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Outubro 2021 1 LEI 14.208/2021: POSSIBILIDADE DE SE INSTITUIR AS FEDERAÇÕES DE PARTIDOS POLÍTICOS A Lei nº 14.208/2021 alterou a Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos) e a Lei nº 9.504/97 (Lei das Elei- ções), para instituir as federações de partidos políticos. O que é uma federação de partidos políticos? É a reunião de dois ou mais partidos políticos que possuam afinidade ideológica ou programática e que, depois de constituída e registrada no TSE, atuará como se fosse uma única agremiação partidária. Essa possibilidade foi inserida pela Lei nº 14.208/2021 no art. 11-A da Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos). Quais as são as principais regras para a criação de uma federação de partidos políticos? A criação da federação de partidos políticos obedecerá às seguintes regras: I – a federação somente poderá ser integrada por partidos com registro definitivo no TSE; II – os partidos reunidos em federação deverão permanecer a ela filiados por, no mínimo, 4 anos. O partido que descumprir essa regra, receberá as seguintes sanções: a) ficará proibido de ingressar em outra federação e de celebrar coligação nas 2 eleições seguintes; b) ficará proibido de utilizar o fundo partidário até completar o prazo mínimo remanescente para com- pletar os 4 anos (ex: se abandonou a federação após 3 anos, ficará impedido de utilizar o fundo partidário por mais 1 ano). III – a federação poderá ser constituída até a data final do período de realização das convenções partidá- rias. Assim, é vedada a formação de federação de partidos após o prazo de realização das convenções partidárias. REPORTAGEM DE CAPA 2 IV – a federação terá abrangência nacional e seu registro será encaminhado ao TSE. Deverão ser aplicadas à federação de partidos todas as normas que regem o funcionamento parlamentar e a fidelidade partidária (§ 1º do art. 11-A da Lei nº 9.096/95). Se um partido deixar a federação, ela pode conti- nuar existindo? SIM, desde que, mesmo com essa saída, conti- nue havendo pluralidade de partidos, ou seja, a federação continue com, no mínimo, 2 partidos. Confira o que diz o § 5º do art. 11-A: Art. 11-A (...) § 5º Na hipótese de desligamento de 1 (um) ou mais partidos, a federação continuará em fun- cionamento, até a eleição seguinte, desde que nela permaneçam 2 (dois) ou mais partidos. Etapas para a constituição de uma federação 1) Decisão tomada pela maioria absoluta dos votos da direção nacional do partido aprovando a formação e ingresso na federação. Essa delibe- ração deverá ser formalizada em uma resolução partidária; 2) Elaboração de um programa e de um estatuto para a federação. Esse estatuto é muito impor- tante porque nele serão definidas as regras para a composição da lista da federação para as elei- ções proporcionais. (§ 7º do art. 11-A). 3) Formação de um órgão de direção nacional para a federação. 4) Pedido de registro da federação no TSE. Documentos necessários para o pedido de registro da federação no TSE O pedido de registro de federação de partidos encaminhado ao TSE será acompanhado dos seguintes documentos: I – cópia da resolução tomada pela maioria absoluta dos votos dos órgãos de deliberação nacional de cada um dos partidos integrantes da federação; II – cópia do programa e do estatuto comuns da federação constituída; III – ata de eleição do órgão de direção nacional da federação. Como a federação atua nas eleições? Aplicam-se à federação de partidos todas as normas que regem as atividades dos partidos políticos no que diz respeito às eleições, inclusive no que se refere à: a) escolha e registro de candidatos para as elei- ções majoritárias e proporcionais; b) arrecadação e aplicação de recursos em cam- panhas eleitorais; c) propaganda eleitoral; c) contagem de votos; d) obtenção de cadeiras; e) prestação de contas; e f) convocação de suplentes. Desse modo, para as eleições, a federação é como se fosse um único partido político. REPORTAGEM DE CAPA 3 Infidelidade partidária e federação A Lei nº 14.208/2021 inseriu uma norma tratando sobre infidelidade partidária no § 9º do art. 11-A da Lei nº 9.096/95. Antes de analisarmos o que diz esse dispositivo, acho importante tecer algumas considera- ções prévias sobre o tema para entendermos melhor a nova previsão. No Brasil, a pessoa só pode concorrer a um cargo eletivo se ela estiver filiada a um partido político. Essa exigência está prevista no art. 14, § 3º, V, da CF/88. Mesmo não havendo uma norma expressa na lei ou na CF/88 dizendo isso, o TSE e o STF, em 2007, de- cidiram que a infidelidade partidária era causa de perda do mandato eletivo. Em outras palavras, o TSE e o STF firmaram a tese jurisprudencial de que, se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, sair do partido político no qual foi eleito, ele perderá o cargo que ocupa. Posteriormente, em 2015, foi editada a Lei nº 13.165/2015, que alterou a Lei nº 9.096/95, passando a tratar expressamente sobre o tema “infidelidade partidária”. Veja o artigo que foi acrescentado naquela época: Art. 22-A. Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar, sem justa causa, do partido pelo qual foi eleito. Parágrafo único. Consideram-se justa causa para a desfiliação partidária somente as seguintes hipóteses: I - mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário; II - grave discriminação política pessoal; e III - mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que antecede o prazo de filiação exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao término do mandato vigente. Veja agora o novo § 9º do art. 11-A da Lei nº 9.096/95, inserido pela Lei nº 14.208/2021: Art. 11-A (...) § 9º Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar, sem justa causa, de partido que integra federação. Coligação partidária x federação de partidos Antes de tratar das diferenças, vamos expor as semelhanças: SEMELHANÇAS 1) Tanto a coligação como a federação consistem na reunião de dois ou mais partidos; 2) Funcionam, perante a Justiça Eleitoral, como se fosse um único partido; 3) Devem ser constituídas até a data final do período de realização das convenções partidárias. Exceção: excepcionalmente, a formação de coligações pode ser delegada pelos convencionais à direção partidária, de forma a permitir que a coligação possa ser constituída, em tese, até o protocolo do registro de candidatura. REPORTAGEM DE CAPA 4 DIFERENÇAS COLIGAÇÃO FEDERAÇÃO Constituída para disputar e vencer uma determinada eleição majoritária (Presidente, Governador ou Prefeito). Constituída para atuar, no mínimo durante 4 anos, como se fosse uma única agremiação partidária. Sua atuação se limita ao período eleitoral. Depois da eleição, a coligação é dissolvida. Sua atuação ocorre não apenas no período eleitoral, mas também durante o exercício do mandato. A federação dura, no mínimo, 4 anos. Não precisa ser nacional. É possível a existência de coligações de âmbi- to nacional, estadual, distrital ou municipal. A federação, necessariamente, terá abrangência nacional. Não é possível a coligação para disputar eleições proporcionais. Não existe essa restrição no caso da federação, que pode atuar tanto nas eleições proporcionais como majoritárias. Registro perante o juízo competente para o registro de candidatura. Registro no TSE. Durante o período eleitoral, o partido so- mente terá legitimidade para atuar de forma isolada quando questionar a validade da própria coligação. É assegurada a identidade e a autonomia dos partidos integrantes da federação. Eventual saída de partido de coligação impactará tão somente nas candidaturas eventualmente registradas, sem qualquer penalidade ao partido. O partido que sair da federação antes do prazo mínimo ficará sujeito a sanções. A prestação de contas de campanha é feita por cada partido isoladamente (e não pela coligação). A prestação de contas das campanhas será feita deforma conjunta, pela federação. REPORTAGEM DE CAPA 5 Qual é a diferença entre uma fusão e a federação de partidos políticos? Por que fazer uma federação em vez de uma fusão? FUSÃO FEDERAÇÃO Os partidos que participam da fusão deixam de existir. Após ser concluída, só existirá o novo partido resultante da fusão. Os partidos que formam a federação continuam existindo. Não são extintos. Ficam preservadas a identidade e a autonomia dos partidos que integram a federação. É feita de forma definitiva, considerando que acarreta a extinção dos partidos políticos fundidos. É uma reunião não definitiva, havendo a possi- bilidade de o partido político deixar a federação sem qualquer restrição, desde que tenha perma- necido filiado por um prazo mínimo de 4 anos. Pode ser feita a qualquer tempo, ou seja, mesmo após a data final do período de realização das convenções partidárias. Somente pode ser constituída até a data final do período de realização das convenções partidárias. Vigência A Lei nº 14.208/2021 entrou em vigor na data de sua publicação (29/09/2021). https://www.editorajuspodivm.com.br/compre-por-colecao/dizer-o-direito NOVIDADES LEGISLATIVAS 6 EC 111/2021: REFORMA ELEITORAL A emenda constitucional nº 111/2021 tratou sobre os seguintes temas: • disciplinou a realização de consultas populares concomitantes às eleições municipais; • dispôs sobre o instituto da fidelidade partidária; • alterou a data de posse de Governadores e do Presidente da República; e • estabeleceu regras transitórias para distribuição entre os partidos políticos dos recursos do fundo parti- dário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e para o funcionamento dos partidos políticos. Vejamos cada um dos pontos. 