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FRoNt_SENAD_MJSP_Modulo_3

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MÓDULO 3
ORGANiZAÇÕES CRiMiNOSAS
NO EXTERiOR
EXPEDIENTE
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REALIDADE AUMENTADA (RA) 
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BY NC ND
GOVERNO FEDERAL 
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA 
SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS 
 
SECRETÁRIO NACIONAL 
Paulo Gustavo Maiurino
DIRETOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS E ARTICULAÇÃO 
INSTITUCIONAL 
Marcelo de Oliveira Andrade
 
COORDENADOR-GERAL DE INVESTIMENTOS, PROJETOS,
MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO 
Gustavo Camilo Baptista 
 
PLANEJAMENTO E GESTÃO
Glauber da Cunha Gervásio
Carlos Timo Brito
Eurides Branquinho da Silva
 
CONTEUDISTAS 
George Felipe Lima Dantas
Isângelo Senna da Costa 
 
REVISÃO DE CONTEÚDO 
Fernanda Flávia Rios dos Santos
Maria de Fátima de Moura Barros 
 
APOIO 
Kathyn Rebeca Rodrigues Lima
Todo o conteúdo do Curso FRoNt - Fundamentos para Repressão ao Narcotráfico e ao 
Crime Organizado, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), Ministério 
da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do Governo Federal - 2022, está licenciado sob 
a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 
4.0 Internacional.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SEAD)
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Luciano Patrício Souza de Castro
labSEAD
COORDENAÇÃO GERAL
Luciano Patrício Souza de Castro
FINANCEIRO
Fernando Machado Wolf
SUPERVISÃO TÉCNICA EAD
Giovana Schuelter 
SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL
Daniele Weidle 
SUPERVISÃO DE MOODLE
Andreia Mara Fiala 
SECRETARIA ADMINISTRATIVA
Elson Rodrigues Natário Junior
Maria Eduarda dos Santos Teixeira
DESIGN INSTRUCIONAL
Supervisão: Milene Silva de Castro
Gabriel de Melo Cardoso
Márcia Melo Bortolato
Marielly Agatha Machado
DESIGN GRÁFICO
Supervisão: Douglas Luiz Menegazzi
Heliziane Barbosa
Juliana Jacinto Teixeira
Luana Pillmann de Barros
Vinicius Alves Jacob Simões
REVISÃO TEXTUAL
Cleusa Iracema Pereira Raimundo
PROGRAMAÇÃO
Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
Cleberton de Souza Oliveira
Thiago Assi
AUDIOVISUAL
Supervisão: Rafael Poletto Dutra
Fabíola de Andrade
Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira
Renata Gordo Corrêa
TÉCNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Dalmo Tsuyoshi Venturieri
Wilton Jose Pimentel Filho
SUMÁRIO
Unidade 1 | O CRIMe ORGanIZadO 
COMO FenÔMenO LOCaL e GLOBaL
Unidade 2 | a MÁFIa
1.1 Entendimento preliminar do fenômeno
2.1 A máfia italiana 
1.2 A globalização do crime organizado e das 
organizações criminosas
2.2 A omertà
7
7
18
18
aPReSenTaÇÃO 6
9
21
Unidade 3 | ORGanIZaÇÕeS 
CRIMInOSaS naS aMÉRICaS
3.1 Estados Unidos: o movimento sindical e os 
sindicatos criminais 
38
38
41
2.3 A máfia no século XX 
2.4 Metástase: a máfia italiana em solo 
norte-americano
25
27
3.3 Principais organizações criminosas 
latino-americanas (Parte 1) 
44
59
3.2 Um parelelo com o Brasil
3.4 Principais organizações criminosas 
latino-americanas (Parte 2) 
Unidade 4 | OUTRaS ORGanIZaÇÕeS 
CRIMInOSaS de ReLeVÂnCIa
4.1 Máfia russa, “firmas” britânicas e grupos 
albaneses
4.2 Tríades (China), Yakuza (Japão), grupos 
organizados sul-africanos e nigerianos
72
72
77
ReFeRÊnCIaS 89
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 6
aPReSenTaÇÃO
Olá, cursista!
Neste módulo, você conhecerá as diferentes variações das organizações 
criminosas no mundo atual e as peculiaridades dessas organizações no 
que concerne ao mercado de drogas e questões conexas. Agora, você 
poderá associar os conceitos e definições apreendidos, aplicando-os 
no decorrer deste estudo sobre o envolvimento das organizações cri-
minosas com o narcotráfico. Além dessas capacitações, você poderá 
comparar a situação histórica, cultural, econômica, política e social 
das organizações criminosas oriundas de diferentes continentes com 
as implicações multidimensionais no Brasil.
OBjeTiVOS dO MódULO
 � Identificar os conceitos básicos da temática das organizações 
criminosas internacionais: fatores comuns de formação, 
padrão genérico de estrutura e maneiras comuns de 
operação/funcionamento.
 � Descrever as principais organizações criminosas 
“internacionais” em atuação nos tempos recentes.
 � Compreender as semelhanças e diferenças das organizações 
criminosas, em termos de estruturas, atuação, escopo e alcance.
 � Perceber os traços culturais e simbólicos de tais organizações.
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Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 7
Unidade 1
O CRIMe ORGanIZadO COMO 
FenÔMenO LOCaL e GLOBaL
COnTexTUaLiZandO
Nesta unidade, será apresentado o contexto histórico da globalização 
e as consequências positivas e negativas desse fenômeno no que se 
refere à facilitação e dinâmica dos métodos, procedimentos e meios de 
criminalidade e hostilidade de crimes, mais especificamente aqueles 
ligados à lavagem de dinheiro e às variadas formas de tráfico – de 
drogas, de armas e de pessoas –, principalmente o contrabando e as 
fraudes de diversos tipos.
1.1 enTendiMenTO PReLiMinaR
 dO FenÔMenO
A globalização, processo que caracteriza o final do século XX e início 
do século XXI, acelerou e intensificou as interações econômicas, so-
ciais, políticas e culturais entre regiões, países, povos, comunidades 
e indivíduos. Essas conexões, sejam elas físicas e virtuais, analógicas 
ou digitais, facilitadas pelos meios de transporte e comunicação, 
transcendem as fronteiras nacionais e ocorrem sob influência de 
diversos avanços tecnológicos.
Fonte: Adaptado de © [Hurca!] / Adobe Stock.
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 8
Os efeitos desse fenômeno são complexos, multifacetados e diver-
gentes. Isso porque, por um lado, esse dinamismo resultou, nas 
últimas décadas, em aumento da renda global geral e em redução 
de conflitos armados entre os países; por outro lado, há evidências 
inquestionáveis de que tais interações intensificadas têm gerado 
inúmeros efeitos danosos, tais como degradação ambiental, crises 
financeiras e, evidentemente, insegurança epidemiológica.
Dentre os efeitos danosos da globalização, é possível destacar a 
expansão transnacional de determinados crimes, em especial a 
lavagem de dinheiro, as variadas formas de tráfico – de drogas, 
de armas e de pessoas, principalmente –, o contrabando e as 
fraudes de diversos tipos.
Além de desviar improdutivamente os benefícios produzidos pela 
globalização, as atividades ilícitas desgastam a economia legal, cor-
rompem o ambiente político, dificultam a governança, e colocam 
famílias e indivíduos em maior risco.
A vulnerabilidade das possíveis vítimas se justifica, em parte, pela 
existência de uma quantidade enorme de métodos, procedimentos e 
meios de criminalidade e hostilidade, cujo acesso é facilitado, e so-
ma-se isso à proliferação de armas leves e de tecnologias cibernéticas.
Essa vulnerabilidade é, também, consequência do despreparo e desco-
nhecimento das autoridades locais em prevenir novas ameaças e ge-
renciar novos riscos. Em âmbito internacional, é notável a defasagem 
da coordenação entre as diversas polícias nacionais em comparação à 
escala global de organização das atividades criminosas e terroristas.
Talvez você já tenha percebido que a cooperação policial internacional 
é bastante limitada se comparada com o alto grau de coordenação e a 
colaboração observados entre grupos e redes criminosas. Não à toa, 
há uma percepção generalizada de que os criminosos internacionais 
estão “ganhando o jogo” (FELBAB-BROWN, 2012) ou “um passo à 
frente” das polícias (DENIOZOS; VLADOS; CHATZINIKOLAOU, 2018).
Foto: © [Sikov] / Adobe Stock.
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 9
Essas organizações criminosassurgem, evidentemente, em um con-
texto local, específico de uma localidade, mas se expandem para 
outras localidades, chegando, muitas vezes, a ultrapassar fronteiras 
regionais e nacionais.
Quando o processo de expansão das organizações criminosas 
ocorre internacionalmente de forma sucessiva, dizemos que tais 
organizações são também transnacionais, por perpassarem as 
fronteiras nacionais e associarem-se a outros atores, processos e 
forças globalizantes, como o próprio crime, ou seja, culminam em 
diferentes formas de tráfico. 
Siga para o próximo tópico, nele você poderá entender melhor a 
relação entre a globalização e a globalização do crime organizado.
1.2 a GLOBaLiZaÇÃO dO CRiMe 
ORGaniZadO e daS ORGaniZaÇÕeS 
CRiMinOSaS
A plataforma Politize! conceitua a globalização como sendo um pro-
cesso de expansão econômica, política e cultural em nível mundial 
(LOPES, 2017). No século XX, esse processo, que remete às Grandes 
Navegações (sec. XV a XVII), acelerou-se, principalmente em decor-
rência da Terceira Revolução Industrial.
Se nos primórdios da globalização, modelos de organização 
política, de cultura e de religião eram transmitidos pelo globo 
terrestre pela via da colonização, da imigração e das trocas 
comerciais, hoje, a evolução das tecnologias de transporte e 
comunicação é que vem reduzindo mais significativamente a 
distância e as fronteiras geográficas.
Como consequência disso, a globalização promoveu o aumento das 
trocas comerciais entre os países e da velocidade com que essas 
trocas ocorrem.
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crime organizado.
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 10
Foto: © [Cybrain] / Adobe Stock.
Mas, como você viu, o intercâmbio promovido pela globalização não 
se limita à dimensão econômica. Nessa abrangência da globalização, 
o crime, criminosos e questões conexas também estão incluídos.
