Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Todos os Direitos Reservados. Copyright © 1995 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Segunda edição - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2020. Autor: Myer Pearlman Capa: Fábio Longo Conversão para ebook: Cumbuca Studio CDD: 220 - Bíblia e-ISBN: 978-65-86146-00-4 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário. Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: https://www.cpad.com.br SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373 Casa Publicadora das Assembleias de Deus Av. Brasil, 34.401 - Bangu, Rio de Janeiro - RJ CEP: 21.852-002 2a edição - 2020 Índice Capa Folha de Rosto Créditos Índice 1. Jesus, Filho de Deus e Criador 2. Os Primeiros Discípulos 3. O Primeiro Milagre de Cristo 4. Jesus e Nicodemos 5. Jesus e a Mulher Samaritana 6. O Paralítico do Tanque de Betesda 7. Jesus, o Juiz que Há de Vir 8. Jesus, o Pão da Vida 9. Jesus na Festa dos Tabernáculos 10. Jesus, o Libertador 11. O Cego de Nascença 12. Jesus, o Bom Pastor 13. A Ressurreição de Lázaro 14. Jesus é Ungido por Maria 15. Jesus, o Rei dos Reis 16. Jesus, o Servo 17. Jesus nos Dá o Consolador 18. Jesus É a Videira 19. Jesus, o Intercessor 20. A Crucificação 21. Jesus, o Ressurreto 22. Jesus Dissipa as Dúvidas 23. Jesus Aparece a Sete Discípulos na Galiléia Landmarks Capa Folha de Rosto Página de Créditos Sumário Início 1 Jesus, Filho de Deus e Criador Texto: João 1.1-14 Introdução Em João 20.31, o evangelista declara o seu propósito, que é oferecer uma série de evidências que comprovem a natureza e a missão divinas de Jesus. Os primeiros 18 versículos do livro são um prefácio em que anuncia o seu tema: “Como o Filho de Deus foi manifestado ao mundo”. Este prefácio apresenta as três grandes idéias que percorrem o evangelho inteiro: 1. A revelação do Verbo, v. 1-4. 2. A rejeição do Verbo, v. 5-11. 3. A aceitação do Verbo, v. 12-14. I – A Revelação do Verbo (Jo 1.1-4) 1. Seu relacionamento com Deus. “No princípio era o Verbo”. Esta expressão nos leva de volta a Gênesis 1.1, onde se lê: “No princípio criou Deus os céus e a terra.” João nos informa que, na época da criação, o Verbo já existia: “E o Verbo estava com Deus”, existia em relacionamento com Deus, o que sugere a eterna comunhão entre o Pai e o Filho. “E o Verbo era Deus” não significa que o Verbo é o Pai, porque o Pai e o Filho, sendo um quanto à sua natureza, são, porém, distintos quanto às suas personalidades. O Verbo é da mesma natureza do Pai, ou seja, divino. A palavra do homem é o modo de ele se exprimir, de se comunicar com outras pessoas. Pela sua palavra, faz conhecidos seus pensamentos e sentimentos; pela sua palavra, dá ordens e efetua a sua vontade. A palavra que ele fala transmite o impacto do seu pensamento e caráter. Um homem pode ser conhecido de modo completo pela sua palavra, e até um cego pode conhecê-lo perfeitamente assim. Ver a pessoa não daria muitas informações quanto à sua personalidade a alguém que não a tivesse ouvido falar. A palavra da pessoa é seu caráter recebendo expressão. Da mesma forma, a “Palavra de Deus” (ou “Verbo de Deus”, expressão que a tradução bíblica em português emprega quando se trata de uma referência direta a Jesus Cristo na sua vida terrena) é sua maneira de exprimir sua inteligência, vontade e poder. Cristo é aquele Verbo, porque Deus revelou sua atividade, vontade e propósito através dele, e porque é por meio dele que Deus entra em contato com o mundo. Nós nos exprimimos por meio de palavras; o Deus eterno se exprime através de seu Filho, que é “a expressa imagem da sua pessoa” (Hb 1.3). Cristo é o Verbo de Deus porque revela Deus, demonstrando-o pessoalmente. Ele não somente traz a mensagem de Deus - Ele é, pessoalmente, a mensagem de Deus. Deus se revelara mediante a palavra dos profetas, e através de sonhos, visões e manifestações temporárias. Os homens, porém, ansiavam por uma resposta ainda mais compreensível à sua pergunta: Como é Deus? Como resposta a esta pergunta, ocorreu o evento mais estupendo da história do mundo: “E o Verbo se fez carne” (Jo 1.14). O eterno Verbo de Deus tomou sobre si a natureza humana e se fez homem, a fim de revelar o Deus eterno através de uma personalidade humana (Hb 1.1,2). Assim sendo, diante da pergunta “Como é Deus?”, o cristão responde: Deus é como Cristo, porque Cristo é o Verbo - a expressão do conceito que o próprio Deus faz de si mesmo. 2. Seu relacionamento com a criação. “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. “Ele estava no princípio com Deus”, ou seja, já na época em que o Universo estava para ser criado (cf. Hb 1.2; Cl 1.16; 1 Co 8.6). A quem falou Deus em Gênesis 1.26? 3. Seu relacionamento com os homens. “Nele estava a vida”. Ele dá vida a todos os organismos vivos, e guia todas as operações da natureza. O Pai é fonte original da vida; e toda a vida está reservada nEle, como numa cisterna de armazenamento. O universo de coisas vivas veio a existir por meio do Verbo, e é sustentado pelo seu poder. A cura do paralítico (Jo 5.1-9) e a ressurreição de Lázaro são ilustrações do poder do Verbo. “E a vida era a luz dos homens”. Toda a luz que já veio aos homens mediante a consciência, a razão ou a profecia, foi irradiada pelo Verbo de Deus, mesmo antes dele entrar no mundo. II – A Rejeição do Verbo (Jo 1.5-11) 1. Rejeitado como a luz dos homens. “E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.” A luz era derivada do Verbo, e pela capacidade recebida da parte dEle podiam reconhecer o que era útil à sua natureza espiritual. Mesmo assim, fecharam os olhos à Fonte da luz, como o olho doentio que rejeita a luz natural, embora aquela fosse a vida deles. A queda foi um obstáculo, na história da humanidade, ao entendimento da Palavra de Deus, porque envolveu o mundo em trevas morais e espirituais, de tal modo que os homens, criados por Deus, não podiam mais entender as instruções de seu Criador, tendo sido obscure- cidas as suas mentes pelo efeito do pecado e da ignorância. O pensamento básico do trecho é interrompido pelos versículos 6-8, que enfatizam a posição de João Batista como testemunha e refletor da luz, e não como Messias. Alguns dos seus discípulos se apegaram tanto a ele que, a despeito da advertência contida no testemunho que deu de si mesmo em João 3.25-30, teimaram em sustentar ser João Batista o Messias, e, posteriormente, formaram a seita dos mandeus, da qual existem ainda seguidores no Oriente. Voltando ao pensamento básico: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu”. Os homens tinham tão pouco entendimento da origem do seu ser, aprenderam tão pouco acerca da razão da sua existência, que não reconheceram seu Criador quando Ele surgiu no meio deles. A civilização romana registrou seu nascimento, lançou-o no cadastro de pessoas físicas para finalidades de impostos, mas não tomou o mínimo conhecimento dEle como sendo o próprio Deus revelado em seu meio. 2. Rejeitado como Messias de Israel. “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam”. Jesus ensinou esta verdade na parábola dos lavradores maus (Mt 21.3343). Que tragédia! A nação que aguardava a vinda do Messias, orando ardentemente por este acontecimento, cantando e profetizando acerca da sua vinda, não quis recebê-lo quando chegou! (Cf Is 53.2,3; Lc 19.14; At 7.51,52). III – A Aceitação do Verbo (Jo 1.12-14) 1. O dom da filiação. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que crêem no seu nome”. Estes vieram a ser filhos de Deus, não por serem descendentes de Abraão (“não nasceram do sangue”), nem por geração natural (“nem da vontade da carne”), nem pelos seus próprios esforços (“nem da vontade do varão”). Sua adoção na família divina foi um dom gratuito e sobrenaturalda parte de Deus, mediante uma nova vida implantada neles pelo Espírito Santo, como será explicado adiante na entrevista de Jesus com Nicodemos, no capítulo 3. 2. A visão da glória. “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós”. Literalmente: “E o Verbo foi feito carne, e ta- bernáculo entre nós”. O Filho de Deus habitou num taber- náculo (“tenda”) entre nós, o tabernáculo sendo seu próprio corpo (cf. Jo 2.19; 2 Co 5.1,4; 2 Pe 1.13,14). Assim como a glória de Deus habitava no Tabernáculo antigo, assim também, quando Cristo nasceu neste mundo, sua divina natureza habitava no seu corpo como num templo. “E vimos a sua glória” (caráter divino), não meramente a glória externa revelada na transfiguração (2Pe 1.16,17), mas, também, o esplendor do seu divino caráter. Não era uma glória refletida, como a glória de um santo, e sim a “glória do unigênito do Pai”. Um filho participa da mesma natureza do pai; Cristo, como Filho de Deus, tem a própria natureza de Deus. Este divino caráter estava “cheio de graça e de verdade”. A graça é o favor divino, o amor inabalável de Deus, a misericórdia divina, e a verdade não somente é a fala leal, sincera e veraz, como também a conduta à altura. Por qual ato, ou meio, o Filho de Deus veio a ser Filho do homem? Qual milagre poderia trazer ao mundo “o segundo homem”, que é o Senhor do Céu (1 Co 15.47)? A resposta é que o Filho de Deus entrou no mundo, como Filho do homem, por meio da concepção no ventre de Maria mediante o Espírito Santo, independentemente de pai humano. No fato do nascimento virginal baseia-se a doutrina da encarnação (Jo 1.14). IV – Ensinamentos Práticos 1. Cristo, a nossa Vida. “Nele estava a vida”. Cristo é a verdadeira fonte de vida espiritual. “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10.10). Para esta finalidade o Filho de Deus tornou-se Filho do homem: a fim de que os filhos dos homens possam ser feitos filhos de Deus. “Quem tem o Filho, tem a vida”. Esta vida de