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XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 1 A estruturação de um programa prático de Gestão da Qualidade Total em uma grande empresa baseado em uma sistemática simplificada Moacir Godinho Filho (Universidade Federal de São Carlos). E-mail: moacir_godinho@uol.com.br Manoal Fernando Martins (Universidade Federal de São Carlos). E-mail: manoel@power.ufscar.br Resumo: O presente trabalho apresenta uma sistemática simplificada, baseada nos modelos de MERLI (1993) e de MARTINS & TOLEDO (1998), com a qual é estruturado o programa da Gestão da Qualidade Total (TQM) em uma grande empresa de materiais de escrita. Através da proposta de tal sistemática e de sua utilização prática, este trabalho apresenta de maneira simples como um programa TQM pode ser planejado em empresas que não possuem inicialmente fatores considerados essenciais na implementação do TQM: cultura voltada à qualidade e participação da gerência,situação esta enfrentada por muitas empresas brasileiras. Portanto este trabalho mostra que o TQM pode ser implantado em um universo muito maior de empresas, bastando que para isso exista um planejamento simples e estruturado, realizado por um especialista. Tal planejamento criará na empresa uma cultura voltada para a qualidade e ajudará a motivar a gerência a participar e se envolver no programa. Nosso trabalho contribui à medida que mostra um exemplo prático de como simplificar a implantação do TQM, servindo de base para profissionais e estudantes de qualidade, motivando-os a trabalhar com o TQM nos mais diversos tipos de empresas, mesmo que em situações inicialmente adversas. Palavras-chave: Gestão da Qualidade Total, Sistemática simplificada, Programa prático 1. Introdução É inegável a importância da qualidade na atual conjuntura global altamente competitiva. Para BELOHLAV (1993) “... a qualidade fornece a base para vantagens competitivas...”. Para DAVIS et al (2001) é cada vez maior o número de empresas que reconhecem o valor da utilização da qualidade como uma arma estratégica ofensiva. Ainda de acordo com estes autores, estas empresas, adotando esta abordagem são capazes tanto de identificar novos nichos de mercado quanto aumentar sua participação nos mercados já conquistados. Esta importância hoje dada a qualidade se iniciou nos anos 70 e de acordo com FERNANDES & COSTA NETO (1996) é atribuída ao Dr. W.E. Deming. De acordo com estes autores, os ensinamentos de Deming, difundidos no Japão na década de 50, aplicados e evoluídos naquele país, alteraram radicalmente as bases da competição global. Nos dias atuais, os esforços de qualidade das empresas tem sido em direção a uma liderança mundial em qualidade. Para GAITHER & FRAZIER (2001), estes esforços são chamados de Gestão da Qualidade Total (TQM). Nos Estados Unidos o TQM começou a ser introduzido nos anos 80 (PRAJOGO & SOHAL, 2001), chegando ao Brasil na mesma década. O presente trabalho apresenta uma sistemática simplificada para a elaboração de programas TQM baseado em dois modelos referenciais encontrados na literatura: o modelo de MERLI (1993), também conhecido como modelo europeu, e o modelo de MARTINS & TOLEDO (1998). A partir de tal sistemática estruturamos o programa TQM em uma empresa que não possuía inicialmente duas características mencionadas como essenciais para o sucesso de programas TQM de acordo com a maioria dos autores da área de qualidade: uma cultura da empresa voltada ao TQM e a participação e o envolvimento da gerência (MERLI, 1993; TOLOVI JR, 1994; dentre outros). Com isso mostramos que estas duas características não são inicialmente vitais para a implantação do TQM em empresas, uma vez que acreditamos que XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 2 um planejamento bem estruturado contribui para o aparecimento destas características. Além disso um planejamento bem estruturado, com desdobramento de diretrizes é muito pouco realizado em empresas que implementam TQM na Brasil (BIANCO & SALERNO, 2001) Portanto nosso trabalho serve de referência e estímulo para profissionais e estudantes da área de qualidade, mostrando que um planejamento TQM com desdobramento de diretrizes é factível e serve para desmistificar e criar um ambiente favorável ao TQM nas empresas. A estrutura do trabalho é a que segue: na seção 2 mostramos os modelos que serviram de referência para a nossa sistemática; na seção 3 apresentamos nossa sistemática propriamente dita; na seção 4 estruturamos o planejamento de um programa TQM em uma grande empresa de materiais de escrita utilizando nossa sistemática e finalmente na seção 5 tecemos algumas conclusões. 