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ResumoMétodoPerigoso

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Filme: Um método Perigoso. Dirigido por: David Cronenberg E produzido por: Jeremy Thomas e Tiana Alexandra.
Resumo
 Na narrativa o jovem psicanalista Carl Jung (Michael Fassbender) é orientado por seu mestre Sigmund Freud (Viggo Mortensen) no tratamento inovador que realiza em Sabina Spielrein (Keira Knigthley). No entanto, disposto a penetrar mais afundo nos mistérios da mente humana, Jung verá suas ideias conflitarem com as teorias de Freud, ao mesmo tempo em que se entrega a um romance alucinante e perigoso com a bela Sabina (Sua paciente). Um Método Perigoso traz à tona uma questão técnica e ética colocada por Freud em Observações Sobre o Amor Transferencial (1915), que seria quando a paciente se apaixona pelo seu analista. Contudo, o filme mostra que a relação analítica entre Jung e Sabina passa também a envolver relações sexuais entre eles o que vai de encontro ao que é proposto por Freud. Este considera que o analista não deve satisfazer o desejo da paciente, portanto deve-se manter abstinente, o que Jung não faz, assim como também não deve recalcar este desejo, pois seria o mesmo que trazer um conteúdo inconsciente à consciência para em seguida recalcá-lo novamente.
 Outrossim, a paciente alcança o seu objetivo, ou seja, ela satisfaz seu desejo, porém a finalidade da análise é comprometida. Verifica-se que no primeiro rompimento da relação sexual entre Jung e Sabina causa a esta uma crise. Posteriormente, eles voltam a manter relações sexuais, mas enquanto colegas de trabalho, e no segundo rompimento que é realizado por Sabina é Jung quem não aceita.  Claramente podemos ver a relação transferencial se desenrolando através de várias cenas, como na que Sabina beija Jung, quando ela se excita quando ele bate no seu casaco, quando ela se interessa por saber da relação de Jung com sua esposa ou quando ela reage agressivamente no momento em que ele lhe diz que precisa interromper o tratamento durante alguns dias por causa do serviço militar. O beijo de Sabina o faz se colocar diante do seu desejo, ele não se posiciona diante do beijo, nem recua. Freud (2006, p.178) coloca que a transferência positiva erótica (o que acontece na relação entre Jung e Sabina) traz desafios e dificuldades para a análise, visto que pode ser encarado com uma resistência, pois a paciente ficará focada apenas no seu amor e não terá insights sobre si. Caso o analista tenha relações sexuais com a paciente, se deixa de trabalhar o que está por trás deste desejo sexual pelo analista, da mesma forma se o analista ignora este desejo, a paciente pode se sentir humilhada e buscar se vingar.
 Para além, observa-se que Jung nega para Freud ter tido algum tipo de relação com sua paciente. Isso mostra que o mesmo está em uma encruzilhada entre o desejo de reconhecimento (em relação a Freud, já que por está implicado em uma terapêutica sabe dos efeitos disso) e o reconhecimento do desejo (em relação a si próprio e aos outros). Também diz a Freud que ela tentou seduzi-lo, usando de projeção para isso, para não tocar em um material que é puramente o seu próprio, assim resistindo mais uma vez. A compulsão à repetição é também uma forma de resistência, já que o paciente transfere para o campo da ação o que ele não consegue lembrar. A tendência masoquista de Sabina pode ser uma compulsão à repetição que está presente ao longo de sua história desde a relação com seu pai quando era criança até na relação sexual com Jung. A compulsão enquanto uma resistência do Isso, enunciada na segunda tópica, é um fenômeno que advêm de um trauma que não pôde ser simbolizado. Em Sabina podemos perceber essa referência teórica no caso da relação que ela tinha com o pai. Por ser muito pequena na época, uma simbolização de forma correta não pôde ser feita havendo apenas um aumento traumático de tensão. A experiência analítica seria, portanto, a via para que houvesse uma significação desse ato, fazendo com que o analisante se comportasse de outra forma. Essa significação viria exatamente via relação transferencial, pois seria nessa díade que o sintoma seria tomado, o que implica bem mais o analista na relação, causando assim sérios riscos ao manejo da transferência e ao tratamento em geral, pois o analista seria bem mais ativo nesta concepção da segunda tópica.
 	A compulsão à repetição também pode ser verificada na relação que Jung estabelece com suas pacientes, primeiro com Sabina, depois com Toni que apresenta características semelhantes às de Sabina fazendo ele se lembrar dela. Com Toni, Jung pode ter estabelecido uma transferência, onde ele atualiza a relação que teve com Sabina no aqui e agora da relação analítica. É importante ressaltar que Lacan (2009) encara o fato da transferência não como um fenômeno ilusório, como Freud afirma, o que mostra já uma flexibilização dentro da própria teoria da Psicanálise. A transferência, um fenômeno natural da neurose para Freud, envolve transferir sentimentos eróticos, hostis ou de qualquer outra natureza para o médico que não se justifica pela análise em si, mas que são derivados de outro lugar e que o surgimento de tais sentimentos é propiciado pela análise. Apesar de Jung saber que o que faz é incorreto, pois ele está numa posição de analista, não consegue tomar um posicionamento. Fica entre se separar de sua esposa ou romper a relação sexual com a paciente, o que pode gerar certo conflito já que em um momento do filme ele é bastante moralista, sendo a favor da monogamia e diz que as pulsões sexuais devem ser recalcadas, sendo contrário as ideias de Otto Gross. Sobre isso Lacan diz: "Podemos dizer que se encontra uma resistência tanto maior, quanto mais o sujeito se aproxima de um discurso que seria o último e bom, mas que recusa de maneira absoluta" (2009, p.35). No que se refere à relação entre Freud e Jung, este coloca Freud numa posição de autoridade já que ele o considera como uma figura de pai (como Jung coloca numa carta endereçada a Freud), mas também Jung exige de Freud um posicionamento de amigo e não de analista e quer que ele também compartilhe com ele seus sonhos, que lhe mostre seu lado mais vulnerável. Jung quer o reconhecimento e aprovação de Freud quando vem questionar a predominância da sexualidade em sua teoria e vem lhe propor estudos na área da parapsicologia, assim como é permeado por ódio, raiva quando Freud não aceita suas ideias e quando ele não sai de seu lugar de autoridade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BIRMAN, J. Arquivos do mal-estar e da resistência. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brazileira, 2006.
FREUD, S. Confererências introdutórias sobre psicanálise (Parte III), 1916-1917. Edição Standard brasileira das Obras completas de Sigmund Freud, vol. XVI. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
__________ O caso Schreber, artigos sobre técnica e outros trabalhos, 1911-1913. Edição Standard brasileira das Obras completas de Sigmund Freud, vol. XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

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