Ainda, no que concerne ao conceito de cultura, segundo a plataforma 
Politize!, temos a seguinte reflexão:
A cultura é outra dimensão do processo de globalização. 
A troca de cultura entre diferentes países, independentemente 
da fronteira física entre eles também foi intensificada e 
acelerada pela Terceira Revolução Industrial. 
Podemos definir cultura como o conjunto de conhecimentos, 
crenças, leis, moral, arte e costumes de uma sociedade.
 (LOPES, 2017) 
A antropologia sociocultural trata do conceito de cultura ao especificar 
como, localmente, valores universais são expressos em diferentes 
sociedades de forma distinta, como os valores relacionados à ali-
mentação, nutrição e reprodução.
Um exemplo disso está na corrupção, que, mesmo sendo percebida 
de forma particular nas diferentes culturas humanas, não deixa de 
ser corrupção (ROTHSTEIN; TORSELLO, 2013).
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 11
Foto: © [Ricochet64] / Adobe Stock.
Já para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a globalização tem 
outra definição:
Globalização é o aumento da interconexão e interdependência 
de povos e países. É geralmente entendida como incluindo 
dois elementos inter-relacionados: a abertura das fronteiras 
internacionais para fluxos cada vez mais rápidos de bens, 
serviços, finanças, pessoas e ideias; e as mudanças nas 
instituições e políticas em nível nacional e internacional que 
facilitam ou promovem esses fluxos.
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2021, 
tradução nossa)
Talvez você esteja se perguntando se os avanços em tecnologias de 
comunicação, especialmente com o surgimento dos smartphones, 
influenciam nesse processo. De fato, a disponibilidade de acesso à 
internet nos últimos anos tem permitido a disseminação e o compar-
tilhamento de conhecimentos e ideias que, em frações de segundos, 
percorrem todo o globo.
Então, da mesma forma que boas práticas de gestão pública e tecno-
logias comunitárias desenvolvidas em um país podem ser adaptadas e 
implementadas em um outro país situado a milhares de quilômetros 
de distância, as estratégias utilizadas pelos criminosos em um local 
também podem ser copiadas em diversos outros pontos do planeta.
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 12
A globalização difunde tanto as boas quanto as 
más práticas de outros locais do mundo.
glossáRio
Ética é o conjunto de regras e preceitos de 
ordem valorativa e moral de um indivíduo, 
de um grupo social ou de uma sociedade.
Estética é um termo originário da língua 
grega, mais especificamente da palavra 
aisthésis, e tem como significado o ato de 
perceber, de notar.
Nesse processo, as organizações criminosas mundo afora cada vez 
mais têm adotado a ética, estética e os métodos da máfia, outrora 
um fenômeno que permaneceu por séculos circunscrito a uma ilha 
ao sul da Europa, a Sicília.
Nas pesquisas atuais sobre o crime organizado transnacional, é comum 
encontrar referências de como contrabandistas e traficantes de drogas 
e armas sequestraram a economia global, criando no processo um 
submundo do crime que contorna, desafia, corrompe e subverte os 
controles e autoridades do Estado. 
Essas entidades criminosas estão, de certa forma, construindo pontes 
umas com as outras, colocando em risco estilos de vida nas diferentes 
sociedades (PUBLIC ANTHROPOLOGIST, 2019).
Um exemplo relacionado a essas pesquisas que contemplam dados 
sobre globalização, uso de tecnologias da informação, crime orga-
nizado transnacional e submundo do crime pode ser visualizado na 
ilustração abaixo, sobre a internet oculta. Uma fração das informa-
ções que transitam pela internet está na parte chamada “dark web”, 
local onde transitam dados ocultos relacionados a tráfico de armas, 
drogas, pornografia, etc.
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crimes internacionais e a 
globalização.
RA
13
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS
SURFACE WEB
DEEP WEB
DARK WEB
Google
Facebook
Instagram
Documentos legais
Registros do governo
Relatórios científicos
Registros acadêmicos
Registros financeiros
Armas
Drogas
Pornografia
Comércio de crimes digitais
Um dos trechos das pesquisas sobre crime organizado transnacional, 
publicado pela plataforma Public Anthropologist, é ainda mais inquie-
tante quando você percebe que essa criminalidade fluida influencia 
muito mais que o plano material da sociedade. Além das estruturas 
econômicas, também se encontram em jogo as estruturas políticas 
e simbólicas que sustentam a paz e a segurança das nações.
Nesse sentido, parece ser muito pertinente uma citação de Manuel 
Castells (2001, p. 436) citada por Dallago (2020), sobre o tema crime 
organizado e o fenômeno do terrorismo no Brasil.
Instituições políticas podem ser infiltradas e 
corrompidas por entidades criminosas.
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 14
Nossa sociedade está construída em torno de fluxos: fluxos 
de capital, fluxos da informação, fluxos da tecnologia, 
fluxos de interação organizacional, fluxos de imagens, sons 
e símbolos. Fluxos não representam apenas um elemento 
da organização social: são a expressão dos processos que 
dominam nossa vida econômica, política e simbólica. 
Nesse caso, o suporte material dos processos dominantes 
em nossas sociedades será o conjunto de elementos que 
sustentam esses fluxos e propiciam a possibilidade material 
de sua articulação em tempo simultâneo. Assim, proponho 
a ideia de que há uma nova forma espacial característica 
das práticas sociais que dominam e moldam a sociedade em 
rede: o espaço de fluxos. O espaço de fluxos é a organização 
material das práticas sociais de tempo compartilhado 
que funcionam por meio de fluxos. Por fluxos, entendo 
as sequências intencionais, repetitivas e programáveis 
de intercâmbio e interação entre posições fisicamente 
desarticuladas, mantidas por atores sociais nas estruturas 
econômicas, política e simbólica da sociedade.(CASTELLS, 2001, p. 436 apud DALLAGO, 2020, p. 42)
Outro fator relevante no processo de globalização do modelo da 
máfia está na crescente cooperação entre as organizações crimi-
nosas. A Máfia pode ser considerada a principal referência de várias 
organizações criminosas que operam transnacionalmente, essas 
organizações podem ser compreendidas como mafioides, no sen-
tido de que não são derivadas diretamente da máfia, mas guardam 
características muito semelhantes a ela.
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a cooperação entre as 
organizações criminosas.
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Digitais das redes globais de criminosos.
 Foto: Public Anthropologist.
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A Enciclopédia de Ciência Policial coloca essa questão nos seguintes 
termos:
Sem dúvida, o desenvolvimento mais atraente da 
participação no crime organizado no final do século XX é 
a tendência para o desenvolvimento de grupos criminosos 
de organização transnacional e a sugestão de que esses 
grupos estão começando a colaborar e cooperar de forma 
sistemática para facilitar a entrega de bens e serviços ilícitos 
em escala internacional.
(POTTER, 2007, p. 1293)
Nesse ponto, cabe um alerta: o crime organizado e o narcotráfico têm 
sido estudados a partir de uma visão multidisciplinar e multinível. 
Ao salientar esses aspectos do curso, reconhecemos que os tópicos que 
temos discutido, como os casos práticos de organizações criminosas 
de alta complexidade vistos, até então, podem ser enfrentados de 
forma proativa por agentes e instituições de todos os níveis.
As conexões entre as organizações criminosas em nível global 
precisam ser desarticuladas por ações robustas, como a cooperação 
entre instituições policiais com técnicas sofisticadas de inteligência 
(particularmente vigilância). Assim como a atuação dessas mesmas 
organizações pode e deve ser enfrentada por meio da criação de 
obstáculos para a oferta de drogas no nível local (cidade, bairro ou 
mesmo uma praça, vielas e becos). 
Muitas vezes, isso pode ser feito por meio de pequenas intervenções 
no ambiente, como bem orienta a Prevenção Criminal pelo Design 
do Ambiente (CPTED) (SANTOS; SENNA, 2019).
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 16
Os sindicatos do crime organizado ainda estão enraizados 
em condições locais, protegidos pela política local, e limitados 
pela necessidade de pessoal de controle em nível local. 
A União Européia enfraquece fronteiras e incentiva o 
livre fluxo de pessoas e bens. Russos, italianos, romenos, 
britânicos, e os sindicatos da Córsega simplesmente 
respondem a uma nova realidade. Não é nem a Malina 
(Máfia de Odessa, Ucrânia) nem a Máfia que criaram 
essas oportunidades; em vez disso, foram os Estados e a 
corporações multinacionais. Traficantes de drogas nigerianos 
não são responsáveis pelo enorme aumento recente no 
comércio internacional ou no crescente fluxo de pessoas 
através das fronteiras. Eles meramente tiram proveito dessa 
situação. Quando colaboram com produtores asiáticos de 
heroína, isso não significa o nascimento de uma nova ordem 
criminosa internacional; apenas reflete os mesmos tipos de 
arranjos que estão ocorrendo na comunidade empresarial em 
geral. Os plantadores de papoula agora podem comercializar 
seus produtos em uma arena mais ampla. Contrabandistas 
nigerianos têm um mecanismo em vigor para utilizar de 
forma eficiente e vantajosa as novas tecnologias e respectivas 
oportunidades. A colaboração é tão natural quanto a que 
existe entre fabricantes de automóveis dos EUA e produtores 
de peças no Brasil ou no México.
 (GREEN, 2007, p. 1293)
Foto: © [Anatoliy] / Adobe Stock.
Para falarmos sobre a influência do nível local na atuação das or-
ganizações criminosas, é importante entender a ideia de sindicatos 
do crime de caráter mafioso. Muito utilizada na língua inglesa 
(criminal syndicate), mas também presente na língua espanhola 
(sindicato criminal), a expressão “sindicato do crime” refere-se 
a uma afiliação de criminosos que se juntam de forma organizada 
para cometer crimes (LAWI, 2019). 
Vale a pena mencionar mais um trecho da Enciclopédia de Ciências 
Policiais:
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 17
Continue seus estudos e avance para a próxima unidade, nela você 
estudará tudo sobre a máfia, e como essa organização influenciou e 
influencia organizações criminosas até hoje.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 18
Unidade 2
a MÁFIa
COnTexTUaLiZandO 
Você sabe dizer o que foi a Máfia? Nesta unidade, será apresentada, 
em linhas gerais, a máfia italiana, seu histórico e suas características, 
e você poderá refletir sobre a influência dessa máfia nas organizações 
mafioides ao redor do mundo.
