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neves_-_parasitologia_humana_-_11ed-80

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Tipos de Famílias de GBnero Espécie 
Miiases Moscas 
Hospedeiro Ocorrência 
Usual em humanos 
Obrigatórias 
Rara 
Rara 
Facultativas 
Calliphoridae Cochliomyia C. hominivorax Mamíferos Frequente 
Chrysomya C. bezziana Mamíferos Rara 
Oestridae Dermatobia D. hominis 
Alouattamyia A. baeri 
Oestrus O. ovis 
Mamíferos 
Macacos 
Ovelhas 
Gasterophilidae Gasterophilus G. intestinalis Equideos 
Muscidae Philornis Philornis sp Aves 
Frequente 
Rara 
Não 
Calliphoridae Cochliomyia C. macellaria Carcaças Ocorre 
Lucilia L. cuprina Carcaças Ocorre 
Chrysomya C. megacephala Carcaças Não 
Esterco 
Sarcophagidae Sarcophaga Sarcophaga sp Carcaças Ocorre 
Muscidae Muscina M. stabulans Fezes Ocorre 
Fannidae Fannia fannia sp Fezes Ocorre 
Stratiomidae Hermetia H. illuscens Lixo Ocorre 
Pseudomiiases Syrphidae Eristalis E. tenax Esterco, lama Ocorre 
Tephritidae Ceratitis C. capitata Frutas Ocorre 
mundo. É de cor verde-acobreada; muito comum em terrenos 
baldios das cidades. Antigamente era denominada L. 
pallescens. 
L. eximia: ocorre desde o sul dos Estados Unidos até a 
Argentina e o Chile. É de cor verde-metálica; mais comum na 
zona rural. 
L sericata: espécie cosmopolita, também de cor verde- 
metalica; mais encontrada na zona urbana. 
As moscas desse gênero são robustas, com aproximada- 
mente 8mm de comprimento, de cor metalica, variando des- 
de o verde-brilhante com tons amarelados até o azulado. As 
cerdas mesonotais, ao contrário do gênero Phaenicia, são 
pouco desenvolvidas. Apresenta duas faixas transversais 
escuras no mesonoto e três no dorso do abdome. 
Biologia 
Até recentemente espécies desse gênero eram restritas 
as regiões tropicais e subtropicais do Velho Mundo, onde 
são consideradas as espécies de Calliphoridae mais abun- 
dantes e economicamente importantes. 
Aproximadamente em 1976, quatro espécies do gêne- 
ro se estabeleceram no Novo Mundo: Chrysomya putoria 
(= Chrysomya chloropyga, forma putoria) foi encontrada 
em Curitiba. Logo após, C. putoria, C. megacephala e C. 
albiceps foram também encontradas em Campinas e Santos, 
no Estado de São Paulo. As três espécies foram provavel- 
mente introduzidas por refugiados das ex-colônias portu- 
guesas da África. Atualmente, já se espalharam por toda a 
América do Sul. 
Uma quarta espécie, C. rufifacies, foi também encontra- 
da nas Américas Central e do Norte, por volta de 1978. 
Outra espécie, C. bezziana, é a principal responsável por 
miíases obrigatórias no Velho Mundo. Entretanto, as quatro 
espécies introduzidas no Novo Mundo são agentes even- 
tuais de miíases facultativas em mamíferos. Devido aos há- 
bitos de se alimentarem de fezes humanas e de outros ani- 
mais e ao seu alto grau de sinantropia, são também impor- 
tantes vetores potenciais de patógenos intestinais para o 
homem. Além disso, graças a sua alta capacidade reprodu- 
tiva e agressividade das larvas, suplantou em muito (em nú- 
mero) outras espécies de moscas, especialmente a C. 
macellaria e Lucilia sp. 
