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av neuropsicopedagogica 6

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AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO 
NEUROPSICOPEDAGÓGICA NAS 
DIVERSAS DIFICULDADES E 
TRANSTORNOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. ª Luciana Trad 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
A reabilitação cognitiva é uma prática multiprofissional, em que 
especialistas, profissionais da saúde e educação, que trabalham com indivíduos 
com déficits cognitivos adquiridos após dano encefálico, devem traçar um plano 
de trabalho que favoreça essas pessoas em sua melhora física, cognitiva e 
emocional, para que haja readaptação e reinserção ao ambiente familiar, social, 
acadêmico e/ou ocupacional. 
Nesta aula, poderemos visualizar o processo de reabilitação cognitiva como 
um campo de atuação do neuropsicopedagogo. 
 Tema 1 – Reabilitação cognitiva 
 Tema 2 – Reabilitação cognitiva infantil 
 Tema 3 – Reabilitação cognitiva do adulto 
 Tema 4 – Reabilitação cognitiva do idoso 
 Tema 5 – Reabilitação cognitiva em pessoas com deficiência 
CONTEXTUALIZANDO 
A reabilitação de indivíduos com deficiência cognitiva tem como objetivo a 
melhora ou a compensação de déficits cognitivos adquiridos após lesão. A 
recuperação funcional após uma lesão sofre a influência de fatores como idade 
do indivíduo, local, natureza e tempo da lesão, e fatores psicológicos. A 
participação do indivíduo e da rede de suporte familiar e social são fundamentais 
para o planejamento da reabilitação. 
O processo de reabilitação tem início com a avaliação que traz informações 
do indivíduo, suas potencialidades e limitações. Nesse momento, uma equipe 
multiprofissional estabelece um plano de ação com metas realísticas, tendo a 
participação do indivíduo e da família, com objetivo de melhoras ou compensar 
funções cognitivas comprometidas após danos cerebrais. 
TEMA 1 – REABILITAÇÃO COGNITIVA 
A reabilitação cognitiva (RC) é um campo clínico de atuação interdisciplinar 
que tem como objetivo melhorar e compensar as habilidades cognitivas alteradas 
em indivíduos, em decorrência de dano encefálico (Sohlberg; Mateer, 2010). Os 
procedimentos utilizados para reabilitação de indivíduos com deficiência cognitiva 
 
 
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muitas vezes são focados em melhorar domínios cognitivos específicos, tais como 
memória, motricidade, funções executivas, enquanto os treinos compensatórios 
geralmente são focados na melhora funcional e em mudanças ambientais, 
possibilitando maior autonomia ao paciente (Macedo; Baggio, 2014) e, dessa 
forma, diminuir o impacto pessoal, emocional e social relacionado às limitações. 
Abrisqueta-Gomez (2012) ressalta que a RC abarca uma variedade de 
técnicas ou estratégias de intervenção voltadas para o tratamento de disfunções 
cognitivas, tais como déficits de atenção, concentração, percepção, memória, 
funções executivas, conscientização, automonitoramento, entre outros. Ciccerone 
et al. (2000, citado por Abrisqueta-Gomez, 2012) ainda destacam que as 
intervenções cognitivas tendem a melhorar ou compensar as dificuldades 
decorrentes da deficiência intelectual e as habilidades sensoriais, psicomotoras e 
comportamentais, ampliando a autogestão e a independência do indivíduo. 
Os indivíduos e as famílias respondem diferentemente à intervenção. A 
personalidade, a função pré-mórbida, o suporte social e familiar e as cobranças 
do meio ambiente podem comprometer o resultado da reabilitação (Sohlberg; 
Mateer, 2010). A proposta do programa de reabilitação deve ser compreendida 
pelo indivíduo em tratamento, para o qual participar do estabelecimento de metas 
é fundamental com vistas à adesão ao tratamento, visto que o sucesso depende 
de condições emocionais e motivacionais (Ferreira, 2012). 
Todo especialista que atua em programas de reabilitação, ao desenvolver 
seu trabalho juntamente com pessoas que possuem limitações cognitivas, precisa 
estar atento e ter algum conhecimento e experiência no trabalho com reações 
emocionais como frustação e perda. Lidar com tais situações é uma parte 
indispensável do tratamento efetivo (Sohlberg; Mateer, 2010). 
1.1 Modelos de Intervenção em reabilitação cognitiva 
Diversas metodologias são propostas no âmbito da reabilitação, entretanto, 
do ponto de vista didático, devem ser avaliadas e classificadas não apenas como 
pressupostos teóricos, mas compreendendo o impacto da abordagem para a 
necessidade do cliente (Ferreira, 2012). 
 Abordagens top down: enfatizam a seleção de estratégias que atuam do 
centro para a periferia ou de cima para baixo, ou fornecem estimulação 
para sistemas mais altos, como funções executivas, oferecendo 
 