Cristo em nós precisa tomar a primazia; enquanto subjugamos pela Fonte a vida do próprio-eu, sustentamos a vida de Cristo em nós; quanto mais alimentamos em nossa vida a de Cristo, a vida do próprio-eu vai passando fome. Miguelângelo, o grande escultor, dizia das lascas de mármore que iam caindo em grandes quantidades no chão do seu estúdio: “Enquanto o mármore vai se desgastando, a estátua vai crescendo.” Enquanto nós, mediante a abnegação, tiramos lascas da nossa velha natureza, a vida de Cristo se torna manifesta em nossos corpos mortais. Cristo, para ilustrar esta verdade, fez alusão à prática da poda: “Toda vara em mim que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (Jo 15.2). O objetivo da poda é canalizar a vida de partes inúteis para partes úteis. A parte da planta que antes monopolizava o vigor da planta sem dar resultados, de repente é cortada, a fim de que a seiva vital passe de modo ativo às partes frutíferas. A abnegação é um tipo de poda espiritual mediante a qual as energias antes malbaratadas em atividades pecaminosas ou sem proveito são postas a serviço da vida espiritual. Enquanto conservarmos nosso contato com Cristo, que é a nossa vida, temos a vida abundante. Se deliberadamen- te nos separamos dele, perdemos esta vida. A árvore não se afasta da folha; é a folha que cai da árvore. Cristo não abandona ninguém; são os homens que o abandonam. Como nutrir a vida divina que há em nós? Pela leitura da Palavra, pela oração, observando diligentemente todos os meios da graça. 2. Cristo, nossa Luz. “Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo” (Jo 1.9). Por que Jesus é comparado à luz? 2.1. A luz épura. Brilha nos lugares mais imundos sem perder sua pureza. Cristo foi chamado “o amigo dos pecadores”, sem que a mínima mancha de pecado lhe tenha maculado o caráter. A luz brilhou nas trevas, sem nunca por elas ser vencida, obscurecida. Longe de afastá-lo dos pecadores, sua pureza fez com que sentisse simpatia por eles. Os verdadeiros homens de Deus sempre demonstram ternura pelas pessoas que caíram em erros. 2.2. A luz é meiga. A luz pode tocar numa teia de aranha sem fazer tremer um único fio. Cristo sempre demonstrava meiguice ao tocar vidas quebradas, para sarar e não para esmagar (cf. Mt 12.20). Todos os verdadeiros cristãos são pessoas meigas, pacíficas (Tg 3.17). Muitas vezes o conceito de poder se confunde com o da violência; a mei- guice, porém, é um poder construtivo. 2.3. A luz revela. Quão grande é o alívio para o viajante tateando na noite escura, quando rompe a aurora! Quão grande a alegria para o peregrino nas sendas desta vida quando a luz da revelação divina esclarece os problemas da vida! “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8.12). 3. “O homem, este desconhecido”. Foi este o título que o cirurgião e cientista Dr. Alexis Carrel, de renome mundial, deu a um livro seu que teve enorme aceitação. Nele, indica que as dificuldades pelas quais a humanidade passa são devidas ao fato de que o homem, sábio quando se trata de invenções, é proporcionalmente ignorante quanto à natureza do seu próprio ser. Há algum tempo, um notável biólogo fez uma declaração semelhante. Expressou o receio de que a nossa civilização esteja caminhando para a ruína porque o homem, com tantos conhecimentos quanto ao emprego dos objetos materiais, ainda permanece sendo um “mistério biológico”. A razão por que o homem não conhece a si mesmo é não conhecer o seu Criador. Assim como João escreveu: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu” (Jo 1.10). Jesus “sabia o que havia no homem” (Jo 2.25). Sabe, também, o que é melhor para o homem. Seu jugo é suave porque, diferentemente do jugo do pecado, se adapta à alma. 4. Deus manifestado na carne. Narra-se a história de um culto hindu, que, passeando despreocupadamente, foi olhar de perto um formigueiro. Quando se abaixou, sua sombra assustou as formigas e elas correram em todas as direções. Tendo uma natureza simpática, o hindu pensou consigo mesmo: “Gostaria de poder conversar com estas pequenas criaturas, para dizer-lhes que não quero lhes fazer nenhum mal”. Mais uma vez, aproximou-se delas, e elas, como da primeira vez, se amedrontaram. Quando ele recuou um pouco, recomeçaram as atividades do formigueiro. Sua mente, como que brincava com o incidente: “Gostaria de poder falar àquelas criaturinhas”, voltou a pensar. Então ocorreu-lhe o pensamento: “Não poderia falar com elas mesmo se possuíssem inteligência; ainda que possuíssem uma língua, e que eu pudesse aprender tal língua, não conseguiria me comunicar com elas, porque os meus pensamentos não são os pensamentos delas. Meus termos de expressão não seriam compreensíveis a elas.” Sua imaginação continuou trabalhando: “Se eu pudesse vir a ser uma formiga como elas, e ainda reter minha própria personalidade e consciência, então, vivendo entre elas, conseguiria comunicar-me, e elas entenderiam pelo menos alguma coisa dos meus pensamentos”. O seguinte pensamento raiou- lhe de súbito: “É exatamente isto que estes ensinadores cristãos querem nos dizer: que Deus se fez homem a fim de revelar-se a nós e salvar-nos”. E, assim, sob a influência da própria ilustração que ele mesmo viu, o hindu veio a aceitar a fé cristã. A encarnação é um mistério que desafia a lógica. Para nossa fé, porém, basta sabermos que Deus se revelou por meio de Cristo, a fim de abrir-nos o caminho da salvação. 2 Os Primeiros Discípulos Texto: João 1.35-42 Introdução O apóstolo João declara o propósito de escrever seu evangelho: “Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31). João transmite-nos todo o volume de testemunho que o convenceu, e a outros da sua geração, quanto à divindade de Cristo, e tem confiança de que outros, igualmente, serão inspirados com a mesma convicção. O apóstolo apresenta três séries de testemunhos: 1) Os milagres de Cristo,que chama de “sinais”, porque demonstram a divindade de quem os opera. Quantos milagres operados antes da crucificação João registra no seu livro? 2) As asseverações de Jesus quanto à sua natureza e missão. Note quantas vezes João registra as reivindicações de Jesus, que começam com as palavras “eu sou”. 3) João registra os testemunhos de outras pessoas - de João Batista, dos primeiros discípulos e daqueles que receberam a cura da parte de Jesus. Este trecho é um exemplo da terceira série de evidências. Citam-se aqui os testemunhos de João Batista e André, irmão de Pedro. Quando Jesus emergiu da vida particular para entrar no ministério público, não tinha nenhum adepto ou seguidor. Deus, porém, enviara um profeta para preparar o caminho diante dele - João Batista, para “preparar ao Senhor um povo bem disposto” (Lc 1.17). Foi no meio dos convertidos de João Batista que Jesus recebeu seus primeiros discípulos. Nosso trecho bíblico conta como três desses discípulos (inclusive o discípulo não mencionado pelo nome) deixaram a escola preparatória de João Batista para se tornarem estudantes da escola superior de Jesus. I – Uma Declaração Que Chama a Atenção (Jo 1.35,36) “No dia seguinte João estava outra vez ali, e dois dos seus discípulos [André e João]; e, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus”. Estudemos o significado desta proclamação, examinando as palavras, uma por uma. 1. “EIS aqui o Cordeiro de Deus”. Literalmente, “veja”. O evangelista apela ao pecador que veja o Crucificado e, contemplando-o, lamente os pecados que causaram sua morte. 2. “ Eis O Cordeiro de Deus”. Os sacrifícios de animais não operavam a perfeita redenção, haja vista que sempre tinham de ser repetidos. Nenhum sacerdote de Israel, cansado por causa do serviço ao redor do altar, poderia voltar para casa, dizendo: “Minha esposa, finalmente ofereci o sacrifício final; o povo está completamente perdoado e purificado”. No entanto, qualquer um dentre os sacerdotes que obedeciam à fé (At 6.7) poderia ter dito isso, porque o Cordeiro perfeito, do qual os demais eram apenas símbolos, já fora oferecido (cf. Hb 10.11,12). 3. “Eis o CORDEIRO de Deus”. O cordeiro era um animal sacrifical; João, portanto, identificava Jesus com o Sacrifício enviado da parte de Deus, “que tira o pecado do mundo”. Leia Isaías 53, que é um ponto alto na doutrina do sacrifício, por profetizar que o próprio Messias em pessoa haveria de se tornar a expiação pela raça humana. Compare com Atos 8.32-35. Talvez João também se referisse ao cordeiro da Páscoa (cf.1 Co 5.7). No início do período da Lei, há o cordeiro da Páscoa, cuja aceitação por parte da nação de Israel redimiu-a do meio da nação gentia; quase no fim do período da Lei, há outro Cordeiro, rejeitado pelos israelitas - e, por causa deste pecado, foram espalhados entre os gentios. 4. “Eis o Cordeiro de DEUS”. Uma das mais marcantes diferenças entre a fé cristã e o paganismo é que os adoradores pagãos trazem sacrifícios na tentativa de se reconciliarem com os seus deuses, enquanto a mensagem do Evangelho declara que o próprio Deus enviou um sacrifício em nosso favor a fim de nos reconciliar consigo (Rm 8.32; 2 Co 5.19). Deus trouxe a nós o sacrifício que nos coloca mais perto de Deus, e até o Antigo Testamento apresenta a expiação como sendo a dádiva da graça divina: “Porque a alma da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas” (Lv 17.11). II – Uma Apresentação Inesquecível (Jo 1.37-39) 1. Os discípulos que procuram. “E os dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus.” A congregação de João começou a deixá-lo; ele, no entanto, não sentiu ciúmes porque, afinal, foi justamente esta obra de apontar às pessoas o Messias que viera fazer: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (cf. Jo 3.25-30). O fiel obreiro cristão conduz as pessoas a Cristo, e não a si mesmo. 