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OS DIREITOS DO HOMEM NA ORDEM JURÍDICA 
INTERNACIONAL 
CELSO D. DE ALBUQUERQUE MELLO * 
SUMÁRIO: 1 - Introdução. 2 - A internacio­
nalização dos direitos do homem: antecedentes da 
Carta da ONU. 3 - A Carta da ONU e a Decla­
ração Universal de Direitos do Homem. 4 - Pactos 
de 1966. 5 - Os direitos do homem no Conselho da 
Europa. 6 - Os direitos do homem no continente 
americano. 7 - A intervenção humanitária. 8-
Conclusão. 
1 . Os direitos do homem constituem uma "preo­
cupação universal" de todos os juristas. Dentro da orienta­
ção de lhes dar uma proteção legal, os EUA foram o pri­
meiro país que se preocupou em formular uma Declaração 
dos Direitos do Homem, a denominada Declaração de Vir­
gínia. A própria Constituição americana veio a consagrar os 
direitos do homem. 
Os EUA se preocuparam com êste assunto antes dos 
demais Estados, vez que tiveram a necessidade de consa­
grar a liberdade religiosa que não existiu na Europa e 
grande parte da sua população se havia formado com in­
divíduos que fugiram às perseguições religiosas na Europa. 
Em 1789, foi aprovado o projeto de LAFAYETTE pela 
Assembléia Constituinte da Revolução Francesa, que con­
sistia em uma Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão. Esta declaração, devido às repercussões da Revo­
lução Francesa, exercerá maior influência do que a norte­
americana, apesar de estar nesta fundamentada. 
Os direitos do homem e a sua proteção foi, durante 
um largo período, entendida como matéria do direito in­
terno de cada estado. 
* Professor de Direito Internacional Público na Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro. 
REVISTA DE CIÊNCIA POLíTICA 
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2 . A verdadeira internacionalização dos direitos do 
homem só veio a ocorrer no século XX, quando se verifi­
cou que êles só seriam realmente garantidos se tivessem 
uma afirmação e proteção internacional. 
Esta consideração não significa que os doutrina dores 
do DI não tenham tratado do assunto, mas apenas assi­
nala que, somente no século XX, os direitos do homem 
passaram a integrar o Direito Internacional Positivo. Den­
tro desta assertiva, podemos mencionar a opinião de FRAN­
CISCO DE VITÓRIA, o mais antigo dos Fundadores do DI, 
que defendeu os direitos dos povos da América alegando 
que êles tinham a proteção do direito aplicado a todos os 
povos. Defendeu ainda o jus communicationis. 
Outros fundadores também se referem aos direitos do 
homem: GROTIUS, WOLFF, VATEL, e outros. 
No século XIX tem início a luta pela proteção inter­
nacional do trabalho. Em 1818, ROBERT OWEN, através 
de Lord CASTLEREAGH, delegado da Inglaterra no Con­
gresso de Aix-La-Chapelle, propôs a mencionada pro­
teção. Em 1841, DANIEL LE GRAN apresentou propos­
ta semelhante. Em 1881, o Coronel FREY, do Conselho 
Suíço, propôs a reunião de uma conferência internacional 
que não chegou a se realizar. Em 1890, GUILHERME II 
da Alemanha reunia uma conferência com representantes 
de 12 Estados, sem obter maiores resultados. Em 1901, 
foi criada a Associação Internacional para a Proteção Legal 
dos Trabalhadores que prepararia projetos de convenção 
a serem encaminhados ao Conselho Suíço, encarregado de 
convocar conferências internacionais para estudá-los. Fi­
nalmente, na parte XIII do Tratado de Versailles foi cria­
da a Organização Internacional do Trabalho. 
Nesta pequena evolução pela internacionalização dos 
direitos do homem colocamos a luta pela proteção inter­
nacional do trabalho, porque êste é um dos direitos do 
homem, incluído com vários princípios (remuneração jus­
ta, etc.) nos textos internacionais sôbre a matéria. 
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Entre outros casos que demonstram a proteção da 
pessoa humana no plano internacional, podemos mencio­
nar o Congresso de Viena (1815), condenando o tráfico 
negreIro. 
