a igreja é brutalmente perseguida (Mt
24.9). Na lista de perseguições, citam-se o cerceamento da
liberdade religiosa, a supressão do culto e a criminalização da
ortodoxia.
2. No Sistema Político, Cultural e Econômico
Como já observado, João arrazoa que “o mundo inteiro jaz do
Maligno” (1 Jo 5.19, ARA). Significa que, embora Deus seja
Soberano sobre tudo e todos, o mundo está sob o domínio de
Satanás em rebelião ao governo divino (Lc 13.16; 2 Co 4.4).
A Bíblia de Estudo Pentecostal (STAMPS, 1995, p. 1.965) arrazoa
que:
Na presente era da história, Deus tem limitado seu supremo poder e domínio
sobre o mundo. Esta autoeliminação é apenas temporária, porque no tempo
determinado pela sua sabedoria, Ele destruirá toda a iniquidade e o próprio
Satanás (Ap 19.20).
Em função disso, enquanto o tempo determinado não se cumpre, o
espírito da Babilônia exerce forte influência na política, na cultura e
na economia. As pautas progressistas de inversão de valores são
impostas ao cidadão em afronta aos valores cristãos, tais como:
apologia ao aborto, ideologia de gênero, legalização das drogas e
da prostituição.11
Os que se manifestam contrários a tais práticas tornam-se alvo do
patrulhamento ideológico. Por meio de termos pejorativos, são
classificados de intolerantes, machistas, fascistas, homofóbicos,
preconceituosos e outros adjetivos depreciativos. Esse tipo de ação
estigmatiza como “fundamentalista” quem ousa discordar do sistema
mundano (Lc 6.22; 1 Pe 4.4).
Outrossim, o ativismo judicial, que é a extrapolação do Judiciário
na interferência dos outros poderes republicanos, censura
preventivo e pospositivo quem defende os valores bíblicos,
estereotipa e profere conceitos prévios em desfavor dos seguidores
de Cristo (Lc 12.11,12; 1 Tm 6.3-5). Inclusive, os cristãos foram
designados em recente decisão como pessoas de “mentes
sombrias”, “retrógrados”, “espantalhos da moral”, “fundamentalistas
religiosos”, “reacionários morais” e outros aviltantes adjetivos.12
Portanto, em tempos de ataques ideológicos contra a cultura
judaico-cristã em pleno século XXI, a Igreja não deve furtar-se de
ser o “sal da terra” e a “luz do mundo” (Mt 5.13,14). Por isso, ratifica-
se que a Bíblia é o fundamento para o viver ético-moral dos cristãos.
É a única regra infalível de fé e de conduta para o cristão (2 Tm
3.16).
Ademais, salienta-se que o “deus deste século” (2 Co 4.4), o
Adversário, influencia esse mundo juntamente com as suas hostes
malignas (Ef 6.12). Em razão disso, o espírito da Babilônia é
perceptível na cultura, na política, na economia e nas demais áreas
do saber.
Nessa perspectiva, o livro de Apocalipse registra o enriquecimento
dos mercadores por meio da exploração da luxúria e da
licenciosidade do espírito da Babilônia (Ap 18.3). O comércio e o
governo subornam os cidadãos por avareza, dinheiro e poder (Mq
2.1-3; Ap 18.12,13). As pessoas são motivadas a levar vantagem
financeira, ilícita e imoral em prejuízo do próximo provocando
injustiças e caos social. Em consequência, o cidadão instigado a
confiar no materialismo e na autossuficiência mantém-se afastado
de Deus.
A grande mídia, as artes, a literatura e a educação promovem o
doutrinamento contrário à fé cristã (Jo 15.19). Coagida pelo
“politicamente correto”, a sociedade assimila e defende a “nova
cultura” (1 Jo 4.5,6). Nesse contexto, cristãos genuinamente bíblicos
são perseguidos e julgados (Lc 21.16,17).
Os que controlam a economia impõem embargos, tributos e multas
em desfavor de quem adota os princípios bíblicos (Tg 2.6,7; Ap
13.16,17). Não obstante, o espírito que escraviza o homem na
incredulidade e pecaminosidade finalmente será derrotado quando
Cristo retornar em glória, ocasião em que Ele extirpará a grande
Babilônia e o domínio do Anticristo (Ap 18.2-19.21).
III. A POSIÇÃO DA IGREJA
1. Manter a Ortodoxia Bíblica
A palavra ortodoxia vem do grego orthós, que significa correto, e da
expressão dóxa, do verbo dokéo, com o sentido de crer. A junção
desses termos veio a indicar a “crença correta”. Embora o termo
seja conhecido entre os cristãos, não se trata de uma expressão
bíblica. Foi utilizado na Igreja Primitiva para contender os falsos
ensinos.Gonzalez (2010, p. 211) destaca que:
[...] o termo [ortodoxia] é usado para se referir aos pontos essenciais da
doutrina cristã sobre os quais toda a igreja — ou quase todos —
concordaram por muito tempo, e é por isso que muitas igrejas protestantes
tradicionais definem a ortodoxia como concordando com as decisões dos
primeiros quatro — ou às vezes sete — concílios ecumênicos. (tradução
nossa)
Nesse aspecto, a ortodoxia pentecostal tem a Bíblia como a
suprema e inquestionável árbitra em matéria de fé e prática. Não
obstante, “a Bíblia precisa ser interpretada e compreendida”.13
Assim, no decorrer da história, surgiram credos e confissões
denominacionais. Nesse propósito, a Declaração de Fé das
Assembleias de Deus, o documento oficial de interpretação, serve
“como proteção contra as falsas doutrinas e [contribui] para a
unidade do pensamento teológico”.14
Por conseguinte, a Igreja precisa reafirmar a verdade bíblica como
valor universal e imutável (Sl 100.5; Mt 24.35). Assim, por meio do
estudo bíblico sistemático e doutrinário, torna-se possível capacitar
o crente para o enfrentamento do espírito da Babilônia e as suas
ideologias contrárias aos valores absolutos da fé cristã (1 Pe
3.15,16).
Nesse condão, Lira e Silva (2014, p. 34) destacam que:
A Igreja precisa mais do que ortodoxia, ela precisa de ortopraxia. Ortodoxia
significa “doutrina correta”. Ter doutrina correta é muito importante e
necessária. Mas a palavra que expressa a necessidade da Igreja hoje é
ortopraxia, que significa “conduta correta”. A conduta condizente com a fé,
eis o de que a Igreja necessita hoje. A eficácia do discurso da Igreja só
alcança até onde vai a sua ação. O ensino do Espírito Santo através de
Tiago é: “assim falai e assim procedei” (Tg 2.12).
Isso significa que uma ortodoxia morta não tem valor (Tg 2.26).
Sinaliza que “a fé, e não o que fazemos, estabelece o nosso
relacionamento com Deus. No entanto, essa fé precisa de conteúdo,
ou seja, uma fé genuína sempre produz uma vida justa na prática”.15
Uma fé [ortodoxia] sem prática [ortopraxia] não possui nenhuma
utilidade no combate ao espírito da Babilônia. Somente uma vida
cristã autêntica pode fazer a diferença (Mt 5.16).
2. Formar o Caráter Cristão
O caráter cristão refere-se à nova vida, ao modo de pensar e agir
dos que pertencem a Cristo (Ef 4.22-30). Nesse sentido, faz-se
necessário enfatizar que é o fruto do Espírito que desenvolve o
caráter do salvo (Gl 5.22-25). A Bíblia registra que o fruto do Espírito
consiste em nove graças (Gl 5.22,23). O fruto encontra-se no
singular, e isso se refere à unidade que o Espírito Santo cria na vida
dos que se sujeitam a Ele. O domínio próprio pareceser o somatório
de todas as outras graças, gerando autocontrole e a autodisciplina.
O Comentário Aplicação Pessoal (RIBAS, 2009, p. 298) avalia que:
Ironicamente os nossos desejos pecaminosos, que prometem
autorrealização e poder, inevitavelmente nos levam à escravidão. Quando
nos rendemos ao Espírito Santo, inicialmente sentimos como se tivéssemos
perdido o controle, mas Ele nos leva a exercer o autocontrole que seria
impossível somente com as nossas próprias forças.
Portanto, o que vive na carne é escravo do pecado, e a
característica de quem já foi liberto é a manifestação do Fruto do
Espírito Santo. Nesse sentido, “o fruto tem a ver com o crescimento
e o caráter; o modo da vida é o teste fundamental da
autenticidade”.16 Assim sendo, o cristão controlado pelo Espírito
Santo não pode ceder às paixões carnais e nem tão pouco ser
escravizado pelo pecado (Gl 2.20; 1 Pe 1.18).