2. A pergunta perscrutadora. “E Jesus, voltando-se e vendo que eles o seguiam, disse-lhes: Que buscais?” O Senhor não deixa que ninguém o siga em vão; mostrará o seu rosto àqueles que o seguem em sinceridade. Note que as palavras “que buscais?” são um gracioso convite aos que o procuram, para que abram o seu coração a Ele. Ele a todos pergunta: “Que buscais?” Estão procurando verdade, poder, perdão, amor, paz, vitória, esperança, forças? Ele pode nos oferecer tudo quanto buscamos e de que necessitamos. Além disso, a pergunta é um desafio, no sentido de ver se estamos procurando as coisas certas, porque ele procura discípulos sinceros e que entendam o que estão fazendo. 3. A pergunta tímida. “E eles disseram-lhe: Rabi (que, traduzido quer dizer, Mestre), onde moras?” Apesar de se sentirem um pouco acanhados na sua presença, os jovens ficaram tão impressionados em seu primeiro contato com Jesus que desejavam saber mais acerca dele; queriam saber o seu endereço, visando a uma visita mais prolongada. Lição: não devemos nos limitar a uma olhada passageira em Cristo; devemos saber onde Ele habita, para que nos receba como hóspedes. 4. O convite gracioso. “E ele lhes disse: Vinde, e vede.” Este convite é a melhor resposta aos que duvidam e aos interessados - é o apelo à experiência. Podemos dar às pessoas uma excelente receita culinária, e fazer grande esforço de descrever quão delicioso é certo prato, mas nada se compara com levar o próprio ouvinte a experimentar a comida por si mesmo. “Provai, e vede que o Senhor é bom” (Sl 34.8) III – Uma Entrevista Que Transforma a Vida (Jo 1.39) “Foram, e viram onde morava, e ficaram com ele aquele dia”. O escritor inspirado não nos conta os detalhes daquela inesquecível visita; sabemos, no entanto, que o contato com o radiante Mestre contribuiu com algo de vital à vida de André. Nunca mais foi o mesmo depois daquela entrevista. “Senti um calor estranho no meu coração”, disse João Wesley, descrevendo seu primeiro contato vivo com Cristo, e certamente André sentiu-se assim durante a sua festa espiritual com o Mestre. Quem aceitar o convite de Jesus (“Venha ver”) receberá outro convite (“Venha cear”). O primeiro é para os que ainda não são do seu rebanho; o segundo é para os que já entraram no seu aprisco. IV – Uma Grande Descoberta (Jo 1.40) André saiu daquela casa transbordando com uma poderosa convicção e, enlevado pela descoberta que tanto o emocionara, foi correndo falar com o seu irmão Pedro, anunciando as novas que fariam palpitar o coração de qualquer verdadeiro israelita: “Achamos o Messias”. Muitos judeus podem dizer, até hoje: “Cremos na vinda do Messias, oramos e ansiamos por aquele acontecimento”, mas nenhum judeu que não crê em Jesus pode dizer, juntamente com André: “Achamos o Messias”. Note que André veio a ser testemunha de Cristo no dia da sua conversão. As coisas maravilhosas que Cristo sussurra nos ouvidos do homem, em segredo, ficam ardendo no seu íntimo até que ele conte aos outros. V – Um Serviço de Amor (Jo 1.42) André não se restringiu a contar as novas: queria que seu irmão as experimentasse por si mesmo. Lemos, portanto: “E levou-o a Jesus” - o serviço mais gentil que uma pessoa pode fazer a outra. Não é necessário que alguém seja grande pregador ou gênio espiritual para assim fazer. André começou o trabalho em seu próprio lar: “Este achou primeiro a seu irmão”. O melhor preparo a um missionário é começar em casa; se não conseguimos levar outras pessoas a Cristo em nossa própria terra, como o faremos em outras terras? Quando o endemoninhado liberto por Jesus quis seguir viagem com Ele, o Mestre respondeu: “Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti” (Mc 5.19). VI – Uma Recepção Graciosa (Jo 1.42) “E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro).” Cefas, em hebraico, quer dizer “pedra” ou “rocha”. O que Cristo quis dizer com isto? 1. Na Bíblia, a mudança de nome freqüentemente significava mudança da natureza da pessoa, da sua situaçãoou experiência (Gn 32.28). Este encontro com Jesus se constituiu em ponto crítico na vida de Pedro - a hora em que ele passou a ser de Cristo. Dan Crawford conta acerca do valor que os congoleses dão a nomes: “O homem que se transforma muda também de nome. Um jovem perto de mim recebeu um aumento salarial, e tomou dinheiro adiantado para comprar um nome. Para ele, o nome era um patrimônio tão valioso como um imóvel, pertencendo-lhe como se fosse seu cachorro ou sua arma. O jovem queria comprá-lo solenemente, à vista. Naturalmente que possuía nome, mas achava seu nome de nascimento por demais infantil: não é verdade que para dado por conjectura, e sem o consentimento dele? Não é verdade que o nome deve ser um legítimo reflexo do caráter da pessoa?... Não é de se estranhar, portanto, que quando você diz ao africano que no céu teremos uma nova natureza, este responde: ‘Devemos, portanto, receber um nome novo”’ (ver Ap 2.17). 2. A mudança de nome foi, neste caso, uma promessa de poder transformador. Talvez Pedro pensasse, consigo mesmo, na presença do Mestre: “Como poderei eu, homem de caráter fraco e instável, ser digno de entrar no reino do Messias?” (cf. Lc 5.7,8). O Senhor, percebendo os temores íntimos de Pedro, queria dizer: “Sei que o homem chamado Simão é conhecidamente impulsivo, impetuoso e instável. Tenha, porém, bom ânimo. Assim como sei quem é você, assim também sei o que você será. Venha a mim assim como você é, e eu o farei uma pedra firme no meu Reino. Como sinal desta promessa, seu nome será Cefas.” O Senhor sempre é o mesmo: recebe-nos em nossa fraqueza, sabendo que poderá nos tornar fortes. 3. O novo nome foi sinal da autoridade de Cristo exercida sobre Pedro, assim como um rei pode alterar o nome de alguém que levou cativo (cf. Dn 1.7). Daquele momento em diante, Pedro ficou pertencendo a Cristo e, com todo amor, chamava-o de Mestre. VII – Ensinamentos Práticos 1. A maior necessidade do homem. Sacrifícios, altares e templos em todas as terras e época testificam esta verdade: os homens sempre sentiram o fato de as coisas andarem erradas no seu relacionamento com o poder superior, e que a apresentação de um sacrifício com derramamento de sangue é necessária para retificar a situação. Cada pessoa que honestamente examinar o seu próprio coração sentir-se-á constrangida a dizer “Amém!” à declaração bíblica: “Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Muitos remédios têm sido oferecidos para curar a falta de harmonia que há na alma humana; João Batista, porém, apontou o remédio divino: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” 2. Uma pergunta perscrutadora. “Que buscais?” Esta pergunta sugere duas lições. 1) A necessidade de termos nítida consciência de qual é o nosso objetivo na vida. Muitas pessoas são levadas à deriva pela vida, impulsionadas pelas circunstâncias; sabem quais as suas necessidades imediatas; não podem, porém, apontar um objetivo supremo para atingir, nem mencionar um grande propósito que controle a sua vida. Jesus, para despertar nas pessoas o reconhecimento de quão fútil é a vida que vão levam, pergunta-lhes: “Que buscais?” 2) A pergunta desafia as pessoas a se tornarem discípulos sérios. Marcos Dods escreve: “Cristo deseja ser seguido com toda a seriedade. Tantos o seguem porque uma multidão está indo atrás dele, levando outras pessoas consigo; tantos o seguem porque está na moda, sem possuírem opinião própria; muitos o seguem como por experiência, e vão ficando para trás quando surge a primeira dificuldade; muitos seguem com idéias errôneas quanto àquilo que esperam da parte dEle... Cristo não manda ninguém embora simplesmente pela sua lentidão em entender quem é Ele e o que Ele tem feito pelos pecadores. Com esta pergunta, no entanto, nos faz entender que aquela atração vaga e misteriosa que, qual ímã escondido, atrai a ele as pessoas, deve ser trocada por uma compreensão nítida quanto ao que nós mesmos esperamos receber dEle para suprir as nossas necessidades. Ele não rejeitará pessoa alguma que responda, com sinceridade: “Buscamos a Deus, buscamos a santidade, buscamos serviço contigo, buscamos a ti.” 3. “Vinde, e vede”. É um desafio aos que duvidam e questionam. Certo cristão aceitou o desafio de um não-crente para debater com ele em público. Depois do discurso do não-crente, o cristão, sem falar uma palavra, tirou uma laranja do bolso, descascou-a, comeu-a e depois perguntou: “Bem, como estava a laranja?” “Como vou saber?”, retrucou o não-crente. “Nem sequer provei dela”. Respondeu o crente: “Como o senhor pode conhecer o Cristianismo quando não o experimentou?” Um interessado pode ouvir e ler acerca de Cristo; o melhor caminho, no entanto, é chegar diretamente a Ele para experimentar seu poder. Para se explicar aos índios da floresta tropical o que é o gelo, mais valeria um pedaço para examinarem do que uma hora de preleções sobre o assunto. 4. Testemunho de Cristo. O testemunho de André sugere três lições: 1) “Este achou primeiro a seu irmão”. Quanto mais estreitos os laços de parentesco entre quem testemunha e quem ouve, mais enfático será o testemunho. Há mais força de convicção entre os que se conhecem intimamente do que na mensagem falada em público. Quando alguém encontra Cristo de forma tão real que sua alegria é tão óbvia como quando encontra um excelente emprego ou vaga universitária, seu testemunho não deixará de convencer aos que o conhecem. 2) O testemunho pessoal é prova da convicção pessoal; quando alguém tem profunda convicção, não pode ficar tran- qüilo até compartilhá-la com outra pessoa. 