2. Os modelos para a elaboração de Programas de Gestão da Qualidade Total A partir da definição de diversos autores (SLACK et al, 1997; GARVIN, 1992; BOUER, 1997; SHIBA et al, 1997, dentre outros) entendemos a Gestão da Qualidade Total (TQM) como o nome dado, nos últimos anos, a uma combinação de estratégias, sistemas de gerenciamento, métodos e ferramentas da qualidade para tornar a empresa apta a competir em qualidade e através da qualidade. A seguir apresentamos os dois modelos de referência para a implantação de programas TQM que são a base de nossa sistemática. 2.1 O Modelo de MERLI (1993) O modelo de referência para programas TQM de MERLI (1993) pode ser resumido em seis etapas, as quais mostramos a seguir 1) A empresa deve seguir os 10 princípios do TQM: estes princípios são: i) satisfação total dos clientes; ii) orientação para os clientes; iii) o próximo processo é um cliente; iv) gerenciamento baseado em fatos; v) gerência de processos; vi) gestão para o cliente interno e externo; vii) atenção aos poucos detalhes vitais; viii) ações preventivas para eliminação dos erros recorrentes; ix) respeito aos empregados; x) comprometimento e envolvimento da alta administração. 2) Desenvolvimento de um "planejamento estratégico abrangente": este planejamento, além de conter um plano estratégico normal, deve conter uma estratégia voltada a qualidade, baseada num modelo de referência para a qualidade ("the grid") e em uma auto avaliação. 3) Elaborar o modelo de referência para a Qualidade Total (“the grid”): este modelo constitui o referencial para o desenvolvimento do TQM na companhia e define a lógica e a escala de tempo das fases de desenvolvimento. Ele é portanto um modelo de referência dinâmico no qual o desenvolvimento coerente de todos os setores da companhia que requerem gestão dentro de uma perspectiva da Qualidade Total é planejado em uma seqüência lógica. Este modelo de referência é baseado em duas dimensões: - as fases lógicas de desenvolvimento => representam as etapas de desenvolvimento do plano. Um padrão usado por diversas empresas envolve quatro fases de desenvolvimento. Utilizamos em nosso trabalho exatamente estas quatro fases as quais são: abordagem convencional (situação inicial); organização para a melhoria; gerenciamento por processos; completa implementação da Qualidade Total; - os subsistemas a serem gerenciados e desenvolvidos => representam os vários aspectos do negócio a serem gerenciados e desenvolvidos. Geralmente estes subsistemas variam entre seis e treze e podem ser classificados dentro de três categorias: cultura, organização e gerenciamento corporativo; organização, metodologias e ferramentas para a Qualidade Total; principais processos operacionais XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 3 4) Realizar uma auto avaliação: consiste na revisão, pela alta gerência, dos assuntos importantes do negócio. 5) Realizar um planejamento para múltiplos anos: é o resultado do planejamento estratégico abrangente. Este planejamento é baseado na agregação de ambos os objetivos, quantitativos e culturais/técnicos/organizacionaisalocados ano a ano. 6) Estruturar o plano anual com iniciativas: para se preparar este plano, são definidos objetivos prioritários para cada ano dentre os objetivos do planejamento para múltiplos anos e então são estruturadas as ações e iniciativas necessárias para se atingir estes objetivos. 