2.1 a MÁFia iTaLiana
O termo Máfia é utilizado como sinônimo de “crime organizado”, mas 
isso pode ser um equívoco. Confira a definição de crime organizado:
O crime organizado é um empreendimento criminoso 
contínuo que funciona racionalmente para lucrar com 
atividades ilícitas que muitas vezes são muito procuradas 
pelo público. Sua existência contínua é mantida por meio 
da corrupção de agentes públicos e do uso de intimidação, 
ameaças ou força para proteger suas operações.
(UNODC, 2018, tradução nossa)
Baseado nessa ideia, tornou-se comum utilizar a palavra “máfia” 
para referenciar diversas organizações criminosas mafioides:
MÁFiA
ORGANiZAÇÕES 
MAFiÓiDES
COSA NOSTRA YAKUZA
COMANDO 
VERMELHO
PRiMEiRO 
COMANDO 
DA CAPiTAL
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 19
Na verdade, a “máfia” denota algo historicamente vinculado ao 
crime organizado italiano.
As estruturas sociológicas da máfia, em sua identidade com a 
cultura da Itália, da Sicília e mesmo dos Estados Unidos da América 
no início do século XX, para onde ela foi exportada, fazem dela 
um fenômeno único. Por isso é preciso estudá-la para conhecer e 
compreender seus elementos distintivos e até mesmo estabelecer 
“categorias mafioides”.
Curiosamente, as chamadas “máfias” estão espalhadas expressiva-
mente por países dos quatro continentes, alguns mais e outros menos. 
No continente Africano, por exemplo, não encontramos organizações 
mafiosas com tanta expressão como vimos nos países da América. 
A esse respeito, vale citar o que nos diz o Índice de Crime Organizado 
– África 2019:
Existem muitos Estados na África que têm uma forte 
presença de redes do crime organizado, mas que, no 
entanto, não vivenciam o crime organizado mafioso que se 
vê em muitos países latino-americanos. Esta é a realidade 
em países como Togo, Guiné-Bissau e Costa do Marfim, 
entre outros, onde as redes criminosas desempenham um 
papel proeminente no ecossistema do crime organizado, 
mas onde grupos mafiosos ou não existem ou não 
desempenham mais do que um papel secundário.
 (ENACT, 2019, p. 66, tradução nossa)
Siga para o próximo tópico para conhecer a história da máfia italiana 
e entender por que sua estrutura passou a ser referência para outras 
organizações criminosas.
2.1.1 QUE MÁfia iTaliaNa é ESSa, EM SEU 
SigNificaDO ORigiNal, PURO OU bRUTO?
Segundo a Enciclopédia Britânica (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 
1998), a máfia surgiu na Sicília, no final da Idade Média (476 d.C. a 
1453). De início, tratava-se possivelmente de uma organização se-
creta que tinha por objetivo proteger os habitantes locais ao serem 
atacados por conquistadores estrangeiros, entre os quais estavam os 
sarracenos, os normandos e os espanhóis.
glossáRio
Sarracenos são árabes ou muçulmanos. 
Normandos é o povo germânico 
descendente dos viquingues.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 20
Os proprietários de terras, por vezes ausentes de suas propriedades, 
contratavam pequenos exércitos particulares, também denominados 
mafie, para proteger as respectivas propriedades ao longo do tempo em 
que boa parte da Sicília permaneceu semlei. Esses grupos de enfren-
tamento são considerados a origem da máfia na ilha. Você consegue 
ver alguma semelhança da mafie com as milícias brasileiras?
Os diversos reinos que formavam a Espanha, durante a 
Reconquista aos mouros invasores, proveram, conforme a 
época, distintos corpos de milícia destinados não à guerra, 
e sim à segurança interna de seus súditos. Por agruparem 
pessoas que verdadeiramente se consagravam à caça dos 
malfeitores, ao patrulhamento das terras e cidades, e à 
apuração dos delitos, e à proteção do povo contra eventuais 
desmandos de senhores feudais e autoridades locais, tais 
corpos policiais foram chamados de irmandades, fraternidades.
(BRODBECK, 2010)
De acordo com Nelli (1981, p. 4), os ditados dos camponeses locais 
refletem essa “disputa” entre a cultura e a lei, e restava recorrer 
ao código de comportamento pessoal individualizado. Entre esses 
ditados, estão:
 � “As galés são para os pobres”.
 � “Os tribunais são para os tolos”.
 � “Quem tem amigos pode riscar a lei”.
 � “Um peixe morto começa a cheirar mal pela cabeça”.
 � “Aquele que rouba do rei (do estado) não comete crime”.
 � “O porco gordo não paga impostos”.
Todos esses ditados refletem, de forma ou de outra, metáforas sobre 
como a corrupção se estabelece no topo. Já durante os séculos XVIII 
e XIX, os líderes desses pequenos exércitos ganharam tanto poder e 
prestígio que acabaram por se voltar contra os próprios proprietários 
de terras que antes os contratavam para proteção.
Nesse cenário, surge um dos principais elementos característicos da 
máfia: a cobrança (extorsão) por proteção.
glossáRio
Galés são navios movidos a remo nos 
quais prisioneiros agrilhoados executavam 
trabalhos forçados. 
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 21
Foto: © [motortion] / Adobe Stock.
Uma das razões para a máfia siciliana ter sobrevivido aos sucessivos 
governos estrangeiros na ilha estava no despotismo dos invasores. 
Para gerações e gerações de sicilianos, as práticas da máfia, baseadas 
em códigos morais complexos, eram mais toleráveis do que as arbi-
trariedades perpetradas pelos estrangeiros invasores.
2.2 a omertà
A omertà é um traço importante da máfia e do crime organizado do sul 
da Itália, dos quais são exemplo as famílias mafiosas ‘Ndrangheta, 
Camorra, Cosa Nostra e Sacra Corona Unita.
 � Camorra (máfia napolitana)
A Camorra apareceu pela primeira vez em meados de 1800 em Ná-
poles, Itália, como uma gangue de prisão – a palavra “Camorra” 
significa gangue. Depois de libertados, os membros formaram clãs 
nas cidades e acabaram por se tornar o maior dos grupos italianos 
do crime organizado.
 � Sacra Corona Unita
Sacra Corona Unita – traduzida como “Coroa Sagrada Unida” – 
no final dos anos 1980. Como outros grupos, começou como uma 
gangue de prisão. Quando seus membros foram libertados, eles se 
estabeleceram na região de Puglia, na Itália, e continuaram a cres-
cer e formar ligações com outros grupos da máfia.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 22
Na imagem a seguir, você pode ver as características da Máfia italiana.
A MÁFiA ITALiANA
OMERTÀ
Código de Silêncio.
Ninguém na Sicília fala sobre a Máfia porque 
sabe e teme a punição.
“A melhor palavra é aquela que não se diz”.
Punível com a morte.
Segundo a Enciclopédia Britânica, o código moral da máfia era ba-
seado no princípio da omertà. Etimologicamente, a palavra omertá 
está relacionada à virilidade, à qualidade de ser homem; ou na prática 
de resolver os problemas entre seus iguais.
Omertà significa a obrigação de nunca solicitar justiça às 
autoridades legais e nunca ajudar o Estado, de forma nenhuma, 
na elucidação de crimes cometidos contra si ou contra terceiros.
Trata-se de um código de honra que impõe o silêncio perante as 
ações das autoridades na elucidação de crimes. Igualmente, omertà 
também diz respeito à não interferência nas ações ilegais de outros.
A vingança deveria ser privada, e o direito de vingar os males sofridos 
estava reservado aos ofendidos e, principalmente no caso de assassi-
nato, às famílias da vítima. Quebrar o código de silêncio fatalmente 
levava a represálias da máfia.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 23
A omertà possivelmente possui resquícios de elementos da sharia 
islâmica, especialmente no que toca ao fato de a família da vítima 
de homicídio opinar sobre a pena do autor.
Conheça, a seguir, a história do Império Islâmico, a influência do 
Califado Fatímida e a Sicília. 
glossáRio
A sharia (em árabe, “legislação”) é o 
direito islâmico.
Entre os séculos VII e VIII, o Império Islâmico alcançou sua 
maior extensão territorial, abarcando terras desde a Ásia 
Central até a Península Ibérica, passando pelo norte da 
África. Dentro deste vasto território, em que imperava a 
sharia islâmica, encontrava-se justamente a Sicília. 
Por mais de um século a Sicília esteve sob total domínio árabe. 
O Emirado da Sicília foi um emirado situado na ilha da Sicília e 
em algumas partes do sul da Itália que existiu de 965 a 1072, 
nessa época a ilha era dominada pelo Califado Fatímida.
Califado é a forma islâmica monárquica de governo, 
representa a unidade e liderança política do mundo 
islâmico. O Califado Fatímida foi formado com a ascensão 
da dinastia dos Fatímidas, uma dinastia xiita ismailita 
constituída por catorze califas.
Entretanto, a influência islâmica na ilha não cessou com 
a perda do poder formal do califado, ela se perpetuou por 
séculos, influenciando a Sicília e, a partir dela, boa parte 
da Europa, em todos os sentidos, inclusive o cultural e o 
acadêmico. Segundo a plataforma Iqara Islam, foi através 
da Sicília, pela Espanha, que ideias e conhecimentos foram 
transmitidos para Europa. Mesmo durante as cruzadas, 
monarcas latinos patrocinaram estudos muçulmanos. 
O Rei Roger II da Sicília não só continuou a Universidade em 
Palermo, que foi realizada por muçulmanos, mas também 
patrocinou em sua corte o conhecido geógrafo Dreses 
(Abu Abdulá Maomé Idrissi), que foi um dos melhores 
estudiosos da época.
PodcAst TRaNScRiTO
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 24
Mafioso não pode roubar outro mafioso. Mafioso deve 
obediência cega ao ‘padrinho da família’, entenda-se: 
o chefão da quadrilha. Mas se um mafioso rouba e/ou mata 
um não mafioso, está tudo bem. É escusado dizer que todas 
as regras da omertà não admitem reciprocidade em relação 
aos não mafiosos. Só valem para uso interno. Tal como a 
‘ética’ muçulmana, ela só tem validade para um grupo ou 
comunidade humana, não para quaisquer outros fora dela. 