Além disso, Jesus ensinou que é pelo fruto que se conhece uma
árvore (Mt 12.33). Paulo observa que o melhor antídoto contra o
veneno e o jugo do pecado é andar no Espírito (Gl 5.16,17). A falha
na formação moral do caráter produz pseudocristãos escravizados
pela carne (Jd 12,13). A igreja que prima pelo estudo e aplicação da
Palavra de Deus produz crentes espiritualmente maduros, capazes
de resistir ao espírito da Babilônia (Rm 8.35,38,39).
3. Aguardar a Volta de Cristo
O retorno de Cristo está sobejamente registrado nas Escrituras. Os
seguidores de Jesus receberam a garantia da sua volta (Jo 14.3; At
1.11). A dispensação da graça termina com o arrebatamento da
Igreja antes da Grande Tribulação (1 Co 15.51-52; 1 Ts 1.10; 4.13-
18; 5.9; 2 Ts 2.6-10). O Céu é a pátria definitiva dos remidos. Estes
aguardam o dia em que o Senhor Jesus virá buscá-los para estar
juntamente com Ele (Fp 3.20).17
A Teologia Sistemática (HORTON, 1996, p. 627) assinala que:
A Bíblia demonstra que a nossa única Esperança é que Deus intervirá,
pronunciará o seu juízo contra o presente sistema mundial, e enviará Jesus
de volta à Terra para estabelecer o seu governo e tornar eterno o trono de
Davi. O fato de que Jesus virá de novo à terra está mais do que claro nas
Escrituras.
Acerca dos sinais que precedem a volta de Cristo, destacamos: a
apostasia, a inversão de valores, a perseguição, as guerras, a fome,
as pestes e os terremotos (Mt 24.5-12,24; 1 Tm 4.1; 2 Tm 4.3).
Mercê desses eventos, o cristão é exortado a não viver
desapercebido, mas, sim, a esperar o seu Senhor em oração e
vigilância (Mc 13.33). Ainda se requer do salvo, enquanto aguarda a
bendita esperança, a renúncia à impiedade e às paixões mundanas,
bem como a viver neste presente século uma vida de autodomínio,
de integridade e de santidade (Tt 2.12,13).
CONCLUSÃO
Vivemos num período em que o espírito da Babilônia exerce forte
influência na sociedade global. As suas ações buscam o completo
domínio político, econômico, cultural e religioso em oposição aos
valores e à fé cristã. O avanço dessas ideologias aponta para a
iminente volta de Cristo (Lc 21.28). Nesse interlúdio, é dever da
Igreja oferecer resistência ao mal (2 Ts 2.6,7), ensinar a doutrina
bíblica (Mt 28.20), formar o caráter dos discípulos (Gl 4.19) e
santificar-se para a vinda do Senhor (Hb 12.14).
1 PFEIFFER, Charles J. et al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD,
2006, p. 249.
2 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento –
volume I/Pentateuco. Santo André: Geográfica Editora, 2006, p. 75.
3 HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.
39-42.
4 STRONSTAD, Roger & ARRINGTON, French (ed). Comentário Bíblico
Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1824-1825.
5 BAPTISTA, Douglas. Igreja Eleita: Redimidos pelo sangue de Cristo e Selada
com o Espírito Santo da Promessa. Rio de Janeiro: CPAD, 2020, p. 101.
6 STRONSTAD, Roger & ARRINGTON, French (ed). Comentário Bíblico
Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1.908.
7 HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Rio de
Janeiro: CPAD, 1996, p. 637.
8 STRONSTAD & ARRINGTON, 2003, p. 1.908.
9 STAMPS, Donald (ed.). Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD,
1995, p. 2.003.
10 SOARES, Esequias (org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio
de Janeiro: CPAD, 2017, p. 29.
11 Para mais informações sobre esses temas, recomenda-se a leitura do livro
Valores Cristãos: enfrentando as questões morais do nosso tempo, publicado
pela CPAD.
12 Expressões retiradas do acórdão (sentença de colegiado) da Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão (ADI) n.º: 26, do Supremo Tribunal Federal
(STF). Disponível em <https://portal.stf.jus.br/proce ssos/downloadPeca.asp?
id=15344606459&ext=.pdf>. Acesso em: 24.jan.2023.
13 SOARES, Esequias (org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio
de Janeiro: CPAD, 2017, p. 15.
14 SOARES, 2017, p. 19.
15 SILVA, Eliezer de Lira e. Fé e Obras: ensinos de Tiago para uma vida cristã
autêntica. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 34.
16 HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Rio de
Janeiro: CPAD, 1996, p. 488.
17 SOARES, Esequias (org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio
de Janeiro: CPAD, 2017, p. 113.
https://portal.stf.jus.br/proce
A
Capítulo 2
A Deturpação da Doutrina
Bíblica do Pecado
Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque
pela lei vem o conhecimento do pecado (Rm 3.20)
Queda no jardim do Éden transmitiu à humanidade a inclinação
para o erro. A regeneração é o único meio possível de desfazer
as consequências do pecado. Portanto, a natureza humana
somente pode ser transformada pela obra de Cristo (Tt 3.5,6). Não
obstante, por influência de teologias modernas, a doutrina do
pecado original vem sendo enfraquecida. Essa deturpação tornou-
se porta de entrada para a normalização do pecado.
Quando o mal é reinterpretado, a consciência humana fica
cauterizada e aprisionada ao engano (1 Tm 4.1,2). Essa ação é
proposital a fim de manter o homem afastado de Deus e impedindo-
o de ser salvo (Jo 3.19,20). Por essa razão, Paulo alerta a Igreja
acerca das falsas doutrinas, que, pela artimanha e astúcia, induzem
as pessoas ao erro (Ef 4.14). Desse modo, de forma sucinta,
abordaremos o perigo dessas estranhas teologias para a ortodoxia
cristã.
I. A NATUREZA PECAMINOSA
1. Definição de Pecado
A Escritura faz uso variado de termos para referir-se ao pecado.
Algumas dessas expressões realçam as suas causas, a sua
natureza e as suas consequências.18 O teólogo Bruce Marino
(HORTON, 1996, p. 281) considera que “descrever o pecado é uma
tarefa difícil. Talvez a dificuldade provenha de sua natureza
parasítica, posto que não tem existência em separado, mas é
condicionado por aquilo que se agarra”, uma vez que ele aprisiona e
cega o pecador (Is 35.5; Jo 9.5).
No Antigo Testamento, a mais importante expressão hebraica é o
conjunto de palavras representado por chatta’th, que possui o
sentido básico de errar um alvo ou um caminho (Gn 4.7; Pv 19.2).19
No grego do Novo Testamento, o principal termo para designar o
pecado é hamartia, que possui conotação de “erro moral” (2 Pe
2.13,14). Essa palavra aparece cerca de 300 vezes, com o sentido
de errar o alvo propositalmente.
Nesse aspecto, Millard J. Erickson (2015, p. 551) arrazoa que
“esse pecado é sempre contra Deus, visto que não se atinge a
marca que ele estabeleceu, seu padrão de amor e obediência
perfeitos devido a ele”. Além disso, a Bíblia Sagrada disciplina:
“quem comete pecado, comete iniquidade, porque o pecado é
iniquidade” (1 Jo 3.4).
Nesse contexto, a palavra “iniquidade” ou “ilegalidade” significa
uma atitude de rebelião geral contra os mandamentos de Deus.20
Desse modo, abrange não apenas errar o alvo, mas
deliberadamente acertar o alvo errado. Trata-se de desobediência
intencional contra Deus e a sua Palavra (1 Sm 15.22,23).
Em consequência, o pecado afasta o homem de Deus e faz com
que este peque contra o próximo. O pecado não é somente praticar
obras contra o Senhor, mas incluia omissão em praticar o bem (Tg
4.17). Pecado, portanto, é a condição do homem não regenerado e
só pode ser expelido por meio do novo nascimento (Jo 3.3-7). Essa
reconciliação do homem com Deus só é possível em Cristo (2 Co
5.19).
2. O Pecado Original e a Depravação Total
A doutrina do pecado original está sobejamente registrada nas
Escrituras (Rm 5.12-21; 1 Co 15.21,22, Ef 2.1-3). Essa obra não se
propõe ao debate das modulações interpretativas dessa doutrina,
tais como a teoria federal, teoria realista, da imputação mediata, da
teoria arminiana-wesleyana, dentre outras.21
Desse modo, sublinha-se que o ser humano foi criado em estado
de inocência, não impecável e nem pecaminoso, mas perfeito (Ec
7.29) e dotado de livre-arbítrio (Gn 2.16,17). O primeiro homem,
porém, escolheu desobedecer a Deus, e a sua Queda contaminou
toda a humanidade (Gn 3.9-19).