 
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monitoramento do comportamento. Visam atuar no ambiente cognitivo com 
repercussão na ação ou no comportamento do paciente. 
 Abordagens botton up: enfatizam esquemas de atuação da periferia para o 
centro, de baixo para cima. Proporcionam estímulos de natureza sensório-
motora externos à rede lesada. Visam a modificações do comportamento 
com repercussão em processos cognitivos. 
 Abordagens integrativas e ecológicas: combinam modelos top down e 
botton up. Lançam mão de atividades do tipo treino de funções 
neuropsicológicas (atenção, memória), ao mesmo tempo que buscam 
aumentar a funcionalidade de tarefas no ambiente natural e cotidiano do 
sujeito. Extrapolam a abordagem direta e envolvem a sociedade no 
acolhimento da condição especial da pessoa, afinando-se com propostas 
que buscam maior inclusão social (Ferreira, 2012, p. 386). 
Não é apenas a escolha da técnica ou a metodologia que determinará se a 
intervenção será ou não eficaz. Aspectos formais do tratamento, como 
assiduidade e duração das sessões, engajamento do indivíduo e de familiares 
e/ou cuidadores durante esse processo, possuem papel fundamental na 
reabilitação. A reavaliação frequente do plano de reabilitação, adaptações e 
reformulações devem ocorrer sempre que necessário, tendo em vista que funções 
deficitárias podem ser gradativamente minimizadas e novas disfunções podem 
ser diagnosticadas ante as novas demandas ambientais (Gindri et al., 2012; 
Abrisqueta-Gomez, 2012; Sohlberg; Mateer, 2010). 
TEMA 2 – REABILITAÇÃO COGNITIVA NA INFÂNCIA 
O planejamento de programas de reabilitação cognitiva infantil mostra-se 
mais desafiador se comparado aos programas dirigidos a adultos, considerando 
que, nessa fase, o cérebro encontra-se em desenvolvimento. Algumas funções 
consolidam-se de forma mais precoce e outras mais tardiamente, como é o caso 
das funções associadas ao funcionamento executivo. Em decorrência disso, no 
caso das lesões cerebrais na infância, conforme a idade, certos déficits 
neuropsicológicos serão percebidos ou diagnosticados somente com o tempo; 
certas habilidades são prejudicadas por dependerem de funções cognitivas que 
não se desenvolveram de forma adequadas, por estarem associadas a regiões 
cerebrais comprometidas (Mello, 2015). 
 
