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109 0 Psicologia e Relações Étnico-raciais

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PSICOLOGIA 
E RELAÇÕES
ÉTNICO-RACIAIS
Reflexões e possibilidades
teórico-práticas 
e-book
índice
Apresentação ...................................................................... 3 
Psicologia e relações étnico-raciais: histórico ..................... 4 
Conceitos centrais da temática étnico-racial ...................... 6
Efeitos do racismo: dimensão 
individual e sociocultural .................................................. 9
Racismo e socialização racial 
na infância e adolescência ................................................. 13 
Por que discutir racismo na velhice? ..................................... 18 
Saúde mental em contextos indígenas: 
invisibilidade das diferenças ............................................. 20 
Relações raciais na formação do psicólogo
e atuação profissional para desconstrução do racismo 
e para promoção da igualdade ........................................... 22
Considerações finais ........................................................ 25
Sobre este e-book ........................................................... 26
A Artmed ......................................................................... 27
Referências ..................................................................... 28
3
No último censo demográfico brasileiro, realizado em 2010, a população brasileira possuía o to-
tal de 190.755.799 pessoas, e era composta por 47,51% de brancos, 50,94% de negros (7,52% de 
pretos e 43,42% de pardos), 1,10% de amarelos, 0,43% de indígenas e 0,02% sem declaração (Ins-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 2010). No entanto, nos últimos 10 anos, estima-
-se que o número de pessoas que se autodeclaram pretas tenha crescido 32,4% e pardas 10,8%, 
o que resultou no alcance de 56,1% da população negra, sendo constituída por 9,1% de pretos 
e 47% de pardos, e uma redução da branca para 43% (Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
tística - IBGE, 2022). A composição racial da população brasileira é diversificada e foi formada 
mediante um processo histórico em que um grupo racial escravizou e exterminou grupos raciais 
específicos. Nesse contexto repleto de desafios, o e-book Psicologia e Relações Étnico-Raciais: 
reflexões e possibilidades teórico-práticas tem como objetivo geral ampliar o conhecimento dos 
profissionais de psicologia acerca das relações étnico-raciais e seus impactos na formação e 
atuação profissional. Desse modo, desejamos uma ótima leitura! 
APRESENTAÇÃO
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Discutir relações étnico raciais implica em retornar a um passado histórico marcado por opres-
sões e dominações. Historicamente, o racismo brasileiro foi desenvolvido a partir da exploração 
de determinadas populações, cujas vidas foram apropriadas durante o período colonial. Nesta 
dinâmica, encontravam-se em desvantagem social as populações africanas, afro-brasileiras e 
tradicionais indígenas (Mäder, 2016). As distinções entre diferentes grupos étnicos e raciais co-
meçaram a se constituir a partir do entendimento de que tais povos seriam inferiores em relação 
ao poder hegemônico, representado pela população branca (Schucman, Nunes, & Costa, 2015). 
As relações étnico-raciais no Brasil integram as relações sociais brasileiras e têm sido objeto de 
estudo da Psicologia (Ishikawa, Santos, 2018), a qual tem assumido grande importância no en-
tendimento e na atuação frente aos impactos psicossociais advindos das desigualdades raciais. 
Conforme Santos, Schucman e Martins (2012), existem três momentos do pensamento psicoló-
gico brasileiro sobre as relações étnico-raciais no país. Inicialmente, no final do século XIX e iní-
cio do XX, a raça era associada a patologias psiquiátricas e tipologias criminais, como nas ideias 
difundidas pelo médico Nina Rodrigues. Este investigava as características psicológicas dos es-
cravizados e os associava a criminalidade e perigo, reforçando estereótipos e preconceitos. 
Posteriormente, o período entre 1930 e 1950 foi caracterizado pela introdução da Psicologia no 
Ensino Superior e o debate sobre a construção sociocultural das diferenças. Diferente do período 
anterior, o debate não se debruçava sobre determinações genéticas, ao contrário, negava esta 
concepção e considerava que as diferenças raciais abrangiam aspectos econômicos e sociais 
(Santos, Schucman e Martins, 2012). Por fim, a partir de 1990, a raça passou a ser compreendida 
como construção social e discutida pela perspectiva das relações de dominação e hierarquiza-
ção por meio do estudo das relações de poder e identidade étnico-racial. 
PSICOLOGIA E RELAÇÕES 
ÉTNICO-RACIAIS: HISTÓRICO 
5
Embora o quantitativo de investigações acerca das relações étnico-raciais seja considerado pou-
co expressivo no campo da Psicologia, o que pode revelar ser uma consequência do racismo 
sofrido, principalmente pelos negros e indígenas (CFP, 2017), no decorrer dos últimos anos, hou-
ve aumento das discussões sobre atuação profissional do psicólogo e de pesquisas sobre a 
temática, merecendo destaque a subárea da Psicologia Social. A finalidade de desconstruir pre-
conceitos e minimizar as desigualdades advindas das violências raciais tem sido adotada pela 
Psicologia ao assumir o papel crucial no estabelecimento de ações coletivas de reconhecimento 
social, tratando sobre as diversidades e sendo espaço de acolhimento da subjetividade (Mäder, 
2016). 
Ainda que existam avanços nos debates raciais, a Psicologia deve demarcar um novo período 
histórico ao incluir, por exemplo, a produção de um maior conhecimento acerca do impacto psi-
cossocial gerado pelo racismo (Benedito & Fernandes, 2021) e o desenvolvimento de interven-
ções para reduzir seus efeitos negativos a favor da igualdade racial e saúde psicológica dos 
indivíduos pertencentes aos grupos raciais minoritários (CFP, 2017). Portanto, ampliar o debate 
acerca das desigualdades raciais como estruturantes da sociedade brasileira e sobre a atuação 
profissional do psicólogo como agente social ativo no rompimento de práticas perpetuadoras do 
racismo se faz necessário (Mäder, 2016; Schucman, Nunes & Costa, 2015). 
6
Tendo em vista a complexidade do tema das relações étnico-raciais, muitos conceitos são utili-
zados para a compreensão do assunto e explicação de fenômenos e comportamentos sociais. 
