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Processa-se através de ingestão de água e verduras, contaminadas com metacercárias. Os animais se infectam bebendo água e alimentos (capins, gravetos etc.) contami- nados com metacercárias. PATOGENIA A fasciolose é um processo inflamatório crônico do fi- gado e dutos biliares. E mais grave nos animais, nos quais "a migração simultânea de grande quantidade de formas imaturas pelo figado causa uma hepatite traumática e hemor- ragias" (Freitas, 1977). Além disso, provocaria uma séria per- da de peso, diminuição da produção de leite, e mesmo mor- te dos animais. Fêmeas grávidas ingerindo metacercárias po- dem ter seus fetos infectados. No homem, por não ser o hospedeiro normal do parasi- to, o número de formas presentes costuma não ser elevado. Ainda assim podemos constatar alterações orgânicas pro- vocadas pelo helminto. Essas lesões são de dois tipos: a) lesões provocadas pela migração de formas imaturas no pa- rênquima hepático; b) lesões ocasionadas pelo verme adulto nas vias biliares. A seguir, descreveremos esses dois tipos ou fases. A migração do verme jovem dentro do parênquima pa- rece que ocorre com a ajuda de ação enzimática. Assim, a liquefação dos tecidos hepáticos pela ação da enzima produzida pelo verme favorece não só a migração do ver- me, como a alimentação do mesmo, que é constituída de células hepáticas e sangue. A medida que a forma imatu- ra migra, vai deixando atrás de si um rastro de parênqui- ma destruído, que é substituído por tecido conjuntivo fi- broso. Essa alteração, sendo provocada por vários para- sitos, lesa também os vasos sanguíneos intra-hepáticos, causando necrose parcial ou total de lóbulos hepáticos. É importante dizer que as formas jovens em geral alcan- çam o figado sete dias após a ingestão das metacercárias, quando iniciam, precocemente, o processo patológico que poderá demorar algum tempo (semanas ou meses) para se manifestar. A presença dos parasitos adultos dentro dos ductos bi- liares, em movimentação constante e possuindo espinhos na cutícula, provocam ulcerações e imtações do endotélio dos ductos, levando a uma hiperplasia epitelial. Em segui- da, há reação cicatricial, com concreções na luz dos ductos, enrijecimento das paredes devido a fibrose e posterior de- posição de sais de cálcio. Essas alterações levam a uma di- minuição do fluxo biliar, provocando cirrose e insuficiên- cia hepatica. É dificil de ser feito. Pode ser feita a pesquisa de ovos nas fezes ou na bile (tubagem). Entretanto, como a produção de ovos no homem é pequena, pode haver resultados negativos, mesmo com a presença de parasito. O diagnóstico sorológico oferece maior segurança, apesar de não possuir sensibilidade muito eleva- da-e ~ o d e r cruzar com esauistossomose e hidatidose. Os métodos sorológicos mais indicados são: intradermor- reação, imunofluorescência, reação de fixação do comple- mento e ELISA. EPIDEMIOLOGIA A fasciolose é uma zoonose na qual a fonte de infecção para o homem são as formas larvárias provenientes de caramujos, infectados principalmente por miracidios prove- nientes de ovos expelidos juntos com fezes de ovinos e bo- vinos. Em Curitiba, Paraná, em área endêrnica de fasciolose, de 119 caprinos examinados, 59 (42,8%) apresentavam-se positivos, eliminando ovos viáveis nas fezes. Assim sendo, os casos humanos de E hepatica acompanham a dis- tribuição da doença animal. Os próprios ovinos e bovinos são as principais fontes de infecção. No sul do Brasil, o ra- tão de banhado e a lebre também podem albergar o parasi- to e disseminá-lo na natureza. Na epidemiologia da E hepatica, além dos animais citados, cavalos, búfalos, por- cos, cães e cervídeos podem funcionar como reservatórios do helminto, mas dois fatores importantes devem ser con- siderados: 1) a movimentação dos animais entre pastos