3) O testemunho pessoal faz parte do plano de Deus para a evan- gelização do mundo. No século que se seguiu à era apostólica, não houve notícia de “grandes” evangelistas e missionários; não há registro de campanhas evangelísticas abrangendo cidades inteiras. A Igreja, no entanto, cresceu com ritmo veloz. A explicação é que cada cristão considerou ser dever e privilégio testemunhar de Cristo. O escravo testemunhava perante seu dono; o operário, ao seu companheiro; o vendedor, aos seus fregueses; o filho, aos pais. Os pastores, evangelistas e missionários se destacam na liderança da obra de ganhar almas para Cristo, mas não podem ficar sem a colaboração dos membros das suas congregações. 3 O Primeiro Milagre de Cristo Texto: João 2.1-11 Introdução O milagre da transformação da água em vinho ilustra o propósito do Evangelho de João, a saber: despertar a fé na divindade de Cristo e em Cristo, como o Messias. João nos conta como este milagre o convenceu, juntamente com os demais discípulos, da natureza divina de Cristo (2.11), e registra o incidente para que a nossa fé também possa ser despertada e aumentada. I - A Feliz Ocasião (Jo 2.1,2) “E, ao terceiro dia (do incidente em 1.51), fizeram-se umas bodas em Caná da Galiléia, e estava ali a mãe de Jesus. E foi também convidado Jesus e os seus discípulos (ver capítulo 1) para as bodas.” A presença do nosso Senhor no casamento sugere as seguintes lições: 1. Jesus aprova a vida social. Jesus não era um religioso sombrio com rosto desagradável que se esquivava do contato com as pessoas. Comia juntamente com fariseus e publicanos com sociabilidade imparcial. Não consta ter recusado a hospitalidade de quem quer que seja, a ponto de os formalistas levantarem a acusação de ser ele “glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores”. Não era verdadeira a acusação, mas pelo menos ressaltou a verdade de que Cristo não aborrecia o convívio de grupos sociais, e que gostava de estar com pessoas. Procurava a companhia das pessoas a fim de espalhar a sua influência e doutrina, e para deixar que as pessoas o conhecessem e, por meio dele, à graça de Deus. O Senhor Jesus acreditava em “separação” tão profundamente como os próprios fariseus (que formavam o partido “da separação”); mas, enquanto estes se afastavam dos pecadores e continuavam a dar guarida ao pecado no coração (Mt 23.25-28), Jesus se conservava separado do pecado e dava as boas-vindas aospecadores, a fim de salvá-los. Noutras palavras, ele estava interiormente separado dos pecadores, enquanto mantinha com eles contato exterior. Devemos seguir seu exemplo nesta matéria. Somos o sal da terra, mas, a fim de sermos eficazes, precisamos entrar em contato com aquilo que precisa ser salgado; para sermos pescadores dos homens, devemos ir para onde estão os peixes; para sermos luz do mundo, devemos aparecer e brilhar. 2. Cristo aprova o casamento. Nenhum relacionamento humano tipifica um mistério espiritual tão profundo (ver Jo 3.29; Mt 9.15; 22.1-14; 25.10; Ap 19.7; 22.17; 2 Co 11.2). É digno, portanto, da mais elevada honra. Cristo previu, também, que surgiriam na igreja aqueles que menosprezariam o casamento (1 Tm 4.3), ou que não perceberiam toda a dignidade e honra da família cristã. Lição prática: a presença de Cristo é essencial ao casamento feliz. 3. Cristo aprova a alegria inocente. Embora nosso Senhor fosse homem de dores, carregando, lá no íntimo, o fardo do pecado e da tristeza do mundo inteiro, parece que era o lado alegre da sua natureza que ele apresentava às pessoas. Seu nascimento foi anunciado como boas-novas de grande alegria. Uma das suas exortações favoritas era: “Tende bom ânimo”; a palavra “alegria” ocupava um lugar de honra no seu vocabulário. Não há dúvida de que Ele dirigia os pensamentos dos homens às realidades solenes da vida, mas, ao mesmo tempo, oferecia-lhes gozo inefável e cheio de glória. Uma ilustração do Reino dos Céus que Ele freqüentemente citava era a de um banquete de casamento, e quando os discípulos de João queriam saber por que os de Jesus não jejuavam, empregou a mesma ilustração: “Então chegaram ao pé dele os discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam? E disse-lhes Jesus: Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão” (Mt 9.14,15). II – A Falta Embaraçosa (Jo 2.3-5) “E, faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho.” O esgotamento do suprimento de vinho pode ter surgido por três razões: o número inesperado dos discípulos de Cristo, o prolongamento da festa por sete dias, segundo o costume ou as dificuldades financeiras do noivo e da noiva. 1. A sugestão ansiosa. Maria, decerto, tem íntima conexão com a família que celebrava o casamento, como se percebe do seu conhecimento da falta de vinho e das ordens que deu aos serventes. A falta de vinho em tal ocasião seria uma desonra para o hospedeiro e para o casamento que estava sendo festejado. Assim, Maria sussurrou, ansiosamente, a informação: “Não têm vinho”. Lembrando-se das declarações proféticas feitas acerca da grandeza do seu Filho (Lc 1.30-35), ela acreditava ter ele poderes suficientes para suprir a necessidade e tirar o hospedeiro do embaraço. Maria, vendo o seu Filho cercado pelos seus discípulos, sente a esperança secreta que nutria em silêncio durante tantos anos irromper em ardor flamejante, e volta-se a ele, demonstrando uma bela fé em seu poder para ajudar, mesmo na pequena necessidade do momento. Será que ela já presenciara alguma manifestação do seu poder miraculoso? Leia o versículo 11. 2. A firme ressalva. “Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? ainda não é chegada a minha hora”. Tal linguagem não dá a entender nenhuma falta de respeito porque a palavra “mulher”, equivalente a “senhora”, foi a mesma que Jesus dirigiu a ela nos momentos finais de sua vida terrestre: “Mulher, eis aí o teu filho” (Jo 19.26). Era um termo de respeito que se empregava até quando se dirigia a uma rainha. Mesmo assim, a linguagem dá a entender uma mudança de relacionamento entre Jesus e Maria. Ela já não era “mãe”, e sim “mulher”. O período de sujeição a Maria chegou ao fim. Ele agora é o Messias, o Servo do Senhor, e seu relacionamento é o de Messias e discípulo (cf. At 1.14). Jesus, por assim dizer, indicava: “É verdade que o relacionamento natural entre nós é o de mãe e filho; lembre-se, porém, de que a minha vida é vivida na esfera de um relacionamento mais alto (cf. Lc 2.48,49). Como Filho de Deus, devo doravante agir e trabalhar segundo o tempo e a maneira que meu Pai manda. O tempo e a maneira do meu ministério dependem de considerações mais altas do que as de carne e sangue” (cf. Mt 12.46-50). Muitas vezes acontece que uma mãe chega ao reconhecimento, talvez doloroso, de que quem foi seu “menino” entrou numa esfera de vida mais ampla, além de influência e controle, da qual ela não pode participar. 3. A humilde aquiescência. Maria rapidamente entendeu a situação e aceitou-a com doçura e humildade; em seguida, disse aos serventes: “Fazei tudo quanto ele vos disser”. Sua fé lançou mão daquela pequena centelha de esperança - “ainda não” (v. 4) - e fê-la transformar-se em chama viva. Com firme confiança, apesar da suave chamada de atenção recebida, Maria deixou tudo nas mãos de Jesus. Nós também devemos nos submeter a Ele, confiando que atenderá às nossas petições, e isto como e quando lhe convier. III – O Suprimento Milagroso (João 2.6-10) “E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus (para lavarem-se cerimonialmente) e em cada uma cabiam dois ou três almudes (ou metretas, medida correspondente a 38 litros). Disse-lhes Jesus: Enchei d’água essas talhas. E encheram-nas totalmente.” 1. A realidade. As circunstâncias do milagre dissipam qualquer dúvida quanto à sua realidade: as talhas eram especificamente para água, não havendo a possibilidade de se sugerir a presença de sedimentos no fundo que emprestassem o gosto de vinho à água; sua presença ali era normal, e não premeditada, de acordo com o costume dos judeus de lavagem (Mt 15.2; Mc 7.2-4; Lc 11.38); a quantidade era enorme, muito mais do que se poderia ter trazido secretamente; as talhas estavam vazias, e os empregados sabiam que foi com água que passaram a enchê-las. 2. O mistério. O processo pelo qual a água foi transformada em vinho era divino; nenhuma palavra foi escrita sobre o método da operação do milagre, nem sequer se menciona que o milagre foi operado; simplesmente nos é informado o que aconteceu antes e depois do milagre. Jesus não enunciou qualquer palavra de ordem, nem empregou qualquer meio: bastava o silencioso exercício da sua vontade para que a matéria se transformasse segundo o seu beneplácito. A operação do poder criador do Senhor Jesus foi feita mediante sua simples vontade íntima. 