 
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Lesão cerebral na infância pode afetar significativamente a aquisição e o 
desenvolvimento de muitas habilidades motoras, linguísticas, cognitivas e sociais. 
Ainda, funções complexas, como atenção, memória e funções executivas, que 
compartilham de conexões neurais amplas, tendem a ser particularmente 
vulneráveis aos efeitos das lesões cerebrais precoces. 
Sendo a reabilitação uma área de atuação multiprofissional, o 
neuropsicopedagogo pode se orientar pelos oito conceitos-chave propostos por 
Hunter e Donders (2007, citado por Mello, 2015) para o planejamento de 
reabilitação neuropsicológica na infância. 
1. Adequado ao nível de desenvolvimento (developmentally appropriate): as 
atividades devem ser adequadas ao repertório cognitivo típico da fase do 
desenvolvimento em que a criança se encontra. 
2. Orientado para funcionalidade: a intervenção visa, essencialmente 
melhorar o desempenho na “vida real”; é importante, assim, considerar o 
funcionamento adaptativo, a autônoma e o bem-estar, e a inclusão social. 
3. Individualizado: o plano de intervençãodeve ser baseado na compreensão 
das queixas e nos resultados das avaliações de cada criança ou 
adolescente. Nesse sentido, é necessário entender a importância de se 
levar em consideração as habilidades e os interesses individuais. 
4. Longitudinal: as consequências de transtornos específicos se modificam ao 
longo do tempo, e, com a idade, surgem novos desafios; algumas metas 
devem ser analisadas para evitar ou minimizar problemas futuros. 
5. Com base no sistema cognitivo (system-based): a expressão de déficits e 
comportamentos é influenciada pelos múltiplos sistemas em que a criança 
vive; aspectos associados à família, à escola e à comunidade devem ser 
considerados. 
6. Centrado na família: a eficácia das intervenções depende do 
estabelecimento de uma forte relação de parceria com os familiares, o que 
envolve, por exemplo, comunicação regular e transparente, implementação 
de metas compartilhadas e favorecimento de um sentido de 
empoderamento por parte da família. 
7. Transdisciplinar: importância da cooperação entre todos os profissionais 
que acompanham a criança no setting terapêutico e no contexto escolar, o 
que pode ser favorecido pela compreensão dos resultados das avaliações 
neuropsicológicas e suas implicações para o funcionamento no cotidiano. 
 
 
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8. Científico: importância da definição de medidas de eficácia ancoradas em 
metas claras e passíveis de mensuração do desempenho ao longo do 
tempo e no desenvolvimento de estudos transversais e longitudinais, com 
apresentação de casos e pequenas amostras. 
Ferreira (2012) ressalta que o prognóstico para reabilitação infanto-juvenil 
deve levar em consideração alguns fatores: 
 natureza e extensão da lesão; 
 condição pré-mórbida ou nível de treinamento do paciente; 
 envolvimento de familiares, professores e rede de apoio social; 
 instrumentalização necessária para que os profissionais possam atuar de 
forma ética e desejável. 
O tratamento de reabilitação das principais desordens neurológicas 
envolve cada um os seguintes aspectos. 
 Hiperatividade e déficit de atenção: treinamento de atenção, peer tutoring 
(em casa e na escola, atenção ao alvo, completar o trabalho, disciplina e 
interações sociais) e gerenciamento de contingências. 
 Síndromes autistas: técnicas para modificação de comportamento 
estereotipado e melhora da comunicação; tratamento medicamentoso. 
 Convulsivas/epilepsia: tratamento medicamentoso, tratamento 
neurocirúrgico em casos refratários, treino cognitivo mnemônico. 
 Traumatismo cranioencefálico: parcerias entre escola e família são 
utilizadas em associação aos planos individuais de intervenção e 
estratégias compensatórias para melhorar o desempenho acadêmico e 
comportamental. 
 Tumores cerebrais: radiação, quimioterapia e intervenções cirúrgicas; 
estratégias compensatórias para dificuldades acadêmicas, em funções 
executivas e no ajuste psicossocial (Santos, 2005). 
Sugestões de instrumentação para reabilitação infanto-juvenil: 
 Programa de Enriquecimento Instrumental – PEI; 
 abordagem psicomotora; 
 estratégias metacognitivas; 
 softwares educativos incorporados a práticas terapêuticas. 
 
