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Responsabilidade Social

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RESPONSABILIDADE 
SOCIAL
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Marcone Costa Cerqueira
Indaial – 2019
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2019
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
C416r
 Cerqueira, Marcone Costa
 Responsabilidade social. / Marcone Costa Cerqueira. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2019.
 147 p.; il.
 ISBN 978-85-7141-356-6
 ISBN Digital 978-85-7141-357-3
1. Responsabilidade social. - Brasil. II. Centro Universitário 
Leonardo Da Vinci.
CDD 302
Impresso por:
Sumário
APRESENTAÇÃO ..........................................................................05
CAPÍTULO 1
Responsabilidade Social e Sociedade ......................................07
CAPÍTULO 2
A Responsabilidade Social e o Mercado ..................................53
CAPÍTULO 3
Responsabilidade Social Empresarial e Seus Desafios ......101
APRESENTAÇÃO
Prezado aluno, bem-vindo à Responsabilidade Social. Nesta disciplina 
desenvolveremos um estudo aprofundado acerca do tema da Responsabilidade 
Social. Dentro de um contexto social complexo e variado, na qual se tornou a 
sociedade moderna, é importante discutir os aspectos que constituem as relações 
entre indivíduos, empresas e instituições sociais. O tema da Responsabilidade 
Social deve ser entendido como uma discussão que abarca tanto os indivíduos, 
em suas ações sociais, quanto as empresas, em suas atividades econômicas e as 
instituições sociais em seus papéis políticos.
Para compreender este complexo cenário, é necessário lançar um olhar analítico 
e crítico sobre os seus principais componentes, entender como se formam as estruturas 
sociais, as ligações entre os indivíduos e as principais relações produtivas. Além desta 
compreensão alargada, é preciso ainda entender como se desenvolveu o tema da 
Responsabilidade Social, seu papel na organização social, suas funções dentro do quadro 
produtivo das empresas e sua importância para o crescimento social como um todo. 
Diante desta constatação, nosso itinerário de estudo terá como princípio o 
importante estudo das formações sociais, a construção das relações políticas a 
partir das instituições e dos processos de interação entre os indivíduos. 
No primeiro capítulo abordaremos a questão da Responsabilidade Social 
frente à sociedade, analisando os principais pontos que constituem o viver social, 
seus aspectos culturais, políticos e seus principais desafios.
Mais adiante, no segundo capítulo, nos voltaremos para a compreensão do 
cenário econômico, suas interações com as instituições sociais, seus processos 
produtivos e suas principais contribuições para a compreensão do tema da 
Responsabilidade Social. Neste capítulo buscaremos analisar de forma crítica 
a importância da Responsabilidade Social frente ao desenvolvimento humano e 
social através dos processos produtivos e das relações de mercado.
No terceiro capítulo, tendo já discutido o tema da Responsabilidade Social 
dentro das esferas social e econômica, nos debruçaremos sobre o cenário 
empresarial, tendo o cuidado de ampliar nossa discussão para os prementes 
desafios que se colocam neste intricado contexto.
Ao fim deste estudo, acreditamos que você estará apto a desenvolver sua 
própria visão crítica sobre o tema da Responsabilidade Social, aplicando de forma 
independente em sua prática profissional o conhecimento aqui adquirido.
Bons estudos! 
CAPÍTULO 1
RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE
A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Conhecer os princípios sociais, políticos, éticos e estruturais que compõem a 
sociedade, compreendendo a importância da Responsabilidade Social neste 
contexto.
 Analisar de maneira crítica e independente as relações teóricas e práticas da 
interação social entre os diversos agentes sociais, identifi cando e distinguindo 
o surgimento da Responsabilidade Social e seu campo de inserção.
8
 Responsabilidade social
9
RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Mesmo sendo uma difícil tarefa conceituar a sociedade humana, podemos 
argumentar que ela surgiu como agrupamento dos indivíduos humanos vivendo 
em um meio social, agrupamento este que se formou em vista da melhor chance 
de sobrevivência e perpetuação do indivíduo e sua linhagem. No entanto, 
a sociedade pode parecer algo puramente natural e instintivo, porém sua 
complexidade é muito maior.
Para superarmos esta compreensão do caráter instintivo, que parece 
permear os motivos por trás da formação da sociedade, temos a imaginação 
humana. A razão humana em sua capacidade, aparentemente ilimitada, molda 
os contornos gerais da confi guração da realidade social. O homem é um ser que 
precisa muito mais do que alimentos e procriação para se realizar, sua natureza 
racional o direciona a uma complexidade existencial que deve ser suprida na 
sociedade. Por este viés, a sociedade se torna uma rede viva de relações que 
vão moldando os indivíduos e os direcionando a uma convivência demarcada por 
relações de aproximação.
Desta forma, nosso estudo neste capítulo estará pautado pela busca de uma 
compreensão mais ampliada dos meandros constitutivos das relações sociais, 
suas construções institucionais, os parâmetros de interação entre os indivíduos 
e os processos políticos. A partir daí, poderemos compreender as bases de 
construção da ideia de Responsabilidade Social e sua inserção no cenário social.
2 A SOCIEDADE E SUAS INSTITUIÇÕES
Compreender como se constitui o processo de formação social é uma tarefa 
que demanda um amplo estudo de todas as bases constitutivas das próprias 
relações humanas. Os indivíduos humanos estão propensos a buscar as melhores 
formas de organização em vista de garantir a sua segurança e sobrevivência. 
No entanto, mais que um simples animal gregário, o ser humano consegue 
empreender relações mais profundas, seja no âmbito familiar ou grupal. “Pode-
se dizer que existe relação social quando indivíduos ou grupos têm expectativas 
recíprocas em relação ao comportamento uns dos outros, de modo que tendem a 
agir de maneiras relativamente padronizadas” (CHINOY, 1973, p. 54). 
Podemos aceitar o fato de que a sociedade se forma pela necessidade de 
subsistência e sobrevivência, mas que vai se sofi sticando a partir do momento 
em que o homem se vê como participante de uma realidade que envolve outros 
indivíduos, surgindo uma identidade social, algo que impele o indivíduo a se 
10
 Responsabilidade social
identifi car com o grupo que partilha dessa mesma realidade social. Este processo 
segue um ritmo gradual, bem como sofre saltos constantes, e o que determina 
sua velocidade são os fatores que impulsionam a capacidade de satisfazer as 
necessidades naturais de subsistência, o que não exclui as necessidades sociais 
de aproximação. 
Em sentido amplo, a capacidade da sociedade em estabelecer as relações 
de aproximação dos indivíduos está estritamente dependente da capacidade 
de prover as condições de subsistência destes indivíduos. A capacidade de 
estabelecer as relações de aproximação é também dependente de diversos 
processos de fortalecimento dos laços intrínsecos ao próprio viver social. Não 
há dúvidas de que as relações que se estabelecem por via da satisfação das 
necessidades básicasde segurança e sobrevivência, vão incrementando-se a 
partir dos laços criados em torno de outros interesses mais sofi sticados. 
A construção desses laços é um processo que demanda um profundo grau 
de interação, o que não exclui as possibilidades de confl itos e desavenças. 
Os confl itos dentro da sociedade são naturais exatamente pela determinante 
da disputa direta dos meios de subsistência, seja terra, água, maquinário, ou 
qualquer outra coisa que infl uencie na disposição das aproximações sociais dos 
indivíduos, podendo criar sociedades menores dentro de uma sociedade maior.
Neste curso que você está iniciando, a UNIASSELVI disponibiliza 
na sua plataforma virtual de aprendizagem um conjunto de materiais 
que o auxiliará em seus estudos. Acesse, com seu login e senha, o 
site da instituição: <www.uniasselvipos.com.br>.
Ao se estabelecerem os parâmetros de construção social, vê-se surgir os 
principais traços que dão identifi cação ao grupo em sociedade, os indivíduos 
primeiro partilham de uma visão de mundo que os unifi ca em diversos níveis. 
Desta forma, partindo da clara necessidade de segurança e subsistência, a 
sedimentação das relações sociais, mais amplas e sofi sticadas, ocorre em um 
nível mais simbólico. Podemos entender, a partir dessa perspectiva, que as 
sociedades surgem pelas necessidades concretas dos indivíduos, mas são 
estruturadas, unifi cadas e ordenadas, por via das relações que se fortalecem por 
meios das construções simbólicas.
Buscando aprofundar mais essa perspectiva, podemos pensar em traços que 
se constituem como recorrentes em quase todas as sociedades, traços culturais 
11
RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
que se colocam como norteadores das relações entre os indivíduos. Todas as 
sociedades constroem fundamentos culturais que primeiro se estabelecem como 
costumes aceitos e seguidos por todos os indivíduos pertencentes àquele grupo 
social.
De acordo com Beattie (1980), cultura é toda produção material, 
simbólica, artística e espiritual que carrega em si mesma um sentido 
em um contexto social para todos os indivíduos que a reconhecem 
como válida e a valorizam. Neste sentido, podemos compreender que 
os primeiros traços sociais, aqueles que dão identifi cação e coesão 
ao grupo, são traços simbolicamente reconhecidos dentro do contexto 
cultural criado na sociedade. Por este viés, pode-se perceber que a 
simples necessidade material de sobrevivência e segurança não é 
capaz de dar toda a identidade e signifi cação social necessária para a 
sedimentação do grupo de indivíduos em sociedade.