úmi- dos nas baixadas (época da seca) e pastos secos, nas encostas (época das chuvas) perpetuar a doença entre os animais e infecta os novos que pela primeira vez se alimen- tam nas baixadas, onde existe o Lymnaea; 2) o comércio de bovinos em caminhões, do Sul para o Norte, tem dis- seminado a doença não só através dos animais, mas também pelos próprios caminhões cheios de fezes e lavados próxi- mos de brejos ou córregos. Uma E hepatica, no estádio adulto, em condições nor- mais é capaz de ovipor até 20.000 ovos por dia. Dessa for- ma, havendo condições propícias de temperatura (25-30"C), áreas alagadiças ou açudes com vegetação para desenvol- vimento do caramujo e presença de animais parasitados, o ciclo se fecha com grande facilidade. O Lymnaea é um molusco pulmonado, de água doce, que tem como biótopos preferidos as coleções de águas superficiais situadas nas margens de lagoas, represas, nos brejos e pastagens alagadiças, onde os caramujos se alimentam de microalgas que cobrem o substrato (Freitas, 1977). Os Lymnaea são hermafroditas e possuem um elevado potencial biótico, chegando apenas um exemplar, ao fim da segunda geração, a dar até 100.000 indivíduos. Esses caramujos também são resistentes a seca, quando entram em estivação. Resumindo, podemos dizer que os fatores mais importan- tes na epidemiologia da fasciolose humana são: criação extensiva de ovinos e bovinos em pastos e áreas úmidas e alagadiças; longevidade dos ovos nos pastos durante os meses frios; presença de Lymnaea nesses pastos; longevidade da metacercária (até um ano) na vegeta- ção aquática; Capitulo 24 225 presença do parasito nos animais; presença de roedores e outros reservatórios nessas regiões, disseminando o parasito pelas áreas alagadiças, ainda indenes de E;: hepatica; plantação de agrião em regiões parasitadas; hábito de pessoas comerem agrião ou beberem água proveniente de córregos ou minas em regiões onde o parasito é encontrado em animais domésticos ou silvestres. No foco de Curitiba (bairro Uberaba) foi constatado que a infecção provinha de uma fazenda próxima daquele bairro e onde se criavam bovinos que, pelo exame de fezes e post- mortem, acusaram o parasitismo pela E;: hepatica. ~ e s G área passam dois córregos - Belém e Iguaçu -, que na época das cheias dispersam os caramujos (Lymnaea) infectados; pela correnteza esses caramujos alcançam as folhas de agrião (Nasturdium officinale) ali existentes, liberando cercárias as quais se encistavam. Os casos humanos detec- tados eram moradores do bairro e que tinham o hábito de comer do agrião ali encontrado. A profilaxia da fasciolose humana depende primariamen- te do controle dessa helmintose entre os animais domés- ticos. Para atingir tal objetivo, as medidas fundamentais são: A adoção de uma política séria e eficiente evitando a dis- seminação dessa parasitose é um fator importante, pois não só irá reduzir o atual índice da doença entre os animais, como evitará a formação de novos focos em outros Estados (a Amazônia, via Tocantins e Araguaia e o Nordeste, via São Francisco) onde o homem também poderá ser facilmente con- taminado. Os métodos mais indicados são: a) uso de moluscocidas, como sulfato de cobre, Frescon ou Bayluscide; b) drenagem de pastagens úmidas ou alagadiças; c) flutuação ou varia- ção periódica e controlada do nível da água de açudes e re- presas; d) criação do molusco Solicitoides sp. que, sendo predador de formas jovens do Lymnaea, poderá ser um au- xiliar valioso como controlador biológico do hospedeiro intermediário. O uso de solução aquosa do látex da coroa- de-cristo (Euphorbia splendens), na proporção de 12mgll foi testado em valas de irrigação, matando 95% dos caramujos. Esses dados preliminares (1999) dão uma boa in- dicação do emprego do látex dessa planta no controle do Lymnaea, sem matar peixes e anfibios. Os medicamentos