Abaixo, seguem alguns conceitos relevantes: 
CONCEITOS CENTRAIS DA TEMÁTICA ÉTNICO-RACIAL 
RAÇA: “raça” é uma construção social utilizada para diferenciar grupos humanos baseando-se em 
traços físicos (fenótipo), como a cor da pele, por exemplo. Este conceito também se estabelece 
a partir de características étnico-culturais tais como a língua, origem demográfica e outros 
costumes (Almeida, 2018). O significado de raça não é estático e depende do contexto histórico 
em que é utilizado. Historicamente, a raça foi definida como um conceito biológico, utilizado para 
dividir de forma arbitrária os seres de toda espécie, sendo muito utilizado na Zoologia e Botânica 
para classificar animais e vegetais nos séculos passados. No entanto, atualmente, conforme 
Munanga (2004), a raça não é uma condição biológica, mas um conceito utilizado para explicar 
a diversidade humana.
! Obs: É importante ressaltar que, a partir da realização do censo de 1991, a classificação 
da cor/raça da população brasileira passou a incluir cinco categorias (preto, pardo, 
branco, amarelo e indígena), sendo estas adotadas atualmente. Ressalta-se que a 
raça negra é composta por pretos e pardos (Osório, 2003).
RACISMO: é uma forma de discriminação que tem a raça como fundamento e justifica 
as diferenças, preferências e privilégios Se manifesta por meio de práticas conscientes e 
inconscientes, gerando privilégios e desvantagens para determinados grupos raciais (Almeida, 
2018; Shucman, 2014). Refere-se a uma conduta discriminatória dirigida a determinado grupo 
ou coletividade, conforme previsto na Lei n. 7.716/1989. Baseando-se no conceito de raça, o 
“racismo” resulta da crença da existência de “raças”hierarquizadas, na qual um grupo julga-se 
superior a outro (Munanga, 2004). 
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RACISMO ESTRUTURAL: significa dizer que o racismo integra toda a organização política e 
econômica da sociedade, sendo fruto de um processo complexo e estruturalmente produzido e 
reproduzido. Portanto, o racismo é sempre estrutural (Almeida, 2018).
RACISMO INSTITUCIONAL: também denominado de racismo sistêmico, corresponde a formas 
organizativas, práticas, políticas e normativas institucionais, que provocam tratamentos 
desiguais, garantindo a exclusão seletiva dos grupos racialmente subordinados, e aumentado a 
vulnerabilidade dos vitimados pelo racismo (Werneck, 2016).
RACISMO RECREATIVO: envolve a utilização do humor como veículo de hostilidade racial. 
Manifesta-se por meio de piadas, gracejos e qualquer forma recreativa cujo objetivo seja subjugar 
ou diminuir a população negra ou indígena, por exemplo (Moreira, 2019). 
ETNIA: conjunto de pessoas que compartilham idiomas, espaço geográfico e/ou possuem a 
mesma fé ou cultura. É um conceito sociocultural menos marcado pelas características físicas e 
mais definido pelo conjunto de costumes e hábitos culturais (Munanga, 2004).
PRECONCEITO RACIAL: refere-se ao conjunto de significados atribuídos a determinada pessoa 
ou grupo baseado em estereótipo, podendo ou não resultar em práticas discriminatórias 
(Almeida, 2018).
DISCRIMINAÇÃO RACIAL: é o tratamento diferenciado em razão da raça. Possui conotação 
negativa e pode acontecer de forma direta - quando envolve o repúdio explícito e intencional a 
indivíduos ou grupos pela condição racial - ou de maneira indireta - quando não há intencionalidade 
explícita de discriminar pessoas (Almeida, 2018; Batista, 2018). 
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MICROAGRESSÕES RACIAIS: abrangem declarações e comportamentos “sutis” que comunicam 
ofensas raciais, depreciativas ou negativas. Se revelam por meio de brincadeiras, comentários 
diários, perguntas. Parecem insignificantes para quem os pratica, porém têm grande efeito sobre 
as vítimas, as quais geralmente são a população não branca (negros, indígenas) e também inclui 
outros grupos minoritários, tais como as pessoas com deficiência e a população LGBTQIAP+ 
(Martins, Lima & Santos, 2020; Nadal et al., 2014).
COLORISMO: envolve a discriminação conforme graduação do tom de pele. Também conhecida 
como “pigmentocracia” (quanto mais pigmentada a pele de uma pessoa, mais discriminação 
racial ela tende a sofrer). Este termo enfatiza os traços físicos do indivíduo.
BRANQUITUDE: é entendida como a ideia falaciosa da superioridade racial branca, onde os 
sujeitos identificados como brancos adquirem privilégios simbólicos e materiais em relação aos 
não brancos (Shucman, 2016).
ESTEREÓTIPOS: são crenças ou representações utilizadas para qualificar determinadas pessoas 
ou grupos humanos. Os estereótipos podem ser considerados negativos quando utilizados para 
diminuir, hierarquizar ou subjugar um grupo, e podem ser considerados positivos quando visam 
apenas categorizar e diferenciar grupos diferentes (Pereira, 2021). Dentro da discussão racial, os 
estereótipos geralmente desqualificam os grupos minoritários (a população não branca). Alguns 
estereótipos negativos associados à população negra, por exemplo, envolvem qualificações 
como “feiura”, “preguiça”, “burrice”. Com relação à população indígena, alguns dos estereótipos 
difundidos são os termos “cruéis”, “bárbaros”, “primitivos”.
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Os impactos do racismo são inúmeros e podem produzir efeitos que se fazem sentir na saúde 
física e psíquica da população não branca. As violências raciais podem levar a população negra 
e indígena ao sofrimento psíquico, em formas e intensidades diversas. A literatura pontua que as 
situações que envolvem discriminação racial, podem gerar nos sujeitos sentimentos de solidão, 
desamparo, angústia e silêncio. Sobre o silenciamento, Jesus e Costa (2018) pontuam que calar 
a dor sofrida pode gerar maiores sofrimentos pela lembrança guardada. A vergonha advinda da 
discriminação racial pode ocasionar este silenciamento e um constrangimento de compartilhar 
a experiência. Ademais, os efeitos do racismo podem ser sentidos também na autoestima e 
na consequente tentativa de “embranquecimento”, revelados por meio de mudanças estéticas 
e comportamentais. Isto pode ser entendido como uma estratégia compensatória disfuncional, 
visto que a não aceitação e a não identificação com seu grupo racial pode também gerar a repro-
dução de comportamentos discriminatórios contra seus semelhantes, potencializando o auto-ó-
dio (Tavares & Kuratani, 2019). 
Dentre os efeitos gerados pelo racismo, acrescenta-se o estresse crônico advindo da experiência 
de manter-se em constante estado de vigilância para proteger-se das microagressões e violên-
cias raciais que se presentificam no cotidiano, conforme apontou a psiquiatra e psicanalista Neu-
za Santos Souza no seu clássico livro “Tornar-se negro: as vicissitudes de identidade do negro 
brasileiro em ascensão social” (1983). Conforme pontuam Tavares e Kuratani (2019), destaca-se 
também que muitos negros brasileiros não estão conscientes do racismo estrutural e do estres-
se diário resultante das violências raciais.