1. CONSULTAS POPULARES NO MESMO PERÍODO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS Antes de mostrar o que mudou na Constituição, é importante fazer algumas breves considerações para que você possa compreender melhor o tema. Formas diretas de exercício da soberania popular A Constituição Federal (art. 1º, parágrafo único) prevê que todo o poder emana do povo. O povo exerce esse poder por meio de: • representantes eleitos (é a atuação dos políticos eleitos com o nosso voto); ou • diretamente. E como o povo exerce diretamente seu poder? A própria Constituição Federal (art. 14) fornece três exemplos nos quais o povo, diretamente, toma deci- sões que seriam, normalmente, praticadas pelos políticos eleitos: a) plebiscito; b) referendo; c) iniciativa popular. No plebiscito e no referendo o povo é consultado para saber se concorda, ou não, com um ato legislativo ou administrativo de relevante interesse público. A diferença entre os dois instrumentos reside no mo- mento em que o povo é consultado: • Plebiscito: o povo é consultado antes de o ato ser praticado. As autoridades ainda estão discutindo se enviam o projeto de lei tratando sobre o tema ou se praticam o ato administrativo e, devido à enorme NOVIDADES LEGISLATIVAS 7 relevância da decisão, resolvem consultar o povo para saber se eles desejam realmente aquela providência. Exemplo real: em 1993, o Brasil realizou um plebiscito no qual as pessoas votaram para decidir a forma e o sistema de governo que deveriam ser adotados em nosso país. Havia a opção de voltarmos para uma monarquia ou mantermos a república. Também foi perguntado se o povo queria manter presidencialismo ou se deveríamos adotar o sistema parlamentarista. A maioria votou por mantermos o regime republicano e o sistema presidencialista. Exemplo hipotético: suponhamos que determina- do Prefeito resolva instituir um sistema público de metrô. Ocorre que, para isso, será necessá- rio um vultoso investimento, com a contração, inclusive, de empréstimos. Além disso, existem diversas opiniões contrárias à medida sob o ar- gumento de que seria mais adequado melhorar o sistema de transporte intermunicipal por ônibus. Diante dessa polêmica e considerando que se trata de uma relevante questão local, o Prefeito e a Câmara Municipal resolvem convocar um ple- biscito para a população decidir se o Município deve, ou não, tomar todas as medidas legislativas e administrativas para a instalação de um siste- ma público de metrô. • Referendo: o povo é consultado depois que o ato já foi praticado. As autoridades praticam o ato e depois consultam o povo para saber se eles desejam ratificar (confirmar, manter) essa providência. Exemplo real: O art. 35, do Estatuto do Desarma- mento (Lei 10.826/2003) previu um referendo, a ser realizado em 2005, para que as pessoas de- cidissem se o comércio de arma de fogo deveria ser proibido em todo território nacional: Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacio- nal, salvo para as entidades previstas no art. 6o desta Lei. § 1º Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005. § 2º Em caso de aprovação do referendo popular, o disposto neste artigo entrará em vigor na data de publicação de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Existe alguma lei regulamentando a realização de plebiscitos e referendos? SIM. Trata-se da Lei nº 9.709/98 que assim con- ceitua os institutos: Art. 2º Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. § 1º O plebiscito é convocado com anteriorida- de a ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido. § 2º O referendo é convocado com posteriorida- de a ato legislativo ou administrativo, cumprin- do ao povo a respectiva ratificação ou rejeição. (...) Quem aprova a convocação de um plebiscito ou referendo? O Poder Legislativo. Se a questão for de relevância nacional, o plebis- cito ou o referendo serão convocados pelo Con- gresso Nacional (art. 3º da Lei nº 9.709/98). Se for um assunto de interesse estadual, a convo- cação será feita pela Assembleia Legislativa (art. 6º da Lei nº 9.709/98). NOVIDADES LEGISLATIVAS 8 Por sua vez, em caso de questão local, o plebisci- to ou o referendo serão aprovados pelas Câma- ras Municipais. Que organiza e executa o plebiscito o referendo? A Justiça Eleitoral, que utilizará a mesma estru- tura administrativa e operacional destinada às eleições. O TSE editou, inclusive, a Resolução nº 23.385/2012 para disciplinar o tema: Art. 1º Entende-se como consulta popular a realizada mediante plebiscito ou referendo, para que o povo delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitu- cional, legislativa ou administrativa, consoan- te previsto nos §§ 1º e 2º do art. 2º da Lei nº 9.709/1998. O que fez a EC 111/2021? Acrescentou dois parágrafos ao art. 14 da CF/88 afirmando que: • essas consultas, se envolverem questões lo- cais, deverão ser realizadas no mesmo dia das eleições; • a convocação dessas consultas deverá ser feita até 90 dias antes da data das eleições; • não é permitida a utilização de propaganda gratuita no rádio e na TV para a divulgação dos argumentos favoráveis e contrários aquilo que está sendo consultado. Art. 14 (...) § 12. Serão realizadas concomitantemente às eleições municipais as consultas populares so- bre questões locais aprovadas pelas Câmaras Municipais e encaminhadas à Justiça Eleito- ral até 90 (noventa) dias antes da data das eleições, observados os limites operacionais relativos ao número de quesitos. § 13. As manifestações favoráveis e contrárias às questões submetidas às consultas popu- lares nos termos do § 12 ocorrerão durante as campanhas eleitorais, sem a utilização de propaganda gratuita no rádio e na televisão. 2. INFIDELIDADE PARTIDÁRIA A EC 111/2021 inseriu um parágrafo no art. 17 da CF/88 tratando sobre infidelidade partidária. Antes de analisarmos o que diz esse dispositivo, acho importante tecer algumas consideraçõesprévias sobre o tema para entendermos melhor a nova previsão. Filiação partidária No Brasil, a pessoa só pode concorrer a um cargo eletivo se ela estiver filiada a um partido político. Essa exigência está prevista no art. 14, § 3º, V, da CF/88. Infidelidade partidária Em 2007, mesmo não havendo uma norma ex- pressa na lei ou na CF/88 tratando sobre o tema, o TSE e o STF decidiram que a infidelidade parti- dária era causa de perda do mandato eletivo. Em outras palavras, o TSE e o STF firmaram a tese jurisprudencial de que, se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, sair do partido político no qual foi eleito, ele perderá o cargo que ocupa. O tema era tratado unicamente pela Resolução TSE nº 22.610/2007. Posteriormente, em 2015, foi editada a Lei nº 13.165/2015, que alterou a Lei nº 9.096/95, pas- sando a tratar expressamente sobre o tema “infidelidade partidária”. Veja o artigo que foi acrescentado naquela época: NOVIDADES LEGISLATIVAS 9 Art. 22-A. Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar, sem justa causa, do partido pelo qual foi eleito. Parágrafo único. Consideram-se justa causa para a desfiliação partidária somente as se- guintes hipóteses: I - mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário; II - grave discriminação política pessoal; e III - mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que antecede o prazo de filiação exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao térmi- no do mandato vigente. Em 2017, a EC 97 incluiu o § 5º ao art. 17 tratando, pela primeira vez, sobre infidelidade partidária no texto constitucional. A EC 97/2017 disse que, se um candidato for eleito por um partido que não preencher os requisitos para obter o fundo partidário e o tempo de rádio e TV, este candidato tem o direito de mudar de partido, sem perder o mandato por infidelidade partidária: Art. 17 (...) § 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que os tenha atingido, não sendo essa filiação con- siderada para fins de distribuição dos recur- sos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão. Agora, em 2021, a EC 111 acrescentou o § 6º ao art. 17 tratando de forma mais detalhada sobre o instituto da infidelidade partidária: Art. 17 (...) § 6º Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados Distritais e os Ve- readores que se desligarem do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de anuência do partido ou de outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, não computada, em qualquer caso, a migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de outros fundos públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão. A fidelidade partidária só existe para os detentores de cargos eletivos proporcionais (não existe dever de fidelidade partidária para os ocupantes de cargos majoritários) Sistema eleitoral é o conjunto de regras e técni- cas previstas pela CF e pela lei para disciplinar a forma como os candidatos ao mandato eletivo serão escolhidos e eleitos. NOVIDADES LEGISLATIVAS 10 No Brasil, atualmente, existem dois sistemas eleitorais: SISTEMAS ELEITORAIS MAJORITÁRIO PROPORCIONAL O mandato eletivo fica com o candidato ou partido político que obteve a maioria dos votos. Ganha o candidato mais votado, independente- mente dos votos de seu partido. Terminada a votação, divide-se o total de votos válidos pelo número de cargos em disputa, obten- do-se assim o quociente eleitoral. Ex: na eleição para vereador houve 100 mil votos válidos e eram 20 vagas. Logo, o quociente eleitoral será 5 mil (100.000 : 20 = 5.000). Em seguida, pega-se os votos de cada partido e di- vide-se pelo quociente eleitoral, obtendo-se assim o número de eleitos de cada partido (quociente partidário). Ex: o Partido X e seus candidatos tive- ram 20 mil votos. Esses 20 mil serão divididos pelo quociente eleitoral (5 mil). Logo, esse partido terá direito a 4 vagas de Vereador (20.000 : 5.000 = 4). Os candidatos mais bem votados