Pode-se indagar o fato de que dentro de uma sociedade há visões 
discrepantes sobre inúmeras formas de compreensão do mundo, na maioria das 
vezes, criando situações de rupturas sociais. Certamente que este fator nos alerta 
para o fato de que a sociedade humana, seja em qual cultura for, não é um sistema 
fechado em si mesmo. É próprio dos conjuntos sociais humanos o embate sobre 
as signifi cações sociais atribuídas aos símbolos culturais. 
Isso não signifi ca que as sociedades estejam em colapso, ao contrário, o 
embate apenas demonstra que tanto o contexto social, quanto o cultural são 
dinâmicos e possuem o mesmo peso na organização dos indivíduos. “A única 
distinção aceitável é a de que o termo ‘social’ denota a consideração do conjunto 
dos seres humanos em interação e suas relações, enquanto o ‘cultural’ signifi ca a 
consideração dos signifi cados, valores e normas, com seus veículos materiais (ou 
cultura material)” (SOROKIN, 1968, p. 100).
Em uma sociedade mais complexa, estratifi cada em diversos níveis sociais, 
pode-se perceber o grau de sofi sticação dos signifi cados culturais das principais 
representações construídas em vista da organização social. Quando nos 
remetemos às sociedades antigas, tais como a egípcia, a grega e a romana, por 
exemplo, podemos perceber o complexo edifício simbólico de representações 
sociais, valores e traços culturais. 
De acordo com 
Beattie (1980), 
cultura é toda 
produção material, 
simbólica, artística 
e espiritual que 
carrega em si 
mesma um sentido 
em um contexto 
social para todos 
os indivíduos que a 
reconhecem como 
válida e a valorizam.
12
 Responsabilidade social
1 Uma excelente forma de compreender a organização simbólica 
de uma sociedade, principalmente em seus aspectos culturais, é 
analisar sua forma de organizar a compreensão do mundo. Neste 
sentido, faça uma breve pesquisa bibliográfi ca e virtual, buscando 
traçar um paralelo entre pelo menos um mito de cada uma das 
duas principais sociedades antigas da história, por exemplo, 
os gregos e os romanos. Busque compreender como eles 
explicavam coisas cotidianas, como as mudanças das estações 
do ano e a vida após a morte. Isso te ajudará a perceber como 
as representações culturais são importantes para a organização 
social.
R.:____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
_____________________________________________________.
Encontra-se nestas sociedades uma estratifi cação social extremamente 
pautada na organização dos indivíduos, na defi nição de suas funções sociais e 
na delimitação das interações possíveis entre os indivíduos de níveis distintos. 
Diferentemente de uma sociedade mais simples e primitiva, como a dos indígenas, 
por exemplo, em que a estratifi cação social é mínima e as funções sociais e as 
interações possíveis são mais generalizadas e menos lastreadas por delimitações.
Vejamos a defi nição de estratifi cação social segundo Johnson 
(1997, p. 95): “Estratifi cação é o processo social através do qual 
vantagens e recursos, tais como riqueza, poder e prestígio são 
distribuídos sistemática e desigualmente nas ou entre sociedades. A 
estratifi cação difere da simples desigualdade porque é sistemática”. 
Por esta defi nição, podemos entender que a estratifi cação social é 
a divisão da sociedade em classes ou grupos, na qual determinada 
classe impõe sua posição de domínio sobre as demais, sendo um 
sistema tradicional, geralmente apoiado em costumes e legitimações 
religiosas e culturais.
13
RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
Não se pode incorrer ao erro de pensar que uma sociedade menos 
estratifi cada, como a dos indígenas, seja pior ou menos desenvolvida do que 
as sociedades clássicas, como as citadas, ou as modernas sociedades. O que 
importa é compreender que os indivíduos envolvidos em sociedade estabelecem 
meios de signifi cação simbólica e concreta para organizar seu convívio social e 
suas interações.
Outro ponto que deve nos chamar a atenção no estudo da sociedade é a 
questão dos meios de coerção social. Até o momento foi possível estabelecer que 
as sociedades humanas surgem primeiro por conta da necessidade natural de 
segurança e sobrevivência dos indivíduos. Uma segunda fase é a sofi sticação 
deste estabelecimento social por meio de simbolismos culturais que dão ordem e 
sentido ao corpo social.
No entanto, como já começamos a indicar, este arranjo não está imune ao 
confl ito e a desajustes, embates que podem ocorrer por diversifi cados motivos. 
Diante disso, é preciso pensar sobre os dispositivos que são criados, dentro do 
corpo social, para prevenção e anulação dos riscos iminentes destes confl itos, 
bem como a punição daqueles que não acatam as regras e os valores aceitos 
pelo grupo.
Dentro destes dispositivos sociais, podemos destacar dois que parecem ter 
um efeito mais profundo na organização das relações entre os indivíduos e na 
garantia de adesão aos valores, aos costumes e às diretrizes, evitando os confl itos 
e os embates. O primeiro é a aceitação social, ou seja, o reconhecimento que um 
indivíduo recebe de seus pares por conta de suas ações dentro do corpo social. 
Podemos ver, em todas as culturas, rituais de passagemnos quais os 
indivíduos são inseridos na vida do grupo, comemorações, rituais e cerimônias 
que reforçam o reconhecimento daqueles indivíduos que se destacam. Todos os 
indivíduos aderem aos movimentos sociais que respondem aos seus anseios, 
o que lhes dá esperança e reconhecimento, sendo estes sentimentos mais 
poderosos que o medo. 
Neste sentido, podemos afi rmar que a aceitação do indivíduo com relação 
aos valores e costumes é a base de valorização e reconhecimento social que ele 
experimenta. Esta ideia está muito próxima do que Montesquieu (2008) defi niu 
como sendo a base de governos republicanos e democráticos, o sentimento 
de acatar o ordenamento social, defendê-lo e esperar o mesmo de todos os 
indivíduos.
As relações sociais sedimentadas pelo sentimento de pertencimento ao 
grupo são fortalecidas pelas diversas formas de autorrealização do indivíduo, 
14
 Responsabilidade social
sendo muito importante a socialização de instrumentos para a autopromoção e 
reconhecimento. Esse aspecto é fundamental para a propagação dos valores e 
das normas aceitas pelo grupo. Em uma sociedade repressora, na qual o indivíduo 
se encontra tolhido de suas possibilidades, o grau de confl itos tende a ser maior.
Este primeiro nível de ordenamento, a saber, a adesão e a aceitação dos 
indivíduos com relação aos acordos sociais e traços culturais simbólicos, precede 
o nível mais objetivo da coerção. 
No nível do reconhecimento social, os indivíduos são levados a seguir os 
costumes por receio de serem vistos de forma depreciativa, sendo ainda um 
aspecto coercitivo no qual o sentimento de pertencimento é muito forte.
Como já apontado, em um nível mais objetivo de coerção, o simples 
comprometimento do indivíduo para com os ditames de regras e valores sociais 
não é sufi ciente para que ele os siga. Nesse ponto são necessários meios mais 
contundentes de coerção, normas mais rígidas e centralmente pautadas na 
punição. Podemos elencar neste nível as leis e as demais proibições sociais.
O tema das leis é um amplo campo de discussões, desde a Antiguidade ele 
vem sendo tratado por diversos tipos de pensadores, de fi lósofos a teólogos. Para 
os gregos, como Aristóteles (2007), as leis tinham a função de tornar os cidadãos 
virtuosos, levando-os à busca de virtudes éticas e sociais. Já na Idade Média, 
em Agostinho (1980), principalmente, as leis humanas eram refl exo da lei divina 
agindo no ser humano. Na Modernidade, após todo o movimento de construção 
jurídica a partir da fi losofi a iluminista, autores como Kant (1984) apontam as leis 
como frutos da própria autonomia da razão em sua capacidade de se autolegislar. 
Para este autor, a adesão dos indivíduos às leis se dá por um reconhecimento 
racional de sua validade para o convívio social e bem-estar dos indivíduos.
A obra “Nascimento da lei moderna: o pensamento da lei de 
Santo Tomás a Suarez” é uma interessante e completa análise dos 
fundamentos teóricos, sociais e culturais que estabeleceram as 
bases para as principais construções modernas sobre as leis. Vale a 
pena pesquisar.
FONTE: BASTIT, M. Nascimento da lei moderna: o pensamento da 
lei de Santo Tomás a Suarez. Tradução de Maria E. A. P. Galvão. São 
Paulo: Martins Fontes, 2010.
15
RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
É necessário compreender que as leis, assim como as construções 
simbólicas da cultura, são representações que partem primeiro de consensos 
sociais estipulados no nível da aceitação social. 
Em Aristóteles, por exemplo, que via nas leis a busca da virtude, também 
justifi cava a escravidão como algo natural entre os homens, afi rmando que alguns 
nasciam para serem escravos. 
Já Kant via na pena de morte uma punição justa para o indivíduo que renegou 
a sua capacidade racional livre de aceitar a lei e segui-la. 
O que buscamos compreender com esses exemplos é que mesmo partindo 
de teorias amplas e racionais, as leis refl etem entendimentos que são consenso 
em determinada sociedade, em determinado contexto e período histórico.