E é justamente por isso que tanto as regras dos muçulmanos 
como as da Máfia não são universalizáveis, mediante 
regras gerais tais como: ‘Não matar’, ‘Não roubar’, 
‘Não prestar falso testemunho’, etc. extensíveis a todos os 
seres humanos sem exceção.
(GUERREIRO, 2014)
Perceba que a moral na omertà é instrumental e casuística. A narrativa 
moral da omertà se aplica à imposição do silêncio e também a todos os 
demais atos da máfia. Nesses termos, estamos muito mais diante do 
fenômeno psicossocial denominado desengajamento moral (IGLE-
SIAS, 2008) do que diante da moral filosófica tradicional.
Vamos relembrar os pontos principais?
glossáRio
Desengajamento moral é o conceito 
utilizado para explicar como as pessoas se 
liberam de seus padrões morais para infligir 
ações danosas a outros, sem que se sintam 
culpadas por sua conduta não moral.
Moral é o conjunto de valores, de normas 
e de noções do que é certo ou errado, 
proibido e permitido, dentro de uma 
determinada sociedade, de uma cultura. 
Além da participação da família da vítima na definição da pena do 
assassino, o código de moral da máfia siciliana tinha outro elemento 
em comum com o código moral mulçumano: tanto as regras da máfia 
quanto as regras do Islã não são universais. Elas valem somente para 
seus semelhantes. Nesse sentido, segue um trecho do texto “Os quatro 
fundamentos do islamismo”.Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 25
Um código de honra.
A família da vítima definia a pena do assassino.
As regras não universais, válidas somente para 
seus semelhantes.
A imposição do silêncio.
O código de silêncio era fatal se fosse quebrado.
O direito à vingança era reservado aos ofendidos.
| ElEMENTOS cOMUNS ENTRE a MÁfia E O 
cóDigO MUçUlMaNO
Avance para próximo item e veja a história da máfia no decorrer do 
século XX. 
2.3 a MÁFia nO SÉCULO xx
Por volta de 1900, as várias “famílias” da máfia e grupos de famílias 
com base nas aldeias do oeste da Sicília haviam se unido em uma 
confederação independente e controlavam a maioria das atividades 
econômicas em suas respectivas localidades.
Enquadre no seu celular 
ou tablet o código de 
REALIDADE AUMENTADA 
do aplicativo Zappar para 
assistir ao vídeo sobre a 
história da máfia na Sicília 
durante o século XX.
RA
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 26
Na era fascista de Benito Mussolini, a máfia chegou perto de ser eli-
minada por conta da prisão e do julgamento de milhares de supostos 
mafiosos e a longas penas de prisão que receberam.
Passada a Segunda Grande Guerra (1939-1945), os mafiosos foram 
libertados junto com presos comuns e presos políticos. Daí, as organi-
zações mafiosas foram se estruturando e ganhando força. Entretanto, 
o protagonismo da máfia acabou se deslocando das zonas rurais da 
Sicília para as áreas urbanas de Palermo. Assim, a extorsão, antes 
centrada na proteção de propriedades rurais, ganhou a indústria, 
o ramo dos negócios, a construção civil e o contrabando tradicional.
Já no final da década de 1970, a máfia de Palermo, em definitivo, 
acrescentou o narcotráfico ao seu portfólio de crimes, envolven-
do-se no refino e no transporte de heroína para os Estados Unidos 
da América (EUA). Essas operações lucrativas terminaram por gerar 
uma competição mortal entre os clãs da máfia. A onda de assassinatos 
que resultou dessas disputas levou as autoridades governamentais a 
agirem com firmeza na condenação e na prisão dos líderes da máfia. 
Um marco dessa reação por parte do Estado foi o “julgamento má-
ximo” de 1987, onde 338 mafiosos sicilianos foram condenados.
O julgamento máximo, de 1987. 
Foto: Descobrindo a Sicilia.
glossáRio
Fascismo é uma ideologia 
ultranacionalista e ditatorial, suprimindo 
a oposição pela força com suporte da 
sociedade e da economia. 
Benito Mussolini foi líder do fascismo 
italiano. Assumiu o poder em 1922, no qual 
permaneceu até ser executado, em praça 
pública, em 1945.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 27
1900
1945 - 1970
1970
1987
1939 - 1945
As várias “famílias” da máfia 
haviam se unido em uma 
confederação independente e 
controlavam a maioria das 
atividades econômicas. A máfia chegou perto de 
ser eliminada por conta das 
prisões realizadas na era 
fascista de Mussolini.
A máfia de Palermo 
acrescentou o 
narcotráfico ao seu 
portfólio de crimes, 
transportando heroína 
para os EUA.
Um marco na repressão à 
máfia foi a condenação de 
338 mafiosos sicilianos no 
“julgamento máximo”.
As organizações 
mafiosas foram se 
estruturando e 
ganhando força na 
cidade de Palermo.
Vamos relembrar o percurso histórico da máfia no século XX? Confira:
Siga seus estudos e veja no tópico as influências da máfia italiana nas 
organizações criminosas estadunidenses do século XX.
2.4 MeTÁSTaSe: a MÁFia iTaLiana eM 
SOLO nORTe-aMeRiCanO
Você sabe o que é a metástase? Esse termo médico é utilizando quando 
o câncer se dissemina além do local onde começou para outras partes 
do corpo. Você pode pensar na metástase como uma metáfora do 
processo de ‘migração’ da máfia na Itália para os EUA.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 28
Como isso aconteceu? Alguns dos imigrantes italianos chegados aos 
Estados Unidos da América e à América Latina entre os séculos XIX e 
XX tinham influência da cultura mafiosa. Particularmente durante a 
década de 1930 nos Estados Unidos da América, passaram a imitar a 
cultura mafiosa no enfrentamento de grupos rivais, como as gangues 
de irlandeses e de judeus.
Foto: © [Николай Григорьев] / Adobe Stock.
Nelli (1981), no livro “The Business of Crime: Italians and Syndicate 
Crime in the United States”, detalha os tipos de crimes que preva-
leciam nos enclaves de imigrantes italianos nos Estados Unidos dos 
anos 1930.
Como a maioria dos crimes comuns ocorridos na época, assim como 
vemos hoje, o crime italiano era mais frequente e visível na cena 
urbana marcada pela pobreza e pela desordem física e social.
Era um contexto criminal nos moldes das subculturas criminais, 
muito caracterizado por meninos formados em gangues de rua a 
gangues criminosas. Contudo, nenhuma dessas gangues era muito 
grande até que a Lei Seca trouxe o Grande Salto para a Frente, a um 
nível que Nelli denominou de “crime empresarial”.
glossáRio
A Lei Seca foi uma legislação norte-
americana de 1920 relativa aos temas da 
pobreza e violência. Por intermédio da 18ª 
Emenda constitucional, ficou estabelecida 
a proibição da fabricação, comércio, 
transporte, exportação e importação de 
bebidas alcoólicas nos Estados Unidos da 
América. A emenda vigorou de 1920 até 1933.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 29
Você sabe quem foi Al Capone? Ele foi sem dúvida o gângster 
norte-americano mais famoso da história. Ele dominou o 
crime organizado na cidade de Chicago, no estado de Illinois. 
Durante o período da Lei Seca nos Estados Unidos, Al Capone 
ganhou muito com o mercado ilegal de bebidas, além de 
mandar matar muitas pessoas. Iniciou sua carreira de delitos 
na sexta série do ensino básico, deixando sua escola no 
bairro do Brooklin da cidade de Nova Iorque para juntar-se 
aos criminosos daquele mesmo bairro. Uma briga de rua 
resultou numa marca em seu rosto, a qual lhe valeu o apelido 
de Scarface, cara de cicatriz em português. Aos 28 anos tinha 
uma fortuna que era estimada em 100 milhões de dólares, 
fruto de atividades ilícitas como o jogo e a prostituição. 
Foi preso em 1931 por não pagar impostos, condenado 
a 11 anos de prisão.
PodcAst TRaNScRiTO
Veja a seguir a história de Al Capone, o maior gângster da história 
dos Estados Unidos:
O relato de Nelli (1981) dá sentido a muitos incidentes e assassinatos, 
que são interpretados a partir da lógica de atuação da máfia. O autor 
também diferencia lugares e descreve indivíduos emblemáticos e 
seus talentos, como o cérebro de Torrio, e a brutalidade de Al Capone, 
que permitiram a esses e outros sujeitos se tornarem verdadeiros 
ícones do crime. 
Caso você queira ter acesso aos detalhes da vida Al 
Capone, uma das maiores personalidades da máfia 
italiana nos Estados Unidos da América, recomendamos 
que você assista ao documentário, disponível no link: 
https://www.youtube.com/watch?v=U94_aHnn4oo.
Dica DE MíDia
Já em 1933, após o fim da Lei Seca, os mafiosos deixaram as atividades 
ligadas ao comércio ilegal de bebidas alcoólicas, passando a explorar 
atividades igualmente criminosas nas áreas de jogos de azar, extorsão 
no ambiente trabalhista (em função de um sindicalismo exacerbado), 
prostituição, agiotagem e drogas.
https://www.youtube.com/watch?v=U94_aHnn4oo
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 30
JOGOS DE AZAR
EXTORSÃO NO
AMBiENTE TRABALHiSTA PROSTiTUiÇÃO
AGiOTAGEM DROGAS LAVAGEM DE DiNHEiRO
Essa “máfia unificada” tornou-se muito poderosa ao “lavar o di-
nheiro sujo” em negócios supostamente legítimos, caso de hotéis, 
empresas da indústria de bebidas e alimentos e do entretenimento 
(ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 1998).
Extensas investigações norte-americanas feitas nas décadas seguintes 
revelaram que o “modelo mafioso italiano” havia sido realmente 
instalado naquele país: ficava exposta a Cosa Nostra, em português 
“Coisa Nossa”. 
Tal modelo de crime organizado estava disseminado por todo o país 
em 24 “famílias”. De maneira maisproeminente foram identificadas 
cinco delas na cidade de Nova Iorque. Cada uma dessas famílias 
tinha uma estrutura hierárquica com um capo famiglia, que seria o 
patrão ou chefão, e toda uma sequência hierárquica organizacional. 
