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Liberdade de expreessão e o discurso de ódio no contexto digital

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
JENIFFER DE AQUINO BARROS DOS SANTOS
 
  
 
 
 
 
LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O DISCURSO DE ÓDIO NO CONTEXTO DIGITAL
 
 
 
 
  
 
Florianópolis
2018
JENIFFER DE AQUINO BARROS DOS SANTOS
 
  
 
 
LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O DISCURSO DE ÓDIO NO CONTEXTO DIGITAL
 
 
 
 
Seminário apresentado ao Curso de Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito para avaliação na unidade de aprendizagem Abordagem Constitucional dos Direitos.
 
 
Orientadora: Profª. Solange Büchele de S. Thiago, MSc.
Florianópolis
2018
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................4
2 DIREITO DE PERSONALIDADE.............................................................................5 
2.1 CARACTERÍSTICAS E FUNDAMENTOS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE..........................................................................................................5
2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE.................................6
2.3 PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE...........................................6
2.4 ATOS DE DISPOSIÇÃO DO PRÓPRIO CORPO.....................................................7 
2.5 DIREITO Á INTEGRIDADE MORAL......................................................................7
3 DIREITO DE EXPRESSÃO........................................................................................8
3.1 PERÍODO DITATORIAL BRASILEIRO E A REPRESSÃO....................................8
3.2 LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO UM DIREITO CONSTITUCIONAL.......10 
3.3 FUNDAMENTOS DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO.........................................10
3.4 O DISCURSO DE ÓDIO...........................................................................................11 
3.5 LIMITES DA LIBERDADE......................................................................................12
4 CONTEXTO VIRTUAL............................................................................................14
4.1 REDES SOCIAIS.......................................................................................................14
4.2 DISCURSO DE ÓDIO NO CONTEXTO VIRTUAL...............................................14
5 CONCLUSÃO.............................................................................................................17
REFERÊNCIAS.............................................................................................................18
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO
 
O problema do discurso do ódio segue ocupando a agenda das discussões em torno do alcance da proteção da liberdade de expressão e as possibilidades de sua -juridicamente - legítima regulação e limitação. Pior que isso, em se prestando mínima atenção ao que se passa no cenário mundial e no Brasil, o que se percebe é uma tendência de substancial agravamento no que diz com o aumento de tais discursos. Além disso, com a ampliação do acesso à internet e às mídias sociais, a facilidade de veicular manifestações de caráter discriminatório de toda a natureza e mesmo de incitações diretas a atos de segregação e violência praticamente não tem encontrado mais limites quantitativos e territoriais.
Nesse contexto, é compreensível que a preocupação com os limites da liberdade de expressão, designadamente da proibição e mesmo criminalização do discurso do ódio, também aumente e tenha ocupado a política e a esfera judiciária. Uma das dimensões mais relevantes nesse processo é a compreensão mais ou menos restritiva da definição jurídica do discurso do ódio.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 DIREITO DE PERSONALIDADE
 Certas prerrogativas individuais, inerentes à pessoa humana, aos poucos foram reconhecidas pela doutrina e pelo ordenamento jurídico, bem como protegidas pela jurisprudência. 
Os direitos da personalidade são todos os direitos necessários para realização da personalidade e para sua inserção nas relações jurídicas. Os direitos da personalidade são subjetivos, ou seja, oponíveis erga omnes (se aplicam a todos). São aqueles direitos que a pessoa tem para defender o que é seu, como: a vida, a integridade, a liberdade, a sociabilidade, a honra, a privacidade, a autoria, a imagem e outros.
 A personalidade é que apoia os direitos e deveres que dela irradiam, é o primeiro bem da pessoa, que lhe pertence como primeira utilidade, para que ela possa ser o que é, para sobreviver e se adaptar às condições do ambiente em que se encontra, servindo-lhe de critério para aferir, adquirir e ordenar outros bens.
 
