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Setembro 2023 DIREITO CONSTITUCIONAL Julgados em destaque 1 � É inconstitucional dispositivo de CE que preveja que, estando vago o cargo de Vice-Governador, será realizada eleição avulsa, na própria ALE, para a escolha do novo Vice-Governador É inconstitucional norma de Constituição estadual que determina, em caso de vacância, eleição avulsa para o cargo de vice-governador pela Assembleia Legislativa. Esse dispositivo viola o pressuposto da dupla vacância, previsto para o modelo federal e cuja observância pelos estados- membros é obrigatória. A Constituição Federal de 1988 prevê que a eleição de governadores e vice-governadores deve ocorrer de forma simultânea, sendo a do vice decorrência dos votos recebidos pelo titular. Não há que se falar em eleição avulsa do substituto sem o titular. A previsão de eleição isolada de um ou de outro, quando ocorrer vacância, subverte o modelo cons- titucional que posicionou à investidura no cargo de vice enquanto consequência da eleição do chefe do Poder Executivo, na qualidade de seu substituto, sucessor e auxiliar. Nesse contexto, para via- bilizar a continuidade do projeto político escolhido pela maioria do eleitorado, apenas em caso de dupla vacância é que se cogitam novas eleições, sejam elas diretas ou indiretas, conforme o período do mandato em que ocorrer a última vaga (art. 81, da CF/88). STF. Plenário. ADI 999/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/6/2023 (Info 1100). JULGADOS EM DESTAQUE 2 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Os honorários advocatícios são devidos à Defensoria Pública mesmo quando ela atua contra a pessoa jurídica de direito público à qual pertença Em razão da autonomia e da relevância institucional das Defensorias Públicas, é constitucional o recebimento de honorários sucumbenciais quando estas representarem o litigante vencedor em demanda ajuizada contra qualquer ente público, ainda que o litígio se dê contra o ente federativo que integram. As reformas trazidas pelas EC 45/2004, 74/2013 e 80/2014 atribuíram autonomia funcional, admi- nistrativa e financeira às Defensorias dos estados e da União. Portanto, no contexto atual, as De- fensorias Públicas são consideradas órgãos constitucionais independentes, sem subordinação ao Poder Executivo. Como deixaram de ser vistas como órgãos auxiliares do governo, que integram e vinculam-se à estrutura administrativa do estado-membro, encontra-se superado o argumento de violação do instituto da confusão (art. 381 do Código Civil). Vale ressaltar, contudo, que é vedado o rateio, entre os membros da Defensoria Pública, do valor rece- bido a título de verbas sucumbenciais decorrentes de sua atuação judicial. Essa quantia deve ser des- tinada, exclusivamente, para a estruturação das unidades dessa instituição, com vistas ao incremento da qualidade do atendimento à população carente e à garantia da efetividade do acesso à Justiça. Teses fixadas: 1. É devido o pagamento de honorários sucumbenciais à Defensoria Pública, quando representa parte vencedora em demanda ajuizada contra qualquer ente público, inclusive aquele que integra; 2. O valor recebido a título de honorários sucumbenciais deve ser destinado, exclusivamente, ao aparelhamento das Defensorias Públicas, vedado o seu rateio entre os membros da instituição. STF. Plenário. RE 1.140.005/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 26/6/2023 (Repercussão Geral – Tema 1002) (Info 1100). �A União deve suplementar recursos do Fundef quando o valor repassado a par- tir do valor mínimo anual por aluno esteja em desacordo com a média nacional; essa suplementação deve observar a sistemática dos precatórios 1. A complementação ao FUNDEF realizada a partir do valor mínimo anual por aluno fixada em desacordo com a média nacional impõe à União o dever de suplementação de recursos. 2. Sendo tal obrigação imposta por título executivo judicial, aplica-se a sistemática dos precatórios, nos termos do art. 100 da Constituição Federal. STF. Plenário. RE 635.347/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 01/7/2023 (Repercussão Geral – Tema 416) (Info 1101). DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês 3 �Norma estadual não pode autorizar que bombeiros voluntários realizem as atri- buições do corpo de bombeiros militar É inconstitucional norma estadual que dispõe de forma contrária à legislação federal vigente sobre esses assuntos e que viabiliza a delegação de atividades tipicamente estatais a organizações voluntárias de natureza privada. Essa previsão invade a competência privativa da União para dispor sobre normas gerais de organização dos corpos de bombeiros militares e defesa civil (art. 22, XXI e XXVIII c/c o art. 144, V e § 5º, da CF/88). A legislação federal prevê tão somente a pos- sibilidade de o município firmar convênio com a respectiva corporação militar estadual, caso não conte com unidade de corpo de bombeiros militar instalada (art. 3º da Lei nº 13.425/2017). Ademais, o art. 5º da Lei nº 10.029/2000 impede que os corpos de bombeiros voluntários cria- dos pelos estados realizem atividades inseri- das no poder de polícia. O STF já decidiu ser vedado aos estados, a partir da sua competência legislativa suple- mentar, inovar ou divergir de disposições constantes da lei federal. Ademais, as ativida- des de fiscalização e punição das profissões regulamentadas — tradicionalmente classi- ficadas pela doutrina como poder de polícia — não são passíveis de delegação a entidades particulares, de modo que devem ser neces- sariamente desempenhadas, por sua nature- za estatal, pela própria Administração, através de seus agentes públicos. Desse modo, poderia ser delegada aos corpos de bombeiros voluntários apenas a execução de atos materiais, mas não as atividades fisca- lizatórias e de imposição de sanções. STF. Plenário. ADI 5.354/SC, Rel. Min. Dias Tof- foli, julgado em 26/6/2023 (Info 1100). � Parâmetros para nortear as decisões judiciais a respeito de políticas públi- cas voltadas à realização de direitos fundamentais 1. A intervenção do Poder Judiciário em políti- cas públicas voltadas à realização de direitos fundamentais, em caso de ausência ou defi- ciência grave do serviço, não viola o princípio da separação dos Poderes; 2. A decisão judicial, como regra, em lugar de determinar medidas pontuais, deve apontar as finalidades a serem alcançadas e determinar à Administração Pública que apresente um plano e/ou os meios adequados para alcançar o resultado; 3. No caso de serviços de saúde, o déficit de profissionais pode ser suprido por concurso público ou, por exemplo, pelo remanejamento de recursos humanos e pela contratação de organizações sociais (OS) e organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP). STF. Plenário. RE 684.612/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Min. Rober- to Barroso, julgado em 01/7/2023 (Repercus- são Geral – Tema 698) (Info 1101). � Lei estadual não pode estabelecer nor- mas de proteção aos consumidores fi- liados às associações de socorro mútuo É inconstitucional lei estadual que prevê nor- mas de proteção aos consumidores filiados às associações de socorro mútuo. Essa lei invade a competência privativa da União para legislar sobre direito civil, política de seguros e sistemas de captação de pou- pança popular (art. 22, I, VII e XIX, CF/88). STF. Plenário. ADI 7.099/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 15/8/2023 (Info 1103). DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE 4 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Em relação ao setor público, o piso de enfermagem deve ser pago por Estados e Municípios na medida de repasses federais À luz do princípio federativo (arts. 1º, “caput”; 18; 25; 30; e 60, § 4º, I, da CF/88), o piso salarial nacional da enfermagem deve ser pago pelos Estados, pelo Distrito Federale pelos Municípios na medida dos repasses dos recursos federais. Mesmo após a edição da EC 127/2022 e da Lei 14.581/2023, previu-se uma forma apenas parcial e temporária de a União transferir os recursos financeiros para custear a implementação do piso sala- rial nacional aos entes subnacionais, razão por que inexiste a indicação de uma fonte segura capaz de arcar com os encargos financeiros impostos aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para além do corrente ano de 2023. Nesse contexto, o pagamento a ser efetuado pelos entes subnacionais e seus órgãos da Administra- ção Pública indireta está condicionado ao aporte de recursos pela União (art. 198, §§ 14 e 15). Even- tual insuficiência dessa complementação financeira, portanto, impõe à União providenciar crédito suplementar. Se inexistir fonte que possa fazer frente aos custos exigidos, não será demandado dos referidos entes o cumprimento do piso da Lei Nº 14.434/2022. No caso de carga horária reduzida, o piso salarial deve ser proporcional às horas trabalhadas. O piso corresponde ao valor mínimo a ser pago em função da jornada de trabalho completa (art. 7º, XIII), de modo que a remuneração pode ser reduzida proporcionalmente se a jornada de trabalho for inferior, à luz do senso comum e da ideia mínima de justiça. Em relação aos profissionais celetistas em geral, a negociação coletiva entre as partes é exigência procedimental imprescindível à implementação do piso salarial nacional. Nesse caso, prevalecerá o negociado sobre o legislado. Esse ajuste entre os sindicatos laborais e patronais viabiliza a adequação do piso salarial à realidade dos diferentes hospitais e entidades de saúde pelo País e atenua o risco de externalidades negativas, especialmente demissões em massa e prejuízo aos serviços de saúde. Não havendo acordo, incidirá a Lei nº 14.434/2022, que tem a sua eficácia diferida pelo prazo de 60 dias (art. 616, § 3º, da CLT, por aplicação analógica), contados da data de publicação da ata deste