Os demais direitos do homem tiveram um processo 
de internacionalização bem mais lenta do que a proteção 
ao trabalho. 
No presente século é que os direitos do homem passa­
ram a ser objeto de acentuado interêsse da ordem jurídica 
internacional. A internacionalização passa a ser uma das 
suas características. 
Em 1916, o Instituto Americano de Direito Interna­
cional, sem chegar a um resultado, discutiu um projeto 
apresentado por ALEXANDRE ALVAREZ para uma declara­
ção dos direitos do homem. 
Após a 1.a Guerra Mundial, WILSON propôs que a 
Liga das Nações tratasse dos direitos do homem, mas êle se 
preocupava apenas com a liberdade de religião. A Inglater­
ra propõe que o Conselho da Liga possa realizar uma inter­
venção nos Estados que não respeitarem esta liberdade. O 
Japão propõe a proibição de discriminação racial. Diante 
destas emendas, os EUA se opõem ao projeto, que é aban­
donado. 
Os tratados de paz protegeram as denominadas mi­
norias. Elas foram colocadas sob a proteção do Conselho 
da LDN que criou um órgão subsidiário: a Comissão de 
Minorias. Entretanto, esta proteção não se dirigia ao homem 
em geral, mas apenas aos nacionais de um Estado que 
eram colocados dentro das fronteiras de outro. 
Em 1929, o Instituto de Direito Internacional ela­
borou uma Declaração dos Direitos do Homem, tomando 
por base um projeto da LA PRADELLE com modificações 
de MANDELSTAM. 
Em 1938, a Conferência Panamericana de Lima res­
saltou a necessidade da "Defesa dos Direitos do Homem". 
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Em 1941, ROOSEVELT, em mensagem ao Congresso 
norte-americano, referia-se a quatro liberdades fundamen­
tais (de expressão, de religião, estar livre do mêd.o e livre 
de necessidades materiais) que foram consubstanciadas 
no mesmo ano na Carta do Atlântico, concluída entre os 
EUA e a Inglaterra. 
Em 1945, na Conferência do Chapultepec, ficou de­
cidida a elaboração de uma Declaração dos Direitos do 
Homem. Ela foi preparada pelo Comitê Jurídico Intera­
mericano e aprovada na Conferência de Bogotá. 
3 . A Carta da ONU se refere aos "direitos do ho­
mem" em sete lugares diferentes: preâmbulo; alínea 3 do 
artigo 1.a ; letra "b" da alínea 1 do art. 13; "c" do art. 55; 
alínea 2 do art. 62; art. 68 e letra "c" do art. 76. 
Os direitos do homem constituem uma das finalida­
des da ONU, conforme se verifica no art. 1.0 que trata dos 
propósitos da organização: 
"3. Conseguir uma cooperação internacional 
para promover e estimular o respeito aos direi­
tos humanos e às liberdades fundamentais para 
todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou re­
ligião". 
A principal conclusão que se pode tirar da Carta da 
ONU é que os direitos do homem deixaram de fazer parte 
do domínio reservado dos estados e penetraram de modo 
definitivo no Direito Internacional Positivo. 
Na doutrina surgiu uma grande discussão sôbre o 
alcance dêsses dispositivos, isto é, se êles geram obrigações 
para os Estados membros. Duas correntes doutrinárias se 
manifestaram: 
a) um grupo de autores (KELSEN, KUNZ) afirma 
que a Carta, no tocante aos direitos do homem, não produz 
obrigações para os Estados. Ela apenas enuncia um id~::ll, 
não especificando quais são os direitos do homem; 
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b) outra corrente (SODER, LAuTERPAcHT) afir­
ma a obrigatoriedade dos dispositivos da Carta. Entretan­
to, êles observam que a ONU não tem meios para compelir 
os Estados a respeitarem os direitos do homem, porque o 
Conselho Econômico e Social e a Assembléia Geral (ór­
gãos encarregados dos direitos do homem) só têm o poder 
de fazer simples recomendações. O Conselho de Segurança, 
que é o órgão com poder coercitivo, só intervém quando 
há ameaça à paz. 
