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Administração Judiciária Professora Me. Caroline Rodrigues Celloto Dante Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP D192a Dante, Caroline Rodrigues Celloto Administração judiciária / Caroline Rodrigues Celotto Dante. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 92 p.: il. Color. 1. Poder Judiciário - Administração. 2. Organização judiciária. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23 ed. 347.81012 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites Shutterstock, Google Images, Pixabay e Freepik. AUTORA Olá caro(a) aluno(a), Sou a professor Me. Caroline Rodrigues Celloto Dante e acompanharei vocês ao longo da nossa disciplina de Administração Judiciária. Para que vocês possam me conhecer, informarei algumas informações gerais dis- poníveis no meu Currículo Lattes. Sou formada em Direito pela Universidade Estadual de Maringá, especialista em: a) Direito do Trabalho e Direito Previdenciário, pelo IDCC - Instituto de Direito Constitucional e Cidadania; b) Docência no Ensino Superior, pelo UNICESUMAR; c) Tecnologias Aplicadas ao Ensino à Distância, pelo Centro Universitário Cidade Verde (UNICFV). Por fim, sou pro- fessora mestre, em Ciências Jurídicas, pelo UNICESUMAR. Atualmente sou professora universitária da graduação e também da pós-gradua- ção, além de advogada, em escritório particular. Caso vocês tenham interesse em conhecer maiores informações quanto à minha formação e atividades desenvolvidas no cenário acadêmico, fica o convite para acesso ao meu Currículo, na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/0182529445943282. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá querido(a) aluno(a), Iniciaremos o nosso estudo da disciplina de Administração Judiciária. Será um mo- mento para construirmos, em conjunto, debates e reflexões sobre a Administração Pública, com ênfase no Poder Judiciário. Nesse contexto, veremos conceitos gerais e características principais, relativas à Administração como todo e específicos do Poder Judiciário. Para tanto, na Unidade I falaremos sobre a Administração Pública, destacando seu conceito geral, os poderes e os princípios inerentes ao setor público, dentre os quais, a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência. Na Unidade II, por sua vez, veremos a chamada Separação de Poderes, afunilando nosso estudo para o Poder Judiciário, destacando, assim, a sua estrutura e organização. Já na Unidade III o estudo se concentrará na chamada jurisdição, atividade precípua do Poder Judiciário, cujo principal objetivo é a pacificação dos conflitos de interesse, ou seja, trata- -se de um poder-dever pertencente ao Estado de atuar diante de um conflito, para solucioná-lo. Por fim, na Unidade IV, falaremos sobre a importância da Administração Judiciária, estratégias de planejamento e gestão para que a atividade jurisdicional seja desenvolvida com maior eficiência, qualidade e celeridade. Desta feita, reitero o convite para que você entre nessa jornada comigo. Bons estudos! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 Da Administração Pública UNIDADE II ................................................................................................... 25 Do Poder Judiciário UNIDADE III .................................................................................................. 46 Da Jurisdição UNIDADE IV .................................................................................................. 67 Da Administração Judiciária 3 Plano de Estudo: ● Conceitos e Definições Gerais sobre Administração Pública; ● Princípios norteadores da Administração Pública; ● Poderes da Administração Pública; ● Gestão de Riscos na Administração Pública. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar a Administração Pública; ● Identificar os princípios norteadores e os poderes da Administração Pública; ● Analisar a gestão de riscos na Administração Pública. UNIDADE I Da Administração Pública Professora Me. Caroline Rodrigues Celloto Dante 4UNIDADE I Da Administração Pública INTRODUÇÃO Olá querido(a) aluno(a), Iniciaremos nosso estudo mediante a análise de temas gerais da Administração Pública. Para tanto, no primeiro tópico, veremos os conceitos introdutórios, as característi- cas e a finalidade da Administração Pública. O que é? Qual a abrangência? O que deve a Administração Pública fazer? Veremos estas e outras questões. Em sequência, falaremos sobre os princípios norteadores, ou seja, os aspectos basilares, os pontos que devem ser observados pela Administração Pública. Você sabe quais são essas diretrizes? Moralidade? Impessoalidade? Mais algum? Faremos a análise do significado e abrangência de cada um dos princípios fundamentais. Ainda nesta unidade, falaremos sobre os poderes da administração pública. São eles: discricionário, vinculado, normativo, hierárquico, disciplinar e de polícia. Já ouviu falar sobre eles? Sabe o respectivo significado? Por fim, falaremos sobre a gestão de riscos na administração pública. Animado(a)? Vamos começar! Bons estudos. 5UNIDADE I Da Administração Pública 1. DOS CONCEITOS INTRODUTÓRIOS, CARACTERÍSTICAS E FINALIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A Administração Pública, a grosso modo, é a responsável pelos serviços públicos, ou seja, é de responsabilidade da Administração Pública ordenar, satisfazer, proteger, assegurar, executar, fiscalizar, dentre outros, a realização dos serviços que assegurem os direitos básicos, as necessidades e o bem-estar da população. Dessa visão geral, é possível afirmar, que “os interesses envolvendo a atuação do Poder Público são diametralmente opostos àqueles que norteiam as atividades desen- volvidas pelos particulares” (SPITZCOVSKY; LENZA, 2021, e-book). Referidos autores complementam afirmando que: [...] pode-se afirmar que o único objetivo a ser perseguido pela Administração é a preservação dos interesses da coletividade, apresentando-se ela como gestora dos interessesdesta, mesma conclusão que se extrai como conse- quência da previsão estabelecida no mesmo art. 1o, segundo o qual o Brasil se apresenta como uma democracia, vale dizer, governo do povo. (SPITZCO- VSKY; LENZA, 2021, e-book) A Administração Pública, desta feita, é administradora, ou seja, gestora dos inte- resses do povo, que é o titular do poder, a fim de que esta atue em prol da preservação dos interesses da coletividade. Por conseguinte, quando a Administração Pública atua, possui não apenas direitos (por exemplo, legitimidade, autoexecutoriedade e imperatividade), mas também deveres e obrigações que não se estendem aos particulares. 6UNIDADE I Da Administração Pública Quanto ao conceito e finalidade da Administração Pública, José Maria Madeira afirma que: “[...] Administração Pública vai ser justamente o instrumento empregado pelo Estado para poder atingir suas finalidades. É, portanto, o instrumento de concretização da vontade estatal”, complementando dizendo que “os fins da Administração Pública, sendo esta entendida como o meio pelo qual se caracterizam os atos de governo, resumem-se na defesa do interesse público” (MADEIRA, 2014). Referido Autor - José Maria Madeira - nos aponta, igualmente, uma distinção quanto à utilização do termo “Administração Pública”, com letras maiúsculas e minúsculas, para fins didáticos: Administração Pública (letras maiúsculas) Administração Pública (letras minúsculas) Conjunto de órgãos e entidades que exercem a função administrativa do Estado. É o Estado- administração. Tem ligação com a função administrativa do Estado. É a função que o Estado exerce, distinta das funções legislativas e jurisdicionais. Fonte: MADEIRA, 2014. Para tanto, a Administração Pública, nas quatro esferas de governo, isto é, federal, estadual, municipal e distrital, é composta de uma estrutura direta e indireta, conforme aponta o art. 37, da Constituição Federal (BRASIL, 1988): “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- cípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...]”