julgamento, inclusive se já houver convenção ou acordo coletivo em vigor sobre o assunto. Com base nesses entendimentos, o Plenário do STF, por maioria, referendou a decisão de 15.5.2023, que revogou parcialmente a medida cautelar deferida em 4.9.2022, acrescida de complementação, a fim de que sejam restabelecidos os efeitos da Lei nº 14.434/2022, à exceção da expressão “acordos, contratos e convenções coletivas” (art. 2º, § 2º), com a implementação do piso salarial nacional por ela instituído nos seguintes moldes: DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE 5 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês (i) em relação aos servidores públicos civis da União, autarquias e fundações públicas federais (Lei nº 7.498/86, art. 15-B), a implementação do piso salarial nacional deve ocorrer na forma prevista na Lei nº 14.434/2022; (ii) em relação aos servidores públicos dos estados, Distrito Federal, municípios e de suas autarquias e fundações (Lei nº 7.498/86, art. 15-C), bem como aos profissionais contratados por entidades pri- vadas que atendam, no mínimo, 60% de seus pacientes pelo SUS (Lei nº 7.498/86, art. 15-A): (ii.a) a implementação da diferença remuneratória resultante do piso salarial nacional deve ocorrer na extensão do quanto disponibilizado, a título de “assistência financeira complementar”, pelo orça- mento da União (art. 198, §§ 14 e 15, com redação dada pela EC 127/2022); (ii.b) eventual insuficiência da “assistência financeira complementar” mencionada no item “ii.a” instaura o dever da União de providenciar crédito suplementar, cuja fonte de abertura serão re- cursos provenientes do cancelamento, total ou parcial, de dotações tais como aquelas destinadas ao pagamento de emendas parlamentares individuais ao projeto de lei orçamentária destinadas a ações e serviços públicos de saúde (art. 166, § 9º) ou direcionadas às demais emendas parlamentares (inclusive de Relator-Geral do Orçamento). Não sendo tomada tal providência, não será exigível o pagamento por parte dos entes referidos no item “ii”; e (ii.c) uma vez disponibilizados os recursos financeiros suficientes, o pagamento do piso salarial de- verá ser proporcional nos casos de carga horária inferior a 8 (oito) horas por dia ou 44 (quarenta e quatro) horas semanais. (iii) Além disso, pelo voto médio, o Plenário também referendou o seguinte item “i” da decisão, nestes termos: em relação aos profissionais celetistas em geral (Lei nº 7.498/86, art. 15-A), a implementação do piso salarial nacional deverá ser precedida de negociação coletiva entre as partes, como exigência procedimental imprescindível, levando em conta a preocupação com demissões em massa ou prejuí- zos para os serviços de saúde. Não havendo acordo, incidirá a Lei nº 14.434/2022, desde que decorri- do o prazo de 60 (sessenta) dias, contados da data de publicação da ata deste julgamento. STF. Plenário. ADI 7.222 MC-Ref-segundo/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, redatores do acórdão Min. Roberto Barroso e Gilmar Mendes (voto conjunto), julgado em 01/7/2023 (Info 1101). � É inconstitucional norma estadual que prevê adicional de auxílio-aperfeiçoa- mento profissional aos magistrados É inconstitucional — por violar o art. 39, § 4º, da CF/88, haja vista o caráter de indevido acréscimo remuneratório — norma estadual que prevê adicional de “auxílio-aperfeiçoamento profissional” aos seus magistrados. STF. Plenário. ADI 5.407/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 01/07/2023 (Info 1102). DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE 6 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � É constitucional lei estadual que estabelece critérios para a construção e a ampliação de presídios É constitucional lei estadual que fixa distância mínima entre presídios e contingente máximo da população carcerária. Essa lei está de acordo com o direito social à segurança (art. 6º, da CF/88), com o direito de proprie- dade (art. 5º, “caput” e XXII) e com o princípio da proporcionalidade. Além disso, não viola a compe- tência da União para legislar sobre direito civil (art. 22, I). Isso porque a ampliação ou construção de unidades prisionais constitui matéria de direito penitenciário, cuja competência legislativa é concor- rente (art. 24, I). Caso concreto: lei do Estado do Espírito Santo (Lei estadual 6.191/2000) proibiu a construção de presídio dentro do raio de 20km quilômetros de outros já existentes e a ampliação dos edifícios prisionais com capacidade para 500 detentos. O STF julgou constitucional essa norma, que objetiva garantir a dignidade dos presos e a segurança tanto deles quanto dos habitantes do entorno das unidades prisionais. Ademais, em se tratando de bem público, o direito de propriedade encontra limites, seja na função social, seja no interesse coletivo, que impõe balizas ao administrador para o uso, gozo e disposição da propriedade. Na espécie, a lei capixaba não restringe o investimento do estado em segurança pública, mas ape- nas estabelece parâmetros a serem observados pela Administração Pública estadual, com a imposi- ção de restrições adequadas, necessárias e proporcionais. Isso porque elas consideram os riscos da superlotação carcerária para a integridade física e mental dos presidiários, bem assim a dificuldade de o Estado dispor de outras medidas administrativas com o mesmo potencial de eficácia, levando- -o a utilizar meio menos gravoso de controle da população carcerária e de garantia do bem-estar dos detentos e da segurança da população local. STF. Plenário. ADI 2.402/ES, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 26/6/2023 (Info 1101). DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE 7 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � É constitucional norma estadual que institui programa de jornada extra de segurança (PJES) com adesão não obri- gatória e cujo serviço é prestado em período pré-determinado e com con- traprestaçãopecuniária pré-definida Não viola o art. 7º, XVI, da CF, o estabeleci- mento de programa de jornada extra de se- gurança com prestação de serviço em período pré-determinado e com contraprestação pecuniária em valor previamente estipulado, desde que a adesão seja voluntária. No caso concreto, a aceitação ao programa era facultativa, sem produzir efeitos na vida funcional do servidor público. Os plantões previstos pelas normas impugnadas não configuram serviços extraordinários, razão pela qual não incide o adicional de 50% sobre a hora normal trabalhada (art. 7º, XVI c/c o art. 39, § 3º). Portanto, os policiais, voluntaria- mente, desempenham atividades excedentes às suas atribuições funcionais, sob regime especial de trabalho, e recebem valor já esti- pulado, pago a título de prêmio ou incentivo. O referido programa concilia o fortalecimento das ações de defesa e segurança com a ne- cessária contenção de gastos com pessoal e o compromisso com a responsabilidade fiscal. STF. Plenário. ADI 7.356/PE, Rel. Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 26/6/2023 (Info 1101). �O Estatuto Geral das Guardas Mu- nicipais (Lei Federal 13.022/2014) é constitucional É constitucional a Lei federal nº 13.022/2014, que dispõe sobre o Esta- tuto Geral das Guardas Municipais. Essa lei não viola a autonomia dos municípios (art. 144, § 8º) e se limita a estabelecer crité- rios padronizados para a instituição, organiza- ção e exercício das guardas municipais. A lei constitui norma geral, de competência da União, que, além de tratar da organização das guardas municipais em todos os municípios do País, reconhece a prerrogativa dos entes municipais para criá-las ou não, por lei, e para definir sua estrutura e funcionamento. As guardas municipais podem exercer ativi- dade fiscalizatória de trânsito e, consequen- temente, a aplicação de multas previstas em lei, por significar fiel manifestação do poder de polícia. Ademais, revela-se legítimo o de- sempenho da atividade de segurança pública pelas guardas municipais. STF. Plenário. ADI 5.780/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 01/7/2023 (Info 1101). DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que veda a prestação de serviços de arrecadação e movimentação de recursos financeiros por institui- ções financeiras privadas constituídas no País sob controle estrangeiro É inconstitucional norma de Constituição estadual que impede instituições financeiras privadas constituídas no País sob controle estrangeiro de prestarem serviços financeiros ao Estado. Essa norma ofende os princípios da isonomia (art. 5º, da CF/88), da livre iniciativa e da livre concorrência (art. 170, caput e IV). Caso concreto: o STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “em que brasileiros detenham mais de 50% (cinquenta por cento) do capital com direito a voto”, constante do caput e dos §§ 1º e 2º do art. 171 da Constituição Estadual do Mato Grosso: Art. 171. A arrecadação de tributos e demais receitas, dos órgãos da Administração Pública direta e indireta, será efetuada em instituições financeiras públicas e nas privadas em que brasileiros dete- nham mais de 50% (cinquenta por cento) do capital com direito a voto. STF. Plenário. ADI 3.565/MT, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 01/7/2023 (Info 1101). � STF determinou ao Poder Executivo a inclusão do monitoramento e da avaliação dos indicadores referentes aos feminicídios e às mortes causadas por agentes de segurança pública no Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social A ausência de disciplina objetiva e expressa dos objetivos, metas, programas e indicadores para acompanhamento de feminicídios e mortes decorrentes da intervenção de agentes de segurança pública no Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social II (PNSP II - Decreto 10.822/2021) configura retrocesso social em matéria de direitos fundamentais e proteção deficiente dos direitos