EFEITOS DO RACISMO: DIMENSÃO 
INDIVIDUAL E SOCIOCULTURAL 
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Ocorre ainda o fato de muitas pessoas naturalizarem a situação de discriminação racial, e outros 
que afirmam ainda que existe igualdade racial, sendo o racismo um mito. Os efeitos psíquicos 
de narrativas como essas, que negam a existência do racismo, impactam de maneira negativa 
a subjetividade daqueles que convivem com esta realidade. Por outro lado, é comum que o so-
frimento advindo do racismo não seja identificado de imediato por pessoas que se reconheçam 
negras e que procuram atendimento psicológico justamente pela naturalização que o racismo 
estrutural gera nas psiquês. É por isso que um pensamento crítico e racializado deve ser desen-
volvido por todos os profissionais psicólogos, independente do grupo racial a que pertençam 
(Tavares & Kuratani, 2019). 
Estima-se que o número de pessoas que se autodeclaram pretas tenha crescido 32,4% e o de par-
dos 10,8%, o que resultou no alcance de 56,1% da população negra, sendo constituída por 9,1% 
de pretos e 47% de pardos, e uma redução da branca para 43% (Instituto Brasileiro de Geografia 
e Estatística - IBGE, 2022). Ainda que a população negra seja a maioria no Brasil e o racismo 
atravesse as diferentes áreas da vida, há escassos estudos que tratam dos impactos do racis-
mo na vida dessa população (Tavares & Kuratani, 2019). As razões para esta situação, podem 
se justificar pelo desinteresse em tornar este tema uma pauta social. No entanto, é inegável a 
necessidade urgente de debater e criar políticas e práticas profissionais que incluam as popula-
ções negra e indígena, uma vez que os impactos das violências raciais são sentidos de maneira 
individual e coletiva. 
 No Brasil, há uma estreita relação entre racismo, baixa renda e desigualdade de oportunidades, 
sobretudo se considerados outros aspectos interseccionais como gênero, local de moradia, ida-
de e outros aspectos, o que leva os grupos racialmente discriminados a ocuparem patamares 
inferiores da sociedade e de sujeição a ofertas de ações de saúde pública e privada precárias 
(Werneck, 2016).
Alguns dos impactos da discriminação étnico-racial na sociedade são observados no âmbito da 
assistência em saúde. O processo de saúde e/ou adoecimento também está associado a aspec-
tos sociais, econômicos, culturais e políticos que influenciam na integridade física, psicológica, 
individual e coletiva. A estes fatores se agregam as condições de moradia, renda, saúde, localiza-
ção geográfica, as quais são elementos determinantes para o acesso a bens e serviços de saúde 
(Lin & Kelley-Moore, 2017). Historicamente, a população negra tem pouco acesso aos serviços 
de saúde, sobretudo os privados, contribuindo para que os profissionais não problematizem o 
racismo e,consequentemente, não desenvolvam ações profissionais antirracistas. O racismo 
institucional, na área da saúde, colabora para a iniquidade na assistência fornecida à população 
que, por sua vez, recebe atendimentos com menor qualidade se comparados aos da população 
branca (Werneck, 2016). 
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O acesso a serviços de saúde e o uso de instrumentos diagnósticos mais precários, produzem 
e/ou agravam quadros de adoecimento na população negra quando, na verdade, deveriam ser 
espaços promotores de saúde e bem-estar. No que tange a saúde mental, estudos sugerem que 
a população negra tende a apresentar maiores índices de quadros depressivos e de ansiedade, 
embora no Brasil não existam dados precisos sobre a prevalência dos transtornos mentais na 
população negra (Santos & Ricci, 2020). Contudo, alguns achados de pesquisas são alarman-
tes. Por exemplo, de 2012 a 2016, a taxa de suicídio entre negros entre 10 e 29 anos de idade 
aumentou em comparação às outas raças, passando de 53,3% para 55,4%, considerando o inter-
valo de tempo mencionado (Brasil, 2018). Estes quadros de adoecimento mental alertam para a 
necessidade da psicologia e demais áreas profissionais atentarem para a influência do racismo 
nas vivências de sofrimento psíquico. Conforme estudo de Martins, Lima e Santos (2020), a alta 
frequência de microagressões raciais prediz piores níveis de saúde mental e autoestima, espe-
cialmente se considerarmos a questão de gênero. 
Além dos impactos na área da saúde, o racismo reverbera na inserção dificultada da população 
negra no mercado de trabalho, fruto das menores oportunidades educacionais e escolares. Tal 
fato influencia também na privação de acesso a melhores meios econômicos e sociais (CFP, 
2017). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2019), a população preta 
e parda compõe a maior parcela de pessoas desocupadas e da população subutilizada. Conse-
quentemente, a informalidade do trabalho acaba sendo a opção de trabalho mais “viável” para 
este grupo racial. A desvantagem desse grupo populacional se mantém até mesmo quando é 
considerado o recorte por nível de instrução, ou seja, atinge também a população negra com 
maior escolaridade. 
Especificamente no que se refere ao campo da educação, a proporção de jovens pretos ou par-
dos de 18 a 24 anos que cursavam o ensino superior era de 55,6%, enquanto a de estudantes 
brancos com a mesma faixa etária era de 78,8%. Além disso, o número de pretos ou pardos do 
mesmo intervalo etário com menos de 11 anos de estudo e que não frequentavam escola atingiu 
o patamar de 28,8%, enquanto o de indivíduos brancos sob a mesma condição era de 17,4%. A 
taxa de analfabetismo é um outro índice que revela a disparidade entre os grupos raciais negro e 
branco. A taxa de pessoas pretas ou pardas de 15 anos ou mais que eram analfabetas em 2018 
era de 9,1%, sendo a de brancos significativamente menor, equivalente a 3,9% (Instituto Brasileiro 
de Geografia e Estatística – IBGE, 2019). 
12
Outros dados preocupantes são referentes ao trabalho e à renda. De acordo com o Instituto Bra-
sileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2019), no ano de 2018, entre a faixa populacional que re-
presentava a força de trabalho do país, 64,2% dos desocupados e 66,1% dos subutilizados eram 
pretos e pardos. Ademais, o rendimento médio mensal das pessoas ocupadas brancas foi 73,9% 
superior ao de pretos e pardos. Estes receberam menos do que os trabalhadores de cor branca 
tanto nas ocupações formais, como nas informais. Ao se analisar os dados dos indivíduos que 
apresentavam nível superior completo, verificou-se que os brancos ganhavam 45% a mais do que 
os pretos ou pardos com o mesmo nível de escolaridade. 