 
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A aplicação de algumas técnicas e programas voltados para estimulação 
cognitiva exigem capacitação, treinamento e habilitação profissional. 
TEMA 3 – REABILITAÇÃO COGNITIVA NO ADULTO 
A reabilitação cognitiva no adulto é indicada quando alterações cognitivo-
comportamentais acarretam prejuízos pessoais, acadêmicos/ocupacionais e 
sociais. São várias as afecções que podem causar distúrbios cognitivos no adulto, 
tais como tumores, traumatismos cranioencefálicos (TCE), acidente vascular 
encefálico (AVE), doenças degenerativas, entre outras. 
As dificuldades cognitivas mais comuns decorrentes dessas condições são: 
déficit de atenção, memória, aprendizagem, processamento de informação, 
linguagem, planejamento e intelectuais, além de dificuldades perceptuais, de 
reconhecimento e planejamento motor. O trabalho de reabilitação inicia com uma 
avaliação dos prejuízos e das habilidades remanescentes. A ênfase da 
reabilitação é a funcionalidade, ou seja, reduzir os impactos dos prejuízos na vida 
diária (Gouveia, 2006). 
São fatores relacionados a programas de treinamento e intervenção 
utilizados na reabilitação do adulto: 
 A recuperação dependerá da natureza, da qualidade e da quantidade de 
experiências após lesão. 
 Alterações do ciclo sono-vigília podem afetar a plasticidade cerebral e 
retardar a recuperação. 
 Intervenções farmacológicas podem facilitar ou reduzir o potencial para 
alterações plásticas no cérebro. 
 É necessário monitorar a carga atencional no paciente. 
 Superestimulação pode causar estresse e efeitos negativos sobre a 
plasticidade. 
 Maximizar a probabilidade de respostas corretas – aprendizagem sem erro- 
efeito positivo e motivacional facilita a plasticidade positiva. 
Estratégias compensatórias são amplamente utilizadas na reabilitação 
cognitiva e neuropsicológica, atuando principalmente nos déficits mnemônicos, 
atencionais e executivos. Inclui a utilização de aparelhos eletrônicos – pagers, 
computadores, alarmes eletrônicos, relógios, gravadores, e recursos escritos e 
pictóricos – agendas, blocos e quadros de anotações, calendários, placas de 
 
 
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sinalização, entre outros (Sohlberg; Mateer, 2010; Abrisqueta-Gomez; Santos, 
2006). 
Os profissionais que trabalham com reabilitação do adulto devem estar 
atentos quanto ao nível de prontidão e engajamento do cliente. Fatores 
psicológicos, como ansiedade e depressão, são muito comuns quando adultos em 
fase produtiva se deparam com limitações e perdas cognitivas adquiridas após 
lesões. O apoio farmacológico e psicoterapêutico será um suporte importante no 
processo de reabilitação (Sohlberg; Mateer, 2010). 
TEMA 4 – REABILITAÇÃO COGNITIVA NO IDOSO 
Envelhecer, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS, 
é um processo sequencial, individual, cumulativo, irreversível, universal, 
não patológico de deterioração de um organismo maduro, próprio a 
todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne 
menos capaz de fazer algo frente ao estresse do meio ambiente, e 
portanto aumente a sua capacidade de morte. 
O cérebro do idoso apresenta modificações, em seu volume e peso, na 
vascularização, na estrutura celular e molecular, bem como em suas funções de 
neurotransmissão. Comparando idosos a indivíduos jovens saudáveis, observa-
se um decréscimo na capacidade de aprendizado (necessidade de mais 
repetições), na evocação de informações e em medidas de funções cognitivas 
(Morillo; Brucki; Nitrini, 2012). 
Delimitar o que é envelhecimento normal ou patológico tornou-se um 
desafio para os pesquisadores, pois, dependendo da intensidade do prejuízo 
cognitivo, pode-se estar diante de estados antecedentes a síndromes demenciais 
(Abrisqueta-Gomez; Santos 2006). 
Queixas cognitivas são frequentes em indivíduos na faixa etária geriátrica. 
Alguns estudos mostram um declínio evidenciado em avaliações formais, 
podendo ser diagnosticado com comprometimento cognitivo leve (CCL), ou 
conforme a nova nomenclatura do DSM -V, transtorno neurocognitivo leve (TNL). 
Quando ocorrer a evolução do prejuízo funcional, os indicadores apontam para 
síndrome demencial (Morillo; Brucki; Nitrini, 2012). 
O processo de reabilitação no idoso depende da natureza das desordens; 
seja em decorrência da idade ou de um processo degenerativo, o objetivo não é 
a restauração das funções, mas sim a adaptação do paciente às novas limitações. 
A participação dos familiares é essencial porque, na maioria das vezes, a 
 
