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GESTÃO DE CUSTOS, RISCOS E PERDAS Zaida Cristiane dos Reis Formação do preço de venda Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar como os custos e as despesas influenciam na formação do preço de venda. Identificar a influência dos impostos e tributos no preço de venda. Utilizar fórmulas de cálculo do preço de venda. Introdução Formar o preço de venda de produtos e serviços de uma organização é um desafio grande, pois entende-se que a formação do preço de venda está relacionada a fatores internos e externos à empresa. Além disso, existe a necessidade de acompanhar preços praticados pelo mercado, o que vai de encontro ao cálculo do preço de venda baseado em custos e margem de lucro. Desse modo, entende-se que as decisões de preço de venda fazem parte das atividades gerenciais das organizações. Os gestores precisam levar em conta a natureza dos produtos e serviços, os seus custos e as suas despesas, a influência dos impostos e tributos, bem como a situação do mercado e os objetivos organizacionais, para, então, avaliar um método de cálculo que seja adequado à empresa. Neste capítulo, você vai estudar as questões relacionadas ao preço de venda, que visam a auxiliar o gestor na análise crítica relacionada à formação desse valor, que envolve inúmeras variáveis. A partir desse en- tendimento, torna-se possível tomar decisões mais assertivas na aplicação de preços nos produtos. Influência dos custos e das despesas na formação do preço de venda Para analisar a formação do preço de venda, entende-se que o gestor de uma organização, seja ela de pequeno, médio ou grande porte, precisa utilizar informações estatísticas. Isso porque, atualmente, além da habilidade de lide- rança, os líderes precisam saber ler e interpretar as informações disponíveis. Nesse sentido, surge a necessidade de o gestor conhecer e analisar todos os indicadores estratégicos e táticos para a tomada de decisão. Segundo Congan (2013), analisar custos e identificar o melhor método para aplicá-los na formação do preço de um produto ou serviço é um grande diferencial e terá grande impacto no planejamento estratégico de todo tipo de organização. Na visão de Leone (2007), gerenciar os custos requer a visuali- zação destes na organização como um processo contínuo de informações. O gestor de custos recebe (ou obtém) dados, que são acumulados de forma organizada, e desenvolve uma avaliação criteriosa; assim, produz informações de custos para todos os níveis gerenciais da empresa. Ainda segundo Leone (2007) e Martins (2018), a gestão de custos pode ser apresentada como a função financeira que acumula, prepara, avalia e interpreta os custos dos produtos, dos estoques, dos componentes da empresa, dos planos operacionais e dos processos de distribuição, para determinar os resultados esperados, isto é, o lucro da organização. Esse processo tem como objetivo controlar as operações e auxiliar o gestor nos processos de tomada de decisão e de planejamento. Crepaldi (2018) e Martins (2018) destacam que o processo eficaz de gestão de custos passa, necessariamente, pela eficiência e eficácia dos processos de planejamento, execução e controle, para, assim, possibilitar a formação do preço de venda de forma adequada. Entre os fatores que influenciam a determinação do preço de venda, des- tacam-se: mercado, custos, concorrência, entre outros. A decisão de preço de venda deve ter por finalidade primordial encontrar a melhor alternativa Formação do preço de venda2 de preço, abrangendo tanto a determinação de um preço específico como o desenvolvimento de políticas e estratégias de preços. As organizações estão buscando a redução de custos e o aumento da pro- dutividade de diversas formas. Isso porque, conforme aponta Congan (2013), os custos influenciam os preços, por afetarem a oferta. Nesse sentido, quanto menor for o custo de produção de