Informações alarmantes também estão relacionadas aos números de homicídios no Brasil. Por 
exemplo, apesar da qualidade dos dados ser questionável devido a possíveis falhas no processo 
de notificação, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022 (Bueno & Lima, 2022) apresen-
ta dados relevantes. No ano de 2021, 77,9% das vítimas de mortes violentas intencionais eram 
pessoas negras, sendo 77,6% vítimas de homicídio doloso e 84,1% vítimas de intervenções poli-
ciais. Especificamente, em comparação ao ano de 2020, a taxa de mortalidade por intervenções 
policiais entre as vítimas brancas teve uma redução de 30,9% em 2021, enquanto a de vítimas 
negras cresceu em 5,8%. Por outro lado, a raça dos policiais também está associada ao quanti-
tativo alto de vítimas letais. No mesmo período, 67,7% dos policiais civis e militares que tiveram 
morte violenta intencional eram negros. No que se refere à população carcerária brasileira, 67,5% 
são pessoas negras. 
Bueno e Lima (2022) revelaram que, do total de vítimas de feminicídio em 2021, 62% eram mu-
lheres negras, enquanto 37,5% eram brancas. Das vítimas de estupro e estupro de vulnerável, 
a maioria, 52,2%, também eram pessoas negras A composição racial das mortes violentas in-
tencionais de crianças e adolescentes também revela uma expressiva desigualdade. Em 2021, 
66,3% das pessoas mortas de 0 a 11 anos de idade eram negras; na faixa etária de 12 a 17 anos 
as taxas aumentaram assustadoramente para 83,6% considerando o mesmo grupo racial. Além 
disso, em 2019, 66,1% das crianças e dos adolescentes em situação de trabalho infantil eram 
negros (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 2020). 
13
Diante da conjuntura apresentada no tópico anterior, a população negra brasileira lida regular-
mente com Encontros Raciais Discriminatórios (ERDs). Os ERDs incluem formas explícitas e su-
tis de discriminação racial (Anderson & Stevenson, 2019), que são comportamentos de distinção 
de grupos raciais dominantes com prejuízo para grupos raciais considerados inferiores (Conse-
lho Federal de Psicologia, 2017). Desse modo, os ERDs podem ocorrer nos níveis interpessoal, 
institucional e sistêmico, incluindo situações como suspensões e expulsões dentro das escolas, 
ofensas diretas de outras pessoas, perseguição em estabelecimentos comerciais, assassinatos 
por policiais, entre outros (Anderson & Stevenson, 2019). As pesquisas mostram que o racismo 
vem aumentando nos últimos anos. Por exemplo, no Brasil, de 2020 para 2021, a taxa de regis-
tros de casos de racismo teve um aumento de 31% (Bueno & Lima, 2022). 
Anderson e Stevenson (2019) afirmam que os ERDs podem afetar os indivíduos prejudicados 
durante e após o evento de discriminação, resultando em um estresse traumático relacionado 
à raça, o que pode implicar na manifestação de sintomas ansiosos, problemas de sono, rumi-
nação, raiva, supressão emocional, evitação, entre outros. Desenvolver políticas públicas para 
reduzir os efeitos do racismo é essencial, bem como promover o ensino de estratégias de enfren-
tamento e mecanismos à população negra para lidar com o racismo estrutural enquanto mudan-
ças substanciais não acontecem na estrutura da sociedade brasileira. O racismo estrutural tem 
implicações negativas significativas para o desenvolvimento infantojuvenil. Somadas às ame-
aças que seus pais e outros familiares enfrentam, reveladas nos dados sobre a desigualdade 
entre brancos e negros, os prejuízos se tornam devastadores. Nesse processo, a família tem um 
papel fundamental no preparo das crianças para lidar com a questão racial. Para ajudarem seus 
filhos a se prepararem e prevenirem as consequências dos ERDs e desenvolverem identidades 
raciais funcionais, as mães e pais de famílias de minorias étnico-raciais adotam certas atitudes 
e práticas. Esse conjunto de atitudes e práticas tem sido denominado socialização étnico-racial 
ou socialização racial. 
RACISMO E SOCIALIZAÇÃO RACIAL 
NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 
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A socialização racial pode ser definida como um conjunto de mensagens específicas transmiti-
das pelos pais para modelar o comportamento dos filhos e expor a criança a diferentes contextos 
e objetos relacionados à etnia e raça. Essas mensagens possibilitam a transmissão de valores,atitudes, comportamentos e crenças acerca da etnia e raça, conteúdos acerca da herança, da 
cultura, do significado de pertencer a um grupo racial/étnico, da identidade pessoal e de grupo, 
das interações intragrupais e intergrupais e, por fim, do auxílio no enfrentamento das situações 
discriminatórias (Dunbar et al., 2017; Wang et al., 2019). 
De um modo geral, a socialização racial demonstrou proteger os jovens contra os efeitos nega-
tivos relacionados ao racismo (p. ex., estresse), tornando-se uma importante fonte de resiliência 
(Hughes et al., 2016). Ademais, esteve associada a níveis mais baixos de estresse psicológico 
(percepção ou avaliação de certos eventos como estressantes ou custosos) e de sofrimento psi-
cológico (grau em que um indivíduo está sofrendo de alguma forma de psicopatologia) (Bynum, 
2009) e maiores níveis de desempenho escolar (Brown et al. 2009; Smalls, 2009). Outro achado 
relevante é a relação com o desenvolvimento de identidade e autoestima racial positiva e a dimi-
nuição de problemas de comportamento (Neblett et al., 2012). Especificamente, uma metanálise 
(Wang et al., 2019) revelou uma correlação positiva entre socialização racial e os problemas de 
comportamento internalizantes de jovens, bem como uma melhor autopercepção, envolvendo 
crenças referentes à sua própria competência escolar, aceitação social, autoestima e o autocon-
ceito em geral, e melhorias nas relações interpessoais e da adoção de fortes valores centrados 
na família. 