2.2 O Modelo de MARTINS & TOLEDO (1998) O modelo de MARTINS & TOLEDO (1998) diz respeito basicamente a três elementos: as informações necessárias de entrada, o conteúdo do programa e a amplitude deste programa. As informações de entrada fornecem as bases sobre as quais será concebido o programa de gestão para a Qualidade Total. Essas informações dizem respeito ao ambiente interno, externo e ao conhecimento científico e tecnológico a respeito da Gestão da Qualidade. O conteúdo de um programa de Gestão para a Qualidade Total são as informações mínimas necessárias para possibilitar a implementação da Gestão para a Qualidade Total em uma organização. A amplitude de um Programa de Gestão para a Qualidade Total está relacionada ao escopo que o programa terá e pode ser considerada em três grandes áreas de ação: sistemas da qualidade; mobilização, comunicação e capacitação dos recursos humanos e melhoria contínua. 3. A proposta de uma sistemática simplificada Após estudar e analisar os dois importantes modelos apresentados verificou-se que estes modelos são complementares e podem ser utilizados em conjunto para uma implantação mais fácil e eficaz do TQM nas empresas, uma vez que enquanto o modelo de MARTINS & TOLEDO (1998) mostra "o quê" deve ser realizado e levado em consideração na implantação do TQM, o modelo de MARTINS & TOLEDO (1998) mostra "como" deve ser desenvolvido tal programa. A partir desta constatação propomos uma sistemática simplificada, composta de 9 passos (mostrado na tabela 1), a qual resume o quê fazer e como desenvolver um planejamento para uma implementação realista do TQM.. Tabela 1: Os passos da sistemática simplificada para a implantação de um programa TQM Passo O quê deve ser feito (MARTINS & TOLEDO) Como fazer (MERLI) 1 Estabelecer as bases filosóficas para o TQM (pressupostos e princípios básicos) Utilizar os dez princípios que orientam o TQM, de acordo com MERLI, 1993 2 Definir subsistemas que integram a empresa que participarão do esforço TQM (amplitude) Estes subsistemas serão os subsistemas a serem gerenciados e desenvolvidos no modelo de referência 3 Definir claramente os objetivos e metas finais do programa TQM (diretrizes e metas) Deve-se preencher a última linha (TQM implementado) do modelo de referência 4 Realizar um diagnóstico interno a fim de determinar situação atual dos subsistemas Deve-se completar a primeira linha (situação atual) do modelo de referência à luz do diagnóstico interno 5 Realizar um diagnóstico do ambiente externo Pesquisar ambiente externo buscando maior certeza na elaboração do modelo de referência 6 Estabelecer ações, metas e ferramentas utilizadas nas etapas de implementação do TQM Escolher outras fases de desenvolvimento do TQM e completar o modelo de referência 7 Transformar as ações, metas e ferramentas em objetivos quantitativos e qualitativos, anualmente Realizar o planejamento estratégico para múltiplos anos 8 Definir prazos, responsabilidades, orientações quanto a implantação a curto prazo Realizar o plano anual com iniciativas 9 Realizar o feedback constante monitorando o planejado versus o realizado (acompanhamento e avaliação) Reformular/Avaliar o plano anual, o planejamento estratégico para múltiplos anos e o modelo de referência sempre que necessário XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 4 4. A utilização da sistemática simplificada na estruturação de um Programa de Gestão para a Qualidade Total em uma empresa de materiais de escrita Nesta seção utilizamos nossa sistemática simplificada na estruturação do planejamento do TQM em uma grande empresa de materiais de escrita. Como salientado anteriormente, a empresa não apresenta condições iniciais favoráveis ao TQM (cultura e envolvimento da gerência). Portanto procedeu-se o caminho inverso: um especialista, com conhecimentos da empresa, que entende a qualidade como de extrema importância, aplicou a sistemática simplificada proposta para estruturar um planejamento do TQM, utilizando como fontes de dados, além de sua própria experiência, entrevistas com chefes de departamentos da empresa. Os passos da sistemática, como implantados na empresa, são descritos