Esta família apresenta grande número de espécies, com 
taxonomia controvertida. Trabalhos recentes, desenvolvidos 
em nosso meio, indicam que na zona urbana a espécie mais 
comum é a Bercaea hemorroidalis; já no pasto e área de 
mata, os gêneros predominantes são: Oxysarcodexia, 
Pattonella e Euboettcheria. A determinação dos gêneros e 
espécies é dificil, pois é baseada em caracteres da genitália 
masculina, requerendo conhecimentos especializados. Por 
outro lado, a identificação da família é fácil, como será mos- 
trada em seguida. 
São moscas de médias a grandes, medindo cerca de 6 a 
10mm (ou mais) de comprimento. Apresentam cor acinzen- 
Capítulo 48 
Fig. 48.3 - Miíase nasal e na perna provocada por larvas de Cochliomyia hominivorax (segundo Mazza, 1939). 
tada, sendo que o mesotórax possui três faixas negras lon- 
gitudinais e abdome axadrezado. As larvas maduras medem 
cerca de 18mm e possuem cor branco-amarelada; os es- 
tigmas respiratórios são colocados em uma depressão; cada 
espiráculo apresenta três fendas mais ou menos retas e qua- 
se paralelas (Figs. 48. l e 48.7). 
Biologia 
De um modo geral, os Sarcophagidae desenvolvem-se a 
partir de larvas, e não de ovos. Isto é, as fêmeas são 
larvíporas. Preferem depositar as larvas em cadáveres, ma- 
téria orgânica vegetal em decomposição, fezes etc., mas po- 
dem fazê-lo em feridas necrosadas. Podem depositar até 50 
larvas em uma ferida. 
As larvas invadem os tecidos e alimentam-se vorazmen- 
te. Dependendo da temperatura e volume de alimento, e cer- 
ca de dez dias já estão maduras. Caem no chão e enterram- 
se na terra fofa ou sob as folhas, para puparem. No verão, 
os adultos saem das pupas cerca de 10 a 15 dias depois. 
Tratamento 
Todas essas miíases até agora citadas podem ser trata- 
das do seguinte modo: 
limpar a ferida, 
anestesiar localmente a área (conforme a lesão, não há 
necessidade de anestésico); 
com o auxílio de uma pinça, retirar larva por larva; 
tratar a ferida deixa com bacteriostático local ou, con- 
forme o caso, usar antibiótico de largo espectro. 
Nota: O tratamento deve ser o mais precoce, pois a le- 
são pode estender-se em poucos dias devido a voracidade 
das larvas. Muitas vezes, quando o tratamento não é feito 
a tempo, há necessidade de cirurgia plástica para recompor 
a área destruída. No caso de não se conseguir retirar todas 
as larvas, é recomendável a aplicação de um spray vetenná- 
rio próprio (Lepecid, Vallecid), que mata as larvas e estimula 
a cicatrização da ferida. 
A subfamília Cuterebrinae reúne um fascinante grupo de 
moscas que apresenta uma biologia interessantíssima, a qual 
intrigou os entomologistas por mais de três séculos. Somen- 
te entre os anos 19 1 1 e 19 1 8 é que vários aspectos de seu 
peculiar modo de vida se tomaram conhecidos. Os adultos 
de modo geral são pouco vistos, pois possuem uma vida 
curta (5-20 dias, apenas suficiente para o acasalamento e a 
oviposição) e vivem em ambientes florestais; as larvas de- 
nominadas "beme", "ura" ou "tórsalo", é que são bem co- 
nhecidas. 
A subfamília Cuterebrinae e exclusiva do Novo Mundo. 
Segundo autores americanos, apresenta seis gêneros com 83 
espécies (Cuterebra - 72 espécies; Dermatobia - uma es- 
pécie; Alouattamyia - uma espécie; Rogenhofera - duas 
espécies e Neomyia - uma espécie). Entretanto, autores 
brasileiros discordam dessa classificação, preferindo dividir 
1 Capitulo 48 391 
o gênero Cuterebra em dois: Metacuterebra, com 36 es- 
pécies neotropicais, e Cuterebra, com 36 espécies neo-ár- 
ticas. As espécies desses dois gêneros parasitam roedores 
e logomorfos (coelhos). 