O nível de coerção proporcionado pelas leis é objetivo por não estar apenas 
apoiado no reconhecimento dos demais indivíduos, no entanto, está baseado em 
normativas que carregam consigo punições e sanções sociais, morais e físicas. Este 
é mais um traço da sociedade que expressa seu grau de organização e sofi sticação, 
ligando diretamente as esferas cultural e social, como aponta Heller (1968, p. 29):
A consciência que transforma com sentido o mundo circundante, 
guiada por certas leis ideais, pertence, como algo necessário, 
ao ser peculiar do homem. Esta natureza humana que sai e se 
destaca do meramente dado pode ser, para a História Natural, 
uma variável, mas para a História da Cultura é uma constante. 
Por outro lado, as realidades naturais e culturais que encontra 
o ser do homem consciente e transformador do mundo, e que 
condicionam a sua atividade em forma de leis, revelam também, 
embora em medida muito diferente, uma constância histórico-
sociológica, graças a qual, precisamente, é possível a cultura.
As leis são também construções históricas e sociais dos grupos em 
sociedade, demonstrando que sua dinâmica é a própria sofi sticação da 
natureza humana em vista de sua organização. Em vista da organização 
da sociedade, o papel das leis é mais que regulador ou meramente 
coercitivo, sua representação simbólica enquanto produto cultural é a 
demonstração da sofi sticação dos valores surgidos na própria sociedade.
Como já apontado, em diversos momentos o consenso é 
quebrado pelos mais variados motivos, a representação simbólica 
das construções culturais e sociais não é coadunada na aceitação 
uníssona das leis por todos os indivíduos. Neste ponto, a punição 
exerce seu papel de reguladora das anomalias e distorções existentes 
Em vista da 
organização da 
sociedade, o papel 
das leis é mais 
que regulador 
ou meramente 
coercitivo, sua 
representação 
simbólica enquanto 
produto cultural é 
a demonstração 
da sofi sticação dos 
valores surgidos na 
própria sociedade.
16
 Responsabilidade social
na conduta de determinados indivíduos. Dentro do arranjo necessário para se 
equilibrar os níveis de arranjo social, as leis estabelecem um elo entre o que é 
consenso sociocultural e o que é dispositivo punitivo-regulatório.
Compreender a sociedade como uma organização composta por níveis de 
relações e ordenamentos, representações simbólicas de cultura e dispositivos 
punitivos de regulação, nos leva a confrontar outro aspecto que determina a 
sofi sticação dos corpos sociais. O contexto social se intrinca na complexa ordenação 
de instituições que resguardam os fundamentos culturais, políticos e sociais do grupo. 
Nas sociedades modernas, os indivíduos são sujeitos institucionalizados, 
desde o nascimento, a educação, a formação familiar, o trabalho, a justiça, os 
aspectos espirituais, todos estes níveis culturais de representação social são 
mediados por instituições. As bases consensuais advindas das representações 
simbólicas de cultura que expressam os valores e diretrizes do grupo social se 
materializam através das instituições sociais. Trataremos deste tema agora.
É possível afi rmar que as instituições, mais que apenas adequarem os 
indivíduos ao contexto social, são as intermediadoras destes mesmos indivíduos 
nos processos de organização social. Por este viés, podemos começar por orientar 
nossa exposição na direção de delinear suas objetivações proporcionadas por 
sua abrangência social. Como fator de agrupamento dos indivíduos em torno de 
padrões e regras, as instituições desempenham o papel de um elo na construção 
de uma corrente, unindo todos de forma mais coesa e sólida.
Se pensarmos o modelo de instituição para defi nir um grupo celular, poderemos 
encontrar diversos tipos de confi gurações, por exemplo, uma universidade é 
uma instituição, ela se caracteriza como uma organização que abrange pessoas. 
As instituições sociais se referem àsinstituições abrangentes, como a religião, a 
educação, a economia e a família, acreditamos que este ponto esteja bem claro. 
Nestes moldes, as instituições sociais são amplas dentro do contexto da 
sociedade, abrigando instituições nucleares, por exemplo, a universidade é uma 
instituição educacional. Dessa forma, quando se diz de determinada doutrina religiosa, 
por exemplo uma denominação protestante, está se falando de uma instituição religiosa 
orientada em certo sentido, mas que se caracteriza como uma instituição abarcada 
pela noção universal de religião. “As instituições são construídas a partir de normas 
ou expectativas sociais amplamente consideradas como obrigatórias e sustentadas por 
fortes sanções que garantem a conformidade a elas” (SCOTT, 2010, p. 112). 
A partir desta assertiva, podemos perceber a natureza fl exível que permeia a 
concepção de instituição em sua função social, as normas e os padrões são criados 
como meios de distinguir o indivíduo em seu papel na sociedade, sendo que, de forma 
17
RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
geral, esta coerção pode ser entendida como uma ação racional em vista de um 
valor. No entanto, além da obrigação moral a partir da aceitação de um valor, existe 
o fator de convencimento e coerção, por parte das instituições que levam o indivíduo 
a experimentar a sensação de exclusão do meio social onde ele está inserido. Nesse 
sentido, a partir do momento em que o indivíduo sofre uma sanção, ele está sendo 
colocado como parte desvirtuada da instituição social na qual ele está integrado.
A necessidade de ser aceito no grupo social leva o indivíduo a assimilar 
fi elmente os preceitos que lhe são indicados nas instituições às quais pertence, o 
que de certa forma se torna uma coerção muito forte, uma vez que a possibilidade de 
exclusão o leva a não questionar algumas coisas. O que mais habilita as instituições 
sociais a serem a base da organização de uma sociedade é a capacidade de 
agrupar indivíduos em torno de objetivos comuns, assim, a coexistência desses 
grupos pode ocorrer naturalmente, bem como passar por momentos de ruptura.
A partir dessas colocações, aos olhos do indivíduo moderno, pode parecer 
estranho pensar que em determinado momento alguém pode ser excluído de um 
convívio social apenas por não aceitar um padrão vigente de conduta. Todavia, 
quando pensamos nas sociedades menos complexas e mais nucleadas, podemos 
mensurar o que seja o fato da exclusão social. 
Em sociedades pequenas, como as que geralmente eram formadas nos 
modos de produção antigos, modos totalmente dependentes da posse da terra 
e fortemente territorialistas, a blindagem social contra a infl uência de outras 
sociedades era fortemente erguida pela infl uência das instituições na vida do 
indivíduo. Na moderna sociedade capitalista, a fl exibilidade com relação ao 
campo de escolha do indivíduo é muito grande, dentro da religião, por exemplo, 
existem vários caminhos possíveis ao indivíduo em uma mesma sociedade, o que 
era pouco provável em sociedades antigas.
Assim, é possível projetar a infl uência dos modos de vida, bem como dos 
símbolos culturais, na confi guração das instituições sociais, e a importância destas 
na confi guração do indivíduo social atuante. Em amplo sentido, a existência 
das instituições sociais e sua ação na sociedade são traços claros de que o ser 
humano se organiza racionalmente em torno de valores, padrões e diretrizes. 
Esse processo, de forma alguma, é inerte, sendo na verdade um campo vasto 
para o surgimento de rupturas sociais, principalmente em uma sociedade aberta 
no sentido produtivo, como é o caso da sociedade moderna, na qual diversas 
orientações culturais e morais são observáveis no cotidiano. Analisando em um 
plano geral a situação das instituições sociais, a incidência de confl itos é algo 
pouco desejado por parte da maioria dos indivíduos de uma sociedade. 
18
 Responsabilidade social
Entretanto, é importante perceber que o processo de evolução social é 
marcado sim por confl itos institucionais, principalmente a partir do momento em 
que uma sociedade avança seus modos de produção e sua interação com outras 
sociedades. Estes confl itos podem ter dois níveis de abrangência, eles podem ser 
internos ou externos. 
No nível interno, os próprios indivíduos que compõem determinado grupo 
institucionalizado podem entrar em desavença e começar um processo confl ituoso 
que acabe por alterar a confi guração interna do grupo. 
Já no nível externo, um grupo institucionalizado pode sofrer infl uência 
de outros grupos e acabar assimilando as características próprias destes. 
De forma geral, existem válvulas de segurança para garantir que tais confl itos 
não aconteçam. Como já foi dito, a coerção acontece de diversas formas, mas 
principalmente pela exclusão dos indivíduos causadores do confl ito.
Se avaliarmos a questão do confl ito como algo natural na existência das 
instituições sociais, podemos imaginar que a tensão deve existir principalmente 
nos pontos em que a relação direta com o indivíduo é afetada pelas alterações 
sociais externas ao grupo. No caso de uma instituição religiosa, o indivíduo é 
guiado segundo os preceitos e regras válidos de acordo com o grupo, mas se 
a maioria da sociedade segue padrões distintos daquele grupo, o indivíduo se 
vê diante de uma situação de mal-estar que pode infl uenciar sua aceitação dos 
preceitos do grupo original. “O que se requer, em particular, é tornar mais explícito 
o reconhecimento de que a institucionalização é um processo em curso, circular, 
sistêmico, e não uma cadeia aberta de acontecimentos com antecedentes e 
consequências defi nidas” (BUCKLEY, 1976, p. 199). 
O processo confl ituoso dentro das instituições sociais não pode ser previsto, 
ou entendido, de forma isolada. Em um contexto social, todas as instituições 
são interligadas e dependentes, principalmente com relação às instituições 
econômicas, políticas e religiosas. Os sujeitos sociais, impulsionados pela 
necessidade de fortalecer suas relações de aproximação, são, de certa forma, 
fi éis às instituições que lhe proporcionam uma sensação de participação social. 