2.1 CARACTERÍSTICAS E FUNDAMENTOS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 
Os direitos da personalidade são dotados de características especiais, na medida em que destinados à proteção eficaz da pessoa humana em todos os seus atributos de forma a proteger e assegurar sua dignidade como valor fundamental.	
O nosso Código Civil faz referência apenas a três características dos Direitos da Personalidade:
1) Intransmissíveis: não podem ser transferidos a alguma outra pessoa.   
2) Irrenunciáveis: não podem ser renunciados, ou seja, ninguém pode dizer que não quer mais fazer uso dos seus direitos. 
3) Ilimitados: Os direitos da personalidade são ilimitados porque não há como quantificar, numerar ou nominar todos os direitos da personalidade.
4) Absolutos: o caráter absoluto dos direitos da personalidade é consequência de sua oponibilidade erga omnes. São tão relevantes e necessários que impõem a todos um dever de abstenção, de respeito. Sob outro ângulo, têm caráter geral.
5) Extrapatrimoniais: não podem ser mensurados, atribuídos valores para o comércio jurídico, mas há a autorização de uso de determinados direitos personalíssimos para que o seu titular possa obter algum proveito econômico.
6) Indisponíveis: ninguém pode usá-los como bem entender.
7) Imprescritíveis: ou seja, não tem “prazo de validade”. Podem e devem ser defendidos em juízo ou fora dele a qualquer tempo.
8) Impenhoráveis: são direitos que não podem ser utilizados para o pagamento de obrigações.
9) Vitalícios: são direitos que permanecem até a morte, há também os que ultrapassam a existência física da pessoa, o post mortem, o direito ao cadáver e as suas partes separadas e o ad eternum, direito moral do autor, direito à imagem, direito à honra.
2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
Os direitos da personalidade são divididos em 3 categorias:
1) Direito à integridade física: Ninguém pode invadir seu corpo contra sua vontade. Exemplo: Dispõem a imagem, corpo, voz, cadáver etc.
2) Direito à integridade psíquica: Trata-se do conjunto de direitos que buscam a integridade do estado de saúde físico ou mental e do equilíbrio psicológico da pessoa humana Exemplo: privacidade, liberdade, sigilo etc.
3) Direito à integridade moral: Tutela o respeito, a estima, aspecto da pessoa em suas relações sociais.
2.3 PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 
A proteção dos direitos da personalidade pode ser feita em várias áreas do ordenamento jurídico. A proteção dos direitos da personalidade é, basicamente, o dever de reparar o dano moral causado ou a ofensa ao direito da personalidade.
A proteção dos direitos da personalidade poderá ser de duas formas:
Preventiva: É aquela feita por meio de ajuizamento de ação cautelar, ou ordinária com multa cominatória, com a finalidade de evitar a concretização da ameaça de lesão ao direito da personalidade; Ex: Impedir publicação de uma biografia não autorizada.
Repressiva: através da imposição de sanção civil (pagamento de indenização) ou sanção penal (perseguição penal) em caso de a lesão já haver ocorrido.
O artigo 52 do CC/02 dispõe de modo expresso que se aplicam a todos aqueles dotados de personalidade, a proteção aos seus direitos da personalidade. E o artigo 12 do mesmo código trata do princípio da prevenção e da reparação nos casos de lesão aos direitos da personalidade. Dentre outros artigos com disposições sobre o assunto. Essa proteção estende-se a toda pessoa dotada de personalidade, até mesmo na Internet.Dessa forma percebe-se que o Ordenamento Jurídico Brasileiro protege, expressamente, os direitos da personalidade. Seja por meio de ação preventiva ou como repressão pelo ato já efetivado.
2.4 ATOS DE DISPOSIÇÃO DO PRÓPRIO CORPO
Em relação ao Direito ao corpo: consiste no direito do cidadão pode usar o próprio corpo da maneira que melhor lhe convier, sem limites impostos pelo Estado, seja pôr uma tatuagem, um piercing, etc, desde que não ultrapasse este direito e atinja a vida ou qualquer outro bem jurídico tutelado.
2.5 DIREITO À INTEGRIDADE MORAL 
A integridade moral representa uma das classificações dos direitos de personalidade, que por sua vez também visam tutelar a esfera moral da pessoa. Sendo assim, exprime-se pelo direito à honra, à imagem e ao nome.
Direito à honra: A honra é um dos mais significativos direitos da personalidade. Acompanha o indivíduo desde o seu nascimento, até depois de sua morte, afinal, a ofensa a honra dos mortos pode atingir seus familiares.
A honra é dividida pela doutrina em dois aspectos, o objetivo e o subjetivo. O primeiro representa a reputação da pessoa, ou seja, o bom nome e a fama de que desfruta na sociedade. Já o segundo refere-se ao sentimento pessoal de estima ou a consciência da própria dignidade.
A honra é protegida, em nosso ordenamento jurídico, ao dispor em seu artigo 5º da CRFB/88, inciso X: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Direito à imagem: A imagem constitui a “expressão exterior sensível da individualidade humana”, sendo a garantia de sua proteção considerada um direito fundamental expresso no artigo 5º, inciso X, da CRFB/88. Em geral, imagem é a representação pela pintura, escultura, fotografia, filme etc, de qualquer objeto e inclusive, da pessoa humana.
A parte lesada pelo uso não autorizado de sua imagem pode obter ordem judicial, interditando esse uso e condenando o infrator a reparar os prejuízos causados. O inciso V, do artigo 5º assegura “o direito de resposta, proporcional ao agravo, além de indenização por dano material, moral ou a imagem”, considerando que a imagem traduz a “essência da individualidade humana”, a sua violação merece firme resposta judicial. Por isso, não só a utilização indevida da imagem, mas também o desvio de finalidade do uso autorizado caracteriza violação ao direito à imagem, devendo o infrator ser civilmente responsabilizado.
Direito ao nome: O nome é o sinal que identifica a pessoa e indica a sua procedência familiar, e não é somente o designativo da filiação ou estirpe. O direito e a proteção ao nome e ao pseudônimo são assegurados nos artigos 16 a 19 do Código Civil.
O direito ao nome é uma espécie dos direitos da personalidade, pertencente ao gênero do direito à integridade moral, pois todo indivíduo tem o direito à identidade pessoal, de ser reconhecido em sociedade por denominação própria. Não se nega, porém, que persiste como regra geral a possibilidade de correção de pronome por evidente erro gráfico, embora derrogado o dispositivo expresso que mencionava essa faculdade.
O nome tem caráter absoluto e produz efeito erga omnes, pois todos têm o dever de respeitá-lo. Dele deflui para o titular a prerrogativa de reivindicá-lo, quando lhe é negado. Um dos efeitos da procedência da ação de investigação de paternidade, por exemplo, é atribuir ao autor o nome do investigado, que até então lhe fora negado.
 
