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Sirlei Santana Alessandra Paz Stéfany Libano Orientação: Alessandra Borges Pedroso O potencial terapêutico da abordagem holística de saúde Cuidado de Enfermagem e Práticas Integrativas Centro Universitário Leonardo da Vinci Novembro de 2023 Algo a se pensar Por certo que a enfermagem não deve se distanciar do conhecimento biomédico. No entanto, a prática tem demonstrado que os medos e ansiedades do paciente nem sempre revelarão um diagnóstico grave. Nesse sentido, como proporcionar saúde e bem-estar àquele paciente que sem estar acometido por grave moléstia, não se demonstra saudável? Ou para aquele paciente que, em estado terminal, oncológico por exemplo, aguarda a morte em seu leito. A fim de lançar luzes sobre essa provocação, buscou-se estudar o potencial terapêutico da comunicação compassiva e a eficácia das Práticas Integrativas. Um pouco de história Antes de responder à provocação, faz-se necessário uma breve visita ao passado. Mais especificamente ao século XIX, quando Florence Nightingale erigiu as bases teóricas da enfermagem. Naquele primeiro momento, a enfermagem, que a recém se havia estabelecido como ciência, preocupava-se mais com os fatores ambientais. Entendia-se, pois, que as condições e influências externas afetavam a vida e o desenvolvimento do organismo, sendo capazes de previnir, suprimir ou contribuir para doença. Assim, à enfermagem, portanto, competia conservar a energia vital do utente, através de um ambiente saudável e equilibrado, que fosse apto a estimular sua saúde e recuperação. Pode não parecer, mas é tudo muito recente Lançadas as bases teóricas, somente um século depois viriam a surgir novas teorias para explicar a ciência da enfermagem e seus saberes. Quando, nos Estados Unidos, mais especificamente na década de 60, surgiram relevantes teorias sobre o cuidado de enfermagem e sua especial forma de ser. Woodstock, 1969 Nesse sentido, para a questão que se propôs, foram pinçadas as ideias de duas expoentes enfermeiras, cujas teorias expandiram o que até então se entendia sobre o papel da enfermagem e sua forma de cuidar. Mira Sterin Levine Em sua teoria holística do cuidado, trouxe à luz um ser humano complexo e dinâmico, capaz de se adaptar ao ambiente e às várias alterações a que esse está sujeito. Ela baseia sua teoria nos processo de adaptação, conservação e integralidade. Para Levine, a adaptação é um efeito natural, fisiológico; a conservação, por sua vez, compete ao profissional da enfermagem e à clínica médica. Já a integralidade, essa corresponde a forma como deve ser avaliado o paciente, o qual não deve ser visto de maneira segmentada ou sequenciada, mas como um todo. Assim, ela elaborou um modelo conceitual próprio, organizado em quatro eixos, que seriam responsáveis por abordar o paciente de forma holística. Sendo eles, a saber: i) conservação de energia; ii) integridade estrutural; iii) integridade pessoal; e iv) integridade social. Ou seja, em Levine, o cuidado de enfermagem deve atentar para o paciente como um todo, de forma integral, sem negligenciar aspectos que o compõe, sendo os quatro eixos o seu método para isso. Margareth Jean Watson Contemporânea de Levine, propõe o cuidado transpessoal. Ela entende que o ser humano está em constante crescimento e modificação, um contínuo processo de vir-a-ser, na busca de um novo padrão, onde ocorra unidade da mente e do espírito. Nessa cenário, ela propõe que o cuidado de enfermagem seja de modo transpessoal, isto é, transcenda no tempo, espaço e na matéria. Isso porque, ela entende, a enfermagem é capaz de acessar aspectos subjetivos e emocionais do ser cuidado, os quais não devem, nem podem, ser desprezados. Diferentemente de outros teóricos, as ideias de Jean Watson não estão sistematizadas num processo de enfermagem, elas são anteriores a isso, de cunho existencial, isto é, explicam a maneira como esse [o processo de enfermagem] deve ser. O cuidado Humanizado Isso pois, a enfermagem enquanto ciência, não admitia mais identificar o paciente por um número, de modo apático, frio e impessoal. Eis que o movimento de contracultura da década de 60 espraiou-se por vários aspectos sociais, dentre eles, também a enfermagem. Não se aceitava mais que ela estivesse subordinada a outras ciências, que lhe dissessem como ser ou como deixar de ser. Nesse contexto, pode-se dizer, o cuidado de enfermagem, que difere do cuidado comum, requer atitudes que sejam manifestados de forma efetiva, afetiva, contextual e transpessoal. Técnico sim, mas embutido de respeito, carinho e compaixão para com o sofrimento alheio. A enfermagem também protestava