. Mas, afinal, qual seria essa estrutura? Como seria composta? A Administração direta é composta, em essência, por órgãos que são instrumentos da vontade estatal desprovidos, como regra, de personalidade jurídica. O Decreto-lei 200/67, em seu artigo 4o, I, assim aponta: “A Administração Federal compreende: I- a administração direta, que se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da República e dos ministérios”. Por sua vez, a Administração indireta da Administração Pública é composta de pessoas jurídicas, conforme art. 4o, II, do Decreto Lei 200/67: “A Administração Federal compreende: II- a Administração Indireta, que compreende as seguintes entidades, dotadas de personalidade jurídica própria”. Quanto à indireta, é imprescindível que sua criação e extinção decorram de lei de iniciativa do Poder Executivo, nos termos do art. 37, da Constituição Federal (BRASIL, 1988): 7UNIDADE I Da Administração Pública Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos prin- cípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de funda- ção, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação; XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de subsi- diárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim como a partici- pação de qualquer delas em empresa privada; Seja em relação à Administração Pública direta ou indireta, não se pode perder de vista que o objetivo norteador deve ser a prestação dos serviços públicos. No caso da indireta, soma-se a esse objetivo, a exploração de atividade econômica. Como integrantes da estrutura indireta da Administração, ou seja, pessoas jurídicas dotadas de personalidade jurídicas, é possível citar: a) autarquias, que são pessoas jurídicas de direito público, criadas para a presta- ção dos serviços públicos, que contam com capital exclusivamente público, por exemplo, o INSS - Instituto Nacional de Seguro Social; b) agências reguladoras, que são espécies de autarquias, cujo objetivo é a regula- mentação, o controle e a fiscalização da execução dos serviços públicos transferidos para o setor privado, por exemplo, ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica; c) associações públicas: ligadas à celebração de consórcios públicos, nos termos do art. 241, da Constituição Federal; d) conselhos profissionais, por exemplo, CRM, CREA; e) fundações, que consistem em pessoas jurídicas dotadas de patrimônio persona- lizado, tendo finalidade específica, por exemplo, Fundação Butantã, FUNAI; f) agências executivas; g) empresas públicas, que são pessoas jurídicas de direito privado, criadas para a prestação de serviços públicos ou para a exploração de atividades econômicas, que são constituídas exclusivamente por capital público e sob qualquer modalidade empresarial. Exemplos: BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Caixa Eco- nômica Federal, INFRAERO; h) sociedades de economia mista, que são pessoas jurídicas de direito privado, criadas para a prestação de serviços públicos ou para a exploração de atividades econômi- cas, que são constituídas por capital misto e constituídas apenas como sociedade anônima. Exemplos: Banco do Brasil, PETROBRAS, COHAB (Companhia de Habitação Popular). A Administração Pública, por consequência, não pode perder de vista a finalidade precípua, que é a prestação de serviços, sendo que a atuação deve ser pautada, dentre outros aspectos, pelos princípios, que serão analisados no tópico seguinte. 8UNIDADE I Da Administração Pública 2. DOS PRINCÍPIOS QUE ABRANGEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA No tópico anterior, falamos sobre o contexto geral de Administração Pública, e vimos que a conduta deve ser pautada visando o bem-estar social, assegurar os direitos e necessidades básicas da população, mediante a prestação de serviços públicos. Mas, a conduta pode ser indiscriminada? A Administração Pública pode fazer tudo para prestar os serviços públicos? Há diretrizes basilares? A Administração Pública possui princípios que direcionam suas ações. Esses princípios estão dispostos na Constituição da República Federativa do Brasil, no artigo 37 (BRASIL, 1988). Eles são conhecidos como: impessoalidade, legalidade, eficiência, moralidade e publicidade. Afinal, o que são princípios? Porque são tão importantes? Os princípios, segundo Miguel Reale, são enunciados admitidos como condição ou como base de validade das demais normativas, ou seja, são “verdades fundantes” de um determinado sistema (REALE, 2003, p. 303). Alexandre Mazza corrobora afirmando que os princípios: São regras que a doutrina identifica como condensadoras dos valores funda- mentais de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para exata compreensão e inteligência delas, exatamente porque de- fine a lógica e a racionalidade do sistema normativo, conferindo-lhes a tônica que lhes dá sentido harmônico. (MAZZA, 2020, e-book) Assim, observamos que os princípios fundamentam todo um sistema, devendo orientar a sua criação, interpretação e aplicação de suas regras. 9UNIDADE I Da Administração Pública Vários são os princípios aplicados ao Direito administrativo, contudo, para os que compreendem melhor, é imprescindível uma breve explanação acerca do que é interesse público. Interesse público é o somatório dos interesses individuais representando avontade da maioria na sociedade. Ele se divide em: a) Interesse público primário: refere-se à vonta- de social, isto é, à vontade do povo; b) Interesse público secundário: a vontade do Estado, enquanto pessoa jurídica. O art. 37 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) elenca cinco princípios da Administração Pública, são eles: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Esses princípios são os chamados princípios mínimos da Administração Pública. Vejamos sinteticamente cada um deles: a) Princípio da Legalidade Cumpre mencionar que o Brasil trata-se de Estado Democrático de Direito e, como tal, aponta como um direito fundamental que: “Art. 5o, II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (BRASIL, 1988). A doutrina aponta que: Trata-se, como se observa, de uma regra vital, porque está a revelar que a imposição de comportamentos unilaterais pelo Poder Público só será possí- vel se tiver respaldo em lei, impedindo, dessa forma, a legitimação de atitu- des arbitrárias por parte dos detentores desse poder. (SPITZCOVSKY; LEN- ZA, 2021, e-book) Referido autor corrobora dizendo que: Em outras palavras, essa regra consubstancia, simultaneamente, uma salva- guarda para o direito dos administrados e uma limitação, uma fronteira para a atuação dos detentores desse do Poder Público. [...] Em outro dizer, conclui- -se, com meridiana clareza, que não existe interesse público que se legitime sem que apresente apoio em lei. (SPITZCOVSKY; LENZA, 2021, e-book) É possível afirmar, por consequência, que a legalidade para a Administração Públi- ca é diferente da legalidade do particular. Para o particular, a regra é que ele pode fazer tudo, salvo o que estiver expressa- mente proibido, vedado em lei. Já para o Direito Público, especificamente para o Direito Administrativo, a regra é contrária. Neste, o Administrador só poderá fazer aquilo que a lei, expressamente, autorizar. Diante do referido cenário, a doutrina afirma que: “no campo do direito privado a ati- vidade desenvolvida pelos particulares deve pautar-se por uma relação de não contradição com a lei, enquanto para o Poder Público trata-se de uma relação de subordinação para com ela” (SPITZCOVSKY; LENZA, 2021, e-book). 10UNIDADE I Da Administração Pública Por fim, cumpre mencionar que o princípio da legalidade vem sendo interpretado em sentido amplo, o que significa dizer que obedecer ao princípio da legalidade é controlar e aplicar a legalidade em seu sentido amplo; é controlar a aplicação da lei e também con- trolar as regras constitucionais. b) Princípio da impessoalidade Segundo este princípio, o Poder Público deve manter uma posição neutra em relação aos administrados, ou seja, somente é possível produzir discriminações que se justifiquem em vista do interesse público. Como decorrência do princípio, é possível citar a necessidade de licitação para contratação de serviços, para que seja possível a escolha com base apenas na proposta mais vantajosa para o interesse público. Outro exemplo possível: concurso público.O Administrador escolhe o melhor candi- dato independentemente de interesses pessoais, o que significa agir de forma impessoal. Este princípio exige ausência de subjetividade. O Administrador não pode agir com interesse pessoal. Alexandre Mazza (2021, e-book) afirma que: “O princípio da impessoalidade esta- belece um dever de imparcialidade na defesa do interesse público, impedindo discrimina- ções (perseguições) e privilégios (favoritismo) indevidamente dispensados a particulares no exercício da função administrativa”. Desta feita, é possível afirmar que, segundo este princípio, deve o administrador público praticar o ato para que seja atingido o seu fim legal, ou seja, o objetivo do ato ad- ministrativo, de forma impessoal. Deve, por consequência, agir visando atingir a finalidade pública prevista em lei, agindo com impessoalidade e objetividade. c) Princípio da moralidade A moralidade está prevista no art. 37, caput, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), como princípio fundamental aplicável à Administração Pública, ou seja, é possível afirmar, segundo Alexandre Mazza, que “a moralidade administrativa constitui requisito de validade do ato administrativo” (MAZZA, 2020, e-book). É por força deste princípio que o Administrador deve ser bom o suficiente para escolher o melhor caminho, a melhor alternativa. Não basta que o administrador pratique seus atos de forma correta, tem de fazê-los da melhor maneira possível. Assim aponta Alexandre Mazza (2020, e-book): 11UNIDADE I Da Administração Pública O princípio jurídico da moralidade administrativa não impõem o dever de aten- dimento à moral comum vigente na sociedade, mas exige respeito a padrões éticos, de boa-fé, decoro, lealdade, honestidade e probidade incorporados pela prática diária ao conceito de boa administração. Referido entendimento é sedimentado pela Lei 9.784/99 (BRASIL, 1999), em seu art. 2o, parágrafo único, IV, ao definir a moralidade nos processos administrativos como um dever de “atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé”. Ainda segundo a referida legislação, trata-se de um dever imposto também aos administrados “proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé” (art. 4o, II, da Lei 9.784/99). d) Princípio da Publicidade O princípio da publicidade está ligado diretamente