A Bíblia de Estudo Pentecostal (STAMPS, 1995, p. 1.706) salienta
que:
Através da transgressão e queda de Adão, o pecado como princípio ou
poder ativo conseguiu penetrar na raça humana [...] Todos os seres humanos
passaram a nascer propensos ao pecado e ao mal [...] A raça humana
experimentou a morte não porque transgrediu a lei oral de Deus, com sua
pena de morte, como no caso de Adão (Rm 5.13,14), mas por que os seres
humanos realmente eram pecadores pela prática, bem como pela sua
natureza e transgrediram a lei da consciência, escrita em seus corações (Rm
2.14,15).
Nesse contexto, o pecado original de Adão passou a toda a raça
humana (Rm 5.12). De tal modo que, a partir da Queda, todos os
serem humanos nascem em pecado (Sl 51.5). Portanto, o pecado
não é passado adiante meramente pela força do mau exemplo, mas
é um mal inerente à natureza humana (Rm 7.14-24). Jacó Armínio
salienta que a “abrangência deste pecado [...] não é peculiar aos
nossos primeiros pais, mas é comum a toda a raça humana e a toda
sua posteridade”.22 Em consequência, todo ser humano está
debaixo da escravidão do pecado e da condenação da morte (Rm
3.23; 6.23). Contudo, apesar de corrompida, a natureza humana
pode ser eficazmente regenerada pela fé em Cristo (Rm 3.24; 2 Co
5.17).
Porém, em decorrência do pecado de Adão, o homem encontra-se
espiritualmente morto e incapacitado de vir a Deus por si mesmo (Ef
2.1). Significa que, por causa da Queda, todas as áreas de nosso
ser foram afetadas. Esse estado de corrupção mental, moral e
espiritual da natureza humana é denominado de Depravação Total,
ou seja, a inclinação para fazer o errado resultante do pecado
original. Essa depravação impede o homem de tomar a iniciativa no
processo de regeneração (Rm 8.7,8).
Jacó Armínio (vol. 2, 2015, p. 406) assinala que:
O livre-arbítrio é incapaz de iniciar ou aperfeiçoar qualquer bem verdadeiro e
espiritual, sem a graça [...] Confesso que a mente de um homem carnal e
natural é obscura e sombria, que os seus afetos são corruptos e
desordenados, que a sua vontade é obstinada e desobediente, e que o
próprio homem está morto em pecados.
Dessa forma, “em seu estado de descuido e pecado, o homem não
é capaz de pensar, nem querer ou fazer por si mesmo o que é
realmente bom; pois é necessário que ele seja regenerado e
renovado [...] por Deus, em Cristo, por intermédio do Santo
Espírito”.23 Por conseguinte, o homem só pode ser liberto do pecado
se Deus buscá-lo primeiro (Fp 1.6). Sem a ajuda de Deus, ninguém
pode ser transformado (2 Co 5.17; Tt 3.5).
Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 113) arrazoa que:
Todos os homens e mulheres foram atingidos pelo pecado a tal ponto que,
embora tenha sido feito a imagem de Deus, não podem, por si mesmos,
chegar a Deus [...] todavia os seres humanos, influenciados pela graça que
habilita a livre escolha, são livres para escolher (Jo 7.17).
Isso significa que o homem não pode dar início ao processo da
salvação, pois o seu livre-arbítrio precisa ser divinamente restaurado
(Rm 2.4). Por isso, somente ao ser atingido pela graça preveniente
(ação divina que antecede a conversão) é que o homem recebe a
capacidade de arrependimento e fé, e isso mostra que a fé antecede
a regeneração.
Em síntese, o pecado original e a depravação tornaram o homem
totalmente incapaz de até mesmo desejar aproximar-se de Deus.24
Todavia, por meio da graça preveniente, recebe divinamente a
capacidade para crer, arrepender-se e ser salvo (Rm 3.24,25).
Portanto, a libertação do pecado não provém de nenhum esforço
humano, mas é gratuita e divinamente ofertada (Rm 6.23; Ef 2.8,9).
II. AS TEOLOGIAS MODERNAS
1. Teologia do Pecado Social
Com o advento do Renascentismo e do Iluminismo (Séc. XIV a
XVII), o antropocentrismo teológico desenvolveu doutrinas em
desacordo com a Bíblia. Nessa premissa da centralidade do
homem, a teologia católica passou a discutir a Doutrina Social da
Igreja (DSI). Leão XIII promulgou a Rerum novarum (1891–1931),
cujo intento era manter o primado dos valores morais e mediar o
conflito entre socialismo e liberalismo.25
Em seguida, Pio XI e Pio XII propuseram uma “nova Cristandade”
(1931–1958), uma “terceira via” entre o capitalismo e o comunismo.
Na sequência, no Concílio Vaticano II (1962–1965), a Doutrina
Social da Igreja, que é outro termo para pecado social, foi
institucionalizada pelo catolicismo.26 Desde então, a hermenêutica
moveu-se da revelação bíblica para o antropocentrismo teológico.
Bartolomeo Sorge (2017, p. 15) registra que:
Não se parte mais dos altíssimos princípios da revelação [...] para daí
deduzir um modelo de sociedade cristã [...] mas se parte da leitura [...]
confiada às diversas comunidades cristãs, para interpretá-los depois a luz do
Evangelho e o ensinamento da Igreja e deduzir, enfim, as escolhas a realizar
junto com todos os homens de boa vontade.
Nessa perspectiva, os concílios católicos de Medellín (1968,
Colômbia) e Puebla (1979, México) arrazoaram que o pecado é algo
que se constrói por meio de estruturas opressoras, tais como a
pobreza, a injustiça e a desigualdade. Dessa forma, a redenção do
pecado não se restringe ao aspecto espiritual, sendo forçoso
resolver as questões sociais.
Na prática, esse conceito prioriza a “questão social” em detrimento
da moral. Entretanto, essa ordem de valores mostra-se equivocada.
As injustiças sociais são apenas sintomas; as causas do sofrimento
são as ações de ordem moral. A corrupção, a fraude, o suborno, a
ganância, dentre outros males morais, são a origem das mazelas
sociais.
Essa mudança de ênfase no pecado original (natureza humana)
para o pecado social (estrutural) enfraquece a responsabilidade
moral do pecador. Os temas morais passam a ser tolerados ou
ignorados e deixam de ser primazia no trato com o pecado. Deixa-
se de abordar a causa do pecado para tratar-se os sintomas (Mt
23.27,28). A partir daí, a solução da “questão social” é vista como a
solução do mal. Um erro gritante, uma vez que o mal a ser
combatido é o pecado (1 Co 6.10-12).
2. Teologia da Libertação
Nessa mudança de paradigmas, abre-se o espaço para o
surgimento da Teologia da Libertação (TdL). Essa teologia tem
afinidade com as ideias socialistas/comunistas de Karl Marx (1818–
1883), que apregoa uma luta entre classes, uma revolução social,
prometendo libertação das supostas estruturas opressoras da
sociedade.
Mercê dessas premissas, surge na década de 70 com Gustavo
Gutiérrez (Peru) e com Clodovis e Leonardo Boff (Brasil) a teologia
da libertação (TdL). Assim, o encontro da DSI com a TdL resultou
em um fazer teológico não centrado em doutrinas bíblicas para
libertar o homem do pecado moral, mas na indignação para libertar
o homem da injustiça social, econômica e cultural. A premissa da
TdL é “inculturar uma fé libertadora nas camadas populares que
favoreça a formação da consciência crítica”.27
Desse impulso, surgem teologias de cunho emancipatório de
gênero, sexualidade e de raças. Uma das suas vertentes é a
Teologia da Missão Integral (TMI). Apesar de os seus autores
negarem, a TMI é a vertente protestante da teologia da libertação
católica. A ideologia e o fundamento da TMI são inegavelmente deinfluência marxista.28
Essas teologias reduzem a fé cristã em militância ideológica,
política, socialista e marxista. As pautas sociais e progressistas são
postas acima dos valores morais do Reino de Deus. Transforma-se
o evangelho em inconformismo, luta de classes e assistencialismo
(1 Co 15.19; Fp 3.18-20). O arrependimento, a libertação do pecado,
a transformação de caráter e uma nova vida em Cristo são
negligenciados (Gl 6.14,15).