Os confl itos demonstram que o ser humano não é um ser apenas instintivo, sua 
organização social segue uma dinamicidade incrível, fruto de sua racionalidade e 
de sua capacidade de representar o mundo simbolicamente. Podemos entender 
que os confl itos ocorrem de forma mais sofi sticada no campo da razão e, como 
tal, seguem uma formulação minimamente lógica. 
Assim, é possível afi rmar que existe uma relação de poder que fl ui da 
capacidade de convencimento ou da capacidade de alteração da realidade de 
subsistência dos indivíduos sociais. Em uma sociedade autoritária, as instituições 
19
RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
seguem os padrões impostos pelo mais forte. “A situação em que há um consenso 
total sobre valores, normas e instituições é meramente um caso extremo, e é 
preciso reconhecer o papel desempenhado pelo poder e pelo confl ito” (SCOTT, 
2010, p. 114). 
Ao intrincarmos todos os elementos que traçamos até o momento no 
processo de formação de uma sociedade, seja no nível do reconhecimento e 
aceitação, no nível cultural dos valores e normas, até mesmo no nível coercitivo 
das leis e instituições, percebemos que as relações sociais se constituem como 
processos ascendentes. Isso signifi ca dizer que as relações dos indivíduos em 
sociedade são pautadas por um caráter evolutivo, mesmo que passando por 
rupturas ou retrocessos, a sociedade sempre evolui.
1 O conceito de evolução carrega uma ampla carga de discussões 
acerca do que sejam os parâmetros de avaliação do que está 
mais ou menos evoluído. Durante a Segunda Guerra Mundial, 
por exemplo, o governo nazista pregava a existência de uma raça 
superior, justifi cando assim um genocídio. Ainda neste sentido, 
os europeus que chegaram às Novas Terras, depois chamadas 
deAméricas, acreditavam que os moradores daquele lugar, 
chamados por eles de índios, eram de uma cultura inferior, menos 
evoluída. No entanto, vários autores dizem que a sociedade 
tem evoluído com relação aos Direitos Humanos, tais como os 
direitos das mulheres, das comunidades LGBTI etc. Em vista 
de sua compreensão deste tema, tomando ainda a diversifi cada 
aplicação do termo “evolução”, seria possível afi rmar que a 
sociedade evolui para estágios de maior participação social? 
Você acredita que nos três casos citados, o termo “evolução” foi 
utilizado em sentidos distintos dentro do contexto social?
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 Responsabilidade social
Todos os aspectos, como a justiça, a economia, a participação social, sofrem 
refl exos dinâmicos de atualização social. Pensemos na participação política, 
quando há cem anos, poucos indivíduos tinham a prerrogativa de participação 
na vida política, mulheres, negros, indígenas e outras minorias não tinham 
participação. Tomemos ainda a questão econômica, quando no século XIX a 
jornada de trabalho poderia chegar a 18 horas diárias nas fábricas, tornando a 
vida dos trabalhadores totalmente insalubres. 
Por este viés, podemos perceber que o processo ascendente de evolução 
das sociedades depende tanto dos confl itos quanto dos símbolos culturais, 
dos valores e do reconhecimento social. Todo este cenário é mediado pelas 
instituições que abarcam todos os níveis da vida social.
No próximo tópico nos centraremos em uma questão central para a 
compreensão da relação entre sociedade e indivíduos, entre grupos sociais e 
instituições. Todas estas relações se constituem como relações políticas. Assim, 
buscaremos dirimir a questão da política e de seus processos dentro da sociedade.
3 OS PROCESSOS POLÍTICOS NA 
SOCIEDADE
Entender o arranjo político que fundamenta o corpo social é uma 
tarefa que exige um amplo esforço de análise e crítica. Partindo da 
noção de sociedade como uma relação que se dá entre indivíduos que 
buscam segurança e sobrevivência, posteriormente sofi sticando tal 
relação em traços simbólicos de cultura, devemos compreender como 
surgem os processos políticos a partir do movimento histórico e social 
impingido por esta relação. Em outros termos, é preciso compreender 
que os processos políticos são dinâmicos, históricos e diretamente 
ligados tanto à simbologia cultural, quanto à relação material dos 
indivíduos em sociedade. 
Para se ter uma compreensão maior desta dimensão dinâmica da política, 
é preciso vislumbrar a relação de mão dupla que existe entre os indivíduos e os 
meios ao qual eles se inserem, bem como entre o meio social e o meio natural, 
depois pode-se vislumbrar as relações políticas como interação entre os indivíduos 
inseridos em uma realidade social e natural. “O homem, além de adaptar-se ao 
meio natural, adapta-se, também, ao meio social e institucional e o faz numa ampla 
variedade de situações que exigem reações fl exíveis” (MANNHEIM, 1962, p. 47).
Em outros 
termos, é preciso 
compreender que os 
processos políticos 
são dinâmicos, 
históricos e 
diretamente ligados 
tanto à simbologia 
cultural, quanto à 
relação material 
dos indivíduos em 
sociedade.
21
RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
A espécie humana moldou-se em vista de sua relação com a natureza 
durante milhares de anos, não se pode obliterar este processo de evolução que 
marca a chegada do homem até a Contemporaneidade. Os desafi os intrínsecos à 
sobrevivência humana na Terra são determinantes em sua forma de ocupação do 
espaço, podemos afi rmar que áreas mais propícias ao seu sustento são também 
as mais disputadas. 
Sendo um animal social, não político, por natureza, o ser humano se organiza 
em grupos defi nidos e coesos e, em geral, estes grupos seguem um forte código 
de padrões, normas e valores. Os grupos humanos, de início, eram pequenos, 
mas devido à sofi sticação de sua interação com a natureza e seu grau de domínio 
sobre ela, foram necessárias áreas cada vez maiores para prover o sustento 
(BEATTIE, 1980).
Em diversos momentos, os dispersos grupos humanos tiveram que 
disputar o espaço necessário para satisfazer suas necessidades, sendo um 
fator determinante no rumo da história humana. Diante dos desafi os que são 
oferecidos pelo mundo hostil no qual o ser humano se encontra como participante, 
ele claramente percebe a necessidade de se organizar para sobreviver e para 
perpetuar sua espécie.
A sociedade é, na verdade, o produto fi nal do processo de organização do ser 
humano frente às adversidades, podemos asseverar que social é uma defi nição 
que parte de algo tomado no sentido de compartilhamento de bens materiais, 
culturais ou artísticos, comprometimento fi rmado por um grupo de indivíduos. 
As sociedades surgem como respostas à condição de disputa que a luta pela 
sobrevivência impôs ao homem; no meio social, o indivíduo pode exercer sua 
participação na vida ativa do grupo, ou seja, estão garantidas sua segurança e 
liberdade para prover seu sustento e dar continuidade a sua linhagem.
Sem dúvidas, a sofi sticação das sociedades se deu de forma exponencial, 
o homem foi capaz de construir processos civilizatórios que perpetuaram os 
modelos mais efi cazes, uma vez que, havendo uma disputa entre sociedades 
rivais, houve também uma espécie de evolução natural social. Para manter e 
sofi sticar seu modelo de sociedade, cada grupo cria normas, valores e padrões 
que possam formatar o tipo aceito de inter-relação entre os indivíduos, porém, o 
fator de evolução da complexidade tecnológica também é essencial. 
A complexidade de tecnologia e conhecimento presentes em cada grupo - 
como pode se perceber na comparação entre um grupo tribal que sobrevive de 
coletar material na natureza e um grupo que se estabelece por meio do cultivo 
da terra e da criação do gado - exige um grau maior de organização e processos 
políticos. As diversas revoluções tecnológicas pelas quais a humanidade tem 
22
 Responsabilidade social
passado nos últimos trezentos anos demonstram como a relação entre produção 
e organização social é extremamente forte.
Até o início do século XVIII, todas as formas produtivas dependiam 
diretamente da força muscular humana e da tração animal. Após a invenção 
da máquina a vapor, ainda na primeira década do século XVIII, as sociedades 
afetadas por esta mudança tecnológica de produção sofreram forte modifi cações 
em suas estruturas de formação. Pode-se citar como exemplo a Inglaterra, a 
França e a Alemanha, que se industrializaram por meio da energia a vapor.
A próxima revolução tecnológica veio com a descoberta da energia elétrica 
e sua utilização na produção industrial. O maquinário se tornou mais potente, 
menos custoso e proporcionou uma alavancagem na produção e uma aceleração 
dos processos de crescimento dos centros urbanos industrializados. Nestes 
processos, as sociedades que primeiro usufruíram do aumento de produção 
fornecidos por essas novas formas de energia e tecnologia, distanciaram-se das 
sociedades que permaneceram com economias primariamente agrárias.
O que se pretende afi rmar aqui é que as sociedades são mais complexas 
na medida em que são mais tecnológicas e avançadas intelectualmente, 
e também mais numerosas. Em um complexo meio social, mediado pelos 
processos produtivos, dá-se a criação das bases políticas que farão parte da 
vida dos indivíduos e garantirão a continuidade do modelo social adotado e dos 
parâmetros aceitos a serem cultivadosnas inter-relações dos indivíduos. Estas 
bases políticas são também sofi sticações na vida dos indivíduos dentro do 
convívio social, são elas que garantem as diversas expressões intelectuais, tais 
como a arte, a religião, a educação, o comércio e tudo que faz parte do mundo 
social de um grupo. 