 
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aderência ao tratamento é difícil, sendo uma das alternativas o atendimento 
domiciliar e atividades externas que facilitem o planejamento e a organização das 
atividades de vida diárias. 
Oliveira e Silva (2013) propõem uma opção de intervenção estruturadae 
individualizada para idosos com comprometimento cognitivo leve: 
 orientação temporal e espacial; 
 atividades de atenção; 
 conteúdo educacional sobre memória e/ou outra função cognitiva; 
 desafios de memória; 
 estimulação das várias funções cognitivas; 
 incluir atividades lúdicas, relatos motivadores e promover a descontração. 
De acordo com a SBNPp (2017, p.14), o neuropsicopedagogo pode atuar 
com pessoas de diferentes faixas etárias, entretanto, alerta quanto ao 
atendimento à população idosa. 
[...] precisa reconhecer o limiar da sua atuação quanto ao trabalho com 
idosos, pois em suas bases ainda não está previsto disciplinas voltadas 
ao trabalho com essa população. Necessitaria aprofundamento sobre 
conhecimentos voltados a doenças degenerativas e questões 
específicas que, atualmente são tratadas pela Neuropsicologia. 
TEMA 5 – REABILITAÇÃO COGNITIVA EM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 
Nas últimas décadas, houve um significativo crescimento na aplicação de 
tecnologias para minimizar o déficit de pessoas com deficiência. Avanços recentes 
na tecnologia proporcionam opções adicionais para correção e compensação de 
perdas cognitivas (Anjos; Regolin, 2012). 
 Uma das ferramentas que viabiliza a criação e utilização desses recursos 
é a tecnologia assistiva (TA). Essa abordagem pode ser entendida como “qualquer 
peça de equipamento, item ou sistema de produtos, quando adquirido 
comercialmente, modificado ou feito sob medida, usado para aumentar, manter 
ou melhorar as habilidades funcionais do indivíduo portador de incapacidades” 
(Public Law, 1976, citado por Abrisqueta-Gomez, 2012). 
Essas soluções tecnológicas melhoram as habilidades do indivíduo para 
aprender, competir, trabalhar e interagir no ambiente social (Carlo; Bartalotti, 
2001). O profissional deve intervir de forma a avaliar, indicar e treinar o uso de 
dispositivos de auxílio. Por meio dessa descrição, percebe-se que essa ciência 
exige abordagem multidisciplinar, o que promove uma intervenção global. 
 
 
10 
Os dispositivos podem ser de baixa, média ou alta tecnologia. Os de baixa 
tecnologia são equipamentos simples, sem sistemas eletrônicos, de baixo custo e 
exigem um período menor de treinamento. Os de média tecnologia normalmente 
são elétricos. O último grupo é mais complexo, pois apresenta sistemas 
computadorizados, podendo ser multifuncionais (Mendes et al., 2002, citado por 
Anjos; Regolin, 2012). Eles podem ser classificados pela função, como ajuda para 
comunicação, informação e sinalização. 
Considerando a função desses equipamentos, atualmente há diversos 
enfocando as tecnologias que auxiliam na intervenção de indivíduos com déficits 
cognitivos, chamados de tecnologia assistiva da cognição (TAC). Podemos 
entendê-la com auxílios técnicos de compensação e de restauração do 
funcionamento cognitivo, que têm o objetivo de proporcionar suporte extrínseco 
para indivíduos com comprometimento da capacidade cognitiva e, assim, alcançar 
um desempenho satisfatório em atividades que compensem as de deficiências 
existentes. São estratégias compensatórias direcionadas para habilidades 
funcionais de um indivíduo que alteram o ambiente do paciente. Sendo projetadas 
especificamente para uma proposta de reabilitação, elas auxiliam diretamente o 
indivíduo na realização das atividades de vida diária (AVDs) e são altamente 
customizáveis para as necessidades do indivíduo, podendo ser simples, como 
alarmes para medicamentos, ou complexas, como cuidadores robóticos 
interativos (Lopesti; Mihailidis; Kirshi, 2004, citado por Anjos; Regolin, 2012, p. 
224). 
A abordagem de intervenção da TAC deve levar em consideração as 
habilidades e limitações físicas e sensoriais do indivíduo, para que o terapeuta 
determine qual órtese cognitiva satisfaz as necessidades dele, auxiliando-o e à 
sua família na programação inicial do dispositivo e na execução do treino para 
integrarem o dispositivo à sua rotina diária. Na TAC, os dispositivos são nomeados 
como órteses ou próteses cognitivas (Anjos; Regolin, 2012). 
Geralmente, o processo de prescrição dos recursos do TAC fica a cargo do 
terapeuta ocupacional, no entanto, as decisões que envolvem a escolha do 
equipamento mais adequado para cada caso depende de uma visão 
interdisciplinar, assim como em todas as outras facetas do programa de 
reabilitação (Barbosa; Nery, 2012). 
 