a seguir. Passo 1: Foram estabelecidas as bases filosóficas para o TQM na empresa. Esta base é formada pelos 10 princípios para a Qualidade Total de MERLI (1993). Passo 2: Foram definidos os subsistemas que participam do programa TQM. Estes subsistemas são doze, divididos em três categorias como proposto por MERLI (1993) e formam a primeira linha do modelo de referência proposto por este autor (cada uma das três categorias é mostrada em uma tabela numeradas como tabela 2, tabela 3 e tabela 4). Passo 3: Foram definidos os objetivos e metas finais do programa TQM (onde se quer chegar). Isto foi feito adequando-se os dez princípios de MERLI (1993) aos subsistemas escolhidos para a implantação do programa. Estes objetivos finas podem ser vistos na última linha (referente a qualidade total) das tabelas 2, 3 e 4. Passo 4: Foi realizado um diagnóstico interno, o qual identificou a situação atual dos subsistemas. Isto é mostrado na linha situação inicial do modelo de referência (tabela 2, tabela 3 e tabela 4). Passo 5: Foi realizado um diagnóstico do ambiente externo. Este diagnóstico identificou oportunidades e ameaças que os ambientes econômicos e tecnológicos podem trazer a organização e à introdução do programa TQM na empresa. As principal oportunidade levantada foi: a crescente evolução tecnológica e gerencial, a qual pode ajudar a estimular a alta gerência a se comprometer com o programa. A principal ameaça identificada foi a atual fase turbulenta por que passa a economia brasileira e mundial a qual pode prejudicar o programa no tocante a recursos e a prioridade. Passo 6: Foram definidos dois marcos de evolução do estágio atual da empresa rumo ao estágio pretendido (qualidade total). Estas duas fases lógicas de desenvolvimento são a organização para a melhoria contínua e o gerenciamento por processos. Foram então definidas metas, ações e ferramentas para se atingir estes dois níveis, completando-se desta forma o modelo de referência. Passo 7: As ações, metas e ferramentas foram transformados em objetivos quantitativos e qualitativos anuais. Isto é mostrado na tabela 5 e corresponde ao planejamento estratégico para múltiplos anos de MERLI (1993). Passo 8: Os prazos, responsabilidades e orientações quanto a implantação a curto prazo foram definidos. Isto é mostrado na tabela 6, a qual corresponde ao plano anual com iniciativas proposto por MERLI (1993). O planejamento anual com iniciativas foi realizado somente para alguns objetivos do primeiro ano de implantação do programa de Gestão para a Qualidade Total na empresa devido a uma necessidade de se priorizar os objetivos colocados na tabela 6 e também a necessidade de acompanhamento e feedback constante (Passo 9). Somente através de um bom acompanhamento do plano para a primeiro ano é que será feito o plano anual com iniciativas para o segundo ano. XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 5 O planejamento devidamente estruturado e desdobrado, resultado desta seção, mostra que é possível desenvolver um plano realista e prático de TQM mesmo em empresas que a princípio mostraram condições desfavoráveis a qualidade. Tabela 2: Modelo de referência (subsistemas referentes a cultura, organização e gerenciamento corporativo) Cultura para a Qualidade Papel da Gerência Gerenciamentoe Sistemas Organizacionais Recursos Humanos Situação inicial i) nível de qualidade controlada por gráficos de controle; ii) qualidade significando somente adequação aos padrões; iii)cultura enraizada na manutenção do status quo i) gerência somente voltada aos lucros a curto prazo; ii)decisões gerenciais centralizadas e fora do timing i) empresa utiliza software SAP – R3, que necessita do gerenciamento por processo, porém as pessoa tendem a continuar pensando em termos de departamentos e funções; ii) medidas de performance e métodos de custeio baseadas em departamentos; iii) planejamento estratégico da empresa não divulgados i) inexistência de políticas claras de motivação, de uma preocupação com o desenvolvimento de RH e falta de reconhecimento profissional; ii) relações