de escolha são: rafoxanide, clorzulon+ivermectina e albendazol, com resultados razoá- veis; o triclabendazol é o que apresenta os melhores resul- tados. Devem ser isolados por meio de cercas, para impedir a entrada de animaisnos mesmos. Está em fase adiantada de pesquisas o desenvolvimen- to de uma vacina. Testes feitos em camundongos e ovelhas com o antígeno Sml4r (que é uma proteína que transporta ácidos graxos) têm produzido elevadas taxas de proteção (essa mesma proteína está sendo estudada na vacina con- tra o S. mansoni, com resultados meros eficientes, mas ani- madores). Nas áreas sujeitas, recomenda-se: não beber água proveniente de alagadiços ou cór- regos, e sim filtrada ou de cisterna bem construída; não plantar agrião em área que possa ser contamina- da por fezes de ruminantes (como esterco, ou aciden- talmente); não consumir agrião proveniente de zonas em que es- sa helmintose animal tiver prevalência alta. TRATAMENTO No humanos, a terapêutica deve ser feita com cuidado, em vista de certa toxicidez das drogas e possíveis compli- cações. Os medicamentos em uso atualmente são: Bithionol - na dosagem de 50mg/kg/dia, durante 10 dias (recomen- da-se fracionar a dose diária em três vezes, tomando-se em dias alternados); Deidroemetina - uso oral (drágeas com IOmg) e injetáveis parenteral (30 e 60mg), na dose diária de lmg/kg durante 10 dias. O albenzadol, na dose de lOmg/kg tem sido empregado com sucesso, tendo-se que considerar, entretanto, alguns efeitos colaterais graves, ainda em estudo. Capitulo 24 A classe Cestoda compreende um interessante grupo de parasitos, hermafroditas, de tamanhos variados, encontrados em animais vertebrados. Apresentam o corpo achatado dorsoventralmente, são providos de órgãos de adesão na extremidade mais estreita, a anterior, sem cavidade geral, e sem sistema digestório. Os cestódeos mais frequentemente encontrados parasi- tando os humanos pertencem a família Taenidae, na qual são destacadas Taenia solium e T. saginata. Essas espéci- es, popularmente conhecidas como solitárias, são responsá- veis pelo complexo teníase-cisticercose, que pode ser defi- nido como um conjunto de alterações patológicas causadas pelas formas adultas e larvares nos hospedeiros. O complexo teníase-cisticercose constitui um sério pro- blema de saúde pública em países onde existem precárias condições sanitárias, socioeconômicas e culturais, que con- tribuem para a transmissão. Causam ainda prejuízos econô- micos, principalmente em áreas de produção de gado, por- que as carcaças infectadas são condenadas no abate com base em inspeção veterinária. Didaticamente, a teníase e a cisticercose são duas enti- dades mórbidas distintas, causadas pela mesma espécie, porém com fase de vida diferente. A teníase é uma alteração provocada pela presença da forma adulta da Taenia solium ou da í? saginata no intestino delgado do hospedeiro defi- nitivo, os humanos; já a cisticercose é a alteração provoca- da pela presença da larva (vulgarmente denominada canjiquinha) nos tecidos de hospedeiros intermediários nor- mais, respectivamente suínos e bovinos. Hospedeiros anô- malos, como cães, gatos, macaco e humanos, podem alber- gar a forma larvar da í? solium. Essas patologias são conhecidas desde a Antiguidade pensando-se, durante muito tempo, que eram causadas por fenômenos ou espécies diferentes. Daí os nomes específi- cos para a forma adulta e para a forma larvária. Em 1697, 'Agradecimento: Desejamos expressar nossos agradecimentos ao ilustre colega, Prof. Evaldo Nascimento, autor deste capitulo nas edições anterio- res deste livro. Malpighi verificou que o agente da canjiquinha, ladrária ou pedra, era um verme. Werner, em 1786, e Goeze, em 1789, ve- rificaram que as formas encontradas nos suínos e nos hu- manos eram idênticas. Em 1758, Linnaeus descreveu í? solium e í? saginata. Em 