Como no mundo empresarial e lícito, os profissionais dessas “fa-
mílias” se organizavam em linhas de coordenação, supervisão e 
execução de seus negócios ilícitos e violentos. Os capos eram figuras 
de destaque nesse modelo. Também chamados de capitães, serviam 
de anteparo entre os agentes do escalão inferior e o próprio capo 
famiglia. Em outras palavras, os capos protegiam o chefe de ter sua 
imagem diretamente associada com ilicitudes.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 31
| ESTRUTURa hiERÁRQUica MafiOSa
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 32
Nos dias atuais, a Cosa Nostra não dá mais sinais de expansão ou 
mesmo de atividade. Deserções, chacinas internas e longas condena-
ções de mafiosos como John Gotti levaram esse modelo de organização 
criminosa a uma aparente extinção nos Estados Unidos.
glossáRio
John Joseph Gotti Jr. foi um gângster e 
chefe criminoso da Família Gambino na 
cidade de Nova Iorque.
O jeito americano de viver (American way of life) parece também ter 
contribuído para a extinção da máfia norte-americana, muito pro-
vavelmente pelo fato da não conformidade dessa expressão violenta 
do crime organizado com o ambiente político e socioeconômico dos 
Estados Unidos da América.
A Cosa Nostra perdeu terreno, apesar de ainda estar viva. 
A principal máfia italiana hoje é a ‘Ndrangheta, calabresa. 
Outras máfias entraram no jogo depois da globalização: russos, 
turcos, nigerianos, chineses. O crime é hoje mais pulverizado e 
existe menos concentração de poder. Mas o negócio continua 
o mesmo: onde os Estados fazem leis para proibir algum tipo 
de comércio, as máfias entram com o tráfico, de drogas a seres 
humanos. Elas são parte da economia, e o giro de dinheiro 
empreendido por elas afeta a todos nós.
(DEMORI, 2016)
E o caso da Cosa Nostra não é isolado: a própria máfia italiana não 
possui as exatas características do passado.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 33
Assim, vale destacar que a palavra “máfia” deve ser entendida 
como a organização específica do grupo italiano. Quando usada 
para adjetivar organizações criminosas atuais, o termo mafioide 
demonstra que aquela organização possui características 
semelhantes com as organizações mafiosas do passado, e não uma 
identidade absoluta.
Para você compreender melhor essa diferença entre máfia e orga-
nizações mafioides, veja a seguir os atributos que caracterizam uma 
organização criminosa mafioide:
Atributo Descrição
 1. Autojustificação moral Prática de crimes para evitar agressões “maiores” a uma 
comunidade que supostamente se quer proteger.
2. Organização em rede Permeabilidade das organizações criminosas ao longo de 
grandes territórios ou mesmo de todos eles (globalização ou 
translocalização do crime).
3. Severa organização hierárquica 
e disciplinar
O equivalente a chefes, conselheiros, capos, soldados, 
dependendo das denominações locais.
4. Existência de um capo famiglia Figuras máximas na estrutura de comando: “poderosos chefões” 
na alusão real e até mesmo ficcional a eles.
5. Mistura de negócios lícitos e ilícitos Uso de negócios legais (restaurantes, bares, transportadoras, 
etc.) para ocultar negócios ilegais. Crimes perpetrados em 
conexão com políticos, financistas, sindicalistas, doleiros, 
operadores do direito, etc.
6. Lavagem de dinheiro, evasão fiscal 
e semelhantes
Aquisição de bens de luxo, manutenção de negócios comuns (como 
pizzarias, comércios diversos, etc.). Articulação de fuga de capitais 
para organizações bancárias estrangeiras, evasão fiscal, etc.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 34
Atributo Descrição
7. Omertà “Códigos de Silêncio” frente a justiçamentos, chacinas; 
estatutos de crime; demonização da polícia, etc.
 8. Recurso à violência Ameaças, agressões, sequestros, homicídios (incluindo 
chacinas), justiça própria (morte ou punições).
9. Corrupção de agentes públicos Cooptação de agentes públicos ou infiltração de membros da 
organização na estrutura do Estado (inclusive pelo processo 
político eleitoral).
Como você pôde observar, uma das principais características das 
organizações mafioides está em sua forma de organização em rede. 
Nesse sentido, Canter e Youngs (2009) fazem uma alusão interessante 
ao crime organizado em sua obra “Investigative Psychology: Offender 
Profiling and the Analysis of Criminal Action”. 
Segundo os autores, a maioria dos criminosos faz parte de uma ou 
mais redes de delinquentes. Estes são grupos com vínculos fracos 
entre si, que possuem contato ocasional um com o outro de tempos 
em tempos, mas em alguns casos podem espelhar a estrutura hie-
rárquica e atribuições de papel de organizações legítimas, uma das 
características das organizações mafioides, como no atributo número 
3, apresentado no quadro acima.
Tais variedades de estruturas organizacionais paralelas revelam 
propriedades importantes de como operam, como a existência de um 
grupo informal fechado, indivíduos-chave na rede de comunicação 
ou, até mesmo, a existência de indivíduos isolados.
Todos esses aspectos de redes ilegais revelam vulnerabilidades 
potenciais que podem ser alvo de agências policiais em uma estratégia 
que pode ser pensada como psicologia organizacional destrutiva. 
Como exemplo de estratégias do tipo, estariam as ações de redução 
da oferta de drogas centradas no desmantelamento de grupos 
criminosos com base em informações obtidas nas redes sociais.
Um exemplo dessa estratégia pode ser a análise de redes sociais.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 35
Foto: © [aleksandarfilip] / Adobe Stock.
Todos esses atributos são vistos em outras organizações criminosas 
do restante do mundo, razão pela qual elas são vistas como a res-
pectiva materialização e transcendência da máfia propriamente dita. 
Essas organizações são chamadas de “mafioides” por constituírem 
“padrões” originalmente detectados na máfia.
Vale destacar que tais atributos e a respectiva materialização/mani-
festação constituem “padrões” do fenômeno criminológico, do qual 
trata a disciplina da Análise Criminal (AC).
A AC é o estudo de ocorrências policiais; a identificação 
de padrões, tendências e problemas; e a disseminação de 
informação que contribui para que uma agência policial 
desenvolva tática e estratégia para resolver questões 
pertinentes aos mesmos padrões, tendências e problemas.
(BRUCE, 2004, p. 411, tradução nossa)
A Análise Criminal é uma disciplina da área de segurança pública que 
provê apoio de informação para as missões das instituições policiais 
ou do sistema de justiça criminal. Ela envolve:
 � O estudo de ocorrências criminais.
 � A identificação de padrões.
 � Tendências e problemas do crime. 
A AC é um conjunto de processos direcionados na promoção de in-
formações importantes sobre padrões do crime e correlações. Essas 
informações servem de apoio para as áreas operacionais e adminis-
trativas no planejamento e na distribuição de recursos para prevenir 
e suprimir atividades criminais, auxiliando o processo investigativo 
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 36
e aumentando o número de prisões e de esclarecimentos de casos 
(GOTTLIEB, 1994).
A disseminação de informação obtida deve ser disponibilizada de uma 
forma que a instituição possa desenvolver táticas e estratégias para 
resolução de questões relativas a padrões, tendências e problemas 
(MACA, 2005).
Por sua vez, o padrão diz respeito a duas ou mais ocorrências re-
lacionadas a um fator causal comum, usualmente com respeito ao 
autor, local ou “alvo” (pessoa ou coisa). Padrões usualmente são 
fenômenos de curta duração, ainda que nem sempre se apresentem 
assim (BRUCE; IACA, 2004).No contexto da Análise Criminal, segundo Dantas e Souza (2004), 
existem dois padrões importantes a serem avaliados. A expressão 
padrão corresponde a uma característica da ocorrência de um de-
terminado delito, segundo a qual pelo menos uma mesma variável 
daquela ocorrência se repete em outra ou outras ocorrências, ao longo 
do tempo (antes e/ou depois).
Indica uma propensão 
quantitativa geral de um 
fenômeno da segurança pública, 
que deve ser verificada ao 
longo de uma área por tempo 
suficiente para que a tendência 
possa ser determinada.
Tendência
Pode ser o dia da semana, hora, 
local, tipo de vítima, descrição do 
autor, modus operandi ou outra 
variável qualquer da ocorrência 
sob análise.
Variável repetida 
Tendo em conta que o crime organizado rapidamente se adapta a novas 
oportunidades por serem exploradas, a UNODC devota recursos sig-
nificativos para a pesquisa e análise em proveito do desenvolvimento 
de medidas e instrumentos para mensurar e acompanhar tendências 
das atividades criminais transnacionais.
Coletar fatos e informações sobre o crime é algo especialmente de-
safiador e a UNODC (2010) está trabalhando para desenvolver e re-
finar medidas e padrões para incrementar a habilidade dos governos 
e instituições internacionais nas atividades de coleta e análise de 
dados criminais.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 37
“O Poderoso Chefão” (The Godfather) (1972). O filme 
conta a história de Vito Corleone (personagem fictício), 
chefão da máfia italiana. Durante a história, o poder da 
família Corleone passa de Don Vito (Marlon Brando) para 
seu filho Michael (Al Pacino), após sua morte.
Dica DE MíDia
Avance para a próxima unidade e confira as principais organizações 
mafioides espalhadas ao redor do mundo.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 38
Unidade 3
ORGanIZaÇÕeS CRIMInOSaS naS 
aMÉRICaS
Até agora foi apresentado o contexto histórico que explica o sur-
gimento das organizações criminosas, e você entendeu quem foi a 
máfia, assim como o peso da sua influência sobre outras organizações 
mafioides ao redor do mundo. Mas você saberia dizer quais são essas 
organizações mafioides? Nesta unidade, você vai conhecer as princi-
pais organizações criminosas do continente Americano, com ênfase 
nos Estados Unidos e nos países da América Latina, cujas fronteiras 
estão próximas ao Brasil.
COnTexTUaLiZandO
3.1 eSTadOS UnidOS: O MOViMenTO 
SindiCaL e OS SindiCaTOS CRiMinaiS
Você lembra como a máfia italiana teve uma “metástase” nos Estados 
Unidos, reeditando no país muitas das características que possuía 
no continente europeu? Agora, você terá uma visão panorâmica de 
como os vínculos entre os sindicatos e o crime organizado, sobretudo 
a máfia, se fortaleceram no auge do sindicalismo norte-americano.
Foto: Adaptado de © [aleksandarfilip] 
/ Adobe Stock.