baseadas na hierarquia Organização para a melhoria contínua i) qualidade é entendida como baseada no usuário e no valor; ii) aplicação do conceito do cliente/fornecedor interno i) suporte da alta gerência à ampliação da visão de qualidade pela empresa i) comprometimento de todos com o gerenciamento de processos; ii) novo treinamento em gerência de processos i) estabelecimento de medidas do clima organizacional e de um sistema de recompensas; ii) trabalhadores sentindo-se importantes para a organização Gerenciamento por processos i) entendimento e aplicação do conceito da cadeia de valor e da melhoria contínua; i) suporte da alta gerência às atividades de melhoria contínua e mapeamento do fluxo de valor i)implantação de medidas de performance dos processo e não de departamentos; ii) implantação do sistema de custeio ABC i) políticas de desenvolvimento do pessoal administrativo; ii) preocupação com carreira dos funcionários Qualidade Total i) empresa totalmente voltada à qualidade; ii) comprometimento dos funcionários com a qualidade; iii) cultura enraizada na inovação i) promoção e suporte total da alta gerência a projetos da qualidade; ii) decisões descentralizadas. i) gerenciamento por processos; ii) missão da empresa divulgada formalmente e ao acesso e todos; iii) planejamento estratégico de médio/longo prazo claramente definido e divulgado i) máxima utilização das potencialidades dos indivíduos; ii) relação “ganha-ganha” com funcionários; iii) pessoas motivadas; iii) empowerment Tabela 3: Modelo de referência (subsistemas referentes a organização, metodologias e ferramentas) Atividades da Qualidade Métodos Básicos Sistema da Qualidade Sistemas de Informação para a Qualidade Situação inicial i) inspeção; ii) treinamentos teóricos sobre qualidade i) planos de amostragem; ii) 5S parcialmente implementado; iii) utilização de poucas técnicas estatísticas; i) sistema de qualidade voltado a procedimentos formais de inspeção; i) informações dispersas e sem critério de armazenamento Organização para a melhoria contínua i) treinamento voltado ao TQM; ii) treinamento em algumas técnicas estatísticas; i) implementação completa do 5S; ii) utilização das 7 ferramentas do Controle da Qualidade; iii) mudança para ISO versão 2000 i) Utilização do gerenciamento PDCA; i) introdução de medidas de performance e de relatórios de controle e ações para refugos; Gerenciamento por processos i) atividades de monitoramento da satisfação dos clientes i) utilização das 7 novas ferramentas para o planejamento da qualidade i) redução dos custos de inspeção; ii) foco na qualidade preventiva e proativa i) parametrização de relatórios no SAP R3 para se ajustar a qualidade; ii) monitoramento da satisfação dos clientes Qualidade Total i) permanente monitoramento e correção da aplicação dos 10 princípios da qualidade; i) utilização completa de métodos e técnicas do TQM; ii) Kaizen funcionando em toda empresa i) auditorias da qualidade voltadas ao TQM i) Monitoramento da satisfação dos clientes em tempo real, com feedback; XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 6 Tabela 4: Modelo de referência (subsistemas referentes aos principais processos organizacionais da empresa) Relações com o mercado Relações com os fornecedores Produção/Logística Desenvolvimento de produto e industrialização Situação inicial i) atenção dedicada somente às reclamações dos clientes no SAC (serviço de atendimento ao consumidor) i) principal critério na avaliação de fornecedores é o preço; ii) grande número de fornecedores; iii) realização de inspeção na entrega dos produtos i) utilização do kanban em alguns setores da empresa; ii) sistema MRP não é um sistema proativo para a melhoria da qualidade; iii) predominância de layout funcional; poucas áreas com layout celular e por produto i) estrutura de projetos departamentalizada, coordenadores sem autonomia; ii) planejamentos de novos produtos somente de curto prazo; iii) contato com os clientes feito de forma pontual e não sistematizado Organização para a melhoria contínua i) monitoramento dos