Desta forma, o meio social é a expressão máxima de domínio do homem 
sobre a natureza, é ali que ele desenvolve e aperfeiçoa toda a produção que brota 
de sua racionalidade, nesse ponto, ele se distingue de qualquer outro animal 
que viva em grupo. Por essa perspectiva, apontamos para uma compreensão 
da sociedade humana, a partir de sua organização política em vista de suas 
tecnologias, como uma segunda natureza do ser humano. Este viés implica uma 
visão da política como algo não natural, no sentido determinista da essência do 
ser humano, mas antes, como algo construído a partir de relações diretas. 
23
RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
1 Em diversas culturas antigas, a visão da sociedade parte da ideia 
de que o ser humano surge na Terra já vivendo em um contexto 
social e político. Tomemos como exemplo o mito de Prometeu e 
Epitemeu e a criação do homem, bem como o mito judaico-cristão 
da criação do mundo e do homem. Nestes dois casos o ser 
humano surge em um contexto social criado por um ser superior. 
No entanto, a antropologia tem demonstrado que o processo de 
formação da sociedade pelo ser humano levou milhares de anos 
e foi um processo complexo. Faça uma pesquisa bibliográfi ca e 
virtual sobre este tema, em seguida, disserte sobre as teorias 
criacionista e evolucionista. Seria possível afi rmar que esta 
defi nição acerca da natureza política do ser humano é disputada 
por uma visão religiosa, cultural e científi ca?
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Neste ponto, somos obrigados a compreender como o próprio indivíduo, 
ser natural que expressa toda a sua carga de anseios, desejos, perspectivas e 
medos, é infl uenciado pela organização política da sociedade, suas tecnologias 
e suas instituições sociais. É preponderante compreender como se desenrola o 
processo de assimilação do meio social pelo indivíduo que faz parte dele. 
As sociedades são formadas com o objetivo de proporcionar ao indivíduo 
inserido nelas as condições necessárias para a manutenção e a continuação de 
sua vida, evitando os riscos externos. No entanto, deve se destacar que dentro 
do próprio grupo, no meio social, pode haver sérias disputas e inadequações 
por parte de alguns, por conta disso, é necessário criar meios de garantir a total 
adequação por parte dos membros e manter a organização.
24
 Responsabilidade social
Deste ponto, podemos coadunar os aspectos que até aqui estamos traçando. 
A sociedade abarca uma esfera não natural de interação entre os indivíduos, 
mesmo que partindo de relações sociais surgidas em necessidades naturais 
de subsistência e segurança. A expressão simbólica desta esfera é a concreta 
organização política. Em outros termos, as bases políticas que organizam um 
corpo social surgem de representações simbólicas, como a cultura, e se realizam 
nas interações concretas dos indivíduos. A partir deste entendimento, trataremos 
do nível simbólico, não natural, para então buscar compreender o nível concreto, 
histórico-material.
Se pensarmos sobre a defi nição da construção política para as tradições 
clássicas, como os gregos e os romanos, poderemos ver que eles partiam 
de conceitos abstratos, valores simbólicos, que davam signifi cado ao viver 
em sociedade. Segundo Aristóteles (1997), a política é a ciência primeira na 
organização social, ela é responsável pela organização e pela valorização das 
demais ciências. Até mesmo a ética, que também é uma ciência, está sujeita à 
ciência política.
Tendo em vista essa perspectiva, Aristóteles, que era um típico grego 
clássico, só entendia a ética, a virtude e a felicidade como objetivos possíveis 
dentro do contexto político. Ainda segundo Aristóteles, as capacidades humanas 
responsáveis pelo surgimento da política foram a razão e a fala. A razão é 
responsável por proporcionar a compreensão mútua dos indivíduos, a construção 
e a assimilação de leis e instituições, sendo a fala responsável pela comunicação 
e pela expressão da razão de cada indivíduo. Para ele, somente um deus ou um 
lunático poderiam viver fora da sociedade.
Não só Aristóteles tinha essa visão entre os gregos, toda a literatura grega, 
bem como seus mitos e histórias, expressam a compreensão do viver político 
como sendo algo próprio da racionalidade humana, baseado em princípios 
universais bem defi nidos. Esta compreensão da política como sendo algo 
universal, próprio do ser humano, impulsionava uma percepção de que a história 
humana já começava com o homem e a mulher vivendo em uma sociedade 
política. 
A política se constituía como uma faculdade da essência humana, em muitos 
casos dada pelos próprios deuses, como relata o mito de Prometeu.
25
RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
Então Prometeu, perplexo quanto ao meio de preservação que 
poderia inventar para o homem, roubou de Hefesto e Atena o saber 
das artes junto ao fogo - pois sem o fogo seria impossível aprender ou 
fazer uso desse saber - e os entregou ao homem como um presente. 
Todavia, embora tenha adquirido desse modo o saber acerca da vida, 
o homem fi cou sem o saber político, que se encontrava nas mãos de 
Zeus. Prometeu não tinha permissão para entrar na acrópole, a morada 
de Zeus e, além disso, seus sentinelas eram terríveis. Ele penetrou 
furtivamente no edifício que Atena e Hefesto compartilhavam para o 
exercício de suas artes, roubou a arte de trabalhar com o fogo de Hefesto, 
assim como a arte de Atena, e deu ambas ao homem. Por isso é que o 
homem encontra facilidade em seu modo de viver. Em primeiro lugar, uma 
vez que o homem passou a possuir uma porção divina, foi ele a única 
criatura a adorar os deuses, graças a sua afi nidade com eles; por isso se 
pôs a construir altares e imagens sagradas. Em seguida, logo se tornou 
capaz de articular os sons da fala e as palavras, graças a seus dons, e a 
inventar casas, roupas, calçados, camas, e a cultivar a terra para colher 
seus alimentos. Assim, providos de tudo, a princípio, os homens viviam 
dispersos, não havendo nenhuma cidade, de modo que estavam sendo 
dizimados pelas feras selvagens, que eram mais fortes do que eles em 
todos os sentidos. Embora suas habilidades no artesanato fossem um 
auxílio sufi ciente no que dizia respeito à comida, não bastavam para 
enfrentar os animais, pois até então os homens não possuíam a arte 
política, na qual se inclui a arte da guerra. Com isso, passaram a se 
agrupar e a assegurar suas vidas fundando cidades. Entretanto, toda 
vez que se juntavam, causavam danos uns aos outros, justamente pela 
falta de uma arte política, e assim começaram a se dispersar novamente 
e perecer. Então Zeus, receando que a nossa raça corresse perigo de 
desaparecer por completo, enviou Hermes para trazer o respeito e a 
justiça aos homens, a fi m de que houvesse organização nas cidades e 
laços de amizade entre os seus habitantes. Hermes perguntou a Zeus de 
que maneira devia dar aos homens respeito e justiça: “Devo distribuí-los 
como as artes foram distribuídas?” Essa partilha foi feita de modo que 
um só homem, possuindo o saber da arte médica, é capaz de tratar de 
muitos homens comuns, o mesmo acontecendo com os demais artífi ces. 
“Devoinserir o respeito e a justiça em meio aos homens desse modo, 
ou distribuí-los entre todos?”. “Entre todos”, respondeu Zeus. “Que todos 
tenham a sua parte, pois as cidades não podem ser formadas se apenas 
alguns poucos possuírem tais virtudes, como acontece com as outras 
artes (MARCONDES, 2011). 
26
 Responsabilidade social
A política era para os gregos um traço da própria essência humana em 
vista de sua especial capacidade racional, porém, é preciso que seja trabalhada, 
exercitada e aprimorada pelas discussões públicas. Este aspecto fi losófi co da 
construção do conceito de política no Ocidente é importante para se ter uma 
noção de como a evolução do próprio conceito foi se tornando cada vez menos 
universalista, abstrato e simbólico. 
Durante a Idade Média, o conceito de política será tematizado dentro da 
própria discussão teológica, sendo entendido como fruto de uma natureza 
decaída do ser humano. Ainda com um viés universalista, abstrato e simbólico 
ao extremo, o conceito de política no período medieval será marcado pela busca 
de predominância dos aspectos éticos sobre os propriamente políticos. Segundo 
Costa (2004), Agostinho será o grande promulgador de um conceito de política 
como aspecto de degeneração da própria natureza humana. Ao fazer isso, ele 
instaura uma tradição que subjuga o político ao ético.
Neste sentido, pode-se perceber que tanto para os pensadores e as culturas 
clássicas, quanto para os pensadores medievais, a política era algo mais 
conceitual, simbólico, do que algo fruto da história concreta do ser humano. A 
questão é identifi car, nesta perspectiva, uma compreensão que nos permita 
entender como eles viam a relação do ser humano com o meio natural e a própria 
relação entre os indivíduos no meio social. Tanto as instituições sociais, quanto 
as construções culturais, eram intrinsecamente ligadas às construções políticas, 
um emaranhado simbólico que determinava o arranjo da sociedade. Vejamos a 
opinião de Parsons (1969, p. 60):
Assim, o simbolismo constitutivo dá sentido aos principais 
componentes da condição humana em sua preeminência para 
o grupo, integrando-os num sentido geral. Inclui simbolização 
da vida orgânica, limitada pelo nascimento e pela morte; 
do ambiente físico e das exigências da vida, onde se inclui 
o território; do status social dos homens e suas ligações 
com a reprodução e a descendência biológica; do modo de 
comunicação social, sobretudo através da linguagem.