A socialização racial tem sido tipicamente caracterizada por seu conteúdo, sendo este classifi-
cado em quatro categorias: socialização cultural, preparação para o preconceito, promoção da 
desconfiança e igualitarismo. A socialização cultural, também denominada de socialização do 
orgulho, engloba a promoção do orgulho e a transmissão de valores culturais, costumes, tradi-
ções, história e pertencimento. Por exemplo, celebrar feriados culturais, fazer viagens culturais, 
visitar museus com exposições culturais, conversar sobre as realizações históricas de pessoas 
da mesma raça, assistir e discutir filmes com foco racial, cozinhar alimentos culturalmente tradi-
cionais, entre outros (Huguley et al., 2019; Wang et al., 2019). A segunda categoria é a preparação 
para o preconceito. Os pais ensinam as crianças a antecipar, processar e/ou lidar com contextos 
de discriminação (Wang et al., 2019). 
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A promoção da desconfiança é uma dimensão da socialização racial pouco investigada. Esta 
categoria envolve os pais comunicarem aos filhos a necessidade de cautela e desconfiança no 
que se refere aos membros pertencentes a outros grupos raciais, principalmente aqueles que 
integram os grupos dominantes (Huguley et al., 2019). Por fim, a última categoria foi pouco pes-
quisada. A dimensão do igualitarismo, envolve os pais enfatizarem para os filhos a existência de 
uma igualdade entre os variados grupos raciais (Huguley et al., 2019; Umaña-Taylor & Hill, 2020). 
Geralmente, quando adotada, sua finalidade é garantir o sucesso em uma sociedade racista que 
privilegia um grupo racial e o coloca em uma posição de superioridade e de domínio ou para lidar 
com o racismo e a discriminação reais ou potenciais. Desse modo, os pais focam nos valores e 
hábitos para o sucesso e minimização no papel da raça na sociedade e incentivam e modelam o 
comportamento infantil para aquisição de normas culturais dominantes (p. ex., usar as roupas, 
maquiagem e cabelo característico do outro grupo), o que leva os jovens a desenvolverem cren-
ças daltônicas racialmente e à não discussão entre os membros familiares acerca das questões 
raciais (Huguley et al., 2019). 
Ao considerar tais práticas, algumas orientações podem ser fornecidas aos cuidadores de crian-
ças e adolescentes. Por exemplo, Galán et al. (2019), ao visarem dúvidas frequentes que pais 
podem ter sobre como devem conversar sobre raça com seus filhos, destacam a necessidade 
de os socializadores desenvolverem uma série de habilidades relevantes para terem maior pro-
babilidade de sucesso nas interações compostas por conteúdos raciais. Especificamente para 
crianças pequenas, sugerem que os pais pratiquem as conversas sem as crianças e na frente do 
espelho, por exemplo. Desse modo, os cuidadores conseguem treinar habilidades comunicacio-
nais que envolverão uma linguagem simples, clara, concisa e apropriada para a idade dos filhos. 
Contudo, primeiramente, o indicativo é que os pais consigam avaliar e ampliar, se preciso, o seu 
nível de conhecimento acerca dos tópicos raciais, a fim de diminuir o estresse que podem sentir 
em decorrência da conversa e de aumentar a autoconfiança. 
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Sobre as interações pais-filhos acerca da temática racial, confira algumas orientações que os so-
cializadores podem adotar, segundo Galán et al. (2019), de acordo com cada uma das categorias 
da socialização étnico-racial: 
• Socialização cultural: 
• Preparação para o preconceito: 
• Expor as crianças às pessoas negras talentosas a fim de construir confiança 
racial e aumentar a proteção contra ofensas raciais. 
• Aumentar o acesso das crianças aos livros e mídia visual que contém 
representatividades relevantes, ou seja, pessoas ou personagens. A finalidade é 
promover maior orgulho racial nos filhos. 
• A depender da idade das crianças, realizar hobbies, atividades e programas 
com as crianças, pois tocam em características relevantes da herança cultural. 
Exemplos são realizar refeições com alimentos “culturais”, participar de festivais 
culturais, ler livros específicos ou ouvir música podem ser estratégias para 
promover o orgulho racial. 
• Quanto aos pais de crianças brancas, eles devem avaliar a diversidade racial 
existente no ambiente de seus filhos. As crianças com quem os filhos brincam 
são todas brancas? Mesmo que haja crianças negras, os relacionamentos 
existentes são significativos para os filhos em comparação às amizades 
com outras crianças brancas? Qual é a raça dos personagens favoritos dos 
filhos? E os livros que leem ou as bonecas com que brincam? Qual é a raça do 
dentista, professor e pediatra da criança? Perguntas como essas servem para 
identificar o possível baixo acesso aos contextos específicos que envolvem os 
grupos minoritários, o que pode dificultar para que as crianças brancas saibam 
compreender e lidar com a diversidade. 
• Os pais de crianças mais novas (por exemplo, 3 a 5 anos de idade) podem falar 
sobre o conceito de disparidades raciais usando outros grupos compreensíveis 
e não raciais, como nível escolar ou cor dos olhos. Os pais podem também 
fornecer situações hipotéticas envolvendo justiça para trabalhar formas de 
identificar maus tratos e desigualdade. Ex.: “E se o seu professor estabelecesse 
uma regra que todos com [insira a cor dos olhos da criança] tivessem que 
almoçar uma hora mais tarde do que o resto da turma. Isso parece justo?” 
17
• Promoção de desconfiança:
• Para crianças mais velhas na infância ou adolescência, as conversas podem 
abordar as raízes históricas das desigualdades sociais, ressaltando como o 
racismo estrutural aumenta o risco de exposição e não realização de tratamento 
de determinadas infecções entre grupos raciais específicos, por exemplo, como 
foi o caso na pandemia da Covid-19. 
• Os pais também podem perguntar aos filhos o que eles podem fazer para 
lidar com essas desigualdades. Um exemplo de pergunta é a seguinte: “Como 
você acha que podemos tornar as coisas mais justas para todas as crianças?”. 
Convidar as crianças para que manifestem opiniões revela que os pais valorizam 
o que elas têm a dizer e aumenta a confiança delas em poder fazer novas 
perguntas ou conversar futuramente, inclusive envolvendo conteúdos de maior 
complexidade. 
• Os pais negros podem usar eventos de grande violência racial como uma 
oportunidade para aumentar a conscientização sobre o racismo, destacando as 
disparidades na forma como as pessoas são tratados na sociedade com base 
na raça. No entanto, não é indicado quepais negros utilizem tais episódios para 
incentivar a generalização e estereótipos de indivíduos brancos. 
