Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 6 AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA NAS DIVERSAS DIFICULDADES E TRANSTORNOS Prof. ª Luciana Trad 2 CONVERSA INICIAL A reabilitação cognitiva é uma prática multiprofissional, em que especialistas, profissionais da saúde e educação, que trabalham com indivíduos com déficits cognitivos adquiridos após dano encefálico, devem traçar um plano de trabalho que favoreça essas pessoas em sua melhora física, cognitiva e emocional, para que haja readaptação e reinserção ao ambiente familiar, social, acadêmico e/ou ocupacional. Nesta aula, poderemos visualizar o processo de reabilitação cognitiva como um campo de atuação do neuropsicopedagogo. Tema 1 – Reabilitação cognitiva Tema 2 – Reabilitação cognitiva infantil Tema 3 – Reabilitação cognitiva do adulto Tema 4 – Reabilitação cognitiva do idoso Tema 5 – Reabilitação cognitiva em pessoas com deficiência CONTEXTUALIZANDO A reabilitação de indivíduos com deficiência cognitiva tem como objetivo a melhora ou a compensação de déficits cognitivos adquiridos após lesão. A recuperação funcional após uma lesão sofre a influência de fatores como idade do indivíduo, local, natureza e tempo da lesão, e fatores psicológicos. A participação do indivíduo e da rede de suporte familiar e social são fundamentais para o planejamento da reabilitação. O processo de reabilitação tem início com a avaliação que traz informações do indivíduo, suas potencialidades e limitações. Nesse momento, uma equipe multiprofissional estabelece um plano de ação com metas realísticas, tendo a participação do indivíduo e da família, com objetivo de melhoras ou compensar funções cognitivas comprometidas após danos cerebrais. TEMA 1 – REABILITAÇÃO COGNITIVA A reabilitação cognitiva (RC) é um campo clínico de atuação interdisciplinar que tem como objetivo melhorar e compensar as habilidades cognitivas alteradas em indivíduos, em decorrência de dano encefálico (Sohlberg; Mateer, 2010). Os procedimentos utilizados para reabilitação de indivíduos com deficiência cognitiva 3 muitas vezes são focados em melhorar domínios cognitivos específicos, tais como memória, motricidade, funções executivas, enquanto os treinos compensatórios geralmente são focados na melhora funcional e em mudanças ambientais, possibilitando maior autonomia ao paciente (Macedo; Baggio, 2014) e, dessa forma, diminuir o impacto pessoal, emocional e social relacionado às limitações. Abrisqueta-Gomez (2012) ressalta que a RC abarca uma variedade de técnicas ou estratégias de intervenção voltadas para o tratamento de disfunções cognitivas, tais como déficits de atenção, concentração, percepção, memória, funções executivas, conscientização, automonitoramento, entre outros. Ciccerone et al. (2000, citado por Abrisqueta-Gomez, 2012) ainda destacam que as intervenções cognitivas tendem a melhorar ou compensar as dificuldades decorrentes da deficiência intelectual e as habilidades sensoriais, psicomotoras e comportamentais, ampliando a autogestão e a independência do indivíduo. Os indivíduos e as famílias respondem diferentemente à intervenção. A personalidade, a função pré-mórbida, o suporte social e familiar e as cobranças do meio ambiente podem comprometer o resultado da reabilitação (Sohlberg; Mateer, 2010). A proposta do programa de reabilitação deve ser compreendida pelo indivíduo em tratamento, para o qual participar do estabelecimento de metas é fundamental com vistas à adesão ao tratamento, visto que o sucesso depende de condições emocionais e motivacionais (Ferreira, 2012). Todo especialista que atua em programas de reabilitação, ao desenvolver seu trabalho juntamente com pessoas que possuem limitações cognitivas, precisa estar atento e ter algum conhecimento e experiência no trabalho com reações emocionais como frustação e perda. Lidar com tais situações é uma parte indispensável do tratamento efetivo (Sohlberg; Mateer, 2010). 