3. A admiração. “E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho [não sabendo donde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água], chamou o mestre-sala ao esposo, e disse-lhe: Todo homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho”. O mes- tre-sala, dirigindo o andamento da festa, não aludia a qualquer excesso da parte das pessoas presentes naquela festa específica, porque Jesus não teria abençoado com sua presença qualquer bebedice. Simplesmente faz alusão ao costume normal, mediante o qual os hóspedes, depois de uma suficiência de vinho superior, já não poderiam discernir a inferioridade do vinho oferecido no fim da festa. IV – O Propósito Superior (Jo 2.11) O propósito imediato de Jesus em operar o milagre era libertar um jovem casal do embaraço e da vergonha. O versículo 11 sugere o propósito superior do milagre: a revelação da glória de Cristo. “Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele”. Foi esta a primeira demonstração do poder milagroso de Jesus, revelando a sua natureza divina. Irromperam-se agora, visivelmente, a divina natureza e a glória que antes se escondiam sob o véu de carne, e os discípulos viram “a sua glória, como a glória do unigênito do Pai” (1.14). O milagre revelou a operação do poder criador, cuja origem somente poderia ter sido de Deus. 1. Aumentou-se a fé dos discípulos. “E os seus discípulos creram nele”. Játinham crido; senão, não seriam discípulos (1.50). Agora, porém, sua fé ficou mais profunda e mais forte. Acreditavam em Jesus, porém agora mais do que nunca. Nossa fé é aumentada (Lc 17.5) ao ver o Senhor operando em poder milagroso. V – Ensinamentos Práticos 1. Poder através da obediência. Quando Jesus mandou os serventes encherem as talhas d’água e levarem-nas ate o mestre-sala para suprir a falta de vinho, estes teriam motivos justos para se recusar a fazê-lo, ou para exigir alguma explicação ou garantia de que Jesus enfrentaria as conseqüências. Obedeceram assim mesmo, e sua fé obediente fez com que se tornassem colaboradores de um milagre; ficaram sabendo que nenhuma ordem de Cristo é inútil ou sem propósito. Nós também temos que passar por experiências semelhantes para aprendermos a mesma lição. A Palavra de Deus ordena que façamos coisas aparentemente desarrazoadas e além das nossas possibilidades. Por exemplo, temos de ser santos, embora saibamos que assim como o leopardo não pode mudar suas manchas, não podemos, por nós mesmos, purificar a nossa alma. Quase temos vontade de dizer: Como pode a substância da natureza humana, que é como a água, ser transformada em vinho digno de ser derramado como oferta no altar de Deus? Nosso papel é obedecer sem questionar ou exigir explicações. Os servos tiraram a água, levaram-na ao mes- tre-sala, e o Senhor fez o resto. Assim como a vontade de Cristo permeou a água, até imbuí-la de novas qualidades, também é sua vontade permear a nossa alma, conformando-a ao seu propósito. “Fazei tudo quanto ele vos disser” - é este o segredo da operação de milagres. Faça-o, embora possa dar a impressão de estar gastando em vão as suas energias, ou vir ser objeto de escárnio. Faça-o, embora você não tenha em si mesmo a capacidade de realizar o seu propósito. Faça-o totalmente, como se fosse você o único obreiro, como se Deus não viesse suprir as suas faltas, de modo que qualquer falha da sua parte fosse fatal à obra. Não fique esperando que Deus o faça, porque é em você e através de você que Ele faz a sua obra entre os homens. Não podemos fazer a obra de Deus, e não é plano de Deus fazer a parte que destinou a nós. Excelente lema para o cristão encontra-se nestas palavras: “Fazei tudo quanto ele vos disser!” 2. A santificação da vida diária. É significativo que Cristo revelasse a glória do seu poder criador num banquete de casamento, ocasião festiva vinculada a um relacionamento humano comum. Assim ficamos sabendo que Ele não veio esmagar os sentimentos humanos: veio elevá-los ao compartilhar deles; não veio destruir relações humanas: veio enobrecê-las mediante a sua presença; não veio acabar com os afazeres e convívios da vida coletiva: veio purificá-los; não veio abolir inocentes alegrias e recreios: veio santificá-los segundo os princípios do Reino de Deus. Não podemos dividir nossas atividades em duas classes: a “espiritual” e a “secular”. Cada esfera da vida pode e deve ser consagrada a Cristo. Se houver qualquer atividade ou aspecto da nossa vida sobre a qual não possamos invocar a sua bênção (Cl 3.17), tal atividade ou é totalmente errada, ou contém elementos que precisam de ser removidos. Já convidamos nosso Senhor para nossa próxima reunião de amigos? Ou será que a sua presença estragaria nossos planos? 3. O melhor ainda está por vir. Chegaremos um dia a falar ao Mestre aquilo que o mestre-sala falou ao noivo: “Guardaste até agora o bom vinho” (cf. Pv 4.18). Por mais cheios de gozo espiritual que tenham sido os anos passados de experiência cristã, o melhor ainda está no porvir. Jesus guarda seu melhor vinho até ao fim; muitas almas tristes e desiludidas vão sempre descobrindo que o mundo faz exatamente o oposto, seduzindo as pessoas para que sejam escravas do mundo, vítimas do mundo, mediante promessas deslumbrantes e deleites de curta duração que, mais cedo ou mais tarde, perdem seu brilho traiçoeiro e se tornam insossos - e muitas vezes bem amargos! “Até no riso terá dor o coração, e o fim da alegria é tristeza” (Pv 14.13). A coisa mais melancólica do mundo é a velhice e vivida longe de Deus, e uma das coisas mais belas, o calmo pôr-do-sol que tantas vezes glorifica uma vida piedosa que foi repleta de coisas feitas para Jesus, e de provações suportadas com paciência, como tendo sido enviadas por Ele... Em tal carreira, o fim é melhor do que o começo. E quando a vida chegar ao fim, e passarmos à nossa morada celestial, esta mesma palavra brotará de nossos lábios, com surpresa e gratidão, quando descobrirmos que tudo é muitíssimo melhor do que o melhor em nossa imaginação: “Guardaste até agora o bom vinho”. 4. A transformação de coisas comuns. O mesmo Cristo que transformou a água em vinho vermelho e cintilante pode transformar as coisasda vida em bênçãos gloriosas. Ele pode transformar a água da alegria terrestre no vinho da bem- aventurança celestial. Ele pode transformar a água amarga da tristeza no vinho de alegria. Pode lançar mão de uma série de circunstâncias da vida que nos perturbam, transformando-as em brilhantes oportunidades. Os deveres que cabem a nós, dia após dia, nos parecem cansativos e monótonos? Levemo-los a Jesus, e Ele os transfigurará mediante a sua presença. Onde está Jesus, ali há alegria. 4 Jesus e Nicodemos Texto: João 3.1-21 Esboço e Exposição Um dos propósitos que guiaram o escritor do quarto evangelho foi o de registrar as impressões que o Senhor Jesus deixou nas pessoas com quem teve contato. Em nosso segundo estudo, vimos como Jesus impressionou seus discípulos com sua natureza e missão divinas; no terceiro estudo, examinamos o milagre que os convenceu do seu poder criador. A conclusão do segundo capítulo, no entanto, refere-se a outro tipo de impressão que produziu um tipo de fé de Cristo não julgava satisfatório: “E, estando ele em Jerusalém pela Páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia” (Jo 2.23,24). Por que o Senhor não encorajava a fé desse homens de Jerusalém? Viu que eles não o entendiam; reconheceu o mundanismo nos seus corações e propósitos, e não permitiu que entrassem na mesma intimidade que já estabelecera com os cinco galileus de coração singelo. Os judeus de Jerusalém estavam dispostos a ficar de acordo com qualquer pessoa que demonstrasse a probabilidade de trazer honra à sua nação, e sua crença nEle era o crédito que os homens dão a um estadista cuja política apóiam. Se nosso Senhor tivesse encorajado tais homens, mais tarde teriam se decepcionado com Ele; foi melhor, portanto, que os tivesse recebido de modo um pouco mais frio, dando-lhes uma pausa para meditação. Realmente, os próprios milagres de Jesus estavam sendo um embaraço por atraírem o tipo errado de pessoas - os homens superficiais e mundanos (cf. Jo 4.48; 6.14-27,66). Na pessoa de Nicodemos temos um exemplo de fé imperfeita, pois o discipulado que produziu era secreto (cf. Jo 19.38). Mesmo assim, esta fé da parte de Nicodemos é uma resposta antiga à objeção que os judeus dos nossos dias levantam: “Se Jesus foi realmente o Messias, como é que nenhum dos nossos estudiosos e sábios teve o bom senso suficiente para perceber este fato?” A resposta está no Evangelho de João, no relatório da entrevista de Cristo com Nicodemos e na declaração: “Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele, mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga” (Jo 12.42). I – Contato Pessoal: o Pesquisador Distinto (Jo 3.1,2) “E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.” 1. Um líder religioso. Nicodemos era um fariseu, membro da fraternidade religiosa organizada sob juramento solene para observar escrupulosamente a lei e as tradições dos antigos. Era membro do “partido ortodoxo” entre os judeus. Era um “principal”, um membro do Sinédrio, da corte eclesiástica do mundo judaico. Foi esta corte que condenou Jesus à morte, e da qual Saulo de Tarso era, mui provavelmente, membro.2. Um inquiridor secreto. “Este foi ter de noite com Jesus”. Fala-se da covardia de Nicodemos em vir à noite. Devemos, no entanto, dar valor ao fato de ele ter procurado a Jesus, mesmo daquele modo. Mais tarde, foi ele quem tomou sobre si a defesa de Jesus perante o Sinédrio (Jo 7.50,51) e ajudou a enterrar o seu corpo (Jo 19.39). Em ambos os trechos, João volta a se referir ao fato de Nicodemos ter vindo a Jesus, da primeira vez, à noite. Mostra, assim, que Nicodemos estava ficando mais firme na fé, chegando a demonstrar mais devoção do que os próprios discípulos que fugiram, quando veio ajudar a sepultar o corpo de Cristo. 3. Um inquiridor representativo. “Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele”. O plural “sabemos” permite-nos imaginar que talvez vários líderes religiosos, impressionados com os ensinamentos de Jesus e querendo saber mais acerca dEle sem, no entanto, criar uma sensação pública nem tomar partido publicamente, tivessem nomeado Nicodemos para ser uma “comissão de inquérito” de um só membro, de modo sigiloso (cf. Jo 12.42). 