A nossa conclusão é que os dispositivos da Carta da 
ONU são obrigatórios para os Estados, porque zelar pelos 
direitos do homem é uma das finalidades da ONU. Entre­
tanto, reconhecemos que as normas da Carta são pràtica­
mente desprovidas de conteúdo, porque elas não determi­
nam quais são os direitos do homem. Os Estados têm o de­
ver de proteger tais direitos, caso contrário haveria uma 
incongruência, uma vez que Estados membros da ONU 
poderiam violar uma de suas finalidades. A alegaçãode 
que a Carta não especifica quais os direitos do homem é 
improducente, porque a grande maioria dêstes direitos 
está inscrita nos sistemas jurídicos positivos dos Estados 
e penetrariam assim na ordem internacional através dos 
princípios gerais do direito (fonte do DI). 
A jurisprudência interna dos Estados não se mani­
festou no sentido que aqui defendemos. Em 1950, um Tri­
bunal da Califórnia, no caso Lei Fujii v. State, aplicou a 
Carta da ONU no tocante aos direitos do homem e con­
siderou revogada uma lei que interditava a aquisição de 
propriedade por determinados estrangeiros (era uma lei 
dirigida aos japonêses). A Côrte Suprema da Califórnia 
considerou que a Carta de ONU a respeito dos direitos 
do homem não tinha obrigatoriedade. Tem-se alegado que 
os dispositivos da Carta da ONU não são auto-executáveis. 
Dentro da estrutura da ONU, o Conselho Econômi­
co e Social é o principal órgão encarregado dos direitos do 
homem. Em 1946, foi criada por êle a Comissão de Di-
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reitos do Homem (prevista no art. 68 da Carta). A sua 
primeira reunião foi em 1947, em Nova Iorque. Ela teve 
como presidente ELEANOR ROOSEVELT e como relator 
CHARLES MALIK (Líbano). Esta Comissão, com base em 
um projeto de RENÉ CASSIN (França), elaborou a De­
claração Universal dos Direitos do Homem. Esta Decla­
ração foi apresentada pelo Conselho Econômico e Social 
à Assembléia Geral, em 1948. 
Em 10 de dezembro de 1948, a Assembléia Geral, 
em Paris, aprovou a Declaração Universal dos Direitos do 
Homem, por 48 votos a favor e 8 abstenções (Ucrânia, 
Polônia, Iuguslávia, URSS, Arábia Saudita, Bielo-Rússia, 
União Sul-Africana e Tcheco-Eslováquia). Na votação em 
separado dos artigos da Declaração, vinte e cinco dêles 
foram aprovados unânimemente. As razões para as abs­
tenções foram as seguintes: o bloco soviético reinvindica­
va que se desse maior importância aos direitos econômicos 
e sociais; a Arábia Saudita sustentou que o pensamento 
muçulmano não exercera influência; a União Sul-Africa­
na, porque há a proibição de discriminação racial. 
A Declaração tem sido dividida em quatro partes: 
a) normas gerais (arts. 1.°,2.°,28,29 e 30); b) 
direitos e liberdades (arts. 3.° a 20); c) direitos políticos 
(art. 2 1 ); d) direitos econômicos e sociais (arts. 22 a 
27). 
A Declaração não produz obrigações para os Estados. 
Ela não é um tratado (declaração-tratado). 
O seu valor é moral e ela indica as diretrizes a serem 
seguidas pelos Estados. 
4. Diante desta fraqueza da Declaração é que a 
ONU elaborou convenções sôbre os direitos do homem. 
Inicialmente, pensou-se em fazer uma convenção sôbre os 
direitos do homem e outra convenção sôbre as garantias 
de execução dêsses direitos. Em 1950, resolveu-se fundir 
tudo em um único texto e, em 1952, decidiu-se nova­
mente fazer duas convenções: uma sôbre os direitos civis 
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e políticos e outra sôbre os direitos econômicos, sociais e 
culturais. 
A Assembléia Geral da ONU, em 16 de dezembro 
de 1966, aprovou sôbre os direitos do homem: o Pacto 
Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, 
o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e um 
protocolo facultativo. 