1.1 Modelos de Intervenção em reabilitação cognitiva Diversas metodologias são propostas no âmbito da reabilitação, entretanto, do ponto de vista didático, devem ser avaliadas e classificadas não apenas como pressupostos teóricos, mas compreendendo o impacto da abordagem para a necessidade do cliente (Ferreira, 2012). Abordagens top down: enfatizam a seleção de estratégias que atuam do centro para a periferia ou de cima para baixo, ou fornecem estimulação para sistemas mais altos, como funções executivas, oferecendo 4 monitoramento do comportamento. Visam atuar no ambiente cognitivo com repercussão na ação ou no comportamento do paciente. Abordagens botton up: enfatizam esquemas de atuação da periferia para o centro, de baixo para cima. Proporcionam estímulos de natureza sensório- motora externos à rede lesada. Visam a modificações do comportamento com repercussão em processos cognitivos. Abordagens integrativas e ecológicas: combinam modelos top down e botton up. Lançam mão de atividades do tipo treino de funções neuropsicológicas (atenção, memória), ao mesmo tempo que buscam aumentar a funcionalidade de tarefas no ambiente natural e cotidiano do sujeito. Extrapolam a abordagem direta e envolvem a sociedade no acolhimento da condição especial da pessoa, afinando-se com propostas que buscam maior inclusão social (Ferreira, 2012, p. 386). Não é apenas a escolha da técnica ou a metodologia que determinará se a intervenção será ou não eficaz. Aspectos formais do tratamento, como assiduidade e duração das sessões, engajamento do indivíduo e de familiares e/ou cuidadores durante esse processo, possuem papel fundamental na reabilitação. A reavaliação frequente do plano de reabilitação, adaptações e reformulações devem ocorrer sempre que necessário, tendo em vista que funções deficitárias podem ser gradativamente minimizadas e novas disfunções podem ser diagnosticadas ante as novas demandas ambientais (Gindri et al., 2012; Abrisqueta-Gomez, 2012; Sohlberg; Mateer, 2010). TEMA 2 – REABILITAÇÃO COGNITIVA NA INFÂNCIA O planejamento de programas de reabilitação cognitiva infantil mostra-se mais desafiador se comparado aos programas dirigidos a adultos, considerando que, nessa fase, o cérebro encontra-se em desenvolvimento. Algumas funções consolidam-se de forma mais precoce e outras mais tardiamente, como é o caso das funções associadas ao funcionamento executivo. Em decorrência disso, no caso das lesões cerebrais na infância, conforme a idade, certos déficits neuropsicológicos serão percebidos ou diagnosticados somente com o tempo; certas habilidades são prejudicadas por dependerem de funções cognitivas que não se desenvolveram de forma adequadas, por estarem associadas a regiões cerebrais comprometidas (Mello, 2015). 5 Lesão cerebral na infância pode afetar significativamente a aquisição e o desenvolvimento de muitas habilidades motoras, linguísticas, cognitivas e sociais. Ainda, funções complexas, como atenção, memória e funções executivas, que compartilham de conexões neurais amplas, tendem a ser particularmente vulneráveis aos efeitos das lesões cerebrais precoces. Sendo a reabilitação uma área de atuação multiprofissional, o neuropsicopedagogo pode se orientar pelos oito conceitos-chave propostos por Hunter e Donders (2007, citado por Mello, 2015) para o planejamento de reabilitação neuropsicológica na infância. 1. Adequado ao nível de desenvolvimento (developmentally appropriate): as atividades devem ser adequadas ao repertório cognitivo típico da fase do desenvolvimento em que a criança se encontra. 2. Orientado para funcionalidade: a intervenção visa, essencialmente melhorar o desempenho na “vida real”; é importante, assim, considerar o funcionamento adaptativo, a autônoma e o bem-estar, e a inclusão social. 