A Dermatobia ocorre em vários animais, principalmen- 
te bovinos, cães e homem. 
O gênero Alouattamyia é um parasito habitual de maca- 
cos Cebidae (guariba) na região neotropical. A espécie A. 
baeri, recentemente (1982 e 1983), foi encontrada em três 
casos humanos na Amazônia (Rondônia, Manaus e Tucu- 
ruí-Pará). Não se conhece bem o mecanismo de infestação 
desta espécie, mas, nos pacientes vistos, as larvas estavam 
presentes na faringe provocando tosses, ânsia de vômito e 
forte imitação na garganta. Um dos pacientes eliminou a lar- 
va espontaneamente e outro após tratamento pelo Thiaben- 
dazol. No caso do Pará, o paciente apresentava lesões pul- 
monares, tendo eliminado a larva durante um forte acesso 
de tosse. As larvas são grandes (1,5 a 2,5cm de comprimen- 
to), segmentadas em gomos, como urna granada de mão, e 
escuras. Estudos feitos em macacos permitiram verificar que 
larvas jovens fixam-se na faringe e, quando mais desenvol- 
vidas, penetram profundamente nos tecidos até alcançarem 
a região subcutânea, formando cistos. Assim que amadure- 
cem, rompem os cistos e caem no chão para puparem. As 
moscas adultas também são grandes e escuras. 
Os demais gêneros e espécies não apresentam interes- 
se médico. 
Os Cuterebrinae, em geral, são moscas grandes, robus- 
tas e com aparelho bucal atrofiado, uma vez que a alimen- 
tação e a formação de reservas nutritivasocorrem na fase 
larvar. 
Em seguida estudaremos a Dermatobia hominis, que é 
a principal espécie de Cuterebrinae capaz de provocar miíase 
humana com freqüência. 
Dermatobia hominis 
É vulgarmente conhecida como mosca-bemeira. Ocorre 
desde o México até a Argentina. No Brasil, é vista em todos 
os estados, com exceção das áreas secas do Nordeste. Pre- 
fere áreas úmidas e montanhosas, mas não acima de 1.000m 
de altitude. Os adultos apresentam uma biologia muito 
interessante e, em geral, permanecem escondidos em capo- 
eiras e pequenas matas (mesmo as de eucaliptos). 
É uma mosca robusta, medindo cerca de 12mm de com- 
primento. Adultos com aparelho bucal atrofiado (não-funci- 
onal). A cabeça apresenta a parte superior e os olhos mar- 
rons, enquanto a parte ventral é castanha. Tórax cinza-amar- 
ronzado, com manchas longitudinais, indistintas e de cor es- 
cura. Abdome azul-metálico. Asas grandes e castanhas (Fig. 
48.4). A larva adulta (beme) mede cerca de 2cm de compri- 
mento por 0,5cm de diâmetro na parte mais volumosa. Tem a 
figura grosseira de um pingo d'água, sendo que na parte mais 
afilada, em contato com o ar @arte posterior) estão situados 
os espiráculos respiratórios, e na porção mais volumosa, 
mergulhada nos tecidos @arte anterior) encontramos as pe- 
ças bucais; apresenta o corpo com várias fileiras de espinhos 
curvos, com as pontas voltadas para fora. 
Fig. 48.4 - Dermatobia hominis: A) mosca adulta; B) berne (larva) dentro 
do tecido (adaptado de Faust 8 Craig, 1970). 
Biologia 
Os adultos não se alimentam. Logo após o nascimento, 
ocorre a cópula. A fêmea, estando fecundada, fica em locais 
protegidos, onde também se abrigam vários insetos hema- 
tófagos. Em vôos rápidos, a mosca-bemeira captura um in- 
seto hematófago (preferentemente) e lhe deposita sobre o 
abdome de 15 a 20 ovos. Esses ficam aderidos ao abdome 
do inseto e apresentam um opérculo voltado para trás. Uma 
fêmea pode pôr de 400 a 800 ovos durante sua curta vida, 
que é de cerca de dez dias (Fig. 48.5). 