Para compreender melhor o cenário, vale lembrar que um sindicato 
criminal até pode ser constituído por elementos legítimos de orga-
nizações representativas de determinadas classes laborais, porém 
não se limita a esse contexto. 
Historicamente, existe uma persistente relação entre o movimento 
sindical dos Estados Unidos com a máfia e outras expressões do crime 
organizado. Toda essa história se torna ainda mais palpável se narrada 
tendo como pano de fundo a trajetória do sindicalista Jimmy Hoffa.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 39
Jimmy Hoffa. 
Foto: © [Hank Walker] / JOTA.
Veja a história de Hoffa e a do envolvimento do movimento sindical 
americano com a máfia.
Jimmy Hoffa nasceu em 1913, em uma cidade chamada 
Brazil, situada no estado de Indiana. Uma grande 
coincidência. Ele foi um dos líderes sindicais mais 
controversos de seu tempo. Órfão aos sete anos de idade, 
Hoffa mudou-se com a família para Detroit, deixando a 
escola aos 14 anos e começando trabalhar em um armazém. 
Nesse emprego, ele permaneceu por vários anos. Em 1930, 
Hoffa iniciou sua carreira como ativista sindical. Dez anos 
depois, já era o líder do Conselho de Caminhoneiros dos 
Estados da Região Central Norte-americana. Em 1942, 
Hoffa assumiu a presidência do braço da Irmandade 
Internacional dos Caminhoneiros em Michigan, tendo 
alcançado a vice-presidência da organização no início da 
década de 1950. Em 1957, ele se tornou o presidente da 
organização. Curiosamente, Hoffa não era caminhoneiro!
Entre os caminhoneiros, o líder era conhecido pela 
capacidade de negociar duramente com a classe patronal 
da indústria automotiva pesada. Com essa característica, 
ele conseguiu centralizar a administração e a condução 
das negociações do sindicato. Seu poder e influência 
aumentaram quando ele conseguiu criar o primeiro acordo 
entre trabalhadores e empresas do setor de transporte de 
cargas dos Estados Unidos. Isso ajudou a Irmandade a se 
tornar o maior sindicato de trabalhadores do país.
PodcAst TRaNScRiTO
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 40
Nas décadas de 1950 e 1960, a organização sindical Irmandade Inter-
nacional dos Caminhoneiros em Michigan se tornou a maior e mais 
poderosa dos Estados Unidos, com mais de 2,3 milhões de filiados. 
Ela era capaz de parar o país. Hoffa sabia e se utilizava muito bem 
disso. Mesmo que tenha parado de estudar no nono ano do ensino 
fundamental, em matéria de agitação e táticas de enfrentamento, 
Hoffa era mestre. Muito desse conhecimento se deve às suas relações 
com um sindicalista trotskista chamado Farrell Dobbs.
Entre as diversas curiosidades e controvérsias envolvendo Hoffa, está 
o fato de ele nunca ter sido caminhoneiro, em que pese sua trajetória 
como líder de um sindicato de caminhoneiros. Além disso, certamente 
o fato mais controverso em sua biografia está em seus laços com o 
mundo do crime. A própria organização sindical de Hoffa se notabi-
lizou por suas conexões com o crime organizado e com o submundo.
glossáRio
Trotskista, que segue a doutrina de 
Leon Trotsky. Este, ao lado de Lenin e 
Stalin, é um dos três maiores nomes da 
Revolução Comunista ocorrida na Rússia 
em outubro de 1917.
Em 1964, Hoffa foi condenado pela apropriação de 
aproximadamente dois milhões de dólares dos fundos de pensão 
dos trabalhadores sindicalizados. Em sua sentença, também 
pesavam crimes como suborno e fraude. Por isso, ele passou 
cinco anos na cadeia.
Esse tempo na prisão seria maior se Hoffa não tivesse sido libertado 
sob a condição de manter-se distante da vida sindical até 1980 (ano 
em que completaria sua sentença). Contudo, tão logo saiu da cadeia, 
Hoffa reestabeleceu seus laços com a atividade sindical até que, 
misteriosamente, desapareceu em 1975 (JACOBS, 2007). Apesar de 
ninguém ter sido condenado pelo crime, para a Justiça norte-ame-
ricana, Hoffa foi assassinado. Há poucas dúvidas de que o homicídio 
tenha sido cometido pela máfia.
O filme “O Irlandês”, de Martin Scorsese, com Robert 
Niro, Al Pacino e Joe Pesci, tem como enredo central o 
envolvimento do maior sindicato norte-americano com 
a máfia e é uma sugestão para quem se interessa pela 
história recente dos Estados Unidos, o Direito do Trabalho 
e o movimento sindical do país.
Dica DE MíDia
Siga para o próximo tópico e bons estudos.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 41
3.2 UM PaRaLeLO COM O BRaSiL
Em que pesem as significativas diferenças entre a organização política 
do Brasil e dos Estados Unidos da América nos anos 1930, na época 
as fontes que inspiraram os contornos legais da organização sindical 
em ambos os países eram as mesmas.
A unicidade sindical
A organização confederativa 
das representações sindicais
O papel moderador 
do Estado
| PilaRES DE REPRESENTaçãO TRabalhiSTa
Os pilares da representação trabalhista adotados pelos governos 
de Getúlio Vargas e Franklin Delano Roosevelt foram idênticos: 
a unicidade sindical, ou seja, a existência de um sindicato por cate-
goria profissional, a organização confederativa das representaçõessindicais e o papel moderador do Estado em face das disputas entre 
patrões e empregados. 
Dentro desse modelo, órgãos governamentais legitimavam sindi-
catos que recebiam a chancela de serem representações oficiais dos 
trabalhadores. Por sua vez, essas organizações se aglomeravam em 
forma de confederação, sob estruturas rigidamente hierarquizadas.
O resultado dessa política, no Brasil e nos Estados Unidos, foi a 
proliferação exponencial de estruturas sindicais, muitas vezes 
à custa de corrupção. Ao longo das décadas, esse modelo sofreu 
significativas alterações entre os norte-americanos, contudo no 
Brasil preserva muitas de suas características originais. 
A prova disso é a enorme quantidade de representações de natureza 
sindical no Brasil: 11.257 sindicatos de trabalhadores (GALUPPO, 
2019), número que supera, mais que triplamente, a quantidade de 
prefeituras em nosso país. Para que você tenha uma dimensão do 
que isso significa, lembre-se de que no Brasil há 5.570 municípios.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 42
Veja na reportagem a seguir a investigação da PF sobre 
indícios de esquema de venda de registros sindicais ao 
Ministério do Trabalho, disponível em: https://www.
gazetadopovo.com.br/politica/republica/pf-coloca-sob-
suspeita-criacao-de-150-sindicatos-e-divulga-email-
para-denuncias-btu08hygldhe1fs9xg39qkkmc/.
Saiba MaiS
Durante o Estado Novo, os sindicatos no Brasil foram mantidos sob 
controle do Governo Central. Depois da Era Vargas, o controle governa-
mental das lideranças sindicais passou a ser mais sutil, mais indireto.
Esse controle passou a ser realizado ora por aquilo que Smith (2000) 
denominou de “Acordo Forçado”, ora pela distribuição de cargos pú-
blicos para líderes sindicais. Já nos Estados Unidos, essas estruturas 
possuíam bastante independência, elas podiam, inclusive, administrar 
os fundos de pensão de seus membros.
Isso garantiu poder e influência para líderes como Hoffa, que podiam 
escolher onde investir milhões de dólares, incluindo na construção 
de hotéis e de cassinos. O que acabou chamando a atenção da Máfia 
(JACOBS, 2007). Outro fato curioso é que, na história recente do Brasil, 
recursos dos fundos de pensão dos trabalhadores, no caso de estatais, 
também foram objeto de más administrações de dirigentes em dife-
rentes posições após trajetórias de sucesso no movimento sindical.
O encontro da máfia ítalo-americana com o movimento sindical gerou 
ganhos recíprocos.
glossáRio
O Estado Novo foi a terceira e última fase 
da Era Vargas. Durou de 1937 a 1945. 
A característica principal do Estado Novo 
era o fato de ter sido propriamente um 
regime ditatorial inspirado no modelo 
nazifascista europeu, em voga na época.
ANTES
Mafiosos eram contratados pelos patrões 
para colocar fim a greves e agitações.
A máfia contava com a estrutura 
logística e administrativa dos sindicatos 
para levar a cabo seus negócios.
DEPOiS
Mafiosos passaram a servir à 
causa dos sindicatos.
Gângsteres da máfia passaram a 
participar ativamente do quotidiano 
dos sindicatos.
| aNTES E DEPOIS DaS ORgaNIZaçÕES MafIOIDES NOS EUa
https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/pf-coloca-sob-suspeita-criacao-de-150-sindicatos-e-divulga-email-para-denuncias-btu08hygldhe1fs9xg39qkkmc/
https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/pf-coloca-sob-suspeita-criacao-de-150-sindicatos-e-divulga-email-para-denuncias-btu08hygldhe1fs9xg39qkkmc/
https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/pf-coloca-sob-suspeita-criacao-de-150-sindicatos-e-divulga-email-para-denuncias-btu08hygldhe1fs9xg39qkkmc/
https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/pf-coloca-sob-suspeita-criacao-de-150-sindicatos-e-divulga-email-para-denuncias-btu08hygldhe1fs9xg39qkkmc/
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 43
De um lado, porque os elementos mafiosos que outrora eram contra-
tados pelos patrões para colocar fim a greves e agitações passaram a 
servir à “causa” dos trabalhadores. 
Por outro lado, porque, sobretudo durante a Lei Seca, a máfia contava 
com a estrutura logística e administrativa dos sindicatos para levar a 
cabo seus negócios. Isso envolvia, por exemplo, tanto a lavagem de 
dinheiro quanto o emprego de caminhões e respectivos motoristas 
para o contrabando de bebidas alcóolicas. Porém, nesse processo, os 
gângsteres da máfia passaram a participar ativamente do quotidiano 
dos sindicatos, contribuindo para que chefões como Hoffa se perpe-
tuassem no poder, nem que fosse à custa do assassinato de oponentes.
O processo, segundo Jacobs (2007), é o mesmo que permitiu à Cosa 
Nostra alcançar poder, influência e notoriedade. Confira:
1O O O2 3
A organização 
infiltra-se no 
movimento 
trabalhista.