3. Individualizado: o plano de intervençãodeve ser baseado na compreensão das queixas e nos resultados das avaliações de cada criança ou adolescente. Nesse sentido, é necessário entender a importância de se levar em consideração as habilidades e os interesses individuais. 4. Longitudinal: as consequências de transtornos específicos se modificam ao longo do tempo, e, com a idade, surgem novos desafios; algumas metas devem ser analisadas para evitar ou minimizar problemas futuros. 5. Com base no sistema cognitivo (system-based): a expressão de déficits e comportamentos é influenciada pelos múltiplos sistemas em que a criança vive; aspectos associados à família, à escola e à comunidade devem ser considerados. 6. Centrado na família: a eficácia das intervenções depende do estabelecimento de uma forte relação de parceria com os familiares, o que envolve, por exemplo, comunicação regular e transparente, implementação de metas compartilhadas e favorecimento de um sentido de empoderamento por parte da família. 7. Transdisciplinar: importância da cooperação entre todos os profissionais que acompanham a criança no setting terapêutico e no contexto escolar, o que pode ser favorecido pela compreensão dos resultados das avaliações neuropsicológicas e suas implicações para o funcionamento no cotidiano. 6 8. Científico: importância da definição de medidas de eficácia ancoradas em metas claras e passíveis de mensuração do desempenho ao longo do tempo e no desenvolvimento de estudos transversais e longitudinais, com apresentação de casos e pequenas amostras. Ferreira (2012) ressalta que o prognóstico para reabilitação infanto-juvenil deve levar em consideração alguns fatores: natureza e extensão da lesão; condição pré-mórbida ou nível de treinamento do paciente; envolvimento de familiares, professores e rede de apoio social; instrumentalização necessária para que os profissionais possam atuar de forma ética e desejável. O tratamento de reabilitação das principais desordens neurológicas envolve cada um os seguintes aspectos. Hiperatividade e déficit de atenção: treinamento de atenção, peer tutoring (em casa e na escola, atenção ao alvo, completar o trabalho, disciplina e interações sociais) e gerenciamento de contingências. Síndromes autistas: técnicas para modificação de comportamento estereotipado e melhora da comunicação; tratamento medicamentoso. Convulsivas/epilepsia: tratamento medicamentoso, tratamento neurocirúrgico em casos refratários, treino cognitivo mnemônico. Traumatismo cranioencefálico: parcerias entre escola e família são utilizadas em associação aos planos individuais de intervenção e estratégias compensatórias para melhorar o desempenho acadêmico e comportamental. Tumores cerebrais: radiação, quimioterapia e intervenções cirúrgicas; estratégias compensatórias para dificuldades acadêmicas, em funções executivas e no ajuste psicossocial (Santos, 2005). Sugestões de instrumentação para reabilitação infanto-juvenil: Programa de Enriquecimento Instrumental – PEI; abordagem psicomotora; estratégias metacognitivas; softwares educativos incorporados a práticas terapêuticas. 7 A aplicação de algumas técnicas e programas voltados para estimulação cognitiva exigem capacitação, treinamento e habilitação profissional. TEMA 3 – REABILITAÇÃO COGNITIVA NO ADULTO A reabilitação cognitiva no adulto é indicada quando alterações cognitivo- comportamentais acarretam prejuízos pessoais, acadêmicos/ocupacionais e sociais. São várias as afecções que podem causar distúrbios cognitivos no adulto, tais como tumores, traumatismos cranioencefálicos (TCE), acidente vascular encefálico (AVE), doenças degenerativas, entre outras. As dificuldades cognitivas mais comuns decorrentes dessas condições são: déficit de atenção, memória, aprendizagem, processamento