por sua independência. Nesse sentido, Mira Levine, Jean Watson, Leininger Rogers, dentre outras, manifestaram uma veia que estava latente dentre os profissionais da enfermagem. Assumindo de vez a autonomia científica a que fazia jus. Segunda onda do Feminismo, 1968 Maquinistas da Ford Motors/ protesto por igualdade de direitos e salários Mas como então, humanizá-lo? Em Peplau, o enfermo deixa de ser objeto da prática da enfermagem, mas passar ser tratado como sujeito de uma relação, tida entre paciente e enfermeira. E, essa relação proporcionaria a ambos, crescimento pessoal e aprendizagem. Uma das primeiras enfermeiras a tentar responder isso, foi Hildegard Elizabeth Peplau. Em sua teoria, ressaltou a importância das relações interpessoais. Onde que pregava que o cuidado deveria ser prestado de forma acolhedora, que não menosprezasse o sofrimento psíquico do outro. Nesse sentido, as teorias que enfatizam o aspecto interpessoal do cuidado, pregam que a comunicação integra a intervenção terapêutica. Pois a presença do outro, ainda que estranho, se sentida como autêntica, tem efeitos que potencializam a recuperação. A comunicação compassiva Dessa forma, a enfermagem promove a confiança e segurança, na medida em que responde à enorme insegurança manifestada pelos doentes e familiares. O que acontece não através de apenas uma técnica, mas várias, como a racionalização, a desmistificação, a não-generalização, a explicação dos sintomas, a oferta de disponibilidade e outras. Nesse sentido, insta observar, o paciente é o centro do trabalho da enfermagem, de forma que o profissional deve evitar dar ordens, ironizar, dar conselhos, rotular ou fazer julgamentos. É preciso ouvir de forma receptiva, com respeito e empatia, fazendo com que se sinta menos sozinho, de modo a acompanhar-lhe as reflexões com compaixão e profissionalismo. Ter esperança é preciso Não é que o enfermeiro vá solucionar os problemas do paciente, mas se bem direcionado, seu apoio permite a compreensão sobre a sua situação e as maneiras de melhor conviver com ela, o que também é uma forma de promoção da saúde. Esse novo paradigma, portanto, requer que além das competências técnicas, o profissional da enfermagem atente também para o aspecto afetivo de seu servir, de modo a promover emoções positivas no cuidado com o outro Ademais, há que se dizer, que sim, a enfermeira pode promover esperança. No entanto, essa nem sempre corresponderá a uma esperança de cura, deve ser uma esperança realista, que seja ao menos acalentadora. A esperança vã não tem lugar no léxico da enfermagem. Então, pílulas não bastam Portanto, uma vez verificado que estado geral de saúde e o cuidado de enfermagem transcendem a mera intervenção alopática, voltamos a inicial questão: como tratar desse ser biopsicossocial, dotado de espírito, inserido em um contexto? Isto é, como acolher aqueles que, além do corpo, por vezes também, estão doentes da alma? Ao encontro dessas questões vem a integralidade, uma abordagem que defende que o cuidar de forma integral é o caminho para a ruptura do engessamento que as práticas instituídas pelo modelo biomédico impõe às ações de cuidado desenvolvidas pela enfermagem Assim, o cuidado de forma fragmentada, tecnicista e mecanizada, no qual se centrao modelo biomédico, cede espaço para uma nova concepção, cunhada na humanização. Que passa a se preocupar com a harmonia do ser, com sua situação numa perspectiva holística. Dessa forma, técnicas antes rejeitadas passam a ser objeto de estudos e investigações, a fim de promover, além de saúde, bem-estar. Físico, emocional, social e espiritual Estudos demonstram que o sofrimento é bastante recorrente e prevalente entre portadores de neoplasias malignas, assim como frequente na população idosa. O desanimo ou a desesperança interferem significativamente no processo de recuperação e reabilitação do indivíduo diante de eventos traumáticos ligados à saúde. Nesse sentido, a práticas integrativas, apresentam potencial terapêutico relevante. No Brasil, atualmente, tais práticas são institucionalizadas sob a denominação de Práticas Integrativas e complementares — PIC, regulamentadas e ofertadas no âmbito da saúde pública. Elas consistem em uma diversidade de terapias alternativas, que buscam a promoção da saúde e recuperação terapêutica através de mecanismos não alopáticos. Politica Nacional de Praticas Integrativas e Complementares (PNPIC) Embora somente tenham sido definitivamente regulamentadas no território nacional em 2006, a Organização Mundial da Saúde já divulgava, discutia e incentivava sua implementação desde a década de 70. No solo brasileiro até existiram experiências