A família mafiosa 
consolida seu poder 
por meio de fraudes e 
da violência.
Esse poder é usado 
para que a família se 
torne parte da 
estrutura do poder 
político e econômico 
do ambiente urbano.
| PROcESSO DE iNfilTRaçãO NO MOviMENTO SiNDical
Primeiro, a organização conseguiu se infiltrar no movimento traba-
lhista; depois, a família mafiosa conseguiu consolidar seu poder por 
meio do patrocínio de fraudes e da violência; finalmente, todo esse 
poder foi usado para que a família pudesse se tornar parte da estru-
tura do poder político e econômico do ambiente urbano dos Estados 
Unidos no século XX.
Nesses termos, a Cosa Nostra é historicamente referida como “sindicato 
do crime”, numa alusão, em exagero, a sua estrutura, seu desdobra-
mento nacional, número de afiliados etc. O vínculo da organização, 
de fato, com os sindicatos é muito mais tênue do que qualquer alusão 
metafórica com os sindicatos propriamente ditos, não obstante a his-
tória de ambos com o crime se mostrarem intimamente intrincadas.
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 44
3.3 PRinCiPaiS ORGaniZaÇÕeS 
CRiMinOSaS LaTinO-aMeRiCanaS 
(PaRTe 1)
Você sabia que existe uma plataforma digital que se dedica ao estudo 
do crime organizado na América Latina e no Caribe? A plataforma 
InSight Crime divulga o conteúdo da fundação InSight, e considera 
que o crime organizado é a principal ameaça à segurança nacional e 
à cidadania na região. 
A plataforma informa que sua missão é aprofundar o debate sobre 
o crime organizado na América Latina e no Caribe, proporcionando 
informações periódicas, análises e investigações sobre o tema e as 
iniciativas empreendidas pelos países da região para enfrentá-lo.
Entre as principais iniciativas utilizadas para cumprir sua missão, 
a plataforma produz investigações e informações sobre o crime orga-
nizado e suas múltiplas manifestações, incluindo seu impacto sobre os 
direitos humanos, os governos, a política de drogas e outros problemas 
sociais, econômicos e políticos. Além disso, há o desenvolvimento de 
uma rede de investigadores que estudam o crime organizado. 
Em 2020, a InSight Crime organizou uma lista com as dez organizações 
criminosas com maior poder e influência na região. Para chegar a essa 
lista, a fundação apurou, de forma metodológica, a definição de dez 
categorias que permitiram comparar as organizações entre si. Confira:
Fonte: Wikipedia.
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 45
Indicador Definição
1. Estrutura Estrutura político-militar que garante resiliência e coesão 
à organização.
2. Liderança central Poder centralizado em um líder ou em um grupo de líderes, 
a exemplo das organizações mafioides.
3. Identidade/ideologia Identidade, código ou ideologia que facilita o recrutamento de 
novos integrantes, com vistas ao fomento de uma reputação e 
de uma marca própria garantindo a lealdade de seus membros. 
As estruturas criminosas com maior êxito ao longo da história, 
como a máfia siciliana e a Yakuza, criaram uma mitologia 
que se traduz em um estrito código de conduta que inclui, 
inclusive, ritos de iniciação. Trata-se, em última instância, de 
justificativas morais calcadas em ideologias como o marxismo-
leninismo, ou em ideologiasde defesa de território, como 
vimos no nascedouro da máfia siciliana.
4. Poderio econômico Corresponde não somente à acumulação de poder econômico, 
mas também à diversidade do portfólio criminal e à capacidade 
de absorver perdas. Nessa categoria também se encontra a 
capacidade que a organização possui de lavar dinheiro.
5. Penetração no Estado Capacidade que a organização possui de evitar que o Estado 
não interfira negativamente ou contribua com seus negócios. 
Isso é possível pela corrupção ou pela infiltração de criminosos 
na estrutura do Estado, inclusive por vias legítimas, tais quais 
eleição, nomeação em cargos comissionados, nomeação em 
conselhos e assinatura de contratos.
6. Ameaças ou exercício da violência A violência e o crime organizado são quase que indivisíveis na 
América Latina. Na ausência de recursos legais para o cumprimento 
de acordos, a reputação violenta constitui elemento-chave para a 
realização dos negócios.
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 46
Indicador Definição
7. Efetivo e capacidade militar Quantidade de combatentes que a organização possui à sua 
disposição e capacidade de realizar operações sofisticadas e precisas 
ao estilo militar para facilitar e proteger os empreendimentos 
criminais. Esse critério também envolve o treinamento de novos 
agentes do crime para a realização dessas atividades.
8. Alianças criminais Capilaridade e capacidade de se articular em rede com outras 
organizações criminais.
9. Influência territorial e governança 
criminal
Capacidade de controlar áreas geográficas (territórios). 
Isso envolve o controle de rendas ilegais e o impedimento de 
invasões por grupos rivais. Além disso, há a criação de governos 
paralelos com a cobrança de taxas e a aplicação da justiça privada 
(tribunais do crime, justiçamentos etc.)
10. Longevidade Tempo de existência do grupo criminoso.
Metodologia Empregada pela InSight Crime para 
medir e comparar os grupos criminosos que atuam 
na América Latina e no Caribe. 
Fonte: InSight Crime (2020).
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 47
O resultado da pesquisa realizada pela plataforma acerca das dez maiores 
organizações criminosas da América Latina em 2019 foi o seguinte:
Exército Nacional de Libertação (ENL)
Primeiro Comando Capital (PCC)
Cartel de Sinaloa
Jalisco Cartel Nova Geração (CJNG)
Ex-FARC Máfia
Comando Vermelho (CV)
MS-13
Autodefesas Gaitanistas de Colombia (AGC)
Cartel do Golfo
Barrio 18
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
ESTADOS UNiDOS
EL SALVADOR
MAR 
DO 
CARiBE
OCEANO 
PACÍFiCO
COLÔMBiA
BRASiL
MÉXiCO
1
5
3
4
7
10
9
2
6
8
Fonte: Adaptado de InSight Crime (2020).
Nos tópicos a seguir, você terá a oportunidade de conhecer um pouco 
sobre algumas dessas organizações internacionais, considerando que 
o PCC (número dois no ranking) e o CV (número seis no ranking) serão 
analisados em outro momento. Avance e confira!
Enquadre no seu celular 
ou tablet o código de 
REALIDADE AUMENTADA 
do aplicativo Zappar para 
assistir ao vídeo sobre as 
principais organizações 
criminosas do Brasil.
RA
3.3.1 EXéRciTO DE libERTaçãO NaciONal – 
ElN (cOlôMbia)
São muitas as fontes que tratam do Exército de Libertação Na-
cional da Colômbia (ELN) como objeto de estudo acadêmico ou de 
atenção midiática.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 48
Exército de Libertação Nacional.
 Foto: DW.
Ainda que o ELN não constitua um cartel de drogas explicitamente, ele 
figura, conforme apontado pela organização InSight Crime, no topo 
da lista das dez maiores organizações criminosas da América Latina. 
Todas as outras nove organizações possuem maior ou menor relação 
de pertencimento direto com o narcotráfico. Vale destacar alguns fatos 
acerca do ELN (AFP, 2017). Confira:
O Exército da Libertação Nacional, conhecido pela 
sigla ELN, foi fundado no dia 4 de julho de 1964 por 
sindicalistas e estudantes, muitos dos quais haviam 
recebido formação em Cuba e eram simpatizantes de 
Ernesto “Che” Guevara, teórico e estrategista da guerra 
de guerrilha, figura comunista proeminente na Revolução 
Cubana (1956-1959) e líder guerrilheiro na América do 
Sul. No ano seguinte, se uniu ao ELN o padre colombiano 
Camilo Torres, seguido por três sacerdotes espanhóis, 
entre eles Manuel Pérez, que chegou a comandar a 
guerrilha. Esses religiosos eram expoentes da Teologia da 
Libertação, corrente da Igreja católica latino-americana 
que reivindica a luta a favor dos mais pobres. 
Essa influência religiosa se mantém até hoje. O ELN conta 
com 1.500 combatentes e milhares de milicianos, segundo 
o governo, embora a guerrilha afirme que esse número seja 
muito maior, e é liderado por Nicolás Rodríguez Bautista, 
“Gabino”, que ingressou em suas fileiras quando tinha 
14 anos. Gabino impulsionou uma agenda nacionalista 
centrada no controle dos recursos naturais.
PodcAst TRaNScRiTO
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 49
O ELN tem como alvos militares a infraestrutura energética e as 
transnacionais presentes no país, além de recorrer ao sequestro e à 
chantagem para o seu financiamento. 
O que diferencia o ELN das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia 
(FARC)? As duas guerrilhas foram financiadas pelo narcotráfico, pela 
mineração ilegal, pela extorsão e pelo sequestro. “Se há uma guerrilha 
sequestradora, é o ELN”, afirmou Jorge Restrepo, diretor do Centro de 
Recursos para Análises do Conflito (CERAC).
AS FORÇAS ARMADAS 
REVOLUCiONÁRiAS DA 
COLÔMBiA (FARC):
O EXÉRCITO 
DA LIBERTAÇÃO 
NACIONAL (ELN):
Foram uma organização muito vertical.
Foram desarmadas e convertidas 
em um partido político.
Tiveram maior capacidade de fogo.
Ênfase nas negociações de paz no 
desenvolvimento agrário e na 
repartição de terras.
Tem uma estrutura mais “federada”, 
com voz própria em cada frente.
Tem menor capacidade de fogo.
Sua base social, composta por 
milicianos, é mais ampla.
Ênfase na participação da sociedade 
nos diálogos.
| DifERENçaS ENTRE aS faRc E O ElN
A organização InSight Crime não retrata o ELN de maneira distan-
ciada do narcotráfico. Observe acerca disso em alguns fragmentos 
da matéria dessa organização:
O último exército rebelde da Colômbia é agora o sindicato 
criminoso mais poderoso da América Latina, à medida que se 
expande pela Colômbia e pela Venezuela, aprofundando seu 
envolvimento no tráfico de drogas. O Exército de Libertação 
Nacional tem resistido aos melhores esforços do governo 
colombiano e de seu aliado norte-americano por mais de 
cinco décadas. Amigos em posições importantes em Caracas 
estão ajudando o ELN a se tornar um exército revolucionário 
venezuelano-colombiano, com profundas consequências 
para as duas nações e para o panorama criminoso regional.