de informação, linguagem, planejamento e intelectuais, além de dificuldades perceptuais, de reconhecimento e planejamento motor. O trabalho de reabilitação inicia com uma avaliação dos prejuízos e das habilidades remanescentes. A ênfase da reabilitação é a funcionalidade, ou seja, reduzir os impactos dos prejuízos na vida diária (Gouveia, 2006). São fatores relacionados a programas de treinamento e intervenção utilizados na reabilitação do adulto: A recuperação dependerá da natureza, da qualidade e da quantidade de experiências após lesão. Alterações do ciclo sono-vigília podem afetar a plasticidade cerebral e retardar a recuperação. Intervenções farmacológicas podem facilitar ou reduzir o potencial para alterações plásticas no cérebro. É necessário monitorar a carga atencional no paciente. Superestimulação pode causar estresse e efeitos negativos sobre a plasticidade. Maximizar a probabilidade de respostas corretas – aprendizagem sem erro- efeito positivo e motivacional facilita a plasticidade positiva. Estratégias compensatórias são amplamente utilizadas na reabilitação cognitiva e neuropsicológica, atuando principalmente nos déficits mnemônicos, atencionais e executivos. Inclui a utilização de aparelhos eletrônicos – pagers, computadores, alarmes eletrônicos, relógios, gravadores, e recursos escritos e pictóricos – agendas, blocos e quadros de anotações, calendários, placas de 8 sinalização, entre outros (Sohlberg; Mateer, 2010; Abrisqueta-Gomez; Santos, 2006). Os profissionais que trabalham com reabilitação do adulto devem estar atentos quanto ao nível de prontidão e engajamento do cliente. Fatores psicológicos, como ansiedade e depressão, são muito comuns quando adultos em fase produtiva se deparam com limitações e perdas cognitivas adquiridas após lesões. O apoio farmacológico e psicoterapêutico será um suporte importante no processo de reabilitação (Sohlberg; Mateer, 2010). TEMA 4 – REABILITAÇÃO COGNITIVA NO IDOSO Envelhecer, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS, é um processo sequencial, individual, cumulativo, irreversível, universal, não patológico de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer algo frente ao estresse do meio ambiente, e portanto aumente a sua capacidade de morte. O cérebro do idoso apresenta modificações, em seu volume e peso, na vascularização, na estrutura celular e molecular, bem como em suas funções de neurotransmissão. Comparando idosos a indivíduos jovens saudáveis, observa- se um decréscimo na capacidade de aprendizado (necessidade de mais repetições), na evocação de informações e em medidas de funções cognitivas (Morillo; Brucki; Nitrini, 2012). Delimitar o que é envelhecimento normal ou patológico tornou-se um desafio para os pesquisadores, pois, dependendo da intensidade do prejuízo cognitivo, pode-se estar diante de estados antecedentes a síndromes demenciais (Abrisqueta-Gomez; Santos 2006). Queixas cognitivas são frequentes em indivíduos na faixa etária geriátrica. Alguns estudos mostram um declínio evidenciado em avaliações formais, podendo ser diagnosticado com comprometimento cognitivo leve (CCL), ou conforme a nova nomenclatura do DSM -V, transtorno neurocognitivo leve (TNL). Quando ocorrer a evolução do prejuízo funcional, os indicadores apontam para síndrome demencial (Morillo; Brucki; Nitrini, 2012). O processo de reabilitação no idoso depende da natureza das desordens; seja em decorrência da idade ou de um processo degenerativo, o objetivo não é a restauração das funções, mas sim a adaptação do paciente às novas limitações. A participação dos familiares é essencial porque, na maioria das vezes, a 9 aderência ao tratamento é difícil, sendo uma das alternativas o atendimento domiciliar e atividades externas que facilitem o planejamento e a organização das atividades de vida