um produto em relação ao preço pago pelo consumidor final, maior será a capacidade de fornecimento da organização. Por isso, surge a dúvida: qual o preço ideal para se obter sucesso junto ao cliente e trazer lucros para a empresa? Para responder a essa questão, Congan (2013) e Crepaldi (2018) citam a metodologia do markup, que pode ser utilizada na análise da decisão sobre o preço a ser praticado. Os autores explicam que o markup consiste em somar ao custo unitário do produto uma margem fixa para obter o preço de venda. Deve-se evidenciar a responsabilidade de cobrir outros custos (caso não tenham sido inclusos no cálculo do custo unitário), as despesas e, ainda, adequar à organização resultados lucrativos. Para formar o preço de vendas unitário com base nos custos, Congan (2013) aponta quatro passos que precisam ser seguidos: 1. determinar o custo do produto; 2. determinar o percentual de margem a ser usado; 3. multiplicar o percentual da margem pelo custo do produto; 4. somar a margem monetária. Conforme Leone (2007) e Crepaldi (2018), a partir da determinação do custo do produto, consegue-se determinar o percentual de margem a ser usado; depois, multiplica-se o percentual de margem pelo custo do produto, para obter a margem em unidade monetária; na sequência, soma-se a margem monetária ao custo do produto, para determinar o preço. Sabe-se que existem vários métodos de se calcular o custo de um produto; entretanto, de acordo com Leone (2007), o percentual da margem sobre o custo é calculado quase sempre de maneira arbitrária, variando conforme o ramo de atividade da organização e os seus produtos. Para que se possa escolher o melhor método para a organização, é preciso entender os benefícios proporcionados pelo controle de custos, que está relacionado à avaliação das variáveis que influenciam as diretrizes da empresa. Para Padoveze (2010), percebe-se a importância da formação de preços quando se trabalha com as imposições do mercado, dos custos, do governo e 3Formação do preço de venda da concorrência e a restrição orçamentária do consumidor. Segundo Congan (2013), as decisões de compras são feitas, geralmente, pesquisando-se os preços dos produtos, visto que os consumidores, em sua maioria, desenvolvem expectativas e desejos ilimitados pelos produtos, entretanto, seus recursos são limitados. Nesse sentido, observa-se que o cliente, de um modo geral, compra um produto ou serviço se o preço for compatível e se o produto lhe proporcionar uma satisfação que justifique a sua compra. A formação do preço de venda de forma adequada poderá trazer para a organização desenvolvimento e lucratividade; em contrapartida, uma precificação inadequada, calculada erroneamente, sem o conhecimento correto dos custos e despesas, pode trazer prejuízos, que podem levar à falência da empresa. O preço, segundo Biagio (2012), é um valor estabelecido para um produto ou um serviço. Ou seja, qualquer transação de uma empresa envolve um valor monetário estabelecido pela formação do preço de vendas. Destaca-se que a fixação de preços, segundo Sardinha (2013), precisa avaliar o contexto geral da organização, observando: estrutura de custos; valor percebido pelo cliente; produtos alternativos; concorrência; tecnologia aplicada; valores intangíveis, como marca, confiabilidade, localização, entre outros. Para o autor, o meio mais assertivo de garantir rentabilidade na formação do preço de venda é por meio de práticas de preços que cubram os custos da organização. Nota-se que muitas empresas não conseguem colocar esse princípio em prática, em função da dificuldade para avaliar seus custos de produção adequadamente. O método de formação do preço de venda abrange a coleta, a classificação e a avaliação de variáveis complexas e interligadas, que podem ser aperfeiçoadas conforme as estratégias empresariais são elaboradas. A formação do preço de Formação do preço de venda4 