 
11 
São fatores que influenciam a escolha apropriada de intervenções 
tecnológicas, de acordo com LoPresti, Mihailidis e Kirsch (2004, citado por Anjos; 
Regolin, 2012), os dispostos a seguir. 
1. Padrões de habilidades e dificuldades cognitivas. 
2. Características específicas da deficiência apresentada. 
3. Mudanças emocionais e comportamentais específicas associadas à 
doença. 
4. Características pré-mórbidas e de personalidade. 
5. Atitudes pessoais em relação a intervenções que parecem exercer controle 
externo. 
6. Suporte psicossocial pré-mórbido. 
O resultado de todo esse programa de reabilitação será bem-sucedido caso 
o indivíduo alcance, dentro de suas limitações e potencial, essa nova identidade 
funcional, sendo capaz de interagir produtivamente com o ambiente social 
(Barbosa; Nery, 2012). 
FINALIZANDO 
Nesta aula, foi possível compreender a reabilitação cognitiva (RC) como 
um campo clínico de atuação interdisciplinar, em que o neuropsicopedagogo 
trabalhará em parceria com profissionais da área de saúde e educação com o 
propósito de melhorar e compensar as habilidades cognitivas alteradas em 
indivíduos que apresentam deficiência cognitiva resultantes de danos encefálicos 
adquiridos. 
O programa de RC depende da faixa etária, da localização e da extensão 
da lesão. A participação da rede de apoio familiar e social é fundamental para que 
haja adesão ao tratamento. A participação do indivíduo, as metas propostas, a 
instrumentalização, a experiência e a sintonia da equipe multiprofissional serão 
indispensáveis para o sucesso da reabilitação. 
Percebemos que, na infância, lesões podem afetar significativamente a 
aquisição e o desenvolvimento de muitas habilidades motoras, linguísticas, 
cognitivas e sociais; ainda, em relação a funções complexas como atenção, 
memória e funções executivas, a reabilitação tem o objetivo de reabilitar ou 
compensar os déficits adquiridos. O adulto em fase produtiva apresenta 
dificuldades emocionais diante das limitações cognitivas, trazendo prejuízos 
 
 
12 
pessoais, familiares, ocupacionais e sociais. A reabilitação deve minimizar os 
efeitos da perda, possibilitar a readaptação à sua nova realidade, a reinserção 
social e ocupacional, com o uso de tecnologias para compensação e apoio 
psicológico quando necessário. O declínio cognitivo do idoso, seja por 
envelhecimento normal ou ocasionado por doenças degenerativas, tem na 
reabilitação um meio para se adequar às suas limitações e melhora funcional 
visando à qualidade de vida. A pessoas com deficiência e dificuldades cognitivas 
serão reabilitadas de acordo com faixa etária, dificuldade e potencialidade, assim 
como os demais indivíduos sem deficiência física, entretanto, terão auxílio de 
tecnologias assistivas adequadas para a sua necessidade individual. 
O resultado do programa de reabilitação será bem-sucedido se os 
profissionais, incluindo o neuropsicopedagogo, compreenderem a individualidade 
e a necessidade de cada indivíduo, traçarem o plano juntamente com a equipe 
multiprofissional, indivíduo e familiares, possibilitando uma nova identidade 
funcional, para que o indivíduo tenha suas sequelas cognitivas minimizadas e 
amplie sua funcionalidade e inclusão social. 
LEITURA OBRIGATÓRIA 
Texto de abordagem teórica 
ABRISQUETA-GOMEZ, J. Reabilitação neuropsicológica: abordagem 
interdisciplinar e modelos conceituais de uma prática clínica. Porto Alegre: 
Artmed, 2012. 
Texto de abordagem prática 
SBNPp – SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOPEDAGOGIA. Códigode Ética Técnico Profissional as Neuropsicopedagogia. Resolução 03/2014. 
Disponível em: <https://sbnpp.org.br/>. Acesso em: 18 jul. 2018. 
 
 
 
 
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