diárias. Oliveira e Silva (2013) propõem uma opção de intervenção estruturadae individualizada para idosos com comprometimento cognitivo leve: orientação temporal e espacial; atividades de atenção; conteúdo educacional sobre memória e/ou outra função cognitiva; desafios de memória; estimulação das várias funções cognitivas; incluir atividades lúdicas, relatos motivadores e promover a descontração. De acordo com a SBNPp (2017, p.14), o neuropsicopedagogo pode atuar com pessoas de diferentes faixas etárias, entretanto, alerta quanto ao atendimento à população idosa. [...] precisa reconhecer o limiar da sua atuação quanto ao trabalho com idosos, pois em suas bases ainda não está previsto disciplinas voltadas ao trabalho com essa população. Necessitaria aprofundamento sobre conhecimentos voltados a doenças degenerativas e questões específicas que, atualmente são tratadas pela Neuropsicologia. TEMA 5 – REABILITAÇÃO COGNITIVA EM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA Nas últimas décadas, houve um significativo crescimento na aplicação de tecnologias para minimizar o déficit de pessoas com deficiência. Avanços recentes na tecnologia proporcionam opções adicionais para correção e compensação de perdas cognitivas (Anjos; Regolin, 2012). Uma das ferramentas que viabiliza a criação e utilização desses recursos é a tecnologia assistiva (TA). Essa abordagem pode ser entendida como “qualquer peça de equipamento, item ou sistema de produtos, quando adquirido comercialmente, modificado ou feito sob medida, usado para aumentar, manter ou melhorar as habilidades funcionais do indivíduo portador de incapacidades” (Public Law, 1976, citado por Abrisqueta-Gomez, 2012). Essas soluções tecnológicas melhoram as habilidades do indivíduo para aprender, competir, trabalhar e interagir no ambiente social (Carlo; Bartalotti, 2001). O profissional deve intervir de forma a avaliar, indicar e treinar o uso de dispositivos de auxílio. Por meio dessa descrição, percebe-se que essa ciência exige abordagem multidisciplinar, o que promove uma intervenção global. 10 Os dispositivos podem ser de baixa, média ou alta tecnologia. Os de baixa tecnologia são equipamentos simples, sem sistemas eletrônicos, de baixo custo e exigem um período menor de treinamento. Os de média tecnologia normalmente são elétricos. O último grupo é mais complexo, pois apresenta sistemas computadorizados, podendo ser multifuncionais (Mendes et al., 2002, citado por Anjos; Regolin, 2012). Eles podem ser classificados pela função, como ajuda para comunicação, informação e sinalização. Considerando a função desses equipamentos, atualmente há diversos enfocando as tecnologias que auxiliam na intervenção de indivíduos com déficits cognitivos, chamados de tecnologia assistiva da cognição (TAC). Podemos entendê-la com auxílios técnicos de compensação e de restauração do funcionamento cognitivo, que têm o objetivo de proporcionar suporte extrínseco para indivíduos com comprometimento da capacidade cognitiva e, assim, alcançar um desempenho satisfatório em atividades que compensem as de deficiências existentes. São estratégias compensatórias direcionadas para habilidades funcionais de um indivíduo que alteram o ambiente do paciente. Sendo projetadas especificamente para uma proposta de reabilitação, elas auxiliam diretamente o indivíduo na realização das atividades de vida diária (AVDs) e são altamente customizáveis para as necessidades do indivíduo, podendo ser simples, como alarmes para medicamentos, ou complexas, como cuidadores robóticos interativos (Lopesti; Mihailidis; Kirshi, 2004, citado por Anjos; Regolin, 2012, p. 224). A abordagem de intervenção da TAC deve levar em consideração as habilidades e limitações físicas e sensoriais do indivíduo, para que o terapeuta determine qual órtese cognitiva satisfaz as necessidades dele, auxiliando-o e à sua família na programação inicial do dispositivo e na execução do treino para integrarem o dispositivo à sua rotina diária. Na TAC, os dispositivos são nomeados como órteses ou próteses cognitivas (Anjos; Regolin, 2012). Geralmente, o processo de prescrição dos recursos do TAC fica a cargo do terapeuta ocupacional, no entanto, as decisões que envolvem a escolha do equipamento mais adequado para cada caso depende de uma visão interdisciplinar, assim como em todas as outras facetas do programa de reabilitação (Barbosa; Nery, 2012). 