desse partido irão ocupar tais vagas. No Brasil, é o sistema adotado para a eleição de Prefeito, Governador, Senador e Presidente. No Brasil, é o sistema adotado para a escolha de Vereador, Deputado Estadual, Deputado Federal e Deputado Distrital. A perda do mandato em razão de mudança de partido somente se aplica para os cargos eletivos propor- cionais. Essa sanção não vale para candidatos eleitos pelo sistema majoritário. Veja a redação da parte inicial do § 6º do art. 17 e note como ela só menciona cargos proporcionais: “Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato...” Por quê? No sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não importando o quo- ciente eleitoral nem o quociente partidário. Nas eleições majoritárias (Prefeito, Governador, Senador e Presidente), os eleitores votam no candidato e não no seu partido político. Desse modo, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por infidelidade partidária é antagônica (contrária) à soberania popular. Vale ressaltar que, mesmo antes da EC 111/2021, esse já era o entendimento do STF sobre o tema: (...) O ponto central discutido na presente ação é totalmente diverso: saber se é legítima a extensão da regra da fidelidade partidária aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário. NOVIDADES LEGISLATIVAS 11 2. (...) As características do sistema proporcio- nal, com sua ênfase nos votos obtidos pelos partidos, tornam a fidelidade partidária im- portante para garantir que as opções políticas feitas pelo eleitor no momento da eleição se- jam minimamente preservadas. Daí a legitimi- dade de se decretar a perda do mandato do candidato que abandona a legenda pela qual se elegeu. 3. O sistema majoritário, adotado para a eleição de presidente, governador, prefeito e senador, tem lógica e dinâmica diversas da do sistema proporcional. As características do sistema majoritário, com sua ênfase na figura do candidato, fazem com que a perda do mandato, no caso de mudança de partido, frustre a vontade do eleitor e vulnere a sobe- rania popular (CF, art. 1º, parágrafo único; e art. 14, caput). (...) (ADI 5081, Relator(a): Min. ROBERTO BARRO- SO, Tribunal Pleno, julgado em 27/05/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-162 DIVULG 18- 08-2015 PUBLIC 19-08-2015) O TSE, em sintonia com o STF, já havia editado súmula sobre o tema: Súmula 67-TSE: A perda do mandato em razão da desfiliação partidária não se aplica aos can- didatos eleitos pelo sistema majoritário. Exemplo recente foi o do Presidente Jair Bolsona- ro. Ele foi eleito em 2018 pelo PSL, tendo deixado a sigla no fim de 2019. Essa saída da agremiação não configura ato que possa gerar a perda do mandato por infidelidade partidária. Desse modo, neste ponto, a EC 111/2021 positi- vou o entendimento do STF. Anuência do partido como hipótese de justa causa para a desfiliação partidária Como vimos acima, o parágrafo único do art. 22-A da Lei nº 9.096/95 prevê três hipóteses que são consideradas como justa causa para o desligamento da pessoa do partido político. Em outras palavras, se o titular do mandato eletivo proporcional deixar o partido e se verificar uma dessas três situações, ele não perderá o cargo. Reveja o dispositivo: Art. 22-A. Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar, sem justa causa, do partido pelo qual foi eleito. Parágrafo único. Consideram-se justa causa para a desfiliação partidária somente as se- guintes hipóteses: I - mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário; II - grave discriminação política pessoal; e III - mudança de partido efetuada durante o período de trintadias que antecede o prazo de filiação exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao térmi- no do mandato vigente. A EC 111/2021 acrescenta uma quarta hipótese: a anuência do partido. Assim, imagine que João foi eleito Deputado Federal pelo partido “X”. Ele deseja deixar a agremiação partidária, mas não está presente nenhuma das hipóteses do pará- grafo único do art. 22-A da Lei nº 9.096/95. Isso significa que, ele concretizar a desfiliação, ele perderá o mandato, que será assumido por um suplente do partido “X”. Ocorre que existe uma quarta hipótese na qual ele não sofrerá a sanção: se a direção do Partido “X” conceder a ele uma carta de anuência autorizando que ele deixe a agremiação. Isso foi expressamente consignado no § 6º do art. 17. NOVIDADES LEGISLATIVAS 12 Importante esclarecer que, mesmo antes da alteração, o TSE já possuía firme jurisprudência no sentido de que a carta de anuência do partido autoriza a desfiliação sem perda de mandato. Logo, a regra trazida pela Emenda corrobora o entendimento do TSE. Confira: A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que a concordância da agremiação partidária com o desligamento do filiado é apta a permitir a desfiliação sem prejuízo do mandato eletivo. (RESPE - Recurso Especial Eleitoral nº 060015033 - BELO HORIZONTE – MG - Acórdão de 10/09/2019 - Relator(a) designado(a) Min. Alexandre de Moraes) Em recurso especial eleitoral com agravo, o Ministro Relator manteve o entendimento firmado para as eleições de 2016 no sentido de que “a concordância da agremiação partidária com o desligamento do filiado é apta a permitir a desfiliação sem prejuízo do mandato eletivo” (AgR–Pet nº 0601117–75/PE, Rel. Min. Rosa Weber, j. em 20.02.2018). Precedentes” (0600185-90.2018.6.13.0000 - AI - Agravo Regi- mental em Agravo de Instrumento nº 060018590 - ITAÚNA – MG - Acórdão de 13/05/2021 - Relator(a) designado(a) Min. Luís Roberto Barroso) Conforme entendimento fixado pelo TSE para os processos relativos às eleições de 2016, “a carta de anuência do partido político constitui justa causa para a desfiliação partidária sem perda de mandato eletivo”. Precedentes.” (AI - Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 060013212 - RIBEIRÃO DAS NEVES – MG - Acórdão de 03/09/2020 - Relator(a) Min. Alexandre de Moraes) 3. ALTERAÇÃO NA DATA DA POSSE DO PRESIDENTE E GOVERNADORES Antes: a posse e o início do mandato começavam em 01 de janeiro. Agora: • mandato do Presidente terá início em 05 de janeiro; • mandato do Governador se iniciará em 06 de janeiro. CONSTITUIÇÃO FEDERAL Antes da EC 111/2021 Depois da EC 111/2021 Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Gover- nador de Estado, para mandato de quatro anos, realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em primeiro de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o dis- posto no art. 77. Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Go- vernador de Estado, para mandato de 4 (quatro) anos, realizar-se-á no primeiro domingo de ou- tubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em 6 de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77 desta Constituição. Art. 82. O mandato do Presidente da República é de quatro anos e terá início em primeiro de janeiro do ano seguinte ao da sua eleição. Art. 82. O mandato do Presidente da República é de 4 (quatro) anos e terá início em 5 de janeiro do ano seguinte ao de sua eleição. NOVIDADES LEGISLATIVAS 13 Obs: o Presidente da República e os Governa- dores de Estado e do Distrito Federal eleitos em 2022 tomarão posse em 1º de janeiro de 2023, e seus mandatos durarão até a posse de seus sucessores, em 5 e 6 de janeiro de 2027, respecti- vamente (art. 4º da EC 111/2021). Assim, as alterações efetuadas nos arts. 28 e 82 da Constituição Federal constantes do art. 1º des- ta Emenda Constitucional, relativas às datas de posse de Governadores, de Vice-Governadores, do Presidente e do Vice-Presidente da República, serão aplicadas somente a partir das eleições de 2026 (art. 5º da EC 111/2021). 4. PARA FINS DE FUNDO PARTIDÁRIO E FEFC, OS VO- TOS EM CANDIDATAS MULHERES OU CANDIDATOS NEGROS CONTARÃO EM DOBRO Art. 2º Para fins de distribuição entre os parti- dos políticos dos recursos do fundo partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), os votos dados a candida- tas mulheres ou a candidatos negros para a Câmara dos Deputados nas eleições realiza- das de 2022 a 2030 serão contados em dobro. Parágrafo único. A contagem em dobro de vo- tos a que se refere o caput somente se aplica uma única vez. Fundo Partidário O que é o fundo partidário? Trata-se de um Fun- do Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos que tenham seu estatuto registrado no Tribunal Superior Eleitoral e prestação de contas regular perante a Justiça Eleitoral. O fundo partidário é constituído por dotações orçamentárias da União, multas, penalidades, doa- ções e outros recursos financeiros previstos no art. 38 da Lei nº 9.096/95 – Lei dos Partidos Políticos. Os valores contidos no Fundo Partidário são re- passados aos partidos políticos por meio de um cálculo previsto no art. 41-A, da Lei nº 9.096/1995. Consiste na principal fonte de verbas dos partidos. Para que serve o dinheiro do fundo partidário? Segundo o art. 44 da Lei nº 9.096/95, os recursos oriundos do Fundo Partidário serão utilizados pelos partidos políticos para: i) na manutenção das sedes e serviços do partido, permitido o pagamento de pessoal; ii) na propaganda doutrinária e política; iii) no alistamento e campanhas eleitorais; iv) na criação e manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política; v) na criação e manutenção de programas de promo- ção e difusão da participação política das mulheres; vi) no pagamento de mensalidades, anuidades e congêneres devidos a organismos partidários internacionais que se destinem ao apoio à pes- quisa, ao estudo e à doutrinação política; vii) no pagamento de despesas com alimentação, incluindo restaurantes e lanchonetes; viii) na contratação de serviços de consultoria contábil e advocatícia; ix) na compra ou locação de bens móveis e