É possível entender que a construção política nos períodos clássico e 
medieval, que se pautavam fundamentalmente por um aporte simbólico-conceitual, 
representavam os aspectos concretos da vida natural como desdobramentos da 
vida social. Neste sentido, os processos políticos eram construídos em vista de uma 
manutenção da ordem social que, por sua vez, dava signifi cado à ordem natural. 
No entanto, quando nos voltamos para a Modernidade e a 
Contemporaneidade, deparamo-nos com construções teóricas que expressam 
uma percepção diferente das construções políticas. Esse movimento dará 
27
RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
início a uma nova abordagem acerca do problema da política, com autores se 
concentrando mais nos aspectos concretos das relações dos indivíduos do que 
nos aspectos simbólicos e conceituais, mesmo que não os negando.
Todavia, este movimento surge como construção teórica, existe aí o problema 
da assimilação por parte da grande massa social, bem como da adequação das 
instituições da sociedade. Explicitemos melhor esta questão antes de tratarmos 
da nova abordagem concreta. Quando tratamos da relação entre teoria e 
prática, entre construções intelectuais e práticas sociais, é preciso entender que 
se demanda tempo e diversos movimentos de ruptura social para se modifi car 
práticas políticas e culturais.
Discutir sobre aspectos fundantes da teoria política é algo que ocorre primeiro 
entre intelectuais, que na maioria das vezes estão distantes dos processos sociais. 
Mesmo entre as culturas antigas, os gregos, por exemplo, a discussão teórica 
sobre política, sociedade, cultura era algo restrito a poucos indivíduos de uma 
elite. O cidadão comum, ao contrário do que se pensa hoje sobre democracia, 
não tinha participação nestas discussões.
Diante dessa constatação, podemos indicar que as práticas políticas precisam 
ser assimiladas pelos indivíduos no decorrer de um longo período de “incorporação 
sociocultural”. Seja por meio de novas leis, rupturas sociais profundas, confl itos 
armados ou revoluções completas, a mudança nos parâmetros sociais e políticos 
de uma sociedade precisa ocorrer de forma estrutural, não apenas decorrer de 
uma simples mudança nas perspectivas teóricas. Isso nos leva a pensar que a 
longa maturação de uma nova perspectiva teórica sobre a política levou ainda 
mais tempo para ser assimilada e incorporada socioculturalmente nas sociedades 
modernas.
Ao apontarmos a Modernidade e a Contemporaneidade como períodos de 
transição, indicamos que houve nestes momentos históricos uma grande viragem 
em relação à maneira de se enxergar a relação simbólica e concreta entre 
sociedade, cultura e política. Quando pensamos, por exemplo, em autores como 
Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau, nos 
voltamos para aspectos que remetem a política a um nível de compreensão mais 
concreto e material da realidade.
O próprio período no qual emergem estes autores, a partir do século XVI, 
é um momento de extrema ruptura com o pensamento clássico e medieval. O 
pensamento científi co começa a tomar forma em pensadores como Copérnico 
e Galileu, disciplinas como a física, a química e a biologia tomam forma. Este 
simples movimento já rompe com a visão integralista entre a natureza e a 
sociedade humana, existente nos pensamentos clássico e medieval. Assim, a 
28
 Responsabilidade social
política não é mais o centro aglutinador do simbolismo que une esfera natural e 
esfera social em uma mesma compreensão.
Atrelado a esta revolução ocorrida na Modernidade com relação ao 
rompimento da visão integralista entre a natureza e a sociedade, ocorre um 
movimento de rompimento, primeiramente teórico, entre política e religião. Este 
movimento é essencial para se romper, pelo menos no Ocidente, com a submissão 
da política ao simbolismo religioso, nesse caso o cristianismo. Nessa relação de 
submissão da política à religião, os parâmetros regulatórios das interações sociais 
são traçados em vista de uma construção simbólica que ordena a sociedade de 
maneira restrita. Tomemos a indicação de Lipson (1976, p. 189):
De maneira semelhante, se o agente integrador for a religião, 
sua teologia se estenderá a todas as atividades seculares. Se 
um credo proclamar a existência da alma, que sobrevive à morte 
do corpo, os homens serão doutrinados a se prepararem, neste 
mundo de coisas perecíveis, para a eternidade. As normas da 
conduta de cada dia serão interpretadas como consagração 
de uma vida inteira à Divindade. Os contatos sociais deverão 
limitar-se às fi leiras dos que pertençam à mesma religião. 
Os que não fi zerem parte da fé estabelecida, denominados 
pagãos, gentios, infi éis, hereges, ou o que quer que seja, 
constituirão a casta inferior, os marginais da sociedade.
Por este viés, podemos compreender que o movimento intelectual de busca 
da explicação concreta da natureza propiciou a busca da explicação, também 
concreta, das relações políticas na Modernidade e na Contemporaneidade. 
Como salientado, não há dúvidas de que este movimento começa primeiro como 
teorização, para então, paulatinamente, ser incorporado às instituições sociais.
Retornemos à questão da nova perspectiva trazida pelos autores citados 
anteriormente, tendo em vista o correlato movimento revolucionário de 
compreensão da realidade natural. Os pensadores políticos da Modernidade e 
da Contemporaneidade não buscaram mais coadunar esfera natural e esfera 
social em um mesmo‘cosmos político’, muito menos se valeram de simbolismos 
religiosos em suas fundamentações.
Ainda no início do século XVI, temos o pensamento de um autor que é 
tido como o fundador do pensamento político realista, sua teorização sobre os 
meandros da política se chocava com o pensamento estabelecido da época. Este 
autor, Nicolau Maquiavel, em sua obra O Príncipe, desconstrói os fundamentos 
de uma política representada pelo simbolismo medieval e toda a sua carga de 
submissão da política à religião e à ética de princípios. Tomemos uma de suas 
mais emblemáticas afi rmações no livro O Príncipe:
29
RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
Mas sendo minha intenção escrever coisa útil, destinada a 
quem por ela se interessar, pareceu-me mais conveniente ir 
diretamente à efetiva verdade do que comprazer-me em imaginá-
la. Muita gente imaginou repúblicas e principados que jamais 
foram vistos ou de cuja real existência jamais se teve notícia. E 
é tão diferente o modo como se vive do como se deveria viver, 
que aquele que desatende ao que se faz e se atém ao que se 
deveria fazer aprende antes a maneira de arruinar-se do que a 
de preservar-se (MAQUIAVEL, 2010, p. 15).
Esse trecho da obra maquiaveliana é tida como um dos fundamentos da 
política realista moderna, sua composição remete para uma percepção da 
política como um processo material, concreto, que deve ser efetiva e totalmente 
adequada à necessidade social. Sua condenação às repúblicas que foram 
apenas imaginadas, remete-nos para a tradição política clássica e medieval que 
se pautavam por princípios simbólicos, abstratos e universais como parâmetro.
Dentro do mesmo tom de contestação e renovação do pensamento 
político, temos a obra de Thomas Hobbes, um autor inglês do século XVII. Sua 
obra principal, O Leviatã, traz uma concepção mecanicista da política, como já 
apontado, muito próximo dos movimentos científi cos que surgiam neste período. 
No entanto, a principal inovação de sua obra foi demonstrar que o homem não era 
um ser político por natureza, assim, deveria haver uma explicação racional para o 
surgimento da sociedade, da organização política e do próprio Estado.
Tanto Hobbes, quanto Maquiavel, são autores que teorizaram a política enquanto 
representação concreta das relações dos indivíduos com o meio natural e suas 
relações enquanto agentes sociais. Pode-se afi rmar que eles inverteram o processo 
que se vislumbrava no período clássico e medieval, no qual os autores partiam de 
conceitos e compreensões políticas universais, abstratas e as aplicavam no viver 
social dos indivíduos, projetando o que deveria ser uma relação política saudável.
A obra Origens do republicanismo moderno aborda de maneira 
minuciosa e crítica as principais alterações teóricas dentro do campo 
da política, da cultura e do contexto social, emergidas na aurora 
da Modernidade. Autores como Nicolau Maquiavel, bem como os 
humanistas italianos, desenvolveram uma verdadeira revolução no 
pensamento político ocidental.
FONTE: BIGNOTTO, N. Origens do republicanismo moderno. 
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.
30
 Responsabilidade social
Neste ponto, gostaríamos de chamar a atenção para um fato que infl uenciou 
o pensamento político na Modernidade e na Contemporaneidade e que na 
maioria das vezes é relegado ao esquecimento. Como apontado desde o início, 
as relações políticas podem ser entendidas como relações do ser humano 
com o meio natural e o meio social por ele criado. Neste sentido, o indivíduo é 
infl uenciado por acontecimentos que ocorrem nestas duas esferas, a natural e a 
social, algo que era tido como essencial para os pensadores clássicos.
No entanto, como argumentado sobre a revolução teórica da política na 
Modernidade, a esfera natural passou a ser algo mais distante, sendo estudada 
por disciplinas específi cas, bem como a esfera social passou a ser entendida 
como um arranjo mecânico no qual a política dá o direcionamento para o seu 
funcionamento.
Esta mudança de paradigma levou a uma paulatina mudança na forma de 
organização política, as instituições sociais passaram a expressar uma visão 
mais objetiva da relação dos indivíduos, os laços culturais se tornaram menos 
restritivos e mais abertos, explicitando uma visão mais objetiva da própria relação 
política. Pode-se afi rmar que esta mudança propiciou o surgimento de sociedades 
mais diversifi cadas, mais abertas e menos pautadas apenas no simbolismo 
cultural e nos dispositivos de reconhecimento social e aceitação. Novos traços 
foram incorporados e os dispositivos coercitivos e punitivos passaram a ter uma 
inserção maior nas relações dos indivíduos.