com o dever de divulgação oficial dos atos administrativos, previsto no art. 2o, parágrafo único, V, da Lei n. 9.784/99 (BRASIL, 1999). Segundo Alexandre Mazza, “tal princípio encarta-se num contexto geral de livre acesso dos indivíduos a informações de seu interesse e de transparência na atuação ad- ministrativa” (2020, e-book). Logo, podemos afirmar que, o princípio da publicidade significa transparência, divul- gação, conhecimento, controle, visando dar conhecimento ao titular do direito, que é o povo. Trata-se de coerência de um sistema no qual o Administrador é escolhido pelo povo para representar os interesses deste, devendo, portanto, a comunicação e satisfação de todos os seus atos como exercente de uma função pública. Como exemplo de incidência do princípio da publicidade é possível citar a previsão do art. 5o, XXXIII, CF (BRASIL, 1988): “XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”. Além disso, segundo o aludido princípio, os agentes públicos, uma vez que atuam na defesa dos interesses da coletividade, não podem exercer condutas sigilosas e atos secretos. Isso porque, ao dever estatal de garantir a publicidade de seus atos, corresponde o direito do administrado de ter ciência da tramitação de processos administrativos em que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter cópia de documentos neles contidos e conhecer as decisões proferidas (BRASIL, 1999, art. 3o, II, Lei n. 9.784/99). A doutrina aponta que são diversas as finalidades que são almejadas através do cumprimento do princípio, como, por exemplo: a) exteriorização da vontade da Adminis- tração Pública, a fim de que haja o conhecimento público; b) presunção de conhecimento dos atos pelos interessados e consequente possibilidade de tornar o conteúdo exigível; c) impedir a alegação de ignorância quanto ao conteúdo do ato; d) permitir o controle de legalidade do comportamento (MAZZA, 2020, e-book). 12UNIDADE I Da Administração Pública e) Princípio da Eficiência O princípio da eficiência foi acrescentado no art. 37, caput, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), pela Emenda Constitucional n. 19/98. A intenção é que haja “economici- dade, redução de desperdícios, qualidade, rapidez, produtividade e rendimento funcional” (MAZZA, 2021, e-book). Um serviço adequado, portanto, tem queser eficiente. Eficiência começa com ausência de desperdícios e com certeza de produtividade. Também há necessidade de agilidade e economia, esta última entendida como gastar o menor valor para se obter o melhor resultado possível. A eficiência envolve os meios e os resultados. Alexandre Mazza, contudo, traz uma reflexão sobre o tema, de suma relevância: [...] o princípio da eficiência não pode ser analisado senão em conjunto com os demais princípios do Direito Administrativo. A eficiência não pode ser usa- da como pretexto para a Administração Pública descumprir a lei. Assim, o conteúdo jurídico do princípio da eficiência consiste em obrigar a Adminis- tração Pública a buscar os melhores resultados por meio da aplicação da lei. (MAZZA, 2020, e-book). Embora o art. 37 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) aponte apenas esses cin- co princípios mínimos a que a Administração Pública deve sempre observar, eles não são os únicos. Assim, o estudo dos demais princípios é de fundamental importância. Vejamos alguns outros princípios essenciais aplicáveis à Administração Pública: Princípio da supremacia do interesse público O princípio da supremacia do interesse público sobre o privado, ou apenas, princípio do interesse público ou da finalidade pública, é princípio implícito na atual ordem jurídica, segundo o qual Os interesses da coletividade são mais importantes que os interesses in- dividuais, razão pela qual a Administração, como defensora dos interesses públicos, recebe da lei poderes especiais não extensivos aos particulares. (MAZZA, 2020, e-book) Como exemplos decorrentes da incidência do princípio, é possível apontar: a) pos- sibilidade de transformar compulsoriamente a propriedade privada em pública, ou seja, a chamada desapropriação; b) autorização para utilização da propriedade privada em situações de iminente perigo público (requisição de bens), por exemplo, requisição de veículo particular pela política para perseguir criminoso; c) prazos processuais em diferenciados para contestar, recorrer e responder recursos; d) presunção de legitimidade dos atos administrativos. Vale lembrar que a superioridade deve ser do interesse público e não do adminis- trador público. 13UNIDADE I Da Administração Pública g) Princípio da indisponibilidade O princípio da indisponibilidade do interesse público “enuncia que os agentes públi- cos não são donos do interesse por eles defendido” (MAZZA, 2020, e-book), impondo, por conseguinte, que os agentes públicos atuem conforme determinado pela legislação, e não segundo a própria vontade. O administrador público exerce uma função pública, e, como tal, atua em nome e no interesse do povo. Significa dizer que o Direito não é dele, o interesse não é dele, portanto, desse direito ele não pode dispor. Infere-se, assim, que o princípio da indisponibilidade decorre do fato de que o Administrador exerce atividade em nome e no interesse do povo. Para entendermos melhor, utilizaremos o seguinte exemplo: a licitação serve para que a Administração Pública possa escolher a melhor proposta, isto é, a proposta mais vantajosa ao interesse público. A licitação, portanto, proporciona a possibilidade de se escolher a melhor proposta, se o Administrador abre mão da oportunidade de escolher a mais vantajosa, ele abre mão do interesse público, violando-se, assim, o princípio da indisponibilidade. h) Princípio da participação O referido princípio está previsto no art. 37, § 3o, da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Segundo Alexandre Mazza, de acordo com tal princípio A lei deverá estimular as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente: a) reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral; b) o acesso dos usuários a regis- tros administrativos e informações sobre atos de governo; c) a disciplina da representação contra o exercício negligente ou abusivo do cargo, emprego ou função da Administração Pública. (MAZZA, 2021, e-book) Portanto, deve ser assegurada a participação da coletividade quanto aos atos pra- ticados pela Administração Pública. i) Princípio da celeridade processual Trata-se de princípio constitucional, previsto no art. 5o, LXXVIII, CF (BRASIL, 1988). Segundo o referido princípio, deve ser assegurado a todos, seja no âmbito judicial ou administrativo, a razoável duração do processo e os meios que garantam celeridade na sua tramitação. 14UNIDADE I Da Administração Pública j) Princípio do devido processo legal O princípio está previsto no art. 5o, LIV, da CF, segundo o qual “LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” (BRASIL, 1988). Segundo a doutrina, o princípio comporta dois aspectos, ambos válidos no Direito Administrativo, quais sejam: a) devido processo legal, segundo o qual, é preciso que haja cumprimento de um rito predefinido na lei, e, tal exigência é condição de validade da deci- são; b) devido processo legal material ou substantivo, que impõe que a decisão final seja justa, adequada e proporcional (MAZZA, 2021, e-book). k) Princípio do contraditório e da ampla defesa Os princípios do contraditório e da ampla defesa estão previstos na Constituição Federal (BRASIL, 1988), em seu art. 5o, LV, que assim dispõe: “LV - aos litigantes, em pro- cesso judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Segundo o princípio do contraditório, “as decisões administrativas devem ser tomadas considerando a manifestação dos interessados” (MAZZA, 2021, e-book), ou seja, é preciso assegurar o direito das partes serem ouvidas no processo, antes do julgamento final. Por outro lado, e, em complementação, o princípio da ampla defesa assegura aos litigantes, seja no processo judicial ou administrativo, que sejam utilizados todos os meios de prova, de recursos, bem como, os instrumentos necessários para a defesa de seus interesses (MAZZA, 2021, e-book). A doutrina aponta, ainda, outros princípios, como, por exemplo, princípios da auto- tutela, da obrigatória motivação, da finalidade, da razoabilidade, da proporcionalidade, da responsabilidade, da segurança jurídica, da boa-administração, da continuidade do serviço público, da presunção da legitimidade, da especialidade. São princípios infraconstitucionais, razão pela qual sugere-se à complementação do estudo. 