locais antes disso, a partir da iniciativa de municípios isolados. No entanto, somente a com sua institucionalização, a partir da PNPIC, é que as técnicas alternativas em saúde tomaram corpo e assumiram papel relevante na promoção de saúde em âmbito nacional. O envelhecimento populacional e o aumento de transtornos mentais entre a população estão entre os principais fatores que justificam sua ampliação. PICs como estratégia de saúde No âmbito do Sistema Único de Saúde, a busca e utilização das PICS é crescente. Nesse sentido, dados coletados entre 2005 e 2015, analisados pela Universidade Federal do Paraná, indicam que a população atendida relatou impactos positivos, como melhor qualidade de vida e redução do uso de medicações. A literatura menciona, como sujeitas a tais práticas, principalmente a saúde mental e o manejo da dor, além de doenças crônicas, neurológicas e a menopausa. Essa nova abordagem busca estimular mecanismos naturais de prevenção a agravos e a recuperação da saúde por meio de práticas seguras e eficazes, com ênfase na escuta qualificada. Dessa forma, a abordagem holística de saúde busca uma reintegração do conceito de cuidado, que antes fora parcelado e fissurado. O qual passa a ser repensado, reintegrando-se a ele dimensões que nunca deveriam ter-lhe sido apartadas, como seus vieses social, afetivo, coletivo, ambiental, espiritual e psicológico. Corpo e mente em harmonia A partir das ideias de Jean Watson, portanto, a compreensão do ser, na ciência da enfermagem, passa a transcender a matéria, esse passa a ser visto sob um outro prisma, metafísico, humanizado. O corpo deixa de ser máquina, mas humano, urna da sublime existência que é a vida. Inspirada nessas ideias, a PNPIC buscou incorporar à atenção primária abordagens terapêuticas que integrem essa dimensões. Dessa forma, constelação familiar, homeopatia, acupuntura, plantas medicinais, termalismo e reiki são algumas das terapias oferecidas para acolher esse novo ser, que está além daquilo que clínica médica pode alcançar. Conclusões e Considerações O cuidado é a razão de ser da enfermagem. Inicialmente voltado para práticas ambientalistas, como organização e divisão do trabalho, o que não era sem razão, afinal tratava-se de uma ciência nova, num mundo completamente diferente do que temos hoje. No entanto, a medida que a enfermagem se desenvolvia, percebeu-se que seu labor não se limita à assistência biomédica, havia também um aspecto subjetivo latente, dada a proximidade entre profissionais e pacientes, os quais muitas vezes transferiam-lhes dores e angustias. Assim, não bastava mais à enfermagem um cuidado frio e impessoal. Nesse sentido, a comunicação mostrou-se como valioso instrumento de trabalho, cujo potencial terapêutico é capaz de influenciar positivamente o estado de espirito do paciente, de modo a promover-lhe, senão recuperação, conforto e bem-estar. Juntas, mas sem se confundir A enfermagem é uma ciência própria, dotada de autonomia científica, com saberes e métodos próprios. É a ciência do cuidado. Isto é, o cuidado de enfermagem é seu objeto de estudo. Nesse sentido, seus saberes e fazeres valorizam-se a medida que se adota, sobre o ser cuidado, uma visão ampla. Que, sem abandonar seus conhecimentos técnicos, acolha de forma holística, completa e integral, aquele sobre o qual se exerce o cuidado. Isto é, compreenda aquele ser, não somente sob o aspecto biomédico, cartesiano; mas também psíquico, social, cultural, individual, e, até mesmo, espiritual. Isso, todavia, não significa ou se pretende, que a enfermagem vá se apropriar dessas técnicas alternativas que se sugere. Elas têm seu lugar, que não se confunde com o da enfermagem. No entanto, a capacidade dessa, de reconhecer o potencial terapêutico daquelas, enaltece o seu fazer, pois demonstra a humildade de uma ciência que está disposta a aceitar a singularidade que é o outro. “É muito fácil continuar a repetir as rotinas, fazer as coisas como têm sido feitas, como todo mundo faz. As rotinas e repetições tem um curioso efeito sobre o pensamento, elas o paralisam. A nossa estupidez e preguiça nos leva a acreditar que aquilo que sempre feito de um certo jeito, deve ser o jeito certo de fazer. Rubens Alves Obrigada a todos pela atenção! 1. BARBOSA, Elaine da Silva. Proposições sobre a ressignificação do cuidado de Enfermagem: um estudo teórico-reflexivo Revista. Enfermagem em Foco, Vol. 11, n. 5. 2020; 2. DIAS, Lucas de Paiva. DIAS, Marcos de Paiva. Florence Nigthingale e a história da Enfermagem. História da Enfermagem, Revista Eletrônica. 2019; 3. BORSON, Lourena Aparecida MG. 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