venda está relacionada, também, a fatores internos e externos da organização. Nessesentido, destaca-se que acompanhar preços praticados pelo mercado e avaliar os custos e a margem a ser aplicada no preço são abordagens que estão sujeitas a diversos fatores mercadológicos. Diante do exposto, Horngren, Datar e Foster (2004) afirmam que existem três variáveis relacionadas à oferta e à demanda e que influenciam direta ou indiretamente na formação dos preços de venda. Veja-as a seguir. Clientes: ao demandar um produto ou serviço, os clientes influenciam os preços; por isso, entende-se que as organizações devem constante- mente verificar as suas decisões sobre a formação do preço de venda, observando a percepção dos clientes em relação ao ofertado. Em síntese, trata-se de formar o preço a partir do que o cliente está disposto a pagar; porém, é uma visão subjetiva e de difícil avaliação. Concorrentes: as organizações precisam acompanhar atentamente as ações de seus concorrentes, pois os preços praticados pelos concorrentes, ou, até mesmo, a existência de produtos substitutos, podem afetar as vendas da empresa. Nesse sentido, a organização pode formar seu preço a partir da prática aplicada pelo concorrente. Custos: a análise dos custos aponta que, quanto menor for o custo em relação aos preços pagos pelo cliente, maior será a capacidade de fornecimento por parte da organização. Assim, é importante que os gestores que compreendem os custos de seus produtos e serviços pos- sam formar preços atrativos e obter retornos operacionais desejáveis. Por essa percepção, a organização forma o preço a partir dos custos, acrescentando uma margem de lucros adequada para a empresa. Ao desenvolver uma avaliação da extensão dessas três variáveis, nota-se que as duas primeiras estão relacionadas aos fatores externos da empresa — os fatores mercadológicos —, enquanto a última está associada diretamente aos fatores internos da organização. Influência dos impostos e da tributos na formação do preço de vendas A carga tributária nos produtos ou serviços, segundo Oliveira (2011) e Martins (2018), corresponde a custos diretos e variáveis. Desse modo, tais custos precisam ser verifi cados e incluídos na formação dos preços de ven- 5Formação do preço de venda das, para manter os lucros do negócio. Os gestores precisam conhecer qual o método mais adequado para o negócio e, então, precifi car seus produtos ou serviços. Crepaldi (2018) aponta que, em qualquer método, é preciso compreender a extensão do impacto da carga tributária na formação dos preços de venda. Oliveira (2011) esclarece que muitas organizações definem seus preços aplicando um percentual sobre a compra de mercadorias, como ocorre no comércio, em alguns casos. Outras estabelecem os seus preços com base no valor do custo de mão de obra, no caso de serviços. Oliveira (2011) exemplifica essas duas situações: Exemplo 1: mercadoria comprada a R$ 100,00 e vendida com margem de 100%; logo, o preço de venda será R$ 200,00. Exemplo 2: um serviço possui custo de mão de obra direta de R$ 1.000,00, com margem de 50%, devido a outros limitadores; logo, o preço de venda será R$ 1.500,00. Entretanto, o autor observa que essa metodologia, por mais simples e aplicável que seja, não avalia os demais custos da organização, relacionados com as vendas. Ou seja, esse método de análise pode pôr em risco os lucros da empresa e, inclusive, gera a possibilidade de inadimplência tributária e, consequentemente, afeta a viabilidade econômica. Congan (2013) e Crepaldi (2018) explicam que, para que a formação do preço de vendas seja elaborada com um valor superior ao de seu custo de desenvolvimento, seja de aquisição ou fabricação, a organização precisa transferir para o cliente a carga de tributos sobre o faturamento e o lucro da organização. Os autores destacam que os principais tributos a serem avaliados