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A paixão no banco dos Réus –
Casos passionais célebres de Pontes Visgueiro a Mizael Bispo de Souza
Maria Nagib Eluf
Introdução
“A paixão no banco dos Réus- Casos passionais célebres de Pontes Visgueiro a Mizael Bispo de Souza”, (Editora Saraiva, São Paulo: 2003), de Maria Nagib Eluf, advogada criminal, promotora de justiça de São Paulo aposentada e mulher, traz, como indicado no título, o relato de dezesseis casos passionais destacados pela mídia em sua época, mais ou menos espetacularizados, dependendo do contexto social e dos envolvidos, com a habilidade de envolver e instigar o leitor, não se limitando à apresentação dos eventos, mas do desenvolvimento da acusação, defesa, do processo e o resultado final. 
Parte I- Casos Célebres:
A autora começa descrevendo os casos, o processo, acusação e defesa, com pormenores obtidos nos autos do processo, entrevistas e reportagens da época, começando com o caso de José Cândido Pontes Visgueiro, 62 anos, Desembargador da Relação, que matou Maria da Conceição, “Mariquinhas”, conhecida também como “Maria Devassa”, 17 anos, a facadas. Visgueiro nasceu na Vila de Maceió, estudou Direito em Olinda, foi transferido para a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo e formou-se em 1934. Atuou na magistratura e na política, era respeitado, tido como idealista e corajoso, exerceu funções jurídicas por províncias do Nordeste, atuando, no final da carreira como Fiscal do Tribunal do Comércio da Província do Maranhão. Em 1872, apaixonou-se perdidamente por Mariquinhas, de 15 anos, cuja mãe atuava como cafetina. Sem lograr êxito em tê-la com exclusividade, atraiu-a para uma cilada em sua casa e executou-a. Como sua paixão era pública e notória, quando o desaparecimento da adolescente foi notificado, não foi difícil que Visgueiro fosse o principal suspeito. Foram tantas e tão consistentes as provas e testemunhas que o mesmo foi condenado à prisão perpétua, vindo a falecer em março de 1875, na Casa de Correção. Há, porém, crônicas da época que alegam ele fugira para a Europa.
O segundo caso envolveu José Ferraz de Almeida Júnior, famoso pintor ituano, assassinado, aos 49 anos, em 13 de novembro de 1899, em Piracicaba, pelo próprio primo, Jose de Almeida Sampaio, que se sentiu traído pelo primo/amigo e pela esposa, Maria Laura. Sampaio alegou que cometera o crime em “desagravo de sua honra”, foi absolvido unanimemente. Maria Laura jamais o perdoou e divorciou-se de Sampaio.
Euclides da Cunha foi um analista das práticas sociais, escreveu o livro “Os Sertões” onde narra a Guerra de Canudos, referência no estudo da sociologia. Em 15 de agosto de 1909, o escritor chegou armado à casa de Dilermando para vingar sua honra, pois o jovem tenente e Anna, esposa do jornalista, tornaram-se amantes. Travou-se um duelo, e Dilermando levou cinco tiros - mas era campeão de tiro, revidou, e matou Euclides. Dilermando foi absolvido por legítima defesa, mas foi condenado pela imprensa da época e pela opinião pública.
“Doutor, faça o possível para me salvar! Eu quero defender minha mulher!”, esta foi a frase dita por Stélio Galvão Bueno ao médico que o socorrera em 09 de outubro de 1.950. Stélio veio a óbito depois de ser atingido por dois tiros por Zulmira Galvão Bueno, sua esposa. Consta que ambos viveram bem por dezoito anos, mas o comportamento de Stélio demonstrava que havia algo errado. As suspeitas de que havia uma amante foram confirmadas, muitas brigas e desavenças aconteceram, até o dia fatídico. O caso é, no mínimo interessante, pois, há uma inversão de papeis, onde usar o argumento “legítima defesa da honra” pela defesa seria impensável. Ela foi absolvida duas vezes pelo júri por entenderem que a reação fora exagerada dado o medo de ser agressiva.