15UNIDADE I Da Administração Pública 3. DOS PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Vimos ao longo dos tópicos anteriores, que a Administração Pública deve atuar em prol do interesse público e que sua conduta deve ser lastreada com base em diversos princípios. Mas, não apenas isso. Veremos ao longo deste tópico que, para que haja o adequado cumprimento das suas atribuições, a Administração Pública possui competências especiais, que são consideradas poderes-deveres instrumentais para a defesa do interesse público. São os seguintes poderes-deveres, trazidos pela doutrina: a) Vinculado Segundo este poder, “quando a lei atribui determinada competência definindo todos os aspectos da conduta a ser adotada, sem atribuir margem de liberdade para o agente público escolher a melhor forma de agir” (MAZZA, 2020, e-book), este deve executar a vontade legal, ou seja, não há margem de escolha. Ou seja, considera-se ato vinculado aquele resultante do exercício dessa competência. Como exemplo, é possível citar o ato de realização do lançamento tributário, pre- visto no art. 3o, do CTN. 16UNIDADE I Da Administração Pública b) Discricionário Neste poder, é reservada à Administração Pública, margem de liberdade, “para que o agente público, diante da situação concreta, possa selecionar entre as opções predefi- nidas qual a mais apropriada para defender o interesse público” (MAZZA, 2020, e-book). Considera-se, portanto, ato discricionário, o ato praticado no exercício de competência assimconferida. Como exemplo, é possível citar o decreto expropriatório. c) Disciplinar O poder disciplinar, por sua vez, “consiste na possibilidade de a Administração aplicar punições aos agentes públicos que cometam infrações funcionais” (MAZZI, 2021, e-book). Trata-se, desta feita, de um poder interno (somente pode atingir agentes públicos), não permanente (incide apenas quando o servidor cometer falta funcional) e discricionário (a administração pode escolher, respeitando os limites previstos na legislação, qual a puni- ção mais apropriada). d) Hierárquico Segundo este princípio, é possível que o Executivo faça a distribuição e o escalo- namento das funções dos seus órgãos, assim como, rever a atuação dos agentes, a fim de que seja estabelecida relação de subordinação entre os servidores e o quadro de pessoal (MEIRELLES, 2020, p. 117). Segundo Alexandre Mazza, É um poder interno e permanente exercido pelos chefes de repartição so- bre seus agentes subordinados e pela administração central em relação aos órgãos públicos consistentes nas atribuições de comando, chefia e direção dentro da estrutura administrativa. (MAZZA, 2020, e-book) Assim como no poder anteriormente analisado, considera-se interno, porque não se aplica a particulares. A grande diferença entre o disciplinar e o hierárquico, é que o poder hierárquico é exercido de forma permanente, e não em caráter episódico. e) Regulamentar A doutrina aponta que o poder regulamentar decorre do poder hierárquico, já que “consiste na possibilidade de os chefes do Poder Executivo editarem atos administrativos gerais e abstratos, ou gerais e concretos, expedidos para dar fiel execução à lei” (MAZZA, 2021, e-book). 17UNIDADE I Da Administração Pública Possibilita, portanto, a criação de diversos atos abstratos, como, por exemplo, regimentos, instruções, deliberações, resoluções e portarias. Em situações excepcionais, admite-se atos regulamentares gerais e concretos, como, por exemplo, “os regulamentos revogadores expedidos com a finalidade específica de extinguir ato normativo anterior” (MAZZA, 2020, e-book). f) De polícia O Poder de Polícia é apontado pela doutrina como uma das três funções precípuas da Administração Pública, sendo que, aludido poder, “representa uma atividade estatal restritiva dos interesses privados, limitando a liberdade e a propriedade individual em favor do interesse público” (MAZZA, 2020, e-book). Alexandre Mazza aponta que o Poder de Polícia possui duas acepções distintas: Poder de Polícia em sentido amplo Poder de Polícia em sentido restrito Inclui qualquer limitação estatal à liberdade e propriedade privadas, englobando restrições legislativas e limitações administrativas. Inclui somente as limitações administrativas à liberdade e propriedade privadas, deixando de fora as restrições impostas por dispositivos legais. Exemplos: vigilância sanitária e polícia de trânsito. Fonte: MAZZA, 2021, e-book. Contudo, a questão não é unânime na doutrina, sendo que a maioria aponta apenas a vinculação do poder de polícia em sentido restrito. Para Hely Lopes Meirelles, por exemplo, o poder de polícia “é a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, ativida- des e direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado”. (MEIRELLES, 2020, p. 127). Já Alexandre Mazza traz a seguinte definição: Poder de Polícia é a atividade da Administração Pública, baseada na lei e na supremacia geral, consistente no estabelecimento de limitações à liberdade e propriedade dos particulares, regulando a prática de ato ou a abstenção de fato, manifestando-se por meio de atos normativos ou concretos, em benefí- cio do interesse público. (MAZZA, 2020, e-book) Por fim, é possível citar a definição trazida por Celso Spitzcovsky e Pedro Lenza, para quem, “poder de polícia é definido como aquele de que dispõe a Administração para condicionar, restringir, limitar e frenar atividades e direitos de particulares para a preserva- ção dos interesses da coletividade” (SPITZCOVSKY; LENZA, 2021, e-book). 18UNIDADE I Da Administração Pública Diante dos conceitos apresentados, é possível afirmarmos que o exercício do aludi- do poder de polícia decorre da supremacia do interesse público sobre o particular. Cumpre mencionar, por fim, que o art. 78, do CTN, traz uma conceituação expressa do poder de polícia. g) Normativo Por fim, veremos o conceito do poder normativo. Segundo Celso Spitzcovsky e Pedro Lenza, “o poder normativo ou regulamentar pode ser definido pela faculdade atribuída ao administrador para a expedição de decretos e regulamentos” (2021, e-book). Contudo, ainda segundo a doutrina, os decretos e os regulamentos, “não podem inovar no ordenamento jurídico, mas, tão somente oferecer à lei fiel execução, vale dizer, o melhor detalhamento” (SPITZCOVSKY; LENZA, 2021, e-book). Com isso, terminamos a análise relativa aos poderes da Administração Pública. 19UNIDADE I Da Administração Pública 4. DA GESTÃO DE RISCOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Ao longo dos tópicos anteriores, vimos que a Administração Pública deve agir em prol do interesse público, e que sua conduta deve ser lastreada por diversos princípios. Mas, não apenas obrigações foram conferidas à Administração Pública para que seja atingida a finalidade, também foram assegurados alguns poderes-deveres. Ocorre que, não basta tais previsões, é preciso que haja uma gestão na Adminis- tração Pública, que vise o auxílio na tomada de decisões, por exemplo, levando em conta, os riscos ambientais, de saúde, econômicos, dentre outros. Trata-se da chamada gestão de riscos na Administração Pública. O setor público trabalha com os riscos iminentes por meio de deveres, que se tornam direitos para os cidadãos, como a educação, a saúde, a moradia e a segurança. A tentativa da administração pública é gerir os riscos de forma que se consiga diminuir os custos com atividades incertas, aumentando benefícios oferecidos para a sociedade, considerando sempre que a essência do serviço público é o bem-estar da sociedade. Importante, contudo, conhecermos as ideias gerais atreladas à chamada Gestão de Riscos. Segundo Lorena Lucena Furtado, os riscos “caracterizam-se pela probabilidade de ocorrência detectada de acontecimentos de determinado risco”, ou seja, são “fatores que podem ser previstos, fazendo com que a entidade saiba como se comportar quando estes de fato ocorrerem” (2020, e-book). 20UNIDADE I Da Administração Pública Quanto aos riscos existentes no contexto da Administração Pública, é possível afirmar que: O governo enfrenta riscos em muitas de suas funções: por exemplo, na sua função de proteger os direitos públicos, de criar condições para a prosperi- dade econômica, de preservar a integridade do meio ambiente, de tomar me- didas para melhorar a saúde humana ou na prestação de serviços governa- mentais. (ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, 2003, p. 15) Portanto, a gestão de riscos seria um mecanismo para que seja garantida a boa governança, igualmente aplicável à Administração Pública, isso porque, a adoção de uma gestão de riscos permanente tende a melhorar os processos de tomada de decisão frente aos riscos para se obter, consequentemente, melhores resultados. Ou seja, “o objetivo da gestão de riscos é aumentar os benefícios e reduzir os custos das atividades cujos resultados são incertos”. (ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, 2003, p. 15) Ademais, o gerenciamento de riscos é apontado como parte fundamental da go- vernança, uma vez que se trata de instrumento de apoio à tomada de decisão, visando melhorar o desempenho da organização (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2007). À luz do exposto, é possível citar como fatores importantes para que haja a gestão de riscos (ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, 2003, p. 17-18): a) a ges- tão de riscos reduza probabilidade e a severidade de eventos negativos e indesejáveis; b) abre portas para a inovação, considerando, por exemplo, inovações sociais e tecnológicas. Mas, é preciso ter cautela, ou seja, para que sejam tomadas decisões por servidores públicos “inovadores” que envolvam riscos desnecessários. Portanto, é necessário que este servidor possua habilidades e competências necessárias para gerenciar referidos riscos. Podemos afirmar, como consequência, que o gerenciamento de riscos é parte inte- grante das boas práticas administrativas, seja no setor privado ou público. É fundamental, então, aprender a gerenciar os riscos de forma eficiente e eficaz, pois possibilita que a instituição melhore os resultados que apresenta. Isso é possível a partir da identificação, da análise e do monitoramento dos fatores de riscos que podem gerar impactos negativos, de forma a possibilitar que estes sejam evitados, controlados ou mesmo transformados em oportunidades. Para tanto, é preciso executar o gerenciamento de riscos de forma organizada e estruturada, bem como, procurar motivar a capacitação e envolvimento das pessoas, pois isso possibilita que sejam identificadas as oportunidades, melhorando os processos adotados, por intermédio, por exemplo, da inovação. 