• Embora possa ser tentador compartilhar imagens e vídeos de situações 
específicas para instruir os jovens, é importante que os pais reflitam se isso será 
útil ou induzirá mais estresse para eles e/ou para seus filhos. É essencial que 
os pais considerem quando e onde ter essa conversa. Além disso, é indicada a 
seleção de um momento em que os pais estejam menos estressados, pois isso, 
provavelmente, resultará em práticas de socialização racial mais competentes. 
• Um ponto essencial a se considerar é que as conversas sobre racismo não 
devem ser isoladas de eventos altamente divulgados na mídia. Devem ocorrer 
com frequência à medida que os pais percebem preconceitos e desigualdades 
raciais no contexto ou conteúdos que podem repercutir na criança. 
• Igualitarismo:
• Inicialmente, é indicado examinar as crenças parentais e suas origens antes de 
se envolver em uma conversa com a criança, ou seja, refletir sobre como ocorreu 
o processo de socialização racial na família de origem dos pais e compreender o 
quadro atual é fundamental para criar crianças que sejam conscientes da raça e 
comprometidas com o antirracismo. Por exemplo, perguntas relevantes para uma 
possível intervenção devem ser realizadas, como: “Seus próprios pais falaram 
sobre raça enquanto você crescia? Você foi criado em uma família abertamente 
racista?”. 
18
• Deve-se aproveitar constantemente as situações cotidianas que envolvem 
as relações étnico-raciais para conversar sobre o processo histórico existente 
no país, as diferenças que envolvem os grupos raciais, formas de enfrentar e 
combater o racismo, entre outros. 
Portanto, de acordo com as propostas apresentadas, é necessário compreender que todas as 
famílias devem desenvolver as habilidades para enfrentar com confiança o racismo que envolve 
a sociedade brasileira. Além disso, nenhuma criança nunca é jovem demais para ter uma dis-
cussão sobre raça, e não se pode permitir que o medo que muitos pais possuem de conversar 
sobre a temática racial continue interferindo na criação de crianças para que sejam racialmente 
conscientes e antirracistas. 
Um primeiro ponto importante a se destacar é que somos seres cuja trajetória de vida se inicia na 
infância, perpassa a juventude, a vida adulta e consequentemente alcança a velhice. Ressalta-se 
que a população branca apresenta maiores possibilidades de chegar a idades mais longevas, 
devido às maiores oportunidades e condições de vida. Por outro lado, a mortalidade da popula-
ção negra é mais acentuada, dificultando muitas vezes sua chegada à velhice (Santos & Rabelo, 
2022). 
Uma vez que o racismo é uma ideologia que vigora e traz tantos impactos negativos, como pen-
sar que as vivências raciais da infância não influenciarão a subjetividade da pessoa e demarca-
rão o seu desenvolvimento na vida adulta e velhice? Como pensar que, ao longo do processo de 
envelhecimento, as desigualdades raciais não impactarão a velhice da população negra? Deste 
modo, entende-se que a velhice negra tem sua trajetória de vida perpassada por elementos que 
se iniciaram desde a infância, influenciando vivências posteriores e tendo o fator raça como ele-
mento catalisador do cotidiano (Santos, 2020). 
Destaca-se que a população negra, quando tem a oportunidade de envelhecer, envelhece com 
menor qualidade de vida, de acordo com os indicadores gerais considerados mínimos para viver 
com dignidade (Brasil, 2016). Somam-se a isso os preconceitos sociais relacionados à idade 
(ageísmo), pois, à medida que a idade avança, as desigualdades associadas à raça, etnia e gêne-
ro aumentam (Santos, 2020). Portanto, a violência racial atravessa o cotidiano dessa população 
em todas as etapas de vida, frustrando o exercício de direitos e gerando impactos psicológicos 
(Almeida, 2018; Moreira, 2019). 
POR QUE DISCUTIR RACISMO NA VELHICE? 
19
Ressalta-se que para a população negra idosa muitas experiências de vida são estressantes e 
grande parte destas vivências possuem estreita relação com o racismo. Em estudo realizado por 
Santos (2020), por exemplo, observou-se como “situações estressantes” para mulheres idosas 
negras fatos relacionados à violência doméstica, à morte de filhos e demais familiares, à criação 
de filhos sem apoio, ao histórico de abandono, às péssimas condições trabalhistas, maus tratos 
e exploração desde a infância, restrições materiais e discriminação racial. 
Deste modo, entende-se que discutir racismo na velhice é uma pauta necessária, pois, para além 
do preconceito etário, a população idosa negra vivencia o racismo. Se pensadas as vivências das 
mulheres negras, acrescentamos ainda a questão de gênero como potencializador das condi-
ções de sofrimento. De acordo Rabelo et al. (2018), na velhice, a pobreza, a baixa escolaridade 
e a desigualdade social são intensificadas pelos preconceitos culturais com relação à idade 
e, entre a população idosa negra, também pelo racismo, prejudicando o acesso e a atenção à 
saúde. 
É importante ressaltar que embora existam muitas vivências negativas impostas pelo racismo, 
esta não pode ser entendida como a história única da velhice negra e como único elemento para 
discussão, visto a necessidade de evidenciar as potencialidades deste grupo e as estratégias de 
resistência e apoio mútuo para o enfrentamento das questões sociais. Desta maneira, a psico-
logia no atendimento ao público idoso precisa atentar-se aos aspectos anteriormente citados, a 
partir de uma prática mais inclusiva e por meio da criação de políticas públicas que visem mini-
mizar os impactos do racismo na população negra e mais velha. 
20
A discussão sobre o racismo na população negra tem sido cada vez mais significativa. No en-
tanto, discutir racismo na população indígena ainda é escasso. É importante colocar este tema 
em pauta, tendo em vista que este grupo também compõe uma minoria racial e sofre com os 
impactos da falácia que a colonização implantou, tal como a ideia de que os grupos colonizados 
seriam naturalmente inferiores (Ribeiro, 2022). 
Desde o início da colonização do Brasil, os povos indígenas têm sofrido mudanças nos modos de 
viver, muitas vezes decorrentes de pressões sociais e violências, como a imposição de religião 
baseada na culpa e a extinção de hábitos culturais. Um número significativo de indígenas mor-
reu ao longo dos combates de resistência contra as imposições colonialistas. A violência racial 
contra os povos indígenas, colaborou, inclusive na (re)organização geográfica deste grupo, que 
muitas vezes, ao migrar para os centros urbanos, sofreu de maneira mais intensa os efeitos da 
invisibilidade (Milanez et al., 2019; Ribeiro, 2022). 