à vida e à segurança pública (arts. 5º, caput; e 144, CF/88). STF. Plenário. ADI 7.013/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 01/07/2023 (Info 1102). � É inconstitucional lei estadual que veda a participação concomitante de mais de um auditor substituto no pleno do Tribunal de Contas do Estado É inconstitucional norma estadual que veda a participação concomitante de mais de um auditor substituto no Órgão Pleno do Tribunal de Contas do Estado. Esse dispositivo viola violar os arts. 73, § 4º e 75, caput, da CF/88. Confira o dispositivo declarado inconstitucional (art. 76-A, § 3º, da LC 63/90-RJ): § 3º No órgão pleno do Tribunal, não poderá participar concomitantemente mais de um auditor substituto, exceto no caso do auditor substituto compor definitivamente o corpo deliberativo. STF. Plenário. ADI 5698/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/8/2023 (Info 1103). DIREITO CONSTITUCIONAL 8 JULGADOS EM DESTAQUE 9 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � STF determinou que fossem adotadas providências para evitar e reparar falhas e omissões na proteção e garantia dos direitos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (PIIRC) A União deve: • Tomar medidas para proteger territórios de povos indígenas isolados e de recente contato, reno- vando portarias de restrição antes de expirarem e só cessando após demarcação ou comprovação de ausência de indígenas isolados. • Apresentar um Plano de Ação detalhando cronogramas de estudos, dados sobre servidores, pa- trimônio, contratos e condições das unidades, status e orçamento das Bases de Proteção Etnoam- bientais (BAPEs), progresso da demarcação da terra Kawahiva do Rio Pardo e ações de proteção e prevenção contra invasões. • Emitir Portarias de Restrição para territórios não demarcados em 60 dias, sob pena de, em não se cumprindo o prazo, que o STF determine a Restrição de Uso por decisão judicial dessas áreas. O CNJ deve criar um Grupo de Trabalho para monitorar ações judiciais relativas aos direitos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato. Deve ser reconhecida pelas autoridades a forma isolada de viver como declaração da livre autode- terminação dos povos indígenas isolados, sendo o ato do isolamento considerado suficiente para fins de consulta, nos termos da Convenção n. 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas e da Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas, normas internacionais de direitos humanos, internalizadas no ordenamento jurídico brasileiro. STF. Plenário. ADPF 991 MC-Ref/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 08/08/2023 (Info 1102). DIREITO AMBIENTAL �A Súmula 652/STJ também pode ser aplicada para a tutela do patrimônio cultural As razões que fundamentam a Súmula 652/STJ (“A responsabilidade civil da Administração Pública por danos ao meio ambiente, decorrente de sua omissão no dever de fiscalização, é de caráter soli- dário, mas de execução subsidiária”) são aplicáveis à tutela do patrimônio cultural. STJ. 2ª Turma. REsp 1.991.456-SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 8/8/2023 (Info 783). DIREITO CONSTITUCIONAL JULGADOS EM DESTAQUE 10 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Não viola a cláusula de reserva de plenário (art. 97 da CF/88) acórdão que, baseado nas peculiaridades do caso concreto, afasta a aplicabilidade retroativa do art. 15 do Código Florestal O art. 15 do novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) autorizou que a APP fosse considerada para cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel. Essa previsão representou uma redução de prote- ção ambiental. Isso porque a legislação revogada, em regra, não admitia o computo das áreas de pre- servação permanente no cálculo da reserva legal, que deviam ser somadas, salvo expressas exceções. O STF declaroua constitucionalidade do art. 15 da Lei nº 12.651/2012 tendo em vista que ele está de acordo com o “desenvolvimento nacional” (art. 3º, II, da CF/88) e o “direito de propriedade” (art. 5º, XXII, da CF/88) (STF. Plenário. ADC 42, Rel. Luiz Fux, julgado em 28/02/2018). Com isso, a jurisprudência se firmou no sentido de que o art. 15 do Código Florestal pode ser aplica- do para situações consolidadas antes de sua vigência. Vale ressaltar, contudo, que, no caso concreto, o título judicial objeto da controvérsia derivou de transação penal formalizada e homologada no Juizado Especial Criminal. Essa circunstância revela- -se distinta e afasta o alegado esvaziamento do conteúdo normativo do art. 15 do Código Florestal, em especial, por não se encontrar abarcada pelos precedentes do STF que autorizam a aplicação imediata do novo Código Florestal. Nesse contexto, a homologação da transação penal configura uma cobertura do pronunciamento judicial sobre a matéria, apta a impedir a compreensão da retroatividade do dispositivo legal, com apoio no princípio tempus regit actum. STF. 2ª Turma. ARE 1.287.076 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 20/6/2023 (Info 1100). � É constitucional lei estadual que proíbe a atividade de pesca de arrasto na faixa marítima da zona costeira de seu território É constitucional — uma vez observadas as regras do sistema de repartição competências e a impor- tância do princípio do desenvolvimento sustentável como justo equilíbrio entre a atividade econô- mica e a proteção do meio ambiente — norma estadual que proíbe a atividade de pesca exercida mediante toda e qualquer rede de arrasto tracionada por embarcações motorizadas na faixa maríti- ma da zona costeira de seu território. STF. Plenário. ADI 6.218/RS, Rel. Min. Nunes Marques, redatora do acórdão Min. Rosa Weber, julga- do em 01/07/2023 (Info 1102). DIREITO AMBIENTAL JULGADOS EM DESTAQUE 11 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � É possível o uso da colaboração premiada em ação de improbidade administra- tiva ajuizada pelo Ministério Público se a pessoa jurídica interessada participar como interveniente e se forem observadas as diretrizes fixadas pelo STF É constitucional a utilização da colaboração premiada, nos termos da Lei 12.850/2013, no âmbito civil, em ação civil pública por ato de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público, observando-se as seguintes diretrizes: 1) Realizado o acordo de colaboração premiada, serão remetidos ao juiz, para análise, o respectivo termo, as declarações do colaborador e cópia da investigação, devendo o juiz ouvir sigilosamente o colaborador, acompanhado de seu defensor, oportunidade em que analisará os seguintes aspectos na homologação: regularidade, legalidade e voluntariedade da manifestação de vontade, especial- mente nos casos em que o colaborador está ou esteve sob efeito de medidas cautelares, nos termos dos §§ 6º e 7º do artigo 4º da referida Lei 12.850/2013; 2) As declarações do agente colaborador, desacompanhadas de outros elementos de prova, são insuficientes para o início da ação civil por ato de improbidade; 3) A obrigação de ressarcimento do dano causado ao erário pelo agente colaborador deve ser inte- gral, não podendo ser objeto de transação ou acordo, sendo válida a negociação em torno do modo e das condições para a indenização; 4) O acordo de colaboração deve ser celebrado pelo Ministério Público, com a interveniência da pes- soa jurídica interessada e devidamente homologado pela autoridade judicial; 5) Os acordos já firmados somente pelo Ministério Público ficam preservados até a data deste julga- mento, desde que haja previsão de total ressarcimento do dano, tenham sido devidamente homolo- gados em Juízo e regularmente cumpridos pelo beneficiado. STF. Plenário. ARE 1.175.650/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 01/7/2023 (Repercussão Geral – Tema 1043) (Info 1101). �O Adicional de Gestão Educacional não pode ser incluído na base de cálculo da VPNI O Adicional de Gestão Educacional, instituído pela Lei nº 9.640/98, para o servidor investido em cargo de direção ou função gratificada das Instituições Federais de Ensino, não pode ser incluído na base de cálculo da Vantagem Pessoal Nominalmente Identificável - VPNI, sob pena de bis in idem. STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 2.233.221-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 19/6/2023 (Info 781). DIREITO ADMINISTRATIVO JULGADOS EM DESTAQUE 12 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Lei municipal pode proibir a adminis- tração pública de realizar contratos com parentes até o terceiro grau de agentes públicos eletivos ou em car- gos de comissão É constitucional o ato normativo municipal, editado no exercício de competência legislati- va suplementar, que proíba a participação em licitação ou a contratação: a) de agentes eletivos; b) de ocupantes de cargo em comissão ou função de confiança; c) de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, de qualquer destes; e d) dos demais servidores públicos municipais. Essa lei não viola o sistema de repartição de competências e encontra-se em harmonia com a vedação ao nepotismo. Vale ressaltar, contudo, que esse impedimento não se aplica às pessoas ligadas — por matrimônio ou pa- rentesco, afim ou consanguíneo, até o terceiro grau, inclusive, ou por adoção — a servidores municipais não ocupantes de cargo em comis- são ou função de confiança, sob pena de in- fringência ao princípio da proporcionalidade. STF. Plenário. RE 910.552/MG, Rel. Min. Cár- men Lúcia, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 01/7/2023 (Repercussão Geral – Tema 1001) (Info 1101). � É nulo ato que estabelece, generica- mente e sem fundamentação adequa- da, que todos os processos do Sistema Eletrônico da Polícia Federal deverão ser cadastrados com acesso restrito É nulo ato público que estabelece, generica- mente e sem fundamentação válida e espe- cífica, que todos os processos do Sistema Eletrônico de Informações da Polícia Federal (SEI-PF) sejam cadastrados com nível de acesso restrito. Há violação do princípio da publicidade e res- trição ao direito à informação. Tese fixada pelo STF: “O ato de qualquer dos poderes públicos restritivo de publicidade deve ser motivado objetiva, específica e for- malmente, sendo nulos os atos públicos que imponham, genericamente e sem fundamen- tação válida e específica, impeditivo do direito fundamental à informação.”