Nesse contexto, convém esclarecer que o autêntico cristão não é
insensível ou alienado das causas sociais. Pelo contrário, destaca-
se que a justiça social sempre foi uma bandeira defendida pelo
cristianismo. O que não se admite é que a ideologia marxista
sequestre o evangelho de Cristo e reivindique para si a paternidade
das pautas sociais, em desfavor dos valores morais do Reino de
Deus.
3. Liberalismo Teológico
O liberalismo teológico, no qual a razão sobrepõe-se à revelação
divina, floresceu após a Reforma Protestante (1517). Friedrich
Schleiermacher (1768–1834) é considerado o pai do liberalismo
teológico. Influenciado pelos racionalistas e por Immanuel Kant
(1724–1804), o teólogo alemão colocava em dúvida a historicidade
da Bíblia, “sua concentração era na consciência humana
[racionalismo], em vez da revelação”.29
Nesse aspecto, a teologia liberal teve o seu ponto de partida em
Schleiermacher. Por conseguinte, o ideário da teologia liberal é de
oposição ao conservadorismo teológico, que se fundamenta na
revelação bíblica (2 Tm 4.3). Assim, a inspiração, a inerrância e a
infalibilidade das Escrituras são constantemente questionadas, e as
doutrinas da fé são reinterpretadas e ressignificadas.
Entre outros males, o liberalismo substitui a mensagem da
salvação de arrependimento, da confissão de pecados e da
mudança de caráter por uma visão progressista que enfatiza a
transformação social pelo paradigma marxista. O pecado é
relativizado, prega-se o ecumenismo religioso e toda a experiência
espiritual é considerada válida. Nesse cenário, os milagres e o
sobrenatural são considerados mitológicos.
Rudolf Bultmann ((1884–1976)) questionou a veracidade das
Escrituras e propôs um processo de desmitologização do Novo
Testamento. Segundo Bultmann, a Bíblia só é crível se dela
extirparmos os mitos — milagres, sinais, teofanias e outras
revelações sobrenaturais.30 O teólogo de Marburg escreveu que “a
visão bíblica do mundo é mitológica e, portanto, é inaceitável para o
homem moderno, cujo pensamento tem sido modelado pela ciência
e já não tem mais nada de mitológico”.31 Somado a isso, o método
hermenêutico proposto por Bultmann busca redescobrir o significado
oculto atrás das concepções mitológicas.
Nesse diapasão, a teologia pentecostal afirma que defensores de
teorias como as de Bultmann causam inevitáveis consequências ao
evangelho, tais como “incredulidade; leniência para com o pecado;
relativismo moral e ético; relaxo para com a evangelização, etc”.32
Desse modo, contrapondo a posição que questiona a autoridade
bíblica, o pentecostalismo reconhece as Escrituras como suprema e
inquestionável árbitra em matéria de fé e prática.33
III. A NORMALIZAÇÃO DO PECADO
1. Crise Ética e Moral
Em termos gerais, define-se ética como os valores que regulam a
conduta de uma pessoa (1 Pe 1.15); já a moral é a prática dessa
conduta. Nessa concepção, a obediência aos princípios bíblicos
reflete o caráter de um cristão (Rm 12.2).
Dessa forma, a obra Valores Cristãos (BAPTISTA, 2018, p. 10)
destaca que:
Os padrões da ética e da moral cristã não sofrem mutações. A verdade
bíblica não pode ser relativizada ou flexibilizada para atender o egoísmo e o
hedonismo da raça humana. O texto bíblico permanece inalterado e imexível.
Por isso, os valores cristãos são permanentes, pois a fonte de autoridade é
permanente.
No entanto, o conceito deturpado e relativizado do pecado resulta
em desvio e falha de caráter (2 Tm 3.5), haja vista que a sociedade
deixa de ser eticamente sólida e torna-se moralmente desajustada
(Hc 1.4). Dessa crise de integridade, irrompem-se ações
incompatíveis com a fé bíblica (Rm 2.21,22). Na política, governos
corruptos e desprovidos de moral recebem apoio desde que
defendam pautas sociais (2 Jo 1.11). Os temas progressistas
passam a ser normalizados, tais como a imoralidade sexual, o
aborto e o uso de drogas ilícitas (1 Sm 2.6; Rm 1.27; 1 Co 6.15,19).
Na época do profeta Isaías (cerca de 739 a.C.–681 a.C.), uma
grave crise ética e moral impregnava a nação de Israel. Os
governos das cidades eram corruptos, e os juízes aceitavam
suborno. A luxúria, a ociosidade e a embriaguez aumentavam a
pobreza e a criminalidade. Superstições haviam poluído a religião
pura. As mulheres eram vulgares, sensuais, bêbadas, mimadas e
negligentes. O orgulho e a autossuficiência levavam o povo a
esquecer-se de qualquer dependência de Deus.34
Nesse cenário de podridão moral e espiritual, Deus levantou um
atalaia para profetizar contra a nação. Entre os alertas, o profeta
vaticinou “sete ais” que confrontavam o comportamento inadequado
daquele povo (Is 5.8-23).35 Em nossos dias, o quadro caótico
assemelha-se à situação do povo de Israel. A conduta reprovável e
imoral dos israelitas causou a derrocada daquela nação (Is 5.24,25).
A advertência das Escrituras é que “tudo o que o homem semear,
isso também ceifará” (Gl 6.7). Assim, sem arrependimento, não
haverá escape para quem relativiza a verdade bíblica (2 Pe 2.1-3).
2. A Imoralidade Sexual
O enfraquecimento da doutrina do pecado favorece o avanço da
imoralidade sexual (Rm 1.24). Em defesa da liberdade de decisão
sobre o corpo, banalizam-se o sexo pré-conjugal e o extraconjugal e
normaliza-se a homoafetividade (Rm 1.26,27). As ações
governamentais, a mídia, a cultura, a arte e o entretenimento
engajam-se para fazer da prática imoral algo comum. Eleva-se a
imoralidade sexual ao status de direito fundamental (Ef 5.5,6; 1 Tm
4.2). Quem pensa diferentemente torna-se alvo do ódio da militância
e do patrulhamento ideológico.
Nesse aspecto, o afrouxamento da moral impõe o ensino da
ideologia de gênero nas escolas e a erotização da infância. Essas
ações promovem luxúria e licenciosidade em busca de legitimar a
imoralidade. O pecado é tolerado, a família é desconstruída, e a
doutrina da santidade é negligenciada (Hb 13.4). A castidade é vista
como algo opressor (Rm 6.12), e as teologias inclusivas rendem-se
ao pecado da diversidade sexual (2 Pe 2.19,20). Desse modo,
qualquer escolha ou opção de sexualidade é validada como normal.
Em contrapartida, a Escritura ensina que “os devassos”, “os
adúlteros”, “os efeminados” e “os sodomitas” cometem imoralidade
sexual (Lv 18.22-29; Rm 1.18-32; 1 Co 6.10; 1 Tm 1.9-11).
Entretanto, os cristãos devem estar atentos para não errar em
desprezar as pessoas, mas abominar apenas a prática do pecado.
O Comentário do Novo Testamento: Aplicação Pessoal (2009, v. 2,
p. 129) afirma que:
Aqueles que cometem o ato homossexual não devem ser temidos,
ridicularizados ou odiados. Eles podem ser perdoados e suas vidas podem
ser transformadas. A igreja deve ser um refúgio de perdão e cura para os
homossexuais que se arrependem, sem abrir mão de sua posição contrária
ao comportamento homossexual.
Essa é a posição das Assembleias de Deus explicitada em nossa
Declaração de Fé:
Rejeitamos o comportamento pecaminoso da homossexualidade por ser
condenada por Deus nas Escrituras, bem como qualquer configuração social
que se denomina família, cuja existência é fundamentada em prática, união
ou qualquer conduta que atenta contra a monogamia e a
heterossexualidade, consoante o modelo estabelecido pelo Criador e
ensinado por Jesus.36
Apesar desse enfático posicionamento, não poucas vezes somos
forçados a esclarecer e diferenciar que ser contrário à
homossexualidade não significa ser homofóbico.
3. A Dessacralização da Vida
A Igreja de Cristo defende a dignidade humana desde a concepção
(Sl 139.16). A Bíblia ensina que a vida humana é sagrada e não
pode ser violada (1 Sm 2.6). Ratifica-se a sacralidade da vida
humana nasua origem divina (Gn 1.27). Por conseguinte, a vida é
inviolável e deve ser valorizada (2 Pe 1.3). O corpo humano deve
ser cuidado, alimentado, respeitado e preservado (Ef 5.29).