imóveis, bem como na edificação, construção ou reforma de sedes e afins; x) no custeio de impulsionamento de conteúdo. Fundo Especial de Financiamento de Campanha Por outro lado, o Fundo Especial de Financia- mento de Campanha (FEFC), regulamentado pela NOVIDADES LEGISLATIVAS 14 Lei nº 9.504/97, é constituído exclusivamente por dotações orçamentárias da União (art. 16-C) e tem por finalidade exclusiva financiar as campanhas eleitorais. Embora os dois fundos possam ser utilizados para custear despesas com as campanhas eleitorais, o Fundo Partidário tem por objetivo primário a manutenção e o funcionamento dos partidos políticos. Já o FEFC, como o próprio nome já diz, somente pode ser aplicado nas despesas de campanha. E como são distribuídos esses recursos? Há regras específicas nas Leis nº 9.095/95 e nº 9.504/97: FUNDO PARTIDÁRIO (Art. 41-A, da Lei 9.096/95) FEFC (art. 16-D, da Lei 9.504/97) I - 5% (cinco por cento) serão destacados para entrega, em partes iguais, a todos os partidos que atendam aos requisitos constitucionais de acesso aos recursos do Fundo Partidário; e (Redação dada pela Lei nº 13.165, de 2015) II - 95% (noventa e cinco por cento) serão distribuí- dos aos partidos na proporção dos votos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados. I - 2% (dois por cento), divididos igualitariamente entre todos os partidos com estatutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral; II - 35% (trinta e cinco por cento), divididos entreos partidos que tenham pelo menos um represen- tante na Câmara dos Deputados, na proporção do percentual de votos por eles obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados; III - 48% (quarenta e oito por cento), divididos entre os partidos, na proporção do número de representantes na Câmara dos Deputados, consi- deradas as legendas dos titulares; IV - 15% (quinze por cento), divididos entre os partidos, na proporção do número de representantes no Sena- do Federal, consideradas as legendas dos titulares. O que a EC 111 alterou? São diversas as iniciativas tendentes a aumentar a participação de mulheres e da população negra na política. No caso das mulheres, por exemplo, a lei já obriga os partidos políticos a investirem recursos pú- blicos em programas de incentivo à participação feminina, bem como destinar, no mínimo, 30% das vagas para candidaturas de cada sexo. No entanto, essas ações não vêm apresentando resultados satisfatórios, pois, na prática, o que se ob- serva é que os partidos registram candidaturas femininas politicamente inviáveis, apenas para cumprir a obrigação legal. Visando reverter essa situação, a EC 111 objetivou criar um incentivo financeiro para promover as candi- daturas femininas. NOVIDADES LEGISLATIVAS 15 Como já mencionado anteriormente, a maior parte dos recursos do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha é distribuída segundo a quantidade de votos obtidos pelo partido políti- co para a Câmara dos Deputados nas últimas eleições. O que a Emenda Constitucional fez foi criar uma ação afirmativa temporária para os pleitos 2022 e 2030, de forma a considerar em dobro os votos dados a candidatas mulheres ou candidatos negros. Por exemplo, em uma situação hipotética, na distribuição dos recursos, poderíamos imaginar que um partido que obteve 1.000.000 de votos, dos quais 100.000 foram em candidatos negros e outros 100.000 foram em candidatas mulheres. O cálculo ficaria assim: ANTES DA EMENDA DEPOIS DA EMENDA Votos em candidatas mulheres 100.000 200.000 (os 100.000 votos serão considerados em dobro) Votos em candidatos negros 100.000 200.000 (os 100.000 votos serão considerados em dobro) Demais votos 800.000 800.000 Total de votos a ser consi- derado para distribuição do FEFC e do Fundo Partidário 1.000.000 votos 1.200.000 votos E se o partido eleger uma candidata negra do sexo feminino, como ficaria contagem dos votos para distribuição dos recursos? Nesse caso, a contagem em dobro poderá será feita apenas uma vez, ou seja, se a candidata obteve 100.000 votos, serão considerados 200.000 votos para efeito dessa distribuição. É o que dispõe o parágra- fo único do art. 2º: Art. 2º (...) Parágrafo único. A contagem em dobro de votos a que se refere o caput somente se aplica uma única vez. 5. INCORPORAÇÃO DE PARTIDOS A incorporação dos partidos ocorre quando um partido (incorporado) é absorvido por outro (incorpora- dor), segundo as regras do art. 29, da Lei 9.096/95: Art. 29. Por decisão de seus órgãos nacionais de deliberação, dois ou mais partidos poderão fundir-se num só ou incorporar-se um ao outro. (...) NOVIDADES LEGISLATIVAS 16 § 2º No caso de incorporação, observada a lei civil, caberá ao partido incorporando deliberar por maioria absoluta de votos, em seu órgão nacional de deliberação, sobre a adoção do estatuto e do programa de outra agremiação. § 3º Adotados o estatuto e o programa do par- tido incorporador, realizar-se-á, em reunião conjunta dos órgãos nacionais de deliberação, a eleição do novo órgão de direção nacional. (...) § 5º No caso de incorporação, o instrumento respectivo deve ser levado ao Ofício Civil com- petente, que deve, então, cancelar o registro do partido incorporado a outro. Com o objetivo de reduzir o número de parti- dos em atividade, as últimas reformas eleitorais reduziram sobremaneira o repasse de recursos públicos para agremiações com inexpressiva representação do Congresso Nacional. Como exemplos, o Partido Republicado Progres- sista (PRP) foi incorporado ao Patriota; o Partido Pátria Livre foi incorporado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Humanista da Soli- dariedade (PHS) foi incorporado ao Podemos. Acontece que, após as incorporações, verificou-se na prática que muitos órgãos partidários munici- pais e estaduais dos partidos incorporados esta- vam irregulares (ausência de prestação de contas, multas por aplicação irregular de recursos etc). Diante da inexistência de previsão legal específica, a Justiça Eleitoral passou a direcionar a cobrança dessas penalidades ao partido incorporador. Para evitar esse redirecionamento das cobranças até a edição de norma específica sobre a matéria, a EC 111 trouxe a seguinte regra: Art. 3º Até que entre em vigor lei que discipli- ne cada uma das seguintes matérias, obser- var-se-ão os seguintes procedimentos: I - nos processos de incorporação de partidos políticos, as sanções eventualmente aplicadas aos órgãos partidários regionais e municipais do partido incorporado, inclusive as decorren- tes de prestações de contas, bem como as de responsabilização de seus antigos dirigentes, não serão aplicadas ao partido incorporador nem aos seus novos dirigentes, exceto aos que já integravam o partido incorporado; (...) 6. ANOTAÇÕES RELATIVAS ÀS ALTERAÇÕES DOS ESTATUTOS DOS PARTIDOS POLÍTICOS O fundamento jurídico para essa alteração seja garantir a autonomia partidária, evitando a inter- ferência externa sobre as regras estatutárias da agremiação. Art. 3º Até que entre em vigor lei que discipli- ne cada uma das seguintes matérias, obser- var-se-ão os seguintes procedimentos: (...) II - nas anotações relativas às alterações dos estatutos dos partidos políticos, serão objeto de análise pelo Tribunal Superior Eleitoral apenas os dispositivos objeto de alteração. VIGÊNCIA A EC 111/2021 entrou em vigor na data de sua publicação (29/09/2021). JULGADOS EM DESTAQUE 17 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � STF determinou, como tutela pro- visória incidental na ADPF, que a União adote providências para asse- gurar a vida, a saúde e a segurança de povos indígenas Cabível o deferimento de tutela provisória in- cidental em arguição de descumprimento de preceito fundamental para adoção de todas as providências indispensáveis para assegurar a vida, a saúde e a segurança de povos indíge- nas vítimas de ilícitos e problemas de saúde decorrentes da presença de invasores de suas terras, em situação agravada pelo curso da pandemia ocasionada pelo novo coronavírus (Covid-19). STF. Plenário. ADPF 709 TPI-Ref/DF, Rel. Min. Ro- berto Barroso, julgado em 18/6/2021 (Info 1022). �Norma estadual pode proibir a caça em seu território Não afronta a competência legislativa da União o dispositivo de constituição estadual que proíbe a caça em seu respectivo território. STF. Plenário. ADI 350/SP, Rel. Min. Dias Toffo- li, julgado em 18/6/2021 (Info 1022). � São inconstitucionais os dispositivos da Lei nº 10.001/2000 que impõem deveres aos membros do MP no que tange às conclusões da CPI São formalmente inconstitucionais os dispo- sitivos da Lei nº 10.001/2000, de iniciativa do Poder Legislativo, que tratam de atribuições do Ministério Público (art. 2º, caput e parágra- fo único e art. 4º). A Constituição Federal reserva ao Presidente da República e ao Chefe do Ministério Público o poder de iniciativa para deflagrar o processo legislativo no que concerne a normas de orga- nização e atribuições do Ministério Público. Além disso, os arts. 2º e 4º da Lei nº 10.001/2000 são materialmente inconstitu- cionais por ofenderem a independência e a autonomia funcional e administrativa do Ministério Público. Por outro lado, é constitucional o art. 3º da Lei nº 10.001/2000, que confere prioridade aos processos e procedimentos decorrentes de re- latórios de Comissão Parlamentar de Inquérito. STF. Plenário. ADI5351/DF, Rel. Min. Carmen Lúcia, julgado em 18/6/2021 (Info 1022). DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE 18 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Estado pode ser obrigado a forne- cer medicamento não registrado na ANVISA, se a sua importação estiver autorizada, ele se mostrar impres- cindível ao tratamento e houver incapacidade financeira do paciente Constatada a incapacidade financeira do pa- ciente, o Estado deve fornecer medicamento que, apesar de não possuir registro sanitário, tem a importação autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para tanto, devem ser comprovadas a imprescindi- bilidade do tratamento e a impossibilidade de substituição por outro similar constante das listas oficiais de dispensação e dos protocolos de intervenção terapêutica do Sistema Único de Saúde (SUS). Tese fixada pelo STF: Cabe ao Estado fornecer, em termos excep- cionais, medicamento que, embora não pos- sua registro na Anvisa, tem a sua importação autorizada pela agência de vigilância sanitária, desde que comprovada a incapacidade econô- mica do paciente, a imprescindibilidade clínica do tratamento, e a impossibilidade de subs- tituição por outro similar constante das listas oficiais de dispensação de medicamentos e os protocolos de intervenção terapêutica do SUS. STF. Plenário. RE 1165959/SP, Rel. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 1161) (Info 1022). �Norma estadual não pode dispor sobre condições para o exercício de atividade profissional É formalmente inconstitucional portaria do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) que dispõe sobre condições para o exercício de atividade profissional. Caso concreto: o Detran/TO editou portaria regulamentando a profissão de despachante de trânsito. STF. Plenário. ADI 6754/TO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 25/6/2021 (Info 1023). �Governador não pode ser obrigado a depor em CPI instaurada no Congres- so Nacional Em juízo de delibação, não é possível a convo- cação de governadores de estados-membros da Federação por Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada pelo Senado Federal. A convocação viola o princípio da separação dos Poderes e a autonomia federativa dos estados-membros. STF. Plenário. ADPF 848 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 25/6/2021 (Info 1023). DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE 19 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �A concessão de aposentadoria ao empregado público, com utilização do tempo de contribuição, acarreta obrigatoriamente o rompimento do vínculo trabalhista? A justiça comum é competente para processar e julgar ação em que se discute a reintegração de empregados públicos dispensados em face da concessão de aposentadoria espontânea. A concessão de aposentadoria, com utilização do tempo de contribuição, leva ao rompimento do vínculo trabalhista nos termos do art. 37, § 14, da CF. Entretanto, é possível a manutenção do víncu- lo trabalhista, com a acumulação dos proventos com o salário, se a aposentadoria se deu pelo RGPS antes da promulgação da EC 103/2019. Tese fixada pelo STF: A natureza do ato de demissão de empregado público é constitucional-administrativa e não traba- lhista, o que atrai a competência da Justiça comum para julgar a questão. A concessão de aposentadoria aos empregados públicos inviabiliza a permanência no emprego, nos termos do art. 37, § 14, da Constituição Federal, salvo para as aposentadorias concedidas pelo Re- gime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor da Emenda Constitucional 103/19, nos termos do que dispõe seu art. 6º. STF. Plenário. RE 655283/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 16/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 606) (Info 1022). DIREITO ADMINISTRATIVO DIREITO AMBIENTAL �Norma estadual pode proibir a caça em seu território Não afronta a competência legislativa da União o dispositivo de constituição estadual que proíbe a caça em seu respectivo território. STF. Plenário. ADI 350/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/6/2021 (Info 1022). JULGADOS EM DESTAQUE 20 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Fazendas Públicas estadual ou municipal podem fazer o protesto de CDA mesmo que não exista lei local autorizando A validade do protesto de CDA emitida por Fazenda Pública Estadual ou Fazenda Municipal não está condicionada à previa existência de lei local que autorize a adoção dessa modalidade de cobrança extrajudicial. STJ. 1ª Turma. REsp 1.895.557-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 22/06/2021 (Info 702). DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL DIREITO CIVIL �A cláusula contratual que circunscreve e particulariza a cobertura securitária não encerra, por si, abusividade nem indevida condição potestativa por parte da seguradora É da própria natureza do contrato de seguro a prévia delimitação dos riscos cobertos a fim de que exista o equilíbrio atuarial entre o valor a ser pago pelo consumidor e a indenização securitária de responsabilidade da seguradora, na eventual ocorrência do sinistro. A restrição da cobertura do seguro às situações específicas de invalidez por acidente decorrente de “qualquer tipo de hérnia e suas consequências”, “parto ou aborto e suas consequências”, “pertur- bações e intoxicações alimentares de qualquer espécie, bem como as intoxicações decorrentes da ação de produtos químicos, drogas ou medicamentos, salvo quando prescritos por médico devida- mente habilitado, em decorrência de acidente coberto” e “choque anafilático e suas consequências” não contraria a natureza do contrato de seguro nem esvazia seu objeto, apenas delimita as hipóte- ses de não pagamento do prêmio. STJ. 4ª Turma. REsp 1.358.159-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 08/06/2021 (Info 701). Cuidado com decisão da 3ª Turma do STJ em sentido ligeiramente contrário: É abusiva cláusula prevista em seguro de acidentes pessoais que exclua complicações decorrentes de gravidez, parto, aborto, intoxicações alimentares, exames e tratamentos (STJ. 3ª Turma. REsp 1635238-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/12/2018). JULGADOS EM DESTAQUE 21 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Em ação demolitória, não há obrigato- riedade de litisconsórcio passivo ne- cessário dos coproprietários do imóvel Exemplo hipotético: João e Pedro são vizinhos. Pedro construiu, em seu imóvel, um terraço para realização de festas. Ocorre que essa construção desrespeitou as normas sobre direito de vizinhança, tendo em vista que não obedeceu à distância mínima de afastamento lateral imposta pelo Código Civil no art. 1.301. Diante disso, João exigiu o desfazimento da obra. Como não aceitou desfazer a obra, João ajuizou ação demolitória contra Pedro. Pedro contestou a demanda afirmando que o imó- vel pertence a ele e aos seus irmãos Ricardo e André e que, portanto, a ação demolitória deveria ter sido ajuizada contra os três, em litisconsórcio passivo necessário. A tese de Pedro não foi acolhida pelo STJ. Em ação demolitória, como na hipótese, não se discute a propriedade do imóvel, caso em que, dada a incindibilidade do direito material, os demais proprietários deveriam necessaria- mente integrar a relação processual. A diminuição do patrimônio é consequência natural da efetivação da decisão judicial que impôs ao réu a obrigação de demolir as ben- feitorias e acessões erigidas ilicitamente. Portanto, na condição de coproprietário, a parte sofrerá os efeitos materiais da sentença, mas isso não é suficiente para caracterizar o litisconsórcio necessário, até porque o direito de propriedade permanecerá intocado. STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.472-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 15/06/2021 (Info 701). �A exceção à impenhorabilidadedo bem de família, prevista para o cré- dito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisi- ção do imóvel, estende-se ao imóvel adquirido com os recursos oriundos da venda daquele bem Exemplo hipotético: João contraiu emprés- timo para a aquisição de um apartamento. Ele conseguiu obter o dinheiro com o Banco e se comprometeu a pagar o mútuo em 60 prestações mensais. Com os recursos obti- dos, João comprou o referido apartamento e nele passou a viver com a sua família. Algum tempo depois, João alienou o apartamento e, com o dinheiro, comprou uma casa. Se o devedor atrasar as parcelas, será possível que o banco execute o contrato e consiga a penhora da casa com base na autorização excepcional prevista no inciso II do art. 3º da Lei nº 8.009/90. Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natu- reza, salvo se movido: (...) II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destina- do à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; STJ. 3ª Turma. REsp 1.935.842-PR, Rel. Min. Nan- cy Andrighi, julgado em 22/06/2021 (Info 702). DIREITO CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 22 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � É vedado o ajuizamento de ação de imissão na posse, de juízo petitório, na pen- dência de ação possessória sobre o mesmo bem O art. 557 do CPC e o art. 1.210, §2º, do CC estabelecem a vedação da exceção de domínio. Há uma separação absoluta entre os juízos petitório, baseado na propriedade, e o juízo possessório, basea- do na posse. Isso porque a posse é fenômeno fático-social digno de tutela, sendo totalmente autônomo e distin- to da propriedade. Um dos efeitos da posse é justamente a sua proteção através da tutela estatal. Portanto, havendo uma ação possessória em curso, não é cabível o ajuizamento de ação petitória ou a discussão a respeito da propriedade. Ademais, a vedação à exceção de domínio não deve ser compreendida como limitação aos direitos constitucionais de propriedade ou de ação, seja porque a propriedade deve obedecer à sua função social, seja porque o não debate sobre o domínio nas ações possessórias representa apenas uma condição suspensiva no exercício do direito de ação fundada na propriedade. A ação de imissão na posse, apesar do nome, não se baseia na posse, mas