4. Uma alma necessitada. As palavras iniciais de Nicodemos revelam várias emoções lutando no seu íntimo, e a declaração repentina de Jesus (v. 3), longe de ser uma mudança de assunto, foi uma resposta - não às palavras, mas sim ao coração de Nicodemos. Tais palavras revelam: 1) Fome espiritual: canseira com os cultos da sinagoga, sem vida espiritual, aos quais freqüentava sem achar satisfação para a sua fome. Sente que a glória se afastou de Israel; que há falta de visão; que o povo perece e que, por menos que Nicodemos saiba sobre Jesus, seus ensinos lhe penetraram o coração, e ele acha que os milagres de Jesus comprovam ser Ele Mestre vindo da parte de Deus. 2) Falta de profunda de convicção. Nicodemos sente sua necessidade, mas procura um mestre, mais do que um Salvador. À semelhança da mulher samaritana, quer a água da vida (Jo 4.15), mas precisa igualmente ficar sabendo que é um pecador e que necessita ser purificado e transformado (Jo 4.1618). 3) Certa complacência quanto à sua própria pessoa, como se dissesse a Jesus: “Creio que foste enviado para restaurar o reino a Israel, e vim oferecer conselhos quanto ao plano de ação e sugerir certas operações”. Provavelmente considerava que ser israelita e filho de Abraão eram qualificações suficientes para ser considerado membro do Reino de Deus. II – Explicação: o Novo Nascimento (Jo 3.3-10) 1. O fato do novo nascimento. “Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Jesus explica que Nicodemos não pode filiar- se ao grupo dEle assim como uma pessoa filia-se a uma organização qualquer. Ser discípulo de Jesus depende do tipo de vida que se leva. A causa de Cristo é a do Reino de Deus, onde não se pode entrar sem passar por uma transformação espiritual. O Reino de Deus era bem diferente daquilo que Nicodemos imaginava, e o modo de estabelecê-lo e de chamar pessoas a serem seus cidadãos também Jesus salientou a necessidade mais profunda e universal do homem: uma mudança radical e completa da totalidade da natureza e do caráter. A natureza total do homem foi torcida pelo pecado, em decorrência da queda, e esta perversão se reflete na sua conduta individual e nos seus vários relacionamentos. Antes de poder viver uma vida que agrade a Deus, sua natureza precisa passar por uma mudança tão radical que é nada menos do que um segundo nascimento. O homem não pode efetuar semelhante mudança por si mesmo. A transformação deve vir de cima. “Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?” Nicodemos tem razão ao tirar a conclusão de que é necessário um milagre para alguém entrar no Reino de Deus, mas não entende como isso se faz. Pensava, decerto: “Sou um homem com muitos anos de vida, com hábitos de pensar e viver bem arraigados em mim, bem como muitas ligações sociais e costumes e idéias antigos que nossos antepassados nos legaram. O nascimento tal como tu falas é tão impossível quanto o nascimento físico de um homem de idade, tão prepóstero quanto seria a idéia de entrar segunda vez no ventre da mãe para nascer de novo. A natureza humana não pode ser mudada desta forma. Jeremias, afinal, declarou: ‘Pode acaso o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas?’ Se é esta a tua exigência para que se possa entrar no teu Reino, quem poderá ser considerado candidato aceitável?” 2. Os meios do novo nascimento. “Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.” Nascer da água significa passar por uma profunda experiência de purificação (cf. Ef 5.26). Nascer do Espírito significa passar por uma profunda experiência de receber a vida divina. A alma humana precisa ser lavada de toda impureza e vivificada pela vida celestial, antes de estar pronta para o Céu. Deus nos salvou: 1) pela “lavagem da regeneração e 2) da renovação do Espírito Santo” (Tt 3.5). O ensino era novo e, ao mesmo tempo, antigo. “Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso? Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?” (v. 7,9,10). Jesus queria dizer: “Como você fica surpreso, como se eu pregasse alguma estranha doutrina? Certamente, como ensinador da Lei e dos Profetas, deve ter lido da promessa de Deus anunciada por Ezequiel: ‘Então espalharei água pura sobre vós, e ficareis purificados... porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos’, (Ez 36.25-27). Você sabe muito bem que, embora Israel se tenha jactado de ser o povo de Deus, filhos de Abraão, os membros da nação são impuros e, portanto, indignos do Reino de Deus. O profeta declara que os israelitas, antes de poderem entrar no Reino de Deus, precisam ‘nascer da água’ e ‘nascer do Espírito’, precisam ser purificados e receber vida nova. O que é verdade no que diz respeito a Israel, é verdade para você, individualmente. Você deve nascer de novo”. 3. A razão do novo nascimento. Jesus não procurou explicar o como do novo nascimento; explicou o porquê: “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” A carne e o Espírito pertencem a campos diferentes, e um não pode produzir o outro. A natureza humana pode gerar mais natureza humana, mas é somente o Espírito Santo que pode produzir uma natureza espiritual. A natureza humana nada poderá produzir além de natureza humana, e nenhuma criatura pode se erguer acima da natureza que lhe é própria. A vida espiritual não pode ser transmitida de pai para filho através da procriação natural; é transmitida da parte de Deus para os homens mediante o novo nascimento espiritual. A natureza humana não pode se erguer acima daquilo que ela é. Cada criatura tem certa natureza conforme sua espécie, determinada por sua descendência. Esta natureza que o animal recebe dos pais determina, logo de início, as capacidades e a esfera da vida dele. A toupeira não pode levantar majestoso vôo na direção do sol como se fosse águia, e a ave que sai do ovo da águia não pode escavar debaixo da terra como faz a toupeira. Nenhum curso de treinamento poderá fazer com que a tartaruga corra tão velozmente quanto a corça, nem com que a corça tenha a força do leão. Nenhum animal poderá agir de forma superior a sua própria natureza. O mesmo princípio aplica-se ao homem. O destino supremo do homem é viver com Deus para sempre; a natureza humana, no entanto, não possui em si as condições necessárias para viver no Reino celestial; assim sendo, a vida celestial tem de ser trazida do Céu para transformar a vida humana na terra, preparando-a para o Reino de Deus. 4. O mistério do novo nascimento. Embora o como do novo nascimento esteja além do alcance do raciocínio humano, este mistério não precisa ser motivo detropeço para Nicodemos: “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” Noutras palavras, o movimento do vento é algo muito real para nós, mas é misterioso e além de nosso controle; assim também é a atuação do Espírito sobre a natureza humana. Primeiro, o novo nascimento é misterioso quanto à sua origem: “não sabes donde vem”; e, em segundo lugar, há mistério quanto à sua consumação: “não sabes... para onde vai”. Assim sendo, João escreve: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser” (1 Jo 3.2). Mesmo assim, a atuação do Espírito é real: “Ouves a sua voz” (cf. At 2.3,4; 1 Co 12.7; Gl 5.22,23). III – Confirmação: a Base do Novo Nascimento (Jo 3.11-15) Duas perguntas devem ter naturalmente ocorrido a Nicodemos: Como Jesus sabe destas coisas? O que Ele faz para levar as pessoas a experimentarem o novo nascimento? 1. A experiência espiritual de Cristo. “Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho” (o plural “nós” talvez indique a presença de alguns discípulos). Jesus, concebido mediante o Espírito Santo, batizado no Espírito, cheio do poder do Espírito, continuamente movido pelo Espírito, podia falar com autoridade em matéria de Espírito. Que pena que tantos que professam ser seus seguidores tenham dogmatizado o assunto sem desfrutar das operações do Espírito em seu íntimo! “Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?” Jesus explica a Nicodemos que, se ele se preocupa apenas com a forma e a matéria do novo nascimento, só poderia conversar sobre coisas terrestres porque, embora o nascimento espiritual venha de cima, ocorre na terra e faz parte dos fatos da vida. A explicação do “como” deste assunto tem a ver com os eternos propósitos de Deus (coisas celestiais), e Nicodemos não está pronto para tais ensinos, porque ainda não aceitou o fato da necessidade do novo nascimento (coisas terrenas). 2. A origem celestial de Cristo. “Ora ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu”. Cristo tinha estado no Céu antes de sua missão na terra, podendo, portanto, falar acerca de coisas celestiais a partir de uma experiência pessoal. Embora “o Filho do homem, que está no céu”, estivesse na terra, seu lar real sempre foi o Céu, e são celestiais sua origem e natureza. 3. A obra expiatória de Cristo. Jesus já tratara de um erro fundamental de Nicodemos e dos seus companheiros: imaginavam que, pela sua conexão natural com o o povo escolhido, teriam de se filiar ao Reino de Deus; o Senhor Jesus, no entanto, declarou que devem entrar no Reino mediante o novo nascimento. Agora dissipa o segundo erro: Nicodemos acreditava que o Messias, na sua vinda, seria “levantado” ou exaltado num trono, para salvar Israel da total derrota política. Jesus, no entanto, ensinou que, em primeiro lugar, o Messias teria que ser levantado de modo bem diferente: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” O Messias teria de ser levantado numa cruz para salvar a nação do perecimento espiritual. Qual a conexão entre a crucificação do Filho do homem e a regeneração dos filhos dos homens? Quando Deus criou o homem e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, transmitiu a este não somente a vida mental e física, como também o Espírito Santo. Adão foi criado perfeito, e certamente deve ter recebido o Espírito Santo, pois sem ele a personalidade humana é incompleta diante de Deus. Quando pecaram nossos primeiros pais, iniciou-se a morte espiritual e deixou de habitar neles o Espírito Santo. Quando, portanto, veio o Redentor, sua missão era restaurar à humanidade a presença do Espírito. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro. Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito” (Gl 3.13,14). Cristo morreu na cruz a fim de remover o obstáculo que não permitia que a vida humana recebesse a presença de Deus. Este obstáculo era o pecado. V – Ensinamentos Práticos 1. Pregando o novo nascimento. Segue-se um esboço de como se pode aplicar, de modo prático, a doutrina do novo nascimento. 1.1. Uma vez que você reconhece a seriedade e a degradação dos seus pecados e o poder que exercem sobre você, sua situação de impotência dos seus pecados, e que lhe aguarda a eternidade no inferno, se você morrer no seu atual estado de pecado; 1.2. E quando, com genuíno arrependimento, você aceita a expiação mediante o sangue de Jesus Cristo como sua única esperança, recebendo Cristo de modo permanente e sem reserva, como seu Salvador e Senhor, que pagou a penalidade dos seus pecados, sofrendo em seu lugar; 1.3. Então ocorre dentro de você um tríplice milagre: 1) Você é purificado de todos os seus pecados; liberto do poder deles sobre você; revestido da justiça de Cristo. Você recebe esperança, paz, gozo e um novo propósito na vida - o de viver e trabalhar para ele, comissionado para ser seu embaixador e testemunha por onde quer que você vá, de tal modo que sua vida se torna útil, necessária e cheia de esperança. Você recebe forças para vencer o “velho homem” no seu íntimo, para viver a vida cristã e crescer na graça. Por suas próprias forças, você fracassaria, mas, mediante este milagre, pode ter absoluta certeza de que, enquanto ele precisar de você nesta terra, ele o preservará, sustentará, fortalecerá, guiará e protegerá. 2) Jesus Cristo vive em você, de modo real e literal. 3) Você é regenerado. Na realidade, torna-se nova criatura. Literalmente, nasceu de novo para entrar no Reino de Cristo. Você se torna santo, um filho de Deus, membro da igreja verdadeira. 1.4. Como resultado deste tríplice milagre, você é salvo, de modo literal e definitivo. Você tem a vida eterna, e pertence ao Senhor. Agora, poderá começar a viver a vida cristã - a vida “oculta juntamente com Cristo” - em Deus. 2. Cristianismo, a religião do novo nascimento. Nas religiões pagãs, declara-se universalmente que o caráter humano é imutável. Embora tais religiões determinem penitências e rituais que oferecem ao homem a esperança de compensar os seus pecados, não existe nenhuma promessa de haver vida e graça para transformar a sua natureza. Somente a religião de Jesus Cristo toma a natureza decaída do homem, regenerando-a mediante a vida de Deus, que passa a habitar nele porque o seu Fundador é Pessoa divina e viva, que salva totalmente os que por Ele chegam a Deus. Não há analogia entre a religião cristã e, o budismo e o maometismo, no sentido de dizer: “Quem tem Buda tem a vida”. Os líderes destas religiões podem exortar à moralidade, estimular, impressionar, ensinar e orientar, mas nada de novo é acrescentado à alma de quem professa suas doutrinas, que são desenvolvidas pelo homem natural e moral. O Cristianismo é tudo isso mais a divina Pessoa. A missão do Senhor Jesus pode ser resumida na breve proposição: Jesus Cristo veio ao mundo romper o poderio do pecado e introduzir na raça humana uma nova fonte de vida espiritual (cf. Gn 2.7; 1 Co 15.45; Jo 20.22; Ef 2.1). E isto nos leva a pensar na missão dominante dos discípulos de Jesus - fazer com que homens pecaminosos sejam transformados pelo poder de Deus. 5 Jesus e a Mulher Samaritana Texto: João 4.4-30 Introdução Jesus deixou Jerusalém porque seus milagres estavam atraindo as pessoas do tipo errado - espectadores curiosos que tinham do Reino um conceito errado. Foi, portanto, para os distritos rurais, onde o povo tinha mais simplicidade e seriedade de coração. Ali ganhou muitos, que se converteram a Ele e aceitaram o batismo. Mais uma vez, porém, seu próprio sucesso fez periclitar o propósito do seu ministério. Os fariseus, ouvindoa notícia de que grandes multidões acorriam ao seu batismo, ficaram com inveja e alimentaram uma discussão entre os discípulos de Jesus e os de João Batista (cf. Jo 3.25; 4.1,2). Jesus, desejando evitar uma contenda com os fariseus, deixou a Judéia. Não havia finalidade em que ele se revelasse como Messias diante dos fariseus, porque, com suas mentes cheias de idéias preconcebidas, teriam entendido os seus ensinos de maneira errada. Era diante de pessoas de mente sincera e coração faminto como a mulher samaritana que Jesus se sentia livre para revelar-se, em vez de entrar em controvérsias teológicas com os fariseus. Este trecho, bem como o que estudamos no capítulo anterior, são exemplos dos ensinamentos de Cristo sobre o poder regenerador do Espírito Santo. No capítulo anterior, ouvimos Jesus instruindo Nicodemos com respeito ao novo nascimento; agora, estudaremos a sua entrevista com uma mulher samaritana. Ele era um membro da sociedade que desfrutava de grande respeito; ela, uma mulher proscrita. Ela, era um homem da mais severa moralidade; ela, uma mulher vivendo no pecado. Ele era um culto ensinador de Israel; ela, uma analfabeta das classes inferiores. Ambos têm a mesma necessidade - a transformação espiritual para entrar no Reino de Deus. Este trecho descreve os passos mediante os quais o supremo Conquistador de almas conseguiu a conversão da mulher samaritana. I – Conseguindo a Atenção (Jo 4.5-9) “Foi pois a uma cidade, de Samaria, chamada Sicar, junto da herdade que Jacó tinha dado a seu filho José. E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isto quase a hora sexta”. Esta menção do cansaço de Jesus é a evidência de que, quando compartilhou da natureza humana, o fez com toda seriedade: realmente tomou sobre si nossa natureza, e experimentou todas as limitações e fraquezas a que a carne humana está sujeita (menos as que são fruto direto do nosso pecado). “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28) foi dito por aquEle que sabia como é a dor de músculos cansados e latejantes. “Veio uma mulher de Samaria tirar água; disse-lhe Jesus: Dá-me de beber”. O propósito do Senhor era levar a mulher necessitada à água espiritual que satisfaz a sede da alma; assim, fez seu primeiro contato com ela ao pedir água. Ele de que tomar a iniciativa, porque a mulher, de si mesma, não teria falado com Ele primeiro. Existiam quatro barreiras que impediriam semelhante conversação, e que o Senhor primeiramente teria de romper. 1) A barreira do sexo. Os próprios discípulos ficaram atônitos ao ver Cristo agir contrariamente às bem conhecidas atitudes de sua época, falando assim a uma mulher em público (v. 27). Geralmente, os preconceitos dos rabinos proibiam que as mulheres recebessem educação superior. 2) A barreira da nacionalidade. Não havia comunicação entre os judeus e os samaritanos. 3) A barreira do caráter moral. A mulher samaritana sabia que nenhum rabino judeu chegaria perto de uma pecadora como ela. 4) A barreira da ignorância. No decurso da conversação, foram rompidas todas as barreiras. A mulher recebeu novos horizontes para a sua vida, seu caráter foi transformado, e sua alma, iluminada. Note a habilidade do Senhor em abrir caminho para esta conversação. Pediu um favor da parte dela, fazendo-a sentir- se, por um momento, em condições de superioridade. Mediante um apelo à simpatia da mulher, criou ambiente apropriado para conversar sobre assuntos espirituais. Foi uma grande surpresa para a mulher quando a pessoa junto à fonte - que ela reconheceu como sendo um judeu - , fez um pedido a uma mulher samaritana de sua condição. “Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos)”. Embora Jesus, como Messias, viesse da tribo de Judá, nunca se chamou “Filho de Israel”; sempre é chamado de “Filho do homem”, da humanidade inteira. Não havia lugar em sua mente e em seu coração para o preconceito. II – Despertando o Interesse (Jo 4.10-14) 1. O desafio surpreendente. A mulher samaritana aproveitou para se rir um pouco daquele judeu que, segundo pensava, fora forçado a mostrar franqueza e amabilidade por causa da intensa sede que sentia, e de não ter condições de conseguir água. Surpreendeu-se, no entanto, por Ele não se mostrar embaraçado; pelo contrário, suas palavras é que a deixaram intrigada: “Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.” “Se tu conheceras”. Há pessoas que não percebem quantos poderes e oportunidades jazem escondidos ao nosso redor. Por não reconhecermos quantas bênçãos se nos oferecem, perdemos milhares delas! “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento” (Os 4.6). A mulher samaritana estava falando face a face com aquEle que satisfaria a todos os seus anseios de paz e de vida - e não o sabia. Há muitas pessoas que passam pela vida bem perto daquilo que poderia revolucionar sua existência, e ficam alheias à verdadeira bem- aventurança por falta de saber e de considerar. Em dois assuntos, especificamente, faltava conhecimento à mulher. 1.1. Não conhecia o dom de Deus, aquilo que Deus queria graciosamente dar a ela. A pobre mulher nem esperava bênçãos da parte de Deus. Desiludida, esgotada, sem caráter, sem alegria, praticava a enfadonha rotina dos serviços diários. Ouvira falar sobre Deus, mas nem sequer sonhava que Ele estivesse disposto a entrar na sua vida, fazendo com que sua existência valesse a pena. A água “viva” é a que flui ou que jorra de uma fonte - a água em movimento, em contraste com a água parada (cf. Gn 26.19; Zc 14.8). Simboliza a vida divina que flui mediante o contato com Deus (Jr 2.13; Ap 7.17; 21.6; 22.1). Assim como a água natural satisfaz a sede física, o Espírito Santo satisfaz a alma que anseia por Deus (cf. Sl 42.1,2). 