Por este viés, podemos compreender que os processos políticos nas 
modernas sociedades estão pautados por dispositivos e objetivos de relação 
social, principalmente por meio de instituições sociais fortemente aparelhadas por 
recursos legais. A subjetividade dos símbolos culturais tornou-se menos restritiva 
no processo de organização social, principalmente em vista de pautar a aceitação 
social, e os processos objetivos dos dispositivos políticos assimilaram uma 
perspectiva mais pragmática.
Este movimento não deve ser entendido como o fi m dos traços simbólicos 
culturais, muito menos das relações sociais pautadas no reconhecimento, na 
aceitação e na identifi cação social dos indivíduos. Pode ser compreendido como 
mais um processo de sofi sticação pelo qual deve passar a sociedade humana, no 
qual uma perspectiva política se torna predominante. 
O próprio contexto das tecnologias, como tratado anteriormente, impulsiona o 
processo de sofi sticação e infl uencia diretamente na evolução dos processos políticos. 
A Modernidade, bem como a Contemporaneidade, trouxe exponenciais evoluções 
tecnológicas, principalmente no campo produtivo e no campo das comunicações. 
Esse fato teve um imenso impacto na relação entre sociedades distintas, todas com 
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RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
construções culturais próprias. No entanto, os aspectos de estruturação social, política 
e cultural não podem ser apagados, mesmo como uma realidade globalizada. Diante 
disso, é necessário pensar a responsabilidade de cada agente social. Neste tema, 
podemos vislumbrar a interação de todos os agentes políticos e sociais, indivíduos, 
instituições, organizações sociais e setor produtivo.
A responsabilidade de todos estes agentes sociais para com a organização 
política e cultural é muito importante dentro da moderna concepção de sociedade. 
Partindo deste entendimento, tendo em vista ainda toda a discussão empreendida 
neste tópico sobre os processos políticos e sua função na organização da 
sociedade, no próximo tópico nos debruçaremos sobre o tema da responsabilidade 
social, seus principais conceitos e história.
4 RESPONSABILIDADE SOCIAL: 
CONCEITO E HISTÓRIA
Partindo da compreensão de sociedade que buscamos estabelecer até o 
momento, com todos os seus aspectos culturais, sociais e políticos, podemos 
traçar um itinerário para a compreensão do tema da responsabilidade social, bem 
como sua importância para o próprio arranjo social. Primeiro, é preciso entender 
como a relação dos indivíduos infl uencia a própria sofi sticação da sociedade, 
tanto por meio de seus processos políticos, quanto por meio de seu avanço 
tecnológico, produtivo e social. Nesse sentido, a busca de um entendimento do 
que seja a própria ideia de ‘responsabilidade’ perpassa um longo caminho de 
análise de todos os aspectos estruturantes do contexto social.
Esse movimento inicial pode nos dar a base para compreendermos a 
responsabilidade social como um aspecto de sofi sticação próprio das modernas 
sociedades, partindo de seus conceitos basilares, assim, podemos vislumbrar 
um entendimento de sociedade que se coaduna à realidade social dos grandes 
centros urbanos e das emergentes sociedades ao redor do mundo. 
O segundo passo será estabelecer de forma clara e abrangente osaspectos 
históricos, diretos e indiretos, que deram base para o surgimento do conceito de 
responsabilidade social. Neste momento será preciso compreender um pouco do 
próprio contexto político-social no qual emerge o conceito de responsabilidade 
social, seu desenvolvimento e suas principais modifi cações. 
Não se pode negligenciar o fato de que os aspectos culturais, éticos, morais, 
religiosos, de costumes e valores, são variáveis nas diversas sociedades, no 
entanto, é preciso entender a responsabilidade social, em sua base conceitual, 
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 Responsabilidade social
como um aspecto que pode ser empregado em todos os contextos sociais nos 
quais as principais instituições sociais estão estabelecidas. 
O que se propõe a partir destas colocações é ampliar a própria visão do que 
seja a responsabilidade social, sua abrangência e seu fator agregador dentro da 
sociedade. Não se pode incorrer no erro de limitar sua defi nição ao campo da esfera 
produtiva ou, ainda, restringi-lo ao campo econômico. A responsabilidade social 
envolve todos os agentes sociais e os diversos aspectos culturais, políticos e éticos.
Se quisermos seguir um caminho mais curto, podemos lançar mão de uma 
defi nição direta do que seja o entendimento atual sobre responsabilidade social, 
como faz Perseguini (2015, p. 8): 
Podemos defi nir responsabilidade social como o conjunto 
de ideias e práticas que fazem parte da estratégia de uma 
organização (empresa), cujo objetivo é gerar benefícios 
para todas as partes envolvidas e interessadas na empresa 
(chamadas de stakeholders) e evitar prejuízos.
No entanto, como já estabelecemos de antemão, nosso intuito é deslindar o 
assunto em termos que possam dar uma concepção social e política mais ampla 
destes meandros constitutivos do moderno conceito de responsabilidade social. 
Começando por compreender os aspectos que dão o caráter de responsabilidade 
à interação social existente, tanto entre indivíduos, quanto entre instituições, 
organizações sociais e a própria esfera produtiva.
Ao pensarmos em como se deve mensurar o aspecto de responsabilidade 
dentro do contexto social, primeiro é necessário entender o modelo de 
sociedade que se estrutura nos dias atuais. Tendo como base todo o estudo que 
empreendemos até o momento sobre a organização da sociedade como um 
todo, seja nos aspectos culturais, sociais ou políticos, devemos ter em mente o 
fato de que as necessidades de segurança e sobrevivência são os motivos mais 
primitivos e basilares de aglutinação social.
Todas as estruturas que se formam a partir destas bases estão assentadas 
em fi rmes alicerces de recíproca confi ança e acordo. Mesmo que se pense 
no tecido social como algo dinâmico, sujeito a mudanças e rupturas, é preciso 
aceitar que todos os indivíduos partilham de certo sentimento de confi ança 
e reciprocidade. Não só os indivíduos entre si, mas, principalmente, entre os 
indivíduos e as instituições públicas e privadas, bem como entre as instituições. 
Por este viés, é possível perceber que a ideia de responsabilidade, entendida 
no contexto da sociedade, abarca o próprio sentimento de segurança, seja no 
aspecto político, econômico ou cultural.
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RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
De acordo com Boschi (1979), as próprias relações de poder dentro da 
sociedade não podem estar alheias aos processos políticos, mesmo quanto 
tais relações se dão em outras esferas, como a econômica e a social. Assim, 
não se pode pensar em uma mão única na qual as relações de poder emergem 
e se diluem, é preciso entender que o tecido social é um emaranhado no qual 
cada parte é dependente das demais. Esta perspectiva não pode obliterar a 
necessidade de se pesar as possibilidades de cada parte dentro do arranjo social, 
parece ser claro que os indivíduos, se entendidos isoladamente, possuem menos 
condições de lograrem maiores recursos na disputa social de poder.
Esse é um fato importante, pois nos recorda os movimentos naturais de 
agrupamento social, sendo a principal base de tais agrupamentos a necessidade 
de fortalecimento social. Os grupos sociais, constituídos por indivíduos 
identifi cados por um mesmo objetivo ou necessidade, estabelecem-se como 
organizações sociais. No entanto, buscaremos aprofundar esta concepção mais 
à frente, por ora, nos vale perceber que dentro do arranjo político-social, mesmo 
que em cenários de disputa de poder, as relações sociais, políticas e econômicas 
se desenrolam em um razoável espírito de confi ança mútua e respeito.
As estruturas simbólico-culturais, estabelecidas na base de qualquer 
sociedade, não são anuladas no cenário de disputa social de poder, ou mesmo no 
cenário de ruptura social, porém, tais estruturas são aglutinadas por dispositivos 
mais objetivos de relação política. Este tema foi bastante trabalhado em nossas 
análises anteriores, mas é preciso coaduná-lo aos aspectos que dão sentido ao 
conceito de responsabilidade. Quando tratamos dos aspectos simbólicos que 
constituem os traços culturais, indicamos que eles dão uma base de identifi cação 
dos indivíduos e que suas construções são margeadas pelas interações políticas.
Esta compreensão é importante quando nos voltamos para a análise do 
conceito de responsabilidade, ainda em um sentido amplo dentro do contexto 
social, pois os próprios mecanismos políticos, objetivos, de relação social, sofrem 
as infl uências das estruturas simbólicas. Tomemos como exemplo uma cultura 
asiática, na qual as relações econômicas são fi rmadas depois de estabelecidas 
as relações de proximidade, confi ança e respeito.
Para demonstrar seriedade, é preciso ter respeito com o tempo do outro, por 
isso, é improvável que um japonês tenha confi ança em alguém que se atrasa para 
uma reunião ou não demonstre respeito com o tempo gasto por ele para estar ali 
(SECOM, 2002).
Pode parecer um exemplo trivial, mas é importante entender que as relações 
de confi ança mútua, de segurança, não são estabelecidas apenas por dispositivos 
objetivos, seja político ou jurídico. É verdade que tais dispositivos são imprescindíveis 
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 Responsabilidade social
para se garantir os direitos que cabem a cada uma das partes que estão envolvidas 
em uma relação social. No entanto, as relações de confi ança e segurança estão 
estabelecidas por bases sociais que remontam às bases simbólico-culturais.