(INSIGHT CRIME, 2020)
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 50
É aqui que o ELN se destaca com sua estrutura político-militar, que 
sobreviveu às ofensivas de governos colombianos apoiados pelos EUA, 
paramilitares de direita e outros grupos criminosos colombianos por 
mais de cinco décadas.
Apesar de ter sido quase eliminado várias vezes, o ELN sempre 
se recuperou, reconstruindo e compartimentando ainda mais 
sua estrutura e aumentando sua resiliência a todas as formas de 
ataque. As divisões de combate, ou frentes de guerra (Frentes de 
Guerra), fornecem o quadro estrutural e, em seguida, as frentes 
individuais (frentes) agem como batalhões militares, divididos em 
empresas e unidades.
Não existem outras estruturas criminosas, exceto a ex-máfia das 
FARC, que possam competir com esse tipo de coesão quase militar. 
A natureza das gangues de prisão é resistente, mas fragmentada, 
como o Primeiro Comando da Capital (PCC), Comando Vermelho 
(CV), MS13 e Barrio 18, com base em torno de diferentes prisões e 
diferentes facções, o que significa que eles operam mais como uma 
franquia do que como uma organização centralizada.
O Cartel de Sinaloa, após a captura de Joaquín GuzmánLoera, co-
nhecido como El Chapo, pode ter visto mais poder concentrado nas 
mãos de Ismael Zambada García, conhecido como El Mayo, mas é uma 
federação de elementos diferentes e frequentemente desconectados, 
cada um com grande autonomia e independência de ação.
Agora que você entendeu um pouco mais sobre o ELN e relacionou 
sua atuação com as FARC, siga para os próximos tópicos, neles você 
conhecerá outras organizações, suas características e funcionamentos.
3.3.2 caRTEl DE SiNalOa (MéXicO)
No terceiro lugar no ranking da InSight Crime, temos o Cartel de Sinaloa.
O Cartel de Sinaloa é reconhecido pelo governo norte-americano 
como sendo uma das maiores organizações do narcotráfico no 
mundo. Desde sua fundação, em 1980, a organização foi dirigida 
por um criminoso que ganhou as páginas de livros e jornais, além 
das telas: Joaquín Guzmán, o El Chapo.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 51
O Cartel de Sinaloa é reconhecido pelo emprego de violência ex-
trema, para a consecução de seus objetivos. Sequestros, tortura e 
assassinatos de rivais estão entre as principais práticas do grupo, 
que também se notabilizou por seu arsenal bélico. O próprio El 
Chapo, líder desse verdadeiro império do crime, possuía um fuzil 
Ak-47 de ouro (BBC, 2019).
Em julho de 2019, a organização sofreu um duro golpe. El Chapo foi 
sentenciado pela Justiça norte-americana à pena de prisão perpétua. 
Entre as principais acusações que pesaram na pena, estão o tráfico 
internacional de cocaína, heroína e maconha, além da manutenção 
de uma folha de pagamento da qual constavam traficantes, seques-
tradores e assassinos.
CULiACÁN
PRiNCiPAiS ÁREAS 
GEOGRÁFiCAS
Sinaloa
Tierra Caliente
Tamaulipas
CiDADE DO MÉXiCO
Áreas de influência do Cartel de 
Sinaloa no México. 
Fonte: Adaptado de BBC (2019).
Mesmo com a prisão de El Chapo e a guerra interna e com grupos 
rivais no vácuo do poder, o Cartel de Sinaloa se mantém poderoso 
e influente. Sua presença continua significativa em cidades de uma 
extensa região que vai de Buenos Aires a Nova York.
Homens armados do cartel, incluindo comandos em 
caminhões equipados com metralhadoras de alto calibre, 
conseguiram deter e ameaçar as forças de segurança 
federais e exigir a libertação do filho de El Chapo da 
custódia. [...]. Em 2015, o presidente da McEwan Mining, 
listado em Toronto, causou um pequeno escândalo no 
México depois de dizer que sua empresa geralmente tinha 
um bom relacionamento com grupos do crime organizado 
em Sinaloa, após o roubo de US $ 8,5 milhões em ouro de 
uma das instalações da empresa.
 (FLANNERY, 2020)
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 52
A rede e amplitude de atuação da organização é responsável por ne-
gócios em bilhões de dólares como o tráfico de drogas para os Estados 
Unidos da América, Europa e Ásia.
A série “El Chapo” (Netflix) retrata a ascensão, a captura 
e a fuga do notório chefe do Cartel de Sinaloa, cujo 
verdadeiro nome é Joaquín Guzmán.
Dica DE MíDia
Você sabia que algumas investigações já demonstram ligações entre 
o Cartel de Sinaloa e o Primeiro Comando da Capital? Em 2019, Décio 
Gouveia da Silva, “Decinho”, foi preso em Arraial do Cabo no Rio de 
Janeiro. No telefone de Décio foram encontradas informações que o 
relacionavam com o Cartel de Sinaloa. Décio era o homem de con-
fiança de Marcos Willians Herbas Camacho, “Marcola”, chefe do PCC.
Por meio da prisão de Décio, a polícia chegou ao braço responsável 
pela logística de transporte de drogas realizado por uma célula 
que operava as transações entre o PCC e o Cartel de Sinaloa, sob 
a liderança do empresário português Mauro Cláudio Monteiro 
Loureiro, “Murruga”.
Segundo alguns dados (OBID, 2020), na operação foram apreendidos 
veículos de luxo, cocaína, armas e nove aeronaves. Os aviões faziam 
parte de uma frota utilizada para transporte de drogas, armas e dinheiro.
Aeronaves apreendidas por possível braço conjunto 
do PCC com o Cartel de Sinaloa. 
Foto: UOL.
Conheça a seguir o Cartel de Jalisco, no México, e suas influentes 
rotas de tráfico.
Curso FRoNt
MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 53
3.3.3 caRTEl DE JaliScO – NOva gERaçãO 
(MéXicO)
O Cartel de Jalisco Nova Geração (CJNG) é a quarta organização cri-
minosa no ranking da InSight Crime. Ele também é chamado Los 
Matazetas devido ao ferrenho antagonismo ao cartel Los Zetas. 
JALISCO
AGUASCALiENTES
Guadalajara
Tepic
Colima
MICHOACÁN
COLIMA
NAYARIT
Morelia
Aguascalientes
Jalisco é um dos Estados do México, 
sua capital é Guadalajara. 
Foto: Adaptado de Family Search. 
Para se ter ideia da periculosidade do CJNG, ele já desferiu vários 
ataques contra as forças de segurança mexicanas. O Cartel de Sinaloa 
é um grupo rival do CJNG, e também é supostamente de onde viriam 
suas origens: Essas duas organizações estão envolvidas em uma dis-
puta ferrenha pelo estratégico corredor de distribuição de drogas, que 
vai de Tijuana, no México, a San Diego, na Califórnia (KORTE, 2020).
Proximidade entre 
San Diego e Tijuana. 
BAIXA
CALIFÓRNIA
 DO SUL
BAIXA
CALIFÓRNIA
ESTADOS UNIDOS
MÉXICO
NOVO MÉXICO
COAUiLA 
DE SARAGOÇA
CALIFÓRNIA
ARIZONA
CHIHUAHUA
SONORA
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 54
Segundo um relatório do Departamento de Justiça dos Estados Unidos 
(2019), o CJNG é uma das organizações criminosas que mais crescem 
em poder e influência. Em Guadalajara, o cartel possui centrais de 
distribuição em cidades norte-americanas como Los Angeles, Nova 
York, Chicago e Atlanta. Já em seu país de origem, o grupo está em 
24 dos 32 estados.
| ROTaS DE DROgaS NO MéXicO
ESTADOS UNiDOS
HONDURAS
San Diego
Tijuana
Mexicali
Douglas El Paso
Acapulco
Puerto 
Vallarta
Mazatlan
Culiacan
Lazaro 
Cardenas
Nogales JuarezAgua 
Prieta
McAllen
Tampico
Veracruz
Merida Cancun
Reynosa
Laredo
Nuevo 
Laredo
Cidade do 
México
de origem da Colômbia
de origem da Ásia
de origem da Colômbia, 
Venezuela e Brasil
OCEANO 
PACÍFiCO
GOLFO 
DO 
MÉXiCO
Tráfico de cocaína
Ephedra (utilizada como precursora 
para fabricação de metanfetamina)
Maconha e metanfetamina
Drogas em geral
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MÓDULO 3 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO EXTERIOR 55
Uma das principais estratégias usadas em sua rápida expansão tem 
sido o confronto violento com as forças governamentais mexicanas 
e com os cartéis rivais. O CJNG possui uma longa lista de assassinatos 
de policiais e outros agentes do Estado, além das inúmeras chacinas.
Tal quais outros grupos criminosos do México, o CJNG tem atuado na 
produção, no atacado e no varejo de diversos tipos de drogas, como 
metanfetamina, cocaína, heroína e fentanil.
glossáRio
O fentanil é um semelhante sintético 
da heroína. A substância, originária 
primariamente da China e do México, 
está na categoria das drogas ilícitas mais 
letais em uso abusivo nos Estados Unidos, 
responsável por um elevado número de 
mortes no país e no mundo.
Uma dose letal de heroína (à esquerda) e uma 
dose letal de fentanil (à direita).
 Foto: Fundação para um Mundo Sem Drogas.
Não fugindo à regra vigente na América Latina, o Cartel de Jalisco Nova 
Geração também possui como uma de suas características mafioides 
a busca de legitimação moral nos territórios que controla.
A organização faz isso invocando solidariedade e prometendo livrar 
as áreas das operações de outros grupos criminais, como é o caso dos 
Zetas. Durante a crise do coronavírus, em junho de 2020, por exemplo, 
o CJNG distribuiu brinquedos para crianças em uma comunidade onde 
enfrentava rivais. O grupo também, durante a pandemia, distribuiu 
caixas de itens de primeira necessidade em várias partes do país, 
incluindo Guadalajara, a segunda maior cidade mexicana.
Para saber mais sobre o Fentanil, acesse o link para 
a matéria do G1 sobre parceria entre a PF e a polícia 
dos EUA contra o tráfico internacional de opioides, 
disponível em: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/
noticia/2019/07/16/em-parceria-com-policia-do-

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