21UNIDADE I Da Administração Pública SAIBA MAIS Como complementação do estudo, sugere-se a leitura do seguinte artigo “Gestão de Riscos e Coronavírus”, da autora Natascha Cima. Poderia ter havido uma gestão de riscos mais efetiva por parte da Administração Pública? Era possível identificar o risco iminente? Fonte: CIMA, NATASCHA. Gestão de Riscos e Coronavírus. Antissuborno QMS, 1 abr. 2020. Disponível em: https://antissuborno.com.br/gestao-de-riscos-e-coronavirus/. Acesso em: 31 agosto 2021. REFLITA No atual contexto, estamos vendo diariamente notícias relacionadas à pandemia causa- da pelo coronavírus. A gestão de riscos, se realizada de forma eficaz, poderia ter previs- to ou mesmo o condão de mitigar as consequências advindas pelo cenário? Fonte: a autora. https://antissuborno.com.br/gestao-de-riscos-e-coronavirus/ 22UNIDADE I Da Administração Pública CONSIDERAÇÕES FINAIS Olá querido(a) aluno(a), Ao longo da primeira unidade, vimos alguns aspectos fundamentais da Adminis- tração Pública. Começamos o estudo traçando conceitos e características gerais, em sequência, vimos os princípios norteadores, os poderes atinentes à Administração Pública, e, por fim, a gestão de riscos. Quando falamos em Administração Pública é essencial que haja a seguinte vin- culação: interesse público. Isso porque, como vimos, o objetivo a ser perseguido é a preservação dos interesses da coletividade, uma vez que a Administração Pública é a gestora de tais interesses. Desta feita, toda a ação, da Administração Pública, direta e indireta, deve ser pau- tada, tendo, por vista, tal finalidade precípua. Os princípios, neste contexto, objeto de estudo do nosso segundo tópico, funcio- nam como norteadores, ou seja, como aspectos a serem analisados e observados, seja na formação de uma lei, na aplicação ou na interpretação da mesma. São verdades fundantes, expressam os valores fundamentais de todo o ordenamento. Analisamos, neste contexto, diversos princípios, dentre os quais, o princípio da supremacia do interesse público, que demonstra conexão direta com a finalidade precípua da Administração Pública, qual seja, assegurar o interesse público. Ainda, neste contexto, vimos que a Administração Pública possui diversos poderes, que foram outorgados para que os atos administrativos sejam norteados. Foram eles: vin- culado, hierárquico, disciplinar, discricionário, regulamentar, de polícia e normativo. Por fim, vimos que é essencial que haja uma gestão de riscos na condução dos atos administrativos, ou seja, na atuação da Administração Pública como um todo, pois, desta feita, será possível identificar os riscos e atingir melhores resultados. 23UNIDADE I Da Administração Pública LEITURA COMPLEMENTAR Como complementação do estudo, sugere-se a leitura do seguinte artigo: Gonçalves, Tânia Carolina Nunes Machado e Varella, Marcelo D.Os desafios da Administração Pública na disponibilização de dados sensíveis. Revista Direito GV [online]. 2018, v. 14, n. 2,, pp. 513-536. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2317-6172201821. Acesso em: 31 agosto 2021. 24UNIDADE I Da Administração Pública MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Administração Pública: modelos, conceito, reformas e avanços para uma nova gestão. Autor: Nivaldo Vieira Lourenço. Editora: Intersaberes Sinopse: Para entender o atual cenário da administração pública no Brasil e sua evolução nos últimos tempos, é preciso perceber como os principais fatos e mudanças das últimas décadas interfe- riram nas formas de gestão então presentes e provocaram tran- sições de um modelo patrimonialista para um burocrático e, mais recentemente, gerencial. Devemos refletir sobre as relações do Estado, do mercado e da sociedade, a fim de atuar de forma cons- ciente, tanto como profissionais quanto como cidadãos. Discutir as funções do Estado e a aplicação dos princípios da Administração Pública é, sem dúvida, uma tarefa imprescindível. FILME / VÍDEO Título: O homem que mudou o jogo. Ano: 2011. Sinopse: Baseado em fatos reais, O Homem que Mudou o Jogo é a história de Billy Beane (Brad Pitt), gerente do time de baseball Oakland Athletics. Com pouco dinheiro em caixa e a ajuda de Peter Brand (Jonah Hill), ele desenvolve um sofisticado programa de estatísticas para o clube, fazendo com que ficasse entre as principais equipes do esporte nos anos 80. 25 Plano de Estudo: ● Conceitos e Definições de Introdutórias relativas ao Poder Judiciário; ● Estudo sobre a Organização e Estrutura do Poder Judiciário; ● Normas Constitucionais relativas ao Poder Judiciário; ● Análise da organização do Poder Judiciário, de acordo com as respectivas competências. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar o Poder Judiciário e analisar as respectivas noções introdutórias; ● Compreender a Estrutura e a Organização do Poder Judiciário; ● Apontar as normas previstas na Constituição Federal, bem como, ressaltar a organização do Poder Judiciário de acordo com suas competências. UNIDADE II Do Poder Judiciário Professora Me. Caroline Rodrigues Celloto Dante 26UNIDADE I Da Administração Pública 26UNIDADE II Do Poder Judiciário INTRODUÇÃO Olá, querido(a) aluno(a), Em nossa primeira unidade do presente material, falamos sobre a Administração Pública como um todo, destacando o seu conceito geral, princípios, poderes e também a necessidade de uma gestão de riscos efetiva. Agora em nossa segunda unidade, iremos afunilar o estudo, enfatizando o Poder Judiciário. Afinal, do que se trata o Poder Judiciário? Qual sua principal atribuição? Como deve ser organizado? O nosso estudo, portanto, será dividido em quatro partes: no primeiro momento, falaremos sobre a definição do Poder Judiciário e suas noções introdutórias; em seguida, veremos a organização e a estrutura do Poder Judiciário; no terceiro tópico, das normas previstas na Constituição Federal de 1988 sobre o tema e; por fim, da organização do Poder Judiciário, levando em consideração as suas competências. E, aí? Animado(a)? Vamos começar! 27UNIDADE I Da Administração Pública 27UNIDADE II Do Poder Judiciário 1. DA DEFINIÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO E NOÇÕES INTRODUTÓRIAS Na contemporaneidade, prevalece a ideia da separação dos poderes, isto é, deve haver uma atuação harmônica e autônoma entre os Poderes, quais sejam: Executivo, Le- gislativo e Judiciário. Referida divisão, em verdade, teve as primeiras bases teóricas, na Antiguidade Grega, na obra Política, de Aristóteles, que já apontava três funções distintas exercidas pelo soberano: edição de normas gerais que deveriam ser observadas por todos, a de aplicação das referidas normas ao caso concreto e a funçãode julgamento. A teoria de Aristóteles foi sendo aprimorada com o passar do tempo, tendo como outro marco, a obra O Espírito das Leis, de Montesquieu, segundo a qual, cada função corresponderia a um órgão específico, ou seja, não mais se concentraria nas mãos do soberano. Portanto, De acordo com essa teoria, cada Poder exercia uma função típica, inerente à sua natureza, atuando independente e autonomamente, não mais sendo permitido a um único órgão legislar, aplicar lei e julgar, de modo unilateral, como se percebia no absolutismo. (MAZZA, 2020, e-book) A finalidade, por consequência, é assegurar a liberdade, ou seja, evitar que haja a concentração de poder, exercido por uma mesma pessoa ou grupo de poderes. Assim, me- diante a separação de poderes, impõe-se que haja um consenso das autoridades estatais na tomada de decisões, bem como, criam-se mecanismos de fiscalização e responsabiliza- ção recíproca, através dos “freios e contrapesos”. 