sim na propriedade, sen- do uma ação petitória. É a ação cabível para o proprietário obter a posse que nunca teve. Assim, havendo uma ação possessória em curso, caso seja ajuizada a ação de imissão na posse, esta deverá ser extinta sem resolução de mérito, ante a falta de pressuposto negativo de constituição e desenvolvimento válido do processo, qual seja, a ausência de ação possessória pendente sobre o bem como requisito para o manejo de ação petitória. STJ. 3ª Turma. REsp 1.909.196-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/06/2021 (Info 701). �Responsabilidade do clube mandante do jogo por danos causados a torcedores A entidade esportiva mandante do jogo responde pelos danos sofridos por torcedores, em decor- rência de atos violentos provocados por membros de torcida rival. STJ. 3ª Turma. REsp 1.924.527-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/06/2021 (Info 701). DIREITO CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 23 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Nos contratos de seguro de vida em grupo, a obrigação de prestar informações aos segurados recai sobre o estipulante No contrato de seguro de vida em grupo, cuja estipulação é feita em favor de terceiros, três são as partes interessadas: a) estipulante, responsável pela contratação com o segurador (ex: empresa ou associação); b) seguradora, que oferece a cobertura dos riscos especificados na apólice; c) o grupo segurado, usufrutuários dos benefícios, que assumem suas obrigações para com o estipulante (ex: trabalhadores ou associados). Uma pessoa está decidindo se irá ou não aderir a um seguro de vida em grupo oferecido pelo empregador (estipulante). De quem é o dever de informar previamente ao segurado a respeito das cláusulas limitativas/restritivas do contrato? Esse dever é da seguradora ou do estipulante? Estipulante. Nos contratos de seguro de vida em grupo, a obrigação de prestar informações aos segurados recai sobre o estipulante. No seguro de vida em grupo, o estipulante é o mandatário dos segurados, sendo por meio dele en- caminhadas as comunicações entre a seguradora e os consumidores aderentes. Nesse contexto, o dever de informação, na fase pré-contratual, é satisfeito durante as tratativas entre seguradora e estipulante, culminando com a celebração da apólice coletiva que estabelece as condições gerais e especiais e cláusulas limitativas e excludentes de riscos. Na fase de execução do contrato, o dever de informação, que deve ser prévio à adesão de cada em- pregado ou associado, cabe ao estipulante, único sujeito do contrato que tem vínculo anterior com os componentes do grupo segurável. A seguradora, na fase prévia à adesão individual, momento em que devem ser fornecidas as informações ao consumidor, sequer tem conhecimento da identi- dade dos interessados que irão aderir à apólice coletiva, cujos termos já foram negociados entre ela e o estipulante. A obrigação de prestar informações sobre os termos, condições gerais e cláusulas limitativas de direito estabelecidos no contrato de seguro de vida em grupo ao qual aderiu o segurado (consumi- dor) é, portanto, do estipulante, conforme estabelecido no inciso III, do art. 3º, da Resolução CNSP 107/2004, constituindo-se esse dever em pressuposto lógico da aceitação da proposta de adesão pelo interessado. STJ. 4ª Turma. REsp 1.850.961-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 15/06/2021 (Info 702). DIREITO CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 24 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Se a parte que recebeu as arras não cumpre a sua obrigação contratual, ela deverá devolver as arras mais o equivalente (é como se tivesse que de- volver o valor das arras em dobro) Da inexecução contratual imputável, única e exclusivamente, àquele que recebeu as arras, estas devem ser devolvidas mais o equivalente. Se a parte que recebeu as arras não cumprir sua obrigação contratual (arras confirmatórias) ou exercer seu direito de arrependimento (arras penitenciais), ela terá que pagar para a parte inocente o valor das arras mais o equivalente. Assim, a restituição somada ao “equivalente” ocorre tanto no caso de arras confirmatórias como nas arras penitenciais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.927.986-DF, Rel. Min. Nan- cy Andrighi, julgado em 22/06/2021 (Info 702). �O fato de a cobrança de taxa de ma- nutenção estar prevista no contrato- -padrão registrado no RI vincula os adquirentes somente à obrigação de pagar as taxas a partir da aquisição, não abrangendo os débitos do ante- rior proprietário A taxa de manutenção de loteamento urbano cobrada por associação de moradores, previs- ta no contrato-padrão registrado no Cartório de Imóveis, vincula os adquirentes somente à obrigação de pagar as taxas a partir da aqui- sição, não abrangendo os débitos do anterior proprietário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.941.005-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado 22/06/2021 (Info 702). � Se o credor de alimentos ingressou com execução pedindo a prisão civil, mas esta não pode ser realizada em virtude da pandemia da Covid-19, deve ser autorizada a expropriação de bens do devedor, mesmo sem a mudança do rito É possível a penhora de bens do devedor de alimentos, sem que haja a conversão do rito da prisão para o da constrição patrimonial, enquanto durar a impossibilidade da prisão civil em razão da pandemia do coronavírus. STJ. 3ª Turma. REsp 1.914.052-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/06/2021 (Info 702). DIREITOCIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 25 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �A inversão do ônus da prova prevista no art. 6º, VIII, do CDC é regra de instrução (e não regra de julgamento) A inversão do ônus da prova prevista no art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor é regra de instrução e não regra de julgamento, motivo pelo qual a decisão judicial que a determina deve ocorrer antes da etapa instrutória ou, quando proferida em momento posterior, há que se garantir à parte a quem foi imposto o ônus a oportunidade de apresentar suas provas, sob pena de absoluto cerceamento de defesa. STJ. 4ª Turma. REsp 1.286.273-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 08/06/2021 (Info 701). DIREITO DO CONSUMIDOR DIREITO EMPRESARIAL �O símbolo partidário pode ser registrado como marca O símbolo partidário pode ser registrado como marca para que se resguarde a exploração econômi- ca por agremiações políticas (associações civis ou partidos) do uso de marca de produtos/serviços, ainda que não exerçam precipuamente atividade empresarial. Para o STJ, é possível: a) o registro de símbolos políticos enquanto marcas junto ao INPI; b) a exploração econômica por agremiações políticas (associações civis ou partidos) do uso de mar- ca de produtos/serviços, ainda que não exerçam precipuamente atividade empresarial; e c) a coexistência de dupla proteção legal frente aos regramentos específicos de direito eleitoral e marcário. STJ. 4ª Turma. REsp 1.353.300-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/06/2021 (Info 702). JULGADOS EM DESTAQUE 26 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Termo inicial da contagem do prazo para pagamento dos créditos trabalhistas na recuperação judicial O termo inicial da contagem do prazo para pagamento dos credores trabalhistas é a data da conces- são da recuperação judicial, e não o término do período de suspensão. Durante a elaboração e a aprovação do plano de recuperação judicial, há uma liberdade para nego- ciar os prazos de pagamento dos credores. Sendo o plano homologado, tais prazos deverão ser res- peitados na fase de execução do plano. Vale ressaltar, contudo, que essa liberdade para negociar os prazos não é absoluta, sendo mitigada pela lei em certas situações, como forma de serem evitados abusos. Um dos limites à liberdade de negociar os prazos para pagamento é justamente no caso dos créditos trabalhistas. O art. 54 da Lei nº 11.101/2005 prevê prazos máximos para o pagamento dos créditos trabalhistas. Apesar do estabelecimento do prazo máximo para o pagamento dos créditos trabalhistas, a Lei nº 11.101/2005 não fixou o marco inicial para a contagem desses prazos. Vale ressaltar que o STJ não admite que o termo inicial desse prazo para pagamento seja o término do período de suspensão (stay period). O termo inicial para a contagem do prazo máximo para o pagamento dos credores trabalhistas deve ser a data da concessão da recuperação judicial. A concessão da recuperação judicial é verda- deira condição para o início do cumprimento das obrigações previstas no plano de soerguimento. O plano de recuperação judicial gera uma novação do crédito que apenas terá eficácia com a decisão que homologa o plano e concede a recuperação judicial. Não há lógica de obrigar o devedor em recuperação a realizar o cumprimento da obrigação novada antes de concluída a novação, com a aprovação do plano. STJ. 3ª Turma. REsp 1.924.164-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/06/2021 (Info 701). DIREITO EMPRESARIAL JULGADOS EM DESTAQUE 27 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Na execução de cédula de produto rural em formato cartular é necessária a junta- da do original do título de crédito, salvo se comprovado que o título não circulou A juntada da via original do título executivo extrajudicial é, em regra, requisito essencial à formação válida do processo de execução. Isso por dois motivos: • para se ter certeza da autenticidade da cártula apresentada; e • para se afastar a possibilidade de o título ter circulado e, com isso, o devedor ser obrigado a pagar duas vezes (para quem está cobrando agora e para uma