O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, So­
ciais e Culturais estabelece, entre outros direitos, os se­
guinte: a) direito de autodeterminação e, em conse­
quencia, de os povos "estabelecerem livremente a sua 
condição política" e "o seu desenvolvimento econômico, 
social e cultural"; b) os povos "dispõem livremente de 
suas riquezas e recursos naturais"; c) direitos ao trabalho; 
d) direito a uma remuneração equitativa e que dê ao ho­
mem e sua família "condições dignas de existência"; e) 
o direito de tôda pessoa fundar e se filiar a sindicatos; f) 
direito a previdência social; g) proteção e assistência à 
família; h) "direito de tôda pessoa a um nível de vida 
adequado para si e sua família, inclusive alimentação, 
vestuário e moradia adequados e uma melhora contínua 
das condições de existência"; i) "melhorar os métodos de 
produção, conservação e distribuição de alimentos"; j) 
direito de tôda pessoa ao "mais alto nível possível de 
saúde física e mental"; 1) direito à educação, sendo que 
o ensino primário deverá ser obrigatório e gratuito (aquê­
les Estados em que a gratuidade e obrigatoriedade não 
fôr posssível deverão promovê-las progressivamente); m) 
tôda pessoa tem direito a participar da vida cultural; n) 
é proibida a discriminação racial. O Pacto determina ain­
da que os países em desenvolvimento, levando em con­
sideração "os direitos humanos e sua economia nacional, 
poderão determinar em que medida garantirão os direitos 
econômicos" consagrados no Pacto em relação aos estran­
geiros. Os Estados apresentarão informes sôbre os direitos 
consagrados no Pacto ao Secretário Geral da ONU, que o 
enviará ao Conselho Econômico e Social para exame. O 
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Pacto entrará em vigor três meses após o depósito do tri­
gésimo quinto instrumento de ratificação. 
O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos 
consagra, entre outros direitos, os seguintes: a) direito de 
autodeterminação e de disporem os povos "livremente de 
suas riquezas e recursos naturais"; b) proibição de dis­
criminação racial; c) direito à vida; d) proibição de tor­
turas e tratamento cruel; e) proibição da escravidão, tra­
balho forçado e tráfico de escravos; f) direito à liberdade 
e segurança pessoal; g) não haverá prisão pelo não-cum­
primento de obrigação contratual; h) o estrangeiro só 
poderá ser expulso em "cumprimento de uma decisão 
adotada conforme a lei"; i) "tôdas as pessoas são iguais 
perante os tribunais"; j) direito à liberdade de circulação; 
1) o princípio nullum crimen sine Jege; m) "direito à li­
berdade de pensamento, de consciência e de religião"; n) 
liberdade de expressão; o) proibição de propaganda em 
favor da guerra (êste dispositivo foi aí incluído, acima de 
tudo, por iniciativa de Linneu de Albuquerque Mello, de­
legado do Brasil na AG); p) direito de livre associa­
ção; q) proteção da família e das crianças; r) os Esta­
dos que têm "minorias étnicas, religiosas e lingüísticas" 
reconhecerão aos seus membros direito "à vida cultural 
própria, a professar e praticar na própria religião e a em­
pregar seu idioma". Êste Pacto determina ainda a criação 
de um Comitê de Direitos Humanos, com 18 membrof>, 
eleitos (por uma conferência dos estados partes na con­
venção) por 4 anos, e "exercerão suas funções a títulos 
pessoal". O Comitê não terá mais de um nacional de cada 
Estado e sua composição levará em consideração "uma 
distribuição geográfica equitativa dos membros e a repre­
sentação das diferentes formas de civilização e dos prin­
cipais sistemas jurídicos". O Comitê se reunirá em Ge­
nebra. Os Estados apresentarão informes ao Secretário Ge­
ral da ONU sôbre os direitos consagrados no Pacto e o Se­
cretário os remeterá ao Comitê para exame. Qualquer 
Estado parte no Pacto pode declarar a qualquer momento 
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"que reconhece a competência do Comitê para receber e 
examinar as comunicações em que um Estado parte 
alegue que outro Estado parte não cumpre as obrigações 
que lhe impõe êste Pacto". A denúncia só pode ser feita 
para um Estado que tenha formulado uma declaração re­
nhecendo ao Comitê competência a respeito de si mesmo . .... 