Os casos Sacopã e o do Advogado do Diabo tem um personagem coadjuvante em comum. O primeiro foi o assassinato cruel do bancário sedutor Afrânio Arsênio Lemos. O acusado, que jamais confessou, era tenente Alberto Jorge Franco Bandeira, o motivo seria ciúmes de Marina Andrade da Costa, antiga namorada de Afrânio e atual do tenente. O caso passou por muitas reviravoltas e depoimentos que não se sustentaram. Alberto foi condenado a 15 anos de prisão, cumpriu metade, depois foi beneficiado pela condicional e recebeu indulto do Presidente Juscelino Kubitscheck. O acusado tentou ser reintegrado à aeronáutica, mas só conseguiu após 20 anos. Seu julgamento foi anulado por falhas processuais, ressaltando que ele nunca foi absolvido. Outros três julgamentos foram marcados, ele estava foragido e não compareceu, além do crime estar prestes a prescrever. Leopoldo Heitor de Andrade Mendes, conhecido pela alcunha de “advogado do diabo”, saiu incólume num caso polêmico que envolveu falsificação de um cheque de 18 milhões de cruzeiros, à época, colaborou para a condenação do ex-tenente Alberto Franco Bandeira (caso Sacopã) e foi indiciado como autor do latrocínio conta a socialite Dana de Teffé. Este último sem solução até hoje, pois o cadáver jamais foi encontrado e, como se diz no jargão policial, “sem corpo não há crime”. Em 29 de junho de 1.961, Leopoldo comprometeu-se a levar Dana do Rio até São Paulo onde ela seria entrevistada por diretores de uma multinacional para um possível trabalho, este foi o último dia que foi vista com vida. Como ela era tcheca, Leopoldo disse que ela voltou para sua terra natal, depois alegou que, durante a viagem, sofreram um assalto a mão armada. Leopoldo era advogado, filho de juiz, teve muitos casamentos e dentre outras propriedades, uma fazenda em Rio Claro, no Rio de Janeiro. Depois do desaparecimento não notificado pelo acompanhante, Leopoldo e a esposa mudaram-se com os filhos para o apartamento de Dana, a esposa transitava com vestidos e joias pertencentes à socialite e a conta bancária de Leopoldo estava meio milhão mais polpuda. Entre idas e vindas, três julgamentos, muitas ilações, alegações, falhas processuais e sensacionalismo da imprensa, passaram-se 10 anos. Leopoldo ficou, ao todo, 9 anos na cadeia, mas obteve absolvição e voltou à advocacia, escreveu livros e sua última esposa era uma ex-miss. 
Augusto Carlos Eduardo da Rocha Monteiro Gallo matou a esposa, Margot Proença Gallo, com 11 facadas, na casa do casal, em 17 de novembro de 1.970. Casados, com três filhos, ela, uma conceituada professora de filosofia e envolvida com o mundo das Artes; ele, procurador de justiça, ciumento e controlador. Depois do crime, ele ficou foragido por 1º dias, levando consigo a arma que jamais foi encontrada. Muitas testemunhas foram arroladas, tanto as que consideravam absurda a possibilidade de achincalhamento da conduta de Margot, como os que alegavam ser ela uma sedutora contumaz. A atuação jurídica profissional de Gallo contribuiu para que ele preparasse e interferisse em ambos os processos, dos dois julgamentos a que foi submetido e absolvido (em ambos) por “legítima defesa da honra”
... “Porque, no fundo, matei por amor,” frase dita por Raul Fernandes do Amaral Street, o Doca Street, condenado por ter assassinado da socialite mineira, Ângela Diniz, a pantera mineira, com 4 tiros, 3 no rosto e 1 na nuca, em 30 de dezembro de 1.976, na Praia dos Ossos, em Búzios. Após o crime, Doca fugiu para um sítio, em Minas, nas proximidades de Poços de Caldas, depois, o advogado o deixou escondido, numa casa no Morumbi para ser avaliado por dois médicos, pois pretendia basear a tese da defesa em violenta emoção. Os médicos flagraram Doca assediando a empregada e, após longa entrevista não perceberam o menor traço de arrependimento. Entre idas e vindas, os advogados decidiram apresentá-lo, primeiramente, à imprensa e não à polícia, tentando conduzir a opinião pública. Houve troca de advogados, muitas tentativas de descredibilizar a vítima para consolidar a ideia de que a culpa era dela, pois fora por provocação dela que ele se descontrolara. Doca foi julgado duas vezes, a primeira condenação (em 1.979) foi por dois anos de reclusão com sursis, praticamente, uma absolvição. No segundo julgamento (em 1.981),foi condenado a 15 anos de prisão, em ambos a defesa baseou sua tese na legítima defesa da honra. Dentre tantos casos conhecidos como passionais, este, chama a atenção por um fator que fez total diferença na opinião pública: o S.O.S. Mulher, organização feminista que se cotizou tanto na confecção de faixas e protestos, como na compilação de 722 crimes impunes cometidos contra mulheres, mostrando a importância da pauta feminista.