Cerca de seis dias depois, esses ovos já estão maduros 
e, quando o inseto veiculador vai alimentar-se, estimulado 
pelo calor do homem (ou animal), a larva sai rapidamente do 
ovo e alcança a pele do hospedeiro. A larva mede um e meio 
milímetro e em dez minutos penetra na pele sã ou lesada (pi- 
cada de insetos etc.). Permanece com os espiráculos res- 
piratórios voltados para fora (nível da pele) e a extremidade an- 
terior (boca) voltada para dentro. Começa a alimentar-se ativa- 
mente e após sofrer duas ecdises, já está madura aos 40 ou 60 
dias. Nesta fase, mede cerca de 2cm de comprimento por 0,5cm 
de diâmetro na parte mais volumosa. Em seguida, abandona o 
hospedeiro e cai no chão. Enterra-se na terra fofa, transforma- 
se em pupa e permanece nesta fase por 30 dias (nos meses de 
verão) e então abandona o pupário. Vinte e quatro horas a@ 
entra em cópula, que se repete em dias sucessivos. Três dias 
após a primeira cópula, inicia a oviposição. 
As principais espécies de insetos veiculadores de ovos 
de D. hominis são moscas não hematófagas: Sarco- 
promusca bruna, Fannia sp e Sarcophagula sp; os dípte- 
ros hematófagos parece que são menos importantes do que se 
392 Capitulo 48 
pensava: Neyvamyia lutzi; Stomoxys calcitrans, Aedes sp; 
Psorophora sp etc. 
Tratamento 
Para os animais, existe uma série de produtos fosforados 
que são aplicados preventivamente nos mesmos. As larvas, 
ao saírem dos veiculadores e entrarem em contato com a 
pele do animal tratado, morrem rapidamente. 
Na espécie humana recomenda-se tirar o beme logo que 
seja percebido. O beme provoca um prurido intenso e de- 
pois dor. O orifício aberto possibilita a entrada de larvas de 
outras moscas e várias bactérias que podem complicar o 
quadro. 
A melhor maneira de se retirar o beme é matando-o por 
asfwa: 
raspar os pêlos da região (cabeça); 
colar firmemente um pedaço de esparadrapo (3cm de 
lado); 
deixar por uma hora; 
retirar o esparadrapo: o beme deve estar aderido ao 
mesmo; caso não esteja, com ligeira compressão, sairá; 
tratar a ferida com bacteriostático local. 
Caso não se consiga retirá-lo assim, pode-se proceder de 
outra maneira. Colocar um pequeno pedaço de fumo de rolo 
em água filtrada, ferver durante 15 minutos. Depois de fria, 
colocar algumas gotas no orifício do beme. A nicotina ma- 
tará o berne rapidamente, facilitando sua extirpação por 
compressão manual. O beme, ou os bemes presentes num 
mesmo orifício deverão ser retirados íntegros, para facilitar 
a cicatrização. De outra forma, poderá haver proliferação 
bacteriana, evoluindo para um abscesso. 
Nota: Deve-se matar o beme antes de tentar retirá-lo. 
Estando vivo, mantém os seus espinhos firmemente aderi- 
dos aos tecidos do hospedeiro, dificultando sua extirpação. 
Dependendo da área, só sairá do orifício após ligeira anes- 
tesia local, com neotutocaína ou xilocaína, seguida de inci- 
são na pele com bisturi ou tesoura. 
Quanto ao tratamento de miíase acidental, recomenda-se 
o emprego de purgativo salino (sal de Glauber) ou piperazi- 
na, na mesma dosagem empregada contra o A. lumbricoides 
ou ainda o tiabendazol. 