atendimentos das reclamações dos clientes da satisfação do cliente; ii) utilização do feedback fornecido pela satisfação do cliente na melhoria dos processos e dos produtos i) redução do número de fornecedores; ii) ênfase na qualidade para a escolha dos fornecedores; i) produção em fluxo contínuo e utilização do kanban onde for possível; ii) aumento do uso de layout celular; iii) ênfase na transformação do set interno para externo i) definir claramente verbas para novos produtos e mantê-los; ii) amplo contato com o cliente; iii) utilização de ferramentas como QFD, engenharia reversa e CAD Gerenciamento por processos i) comparação da satisfação do cliente com os produtos da empresa com a satisfação com os produtos dos concorrentes; i) estabelecimento de fornecimento JIT onde for possível; ii) redução do lead time de entrega i) implantação do TPM; ii) melhoria na parametrização do MRP para levar em conta a qualidade; i) cultura baseada na inovação; ii) estabelecimento de uma abordagem de engenharia simultânea Qualidade Total i) comparação dos produtos da empresa com os concorrentes; ii) melhoria contínua no relacionamento com os clientes; iii) utilização de benchmarking i) estabelecimento de uma abordagem cooperativa com fornecedores i) aumento da flexibilidade na produção com o objetivo de satisfazer necessidades dos clientes quanto a mix de produtos; i) planejamento de produtos de pequeno, médio e longo prazo; i) alta taxa de novos produtos lançados e rápida introdução destes produtos no mercado Tabela 5: Planejamento estratégico para múltiplos anos para nosso estudo de caso Ano Objetivos Quantitativos Objetivos culturais/técnicos/organizacionais 1 - 20 novos produtos lançados no mercado; - redução de 10% nos custos de estoque; - redução de 10% no número de fornecedores; - redução de 10% nos tempos e set up - redução de 10% nos custos de refugo i) aumento do contato com clientes; ii) utilização do QFD e da Engenharia reversa; iii) introdução do conceito da engenharia simultânea; iv) aplicação do PFA para a simplificação do fluxo de materiais; v) ampliação do uso do kanban; vi) transformação do set up interno em externo; vii) implementação de sistemas de monitoramento da satisfação dos clientes; viii) utilização de ferramentas de análise de fornecedores; ix) utilização do feedback deste sistema de monitoramento para melhoria da qualidade dos processos e produtos; x) treinamento intenso em gerência de processos; xi) medição do clima organizacional; xii) treinamento para o 5S; xiii) treinamento e implantação inicial das 7 ferramentas do controle da qualidade (lista de verificação, diagrama de Pareto, diagrama de causa e efeito, estratificação,cartas de controle, histograma, diagrama de correlação); xiv) introdução da cultura de gerenciamento PDCA; xv) introdução de relatórios de medidas de performance, controle e ações relativas a refugos; xvi) mudança para a ISO versão 2000 2 - 30 novos produtos lançados no mercado; - redução de 10% nos custos de estoque e no número de fornecedores; - redução de 20% nos tempos e set up, nos custos de refugo e no tempo de lançamento de novos produtos; - melhoria de 10% nos índices de satisfação do consumidor i) implantação do 5S; ii) ampla utilização das 7 ferramentas do controle da qualidade, do QFD, da Engenharia Reversa; do gerenciamento PDC; de relatórios de medidas de performance e controle e ações relativas a refugos; iii) amplo suporte da gerência aos esforços de qualidade; iv) implantação de sistema de avaliação do grau de realização dos funcionários XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 7 Tabela 5: Planejamento estratégico para múltiplos anos (continuação) Ano Objetivos Quantitativos Objetivos culturais/técnicos/organizacionais 3 - 30 novos produtos lançados no mercado; - redução de 30% no tempo de máquina parada por quebras; - melhoria de 10% no grau de satisfação dos funcionários e nos índices de satisfação do consumidor; - redução de 20% nos custos de estoque e no lead time de fornecimento e no tempo de lançamento de novos produtos; - melhoria de 