são: Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), contribuição aos Programas de Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). IRPJ: conforme lecionam Souza e Moraes (2018), esse imposto incide sobre a forma de tributação adotada pela pessoa jurídica, ou seja, sobre o lucro real, presumido ou arbitrado. Esse imposto geralmente é calcu- lado a cada trimestre, com a aplicação da alíquota de 15% sobre a base de cálculo correspondente, acrescida do adicional de 10%, quando a Formação do preço de venda6 base de cálculo do imposto ultrapassar a multiplicação do valor de R$ 20.000,00, pelo número de meses do período de apuração. CSLL: Crepaldi (2018) destaca que esse tributo é calculado como o IRPJ. Para as organizações tributadas com base no lucro presumido, a base de cálculo corresponderá a 12%, sendo que a alíquota da contribuição a ser aplicada sobre a base de cálculo correspondente será de 9%. PIS e COFINS: estas, segundo Martins (2018), são contribuições men- sais que ocorrem sobre o faturamento da empresa. As alíquotas das mencionadas contribuições são apresentadas no Quadro 1. ICMS e IPI: conforme Crepaldi (2018), estes correspondem a tributos não cumulativos. Sendo o ICMS um imposto de competência estadual, suas alíquotas variam menos do que as do IPI, que é um imposto federal. Diferentemente do ICMS, o autor destaca que o IPI não integra o valor da receita bruta; assim, não faz base de cálculo para as contribuições ao PIS e para a COFINS. Fonte: Adaptado de Martins (2018). PIS COFINS 0,65% para fatos geradores ocorridos até 30/11/2002, independentemente da modalidade de tributação adotada pela empresa 3% para fatos geradores ocorridos até 31/01/2004, independentemente da modalidade de tributação adotada pela empresa Para fatos geradores ocorridos a partir de 01/12/2002: 1,65% para as empresas sujeitas à incidência não cumulativa e 0,65% para as empresas sujeitas à incidência cumulativa Para fatos geradores ocorridos a partir de 01/02/2004: 7,6% para as empresas sujeitas à incidência não cumulativa e 3% para as empresas sujeitas à incidência cumulativa Quadro 1. Percentuais aplicáveis de PIS/COFINS Nesse sentido, percebe-se que, no mercado brasileiro, além da oneração dos tributos sobre o valor da receita bruta, existe uma carga suplementar que ocorre sobre o preço de custo dos bens, afetando significativamente a formação do preço de vendas. Conforme Souza e Moraes (2018), torna-se importante 7Formação do preço de venda observar que o preço de custo é vinculado a cargas elevadas de impostos e contribuições relativos a tributos não recuperáveis, bem como ao alto valor dos insumos com preços gerenciados pelo governo (água, luz, telefone, gás, correios e tantos outros) — lembrando que esses preços sobem geralmente acima da inflação do período. Entre os impostos não recuperáveis, destacam-se: ICMS e IPI, Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) e outros (SOUZA; MO- RAES, 2018). Esses tributos (não recuperáveis) também formam despesa ou custo para as organizações. Assim, sobre o valor do custo de produção, incide a margem de lucro da empresa e todos os tributos e contribuições incidentes sobre o valor da receita bruta da empresa. Cálculo do preço de vendas É natural que um gestor tenha dúvidas sobre como formar o preço de vendas dos seus produtos. Nesse momento, surgem questões como: Como a influência da carga tributária pode afetar os preços de venda? Existe um método mais indicado para esse cálculo? O que mais um gestor deve saber sobre as variáveis da organização? Souza e Moraes (2018) explicam que os tributos sobre vendas (cargatributária) são custos diretos e variáveis; desse modo, estão diretamente relacionados com a variação de vendas. Nesse sentido, entende-se que, quando existe variação de vendas, isso impacta na variação de tributos, com um percentual pré-determinado e de fácil cálculo. Nesse contexto, Sardinha (2013) salienta que um