. STF. Plenário. ADPF 872/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/8/2023 (Info 1103). �A GDAJ tem caráter propter laborem e, portanto, não é devida aos servidores inativos Em análise dos dispositivos da Medida Provi- sória nº 2.048/2000, reitera-se que a Gratifi- cação de Desempenho de Atividade Jurídica - GDAJ tem caráter propter laborem e não é devida aos servidores inativos. STJ. 1ª Turma. REsp 1.833.226-DF, Rel. Min. Sér- gio Kukina, julgado em 15/8/2023 (Info 783). DIREITO ADMINISTRATIVO JULGADOS EM DESTAQUE 13 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �A GAT é uma vantagem permanente relativa ao cargo de Auditor Fiscal da RFB e que integra os vencimentos (soma do vencimento básico com as vantagens permanentes relativas ao cargo) do titular do cargo, não se confundindo com o vencimento básico O fato de a Gratificação de Atividade Tributária - GAT ser paga a todos os integrantes da carreira, constituindo-se em gratificação genérica calculada sobre o vencimento básico, não implica a sua transmutação em vencimento básico, categoria expressamente referida na legislação, que não se confunde com as vantagens permanentes do cargo. STJ. 1ª Seção. AR 6.436-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 12/4/2023 (Info 781). �Nas ações indenizatórias movidas em desfavor de pessoa jurídica de direito pri- vado, na condição deprestadora de serviço público, a prescrição era regida pelo Código Civil, até a entrada em vigor do art. 1º-C da Lei 9.494/97, em 28/8/2001 Depois da entrada em vigor do art. 1º-C da Lei nº 9.494/97, é quinquenal o prazo de prescrição da ação indenizatória decorrente de acidente de trânsito ocasionado por empresa particular prestadora de serviço público, cuja vítima é relativamente incapaz. STJ. 1ª Turma. REsp 2.019.785-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 15/8/2023 (Info 783). DIREITO ADMINISTRATIVO https://www.editorajuspodivm.com.br/vade-mecum-de-jurisprudencia-dizer-o-direito-20232 https://www.editorajuspodivm.com.br/sumulas-do-stf-e-do-stj-anotadas-e-organizadas-por-assuntos-20232 JULGADOS EM DESTAQUE 14 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �As ações de desapropriação observam na fase de cumprimento de sentença, no que couber, o regime do art. 27, § 1º, do DL 3.365/41, o que inclui os seus limites percentuais na fixação de honorários arbitrados com base em proveito econômico As ações de desapropriação por utilidade pública orientam-se especialmente pelas disposições do Decreto-Lei nº 3.365/1941. O art. 27, § 1º do DL estabelece base de cálculo e percentuais próprios para a fixação dos honorá- rios, distintos da ordenação geral do CPC: Art. 27 (...) § 1º A sentença que fixar o valor da indenização quando este for superior ao preço ofere- cido condenará o desapropriante a pagar honorários do advogado, que serão fixados entre meio e cinco por cento do valor da diferença, observado o disposto no § 4o do art. 20 do Código de Processo Civil, (...) O preceito contempla opção do legislador pela existência de ônus de sucumbência apenas quando o valor indenizatório for superior à oferta inicial. A base de cálculo dos honorários corresponderá à diferença entre ambos, o que aparentemente elege como critério não o valor condenatório propria- mente, porque este seria o equivalente à própria indenização arbitrada, mas a um parâmetro ligado à condenação. Apesar de o texto do dispositivo fazer remissão claramente à fase de conhecimento - tanto que remete à definição da indenização e à oferta inicial, que vem consignada na petição inicial -, o Decreto- -Lei disciplina a sucumbência para as ações de desapropriação. Portanto, é devida a sua observân- cia em todas as suas fases, no que for cabível. Sendo cabível a sucumbência no caso da fase de cumprimento de sentença, a sua estipulação é regida com base na mesma diferença entre indenização e oferta inicial, tendo em vista que esses parâmetros já foram definidos na fase de conhecimento. Nesse sentido, afasta-se a utilização da equidade - porque ausentes as hipóteses autorizativas. STJ. 2ª Turma. REsp 2.075.692-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/8/2023 (Info 783). DIREITO ADMINISTRATIVO JULGADOS EM DESTAQUE 15 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �A indenização por destruição, perda, avaria ou atraso de carga em transpor- te aéreo internacional será regida pelos limites da Convenção de Montreal A Convenção de Montreal, internalizada no or- denamento jurídico brasileiro pelo Decreto-Lei 5.910/06, aplica-se a todo transporte interna- cional de pessoas, bagagem ou carga, efetua- do em aeronaves, mediante remuneração. A seguradora sub-rogada pode buscar o ressarcimento do que despendeu com a in- denização securitária, no mesmo prazo pres- cricional, termos e limites que assistiam ao segurado quando recebeu a indenização. Não se adota diretamente a Convenção de Montreal nas relações de seguro, até mesmo porque ela disciplina somente o transporte aéreo internacional. Com efeito, aplica-se a regra geral da relação securitária às peculiari- dades da relação originária. Havendo destruição, perda, avaria ou atraso de carga em transporte aéreo internacional, a indenização será limitada a 17 Direitos Especiais de Saque, a menos que tenha sido feita a Declaração Especial de Valor ou tenha ocorrido qualquer uma das demais hipóteses previstas em lei para que seja afastado o limi- te de responsabilidade previsto no art. 22, III, da Convenção de Montreal. STJ. 3ª Turma. REsp 2.052.769-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/6/2023 (Info 781). � Para a constituição em mora do de- vedor fiduciário é suficiente que haja o envio da notificação com AR para o endereço do devedor informado no contrato, não sendo necessário com- provar que ele recebeu a notificação Para a comprovação da mora nos contratos garantidos por alienação fiduciária, é suficiente o envio de notificação extrajudicial ao devedor no endereço indicado no instrumento contra- tual, dispensando-se a prova do recebimento, quer seja pelo próprio destinatário, quer por terceiros. STJ. 2ª Seção. REsp 1.951.662-RS e REsp 1.951.888-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julga- dos em 9/8/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1132) (Info 782). DIREITO CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 16 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Fere a boa-fé objetiva e gera enriquecimento sem causa a pretensão de receber, pela indicação de cliente, porcentagem sobre o valor total do precatório, quando tal valor não foi efetivamente recebido na integralidade, em razão de negocia- ção do crédito com deságio Caso concreto: um indivíduo indicou um cliente para a advogada e, como comissão, receberia 10% dos honorários sucumbenciais. A causa envolvia a Fazenda Pública e, por isso, a advogada recebeu os honorários sucumbenciais materializado por meio de um precatório. Para receber imediatamen- te e não esperar a ordem de pagamento, a advogada cedeu (“vendeu”) o precatório, com deságio. O valor do precatório era R$ 1 milhão e ela “vendeu” por R$ 600 mil. A comissão a ser paga pela indicação levará em consideração o valor efetivamente recebido pela advogada (R$ 600 mil), e não o valor originário que ela teria direito (R$ 1 milhão). O recebimento de comissão sobre o valor total de precatório na hipótese em que não foi integral- mente pago, em razão de negociação prévia do crédito com deságio, fere a boa-fé objetiva e gera enriquecimento sem causa. STJ. 4ª Turma. EDcl no AgInt no AREsp 1.809.319-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 14/8/2023 (Info 783). DIREITO EMPRESARIAL �No contexto de propaganda comparativa ofensiva, não é viável impor a obriga- ção de indenização por danos materiais sem a devida demonstração de prejuízo A propaganda comparativa é forma de publicidade na qual se compara, explícita ou implicitamente, produtos ou serviços concorrentes, a fim de conquistar a escolha do consumidor. Havendo propaganda comparativa ofensiva, deverá haver condenação por dano moral, sendo este in re ipsa. Por outro lado, somente haverá condenação em danos materiais se existir efetiva demonstração de prejuízo. STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 1.770.411-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. para acór- dão Min. Raul Araújo, julgado em 14/2/2023 (Info 781). DIREITO CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 17 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �O deferimento de processamento da recuperação judicial em consolidação pro- cessual não impede a posterior análise do preenchimento dos requisitos para o pedido de recuperação em relação a cada um dos litisconsortes A expressão consolidação processual se refere apenas à possibilidade de apresentar o pedido de recuperação judicial em litisconsórcio ativo. Cada um dos litisconsortes deve preencher os requisitos para o pedido de recuperação judicial indi- vidualmente e seus ativos e passivos serão tratados em separado. O fato de ter sido deferido o processamento da recuperação judicial em consolidação processual não impede a posterior análise do preenchimento dos requisitos para o pedido de recuperação em relação a cada um dos litisconsortes. STJ. 3ª Turma. REsp 2.068.263-SP,Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/8/2023 (Info 783). DIREITO DO CONSUMIDOR � Plano de saúde não pode recusar o fornecimento de medicamento registrado na ANVISA e prescrito pelo médico do paciente unicamente sob o argumento de que se trata de uso off-label, ou em caráter experimental A recusa da operadora do plano de saúde em custear medicamento registrado pela ANVISA e pres- crito pelo médico do paciente é abusiva, ainda que se trate de fármaco off-label ou utilizado em caráter experimental, especialmente na hipótese em que se mostra imprescindível à conservação da vida e saúde do beneficiário. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.964.268-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 12/6/2023 (Info 782). DIREITO EMPRESARIAL JULGADOS EM DESTAQUE 18 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Distribuidora de gás pode cobrar tarifa pela medição individualizada em um condomínio No fornecimento de gás a condomínios residenciais, as empresas distribuidoras de GLP (“gás de cozinha”) disponibilizam duas formas de contratação: 1) a medição coletiva; e 2) a leitura individuali- zada, cabendo a escolha à assembleia condominial de acordo com seus interesses. Na segunda modalidade, há o fornecimento de gás a granel, mas com medição e gestão individua- lizada do consumo de cada unidade autônoma do condomínio - serviço executado pelo fornecedor do produto, que, em razão disso, cobra um preço previsto no respectivo contrato. Essa tarifa cobrada não é considerada abusiva. Não se mostra abusiva a cobrança de tarifa para medição individualizada quando assegurada a livre escolha dos consumidores na contratação, com liberdade na formação do preço, de acordo com seus custos e em atenção às características da atividade realizada, respeitando-se a equivalência material das prestações e demonstrada a correspondente vantagem do consumidor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.986.320-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 8/8/2023 (Info 782). ECA � Se o sujeito armazena (art. 241-B) cena de sexo explícito e pornográfica envolven- do crianças e adolescentes e depois disponibiliza (art. 241-A), pela internet, esses arquivos para outra pessoa, poderá responder pelos dois crimes em concurso material Os tipos penais trazidos nos arts. 241-A e 241-B do Estatuto da Criança e do Adolescente são autô- nomos, com verbos e condutas distintas, sendo que o crime do art. 241-B não configura fase nor- mal, tampouco meio de execução para o crime do art. 241-A, o que possibilita o reconhecimento de concurso material de crimes. STJ. 3ª Seção. REsp 1.971.049-SP, REsp 1.970.216-SP e REsp 1.976.855-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgados em 3/8/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1168) (Info 782). DIREITO DO CONSUMIDOR JULGADOS EM DESTAQUE 19 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Atraso no pagamento das parcelas de precatório autoriza determinação de sequestro de verbas É constitucional o sequestro de verbas públi- cas pela autoridade judicial competente nas hipóteses do § 4º do art. 78 do ADCT, cuja normatividade veicula regime especial de pagamento de precatórios de observância obrigatória por parte dos entes federativos inadimplentes na situação descrita pelo caput do dispositivo. No caso de atraso na quitação das parcelas de precatório, o sequestro de verbas públicas pela autoridade judicial é constitucional, pois con- figurado descumprimento ao regime especial de pagamento (ADCT, art. 78), cuja adesão dos entes federativos inadimplentes é obrigatória. Originalmente, somente a preterição da or- dem de pagamento ensejava a realização de sequestro da quantia necessária à satisfação do débito (art. 100, § 2º, da CF/88, na redação original). No entanto, a partir da EC 30/2000, todas as modificações referentes à sistemática dos precatórios passaram a admitir o seques- tro para a quitação das parcelas nas hipóteses de não alocação orçamentária para satisfazer os valores devidos, como, por exemplo, a pre- visão contida no art. 103 do ADCT. Nesse contexto, o regime especial do art. 78 do ADCT é impositivo, visto que os precató- rios se encontram vencidos, em desrespeito à normatividade geral sobre a matéria. STF. Plenário. RE 597.092/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 26/6/2023 (Repercussão Geral – Tema 231) (Info 1100). � Compete à Justiça Comum o julga- mento de ação na qual servidor cele- tista demanda parcela de natureza administrativa contra o Poder Público A Justiça Comum é competente para julgar ação ajuizada por servidor celetista contra o Poder Público, em que se pleiteia parcela de natureza administrativa, modulando-se os efei- tos da decisão para manter na Justiça do Tra- balho, até o trânsito em julgado e correspon- dente execução, os processos em que houver sido proferida sentença de mérito até a data de publicação da presente ata de julgamento. STF. Plenário. RE 1.288.440/SP, Rel. Min. Ro- berto Barroso, julgado em 01/7/2023 (Reper- cussão Geral – Tema 1143) (Info 1102). �O fato de o representante legal da criança autora da ação auferir renda não pode, por si só, servir de empe- cilho à concessão da gratuidade de justiça A representação da criança ou adolescente por seus pais vincula-se à incapacidade civil e econômica do próprio menor, sobre o qual in- cide a regra do art. 99, § 3º, do CPC/2015, mas isso não implica automaticamente o exame do direito à gratuidade com base na situação financeira dos pais. STJ. 3ª Turma. REsp 2.055.363-MG, Rel. Min. Nan- cy Andrighi, julgado em 13/6/2023 (Info 781). DIREITO PROCESSUAL CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 20 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Incide a regra geral do art. 85, § 1º, do CPC, que autoriza o cabimento dos honorários de sucumbência na fase de cumprimento, quando a liquida- ção ostentar caráter litigioso De acordo com o CPC: Art. 85. (...) § 1º São devidos honorários advo- catícios na reconvenção, no cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente. (...) Se você observar bem o art. 85, § 1º, do CPC verá que ele não tratou da fixação da verba honorária na fase de liquidação de sentença. A despeito disso, a jurisprudência consolidou o entendimento de que, constatada a litigiosi- dade na liquidação, a efetiva sucumbência da parte implicará sua condenação nas verbas sucumbenciais: STJ. 1ª Turma. AgInt no AgInt no REsp 1.955.594-MG, Rel. Min. Paulo Sérgio Domin- gues, julgado em 29/5/2023 (Info 781). �Os limites subjetivos e objetivos da coisa julgada não podem ser analisa- dos pelo STJ em REsp Os limites subjetivos e objetivos da coisa julgada não podem ser analisados pelo STJ na via do recurso especial, por infringir o dispos- to no enunciado da Súmula n. 7/STJ. STJ. 2ª Turma. REsp 2.035.667-RJ, Rel. Min. Fran- cisco Falcão, Rel. para acórdão Min. Assusete Magalhães, julgado em 9/5/2023 (Info 781). � Se a parte interpõe o recurso errado, percebe o equívoco e, ainda dentro do prazo, maneja o recurso correto, am- bos os recursos não serão conhecidos A preclusão consumativa pela interposição de recurso enseja a inadmissibilidade do segun- do inconformismo interposto pela mesma parte e contra o mesmo julgado, pouco im- portando se o recurso posterior é o adequado para impugnar a decisão e tenha sido inter- posto antes de decorrido o prazo recursal. Caso hipotético: o advogado interpôs agravo de instrumento; ocorre que o recurso correto era apelação; o advogado, percebendo o equívoco, interpôs apelação, dentro do prazo, com os mesmos argumentos; tanto o agravo de instru- mento como a apelação não serão conhecidos. STJ. 3ª Turma. REsp 2.075.284-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 8/8/2023 (Info 782). � É desnecessário aguardar o trânsito em julgado para a aplicação do pa- radigma firmado em sede de recursorepetitivo Não é necessário aguardar o trânsito em julga- do para a aplicação do paradigma firmado em sede de recurso repetitivo ou de repercussão geral. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 2.060.149-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 8/8/2023 (Info 782). DIREITO PROCESSUAL CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 21 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Não cabe agravo interno contra decisão que, ao reconhecer que houve em agravo em recurso especial a integral refutação dos fundamentos adotados no juízo de ad- missibilidade feito na origem, determina a sua reautuação como recurso especial Exemplo hipotético: João ajuizou ação contra o Estado-membro. O pedido foi julgado improcedente e a sentença mantida pelo TJ. Inconformado, João interpôs recurso especial. O recurso foi inadmi- tido pelo Vice-Presidente do TJ. Contra essa decisão, João interpôs agravo em recurso especial (art. 1.042 do CPC). O Ministro do STJ, por decisão monocrática, não conheceu o agravo alegando que houve violação ao princípio da dialeticidade recursal, previsto no art. 932, III, do CPC. João não concordou e interpôs agravo interno. Em juízo de retratação, o Ministro deu provimento ao agravo interno para reconsiderar a decisão agravada e determinar a reautuação do feito para recurso especial. Contra essa decisão, o Estado-membro interpôs agravo interno. O agravo interno não foi conhecido pela Turma do STJ. A decisão que, ao reconhecer que houve, em agravo em recurso especial, a integral refutação dos fundamentos adotados no juízo de admissibilidade feito na origem, determina a sua reautuação como recurso especial não importa prejuízo à parte contrária. Em outras palavras, a decisão do Mi- nistro que mandou “subir” o Resp não gerou prejuízo ao Estado-membro. Isso porque essa decisão se limita a determinar o processamento regular do recurso especial. Esse recurso especial ainda será analisado pela Turma que poderá, inclusive, fazer uma nova análise da admissibilidade e, com isso, em novo juízo denegatório. STJ. 2ª Turma. AgInt no AgInt no AREsp 2.119.020-CE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 22/5/2023 (Info 781). DIREITO PROCESSUAL CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 22 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Considera-se fraudulenta a aliena- ção, mesmo quando há transferên- cias sucessivas do bem, feita após a inscrição do débito em dívida ativa, sendo desnecessário comprovar a má-fé do terceiro adquirente A 1ª Seção do STJ, ao julgar o REsp 1.141.990/ PR (DJe 19/11/2010), consolidou o entendi- mento de que não incide a Súmula 375/STJ em sede de Execução Fiscal. Súmula 375-STJ: O reconhecimento da fraude de execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente. Também ficou consignado que o art. 185 do CTN, seja em sua escrita original ou na reda- ção dada pela LC 118/2005, não prevê, como condição de presunção da fraude à execução fiscal, a prova do elemento subjetivo da frau- de perpetrada, qual seja, o consilium fraudis. Ao contrário, estabeleceu-se que a consta- tação da fraude deve se dar objetivamente, sem se indagar da intenção dos partícipes do negócio jurídico. Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu come- ço, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regu- larmente inscrito como dívida ativa. A simples alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, pelo sujeito passivo por quantia inscrita em dívida ativa, sem a re- serva de meios para quitação do débito, gera presunção absoluta (jure et de jure) de fraude à execução. STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 930.482-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 8/8/2023 (Info 782). �Não cabe recurso ordinário constitu- cional em sede de execução em man- dado de segurança O art. 105, II, “b”, da Constituição Federal prevê o cabimento de recurso ordinário para o STJ, em “mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denega- tória a decisão”. Perceba que o dispositivo constitucional não menciona a possiblidade de recurso ordinário em caso de execução de mandado de segurança. As hipóteses de cabimento de recurso ordiná- rio para o STJ constituem rol taxativo. Assim, a hipótese prevista no art. 105, II, “b”, da CF/88, qual seja, o cabimento de recurso ordi- nário nos processos de mandado de segurança decididos em única instância pelos TRFs ou pelos TJs, quando denegatória a decisão, não poderia ser estendida para as decisões proferi- das em sede impugnação ao cumprimento de sentença proferida em mandado de segurança. Vale ressaltar, por fim, que o STJ tem enten- dido que o princípio da fungibilidade recursal não é aplicável à situação em que o recurso ordinário constitucional é manejado fora das hipóteses taxativamente enumeradas no art. 105, II, do texto constitucional. STJ. 2ª Turma. Pet 15.753-BA, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 15/8/2023 (Info 783). DIREITO PROCESSUAL CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 23 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �O fato de a instituição financeira ser responsável pela correção monetária e pelos juros de mora após o depó- sito judicial não exime o devedor de pagar eventual diferença sobre os encargos, calculados de acordo com o título, que incidem até o efetivo pagamento A responsabilidade pela correção monetária e pelos juros de mora, após feito o depósito judicial, é da instituição financeira onde o numerário foi depositado, mas tal fato não exime o devedor da responsabilidade pelo pagamento de eventual diferença dos encar- gos calculados de acordo com o título, que incidem até o efetivo pagamento. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.965.048-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/6/2023 (Info 783). � É possível a renegociação dos débi- tos de precatórios vencidos e dos que vencerão dentro do período previsto pela EC 109/2021 O STF adotou a compreensão no sentido de que o plano de pagamentos apresentado pelo devedor de precatórios ao respectivo Tribunal deve contemplar todo o passivo, de modo a formar um único montante global de débitos de precatórios, ainda que se refiram a parcelas vencidas e não pagas em período anterior ao advento da Emenda Constitucio- nal 109/2021. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. MS 36035 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 30/08/2021. Uma vez que o prazo de pagamento antes estabelecido pela EC 99/2017 (até 31/12/2024) foi estendido pela EC 109/2021 para 31/12/2029, sem qualquer ressalva quanto aos anos a que se referem os débitos em questão, apresenta-se indevida a decisão que nega a renegociação quanto às dívidas ante- riores a 2021. STJ. 1ª Turma. AgInt no RMS 69.711-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 15/8/2023 (Info 783). DIREITO PROCESSUAL CIVIL JULGADOS EM DESTAQUE 24 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �A prescrição da execução da pena começa a contar da decisão definitiva para todas as partes O prazo para a prescrição da execução da pena concretamente aplicada somente começa a correr do dia em que a sentença condenatória transita em julgado para ambas as partes, momento em que nasce para o Estado a pretensão executória da pena, conforme interpretação dada pelo Su- premo Tribunal Federal ao princípio da presunção de inocência (art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal) nas ADC 43, 44 e 54. Assim, é incompatível com a atual ordem constitucional a aplicação meramente literal do art. 112, I, do Código Penal. Por isso, é necessário interpretá-lo sistemicamente, com a fixação do trânsito em julgado para ambas as partes (acusação e defesa) como marco inicial da prescrição da pretensão executória estatal pela pena concretamenteaplicada em sentença condenatória. O Estado não pode determinar a execução da pena contra condenado com base em título executivo não definitivo, dada a prevalência do princípio da não culpabilidade ou da presunção de inocência. Assim, a constituição definitiva do título judicial condenatório é condição de exercício da pretensão executória do Estado. A prescrição da pretensão executória pressupõe a inércia do titular do direito de punir. Portanto, a única interpretação do inciso I do art. 112 do Código Penal compatível com esse entendimento é a que elimina do dispositivo a locução “para a acusação” e define como termo inicial o trânsito em julgado para ambas as partes, visto que é nesse momento que surge o título penal passível de ser executado pelo Estado. Ademais, a aplicação da literalidade do dispositivo impugnado, além de contrária à ordem jurídi- co-normativa, apenas fomenta a interposição de recursos com fins meramente procrastinatórios, frustrando a efetividade da jurisdição penal. Diante disso, o STF declarou a não recepção pela Constituição Federal da locução “para a acusação”, contida art. 112, inciso I (primeira parte), do Código Penal, conferindo-lhe interpretação conforme a Constituição no sentido de que a prescrição começa a correr do dia em que transita em julgado a sentença condenatória para ambas as partes. Modulação dos efeitos. Esse entendimento se aplica aos casos em que: i) a pena não foi declarada extinta pela prescrição; e ii) cujo trânsito em julgado para a acusação tenha ocorrido após 12/11/2020. STF. Plenário. ARE 848.107/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 01/7/2023 (Repercussão Geral – Tema 788) (Info 1101). DIREITO PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 25 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �A aquisição de armas de fogo deve se pautar pelo caráter excepcional, razão pela qual se exige a demonstração concreta da efetiva necessidade, por motivos tanto profissionais quanto pessoais A aquisição de armas de fogo deve se pautar pelo caráter excepcional, razão pela qual se exige a demonstração concreta da efetiva necessidade, por motivos tanto profissionais quanto pessoais. A única interpretação do art. 4º, caput, do Estatuto do Desarmamento compatível com a Constitui- ção é aquela que vê na declaração de efetiva necessidade a conjugação de dois fatores: a) a imperatividade da demonstração de que, no caso concreto, realmente exista a necessidade de adquirir uma arma de fogo, segundo os critérios legais; e b) a obrigação do Poder Executivo de estabelecer procedimentos fiscalizatórios sólidos que permi- tam auferir a realidade da necessidade. Nesse contexto, o STF declarou inconstitucionais diversos dispositivos infralegais editados em 2021 com a finalidade de promover a chamada “flexibilização das armas”. Esses dispositivos caracterizam-se como manifesto retrocesso na construção de políticas voltadas à segurança pública e ao controle de armas no Brasil, vulnerando as diretrizes nucleares do Estatuto do Desarmamento. A livre circulação de cidadãos armados, carregando consigo múltiplas armas de fogo, atenta contra os valores da segurança pública e da defesa da paz, criando risco social incompatível com ideais constitucionalmente consagrados. STF. Plenário. ADI 6119/DF, ADI 6139/DF e ADI 6466, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 01/07/2023 (Info 1102). STF. Plenário. ADI 6134 MC/DF, ADI 6675 MC/DF, ADI 6676 MC/DF, ADI 6677 MC/DF, ADI 6680 MC/ DF, ADI 6695 MC/DF, ADPF 581 MC/DF e ADPF 586 MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 01/07/2023 (Info 1102). � São constitucionais os arts. 67 e 69 da Lei 11.941/2009 e o art. 9º da Lei 10.684/2003 São constitucionais dispositivos de leis que estabelecem a suspensão da pretensão punitiva estatal, em consequência do parcelamento de débitos tributários, bem como a extinção da punibilidade do agente, se realizado o pagamento integral. Não há violação aos arts. 3º, I a IV, e 5º, caput, da CF/88 nem ao o princípio da proporcionalidade, sob a perspectiva da proibição da proteção deficiente. STF. Plenário. ADI 4.273/DF, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 15/8/2023 (Info 1103). DIREITO PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 