1800, Zeder cria o gênero Cysticercus para o agente da canjiquinha e, finalmente, Kuchenmeister, em 1885, fazendo infecções em humanos e em suínos, demonstrou que o cisticerco dos suínos origina- va o verme adulto nos humanos. A prevalência do complexo teníase cisticercose é fre- quentemente subestimada devido a vários fatores que difi- cultam o diagnóstico humano e animal. Na teníase, cimo em outras parasitoses intestinais humanas, observam-se mani- festações generalizadas do aparelho digestório, nervoso, deficiências nutricionais e, algumas vezes, mudanças com- portamentais; a pesquisa do parasito pode ser dificultada pela utilização de técnicas inadequadas; o diagnóstico da cisticercose animal é feito apenas no abate, podendo apre- sentar falhas metodológicas ou mesmo não ser realizado; a cisticercose humana, apesar dos avanços nas técnicas so- rológicas e por imagens, ainda não representa a realidade, sobretudo porque são tecnologias caras, o que limita a uti- lização na população carente e, finalmente, a falta da obri- gatoriedade de notificação do complexo teníase-cisticerco- se pelos órgãos responsáveis. Embora o Ministério da Saú- de recomende (Portaria 1.100 de 24/05/1996) a implementa- ção da notificação do complexo teníase-cisticercose, apenas os Estados de Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul e a localidade de Ribeirão Preto (SP) implan- taram programas de combate e controle desse complexo. Stool, em 1947, a partir de dados da literatura estimou a prevalência de teníase por í? saginata em 39 milhões de in- divíduos e 2,5 milhões por í? solium na população mundial. Atualmente, acredita-se que existam cerca de 77 milhões de pessoas parasitadas por í? saginata no mundo, dos quais, 32 milhões na Africa, 11 milhões na Asia (excluindo a Rússia), dois milhões na ~ d é r i c a do Sul e um milhão na América do Norte. \ A cisticercose é altamente 'endêmica em áreas rurais da América Latina (especialmente México, Guatemala, E1 Salva- dor, Honduras, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Brasil), Capitulo 25 Afica e Asia. urna extrapoiação a partir dos dados limitados relatados sobre infecção sugere que entre 30 e 50 milhões de pessoas em países da América Latina tenham sido expos- tas (OPASIOMS 1997). A OMS estima que ocorram, a cada ano, 50.000 mortes devidas a neurocisticercose e que exis- ta um número ainda maior de pacientes, que sobrevivem, todavia, incapacitados, devido aos ataques convulsivos ou outros danos neurológicos. Os índices de 1% para teníase, 0,1% para cisticercose humana e 5% para cisticercose ani- mal são considerados endêmicos, confirmando o importan- te problema de saúde pública do complexo teníase-cisticer- cose na América Latina. Nos países desenvolvidos, como o Canadá e os Estados Unidos, um número cada vez maior de registros vem sendo feito, e frequentemente associado a imigrantes do México e sul da Asia, onde a T. solium é endêmica. No Brasil, os dados referentes a prevalência do complexo são imprecisos, escassos e geralmente representam traba- lhos pontuais de profissionais de saúde. De acordo com os dados da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), a cisti- cercose é endêmica no país, particularmente nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Em San- ta Catarina dados coletados em clínicas de tomografia com- putadorizada revelaram no período de 1992 a 1995,638 ca- sos de neurocisticercose (1,5%). No Município de Ribeirão Preto (SP), o coeficiente de prevalência da cisticercose em 1998 foi de 67 casos1100 mil habitantes. Apesar dos escas- sos relatos, a Região Nordeste apresenta condições favorá- veis para a ocorrência e manutenção do complexo teníase cisticercose. Em Mulungu do Morro (BA) foram registrada em 200 1 altas soroprevalências de cisticercose (1,6%) e teníae (4,5%). Agapejev (2003), com