1.2. A mulher não conhecia a identidade daquele que disse: “Dá-me de beber”. A vinda do Messias era a esperança dos samaritanos, e não somente dos judeus, e ambas as nações tiraram encorajamento e forças desta promessa: suportavam os males do presente, sustentados pela visão do futuro, que se centralizava ao redor da Pessoa do Messias. Agora, o Messias estava falando com esta mulher sem que ela o percebesse. Muitos são os que têm familiaridade com as palavras de Jesus, ouvindo-as como se escutassem uma canção. Não são transformados, porém, porque não se apercebem realmente de que as palavras que ouvem não são as de um mestre humano, e sim as do próprio Filho de Deus. Oxalá soubessem quem é o que lhes fala! 2. A pergunta feita com surpresa. Refutando a sugestão de ela ser ignorante quanto ao dom de Deus, a mulher responde: “Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água da vida?” A resposta a esta pergunta se encontra nos versículos 13 e 14. Quanto a ser acusada de ignorância sobre a Pessoa que fala com ela, a mulher responde: “És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, e o seu gado?” Os versículos 25 e 26 respondem à objeção da mulher. Como Nicodemos, objeta: “Como pode suceder isto?” Quando se trata das coisas de Deus, os que possuem boa educação não têm vantagem sobre os iletrados. Todos, igualmente, precisam do “Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus” (1 Co 2.12). 3. A comparação que ilumina. Jesus lança mão de uma comparação para esclarecer o significado das suas palavras: “Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte d’água que salte para a vida eterna”. A água natural é mencionada aqui como símbolo das fontes de prazer que há aqui na terra, e que só proporcionam satisfação momentânea. A totalidade da vida humana se compõe de desejos intermitentes que recebem apenas parcial satisfação: anseios e saciedade,enfado e novos desejos fortes se seguem num círculo vicioso. Realmente, nunca houve verdadeira satisfação para os desejos humanos; a alma humana nunca se aquieta, senão em Deus. As fontes da terra podem oferecer satisfação temporária, mas é somente depois de o homem ter achado a Deus que ele pode declarar ter satisfação completa e eterna. Jesus ensina à mulher que a água no poço de Jacó jaz sem vida ou movimento nas profundidades, enquanto a água celestial que ele oferece, embora fique nas profundezas da personalidade humana, não fica parada ali; vem brotando à superfície, revelando sua presença aos outros, fluindo com mais e mais força até que, na vida do porvir, o indivíduo recebe a plenitude desta bênção. A fonte fica no indivíduo. O prazer do mundano depende das coisas externas; a Fonte da satisfação do cristão está dentro dele, independe das circunstâncias. A vida eterna, no Evangelho de João, é vinculada à fé em Jesus (Jo 3); provém da ação de comer da sua carne e beber do seu sangue (Jo 6); é dádiva direta da parte dEle (Jo 10; 17). Neste capítulo, é considerada como resultado da vida do Espírito no homem, o fruto da vida espiritual, que é diferente da vida humana em qualidade, permanência e maturidade. III – A Consciência da Necessidade (Jo 4.15-18) 1. O pedido urgente. “Disse-lhe a mulher: Senhor, dá- me dessa água, para que eu não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la.” A mulher ainda não havia percebido o âmago do ensino de Jesus. Nem sequer sonhava que Ele, falando sobre “água”, queria dizer algo diferente daquilo que ela carregava no seu cântaro. Ela ainda não percebera nada além dos seus desejos físicos e de suas necessidades diárias. Começou a sentir a convicção de que aquele estranho talvez a pudesse livrar da sua vida exaustiva de ter de caminhar até o poço com seu cântaro pesado. Seria um alívio ter a água bem à mão! Embora não tivesse compreendido o inteiro significado do dom prometido, entendeu, pelo menos, que se lhe oferecia uma grande vantagem - e seu desejo foi despertado. 2. Uma declaração perscrutadora. Agora, Jesus leva a mulher a dar um passo adiante, despertando seu sentimento de necessidade espiritual. Faz com que ela se recorde de sua vergonhosa vida de pecados para que, esquecendo- se da água do poço de Jacó, tenha sede daquilo que a aliviaria da sua vergonha e miséria. “Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá. A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido; porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade”. Jesus trata do assunto do pecado a fim de que a mulher veja a causa da sua infelicidade. A nova vida deve começar com base na veracidade e na honestidade. O passado tem que ser enfrentado, por mais desagradável que seja, e o lixo da vida anterior deve ser varrido para longe. IV – Cristo Revela a Si Mesmo (Jo 4.19-29) 1. A expressão de perplexidade. A mulher, atônita diante do discernimento de Jesus, exclama: “Senhor, vejo que és profeta”, e passa a levantar um problema religioso, da controvérsia entre os samaritanos e judeus: “Nossos pais adoravam neste monte [Gerizim] e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.” A pergunta surgiu não somente do desejo de desviar o problema do pecado dela para o campo de generalidades teológicas, como também de um real desejo de saber como procurar comunhão com Deus e se erguer acima da sua baixa situação moral. Aproveitou a presença de um profeta para esclarecer suas dúvidas. Jesus, em resposta, mostrou que a verdadeira adoração é matéria de atitudes certas, e não do lugar certo; não se trata de onde, e sim de como. 2. Cristo revelado. Cheia de alegria pelas verdades que ouve, a mulher se lembra do que se lhe contou acerca de um grande Mestre que haveria de vir, enviado da parte de Deus: “Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo. Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo”. Jesus não podia se revelar abertamente aos fariseus porque estes não percebiam as próprias carências espirituais. No entanto, sempre estava disposto a se fazer conhecido a todos aqueles que sentissem necessidade dEle (cf. Mt 11.25-27). Cristo sempre se revela àqueles que amam a sua vinda. Foi assim que revelou-se aos primeiros discípulos (Jo 1), e a Nicodemos (Jo 3.13; 9.35-38). 3. Começa o serviço cristão. A mulher imediatamente tornou-se missionária do Profeta e Messias que acabara de descobrir. “Deixou pois a mulher o seu cântaro” - mostrando que, na alegria de descobrir a Água Viva, esquecera-se da sua procura pela água natural _ “e foi à cidade, e disse àqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; porventura não é este o Cristo?” (cf. Jo 1.41). Nada mais natural do que alguém que recebeu a Água Viva para beber levar outros à mesma Fonte. V – Ensinamentos Práticos 1. Fontes escondidas. A mulher samaritana não sabia que falava ao Messias, e que a poucos passos dela estava a Fonte de Água Viva; mas sua ignorância não alterava a realidade dos fatos. As águas do Rio Amazonas entram oceano adentro com tanta força que ainda há água doce a grande distância da praia. Certo navio não tinha mais água potável a bordo, e os tripulantes, longe da terra firme, fizeram sinal a outro navio, pedindo água. Demoraram muito tempo para acreditarem na resposta: “Desçam os baldes no oceano, porque é de água doce”. Finalmente experimentaram fazer isto e descobriram que realmente estavam cercados por água doce. Nós também estamos cercados em todos os lados por Deus, sustentados por Ele e vivendo nEle, e tantas vezes não tomamos conhecimento deste fato, deixando de lançar nossos baldes para recebermos a plenitude da sua graça. O Senhor Jesus abriu os olhos da mulher samaritana para que ela enxergasse a fonte das águas vivas, e fará o mesmo por nós. No cansaço, Ele nos mostrará uma fonte de refrigério; na tristeza, uma fonte de consolação; na enfermidade, uma fonte de cura; no desencorajamento, uma fonte de esperança (cf. Gn 21.1619; Ex 17.1-6; Nm 20.9-11; Is 43.19). 2. Sede da alma. “Qualquer que beber desta água tornará a ter sede”. Se nos colocássemos de vigia numa esquina, examinando o rosto de cada um dos inúmeros transeuntes, veríamos escrito nos semblantes da maioria desassossego, descontentamento insatisfação. A maioria das pessoas segundo parece, sofre a dor das ânsias não satisfeitas. Procurando a satisfação que seus corações tanto reclamam, uns vão ao cinema, outros procuram as drogas, outros procuram se esquecer dos problemas mediante vários tipos de atividades febris. Se realmente soubessem ler seu próprio coração, diriam, juntamente com o salmista: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Sl 42.2). O Espírito Santo é a Água Viva que satisfaz a alma, e Jesus Cristo veio a este mundo para nos levar “para as fontes das águas da vida” (Ap 7.17). 3. O Espírito que habita em nós. Spurgeon escreveu: “O poder do Espírito Santo que habita em nós é superior a todos os reveses, como um rio que não pode ser forçado a ficar debaixo da terra, por mais que procuremos represá-lo... Quando o Senhor dá de beber a nossas almas, das fontes que brotam da grande profundidade do seu próprio amor eterno, quando nos dá a bênção de possuirmos em nosso íntimo um princípio vital de graça, nosso ermo se regozija, e desabrocha em flores como a roseira, e o deserto ao nosso redor não pode murchar o nosso crescimento verdejante; nossa alma fica sendo um oásis, mesmo quando tudo ao nosso redor é secura infrutífera. 6 O Paralítico do Tanque de Betesda Texto: João 5.1-14 Introdução Como já notamos num estudo anterior, João chama os milagres de Cristo de “sinais” porque são indicadores da divindade do Senhor. Sete deles (antes da crucificação) são selecionados pelo evangelista: a transformação da água em vinho; a cura do filho de um oficial do rei; a cura do paralítico; a multiplicação dos pães para alimentar a multidão; Jesus andando sobre o mar; a cura do cego; e a ressurreição de Lázaro. Este nosso estudo trata
Compartilhar