20% na qualidade dos produtos; i) implantação do TPM (manutenção produtiva total); ii) políticas de desenvolvimento do pessoal administrativo; iii) implantação do sistema de custeio ABC; iv) aplicação do mapeamento do fluxo de valor; v) entendimento e treinamentos visando a melhoria contínua; vi) entendimento e treinamento nas 7 ferramenta gerenciais da qualidade (diagrama de afinidades, diagrama de relações, matriz de relações, diagrama de árvore, diagrama de setas, PDPC, análise matricial de dados); vii) ampla utilização da engenharia simultânea; viii) criação de uma cultura baseada na inovação; ix) melhorias na parametrização do MRP; x) estabelecimento do fornecimento JIT onde for possível; xi) estabelecimento de relatórios de comparação da satisfação do cliente com os produtos da empresa frente aos produtos concorrentes; xii) criação de uma cultura baseada na delegação 4 - 30 novos produtos lançados no mercado; - melhoria de 10% no grau de satisfação dos funcionários e nos índices de satisfação do consumidor; - melhoria de 20% na qualidade dos produtos; i) cultura baseada na inovação totalmente implementada; ii) TPM funcionando com sua máxima eficiência; iii) gerenciamento por processos eficiente; iv) sete ferramentas gerenciais da Qualidade sendo usadas em uma forma ampla; v) todos os funcionários imbuídos na melhoria contínua; vi) criação de maneiras para aumento a flexibilidade no mix produtivo; vii) cultura voltada a uma abordagem cooperativa com fornecedores. 5 - 30 novos produtos lançados no mercado; - melhoria de 10% no grau de satisfação dos funcionários e nos índices de satisfação do consumidos (com este índice alcançando algo em torno de 100%); - melhoria de 20% na qualidade dos produtos; i) planejamento de produtos realizado a pequeno, médio e longo prazo; ii) produção mais flexível a mudanças de mix de produtos; iii) abordagem cooperativa com fornecedores implantada; iv) melhoria contínua no relacionamento com clientes, visando a total satisfação dos clientes; v) empowerment; vi) auditorias da qualidade voltadas ao TQM; vii) permanente monitoramento e correção da aplicação dos 10 princípios básicos do TQM; viii) empresa toda trabalhando com Kaizen (melhoria contínua) Tabela 6: Planejamento anual para o primeiro ano de implementação do programa TQM Objetivos Quantitativos Outros Objetivos Áreas e processos envolvidos Indicador Data de início Pessoas envolvidas Métodos a serem usados Treinamento necessário 20 novos produtos lançados no mercado Produtos devem satisfazer consumidores Área de vendas, produção e projeto Número de novos produtos lançados Janeiro 2003 Pessoas das áreas citadas QFD; engenharia reversa; engenharia simultânea Conscientização da importância do lançamentos de novos produtos Redução de 10% nos custos de estoque Área de produção Estoque médio em processo e de produtos finais Janeiro 2003 Pessoal da Produção e da administração da produção Utilização do PFA; ampliação do uso do kanban Treinamento da pessoas no PFA, e na kanban Redução de 10% nos tempos de set up Melhor programação da produção Área de Produção Tempos médios de set up Janeiro 2003 Pessoal da produção e da administração da produção Utilização de técnicas viabilizar set up externo Novas tecnologias e modernas técnicas de programação da produção 5. Conclusões O presente trabalho trata de um assunto de importância cada vez maior no atual mundo gerencial altamente competitivo: a qualidade. São apresentados dois modelos referenciais para a introdução de programas de Gestão da Qualidade Total (TQM): o modelo de MERLI (1993) e o modelo de MARTINS & TOLEDO (1998). Mostramos que estes modelos são complementares: enquanto o modelo de MARTINS & TOLEDO (1998) apresenta o quê deve ser levado em consideração quando da implantação de um programa de Qualidade Total em empresas, o modelo de MERLI (1993) mostra como deve ser desenvolvido tal programa. Para a utilização conjunta dos dois modelos propusemos uma sistemática simplificada de nove passos, a qual objetiva facilitar e tornar prática a elaboração de um planejamento