Nesse sentido, Andrade (2017, p. 44) arrazoa que:
A Bíblia nos informa sobre a origem da vida. Diz o Gênesis: “e formou o
Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da
vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn 2.7). Depois que o homem estava
formado, pelo processo especial da combinação das substâncias que há na
terra, o Criador lhe soprou o fôlego da vida, dando início, assim, à vida
humana. Entendemos, com base nesse fato, que, cada ser que é formado, a
partir da fecundação, o sopro de vida lhe é assegurado pela lei biológica
estabelecida por Deus.
Contudo, na contramão da revelação bíblica, a vulgarização do
pecado fomenta ideologias que desprezam a sacralidade e a
dignidade humana. Propala-se a autonomia incondicional sobre o
próprio corpo sem as devidas limitações éticas e morais. O slogan
“Meu corpo, minhas regras” reivindica o pseudodireito de a pessoa
usar drogas, prostituir-se, abortar, cometer o suicídio e a eutanásia.
Assim, o corpo, que é templo do Espírito Santo, é acintosamente
profanado, maculado e desonrado (1 Co 6.19). A criatura,
influenciada e dominada pelo espírito da Babilônia, propositalmente
afronta a vontade do Criador (Rm 1.25). Nesse diapasão,
biblicamente, toda ideologia que seculariza os princípios bíblicos
deve ser tenazmente combatida (2 Tm 3.8,9).
CONCLUSÃO
A relativização do pecado que o restringe à solução de pautas
sociais em prejuízo da moral, e, por sua vez, o exclusivismo moral
em detrimento de causas sociais igualmente não retratam a fé
cristã. Apesar de a Igreja não ser apolítica e nem insensível às
desigualdades sociais, o mal primário a ser combatido é o pecado
inerente à natureza humana. O homem, uma vez regenerado pela fé
em Cristo, repudia as injustiças contra o seu próximo (Rm 1.18; 1
Co 13.6). A Igreja atuante é aquela que ainda milita na terra contra a
carne, o mundo, o Diabo, o pecado e a morte (Ef 6.12).
18 ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015, p.
547.
19 HORTON, Stanley (ed.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal.
Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 283; ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática.
São Paulo: Vida Nova, ٢٠١٥, p. ٥٥٠ e HARRIS, Laird R. et al. Dicionário
Internacional do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, ١٩٩٨, p. ٤٥٠.
20 STRONSTAD, Roger & ARRINGTON, French (Ed.). Comentário Bíblico
Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1.779.
21 Para o conhecimento dessas teorias, sugere-se a leitura das seguintes obras:
DANIEL, Silas. Arminianismo: a mecânica da salvação. Rio de Janeiro: CPAD,
2017, p. 309-343; HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: uma
perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 263-299.
22 ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio. Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p.
439.
23 ARMÍNIO, vol. 1, 2015, p. 231.
24 MAIA, Carlos Kleber. Depravação Total. São Paulo: Reflexão, ٢٠١٥, p. ٧٥.
25 SORGE, Bartolomeo. Breve Curso de Doutrina Social. São Paulo: Paulinas,
2017, p. 13-16.
26 COMPAGNONI, Francisco; PIANA, Gianino, PRIVITERA, Salvatore. (Coord.)
Dicionário de Teologia Moral. Tradução de Lourenço Costa, Isabel Fontes L.
Ferreira e Honório Dalbosco. São Paulo: Paulus, 1997, p. 260.
27 SORGE, Bartolomeo. Breve Curso de Doutrina Social. São Paulo: Paulinas,
2017, p. 175.
28 Missão integral: proclamar o reino de Deus, vivendo o evangelho de Cristo. /
2. Congresso Brasileiro de Evangelização, Belo Horizonte, 27 de outubro a 1 de
novembro de 2003. — Viçosa, MG: Ultimato; Belo Horizonte: Visão Mundial, 2004,
p. 304.
29 GONZÁLEZ, Justo L. Uma História do Pensamento Cristão: da Reforma
Protestante ao século ٢٠. Vol. 3. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2015, p. 344.
30 GILBERTO, Antonio (Ed.). Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro:
CPAD, 2013, p. 23.
31 BULTMANN, Rudolf. Jesus Cristo e Mitologia. São Paulo: Editora Novo
Século, 2000, p. 29.
32 GILBERTO, 2013, p. 24.
33 GILBERTO, 2013, p. 24.
34 HARPER, A. F. (Ed.). Comentário Bíblico Beacon. Vol. 4. Rio de Janeiro:
CPAD, 2005, p. 22.
35 BAPTISTA, Douglas. Valores cristãos: enfrentando as questões morais de
nosso tempo. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 26.
36 SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio
de Janeiro: CPAD, 2017, p. 203-204.
A
Capítulo 3
O Perigo do Ensino
Progressista
Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos (2 Tm 3.1)
s teologias liberais enfraquecem a autoridade da Bíblia
Sagrada. As suas heresias propagam que as Escrituras
contêm erros, que Deus não é soberano e que o
sobrenatural é mitológico. São indiferentes ao pecado original,
relativizam os valores morais e ressignificam a fé cristã. Por
conseguinte, os seus ensinos progressistas resultam na
descaracterização do cristianismo bíblico. Neste capítulo, veremos
alguns dos seus heréticos conceitos e os meios espirituais para a
Igreja resistir aos seus efeitos maléficos (Jd v. 3).
I. A DESCARACTERIZAÇÃO DO CRISTIANISMO
1. A Deterioração Moral
O apóstolo Paulo é, sem dúvida, o maior missionário da história
cristã. A partir do evento em Damasco (At 26.15,16), Paulo passou a
ser um atalaia de Cristo. Em vista disso, sublinha-se que as
“epístolas de Paulo são teologias aplicadas, e o objetivo dele [...] é
que seus leitores vejam o mundo e a forma como eles vivem diante
de Deus”.37
Nessa perspectiva, Paulo escreve a Timóteo alertando-o que “nos
últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos” (2 Tm 3.1). A
expressão “últimos dias” faz alusão ao período anterior à volta de
Cristo, sendo retratado como um tempo “extremamente difícil”. O
termo é usado por Lucas e pelo escritor aos Hebreus para referir-se
“à vinda de Cristo, ao advento da nova era, e à era cristã (At 2.16-
21; Hb 1.2)”.38
Nessa direção, Stamps (1995, p. 1.880) enfatiza que:
Os últimos dias inclui a era cristã na sua totalidade. Paulo, porém, profetiza
pelo Espírito Santo que as coisas se tornarão piores à medida que o fim se
aproximar [...] Os últimos dias serão assinalados por um aumento cada vez
maior de iniquidade no mundo, um colapso nos padrões morais e a
multiplicação de falsos crentes e falsas igrejas dentro do Reino de Deus [...]
esses tempos serão espiritualmente difíceis e penosos para os verdadeiros
servos de Deus.
Nesse contexto, Paulo adverte que o comportamento humano
estará associado à impiedade, com características de profunda
degradação moral (2 Tm 3.2-4). O apóstolo apresenta uma lista de
dezoito repugnantes pecados praticados pela sociedade a fim de
demonstrar a escalada de deterioração da humanidade.39
Assim, o atual e alarmante crescimento do pecado é uma
indicação de que já vivemos esses últimos dias. O enfraquecimento
da doutrina bíblica, bem como o relativismo que não aceita norma
moral absoluta, instigam a má conduta humana. Não obstante,
apesar das investidas heréticas, a Bíblia adverte-nos a viver em
santidade em qualquer época da jornada cristã (1 Pe 1.15, 23-25).
2. A Erosão da Ortodoxia e a Corrupção da Fé
O ensino progressista representa um ataque teológico à ortodoxia.
As suas teses reduzem o texto bíblico a um mero registro de
experiências religiosas. Desse modo, o principal fundamento da fé
cristã é questionado, isto é, a autoridade bíblica é rejeitada, e as
suas verdades, negligenciadas. Os que propagam tais heresias são
identificados nas Escrituras como falsos mestres, hipócritas,
charlatões, imorais e com falha de caráter (2 Tm 3.5-7).
Nesse entendimento, “a série de expressões descritivas usadas ao
longo das epístolas pastorais salientam a falta de padrões éticos
apropriados”40 que eram reproduzidos pelos pseudos-mestres e os
seus seguidores, identificando-os como “amantes dos prazeres do
que amigos de Deus” (2 Tm 3.4, NVI).
Além disso, Keener (2017, p. 737) destaca que:
Tanto a religião judaica com a filosofia grega condenava aqueles que fingiam
devoção,mas cujo coração não correspondia a essa pretensa piedade. Para
Paulo, uma religião que não seja acompanhada da transformação divina do
coração é inútil.