nova pessoa no futuro que apresente o original do título). Se ficar comprovado que: - o título não circulou ou que, por sua natureza, não é hábil a circular; e - que não há dúvidas quanto à existência do título e do débito... ... nestes casos, ação de execução pode, excepcionalmente, ser instruída por cópia reprográfica do título executivo extrajudicial, sendo dispensada a apresentação do documento original. Por ser a cédula de produto rural título dotado de natureza cambial, tendo como um dos seus atributos a circularidade, mediante endosso (art. 10, I, da Lei nº 8.929/94), em regra, é necessária a apresentação do documento original para a execução da CPR. Não será necessária a apresentação do original da CPR em dois casos: a) se a emissão da CPR foi feita de forma escritural (eletrônica); ou b) se ficar comprovado que o título não circulou. STJ. 3ª Turma. REsp 1.915.736-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/06/2021 (Info 702). DIREITO EMPRESARIAL JULGADOS EM DESTAQUE 28 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Havendo impugnação pelos credores, é cabível a fixação de honorários advocatí- cios sucumbenciais em procedimento de homologação do plano de recuperação extrajudicial Ordinariamente, o procedimento judicial instaurado para homologar o plano de recuperação extra- judicial não possui interesses contrapostos que autorizem, ao seu final, a condenação ao pagamen- to de honorários advocatícios de sucumbência. Quando não impugnado, o pedido de homologação de plano de recuperação extrajudicial apresen- ta características análogas a de um procedimento de jurisdição voluntária, nos quais, não havendo vencedores ou vencidos (dada a ausência de litigiosidade), afigura-se despropositado o arbitramen- to de honorários sucumbenciais. Todavia, a apresentação de impugnação ao pedido homologatório por parte de credores é circunstância que confere litigiosidade ao procedimento, razão pela qual a regra de não cabimento da condenação em honorários deve ceder. E, nesse panorama, o fato de se tratar de pedido homologatório, por si só, não autoriza a conclusão de que é incabível o arbitramen- to de honorários advocatícios de sucumbência. Mesmo em procedimentos de jurisdição voluntária, a existência de litigiosidade excepciona a regra de não cabimento de condenação em honorários advocatícios. STJ. 3ª Turma. REsp 1.924.580-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/06/2021 (Info 702). ECA �A diferença etária mínima de 16 anos entre adotante e adotado, prevista no art. 42, § 3º do ECA, não é absoluta A regra que estabelece a diferença mínima de 16 (dezesseis) anos de idade entre adotante e adotan- do (art. 42, § 3º do ECA) pode, dada as peculiaridades do caso concreto, ser relativizada no interesse do adotando. Art. 42 (...) § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando. STJ. 4ª Turma. REsp 1.338.616-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/06/2021 (Info 701). DIREITO EMPRESARIAL JULGADOS EM DESTAQUE 29 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �O ajuizamento de um segundo pro- cesso de embargos à execução é fato gerador de novas custas judiciais, in- dependentemente da desistência nos primeiros antes de realizada a citação As custas judiciais têm natureza jurídica de taxa. Portanto, as custas são um tributo. As custas podem ser cobradas pelo serviço público efetivamente prestado ou colocado à disposição do contribuinte. Ao se ajuizar determinada demanda, dá-se início ao pro- cesso. O encerramento desse processo exige a prestação do serviço público judicial, ainda que não se analise o mérito da causa. Com o ajuizamento de novos embargos à exe-cução fiscal, novas custas judiciais devem ser recolhidas. Não é possível aproveitar as custas judiciais já recolhidas nos primeiros embargos à execução opostos. STJ. 2ª Turma. REsp 1.893.966-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgada em 08/06/2021 (Info 701). � Por força do art. 12 da Lei 13.340/2016, a extinção da execução em virtude da renegociação de dívida de cédula de crédito rural não impõe à parte executada o dever de arcar com as custas processuais e com os honorários advocatícios A extinção da execução em virtude da renego- ciação de dívida fundada em cédula de crédito rural não impõe à parte executada o dever de arcar com as custas processuais e os hono- rários advocatícios em favor dos patronos da parte exequente. STJ. 3ª Turma. REsp 1.930.865-TO, Rel. Min. Nan- cy Andrighi, julgado em 22/06/2021 (Info 702). �Na contestação, a parte ré formulou pedido reconvencional (reconvenção), mas denominou equivocadamente de pedido contraposto (que seria inad- missível, no caso); mesmo assim, esse pedido deverá ser analisado e julgado como pedido reconvencional A equivocada denominação do pedido recon- vencional como pedido contraposto não im- pede o regular processamento da pretensão formulada pelo réu contra o autor, desde que ela esteja bem delimitada na contestação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.940.016-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/06/2021 (Info 702). DIREITO PROCESSUAL CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 30 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �O prazo para cumprimento voluntário de sentença que determina obrigação de fazer também é computado em dias úteis O prazo de cumprimento da obrigação de fazer possui natureza processual, devendo ser contado em dias úteis. STJ. 2ª Turma. REsp 1.778.885-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 15/06/2021 (Info 702). DIREITO PENAL � Condenações transitadas em julgado e não utilizadas para reincidência somente podem ser consideradas como maus antecedentes, não se admitindo sua utiliza- ção para desvalorar a personalidade ou a conduta social do agente Condenações criminais transitadas em julgado, não consideradas para caracterizar a reincidência, somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes criminais, não se admitindo sua utilização para desabonar a personalidade ou a conduta social do agente. STJ. Plenário. REsp 1.794.854-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 23/06/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1077) (Info 702) �A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei 13.964/2019, retroage para alcançar os processos penais que já estavam em curso? A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei 13.964/2019, retroage para alcançar os processos penais que já estavam em curso? • NÃO. É o entendimento do STJ e da 1ª Turma do STF: A exigência de representação da vítima no crime de estelionato não retroage aos processos cuja denúncia já foi oferecida. STJ. 3ª Seção. HC 610201/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/03/2021 (Info 691). STF. 1ª Turma. HC 187341, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/10/2020. DIREITO PROCESSUAL CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês 31 � É possível haver homicídio qualificado praticado com dolo eventual? É possível haver homicídio qualificado praticado com dolo eventual? No caso das qualificadoras do motivo FÚTIL e/ou TORPE (art. 121, § 2º, I e II, do CP): SIM. Não há dúvidas quanto a isso. Trata-se da posição do STJ e do STF. O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte (dolo eventual), não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta. STJ. 6ª Turma. REsp 1601276/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/06/2017. No caso de qualificadoras de MEIO (art. 121, § 2º, III e IV, do CP): 1ª corrente: SIM O dolo eventual no crime de homicídio é compatível com as qualificadoras objetivas previstas no art. 121, § 2º, III e IV, do Código Penal. As referidas qualificadoras serão devidas quando constatado que o autor delas se utilizou dolosa- mente como meio ou como modo específico mais reprovável para agir e alcançar outro resultado, mesmo sendo previsível e tendo admitido o resultado morte. STJ. 5ª Turma. REsp 1.836.556-PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/06/2021 (Info 701). 2ª corrente: NÃO O dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art. 121, § 2º, IV (traição, emboscada dissimulação). Para que incida a qualificadora da surpresa é indispensável que fique provado que o agente teve a vontade de surpreender a vítima, impedindo ou dificultando que ela se defendesse. Ora, no caso do dolo eventual, o agente não tem essa intenção, considerando que não quer matar a vítima, mas apenas assume o risco de produzir esse resultado. Como o agente não deseja a produção do resultado, ele não direcionou sua vontade para causar surpresa à vítima. Logo, não pode responder por essa circunstância (surpresa). STF. 2ª Turma. HC 111442/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/8/2012 (Info 677). A qualificadora de natureza objetiva prevista no inciso III do § 2º do art. 121 do Código Penal não se compatibiliza com a figura do dolo eventual, pois enquanto a qualificadora sugere a ideia de pre- meditação, em que se exige do agente um empenho pessoal, por meio da utilização de meio hábil, como forma de garantia do sucesso da execução, tem-se que o agente que age movido pelo dolo eventual não atua de forma direcionada à obtenção de ofensa ao bem jurídico tutelado, embora, com a sua conduta, assuma o risco de produzi-la. STJ. 6ª Turma. EDcl no REsp 1848841/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 2/2/2021. DIREITO PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 32 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês • SIM. É a posição da 2ª Turma do STF: A alteração promovida pela Lei nº 13.964/2019, que introduziu o § 5º ao art. 171 do Código Penal, ao condicionar o exercício da pretensão punitiva do Estado à