para a Qualidade Total nas empresas. Foi desenvolvido um estudo de caso em uma grande empresa de materiais de escrita, no qual estruturou-se um programa de TQM, a partir da sistemática simplificada apresentada. A XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003 ENEGEP 2003 ABEPRO 8 empresa em questão não possui duas características tidas como vitais pela grande maioria dos autores de qualidade: cultura voltada para a qualidade e envolvimento da gerência. A simplicidade da sistemática desenvolvida acrescida ao planejamento proposto na empresa pretende disponibilizar para a alta gerência da empresa um programa TQM claro e conciso, facilitando desta forma o envolvimento e comprometimento destes com o programa, além de tornar mais fácil a disseminação de uma cultura para a qualidade na empresa. Em outras palavras, este trabalho propõe uma abordagem diferente e mais realista para os programas TQM. Esta abordagem tem aplicação muito mais ampla, incluindo situações nas quais a cultura e o comprometimento para a qualidade na empresa não são grandes. Portanto ao invés de se partir de uma cultura com condições favoráveis a qualidade para então se realizar o planejamento para o TQM baseado em modelos referenciais, propomos uma simplificação dos modelos referenciais (sistemática simplificada) e então a partir disto estruturamos um planejamento para o TQM, o qual serve para motivar e imbuir a empresa rumo aos esforços para a qualidade total. No momento o planejamento estruturado neste trabalho se encontra em estudos de implementação pela alta empresa, a qual antes não cogitava implementar o TQM; em outras palavras, a metodologia proposta facilitou o entendimento e desmistificou o TQM para a alta gerência da empresa. Além disso nosso trabalho serve de referência e apoio a implantação na empresa da ISO 9000 versão 2000, a qual se apóia bastante em MERLI (1993), o principal modelo referencial utilizado em nossa sistemática Finalmente acreditamos que o presente trabalho vem contribuir com a diminuição do gap entre a teoria e a prática na Gestão da Produção, uma vez que o trabalho apresentado apresenta o TQM de uma forma simples e aplicável a ambientes empresariais mais realistas.5. Referências Bibliográficas BELOHLAV, J.A.: Quality, Strategy and Competitiveness. California Management Review, pp.55-67; Spring, 1993. BIANCO, M.F. & SALERNO, M.S.: Como o TQM opera e o que muda nas empresas ? Um estudo a partir de empresas líderes no Brasil. Gestão & Produção, vol. 8, n.1, pp. 56-67, 2001. BOUER, G.: Qualidade Total – Estratégias, planos e Implementação. In: Gestão de Operações – A Engenharia de Produção a serviço da modernização da empresa (CONTADOR et al), Ed. Edgarg Blücher, 2a Edição, 1997. DAVIS, M.M.; AQUILANO, N.J.; CHASE, R.B.: Fundamentos da Administração da Produção. 3a Edição, Bookman Editora, Porto Alegre, 2001. FERNANDES, A.A. & COSTA NETO, P.L.O.: O significado do TQM e modelos de implementação. Gestão & Produção, v.3, n.2, pp.173-187, 1996. GAITHER, N. & FRAZIER, G.: Administração da Produção e Operações. São Paulo. Thomson Learning – Pioneira, 8a Edição, 2001. GARVIN, D.A.: Gerenciando a Qualidade: A visão Estratégica e Competitiva. Ed. Qualitymark, 1992. MARTINS, R.A. & TOLEDO, J.C.: Proposta de modelo para elaboração de programas de gestão para a qualidade total. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v.33, n.2, pp.52-59, 1998. MERLI, G.: Eurochallenge – The TQM approach to capturing global markets. Information Press Ltd, Oxford, UK, 1993. PRAJOGO, D.I. & SOHAL, A.M.: TQM and Inovation - a literature review and research framework. Technovation, vol. 21, pp. 539-558, 2001. SHIBA, S.; GRAHAN, A.; WALDEN, D.: TQM: Quatro revoluções na gestão da qualidade. Porto Alegre. Artes Médicas, 1997. SLACK, N., CHAMBERS, S., HARLAND, C., HARRISON, A. & JOHNSTON, R. Administração da Produção. Ed. Atlas, 1997. TOLOVI JR, J.: Por que os programas de qualidade falham ? Revista de Administração de Empresas, São Paulo, vol. 34, n.6, pp. 6-11, 1994.
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