11 São fatores que influenciam a escolha apropriada de intervenções tecnológicas, de acordo com LoPresti, Mihailidis e Kirsch (2004, citado por Anjos; Regolin, 2012), os dispostos a seguir. 1. Padrões de habilidades e dificuldades cognitivas. 2. Características específicas da deficiência apresentada. 3. Mudanças emocionais e comportamentais específicas associadas à doença. 4. Características pré-mórbidas e de personalidade. 5. Atitudes pessoais em relação a intervenções que parecem exercer controle externo. 6. Suporte psicossocial pré-mórbido. O resultado de todo esse programa de reabilitação será bem-sucedido caso o indivíduo alcance, dentro de suas limitações e potencial, essa nova identidade funcional, sendo capaz de interagir produtivamente com o ambiente social (Barbosa; Nery, 2012). FINALIZANDO Nesta aula, foi possível compreender a reabilitação cognitiva (RC) como um campo clínico de atuação interdisciplinar, em que o neuropsicopedagogo trabalhará em parceria com profissionais da área de saúde e educação com o propósito de melhorar e compensar as habilidades cognitivas alteradas em indivíduos que apresentam deficiência cognitiva resultantes de danos encefálicos adquiridos. O programa de RC depende da faixa etária, da localização e da extensão da lesão. A participação da rede de apoio familiar e social é fundamental para que haja adesão ao tratamento. A participação do indivíduo, as metas propostas, a instrumentalização, a experiência e a sintonia da equipe multiprofissional serão indispensáveis para o sucesso da reabilitação. Percebemos que, na infância, lesões podem afetar significativamente a aquisição e o desenvolvimento de muitas habilidades motoras, linguísticas, cognitivas e sociais; ainda, em relação a funções complexas como atenção, memória e funções executivas, a reabilitação tem o objetivo de reabilitar ou compensar os déficits adquiridos. O adulto em fase produtiva apresenta dificuldades emocionais diante das limitações cognitivas, trazendo prejuízos 12 pessoais, familiares, ocupacionais e sociais. A reabilitação deve minimizar os efeitos da perda, possibilitar a readaptação à sua nova realidade, a reinserção social e ocupacional, com o uso de tecnologias para compensação e apoio psicológico quando necessário. O declínio cognitivo do idoso, seja por envelhecimento normal ou ocasionado por doenças degenerativas, tem na reabilitação um meio para se adequar às suas limitações e melhora funcional visando à qualidade de vida. A pessoas com deficiência e dificuldades cognitivas serão reabilitadas de acordo com faixa etária, dificuldade e potencialidade, assim como os demais indivíduos sem deficiência física, entretanto, terão auxílio de tecnologias assistivas adequadas para a sua necessidade individual. O resultado do programa de reabilitação será bem-sucedido se os profissionais, incluindo o neuropsicopedagogo, compreenderem a individualidade e a necessidade de cada indivíduo, traçarem o plano juntamente com a equipe multiprofissional, indivíduo e familiares, possibilitando uma nova identidade funcional, para que o indivíduo tenha suas sequelas cognitivas minimizadas e amplie sua funcionalidade e inclusão social. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica ABRISQUETA-GOMEZ, J. Reabilitação neuropsicológica: abordagem interdisciplinar e modelos conceituais de uma prática clínica. Porto Alegre: Artmed, 2012. Texto de abordagem prática SBNPp – SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOPEDAGOGIA. Códigode Ética Técnico Profissional as Neuropsicopedagogia. Resolução 03/2014. Disponível em: <https://sbnpp.org.br/>. Acesso em: 18 jul. 2018. 13 REFERÊNCIAS ABRISQUETA-GOMEZ, J. Reabilitação neuropsicológica: abordagem interdisciplinar e modelos conceituais de uma prática clínica. Porto Alegre: Artmed, 2012. _____. Reabilitação neuropsicológica do idoso. In: ABRISQUETA-GOMEZ, J.; SANTOS, F. H. dos (Eds.). Reabilitação neuropsicológica: da teoria à prática. São Paulo: Artes Médicas, 2006. AMERICAN PSYCHIATNC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtorno 5: DSM-5. Tradução de Maria Inês Corrêa Nascimento et al. Revisão técnica de Aristides Volpato Cordioli et al. Porto Alegre: Artmed, 2014. BARBOSA, D. M.; NERY, M. Reabilitação neuropsicológica e tecnologia assistiva para cognição. In: CAIXETA, L.; FERREIRA, S. B. Manual de neuropsicologia dos princípios a reabilitação. São Paulo: Atheneu, 2012. CARLO, M. M. R. P.; BARTALOTTI, C. C. Terapia ocupacional no Brasil: fundamentos e perspectivas. Plexus, 2001. FERREIRA, S. F. B. Reabilitação neuropsicológica infantil: pressupostos e instrumentos. In: CAIXETA, L., FERREIRA, S. B. Manual de neuropsicologia dos princípios a reabilitação. São Paulo: Atheneu, 2012. KANDEL, E.; SCHWARTZ, J. Princípios da neurociência. São Paulo: Manole, 2003. GOLINO, M. T. S.; FLORES-MENDOZA, C. E. Desenvolvimento de um programa de treino cognitivo para idosos. Revista Brasileira Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v. 19, n. 5, p. 769-785, 2016. GOUVEIA, P. A. R. Introdução à reabilitação neuropsicológica de adultos. In: ABRISQUETA-GOMES, J.; SANTOS, F. H. dos. Reabilitação neuropsicológica da teoria à prática. São Paulo: Artes Médicas, 2006. GINDRI, G. et al. Métodos em reabilitação neuropsicológica. Núcleo de neuropsicologia clínica e experimental, Rio de Janeiro, p. 343-375, 2012. Disponível em: <http://www.nnce.org/Arquivos/Artigos/2012/gindri_etal_2012.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2018. 14 MACEDO, E. C.; BAGGIO, P. S. Novas tecnologias de reabilitação Neuropsicológica. In: FUENTES, D et al. (Org.). Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2014. MELLO, C. B. Reabilitação cognitiva na infância: questões norteadoras e modelo de intervenção. In: SANTOS, F. H.; ANDRADE, V. M.; BUENO, O. F. A. Neuropsicologia hoje. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. MORILLO, L. S.; BRUCKI, S. M. D.; NITRINI, R. Modificações neurobiológicas e cognição no envelhecimento. In: MIOTTO, E. C.; LUCIA, M. C. S.; SCAFF, M. Neuropsicologia clínica. São Paulo: Roca, 2012. MUÑOZ MARRÓN, E. (Coord.). Estimulación cognitiva y rehabilitación neuropsicológica. Barcelona: UOC, 2009. OLIVEIRA, E. M.; SILVA, T. B. L. Estimulação cognitiva em idosos com comprometimento cognitivo leve e doença de Alzheimer: uma abordagem individualizada e em grupo. In: SANTOS, F. S. et al. Estimulação cognitiva para idosos: ênfase em memória. Rio de Janeiro: Atheneu, 2013. SANTOS, F. H. Reabilitação neuropsicológica pediátrica. Psicologia, ciência e profissão, v. 25, n. 3, p. 450-461, 2005. SIMON, S. S.; RIBEIRO, M. P. O. Comprometimento cognitivo leve e reabilitação neuropsicológica: uma revisão bibliográfica. Psicologia Revista, São Paulo, v. 20, n. 1, p. 93-122, 2011. SOHLBERG, M. M.; MATEER, C. A. Reabilitação cognitiva: uma abordagem neuropsicológica integrada. Tradução de M. C. Brandão. São Paulo: Santos, 2010. SBNPp – Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia. Nota Técnica n. 02/2017. Joinville, 2017. Disponível em: <https://sbnpp.org.br/>. Acesso em: 18 jul. 2018.
Compartilhar