Rio de Janeiro, 05 de outubro de 1.980, madrugada, Dorah Teixeira, atriz famosa, conhecida como Dorinha Duval, dispara 3 tiros contra o marido, produtor publicitário, Paulo Sérgio Garcia Alcântara, 16 anos mais novo que a esposa. Foi a própria Dorinha que o conduziu ao hospital, mas para evitar o flagrante, evadiu-se do local. A vítima veio a óbito durante o atendimento. Dorinha foi vedete nos anos de 1.950 e migrou para a Tv Globo em 1.969, foi casada com o renomado diretor Daniel Filho, cuja separação conturbada rendeu uma tentativa de suicídio. Em1.972 casou-se com Paulo Sérgio, a relação era comparada à de Doca Street e Ângela Diniz, pois Dorinha era a provedora, pagando, inclusive as dívidas no jogo de cartas do marido, motivo de muitas brigas. Consta que Dorinha não lidava bem com a maturidade e o comportamento de Paulo Sérgio aumentava sua insegurança e ciúmes. Durante a última discussão acalorada, Paulo Sérgio sugerira que ela usasse a arma (revólver calibre 32, dele), que estava na gaveta, para se matar, sugestão acompanhada de impropérios e humilhações referentes à idade e aparência física de Dorinha. Ela pegou a arma, mas ao invés do suicídio, atirou contra o marido. No primeiro julgamento, ocorrido em 1983, o júri entendeu que Dorinha havia agido em legítima defesa. Mesmo assim, foi condenada há um ano e seis meses de prisão por ter se excedido na hora de se defender. Contudo, os desembargadores do Rio de Janeiro anularam esse julgamento e Dorinha acabou sendo condenada a seis anos de prisão por homicídio sem agravantes, em 1989 (quase 10 anos após o crime). Ela cumpriu nove meses em regime semiaberto, em uma unidade prisional de Niterói, migrando depois para o regime aberto. Dedica-se às artes plásticas, atualmente.
Lindomar Castilho assassinou, em 30 de março de 1.980, a ex-esposa, Eliane de Grammont, 26 anos, enquanto ela cantava num bar “Belle Époque”, em São Paulo. Ambos foram casados e, na época do crime, fazia 20 dias que o divórcio havia sido formalizado. Os três anos seguintes ao crime foram de debates na imprensa e nas ruas sobre o direito implícito dos maridos matarem suas esposas e ex-namoradas ou ex-esposas, quando confirmadas suspeitas de adultério. Até aquela época, infelizmente, o machismo era dominante e advogados conseguiam safar seus clientes arguindo à infidelidade das vítimas.  No dia 23 de agosto de 1984, Lindomar Castilho foi condenado a 12 anos de prisão, seis deles cumpridos dentro das grades e a outra metade em regime semiaberto. Encerrada a sua pena, ele saiu da cadeia em 1996 e retornou para Goiás, onde vive até hoje, com 83 anos de idade. Durante o cárcere, Lindomar até gravou um disco, com o sugestivo título “Muralhas da Solidão”.
Em 11 de outubro de 1986, o cirurgião dentista J. G. E. D., a quem a autora atribuiu o nome fictício de José, matou o advogado A. J. M., ficticiamente chamado de Armando. Ambos tinham um relacionamento, o qual Armando pretendia por fim para casar-se com uma mulher e com ela constituir família, fato este que não foi aceito por José, que após diversas facadas, decapitou Armando. José foi condenado por homicídio qualificado e à pena de 15 anos de prisão, suicidando-se quando teve ciência.