26 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Nos casos de estupro de vulnerável praticado em continuidade delitiva em que não é possível precisar o número de infrações cometidas, tendo os crimes ocorrido durante longo período de tempo, deve-se aplicar a causa de aumento de pena no patamar máximo de 2/3 No caso de crime continuado, o art. 71 do CP prevê que o juiz deverá aplicar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de 1/6 a 2/3. Em regra, a escolha da quantidade de aumento de pena deve levar em consideração o número de infrações praticadas pelo agente. Porém, nem sempre será fácil trazer para os autos o número exato de crimes que foram praticados, especialmente quando se trata de delitos sexuais. É o caso, por exemplo, de um padrasto que mora há meses ou anos com a sua enteada e contra ela pratica constantemente estupro de vulnerável. Nessas hipóteses, mesmo não havendo a informação do número exato de crimes que foram come- tidos, o juiz poderá aumentar a pena acima de 1/6 e, dependendo do período de tempo, até chegar ao patamar máximo. Assim, constatando-se a ocorrência de diversos crimes sexuais durante longo período de tempo, é possível o aumento da pena pela continuidade delitiva no patamar máximo de 2/3 (art. 71 do CP), ainda que sem a quantificação exata do número de eventos criminosos. STJ. 6ª Turma. REsp 1.932.618/RJ, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), jul- gado em 8/8/2023 (Info 782). DIREITO PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 27 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �O Tribunal de Justiça Militar estadual ou o Tribunal de Justiça local, onde aquele não existir, possuem competência para decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação de praças da polícia militar estadual que tiveram con- tra si sentenças condenatórias 1) A perda da graduação da praça pode ser declarada como efeito secundário da sentença conde- natória pela prática de crime militar ou comum, nos termos do art. 102 do Código Penal Militar e do art. 92, I, ‘b’, do Código Penal, respectivamente. 2) Nos termos do artigo 125, § 4º, da Constituição Federal, o Tribunal de Justiça Militar, onde houver, ou o Tribunal de Justiça são competentes para decidir, em processo autônomo decorrente de repre- sentação do Ministério Público, sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças que teve contra si uma sentença condenatória, independentemente da natureza do crime por ele cometido. À luz do art. 125, § 4º, da CF/88, na redação dada pela EC 45/2004, o Tribunal de Justiça Militar estadual ou o Tribunal de Justiça local, onde aquele não existir, possuem competência para decidir — em processo autônomo decorrente de representação ministerial — sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação de praças da polícia militar estadual que tiveram contra si sen- tenças condenatórias, independentemente do quantum da pena imposta ou da natureza do crime cometido (militar ou comum). A Justiça comum, por sua vez, pode decretar a perda do cargo do policial militar (praça ou oficial) com base no art. 92, I, b, do Código Penal, nos próprios autos em que houver sua condenação por crime comum, sem que essa providência configure violação à competência da Justiça Militar. Ademais, a perda da graduação de praças também pode ser decretada por força: (i) de condenação criminal pela prática de crime de natureza militar, inclusive sem a instauração de procedimento jurisdicional específico perante o Tribunal competente na hipótese de pena superior a dois anos, a teor do art. 102 do Código Penal Militar; e (ii) de sançãodisciplinar administrativa apurada em âmbito administrativo, mesmo que ainda esteja em curso ação penal envolvendo o mesmo fato. STF. Plenário. ARE 1.320.744/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 26/6/2023 (Repercussão Geral – Tema 1200) (Info 1100). DIREITO PENAL MILITAR JULGADOS EM DESTAQUE 28 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �A prisão preventiva é compatível com os regimes prisionais aberto e semiaberto? Neste caso concreto, a 2ª Turma do STF deci- diu que não. Foi decidido que viola o princípio da propor- cionalidade a tentativa de compatibilizar a prisão preventiva com a imposição do regime inicial de cumprimento de pena semiaberto ou aberto. A fixação do regime semiaberto torna despro- porcional a manutenção da prisão preventiva, por significar imposição de medida cautelar mais gravosa à liberdade do que a estabeleci- da na própria sentença condenatória, circuns- tância que se revela como verdadeiro cons- trangimento ilegal. STF. 2ª Turma. HC 214.070 AgR/MG, Rel. Min. Nunes Marques, redator do acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 21/06/2023 (Info 1100). Vale ressaltar que o tema é polêmico e que existem decisões do STJ e do próprio STF afir- mando que: A prisão preventiva é compatível com o regime prisional semiaberto, desde que seja realizada a efetiva adequação ao regime intermediário (STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 760.405-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 23/8/2022). �Na revisão criminal, por se tratar de ação exclusivamente defensiva, afas- tado o desvalor atribuído às circuns- tâncias judiciais ou às agravantes, a pena deverá ser reduzida Quando o Tribunal de origem, em recurso exclusivo da defesa, afasta a valoração negati- va de algum elemento da dosimetria da pena, deve reduzir a sanção proporcionalmente, e não realocá-lo. Assim, é imperiosa a redução proporcional da pena-base quando o Tribunal de origem, em recurso exclusivo da defesa, afastar uma circunstância judicial negativa do art. 59 do CP reconhecida na sentença condenatória (STJ. 3ª Seção. EREsp 1826799-RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Rel. Acd. Min. Antonio Saldanha Pa- lheiro, julgado em 08/09/2021. Info 713). O Tribunal, no julgamento de recurso ex- clusivo da defesa, ainda que no contexto do efeito devolutivo da apelação, não terá plena liberdade para manter o mesmo apenamento fixado no édito condenatório quando afastar a valoração negativa de algum dos fatores analisados na sentença. Desse modo, não mais se admite que o Tri- bunal, para manter o mesmo quantum da pena-base fixado na sentença, por exemplo, inove para atribuir maior valor a uma veto- rial do art. 59 do CP em detrimento de outra, ou mesmo que reforce os fundamentos das circunstâncias mantidas como negativas para que estas agreguem o aumento das que foram neutralizadas. Tais medidas doravante configuram-se reformatio in pejus. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2.037.387-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 12/6/2023 (Info 781). DIREITO PROCESSUAL PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 29 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Não há como se concluir que o limite máximo de pena em abstrato estipu- lado no art. 5º do Decreto 11.302/22 somente autoriza a concessão de indulto se o prazo de 5 anos não for excedido após a soma ou unificação de penas A melhor interpretação sistêmica da leitu- ra conjunta dos arts. 5º e 11 do Decreto nº 11.302/2022 é a que entende que o resultado da soma ou da unificação de penas efetuada até 25/12/2022 não constitui óbice à con- cessão do indulto àqueles condenados por delitos com pena em abstrato não superior a 5 (cinco) anos, desde que: 1) cumprida integralmente a pena por crime impeditivo do benefício; 2) o crime indultado corresponda a condena- ção primária (art. 12 do Decreto); e 3) o beneficiado não seja integrante de facção criminosa (parágrafo 1º do art. 7º do Decreto). STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 824.625-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 20/6/2023 (Info 781). �O tempo em que o apenado esteve afastado das suas obrigações no regime aberto, sob atestado médico, pode ser computado como pena efeti- vamente cumprida Situação hipotética: João cumpre pena em regime aberto, devendo pernoitar na Casa do Albergado. Ele apresentou vários atestados médicos para justificar a ausência nos per- noites, os quais foram juntados no processo de execução. A Defensoria Pública pugnou pelo cômputo dos períodos de licença médica como efetivo cumprimento de pena. O Juízo indeferiu o pedido por entender que os atestados médicos apresentados nos presídios serviram apenas para justificar o afastamento e evitar a comunicação de fuga, porém não poderiam ter seus períodos utiliza- dos como pena cumprida pelo simples fato de que não haver o cumprimento da reprimenda propriamente dita. O caso chegou ao STJ, que concordou com o pleito da defesa. O tempo em que o apenado esteve afastado das suas obrigações no regime aberto, sob atestado médico, pode ser computado como pena efetivamente cumprida. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 703.002-GO, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 12/6/2023 (Info 781). DIREITO PROCESSUAL PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 30 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Compete ao STJ processar e julgar os crimes praticados pelos Conselheiros dos Tribunais de Contas, mesmo que não estejam relacionados com o cargo O crime cometido pelo Desembargador, mesmo que não esteja relacionado com as suas funções, deverá ser julgado pelo STJ com o objetivo de preservar a isenção (imparciali- dade e independência) do órgão julgador. Foi o que ficou assentado pelo STJ na QO na APn 878-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/11/2018 (Info 639). Esse mesmo raciocínio deve ser aplicado para os Conselheiros dos Tribunais de Contas consi- derando que eles são equiparados a Magistra- dos por força dos arts. 73, § 3º, e 75 da Consti- tuição, havendo identidade do regime jurídico. Logo, as mesmas garantias e prerrogativas outorgadas aos Desembargadores dos Tri- bunais de Justiça devem ser estendidas aos Conselheiros estaduais e distritais, no que se inclui o reconhecimento do foro por prerro- gativa de função durante o exercício do cargo, haja, ou não, relação de causalidade entre a infração penal e o cargo. STJ. Corte Especial. AgRg na Rcl 42.804/DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 16/8/2023 (Info 783). �A mudança de entendimento juris- prudencial autoriza o ajuizamento de revisão criminal? A mudança de entendimento jurisprudencial não autoriza o ajuizamento de revisão crimi- nal, ressalvadas hipóteses excepcionalíssimas de entendimento pacífico e relevante. STJ. 3ª Seção. RvCr 5.620-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/6/2023 (Info 783). �A participação dos órgãos de perse- cução estatal na gravação ambiental realizada por um dos interlocutores, sem prévia autorização judicial, acarreta a ilicitude da prova A gravação realizada por um dos interlocuto- res sem o conhecimento do outro, não prote- gida por um sigilo legal (QO no Inq. 2116, STF) é prova válida. Trata-se de hipótese pacífica na jurisprudência do STF e do STJ, pois se considera que os interlocutores podem, em depoimento pessoal ou em testemunho, revelar o teor dos diálogos. Por outro lado, a gravação ambiental realiza- da por um dos interlocutores com a colabora- ção dos órgãos de persecução penal precisa de prévia autorização judicial como forma de contenção da atuação estatal. A participação da polícia ou do Ministério Público na produção da prova, fornecendo equipamento, aproxima o agente particular de um agente colaborador ou de um agente infiltrado e, consequentemente, de suas res- trições. Logo, se não houve prévia autorização judicial neste caso, a prova é ilícita. STJ. 6ª Turma. RHC 150.343-GO, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. para acórdão Min.Sebastião Reis Júnior, julgado em 15/8/2023 (Info 783). DIREITO PROCESSUAL PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 31 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � É cabível a remição penal por aprovação no ENEM ao reeducando que já havia concluído o ensino médio antes de ingressar no sistema prisional? É cabível a remição penal por aprovação no ENEM ao reeducando que já havia concluído o ensino médio antes de ingressar no sistema prisional? Existe divergência dentro do STJ: SIM. É cabível a remição da pena pela aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, ainda que o apenado já tenha concluído o ensino médio antes de dar início ao cumprimento da pena, ressalva- do o acréscimo de 1/3, com fundamento no art. 126, § 5º, da Lei de Execução Penal. STJ. 5ª Turma. HC 786.844-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. para acórdão Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 8/8/2023 (Info 783). É cabível a remição da pena pela aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, ainda que o apenado já tenha concluído o ensino médio antes do encarceramento, excluído o acréscimo de 1/3 (um terço) com fundamento no art. 126, § 5º, da Lei de Execução Penal. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 768.530-SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 6/3/2023 (Info 767). NÃO. Não é possível a remição da pena pela certificação no Exame Nacional de Ensino Médio quando o reeducando concluiu essa etapa educacional antes da execução penal. STJ. 6ª Turma. AgRg no RHC n. 169.075/SC, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador Convocado do TJDFT), julgado em 13/3/2023. O CNJ, por meio da Recomendação n. 44/2013, posteriormente substituída pela Resolução n. 391/2021, estabeleceu a possibilidade de remição de pena à pessoa privada de liberdade que, por meio de estudos por conta própria, vier a ser aprovada nos exames que certificam a conclusão do ensino fundamental ou médio (ENCCEJA ou outros) e aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM. No caso, contudo, o ora agravante, ao ingressar no sistema prisional, era portador de diploma de nível superior. Em hipóteses tais, não há aquisição de novos conhecimentos, razão pela qual não há que se falar em remição, por aprovação no ENEM, sob pena de destoar do escopo da norma. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 828.464/SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 28/8/2023. DIREITO PROCESSUAL PENAL JULGADOS EM DESTAQUE 32 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � Incide ISS sobre os serviços de exame, pesquisa, coleta, compilação e forneci- mento de dados e informações de produtos farmacêuticos, medicamentosos e relacionados à saúde executados dentro do Brasil a partir de contratação por empresa do exterior Caso adaptado: Pharmaceutical Research Ltda é uma empresa subsidiária de um grupo interna- cional. Ela recebeu a incumbência de pesquisar como a população brasileira reage a determinado medicamento. Essa empresa desenvolve no Brasil serviços de exame, pesquisa, coleta, compilação e fornecimento de dados e informações de produtos farmacêuticos, medicamentos e relacionados à saúde e correlatos. O resultado desses serviços é enviado para o exterior para que a empresa far- macêutica estrangeira, utilizando tais dados, possa dar prosseguimento ao desenvolvimento clínico dos medicamentos. A empresa terá que pagar ISSQN sobre esses serviços por ela prestados porque se enquadram no item 17.01 da lista de Serviços, aprovada pela LC nº 116/2003. Serviços de exame, pesquisa, coleta, compilação e fornecimento de dados e informações de pro- dutos farmacêuticos, medicamentosos e relacionados à saúde e correlatos executados dentro do território nacional em contratação por empresa do exterior não configura exportação de serviços. STJ. 1ª Turma. REsp 2.075.903-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 8/8/2023 (Info 782). DIREITO TRIBUTÁRIO DIREITO FINANCEIRO � É constitucional o Regime de Recuperação Fiscal dos estados e do Distrito Federal (LC 159/2017) bem como a norma inscrita na LRF (LC 101/2000), que prevê que as despesas com inativos e pensionistas integram o cômputo da despesa total com pessoal São constitucionais dispositivos da Lei Complementar nº 159/2017 e do Decreto nº 10.681/2021, que estabelecem e regulamentam o Regime de Recuperação Fiscal dos estados e do Distrito Federal. É também constitucional o art. 20, § 7º, da LC 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), que prevê que as despesas com inativos e pensionistas integram o cômputo da despesa total com pessoal dos respectivos Poderes e órgãos. STF. Plenário. ADI 6.892/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 15/8/2023 (Info 1103). JULGADOS EM DESTAQUE 33 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês �Despesas com inativos e IRRF devem ser incluídas no limite de gastos dos estados com pessoal São constitucionais — à luz do regime constitucional de repartição de competências (arts. 24, I; e 169, “caput”, da CF/88) e do equilíbrio federativo — dispositivos da Lei Complementar 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) que incluem, no cálculo dos gastos com pessoal pela Administração Pública, as despesas com inativos e pensio- nistas, bem como o imposto de renda retido na fonte. No plano financeiro, o art. 169 da CF/88 estabelece que a despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios deve respeitar os limites fixados em lei complementar de caráter nacional, no caso, a Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF. Uma vez atribuída competência ao ente central para regular a questão de modo geral e uniforme por meio de uma lei nacional, os entes subnacionais devem obediência ao regramento editado, sen- do-lhes vedado escolher as regras que irão adotar. Nesse contexto, o entendimento que fundamenta a exclusão do imposto de renda retido na fonte do limite de despesa de pessoal contraria diretamente o disposto no art. 19 da LRF — que enumera as parcelas não integrantes do referido cálculo —, de forma que manifestações subnacionais em sentido ampliativo usurpam a competência legislativa da União para editar normas gerais sobre direito financeiro (art. 24, I, da CF/88). Ademais, excepcionadas as hipóteses previstas na LRF (art. 19, § 1º, VI), a desconsideração dos valores pagos a inativos e pensionistas para o cálculo do limite de gastos com pessoal afronta a sistemática prevista pela referida lei (art. 18, caput), bem como os dispositivos constitucionais acima referidos. Logo, são constitucionais o art. 18, caput, e o art. 19, caput, e §§ 1º e 2º, da LRF. STF. Plenário. ADC 69/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 01/7/2023 (Info 1101). DIREITO FINANCEIRO JULGADOS EM DESTAQUE 34 Destaque para alguns dos julgados que foram inseridos no Buscador no último mês � STF autorizou a realização de concurso para reposição de cargos vagos nos Esta- dos e Municípios que tenham aderido ao RRF e excluiu do teto de gastos os inves- timentos com recursos de fundos públicos especiais vinculados ao Judiciário, TCE e funções essenciais à Justiça As vedações à reposição de vacâncias de cargos públicos durante a vigência do Regime de Recupe- ração Fiscal afrontam a autonomia dos Estados e Municípios, o princípio da proporcionalidade, bem como o princípio da continuidade do serviço público. Contudo, a realização de concursos públicos e o provimento de cargos pelos entes aderentes de- vem respeitar os requisitos legais usuais: a) autorização da autoridade estadual ou municipal competente; b) avaliação das prioridades do ente político; e c) existência de viabilidade orçamentária na admissão. Em regra, o legislador nacional pode limitar a admissão de pessoal por entes federados em recu- peração fiscal, sobretudo considerando que um dos problemas crônicos da Federação brasileira consiste no controle das despesas públicas com pessoal. Contudo, limitações dessa natureza devem respeitar a intangibilidade
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