objetivo de mostrar as características da neurocisticercose humana no Brasil, rea- lizou análise crítica após extensa revisão da literatura nacio- nal abrangendo o período de 191 5 a 2002, relatando a inci- dência de 1,5% nas necropsias, 2,3% em estudos soroepide- miológicos, 3,0% nos estudos clínicos, correspondendo a 0,3% das admissões em hospitais gerais. O estudo revelou que a letalidade gira em tomo de 15% e que napopulação psiquiátrica a incidência de neurocisticercose é cinco vezes mais elevada que na população geral. Com relação a cisticercose animal, as informações fo'me- cidas pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) são limitados, pois os métodos de inspeção padronizados são deficientes, limitando-se a cortes superficiais em localizações preferen- ciais do parasito, bem como a músculos facilmente acessí- veis e ao número de animais abatidos e inspecionados. MORFOLOGIA A I: saginata e I: solium apresentam corpo achatado, dorsoventralmente em forma de fita, dividido em escólex ou cabeça, colo ou pescoço e estróbilo ou corpo (Tabela 25.1). São de cor branca leitosa com a extremidade anterior bastan- te afilada de difícil visualização (Fig. 25.1). Escólex: pequena dilatação, medindo em I: solium de 0,6 a 1 rnrn. e em I: saginata 1 a 2 rnm. de diâmetro, situada na extremidade anterior, funcionando como órgão de fixação do cestódeo à mucosa do intestino delgado humano. Apresenta quatro ventosas formadas de tecido muscular, arredondadas e proeminentes. A I: solium possui o escólex globuloso com um rostelo ou rostro situado em posição central, entre as ventosas, armado com dupla fileira de acúleos, 25 a 50, em formato de foice. A T. saginata tem o escólex inerme, sem rostelo e acúleos (Fig. 25.2). Colo: porção mais delgada do corpo onde as células do parênquima estão em intensa atividade de multiplicação, é a zona de crescimento do parasito ou de formação das proglotes. Estróbilo: é o restante do corpo do parasito. Inicia-se logo após o colo, observando-se diferenciação tissular que permite o reconhecimento de órgãos internos, ou da segmen- tação do estróbilo. Cada segmento formado denomina-se proglote ou anel, podendo ter de 800 a 1.000 e atingir 3 metros na T. solium, ou mais de 1.000, atingindo até 8 metros na I: saginata. A estrobilização é progressiva, ou seja, a medida que cresce o colo, vai ocorrendo a delimita- ção das proglotes e cada uma delas inicia a formação dos seus órgãos. Assim, quanto mais afastado do escólex, mais evoluídas são as proglotes. Após fixação e coloração, podem T solium 1 saginata Escólex Globoso Com rostro Com dupla fileira de acúleos . Quadrangular Sem rostro Sem acúleos Proglotes Ramificações uterinas pouco Ramificações uterinas muito numerosas, de tipo dendritico numerosas. de tipo dicotõmico Saem passivamente com as fezes Saem ativamente no in te~a lo das defecaçáes Cysticercus C. cellulosae C. bovis Apresenta acúleos Não apresenta acúleos Capacidade de levar a cisticercose humana Possível Não foi comprovada Ovos Indistinguiveis Indistinguiveis 228 Capitulo 25 ser visualizados os órgãos genitais masculinos e femininos, demonstrando ser a tênia hermafrodita. As proglotes são subdivididas em jovens, maduras e grávidas e têm a sua individualidade reprodutiva e alimen- tar. As jovens são mais curtas do que largas e já apresen- tam o início do desenvolvimento dos órgãos genitais mas- culinos que se formam mais rapidamente que os femininos. Este fenômeno é denominado protandria. A proglote madura possui os órgãos reprodutores completos e aptos para a fe- cundação. As situadas mais distantes do escólex, as proglotes grávidas, são mais compridas do que largas e in- ternamente os órgãos reprodutores vão sofrendo involução enquanto o útero se ramifica cada vez mais, ficando repleto de ovos. A proglote grávida de 7: solium é quadrangular, e