28UNIDADE I Da Administração Pública 28UNIDADE II Do Poder Judiciário O nosso foco de estudo, nesta unidade, atrela-se ao Poder Judiciário. A doutrina afirma no seguinte sentido, a respeito da visão geral: [...] o Judiciário aponta no horizonte como não apenas um organismo direcio- nado a resolver conflitos de interesses surgidos na sociedade, mas também como ordenador da respeitabilidade dos direitos humanos fundamentais, seu garante último, inclusive contra o próprio Estado-administrador, ou Estado-le- gislador ou, ainda, Estado-Executivo. (TAVARES, 2012, e-book). Mas, afinal, o que seria o Poder Judiciário? O Poder Executivo? O Poder Legislativo? Em início, é preciso ressaltar que cada um dos Poderes exerce as chamadas fun- ções típicas, ou seja, atividades predominantes, inerentes e ínsitas à sua natureza, mas também funções atípicas, que são típicas dos outros órgãos. Desta feita, é possível a “conceituação” de um e de outro, com base nas atividades típicas por ele desenvolvidas, quais sejam: LEGISLATIVO EXECUTIVO JUDICIÁRIO Legislar; Fiscalização contábil, financeira, orçamentária e patrimonial do Executivo. Prática de atos de chefia de Estado, chefia de governo e atos de administração. Julgar (função jurisdicional) dizendo o direito no caso concreto e dirimindo os conflitos que lhe são levados, quando da aplicação da lei. Fonte: MAZZA, 2020, e-book. E quanto às funções atípicas? Seria possível, a título de exemplificação, apontar a seguinte menção: LEGISLATIVO EXECUTIVO JUDICIÁRIO Natureza executiva: ao dispor sobre organização, provendo car- gos, concedendo licenças, etc. Natureza jurisdicional: o Senado é o responsável por julgar o Pre- sidente da República, nos crimes de responsabilidade, conforme art. 52, I, da CF/88. Natureza legislativa: o Presiden- te da República, por exemplo, adota medida provisória, com força de lei, nos termos do art. 62, da CF/88; Natureza jurisdicional: o Execu- tivo julga, apreciando defesas e recursos administrativos. Natureza legislativa: regimento interno dos tribunais, nos termos do art.96, I, “a”, da CF/88; Natureza executiva: administra, por exemplo, ao conceder férias e licenças aos magistrados, nos termos do art. 96, I, “f”, da CF/88. Fonte: MAZZA, 2020, e-book. À luz da menção acima, podemos dizer que: o Poder Legislativo é aquele que atua, em essência, na edição de regras gerais, abstratas, impessoais e inovadoras, ou seja, que cria as chamadas “leis”. Por sua vez, o Executivo é aquele que “resolve os problemas con- cretos e individualizados, de acordo com as leis”, abarcando a chamada função de governo 29UNIDADE I Da Administração Pública 29UNIDADE II Do Poder Judiciário e a função administrativa. Por fim, o Judiciário é aquele que exerce, como atividade típica, a função jurisdicional, isto é, “tem por objeto aplicar o direito aos casos concretos a fim de dirimir conflitos de interesses” (SILVA, 2015, p. 108). Embora haja a referida divisão de “poderes”, não se pode perder de vista, que o poder é uno, indivisível e indelegável, ou seja, o poder é um só, o que há é a manifestação através dos órgãos, que exercem as funções típicas e atípicas. Como já mencionado anteriormente, iremos aprofundar o estudo, nesta unidade, quanto ao Poder Judiciário. Segundo Alexandre Mazza, O Poder Judiciário tem por função típica a jurisdicional, inerente à sua nature- za. Exerce, ainda, funções atípicas, de natureza executivo-administrativa (or- ganização de suas secretarias - art. 96, I, “b”; concessão de licença e férias a seus membros, juízes e servidores imediatamente vinculados - art. 96, I, “f”), bem como funções atípicas de natureza legislativa (elaboração do regimento interno - art. 96, I, “a”). (MAZZA,2020, e-book). Ocorre, por conseguinte, que precisamos compreender o que se trata de jurisdição, ou seja: o que seria essa função tipicamente jurisdicional? Este tema, ou seja, no que tange à “jurisdição”, será abordado com maior afinco no nosso terceiro capítulo, porém, já neste momento, é importante entender o conceito geral para o referido termo. Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, na obra “Teoria Geral do Processo”, afirmam que a jurisdição é Uma das funções do Estado, mediante a qual este substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça. Essa pacificação é feita mediante a atuação da vontade do direito objetivo que rege o caso apresentado em concreto para ser solucionado; e o Estado desempenha essa função sempre por meio do processo, seja expressando imperativamente o preceito (através de uma sentença de mérito), seja realizando no mundo das coisas o que o preceito estabelece (através da execução forçada). (2006, p. 129). Diante de sua atribuição central, ou seja, diante da atuação do Poder Judiciário, foram atribuídas algumas garantias, que visam assegurar, dentre outros aspectos, a in- dependência do órgão, para que este possa decidir livremente, sem sofrer qualquer tipo de pressão dos outros Poderes. Há, neste contexto, garantias institucionais, que visam a proteção do Judiciário como um todo, e, também, garantias funcionais ou de órgãos, relativas à independência e à imparcialidade dos membros do Poder Judiciário. Como garantias institucionais do Judiciário é possível elencar: a) Garantias de autonomia orgânico-administrativa Relativa à estruturação e funcionamento dos órgãos, vez que os tribunais podem: a) eleger órgãos diretivos, sem participação dos outros Poderes; b) elaborar o regimento interno; c) organizar a estrutura administrativa interna. 30UNIDADE I Da Administração Pública 30UNIDADE II Do Poder Judiciário b) Garantias de autonomia financeira Tanto a anterior, quanto esta, são garantias constitucionais, insculpidas no art. 99, caput, da Constituição Federal de 1988: “Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira” (BRASIL, 1988). Quanto à garantia de autonomia financeira, sua previsão está disposta, ainda, no § 1º, do referido dispositivo constitucional: “Os tribunais elaborarão suas propostas orça- mentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias” (BRASIL, 1988). Por sua vez, no que tange às garantias funcionais do Judiciário é possível citar: a) Garantias de independência dos órgãos judiciários São consideradas garantias de independência dos órgãos judiciários: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios, que podem ser assim discriminadas: QUADRO 1 - GARANTIAS DE INDEPENDÊNCIA DOS ÓRGÃOS DO JUDICIÁRIO VITALICIEDADE INAMOVIBILIDADE IRREDUTIBILIDADE DE SUBSÍDIOS O magistrado somente perderá o cargo, uma vez vitaliciado, por sentença judicial transitada em julgado, após asseguradas as garantias inerentes ao processo. Garante-se a impossibilidade de remoção, sem o consentimento do juiz,de um local para outro, de uma comarca para outra, ou mesmo sede, cargo, tribunal, câmara, grau de jurisdição. O subsídio dos magistrados não poderá ser reduzido. Art. 95, I, da CF/88: “Art. 95. Os juízes gozam das seguintes ga- rantias: I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado”. Art. 95, II, da CF/88: “Art. 95. Os juízes gozam das seguintes ga- rantias: II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII”. Art. 95, III, da CF/88: “Os juízes gozam das seguintes garantias: III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I”. Todos os membros dos tribunais têm a garantia da vitaliciedade, in- dependente da forma de acesso. Não é regra absoluta, vez que os magistrados poderão ser remo- vidos, por interesse público, nos termos do art. 93, VIII, da CF/88. O STF já se pronunciou dizendo que a garantia é apenas nominal, e não real, ou seja, os magistra- dos não estão livres da inflação. Fonte: criação própria. 31UNIDADE I Da Administração Pública 31UNIDADE II Do Poder Judiciário b) Garantias de imparcialidade dos órgãos jurisdicionais As garantias de imparcialidade revestem-se de vedações que foram estabelecidas na Constituição Federal, em seu artigo 95, parágrafo único. Trata-se de um rol taxativo, já que restringe direitos. Assim versa o dispositivo citado: Parágrafo único. Aos juízes é vedado: I - exercer, ainda que em disponibilida- de, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo; III - dedicar-se à ativi- dade político-partidária. IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalva- das as exceções previstas em lei; V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. (BRASIL, 1988). Uma vez analisado o conceito geral inerente ao Poder Judiciário, bem como, a sua principal função, qual seja: a função jurisdicional, e, consequente garantias, para que possa atuar de forma livre e autônoma, importante conhecermos a organização e a estrutura do Poder Judiciário, item que veremos a seguir. 32UNIDADE I Da Administração Pública 32UNIDADE II Do Poder Judiciário 2. DA ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO Vimos no tópico anterior que o Poder Judiciário é o órgão responsável pela in- terpretação das leis, resolvendo pacificamente os conflitos mediante processos judiciais válidos para todos os cidadãos. Mas, é preciso entendermos, para além de sua definição, a sua organização e estrutura. No que tange à organização e à estrutura do Poder Judiciário é preciso analisar os arts. 92 e SS, da Constituição Federal de 1988. Neste tópico, por conseguinte, falaremos sobre a organização e a estrutura como um todo, destacando os principais pontos. Afinal, quais são os órgãos que compõem o Poder Judiciário? A resposta para a referida questão encontra-se no art. 92, da Constituição Federal de 1988: Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo Tribunal Federal; I-A o Conselho Nacional de Justiça; II - o Superior Tribunal de Justiça; II-A - o Tribunal Superior do Trabalho; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. (BRASIL, 1988). Segundo a doutrina (MAZZA, 2020, e-book) dentre os órgãos acima destacados, o Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores, seriam “órgãos de convergência”, uma vez que exercem a jurisdição sobre todo o território nacional, conforme art. 92, § 2º, da Constituição Federal de 1988. Ainda, segundo Mazza, o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça também seriam órgãos de superposição, já que não pertencem a nenhuma Justiça, mas suas decisões se sobrepõem às decisões proferidas pelos órgãos inferiores das Justiças comum e especial. Quanto à estrutura é preciso, igualmente, conhe- cer a divisão das diversas Justiças, qual seja: 33UNIDADE I Da Administração Pública 33UNIDADE II Do Poder Judiciário QUADRO 2 - DIVISÃO DA JUSTIÇA Composta pela: a) Justiça Federal (Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais); b) Justiça do Distrito Federal e Territórios (Tribunais e Juízes do DF e Territórios); c) Justiça Estadual comum (juízos de pri- meiro grau de jurisdição, incluindo o Jui- zado Especial e a Justiça de Paz, e, os de segundo grau de Jurisdição). Composta pela: a) Justiça do Trabalho: Tribunal Superior do Trabalho, Tribunais Regionais do Tra- balho e Juízes do Trabalho; b) Justiça Eleitoral: Tribunal Superior Elei- toral, Tribunais Regionais Eleitorais, Juí- zes Eleitorais e Juntas Eleitorais; c) Justiça Militar da União: Superior Tribu- nal Militar, Juízes Federais da Justiça Mi- litar e/ou Conselhos de Justiça, Especial e Permanente, nas sedes das Auditorias Militares; d) Justiça Militar dos Estados, do DF e Ter- ritórios: Tribunal de Justiça ou Tribunal de Justiça Militar e Conselhos de Justiça. Fonte: o autor. Ocorre que, pode surgir a seguinte dúvida: qual a competência das referidas “Jus- tiças”? Todas possuem competência penal? A resposta é não! Isso porque, a Justiça do Trabalho, ao contrário das demais, não tem competência penal. A Justiça do Trabalho, por consequência, somente julga e concilia dissídios individuais e coletivos que tenham origem nas relações de trabalho. Mas, afinal, essa divisão em “Justiças” significa que o Poder Judiciário no Bra- sil é fragmentado? Não! Em verdade, “a presença de um espaço próprio para atuação (competência jurisdicional) de cada uma das chamadas vulgarmente ‘Justiças’ não pode conduzir à conclusão que seria de todo equivocada e indesejável, de que o Poder Judiciário é fragmentado” (TAVARES, 2012, e-book). Ou seja, a nossa estrutura é unitária, possui caráter nacional, conforme já sedimentado, inclusive, pela jurisprudência. No voto proferido na ADI 3.367-1/DF, restou deliberado que “a Jurisdição, enquanto manifestação da unidade do poder soberano do Estado, tampouco pode deixar de ser una e indivisível, é doutrina assente que o Poder Judiciário tem caráter nacional [...]”. O que a divisão acima representa, na verdade, é que o nosso Judiciário é composto por diversas unidades judiciárias, que possuem atribuições e competências específicas. 34UNIDADE I Da Administração Pública 34UNIDADE II Do Poder Judiciário O campo de atuação de cada um dos órgãos jurisdicionais está previsto de forma expressa, na Constituição Federal de 1988, a partir do seu artigo 101, vejamos alguns exemplos: a) Supremo Tribunal Federal A composição do STF está prevista no art. 101, da Constituição Federal de 1988, qual seja: 11 Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais 35 anos e menos de 65 anos de idade, sendo imprescindível notável saber jurídico e reputação ilibada. As funções/atribuições, por sua vez, estão arroladas no art. 102, da Constituição Federal de 1988, como, por exemplo, a) processar e julgar originariamente, a.1) a ação direta de inconstitucionalidade de lei; a.2) o Presidente da República, nas infrações penais comuns; a.3) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados; b) julgar, em recurso ordinário, o crime político; a.4) julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância quando a decisão recorrida contrariar dispositivo da CF/88. b) Conselho Nacional de Justiça A composição deverá seguir a previsão do art. 103-B, da ConstituiçãoFederal de 1988. c) Superior Tribunal de Justiça É composto de, no mínimo, 33 Ministros, nos termos do art. 104, da Constituição Federal de 1988, sendo que as atribuições estão previstas no art. 105, do aludido texto constitucional. d) Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais Segundo o art. 106, da Constituição Federal, a Justiça Federal é composta pelos Tribunais Regionais Federais, cuja composição está descrita no art. 107 e as atribuições no art. 108, bem como, pelos juízes federais, cuja competência está ventilada no art. 109, da Constituição Federal. e) Justiça do Trabalho A Justiça do Trabalho, por sua vez, é composta pelos seguintes órgãos: e.1) Tribu- nal Superior do Trabalho, tendo por base a composição descrita no art. 111-A, da CF/88; e.2) Tribunais Regionais do Trabalho; e.3) Juízes do Trabalho. A competência da Justiça do Trabalho está descrita no art. 114, da CF/88. f) Tribunais e Juízes Eleitorais Compõe a Justiça Eleitoral, os seguintes órgãos: Tribunal Superior Eleitoral, cuja composição está no art. 119, da CF/88; Tribunais Regionais Eleitorais, nos termos do art. 120, da CF/88; Juízes Eleitorais; e Juntas Eleitorais. A competência dos tribunais, juízes de direito e juntas eleitorais é regulamentada por meio de Lei Complementar, conforme art. 121, da CF/88. 35UNIDADE I Da Administração Pública 35UNIDADE II Do Poder Judiciário g) Tribunais e Juízes Militares Segundo o art. 122, da CF/88, a Justiça Militar é composta pelo Superior Tribunal Militar (a composição está no art. 123, da CF/88) e pelos Tribunais e Juízes Militares ins- tituídos por lei, sendo que, nos moldes do art. 124, da CF/88, “À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei” (BRASIL, 1988). h) Tribunais e Juízes dos Estados Os Estados organizarão sua Justiça, conforme determina o art. 125, da Constituição Federal de 1988. Após o estudo, ao longo do presente tópico, da organização e do funcionamento do Poder Judiciário, é imprescindível falarmos um pouco mais sobre a previsão constitucional, o que veremos no tópico seguinte. 36UNIDADE I Da Administração Pública 36UNIDADE II Do Poder Judiciário 3. DAS NORMAS PREVISTAS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ATRELADAS AO PODER JUDICIÁRIO Ao longo dos tópicos anteriores, falamos sobre o Poder Judiciário e suas principais características. Restou evidenciado, igualmente, que a Constituição Federal de 1988 possui significativo papel, vez que regula e traz os pontos centrais quanto ao tema. O Poder Judiciário, conforme analisamos, consiste em um dos três Poderes, cuja previsão expressa, está no art. 2o, da Constituição Federal de 1988, que assim versa: “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” (BRASIL, 1988). Referida divisão é importante para assegurar e tutelar o Estado Democrático de Direito, vez que confere a independência e autonomia aos aludidos poderes. Lenio Luiz Streck e Fábio de Oliveira afirmam que: Entende-se que a separação não é propriamente do poder político-jurídico, considerado uno, indivisível, e sim das funções. O poder não se divide, as funções provenientes do poder sim. [...] O princípio da separação de poderes é ancorado na acepção de discricionariedade: um poder está proibido de invadir a discricionariedade dos outros. Este o ponto de equilíbrio, a linha fronteiriça. (MENDES, G. F.; SARLET, I. W.; LTDA, I. C. E. P.; LTDA, I. C. E. P.; CANOTILHO, J. J. G.; LEONCY, L. F.; STRECK, L. L, 2017, e-book). Martins (2020, e-book) também versa sobre a separação de poderes, dizendo que se trata de um modelo político no qual “o Estado tem suas funções divididas e delineadas em órgãos diferentes e independentes, cada qual com distintas áreas de responsabilidade e, em regra, indelegáveis”. 37UNIDADE I Da Administração Pública 37UNIDADE II Do Poder Judiciário Quanto ao Judiciário, vimos que seu papel é fundamental, pois a ele compete, den- tre outros objetivos, por intermédio do Supremo Tribunal Federal, a guarda da Constituição Federal, nos moldes do art. 102, da Constituição Federal de 1988: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: [...]” (BRASIL, 1988). Sobre a relevância do Poder Judiciário, assim afirma Moraes: [...] sua função não consiste somente em administrar a Justiça, sendo mais, pois seu mister é ser o verdadeiro guardião da Constituição, com a finalidade de preservar, basicamente, os princípios da legalidade e igualdade, sem os quais os demais tornariam-se vazios. Esta concepção resultou da consolida- ção de grandes princípios de organização política, incorporados pelas neces- sidades jurídicas na solução de conflitos (MORAES, 2014, p. 520). Lenio Luiz Streck e Fábio de Oliveira destacam a relevância do Poder Judiciário, destacando que “de uma maneira ou de outra, o tema da separação de poderes é sempre presente em todas as decisões jurisdicionais, haja vista que qualquer julgado expõe ou pontua uma posição sobre a matéria”, apontando, igualmente que, “a divisão de poderes não está mais guardada apenas dos direitos individuais, mas sim de todas as dimensões dos direitos fundamentais” (MENDES, G. F.; SARLET, I. W.; LTDA, I. C. E. P.; LTDA, I. C. E. P.; CANOTILHO, J. J. G.; LEONCY, L. F.; STRECK, L. L., 2017, e-book). É inegável, por consequência, o significado e importância do Poder Judiciário em nosso ordenamento jurídico, razão pela qual, a normativa está insculpida na Constituição Federal de 1988, conforme analisado ao longo de toda a nossa unidade. Mas, seria possível sua alteração? Por exemplo, por intermédio de emendas cons- titucionais? Ou estaríamos diante das chamadas “cláusulas pétreas”? A separação de poderes é considerada cláusula pétrea, conforme estabelece o art. 60, § 4º, da Constituição Federal de 1988: “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: III - a separação dos Poderes” (BRASIL, 1988). O que isso significa? Significa dizer que, em se tratando de cláusula pétrea, não pode haver sua supres- são da Constituição Federal, nem mesmo por emenda constitucional. Sendo assim: [...] não será