Para facilitar ao aluno o reconhecimento das moscas aqui 
estudadas será apresentada a seguir uma chave simplifica- 
da, baseada em caracteres macroscópicos apenas: 
1) Moscas de pequenas a grandes, de cor cinza, com 
três faixas negras no tórax e abdome axadrezado 
Sarcophagidae. 
2) Moscas grandes, tórax cinza-amarronzado e abdome 
azul metálico Dermatobia hominis. 
3) Moscas médias, de cor verde-metálico 
Calliphoridae. 
4) Toda verde, com três faixas negras longitudinais no 
tórax Cochliomyia. 
5) Toda verde, com duas faixas escuras transversais no 
tórax e três no abdome Chlysomya. 
6) Toda verde ou acobreada Lucilia. 
Esta subfamília apresenta um gênero - Oesh-us - com 
a espécie 0 . ovk, cujas larvas desenvolvem-se habitualmen- 
te nas mucosas e nos seios frontais de ovinos; pode 
parasitar também caprinos, equinos e, raramente, o homem. 
Possui distribuição mundial, sendo no Brasil comum nas re- 
giões onde se criam carneiros (sul do Brasil, sul de Minas). 
As moscas são grandes, robustas, com aparelho bucal 
atrofiado; as larvas são claras, chegando a alcançar 2,5cm de 
comprimento. Cada mosca é larvípora e durante sua vida (cer- 
ca de 30 dias) faz várias posturas, depositando nas narinas 
dos carneiros um total de até 500 larvas, em vôos rápidos. O 
período larva1 é de 30-60 dias; quando maduras, as larvas 
caem no solo e enterram-se transformando-se em pupas, que 
30 dias após (meses quentes) dão liberdade ao adulto. 
Os casos humanos relatados ocorrem na conjuntiva, 
produzindo forte initação ocular. Em geral, no homem, as lar- 
vas não, se desenvolvem além do primeiro estágio. Na Eu- 
ropa e Africa do Norte o homem é frequentemente infestado 
por esta larva, atingindo não só a conjuntiva como também 
as fossas nasais. 
Esta subfamília possui quatro gêneros, dos quais o mais 
importante é o Gasterophilus, cujas espécies (G. nasalis, C. 
Fig. 48.6 - Miiase provocada pela larva de Dermatobia hominis; notar que 
o 'berne" está sendo expulso por compressão manual, apbs ter sido morto 
Fig. 48.5 - Mosca hematbfaga (veiculando ovos de Dermatobia hominis por tamponação do orifício com esparadrapo ou vaselina (segundo Atlas 
sobre o abdome). Schering das Dermatoses Tropicais - n* 3 - Doenças Parasitárias). 
Capitulo 48 393 
S. calcitrans Lucilia sp C. macellaria 
M. domestica C. hominivorax Sarcophagidae 
Fig. 48.7 - Placas estigm8ticas e respectivos espir8culos respiratbrios de larvas maduras de alguns muscbides importantes. Para observar tais estruturas, 
fazer o seguinte: cortar com tesoura o último segmento larvar; colocar esse fragmento sobre uma /&nina; observar em microscbpio, com aumento 10 x 
(pode, ou não, colocar laminula). 
intestinalis e G. haemorrhoidalis) parasitam o tubo diges- 
tivo de equídeos. 
Os adultos são moscas grandes, densamente pilosas, as- 
semelhando-se a abelhas(inclusive no zumbido). Apresen- 
tam aparelho bucal atrofiado; as fêmeas depositam os ovos 
nos pêlos dos animais, onde seis dias depois eclodem lar- 
vas diminutas que alcançam a boca dos mesmos; aí chegan- 
do formam túneis no tecido subepitelial da língua e muco- 
sa bucal, atingem a faringe cerca de 30 dias depois, sendo 
então transportadas ao estômago, fixando-se no piloro e 
duodeno. Aí permanecem durante 10- 12 meses, quando atin- 
gem cerca de 2cm de comprimento e são expelidas com as 
fezes. Caem no solo e transformam-se em pupas. 