o útero formado por 12 pares de ramificações do tipo dendrítico, contendo até 80 mil ovos, enquanto a de 7: saginata é retangular, apresentando no máximo 26 ramifica- ções uterinas do tipo dicotômico, contendo até 160 mil ovos. Entretanto, apenas 50% dos ovos são maduros e férteis. Essas proglotes sofrem apólise, ou seja, desprendem-se es- pontaneamente do estróbilo. Em 7: solium, são eliminados passivamente com as fezes de três a seis anéis unidos, en- quanto em 7: saginata as proglotes se destacam separada- mente, podendo se deslocar ativamente, graças a sua mus- culatura robusta, contaminando a roupa íntima do hos- pedeiro. O tegumento que reveste a superfície do corpo dos cestódeos é formado por um citoplasma de natureza sin- cicial, sem núcleos, rico em mitocôndrias, diminutos vacúolos e vesículas. Externamente, uma membrana celu- lar reveste o citoplasma e desempenha importante papel metabólico, pois constitui a interface parasito-hospedei- ro, através do qual dão-se todas as trocas nutritivas e ex- creção dos resíduos metabólicos. Ao microscópio eletrô- nico de varredura, observam-se no tegumento microvilo- sidades especializadas, microtríquias, que aumentam a área de contato do parasito como meio exterior. São revestidas externamente por uma camada de glicocálix (constituído de mucopolissacarídeos e glicoproteína). O glicocálix, juntamente com outras moléculas, tem papel importante na absorção de nutrientes, proteção contra enzimas digestivas do hospedeiro e na manutenção da integridade da superfície da membrana do parasito. Essas vilosidades oferecem resistência contra a acorrente intes- tinal e ainda agitam o micro-hábitat vizinho, onde o ver- me se movimenta remexendo o fluido intestinal, evitando perda de material nutritivo (Fig. 25.4). Ovos: esféricos, morfologicamente indistinguíveis, me- dindo cerca de 30mm de diâmetro. São constituídos por uma casca protetora, embrióforo, que é formado por blocos pira- midais de quitina unidos entre si por uma substância @ro- vavelmente protéica) cementante que lhe confere resistên- cia no ambiente. Internamente, encontra-se o embrião hexacanto ou oncosfera, provido de três pares de acúleos e dupla membrana. Cisticerco: o cisticerco da 7: solium é constituído de uma vesícula translúcida com líquido claro, contendo invaginado no seu interior um escólex com quatro ventosas, rostelo e colo (Fig. 25.3). O cisticerco da 7: saginata apre- senta a mesma morfologia diferindo apenas pela ausência do rostelo. A parede da vesícula dos cisticercos é composta por três membranas: cuticular ou externa, uma celular ou in- termediária e uma reticular ou interna. Estas larvas podem atingir até 12mm de comprimento, após quatro meses de in- fecção. No sistema nervoso central humano, o cisticerco pode se manter viável por vários anos. Durante este tempo, observam-se modificações anatômicas e fisiológicas até a completa calcificação da larva: Estágio vesicular: o cisticerco apresenta membrana ve- sicular delgada e transparente, líquido vesicular incolor e hialino e escólex normal; pode permanecer ativo por tempo indeterminado ou iniciar processo degenerativo a partir da resposta imunológica do hospedeiro. Estágio coloidal: líquido vesicular turvo (gel esbranqui- çado) e escólex em degeneração alcalina. Estágio granular: membrana espessa, gel vesicular apre- senta deposição de cálcio e o escólex é uma estrutura mineralizada de aspecto granular. Estágio granular calcijkado: o cisticerco apresenta-se calcificado e de tamanho bastante reduzido. O Cysticercus racemosus ou forma racemosa é conside- rada por alguns autores como forma anômala do cisticerco da T solium. A larva perde a forma elipsóide para assumir pg. Fig. 25.1 - Taenia solium completa: E - escólex; Pj - proglote jovem; Pm - proglote madura; Pg - proglote grávida, desprendida das demais.