apenas inconstitucional a Proposta de Emenda Constitucional que suprime integralmente a separação dos Poderes, mas também a Emen- da Constitucional que acaba por concentrar poderes nas mãos de uma só pessoa ou só órgão, ou cria controles ou interferências indevidas de um Po- der sobre o outro. (MARTINS, 2020, e-book). Então não seria possível que uma Emenda Constitucional verse sobre os Poderes? É preciso ter cuidado neste ponto, uma vez que a Constituição Federal de 1988 aponta como cláusula pétrea a separação dos poderes, e não a tripartição de Poderes 38UNIDADE I Da Administração Pública 38UNIDADE II Do Poder Judiciário propriamente dita. Por consequência: “será possível uma Emenda Constitucional aperfei- çoando cada Poder (como já houve, por exemplo, a Reforma do Poder Judiciário - Emenda Constitucional m. 45.2004)” (MARTINS, 2020, e-book). A Constituição Federal, igualmente, versa sobre toda a organização e funcionamen- to do Poder Judiciário, como visto no tópico anterior, trazendo, por exemplo, a composição de cada um dos órgãos da Justiça e suas atribuições. Neste contexto, é imprescindível ressaltar o art. 92, da Constituição Federal de 1988, que elenca de forma expressa quais os órgãos que compõem o Poder Judiciário, tópico elucidado e estudado anteriormente nesta mesma unidade. Cumpre-nos, porém, a análise quanto ao chamado “quinto constitucional”, regra insculpida no art. 94, da Constituição Federal: Art. 94 Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados 4 Do Poder Judiciário de notório saber jurídico e de reputação ilibada,com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes. (BRASIL, 1988). Pedro Lenza destaca que, embora o art. 94, da Constituição Federal apenas se refira a determinados tribunais, a regra do quinto também se aplica para os tribunais do trabalho e o procedimento orienta a composição do STJ (LENZA, 2021, e-book). Contudo, você pode ficar com a seguinte dúvida: qual seria este procedimento? O autor acima apontado, afirma quanto ao procedimento que: Os órgãos de representação das classes dos advogados e Ministério Público elaboram lista sêxtupla, ou sejam indicam 6 nomes que preencham os requi- sitos acima citados. Recebidas as indicações, o tribunal para o qual foram indicados forma lista tríplice (escolhe 3 dos 6). Nos 20 dias subsequentes, o Chefe do Executivo (em se tratando de Tribunal Estadual, o Governador de Estado; na hipótese do TJ do DF e Territórios, o Presidente da República, e para indicação ao TRF, também o Presidente da República) escolherá 1 dos 3 para nomeação. (LENZA, 2021). O procedimento, como dito acima, está previsto e regulamentado no próprio texto constitucional, não sendo permitido, por consequência, outros procedimentos, como, por exemplo, eventual sabatina do legislativo. Trata-se de um tema polêmico em nosso ordenamento, vez que aponta “indica- ções”, mas encontra respaldo em nossa Constituição Federal. Com a análise desses pontos específicos, encerramos a complementação realizada neste tópico no que tange à previsão constitucional relativa ao Poder Judiciário, sendo que, no tópico seguinte falaremos um pouco mais sobre as competências específicas atreladas ao Poder Judiciário e respectivos órgãos. 39UNIDADE I Da Administração Pública 39UNIDADE II Do Poder Judiciário 4. DA ORGANIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO DE ACORDO COM SUAS COMPETÊNCIAS Ao longo desta unidade, estamos estudando o Poder Judiciário, que consiste em um dos Poderes previstos na Constituição Federal de 1988, ao lado do Poder Executivo e do Poder Legislativo. Em essência, compete ao Poder Judiciário o exercício da atividade jurisdicional, sendo que deve atuar, conforme a previsão da Constituição Federal. Nesse norte, é o art. 92, da Constituição Federal, já anteriormente apontado, que define quais são os órgãos do Poder Judiciário. Pedro Lenza aponta o seguinte organograma: 40UNIDADE I Da Administração Pública 40UNIDADE II Do Poder Judiciário FIGURA 1 - ORGANOGRAMA QUANTO À ORGANIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO Fonte: LENZA, 2021, e-book. Para o citado autor, “o STF e os Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE e STM) são órgãos de convergência, têm sede na Capital Federal (Brasília) e exercem jurisdição sobre todo o território nacional” (LENZA, 2021, e-book). É possível dizer que o STF e o STJ são, também, órgãos de superposição, pois não pertencem a nenhuma Justiça e suas decisões se sobrepõem às decisões proferidas pelos órgãos inferiores. Sobre o tema, Pedro Lenza afirma que: “As decisões do STJ se sobrepõem àquelas da Justiça Federal comum, da Estadual e daquela do Distrito Federal e Territórios, ao passo que as decisões do STF se sobrepõem a todas as Justiças e Tribunais” (2021, e-book). Além dos órgãos de superposição (STF e STJ), há as diversas Justiças, que podem ser divididas em comum e especializada/especial: COMUM ESPECIAL / ESPECIALIZADA a) Justiça Federal (composta pelos Tribunais Re- gionais Federais e Juízes Federais); b) Justiça do Distrito Federal e Territórios (Tribu- nais e Juízes); c) Justiça Estadual Comum (juízos de primeiro e segundo grau, inclusive Juizados Especiais e Jus- tiça da Paz). a) Justiça do Trabalho (composta pelo Tribunal Su- perior do Trabalho, Tribunais Regionais do Traba- lho e juízes); b) Justiça Eleitoral (TSE, TREs,Juízes Eleitorais e Juntas Eleitorais); c) Justiça Militar da União, dos Estados, do DF e Territórios. 41UNIDADE I Da Administração Pública 41UNIDADE II Do Poder Judiciário No que tange à competência, apenas a Justiça do Trabalho não possui competência penal, sendo que todas as demais (Federal, Eleitoral, Estaduais e do DF e Territórios), têm tanto competência penal quanto civil. Importante destacar os chamados Juizados Especiais. No que tange aos Juizados Especiais Estaduais, a disciplina encontra respaldo, em linhas gerais, na Lei 9.099/95, sendo que a formação dos Juizados Especiais dos Estados e do Distrito Federal é composta pelos: a) Juizados Especiais Cíveis; b) Juizados Especiais Criminais e; c) Juizados Especiais da Fazenda Pública. Assim aponta o art. 1 , da Lei 9.099/95: “Art. 1º Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da Justiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência” (BRASIL, 1995). Por sua vez, o art. 2o, elenca a competência relativa ao Juizado Especial Cível, sendo a matéria regulada até o art. 59. A regulamentação dos Juizados Especiais Criminais se dá a partir do art. 60. O segundo grau de jurisdição, em se tratando de Juizados Especiais, é exercido pelas Turmas Recursais, cuja composição é: três juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado. Por sua vez, quando falamos de Juizados Especiais Federais, a disciplina está na Lei n. 10.259/2001, que institui os: a) Juizados Especiais Cíveis; b) Juizados Especiais Criminais, ambos da Justiça Federal. A competência de um e de outro, está expressa na referida legislação: Art. 2o Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de competência da Justiça Federal relativos às infrações de menor po- tencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. [...] Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e jul- gar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta sa- lários mínimos, bem como executar as suas sentenças. [...] (BRASIL, 2001) Os Juizados Especiais são, portanto, importantes órgãos do Poder Judiciário, pois visam proporcionar a todos os integrantes da sociedade que solucionem seus conflitos de forma rápida e eficiente, a depender da complexidade do conflito, sendo que vigora, dentre outros aspectos, os princípios da economicidade, da celeridade e da informalidade. Com isso, encerramos as nuances atreladas ao Poder Judiciário, elencadas de for- ma global, sendo imperioso analisarmos os aspectos da jurisdição, tema central da nossa próxima unidade. 42UNIDADE I Da Administração Pública 42UNIDADE II Do Poder Judiciário SAIBA MAIS Muito se discute hoje sobre a atuação expansiva do Poder Judiciário, de forma a influir nos outros dois Poderes, o que tem sido apontado pela doutrina como “ativismo judicial”. Você já ouviu falar deste termo? Sabe o que significa? Abaixo, indicação de texto sobre o tema: Fonte: BRANDÃO, Paulo. Os Juízes criam Direito? Uma reflexão sobre ativismo Judicial e Direitos Fun- damentais. e-Pública, Lisboa , v. 6, n. 2, p. 168-187, set. 2019 . Disponível em http://scielo.pt/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S2183-184X2019000200009&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 10 set. 2021. REFLITA Você acredita que o ativismo judicial traz benefícios para o nosso ordenamento jurídico? Se sim, quais? Fonte: a autora. 43UNIDADE I Da Administração Pública 43UNIDADE II Do Poder Judiciário CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo da nossa segunda unidade de estudo, falamos sobre o Poder Judiciário e buscamos responder algumas questões, como, por exemplo: o que é o Poder Judiciário? Qual sua principal função em nosso ordenamento? Como é organizado e estruturado? Onde encontramos sua normatização? O Poder Judiciário, conforme analisado ao longo do nosso estudo, é um dos três Poderes elencados, de forma expressa, na nossa Constituição Federal. Ou seja, em nosso ordenamento há três poderes, que
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