Os raros casos humanos assinalados apresentam apenas 
larvas de primeiro estágio provocando larva migrans cutâ- 
nea (ver Capítulo 3 1). 
MOSCAS E ENTOMOLOGIA 
FORENSE 
A Entomologia Forense é a aplicação do estudo de in- 
setos e outros attrópodes para uso legal, tal como proces- 
sos envolvendo crimes, suicídios ou mortes acidentais, com 
o intuito de se determinar o intervalo pós-morte, bem como 
as circunstâncias durante e após o óbito, como, por exem- 
plo, movimento$ sofndos pelo cadáver, maneira e causas da 
morte etc. Na grande maioria dos casos, larvas de certas es- 
pécies de moscas, principalmente das famílias Calliphoridae 
e Sarcophagidae, são de fundamental importância para a 
Entomologia Forense, pois são as primeiras e mais abun- 
dantes, desenvolvendo-se em cadáveres. No Brasil, estudos 
preliminares realizados na região de Campinas-SP apontam 
as seguintes espécies como as mais importantes: C h ~ s o - 
mya albiceps, C. putoria, C. megacephala, Lucilia eximia, 
Hemilucilia segmentaria, pertencentes a família Callipho- 
ridae. Na família Sarcophagidae foram também consideradas 
importantes Panttonela intermutans, Addiscochaeta ingens 
e ruficornis; todas elas se utilizam de carcaças de animais 
de médio e grande portes para seu desenvolvimento larval. 
O entendimento do processo de decomposição cadavé- 
rica é de suma importância para a aplicação da entomologia 
nos casos forenses envolvendo a presença de drogas con- 
sumidas pelo cadáver antes de sua morte. E, quando não há 
elementos necessários para a realização da análise toxicoló- 
gica ou o cadáver se encontra em estágio de decomposição 
avançada, os insetos necrófagos podem ser usados na de- 
tecção de substâncias tóxicas ou seus metabólitos nos te- 
cidos do morto, pois elas são incorporadas pelos insetos 
durante a alimentação. Com isso, a análise dos insetos, es- 
pecialmente larvas e pupários de dípteros, encontrados num 
corpo em decomposição ou em suas proximidades, pode ser- 
vir não apenas para a estimativa do intervalo pós-morte 
(IPM) e como indicadores forenses, mas também pode ser 
usado na identificação qualitativa e quantitativa de subs- 
tâncias ou drogas, como estimulantes, soníferos, antidepres- 
sivos etc. A vantagem de se usar a larva em vez de tecidos 
de um cadáver são os resultados encontrados na croma- 
tografia, pois as larvas apresentam menos contaminantes do 
que os tecidos, e é de fácil coleta e manutenção. Pupários 
íntegros podem ser coletados anos após o cadáver ter sido 
inteiramente consumido e substâncias eventualmente incor- 
poradas no passado pelas larvas podem ser detectadas no 
pupário através da cromatografia. No exterior, alguns pesqui- 
sadores, principalmente aqueles ligados a órgãos de inves- 
tigação de crimes, como o FBI nos EUA, vêm desenvolven- 
do trabalhos com larvas utilizando várias drogas e técnicas 
diferentes, e muitas vezes solucionando casos envolvendo 
homicídios, suicídios, seqüestros, entre outros. No Brasil, to- 
davia, a pesquisa é ainda incipiente, e as técnicas a serem uti- 
lizadas ainda estão sendo estudadas e aprimoradas. 
MOSCAS E TERAPIA LARVAL 
Há muito tempo se sabe que ferimentos necrosados e 
infectados têm seu processo de cicatrização acelerado quan- 
do são infestados por larvas de determinadas espécies de 
moscas. Esse processo para cura de feridas tem sido usado 
por populações aborígines na Austrália, América Central e 
Birmânia 
Capitulo 48

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