dos cálculos mais adequa- dos para se resolver os preços de venda é aquele que leva em conta todos os custos diretos, indiretos e variáveis pertinentes ao produto ou serviço ofertado, por exemplo: os tributos, as comissões, os custos da matéria-prima e da mão Formação do preço de venda8 de obra. Segundo o autor, analisando sob essa ótica, é possível estimar de forma mais adequada os lucros da organização, definindo com maior precisão os preços de venda. Seguindo essa lógica, surge a dúvida sobre qual o regime tributário correto para a empresa. Para essa questão, existem três opções a serem consideradas: Simples Nacional; Lucro Presumido; Lucro Real. No Simples Nacional e no Lucro Presumido, conforme aponta Sardinha (2013), os principais tributos (ICMS, ISS, IRPJ, CSLL, PIS, COFINS) são avaliados sobre o valor do faturamento apurado no período. No cálculo pelo Lucro Real, dos tributos apresentados, destaca-se que o IRPJ e a CSLL são calculados sobre o valor do lucro bruto. No Brasil, observa-se que a maioria das pequenas e médias empresas brasileiras são optantes pelo Simples Nacional. Assim, a seguir, apresentam-se exemplos, com base nas informações de Sardinha (2013) e Souza e Moraes (2018), sem levar em consideração o INSS. Exemplo 1: a empresa compra uma mercadoria a R$ 100,00 e possui uma média de faturamento mensal de R$ 50.000,00 (vendendo 250 unidades a R$ 200,00 cada). ■ Nesse caso, a influência dos principais tributos (ICMS, IRPJ, CSLL, PIS, COFINS), conforme a tabela do Simples Nacional, será de aproximadamente 4,17%, ou R$ 8,34 unitário e R$ 2.085,00 mensal, conforme o cálculo a seguir: – Unitário: R$ 200,00 × 4,17% = R$ 8,34. – Faturamento mensal: R$ 50.000,00 × 4,17% = R$ 2.085,00. Exemplo 2: a empresa presta serviços com um faturamento anual de R$ 720.000,00 e um faturamento mensal de R$ 60.000,00 e é enquadrada na forma do anexo III da tabela do Simples Nacional para 2018. ■ Nesse caso, a influência dos principais tributos (ISS, IRPJ, CSLL, PIS, COFINS) será com uma alíquota nominal de 13,5% e uma alíquota efetiva de aproximadamente 11,05%, conforme aponta o simulador do Canal Tributário (Figuras 1 e 2), resultando em um valor total de impostos de R$ 6.630,00. 9Formação do preço de venda Figura 1. Simulador do Canal Tributário — parte I. Fonte: Adaptada de Simulador... (2017). Figura 2. Simulador do Canal Tributário — parte II. Fonte: Adaptada de Simulador... (2017). Formação do preço de venda10 Para Souza e Moraes (2018), o gestor precisa entender que os tributos são custos diretos e variáveis, que são apurados de acordo com o regime tributário escolhido e que, em cada produto ou serviço ofertado, deve-se agregar esse custo e, assim, manter a boa adimplência tributária e a lucratividade do em- preendimento. Vejamos a seguir um exemplo de formação de preço de venda. Em uma organização, o produto tem um custo unitário total de R$ 137,50. Suponha que: a margem de lucro a ser aplicada sobre o preço de custo é de 100%; a alíquota do ICMS é de 18%; a alíquota do IPI é de 20%; as alíquotas não cumulativas do PIS e da COFINS são 1,65 e 7,6%, respectivamente; no ano calendário anterior, o percentual do IRPJ e da CSLL em relação ao valor da receita bruta operacional foi de 2,5 e 1,5%, respectivamente. Nesse exemplo, considera-se que o preço de venda do produto (PVP), sem o valor dos tributos, seria: PVP = R$ 137,50 + 100%; logo, o PVP seria de R$ 275,00 Se essa organização quiser fixar o seu preço de venda (PV) de forma a repassar todos os tributos para o cliente, deve utilizar a seguinte fórmula: PV = PVP + ICMS + PIS + COFINS + IPI + CSLL + IRPJ O percentual acumulado dos tributos e contribuições incidentes sobre a receita bruta é de: 4% (2,5% + 1,5%), para IRPJ e CSLL; 27,25% (18% + 7,6% + 1,65%), para ICMS, PIS e COFINS (cálculo por dentro); 20%, para o IPI (cálculo por fora). Com essas informações, a formação do preço de venda se dá da seguinte forma: 1. Calcula-se o percentual de tributos IRPJ, CSLL, ICMS, PIS e COFINS: Percentual total de 31,25% = (4% + 27,25%) 11Formação do preço de venda 2. Calculando o valor por dentro, o percentual total será de 68,75% (100% − 31,25%). Assim, o valor do preço de venda antes do cálculo do IPI será de R$ 400,00 (68,75% = R$ 275,00). 