Acerca dessa conduta, Hendriksen (2001, p. 351) avalia que:
Tais pessoas carecem de dinamite espiritual. Não nutrem amor por Deus,
nem por sua revelação em Cristo Jesus, nem pelo povo. Daí, visto não
serem homens cheios do Espírito, não surpreende que lhes falte poder.
Desse modo, “na época, assim como agora, o núcleo de todas as
falsas doutrinas é hedonista e racionalista”.41 O conteúdo doutrinário
cede espaço para a cultura, entretenimento e pragmatismo. A
religiosidade da igreja fica desprovida do poder do Espírito, sendo
incapaz de transformar o caráter das pessoas (2 Tm 3.5; 2 Co
4.2,3). Em consequência, com o caráter humano maculado e com a
erosão da ortodoxia, o cristianismo e a fé bíblica são
descaracterizados propositalmente.
O apóstolo Paulo enfatiza que esses hereges cativam as pessoas
por meio da sedução e do engano. Por conseguinte, os adeptos
dessas falsas doutrinas geram disputas na igreja (2 Tm 2.23),
causam contendas e cismas (1 Tm 6.4,5) e são capazes de minar a
fé de quem lhes dá ouvidos e atenção (2 Tm 2.14-18).
Os que são seduzidos passam a ser escravos das paixões e são
convencidos de que os prazeres do corpo não podem contaminar a
alma. Dessa forma, os pecados morais, a libertinagem e o abuso do
corpo são tolerados e escravizam, tais como a prostituição, a
homossexualidade, a ideologia de gênero, as drogas e o aborto.
Por fim, o embuste desses mestres e dos seus seguidores será
objeto do juízo divino (2 Tm 3.8). De outro lado, ratifica-se que a
ortodoxia professa ser a Bíblia Sagrada a única revelação escrita de
Deus, dada pelo Espírito Santo, capaz de constranger a consciência
dos pecadores (2 Tm 3.16,17).
3. O Caso de Janes e Jambres
Na advertência contra os falsos mestres, Paulo compara a rebeldia
dos hereges com a resistência que Janes e Jambres fizeram a
Moisés (2 Tm 3.8). Contudo, salienta-se que o cânon
veterotestamentário não cita nominalmente esses dois personagens.
Entretanto, “Paulo aqui se vale de uma tradição judaica não
encontrada no Antigo Testamento. Segundo a tradição muito
disseminada entre os judeus [...], Janes e Jambres, irmãos, eram
magos do Faraó que se opuseram a Moisés em Êxodo 7.11”.42
Portanto, o nome desses homens era bem conhecido entres os
judeus, de tal modo que a referência não necessitava de maiores
explicações.43 E, como os falsos mestres utilizam-se de mitos
judaicos, Paulo “cita a história como forma de dar um nome a essas
figuras”.44 Assim, a conduta de rebelião e o uso de falsos sinais por
parte desses dois mágicos servem como símbolo das artimanhas
satânicas e da oposição à verdade.45
II. AS TEORIAS PROGRESSISTAS
1. Definição de Progressismo
Pode-se definir progressismo como o conjunto de ensinamentos
filosóficos, sociais e econômicos baseados na ideia de que o
progresso é fundamental para o aprimoramento do ser humano.
Bobbio (1998, p. 1.009) enfatiza que o progressismo está alinhado
com o progresso material, moral e social em que uma sociedade
caminha.
Essa ideia é oriunda dos filósofos franceses do século XVIII, os
quais proclamavam um progresso mundial secular, isto é, sem
Deus. Nessa premissa, os teóricos subsequentes passaram a
pregar um progressismo científico (Augusto Comte), progressismo
econômico (Karl Marx), progressismo biológico (Charles Darwin),
entre outros.
Destaca-se que o progressismo inclui ideais ateístas e
racionalismo exacerbado. Henry (2007, p. 472) afirma que, “entre os
progressistas, alguns eram secularistas que rejeitavam
completamente a religião tradicional”. Do pensamento progressista,
surgem alguns dogmas que propõem a erradicação da divindade
por meio de concepções seculares. Dentre elas, destacamos:
1.1. O Iluminismo: movimento intelectual e filosófico do século
XVIII que enfatizava principalmente a razão e defendia ideias
como progresso, tolerância, fraternidade, governo
constitucional e separação entre Igreja-Estado.46
1.2. O Marxismo: doutrina filosófica/política desenvolvida pelos
alemães Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX, cuja
ideologia serviu de base para o programa político do Partido
Comunista Alemão e que pregava a revolução por meio da luta
de classes entre a burguesia (patrões) e o proletariado
(empregados).47
1.3. Darwinismo: teoria de Charles Darwin (Séc. XIX), autor da
obra A Origem das Espécies (1859), na qual defende que
“todos os seres vivos, incluindo o homem, são resultado de
transformações progressivas em longo prazo”. O darwinismo
prega o progressismo atrelado “à lei do mais forte”, ou seja,
somente os melhores sobrevivem na seleção natural.48
É fato que o progressismo é bem amplo e não se limita a esses
movimentos. Podem ser incluídos, ainda, o positivismo, o
cientificismo, o tecnicismo, entre outros. Porém, os já citados são
suficientes para o propósito dessa abordagem. De modo geral, o
progressismo questiona a divindade e repudia os valores religiosos.
Por conseguinte, o uso do termo “progressista” aqui adotado refere-
se às teorias e aos temas que se distanciam da visão tradicional do
papel da religião, em especial dos valores da cultura judaico-cristã,
tais como a doutrina, a moral e os costumes cristãos (Fp 3.18,19; 2
Pe 2.19).
2. A Desconstrução da Bíblia
Ratificamos que a Bíblia Sagrada é “divinamente inspirada” (٢ Tm
3.16). Essa tradução vem do termo grego theopneustos, que
significa literalmente que toda a Escritura foi respirada ou soprada
por Deus, o que a distingue de qualquer outra literatura,
manifestando, assim, o seu caráter sui generis.49 Desse modo, a
inspiração é chamada de verbal porque Deus soprou nos escritores
sagrados o que deveria ser escrito (Ap 19.9; 1 Co 14.37).
O pastor Antonio Gilberto (2019, p. 41) leciona que:
O que diferencia a Bíblia de todos os demais livros do mundo é a sua
inspiração divina (Jó 32.8; 2Tm 3.16; 2Pe 1.21). Portanto, inspiração divina é
a influência sobrenatural do Espírito Santo como um sopro, sobre os
escritores da Bíblia, capacitando-os a receber e transmitir a mensagem
divina sem mistura de erro. A própria Bíblia reivindica para si a inspiração de
Deus, pois a expressão “Assim diz o Senhor”, como carimbo de
autenticidade divina, ocorre mais de 2.600 vezes nos seus 66 livros; isso
além de outras expressões equivalentes.
Contudo, o ensino progressista, que é o desdobramento do
liberalismo teológico, repudia a inspiração, a inerrância e a
infalibilidade da Bíblia (2 Tm 3.16). A ênfase dos progressistas
repousa no antropocentrismo (homem como centro). Esse ensino
produz pessoas egocêntricas e retira a convicção do pecado (2 Tm
3.2). O parâmetro progressista é de desprezo ou de reinterpretação
da Bíblia para satisfazer a concupiscência humana (2 Tm 4.3).
Propaga-se um “evangelho” em que a salvação do homem ocorre
por meio de uma reforma social com relativização do pecado, da
moral e da fé bíblica (Gl 1.7-10).
Como já observado, os progressistas propõem anulação ou
reinterpretação, ressignificação e atualização dos textos bíblicos a
fim de ajustar os anseios de uma sociedade que se recusa a crer na
supremacia das Escrituras. Nesse sentido, Childers (2022, p. 176)
assevera que, conforme o cristianismo progressista tem-se infiltrado
nas igrejas, os cristãos haverão de decidir “quanta autoridade esse
livro tem sobre as nossas vidas?” e que teremos de decidir por
seguir “a mentalidade de uma cultura sem Deus ou podemos optar
por seguir a Jesus”.
3. O Teísmo Aberto
Outra corrente da teologia liberal/progressista é o ensino do teísmo
aberto. O conceito surge de modo formal nos Estados Unidos em
1994, com a publicação do livro The Openness of God [A Abertura
de Deus]. Também é conhecido como Teísmo da Vontade Livre,
Abertura de Deus ou ainda Teologia Relacional. Esses títulos
referem-se ao fato de que Deus estaria aberto a aprender sobre os
eventos da história.