O Comitê apresentará um relatório no prazo de 12 meses. 
Êstes dispositivos só entrarão em vigor quando houver dez 
declarações. Se o Comitê não reconhecer a questão de mo­
do satisfatório êle, "com prévio consentimento dos Estados 
partes interessados, poderá designar uma Comissão Espe­
cial de Conciliação" que terá 5 membros, funcionando a 
título pessoal e cuja decisão a ser dada no prazo de 12 
meses não é obrigatória. O Pacto entrará em vigor depois 
de transcorridos três meses após o depósito do trigésimo 
quinto instrumento de ratificação. 
A grande crítica que se pode dirigira êste Pacto é 
que as garantias internacionais são insuficientes, porque os 
informes do Comitê não têm obrigatoriedade. 
O protocolo facultativo do Pacto Internacional de Di­
reitos Civis e Políticos estabelece que o Estado parte no 
pacto que ratificar o protocolo "reconhece a competência 
do Comitê para receber e considerar comunicações de in­
divíduos que se encontram sob sua jurisdição" que seja 
vítima de violação de direitos consagrados no Pacto. O pro­
tocolo entrará em vigor três meses após o depósito do 
décimo instrumento de ratificação. 
O ano de 1968 foi escolhido, no âmbito da ONU, 
para ser o Ano Internacional dos Direitos do Homem a 
fim de serem tomadas medidas nacionais e internacionais 
para defendê-los. 
5. Foi no Conselho da Europa que os direitos do 
homem e a sua proteção encontraram maior desenvolvi­
mento. A Convenção que regula a matéria foi concluída 
em 4 de novembro de 1950 e entrou em vigor em 1953, 
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sendo que um protocolo adicional foi assinado em 1952, 
entrando em vigor em 1954. 
A origem da Convenção de 1950 está em um Con­
gresso da Europa convocado pelo Comitê Internacional de 
Movimentos para a Unidade Européia que se reuniu em 
Haia, em 1948, cuja "Mensagem aos Europeus" adotada 
em sessão plenária afirmava entre outras coisas: 
"We desire a Charter of Human Rights gua­
ranteing liberty of thought, assembly and ex­
pression as well as the right to form a political 
opposition; 
We desire a Court of justice with adequate 
sanctions for the implementation of this Char­
ter" 
A Convenção, ao lado dos Direitos do Homem que 
ela enuncia, determina ainda as garantias de execução dês­
ses direitos. A parte mais importante é a proteção inter­
nacional dada aos direitos do homem. Para realizarem essa 
finalidade há dois órgãos: a Comissão Européia de Direi­
tos do Homem e a Côrte Européia de Direitos do Homem. 
A Comissão tem tantos membros quanto os Estados 
partes na Convenção, não podendo ter mais de um da 
mesma nacionalidade. A eleição é feita pelo Conselho de 
Ministros do Conselho da Europa. O particular, após ter 
esgotado os recursos internos do Estado, pode apresentar 
uma reclamação à Comissão por ter sido violada a Con­
venção. A Comissão procura dar uma solução amigável. 
Se esta não fôr possível, ela prepara um relatório que será 
enviado ao Conselho de Ministros. O relatório poderá con­
ter recomendações. Se o assunto não fôr levado à Corte, 
o Conselho de Ministros dará uma decisão três meses após 
lhe ter sido enviado o relatório. 
A decisão do Conselho é por maioria de 2/3 e é obri­
gatória para as partes. 
A Côrte Européia dos Direitos do Homem tem um 
número igual de juízes ao dos Estados partes no Conse-
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lho da Europa, não podendo ter mais de um membro da 
mesma nacionalidade. O mandado é de 9 anos e são elei­
tos pela Assembléia. Perante a Côrte comparecem apenas: 
os Estados e a Comissão. Uma questão só pode ser subme­
tida à Côrte se a solução fôr impossível. A sua decisão é 
definitiva. Ao Conselho de Ministros cabe fiscalizar a sua 
execução. 