representação da pessoa ofendida, deve ser aplicada de forma retroativa a abranger tanto as ações penais não iniciadas quanto as ações penais em curso até o trânsito em julgado. STF. 2ª Turma. HC 180421 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/6/2021 (Info 1023). DIREITO PROCESSUAL PENAL �Ainda que o recebimento da denúncia ocorra antes de 2008 e antes de o réu ser diplomado como Deputado Estadual, o Tribunal deve apreciar a possibilidade de rejeitar a denúncia ou de julgar improcedente a acusação, conforme o art. 6º da Lei 8.038/90 Mesmo no caso de recebimento da denúncia antes das reformas ocorridas no ano de 2008 e antes de o réu ser diplomado como deputado estadual, apresentada a defesa escrita, caberá ao Tribunal de origem apreciar a possibilidade de absolvição sumária ou reconsideração da decisão do juiz de primeiro grau que recebeu a denúncia, na forma do art. 6º da Lei nº 8.038/90. STJ. 5ª Turma. AREsp 1.492.099-PA, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 15/06/2021 (Info 701). DIREITO PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 33 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �A Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 22/11/2018, que determina o cômputo da pena em dobro, deve ser aplicada a todo o período cum- prido pelo condenado no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho (IPPSC) O Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho (IPPSC) é um estabelecimento penal voltado ao cumprimen- to de pena privativa de liberdade com o enfoque em pessoas do gênero masculino. Está localizado no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O IPPSC apresentou elevados índices de mortes de presos decorrentes da superlotação e das más condições sanitárias do local. Por essa razão,a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) expediu medidas provisórias em face do Brasil, sob o fundamento de que houve violação à integridade pessoal dos presos, nos termos da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH). Em uma dessas Resoluções (de 22/11/2018), a Corte IDH determinou que deveria ser computado em dobro cada dia de privação de liberdade na unidade prisional IPPSC, exceto para os acusados ou condenados por: a) crimes contra a vida; b) crimes contra a integridade física; ou c) crimes sexuais. O cômputo da pena em dobro deve ser sobre todo o período de pena cumprido pelo condenado no IPPSC ou deverá ficar limitado ao período posterior ao conhecimento formal do Brasil acerca da Resolução? O cômputo em dobro atinge a totalidade da pena cumprida. Logo, não é possível modular os efeitos do cômputo da pena em dobro, tendo em vista a situação degradante do estabelecimento prisional, inspecionado e alvo de inúmeras Resoluções da Corte IDH. Não se mostra possível que a determinação de cômputo em dobro tenha seus efeitos modulados como se o preso tivesse cumprido parte da pena em condições aceitáveis até a notificação e, a par- tir de então, tal estado de fato tivesse se modificado. Em realidade, o substrato fático que deu ori- gem ao reconhecimento da situação degradante já perdurara anteriormente, até para que pudesse ser objeto de reconhecimento, devendo, por tal razão, incidir sobre todo o período de cumprimento da pena. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 136.961-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/06/2021, DJe 21/06/2021 (Info 701). DIREITO PROCESSUAL PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 34 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Não é possível novo pedido de com- pensação de débito objeto de pedido anterior não homologado Não é possível que o contribuinte reitere de- claração de compensação, com base em débi- to que já foi objeto de compensação anterior não homologada, ainda que a compensação se encontre pendente. Fundamento para essa conclusão: O art. 74, § 3º da Lei nº 9.430/96, que afirma que não poderá ser objeto de compensação “o débito que já tenha sido objeto de compen- sação não homologada, ainda que a com- pensação se encontre pendente de decisão definitiva na esfera administrativa”. STJ. 2ª Turma. REsp 1.570.571-PB, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/06/2021 (Info 701). � Fazendas Públicas estadual ou munici- pal podem fazer o protesto de CDA mes- mo que não exista lei local autorizando A validade do protesto de CDA emitida por Fa- zenda Pública Estadual ou Fazenda Municipal não está condicionada à previa existência de lei local que autorize a adoção dessa modali- dade de cobrança extrajudicial. STJ. 1ª Turma. REsp 1.895.557-SP, Rel. Min. Gur- gel de Faria, julgado em 22/06/2021 (Info 702). � É legal a cobrança de juros de mora (com desconto de 45%) sobre as mul- tas de mora e de ofício perdoadas no pagamento à vista do débito fiscal de acordo com o art. 1º, § 3º, I, da Lei 11.941/2009 A redução de 45% dos juros de mora previstos no art. 1º, § 3º, da Lei nº 11.941/2009 para pa- gamento ou parcelamento de créditos tribu- tários incide sobre a própria rubrica (juros de mora) em que se decompõe o crédito original, e não sobre a soma das rubricas “principal + multa de mora”. Exemplo: João devia R$ 200 mil de tributos federais; as multas de mora e de ofício cor- respondiam a R$ 15 mil; João decidiu pagar à vista o débito, aderindo ao programa da Lei nº 11.941/2009; João não precisará pagar os R$ 15 mil referentes às multas; no entanto, terá que pagar os juros de mora que irão incidir sobre R$ 215 mil (200 mil do principal + 15 mil das multas + outras verbas que não inte- ressam para a explicação); a vantagem é que esses juros terão um desconto de 45%. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.404.931-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 23/06/2021 (Info 702). DIREITO TRIBUTÁRIO JULGADOS EM DESTAQUE 35 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � É inconstitucional norma estadual que conceda incentivo fiscal de ICMS quando todas as etapas de industria- lização sejam realizadas em estabele- cimento localizado no próprio Estado É inconstitucional a sistemática de incentivo fiscal de ICMS às indústrias paraenses de produtos industrializados derivados do trigo, prevista no Anexo I do Decreto 4.676/2001 do estado do Pará (Regulamento do ICMS). STF. Plenário. ADI 6479/PA, Rel. Min. Carmen Lúcia, julgado em 18/6/2021 (Info 1022). � ISS integra a base de cálculo da CPRB A receita bruta, para fins de determinação da base de cálculo da CPRB, compreende os tributos sobre ela incidentes. Tese fixada pelo STF: É constitucional a inclusão do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza–ISS na base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta – CPRB. STF. Plenário. RE 1285845/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 1135) (Info 1022). �O concurso de preferência entre pes- soas jurídicas de direito público pre- visto no parágrafo único do art. 187 do CTN e o parágrafo único do art. 29 da LEF não é compatível com a CF/88 O concurso de preferência entre os entes federados na cobrança judicial dos créditos tributários e não tributários, previsto no pará- grafo único do art. 187 da Lei nº 5.172/66 (Có- digo Tributário Nacional) e no parágrafo único do art. 29 da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execuções Fiscais), não foi recepcionado pela Constitui- ção Federal de 1988. A Súmula 563 do STF foi cancelada. O entendimento contido na Súmula 497 do STJ está superado. STF. Plenário. ADPF 357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2021 (Info 1023). DIREITO TRIBUTÁRIO JULGADOS EM DESTAQUE 36 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Benefícios previdenciários recebidos indevidamente podem ser inscritos em dívida ativa? (I) As inscrições em dívida ativa dos créditos referentes a benefícios previdenciários ou assistenciais pagos indevidamente ou além do devido constituídos por processos adminis- trativos que tenham sido iniciados antes da vigência da Medida Provisória nº 780, de 2017, convertida na Lei nº 13.494/2017 (antes de 22/05/2017) são nulas, devendo a constitui- ção desses créditos ser reiniciada através de notificações/intimações administrativas a fim de permitir-se o contraditório administrativo e a ampla defesa aos devedores e, ao final, a inscrição em dívida ativa, obedecendo-se os prazos prescricionais aplicáveis; e (II) As inscrições em dívida ativa dos créditos referentes a benefícios previdenciários ou assistenciais pagos indevidamente ou além do devido contra os terceiros beneficiados que sa- biam ou deveriam saber da origem dos benefí- cios pagos indevidamente em razão de fraude, dolo ou coação, constituídos por processos administrativos que tenham sido iniciados an- tes da vigência da Medida Provisória nº 871, de 2019, convertida na Lei nº 13.846/2019 (antes de 18/01/2019) são nulas, devendo a constitui- ção desses créditos ser reiniciada através de notificações/intimações administrativas a fim de permitir-se o contraditório administrativo e a ampla defesa aos devedores e, ao final, a inscrição em dívida ativa, obedecendo-se os prazos prescricionais aplicáveis. STJ. 1ª Seção. REsp 1.860.018-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/06/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1064) (Info 702). � Legitimidade ativa de pensionistas e sucessores para propor ação revisio- nal da aposentadoria do de cujus (I) O disposto no art. 112 da Lei nº 8.213/91, segundo o qual “o valor não recebido em vida pelo segurado só será pago aos seus depen- dentes habilitados à pensão por morte ou, na falta deles, aos seus sucessores na forma da lei civil, independentemente de inventário ou arrolamento”, é aplicável aos âmbitos
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