A relação do Estado brasileiro com os povos indígenas resultou numa maior segregação deste 
grupo, devido às intensas perseguições territoriais, extermínio e genocídio do povo indígena, li-
mitando os sobreviventes aos espaços das reservas florestais como se ali fosse o único espaço 
possível de viver, dado o estereótipo negativo da população indígena como primitiva (Ribeiro, 
2022). Segundo este mesmo autor, muitos são os relatos de indígenas residindo nos centros 
urbanos e vivenciando discriminação étnico-racial em ambientes escolares, de trabalho, nos mo-
mentos de lazer, nos acessos aos serviços comerciais e de saúde. 
SAÚDE MENTAL EM CONTEXTOS INDÍGENAS: 
INVISIBILIDADE DAS DIFERENÇAS 
21
Nas cidades menos populosas, grande parte dos indígenas residem em terras oficiais, as quais 
“permitem” sua reprodução coletiva, mas, por outro lado, vivenciam limites para seu crescimento 
numérico e expansão cultural, o que ocorre por meio da degradação ambiental vigente em mui-
tos desses territórios. Nos municípios mais populosos (geralmente urbanos), eles precisam criar 
meios que os vinculem entre si e estratégias de sobrevivência frente aos desafios comumente 
enfrentados nesses territórios (Ribeiro, 2022) 
Embora o racismocontra a população indígena seja evidente, este grupo tem pouco espaço no 
debate racial no Brasil, sendo contestada por alguns grupos a associação do racismo a esta 
minoria (Milanez et al., 2019). É urgente a necessidade de reconhecer o racismo contra esta 
população, evidenciando e validando as necessidades dos povos indígenas. Um caminho pos-
sível é a escuta deste grupo e a sua inclusão no debate e na criação de políticas que enfoquem 
sua saúde mental, minimizando sua invisibilidade. Assim sendo, espera-se que que com maior 
enfoque neste problema social, seja evidenciada a prática colonial que reforça separações entre 
índios-brancos-negros, lógica esta que não ficou no passado, mas ainda molda a sociedade (Mi-
lanez et al., 2019; Ribeiro, 2022). 
Segundo Ferraz e Domingues (2016), a complexidade desta temática demanda um olhar interdis-
ciplinar e a Psicologia tem papel essencial na discussão racial, tal qual já explicitado. Porém, um 
grande desafio tem sido a escassez de referências específicas da Psicologia, talvez pela aproxi-
mação “recente” desta área com os estudos raciais e também pela própria constituição da área 
ser pautada, especialmente, por tradições individualistas (ocidentais), opondo-se às tradições 
indígenas baseadas no coletivismo. 
! ATENÇÃO: É pejorativo utilizar o termo “índio”, uma vez que esta terminologia reduz 
a diversidade de uma população e a associa a um lugar folclórico. Por isto, utiliza-se 
“indígena”, “povos indígenas”, “população indígena” ou “povos originários do Brasil” 
para se referir a este grupo (Silva, 2018). 
22
Incluir na formação profissional de psicólogos no Brasil a temática do racismo se revela essen-
cial já que o racismo estrutura a sociedade como um todo, operando no âmbito individual, nas 
relações interpessoais e nas instituições (Rabelo et al., 2018). Além disso, pela constatação de 
que a “grande maioria dos psicólogos e pesquisadores são brancos e socializados entre uma 
população que se acredita desracializada, o que colabora para reificar a ideia de que quem tem 
raça é o outro e para manter a branquitude como identidade racial normativa” (Schucman, 2014, 
p. 84). 
Desse modo, Tavares, Oliveira e Lages (2013) discutem como os profissionais tendem a não de-
senvolver uma percepção crítica sobre as relações étnico-raciais e suas implicações no campo 
da saúde, reproduzindo a ideologia da igualdade social e democracia racial no país e não contri-
buindo, assim, para com as ações promotoras da equidade. 
Especificamente sobre a formação dos profissionais de psicologia, a American Psychological 
Association (2019) destaca a importância de os educadores desenvolverem nos cursos de gra-
duação currículos inclusivos, que devem ser abrangentes e ter uma abordagem baseada em 
pontos fortes para as questões enfrentadas pelas minorias raciais e étnicas. Além disso, orienta 
os educadores a promoverem nos estudantes o pensamento crítico e conscientização, com o 
compromisso profissional de realizar um aprendizado contínuo e exame das próprias crenças 
sobre raça e etnia. Outro ponto relevante é desenvolver nos graduandos de psicologia habilida-
des clínicas para ajudá-los a atender populações diversas, incluindo exercícios em sala de aula 
para promover a autorreflexão ou o estabelecimento de parcerias comunitárias para práticas.
RELAÇÕES RACIAIS NA FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO E 
ATUAÇÃO PROFISSIONAL PARA DESCONSTRUÇÃO DO 
RACISMO E PARA PROMOÇÃO DA IGUALDADE 
23
Ademais, entre as estratégias de enfrentamento do racismo institucional, o Conselho Federal de 
Psicologia (2017) enfatiza a necessidade de os psicólogos brasileiros combaterem a discrimina-
ção institucional, sendo compreendida como ação discriminatória no âmbito organizacional ou 
da comunidade. Para isso, algumas medidas devem ser adotadas pelos profissionais: 
1. Diagnosticar a discriminação institucional: Para identificar a presença de 
discriminação institucional e os elementos que dificultam ou impossibilitam a 
igualdade de oportunidades e tratamento, para posteriormente elaborar um plano 
estratégico, devem ser realizados: levantamento histórico da instituição acerca 
das relações raciais; pesquisas sobre como ocorrem os processos de recursos 
humanos e se é efetuado um levantamento sobre a relação das instituições com 
a comunidade, parceiros, clientela, fornecedores e prestadores de serviços. 
2. Quesito raça/cor: Ao se ter uma visão geral das fragilidades e pontos críticos 
das instituições sobre as ações existentes que mantém as desigualdades raciais, 
para se intervir em tais problemas, é necessário ter dados precisos acerca da 
composição racial dos colaboradores/usuários, bem como a identificação de 
quais medidas adotadas são ineficazes no combate da discriminação e que 
não possibilitam o alcance da igualdade. Além disso, é importante ter dados 
acerca da renda, sexo e idade, para que se trace o perfil dos indivíduos que estão 
inseridos ou se relacionam com as instituições.
3. Enfrentar a discriminação racial: Incorporar nas práticas das instituições 
as ações afirmativas comprometidas com a promoção da igualdade. Ou seja, 
é necessária a implementação de políticas de promoção da igualdade ou de 
inclusão. Desse modo, busca-se garantir, fomentar e propiciar a igualdade. 