Esta perspectiva de análise nos direciona para o fato de que a responsabilidade 
é um conceito que está ainda atrelado ao próprio princípio de punição, ou seja, 
ser responsável por algo é responder por todas as consequências daquilo que se 
empreende no meio social. Esse aspecto é próprio do âmbito político-jurídico da 
organização da sociedade, cada indivíduo, instituição, organização ou qualquer 
outro agente social é responsável por seus atos, tem uma responsabilidade. No 
entanto, este é um aspecto que tange mais aos dispositivos de coerção e punição. 
O que tencionamos ressaltar é o caráter aglutinador, socialmente consciente, se 
assim podemos defi nir, do conceito de responsabilidade.
Esse entendimento deve ser buscado na compreensão das principais 
sofi sticações tecnológicas e produtivas ocorridas nas modernas sociedades. O 
caráter de abrangência das ações empreendidas dentro do contexto social, seja 
na esfera produtiva, nas comunicações ou na interação entre meio social e meio 
natural, tornou-se exponencialmente preocupante a partir das novas tecnologias.
Dentro deste espectro, temos ainda o grau de distanciamento que se instaurou 
entre os indivíduos em vista das relações propiciadas por estas tecnologias. 
Comparemos a relação entre o produtor de leite e o consumidor, que trazia seu 
produto de sua fazenda diretamente para o consumidor na cidade, ele o conhecia 
e o encontrava todas as manhãs para lhe entregar o leite, bem diferente ao que se 
vivencia nos grandes centros urbanos modernos, nos quais os indivíduos da cidade 
perderam quase que totalmente os vínculos derelação social com as áreas rurais.
A percepção de uma comunidade social integrada, coesa, dependente de 
todas as partes que a compõe, fortalece um sentimento de responsabilidade que 
liga o indivíduo ao seu meio social e ao seu meio natural. Esses apontamentos 
são capazes de nos mostrar que o conceito de responsabilidade social, dentro 
de uma perspectiva econômica e política, deve abarcar este sentido aglutinador, 
como dito, socialmente consciente, e não apenas o sentido objetivo, pautado em 
aspectos mais coercitivos e punitivos. 
Se problematizarmos ainda mais esta questão, podemos evocar os 
parâmetros de relações éticas e morais, mesmo que para se pensar em um 
conceito de responsabilidade social atrelado às instituições fi nanceiras, as 
empresas. Tomando a opinião de Corrêa e Medeiros (2003), a postura vista na 
atuação de uma empresa ética é a de ajustamento de sua conduta aos parâmetros 
de valores morais, sociais e éticos da sociedade na qual se insere, criando uma 
identifi cação com a realidade do seu meio de atuação.
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RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
A partir deste ponto, parece necessário estabelecer o que seja uma instituição 
fi nanceira, ou propriamente uma empresa, sua inserção no meio social e suas 
diretrizes enquanto participante de uma ‘responsabilidade’ que se estabelece 
como social. Neste sentido, entender a responsabilidade social dentro de um 
espectro empresarial é antes de mais nada delimitar qual o nível de confi ança que 
deve ser construído entre instituição e sociedade, bem como suas ações refl etem 
os valores éticos, morais e culturais do corpo social.
De forma mais sucinta e direta, podemos identifi car uma empresa como sendo 
uma ‘pessoa juridicamente constituída’, possuindo direitos, deveres e prerrogativas, 
resguardados pelo Estado e a Constituição política. Nessa perspectiva, toda 
pessoa, mesmo que jurídica, deve participar da vida social e política da sociedade. 
Torna-se necessário compreender o que seja a responsabilidade social, partindo do 
próprio papel das empresas em vista da questão social. 
No âmbito econômico, as empresas são os canais pelos quais os indivíduos 
têm a possibilidade de desenvolver suas atividades produtivas, estabelecer suas 
fontes de renda e sobrevivência, além dos laços de relação profi ssional e social. 
Em contrapartida, as empresas recebem da sociedade os recursos necessários e 
indispensáveis para o desenvolvimento de suas atividades. 
Por este prisma, seria extremamente obtuso pensar que a responsabilidade 
social devida pelas empresas pode ser caracterizada como simples ação 
fi lantrópica ou assistencialista. Como já ressaltado, as relações sociais baseadas 
na mútua confi ança e segurança, bem como nos laços culturais, políticos e éticos, 
pressupõem a conscientização de uma troca recíproca dentro do contexto social.
Pode-se asseverar que um dos principais pontos que justifi cam a existência da 
responsabilidade social por parte das empresas e instituições privadas, fi nanceiras 
ou não, é a necessidade de se contribuir para o bem-estar social e a diminuição 
das mazelas sociais. Dentro do arranjo político-econômico da sociedade, o Estado, 
ente político estabelecido em bases jurídicas, sociais e culturais, não é capaz de 
prover todos os recursos para a garantia do bem-estar de toda a população. Nesse 
sentido, a ação das instituições privadas, fi nanceiras ou não, é de extrema valia 
para o arrefecimento deste quadro. Vejamos a opinião de Cesar (2008, p. 28):
Na esteira dessa mobilização, várias entidades empresariais 
passaram a mobilizar, sensibilizar e ajudar as corporações a gerirem 
seus negócios, de modo sustentável e “politicamente correto”. 
Com isso, as empresas intensifi cam suas críticas à inefi ciência 
do Estado na administração da crise econômica-social, mas, ao 
mesmo tempo, reconhecem a sua incapacidade de responder 
sozinhas aos graves problemas sociais que assolam o país.
36
 Responsabilidade social
Como bem aponta o autor, as empresas nutrem, em diversos momentos, 
embates econômicos e políticos com o poder público estatal, no entanto, como já 
salientado diversas vezes, estes embates devem refl etir apenas o caráter aberto 
que deve margear a sociedade. O processo de atuação das empresas por meio da 
responsabilidade social passou a ser uma forma de combate à questão social, não 
apenas no âmbito de promoção da própria instituição, mas como ação consciente. 
Assim, é necessário fazer uma distinção, pois não há dúvidas de que 
algumas instituições fi nanceiras podem não assimilar a reciprocidade que 
deve pautar as relações de confi ança no contexto social, no entanto, a ação 
consciente, pautada no respeito à sociedade e no bem-estar da população, é o 
grande diferencial das empresas que mais se destacam. Ao traçarmos todos estes 
aspectos que circundam o conceito de responsabilidade, de forma abrangente, 
e de responsabilidade social, no caso da atuação das empresas e instituições 
fi nanceiras, temos o vislumbre de que o tema pode se estender por um longo 
período de tempo e por praticamente todas as sociedades modernas. 
Podemos, então, pensar a responsabilidade social como um 
aspecto constante na natureza própria de atuação de uma instituição 
fi nanceira, empresa ou não, consciente de seu papel e de sua integração 
social, política e econômica com a comunidade na qual está inserida. 
Complementarmente, podemos ainda compreender que esta atuação, que 
se coloca como própria da natureza social das empresas, representa um 
aspecto de fortalecimento, valorização e comprometimento.
Partindo desta base conceitual, mesmo que ainda mais 
ampla, podemos buscar a compreensão do aspecto histórico da 
responsabilidade social e do quadro geral no qual se desenrolou seu 
processo evolutivo.
Podemos, 
então, pensar a 
responsabilidade 
social como um 
aspecto constante 
na natureza própria 
de atuação de 
uma instituição 
fi nanceira, empresa 
ou não, consciente 
de seu papel e 
de sua integração 
social, política e 
econômica com a 
comunidade na qual 
está inserida.
No cenário brasileiro, as empresas começaram a fortalecer suas 
atividades sociais a partir da década de 1990, partindo da ideia de 
“responsabilidade social corporativa”, tendo como objetivo inicial 
suprir as carências de seus empregados e contribuir para a solução 
de demandas sociais surgidas nas comunidades onde estavam 
inseridas. Algumas áreas eram estabelecidas como foco de atuação, 
recebendo as principais atividades, principalmente a educação, a 
preservação do meio ambiente e a área da saúde (CESAR, 2008).
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RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIEDADE Capítulo 1 
O século XX é marcado pelo incremento das principais tecnologias produtivas, 
bem como o surgimento de novas formas de energia, como a nuclear, e a ampla 
exploração de novas formas de comunicação cada vez mais efi cazes e rápidas. 
Esses fatos não podem ser destacados do complexo quadro político-social que se 
instaurou em todo o globo, a formação de uma verdadeira comunidade mundial, 
mesmo que mais próxima por meios de comunicação mais amplos, também mais 
dividida em extremos políticos, culturais e sociais.
As instituições fi nanceiras na primeira metade do século XX não estão tão 
direcionadas para as expressões da questão social, pode-se afi rmar que a própria 
prática econômica, em todos os seus estágios, da produção à comercialização, 
era entendida como operação distinta dos problemas sociais e políticos. Assim, 
é possível entender que a própria percepção de sociedade era pautada em uma 
perspectiva fragmentada, na qual os aspectos constitutivos da sociedade eram 
entendidos como independentes entre si.
O foco na produtividade, bem como a necessidade de expansão econômica 
em um cenário adverso, levava as grandes indústrias e as empresas multinacionais 
a incrementarem práticas massivas na busca por lucros, diminuição de gastos e 
aproveitamento da mão de obra.

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