3. Assim, o preço de venda após o cálculo do IPI será: R$ 480,00 = R$ 400,00 + 20% A decomposição do preço de venda, utilizando os dados anteriores, que formaram o preço de venda de R$ 480,00 (incluindo o valor do IPI), se dá da seguinte forma: Custo unitário total: R$ 137,50. Margem de lucro da empresa: 100%, ou seja, R$ 137,50. Tributos constantes no preço de venda: ■ ICMS (18% × R$ 400,00): R$ 72,00; ■ PIS (1,65% × R$ 400,00): R$ 6,60; ■ COFINS (7,6% × R$ 400,00): R$ 30,40; ■ IRPJ e CSLL (4% × R$ 400,00): R$ 16,00; ■ IPI (20% × R$ 400,00): R$ 80,00. Valor total da venda (incluindo o IPI): R$ 480,00. Com base nesses cálculos, é possível perceber o quanto o valor dos tributos “pesam” na formação do preço de venda da organização. Percebe-se que, para conseguir vender seus produtos no mercado brasileiro, que encontra-se retraído e sem condições econômicas e financeiras para de- senvolver grandes volumes de compras, muitas organizações têm se obrigado a reduzir sua margem de lucro drasticamente, o que possibilita a redução do preço de venda. A excessiva carga tributária do Brasil dificulta muito a redução do preço aplicado e, por sua vez, a comercialização dos produtos, conforme apontam Souza e Moraes (2018). No meio contábil, é comum o uso dos termos “cálculo por dentro” e “cálculo por fora” aplicados ao IPI e ao ICMS, sendo que o IPI seria calculado "por fora", enquanto o ICMS seria calculado "por dentro". Nesse sentido, apresenta-se que: O IPI é calculado “por fora” porque a alíquota é aplicada sobre o valor da venda, sendo acrescido a ele, gerando o preço final. Por exemplo: na venda de um Formação do preço de venda12 produto por R$ 100,00, submetido ao IPI pela alíquota de 10%, o preço final será de R$ 110,00 (R$ 100,00 do produto + R$ 10,00 de IPI). Por isso, o nome “por fora”, pois os R$ 10,00 relativos ao IPI são acrescidos a partir do preço inicial, ou seja, “fora” do preço base. Já no ICMS é realizado o cálculo “por dentro” — um pouco mais complicado. Vamos usar o mesmo exemplo: uma venda de mercadoria no valor de R$ 100,00. Como o ICMS é calculado "por dentro", ou seja, integra sua própria base de cálculo, apresenta-se um cálculo mais complexo, veja: Se a alíquota do ICMS é 17%, os R$ 100,00 correspondem não à base de cálculo (sobre a qual seria aplicada a alíquota), mas a 83% dessa base (sem o ICMS, que corresponderá aos 17% remanescentes), aplicando-se, assim, uma regra de três: R$ 100,00 está para 83%, assim como "×" está para 17%. R$ 100,00 ----- 83% × ----------------- 17% × = 1700/83 × = R$ 20,48 Desse modo, note que o IPI com alíquota de 10% incidente sobre a venda a R$ 100,00 gera um preço final de R$ 110,00; já o ICMS, pela alíquota de 17%, incidente sobre uma venda que, sem o imposto, seria feita no valor de R$ 100,00, gera um preço final de R$ 120,48. Nessa análise, o cálculo do tributo "por dentro" faz com que a alíquota real seja superior à aparente, ou seja, nesse exemplo, o tributo termina por corresponder a mais de 20%, e não a 17%. Fonte: Adaptado de Machado (2008). BIAGIO, L. A. Como calcular o preço de venda. São Paulo: Manole, 2012. CONGAN, S. Custos e formação de preços: análise e prática. São Paulo: Atlas, 2013. CREPALDI, S. A. Curso básico de contabilidade de custos. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2018. HORNGREN, C. T.; DATAR, S. M.; FOSTER, G. Contabilidade de custos. 11. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. LEONE, G. Custos: planejamento, implantação e controle. 3. ed. 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