Na sequência descreve o crime contra Daniela Perez, cometido por Guilherme de Pádua e Paula Almeida, em 28 de dezembro de 1992, quando a atriz Daniella Perez tinha 22 anos de idade. Morta com dezoito golpes de tesoura pelo colega de profissão Guilherme de Pádua, de 22 anos, e por sua mulher Paula Almeida Thomaz, à época com 19 anos de idade. As causas que levaram à prática do delito até hoje não foram 100% esclarecidas, mas a principal corrente remete à prática de ritual satânico, sendo a morte da atriz um tipo de sacrifício. A crueldade do crime, só não perde para a obstinação da mãe da vítima, a novelista Glória Perez, a qual iniciou a luta para incluir homicídio qualificado no rol dos crimes hediondos, sendo colhidas 1,3 milhões de assinaturas para se alcançar tal êxito. Os criminosos de Daniella Perez embora condenados, não foram abarcados pela legislação mais rígida em razão de seu crime ter sido cometido antes da inclusão do homicídio qualificado entre os crimes hediondos, o que retiraria uma série de “benefícios” que tiveram após a condenação, fato este que não diminuiu o sentimento de vitória de Glória Perez. Guilherme de Pádua faleceu aos 53 anos, em 2.022.
Os casos envolvendo Igor Ferreira da Silva e Patrícia Ággio Longo e o em que Antônio Marcos Pimenta Neves assassinou Sandra Florentino Gomide, exaurem os célebres casos elencados na obra. No primeiro, o Promotor de Justiça Igor Ferreira da Silva, de 34 anos, foi condenado por matar sua esposa Patrícia Ággio Longo, a qual estava no sétimo mês de gestação. Por vezes o Promotor adotou “manobras” para safar-se das sanções legais, as quais, como em toda a obra, foram relatadas de maneira envolvente e capaz de despertar no leitor o sentimento de que a lei deve ser aplicada de maneira justa independente de quem atinja. Por fim, o livro relata o triste fim dado a jornalista Sandra Florentino Gomide, assassinada pelo ex-namorado e superior hierárquico Antônio Marcos Pimenta Neves, crime este ocorrido em 20 de agosto de 2000. Este caso relata o típico perfil obsessivo dos homicidas passionais, os quais necessitam ter controle total por sua companheira e quando esta deixa de admitir tal situação, pondo fim ao relacionamento, este põe fim, também, a vida de sua “amada”. Quando do término da obra, o caso ainda pendia de julgamento. Entretanto, a autora afirma que Pimenta Neves matou Sandra Gomide, de surpresa, porque ela não o queria mais, restando claro tratar-se do típico crime passional.
Parte II – Teoria
Nesta parte a autora analisa sob a ótica de diversos pesquisadores que o autor do crime passional tem necessidade incontrolável de dominar o outro, um desejo insano de auto dominação, praticamente, traçando o perfil de um assassino. Explica que os crimes contra a vida são julgados pelo Tribunal do Juri, ou seja, por membros da comunidade. É um procedimento caro e deve percorrer etapas que, se descumpridas, podem prejudicar o processo ou anular o julgamento. O Ministério público é o autor da ação penal e atua perante o tribunal do Juri como defensor da sociedade. A autora esclarece as tipologias que qualificam o homicídio doloso e as situações que definem as penas. Elucida o papel do advogado de defesa em zelar para que o processo siga sua tramitação, que o rito legal seja percorrido e que o réu seja apenado de forma justa para que a lei seja cumprida. No livro, Maria Luiza fala sobre a tese da legítima defesa da honra, que apesar de estar em desuso, só em agosto de 2.023, por unanimidade dos votos, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucional o uso da tese da legítima defesa da honra em crimes de feminicídio ou de agressão contra mulheres.
Na sequência, aborda a evolução da posição da mulher e as consequências no julgamento de crimes passionais, valorizando a atuação dos movimentos feministas e das famílias das vítimas na luta pela responsabilização dos homicidas que alegam e, em muitos dos casos até acreditam, que matam por amor. Finalizando com a conclusão de que somente haverá diminuição significativa dos crimes passionais, quando ambos os companheiros ocuparem papel igualitário em todas as esferas, tornando-se inadmissível a tese de defesa da honra para justificar um crime e das sanções legais se esgueirar (o que ocorreu depois da publicação desta obra).
Finalizo com uma reflexão retirada do livro:
“A paixão não basta para produzir o crime” (Eluf2002, p. 158)
“A ‘honra’ de que tanto falam os passionais, é usada em sentido deturpado, refere-se ao comportamento sexual de suas mulheres. É a tradução perfeita do machismo, que considera serem a fidelidade e a submissão feminina ao homem um direito dele, do qual depende sua respeitabilidade social. Uma vez traído pela mulher, o marido precisaria ‘lavar sua honra’, matando-a. Mostraria, então, à sociedade de que sua reputação não havia sido atingida impunemente e recobraria o “respeito” que julgava haver perdido” (ELUF, 2014, p.221).

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