Mattos Neto (2007, p. 125) avalia que o método hermenêutico
adotado pelos neoteístas temimplicações diretas para a ortodoxia
cristã, tais como:
a) a desconsideração da infalibilidade e inerrância das Escrituras, b) a
negação da morte vicária e/ou substitutiva de Cristo, c) torna-se
desnecessário o temor a Deus, tendo em vista que o mesmo não pune, d) a
autolimitação divina conduz o homem a uma vida de riscos. Não é só Deus
que se arrisca pelo homem, mas o homem também se arrisca por Deus, e)
Nada é mais pela graça, mas pelas obras, f) não existe mais absolutos, g)
com a perspectiva do neoteísmo, não há mais como evangelizar, g) Deus
tem emoções e é governado por elas. Deus é governado por sua mudança
de humor, h) confundem promessas condicionais com as incondicionais, i)
sua hermenêutica é metafísica e não epistemológica.
Na interpretação do teísmo aberto, Deus é limitado, não conhece o
futuro em detalhes e não exerce controle absoluto sobre o Universo
e nem sobre a vida humana. Afirmam que o conhecimento divino
das coisas por acontecer depende das ações livres dos homens.
Rejeitam o conceito de presciência, em que Deus sabe todas as
coisas antecipadamente.
Nessa compreensão, Deus foi surpreendido pelo pecado no Éden
e forçado a redesenhar a história. Essa ênfase extremada nas
decisões do homem sacrifica a soberania de Deus. Essa
autolimitação divina anula o que a Bíblia ensina sobre a Queda e a
corrupção do gênero humano e afeta a doutrina da providência
divina e da presença do mal moral no mundo.
Em refutação, nossa Declaração de Fé professa:
O conhecimento de Deus é perfeito e absoluto sobre todas as coisas no céu
e na terra, de todos os eventos e de todas as circunstâncias que devem e
podem ser, que serão e que seriam por toda a eternidade passada e futura
[...] (Is 46.10).50
Além disso, é importante frisar que a onisciência divina não está
limitada a nosso conceito humano de futuro. Isso porque Deus
conhece o fim de determinada coisa antes mesmo de esta ter sido
iniciada.51
4. A Teologia da Desmistificação
Em 1958, Rudolph Bultmann propôs um programa de demitização
do texto bíblico. O mito é uma história de caráter religioso que não
tem fundamento na realidade e que se destina a transmitir um
conceito de fé. Para esse teólogo alemão, havia mitos na Bíblia, e
era preciso separá-los da verdade. Nesse pensamento, Céu e
Inferno, a tentação, os demônios e as possessões passam a ser
vistos como mitológicos.
Nas ideias de Bultmann, a doutrina da concepção e do nascimento
virginal e até mesmo a promessa da vinda de Cristo são
classificadas como mitologia. Nessa teologia, a Bíblia só é crível se
dela forem extirpados os milagres, os sinais e outras revelações
sobrenaturais. Em oposição a esses disparates, a ortodoxia ratifica
que a Bíblia não é mitológica, sendo ela a verdade plena de Deus (2
Pe 1.21).52
III. REFUTANDO O ENSINO PROGRESSISTA
1. Fortalecendo a Autoridade Bíblica
Em refutação ao ensino progressista, é indispensável fortalecer a
doutrina da inspiração divina, verbal e plenária da inerrante Palavra
de Deus (2 Tm 3.16,17).53 Validar o princípio de Sola Scriptura
instituído na Reforma, que estabelece a Bíblia Sagrada como a
única regra infalível e autoridade final de fé e prática.
Para Lutero, o sentido de Sola Scriptura era literal, ou seja,
somente a Escritura — e não a Escritura somada à tradição da
Igreja — é a fonte de revelação cristã. A sua defesa era pela
centralidade da Palavra de Deus. Lutero não reconhecia nenhuma
outra fonte como autoridade infalível de fé e de conduta que não
fosse a Bíblia Sagrada.
O reformador alemão escreveu:
Contendemos pela firmeza e pureza da fé e das Escrituras [...] Pois devemos
estabelecer a distinção mais nítida possível entre o que nos foi entregue por
Deus nos textos sagrados e o que foi inventado na Igreja pelos homens, não
importa a eminência da santidade ou da erudição dele. (LUTERO, 2016, p.
126)
Zwínglio (1484–1531) ensinou que a igreja não possui outra
autoridade além da Bíblia.54 Calvino (1509–1564) defendia a Bíblia
como base e firme alicerce para as crenças e estruturas cristãs, e
Menno Simons (1496–1561) fazia apelo urgente à autoridade da
Bíblia.55
Jacó Armínio (1560–1609) considerava que a perfeição das
Escrituras era retirada e solapada quando
a inspiração perfeita dada aos profetas e apóstolos, que administram as
Escrituras, é negada, e a necessidade e a frequente ocorrência de novas
revelações depois daqueles homens santos são declaradas abertamente.56
Nossa Declaração de Fé ratifica que “a Bíblia é nossa única regra
de fé e prática, a inerrante, completa e infalível Palavra de Deus,
que não pode ser anulada”.57 Desse modo, a autoridade bíblica é
ratificada quando a supremacia das Escrituras é propagada em
resistência à presunção das ideologias humanas em acrescentar ou
retirar alguma coisa da Palavra de Deus (Ap 22.18,19).
2. Ensinando as Doutrinas Bíblicas
A Grande Comissão confiada à Igreja consiste em fazer e ensinar
discípulos (Mt 28.19,20). Nesse aspecto, o ensino cristão sempre
esteve relacionado ao “Ide” estabelecido por Jesus. Compreende
uma ordenança proclamadora e um mandato educacional. É
responsabilidade dos discípulos de Cristo evangelizar e ensinar as
doutrinas bíblicas (١ Tm 4.13; 2 Tm 4.2). A incumbência é tanto de
formação de indivíduos como de transformação da sociedade.
Em vista disso, Paulo exorta a necessária dedicação ao ensino
(Rm 12.7). O apóstolo aponta para o indispensável “esmero” e
“diligência” no exercício do dom de ensinar. A erudição pentecostal
enfatiza que aquele que ensina deve ser “regular, constante e
diligente no ensino; que permaneça naquilo que é a sua própria
função”.58 Significa que o chamado para essa atividade precisa
apegar-se ao ensino, isto é, manter o foco e aperfeiçoar a
capacitação recebida a fim de oferecer o melhor ao Corpo de Cristo.
Desse modo, dentre outras obrigações, os ensinadores
necessitam buscar e evidenciar profundo conhecimento bíblico,
esmerar-se na correta aplicação das regras da hermenêutica e da
exegese e desenvolver acentuada habilidade no emprego dos
métodos do ensino-aprendizagem. Para alcançar esse ideal do
talento recebido do Senhor, aquele que ensina tem o dever de
estudar e instruir-se constantemente.
Um fator a ser observado é que essa atividade é essencial para
instruir, expor e corrigir o erro (2 Tm 3.16). Essa atuação é
primordial na transformação da velha natureza (Ef 4.22-24), na
formação do caráter cristão (Ef 4.13) e na proteção contra as
heresias (Ef 4.14). Resulta no genuíno crescimento de uma igreja
espiritualmente saudável e doutrinariamente bíblica (Ef 4.16).
Ainda convém destacar que o ensino das doutrinas bíblicas não
são a exposição de opiniões ou pensamentos pessoais. Não se trata
de “novas revelações” do Texto Sagrado. A teologia ortodoxa
assevera que “todas as doutrinas necessárias para o cristão já nos
foram transmitidas pelas Escrituras”.59 O compromisso inegociável
daquele que ensina deve ser de total fidelidade à revelação da
Palavra de Deus.
3. Enfatizando a Santificação
O fortalecimento da autoridade bíblica e o aprendizado das
doutrinas cristãs precisam estar atrelados a uma vida de santidade
(1 Pe 1.16). O verbo santificar vem do grego hagiazõ, que significa
“separar, purificar, consagrar”. O adjetivo “santo” é tradução do
vocábulo hagios. Desse modo, a santificação é a operação do
Espírito Santo em manter o salvo separado do pecado (Rm 12.1,2).
Nossa Declaração de Fé (SOARES, 2017, p. 112) ratifica que:
Já salvo, justificado e adotado como filho de Deus, o novo crente entra, de
imediato, no processo de santificação, pois assim o requer a sua nova
natureza em Cristo [...] (Rm ٦.٢٢; ١ Ts 4.3). Santificação é o ato de separar-
se do pecado e dedicar-se a Deus. Ele exige santidade de seus filhos [...] (1
Pe 1.15,16); pois sem a santificação ninguém verá o Senhor [...] (Hb 12.14).