É de se assinalar que o simples fato de ser parte na 
Convenção não obriga os Estados a aceitarem a jurisdi­
ção da Côrte e da Comissão, sendo necessária uma decla­
ração neste sentido, a qual foi feita pela grande maioria. 
Em 1961, foi assinada, ainda no Conselho da Euro­
pa, a Carta Social Européia, que trata dos direitos econô­
micos e sociais que não figuravam na convenção de 1950, 
tais como direito ao trabalho, à previdência, à remunera­
ção justa, etc. 
6. Na Conferência de Bogotá (1948) foram as­
sinadas uma Declaração Americana de Direitos e Deve­
res do Homem e a Carta Interamericana de Garantias So­
ciais. É de se assinalar que a Declaração é entre os textos 
desta matéria o único a tratar dos deveres do homem in­
ternacionalmente. Esta Conferência aprovou uma resolu­
ção no sentido de se criar uma Côrte de Direitos do 
Homem. 
A Carta da OEA colocou os direitos do homem como 
um dos princípios dos Estados Americanos (Art. 5, j). 
A maioria dos autores têm considerado que êstes prin­
cípios são um simples enunciado de ideais. A prática con­
firma esta posição em relação também a outros princípios 
da Carta da OEA, como o da democracia representativa. 
Entretanto, doutrinàriamente, os princípios deverão ser en­
carados como obrigatórios, vez que integram a parte dis­
positiva de um tratado internacional. 
Em 1959, na 4.a Reunião do Conselho Internacio­
nal de Jurisconsultos, foi aprovado um projeto de con­
venção sôbre os direitos do homem com órgãos para pro-
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tegê-Ios nos moldes da Convenção Européia (Comissão e 
Côrte). Entretanto, ela se encontra aguardando que a 11.a 
Conferência Internacional Americana se reúna. 
Dentro do sistema da OEA, foi criada, pela 5.a Reu­
nião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores 
(1959), a Comissão Interamericana de Direitos do Ho­
mem, que tem 7 membros eleitos por 4 anos pelo Conse­
lho da OEA. Êles exercem as suas funções a título pessoal. 
As suas funções são as seguintes: a) funções consultivas 
em assuntos de direitos do homem; b) fazer recomenda­
ções sôbre esta matéria; c) elaborar relatórios e estudos, 
etc. 
7. A intervenção de humanidade foi aquela reali­
zada com o fim de defender os direitos do homem. Diver­
sos doutrinadores o defenderam: VITÓRIA, GROTIUS, etc., 
e a sua prática ocorreu acima de tudo no século XIX. 
Essa intervenção atualmente não é lícita. Nenhuma 
organização internacional, seja ela qual fôr, faz interven­
ção armada para a defesa dos direitos do homem. Tais 
direitos são i.nterpretados como tendo a sua aplicação e 
fiscalização fazendo parte da jurisdição doméstica dos Es­
tados. Esta interpretação parece encontrar forte apoio na 
prática internacional, uma vez que os Estados nem protes­
tam pela violação dos direitos do homem. A ONU só pode­
ria intervir se a sua violação acarretasse uma ameaça à 
paz e à segurança internacionais. O fundamento desta in­
tervenção seria, não propriamente a violação dos direitos 
do homem, mas da própria paz e segurança internacionais. 
8. A conclusão que podemos apresentar ao proble­
ma dos direitos do homem na ordem jurídica internacional 
não é dos mais animadores, porque apesar de tanto se falar 
nesta matéria os resultados alcançados são muito pequenos 
em relação à sua importância. Assim, apenas no âmbito do 
Conselho da Europa há uma convenção em vigor com um 
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adequado sistema de garantias. No continente americano 
apenas temos uma Declaração sem obrigatoriedade. No 
âmbito da ONU, mesmo com a entrada em vigor dos 
Pactos, o sistema de garantias só será suficiente se fôr rati­
ficado o protocolo adicional. 
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