Tal direcionamento vai além do não discriminar somente. parceiros, clientela, 
fornecedores e prestadores de serviços. 
4. Sensibilizar gestores e profissionais: Frequentemente, devem ser realizadas 
as ações que visam promover uma reflexão dos gestores e profissionais da 
assistência no que se refere às questões que envolvem as relações étnico-
raciais, tanto no contexto da instituição quanto fora desta. 
24
A American Psychological Association (2019) também enfatiza a necessidade de psicólogos 
desenvolverem uma capacidade de resposta etnocultural e racial em decorrência da diversidade 
populacional e das persistentes disparidades raciais e étnicas existentes. Consequentemente, 
identificaram quatro diretrizes fundamentais na atuação e formação dos profissionais de Psico-
logia, que facilmente podem ser adotadas pelos psicólogos brasileiros. Confira: 
Especificamente no campo da Psicologia Clínica, a American Psychological Association (2019) 
orienta que os psicólogos prestem serviços livres de preconceitos raciais e etnoculturais, incluin-
do não somente o processo de intervenção, mas também as avaliações de indivíduos e grupos. 
Contudo, sabe-se que no campo da Psicologia Clínica brasileira não se tem um corpo de conhe-
cimentos, métodos ou estratégias sistematicamente desenvolvidas para o manejo clínico das 
repercussões do racismo sobre a saúde mental da população negra (Tavares & Kuratani, 2019). 
De forma complementar à primeira estratégia, a American Psychological Association (2019) es-
tabelece uma diretriz sobre a necessidade de que os profissionais de Psicologia reflitam sobre 
como seus próprios preconceitos e suposições enviesadas afetam os tipos de serviços que pres-
tam e busquem compreender as especificidades dos clientes no que se refere à raça e etnia, 
que podem influenciar na percepção, avaliação e engajamento do tratamento. Outro aspecto 
relevante é o reconhecimento por parte dos psicólogos das opressões estruturais na sociedade 
e nos sistemas de saúde existentes na sociedade e a busca de desafiar os preconceitos nas ins-
tituições e serviços que podem afetar direta ou indiretamente a saúde e o bem-estar dos clientes 
(American Psychological Association, 2019), pois quando o psicólogo clínico não reconhece o 
racismo como produtor de iniquidades sociais, preconceito e discriminação, contribui para o 
aumento de sofrimento psíquico de seu cliente pertencente a um grupo específico minoritário 
racial e etnicamente e para a manutenção das desigualdades raciais (Tavares & Kuratani, 2019). 
• 1ª Diretriz: reconhecer a influência de raça e etnia em todos os aspectos das 
atividades profissionais como um processo contínuo. 
• 2ª Diretriz: ampliar constantementeo conhecimento com base em evidências 
referentes à raça e etnia, incluindo aprofundar-se em outros campos de saber, 
como a Antropologia e a Sociologia.
• 3ª Diretriz: aumentar a consciência sobre a própria posição na hierarquização 
racial e sociocultural, bem como refletir sobre privilégios, preconceitos, crenças 
e atitudes relacionadas à temática. Participar de grupos de estudos e cursos de 
formação que têm como foco conteúdos relacionadas à raça e etnia são exemplos 
de atividades que possibilitam uma maior reflexão pessoal e profissional.
• 4ª Diretriz: abordar, de forma sistemática, desigualdades e injustiças 
organizacionais e sociais no que diz respeito à raça e etnia em estruturas 
organizacionais dentro e fora da Psicologia.
25
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
No Brasil, nascer com a pele preta e/ou outras características negroides e compartilhar uma 
mesma história de desenraizamento, escravização e discriminação racial, bem como pertencer 
aos povos indígenas, implica em uma alta probabilidade de experiências negativas e dificuldade 
de acesso a condições de moradia adequadas, renda, saúde, educação e, até mesmo, à vida. 
Esperamos que o e-book Psicologia e Relações Étnico-Raciais: reflexões e possibilidades teóri-
co-práticas tenha produzido valiosas contribuições para a sua prática profissional. Buscamos, 
aqui, sintetizar conteúdos fundamentais sobre a temática racial e sua relação com o campo da 
Psicologia. Desse modo, sugerimos a busca pelas produções que constam nas referências, bem 
como a procura por outros materiais de apoio a fim de obter uma compreensão mais específica 
sobre as particularidades que envolvem uma prática profissional antirracista. 
26
Naylana Rute da Paixão Santos 
Doutoranda e Mestra em Psicologia 
do Desenvolvimento pela Universidade 
Federal da Bahia (UFBA). Especialista em 
Saúde da Pessoa Idosa pelo Programa 
de Residência Multiprofissional da 
Escola Bahiana de Medicina e Saúde 
Pública (EBMSP). Docente nos cursos de 
graduação em Psicologia na EBMSP e na 
Faculdade Santa Casa (FSC). Integrante 
do Grupo de Trabalho “Psicologia, 
Envelhecimento e Velhice” do CRP03. 
Membro e pesquisadora do Grupo de 
Pesquisa “Núcleo de Estudos Avançados 
em Desenvolvimento Humano e Saúde 
Mental”.
Carmem Beatriz Neufeld
Psicóloga. Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora 
do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental – LaPICC-USP. Professora 
Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de 
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP. Presidente da Associação Latino-Americana 
de Psicoterapias Cognitivas - ALAPCCO (2019-2022). Presidente da Associação de Ensino e 
Supervisão Baseados em Evidências - AESBE (2020-2023).
Nilton Correia dos Anjos Filho. 
Doutorando e Mestre pelo Programa 
de Pós-Graduação em Psicologia da 
Universidade Federal da Bahia (UFBA). 
Terapeuta Cognitivo-Comportamental 
e Especialista em Saúde Mental pelo 
Programa de Residência Multiprofissional 
em Saúde da Universidade do Estado da 
Bahia (UNEB). Atua como psicólogo e 
supervisor clínico e docente do curso de 
graduação em Psicologia da Universidade 
Salvador (UNIFACS) e cursos de 
especializações. Pesquisador do Parapais 
- Grupo de Pesquisa sobre Parentalidade 
e Desenvolvimento Socioemocional na 
Infância/UFBA. 
SOBRE ESTE E-BOOK 
A AUTORA E O AUTOR 
SOBRE A EDITORA-CHEFE 
Como citar: Santos, N. R. da P., Anjos Filho, N. C. dos & Neufeld, C. B. (2022). Ebook Psicologia 
e Relações Étnico-Raciais: reflexões e possibilidades teórico-práticas. Blog do Secad. [Site]
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