Assim, a doutrina da santificação enfatiza que a eleição em Cristo
predestina os crentes a ser “santos e irrepreensíveis diante dele” (Ef
1.4c). Esses termos bíblicos apontam para o mais alto padrão ético
e moralde vida a fim de agradar a Deus (Ef 5.1-3). Nesse sentido, a
regeneração preordena os crentes para uma vida afastada do
pecado e, por conseguinte, a uma conduta ilibada.
Em decorrência, o ser santo denota dois aspectos: um estado de
pureza interior que reflete no ser irrepreensível que resulta numa
condição de pureza externa. O ensino é de admoestações contra a
velha conduta, tais como a mentira, o furto, as palavras torpes, a
amargura, a ira e a cólera (Ef 4.25,28,29,31).60 Nessa concepção,
são contundentes as advertências contra a prostituição, a impureza,
a avareza e a embriaguez, entre outros (Ef 5.3,15,18).
A santificação é, portanto, a continuação da obra iniciada na
regeneração (Ef 1.13), quando o salvo recebe novidade de vida (2
Co 5.17) e estende-se até o dia da glorificação do crente (Rm 6.22).
A ênfase está na obediência à Palavra de Deus (Tg 1.22), abandono
das concupiscências (1 Pe 1.13,14) e uma vida de retidão moral em
toda a maneira de proceder (1 Pe 1.15).
CONCLUSÃO
As Escrituras advertem que a conduta humana dos “últimos dias” é
de repulsiva descaracterização da fé. A heresia progressista critica
as Escrituras, promove o enfraquecimento da ortodoxia, instiga a
frouxidão moral e afasta as pessoas do verdadeiro cristianismo.
Contudo, a postura da Igreja não deve ser de inércia, mas, sim, de
resistência à iniquidade. A defesa da fé ocorre quando os valores
imutáveis e atemporais da Bíblia são exercitados pelo poder de
Deus na vida diária do crente salvo (1 Co 2.4,5).
37 ZUCK, Roy B. Teologia do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p.
332.
38 STRONSTAD, Roger & ARRIGTON, French (ed). Comentário Bíblico
Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1.497.
39 STRONSTAD & ARRIGTON, 2003, p. 1.497.
40 ZUCK, 2008, p. 371.
41 ZUCK, 2008, p. 372.
42 KEENER, Craig. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento.
São Paulo: Edições Vida Nova, 2017, p. 738.
43 HARPER, A. F. (Ed.). Comentário Bíblico Beacon. Gálatas a Filemon. Vol. 9.
Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 526.
44 KEENER, 2017, p. 738.
45 PFEIFFER, Charles J. et al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro:
CPAD, 2006, p. 1.010.
46 HENRY, Carl (org.). Dicionário de Ética Cristã. São Paulo: Editora Cultura
Cristã, ٢٠٠٧, p. ٣٤٦.
47 FERRARI, Sonia Campaner Miguel (org.). Filosofia Política. São Paulo:
Saraiva Educação, ٢٠١٩, p. ١٣٧-١٤٢.
48 HENRY, 2007, p. 157.
49 SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio
de Janeiro: CPAD, 2017, p. 25.
50 SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio
de Janeiro: CPAD, 2017, p. 33.
51 JOYNER, Russel E. O Deus único e verdadeiro. In. HORTON, Stanley (ed.).
Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996,
p. 133.
52 Para ler mais sobre essa temática, consultar o capítulo 3 desta obra, “A
deturpação da doutrina da natureza humana”, no ponto II. As teologias
modernas, item 3. Liberalismo Teológico.
53 Consultar nesse capítulo o ponto II. As teorias progressistas, item 2. A
desconstrução da Bíblia.
54 MCGRATH, Alister. A Revolução Protestante. Brasília: Editora Palavra, 2012,
p. 74.
55 GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: vida Nova, 1993.
p. 259.
56 ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio. Rio de Janeiro: CPAD, 2015. vol. 1. p.
364.
57 SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio
de Janeiro: CPAD, 2017, p. 26.
58 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento – Atos a
Apocalipse. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 389.
59 ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio. Rio de Janeiro: CPAD, 2015. vol. 1. p.
377.
60 SOARES (Org.), 2017, p. 160.
A
Capítulo 4
Quando a Criatura Vale mais
que o Criador
Pois mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais a
criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém! (Rm 1.25)
soberba, a insensatez e a autossuficiência do homem ímpio
mantêm-no afastado da verdade absoluta de Deus. Com o
advento da revolução do pensamento, o ser criado passou a
priorizar cada vez mais a criatura em detrimento do Criador. A
autoexaltação, a autoidolatria, o coração perverso e a escolha pelos
prazeres carnais colocaram a raça humana em inimizade contra
Deus (2 Tm 3.4). Este capítulo é um alerta acerca do que ocorre
quando o Senhor deixa de ser a medida de todas as coisas (Rm
١.١٨).
I. O DESPREZO À VERDADE
1. Tempos de Pós-Verdade
O Dicionário de Oxford define “pós-verdade” como aquilo que é
relativo ou referente a circunstâncias nas quais os fatos objetivos
têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à
emoção e a crenças pessoais.61 Significa que a verdade perdeu a
importância e o valor. Os fatos e a realidade são desprezados e
escolhe-se acreditar na narrativa. Esse movimento afeta a imprensa,
a política, a justiça, a economia, a religião e o cotidiano da vida em
sociedade.
Essa desconstrução da verdade é uma das principais estratégias
secularistas de oposição ao cristianismo. Na esteira das
proposições do humanismo renascentista e dos ideais iluministas, o
progressismo fomenta e fartamente se utiliza do conceito de “pós-
verdade”. Nos moldes do perspectivismo moral de Nietzsche (1844–
1900), o fundamento dessa assertiva é de que “não há fatos,
apenas interpretações”.62
Acerca desse tema, Isaac Pereira (2009) argumenta que:
De maneira inconcebível, as igrejas deram lugar à pós-verdade [...] Crescem
aqueles que negam as questões mais basilares da fé sob o argumento de
ser matéria de interpretação pessoal. Inventaram, por assim dizer, um “pós-
evangelho” que retira de Deus o protagonismo e autoria, pondo o homem no
lugar de preeminência, assim como sugere o progressismo e o liberalismo
teológico. Parafraseando o filósofo alemão, “não há verdades bíblicas
absolutas, apenas interpretações pessoais” [...] A pós-verdade nada mais é
do que uma mentira maquiada com o objetivo de fomentar o sistema
enganoso deste mundo. Esta era já estava prevista (2Ts 2.11; 2Tm 4.4) e se
tornou uma excelente oportunidade para o cristão se destacar como um
pequeno farol que defende, compartilha e expõe com clareza a verdade
factual (Ef 4.25).
Nesse sentido, a “pós-verdade” é a negação ou relativização da
verdade. O apóstolo Paulo assevera que são os homens ímpios e
injustos que mudam “a verdade de Deus em mentira” (Rm 1.25).
Acerca dos que praticam ou são coniventes com essa ideologia, o
apóstolo João assevera com veemência que todo e “qualquer que
ama e comete a mentira” (Ap 22.15) será impedido de entrar no
Reino dos céus.
2. A Impiedade e a Injustiça
Ao abordar essa inversão de valores, Paulo revela que “do céu se
manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos
homens que detêm a verdade em injustiça” (Rm 1.18). Aqui o termo
impiedade é tradução do grego asebeia com o sentido de
“irreligiosidade”. A conduta de impiedade é uma forma ativa e
virulenta do mal. É aquilo que é maligno ou falso diante de Deus.63
Refere-se à ação humana intencional de viver como se Deus não
existisse (Sl 36.1; Jd 1.14,15).
O vocábulo injustiça, por sua vez, vem do grego adikia e significa
“sem retidão”. Alude a ação daquele que tem prazer na iniquidade,
não um mal intelectual, mas moral; o desgosto pela verdade é o
precursor da sua rejeição.64 É a atitude de não ser reto diante de
Deus e nem com o próximo (٢ Pe 2.15). Declara a situação geral da
humanidade não regenerada (Rm 1.18).
Aqui, Paulo emprega ambos os termos, “impiedade” e “injustiça”,
para retratar a conduta humana de idolatria, de culto à criatura (Rm
1.19-23), de perversidade e de depravação moral (Rm 1.25-32).
Expressa a decisão deliberada de desprezo à verdade divina (Rm
1.19,20). Essa investida contra o temor a Deus e a relativização do
pecado aprisionam e cauterizam a consciência humana, fomentada
pela hipocrisia de homens que falam mentiras (1 Tm 4.2).
O Comentário Bíblico Beacon (2014, vol. 7, p. 480) acrescenta:
O termo hipocrisia fala do esforço consciente e deliberado em enganar o
conhecimento moral de que os ensinos que eles propagam

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