 
 
 
  
 
 
 
3          DIREITO DE EXPRESSÃO
 
A Constituição Federal de 1988 discorre a liberdade de expressão no artigo 5º que assegura que todos somos iguais perante a lei, garantindo o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, e especificamente o inciso IX que testifica a liberdade a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, sem censura ou penalização do Poder Público. Com o fim da ditadura militar, de acordo com Silva (2012 p.38), “a Constituição brasileira 1988 abraçou os direitos humanos, consagrando-os, principalmente, na parte de direitos e garantias fundamentais, mas, também se faz presente em outros títulos da carta maior”.
 
3.1 PERÍODO DITATORIAL BRASILEIRO E A REPRESSÃO
De acordo com Lilia Schwarcz e Heloisa Starling em sua obra Brasil: uma biografia, a instituição da ditadura Civil-Militar brasileira foi, a princípio, uma alternativa para os conservadores diante da ameaça comunista, expressa pelo então presidente João Belchior Marques Goulart, amplamente conhecido por “Jango”, cujo principal anseio político era a implementação de reformas de base em âmbito nacional. Seu objetivo era a descentralização de capital como alternativa econômica para as dívidas herdadas dos governos de JK e Jânio Quadros.
  Por conta disso, Jango possuía vasto apoio populacional em seus projetos, porém ele era fortemente contrariado por grande parte dos parlamentares que compunham o Congresso Nacional devido a ligação dos ideais do presidente a movimentos esquerdistas em razão de sua presença em comícios organizados por estes. Assim, em resposta ao apoio de Goulart à política de esquerda, os setores da elite da sociedade organizaram, em São Paulo, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, cuja representação baseava-se na classe média e grupos religiosos, pela luta contra o comunismo. Isto fez com que a ideia de um governo militar ganhasse força entre a população que apoiava a deposição do presidente João Goulart. Logo, toda esta situação política e social brasileira produziu condições favoráveis para um golpe político.
Ademais, por efeito de não haver plano de relutância, as tropas do exército se dirigiram ao Rio de Janeiro e Jango se encaminhou para o Rio Grande do Sul. Finalmente, no Congresso Nacional, foi formalizado o novo governo civil-militar, o qual iniciou de forma inconstitucional. Apesar de sua formalização contrária à lei, o comando militar buscou ter um fundamento legal para que pudessem se legitimar diante da opinião pública, principalmente daqueles que haviam apoiado a destituição de Jango.
Sem embargo, mesmo não havendo notória resistência à formalização do regime militar, desde o primeiro dia já começaram as primeiras manifestações contrarias, ainda com a intenção de manter o governo de Jango. Foram proferidos discursos por parte de alguns deputados, como Rubens Paiva e por organizações como a União Nacional dos Estudantes (UNE), que convocavam a população para que organizassem uma greve geral, sendo esta uma manifestação contra a ameaça golpista. Porém, os deputados envolvidos foram cassados e as entidades foram ilegalizadas.
A partir de o momento que o Congresso elegeu Humberto Castelo Branco, deu-se início ao período ditatorial, começou a repressão, na qual foram cassados diversos mandatos de opositores, dentre eles o ex-presidente João Goulart, além disso, houve demissão de servidores públicos, numerosas prisões e também o início de torturas e assassinatos.
Durante o período ditatorial, foram escolhidos para presidente cinco homens, sendo eles Humberto Castelo Branco, o primeiro militar a governar, logo após o também militar, Arthur da Costa e Silva, responsável pelo temido Ato Institucional número cinco (AI-5). Com o fim de seu mandato, instaurou-se a Junta Governativa, sendo esta provisória, pois permaneceu apenas por dois meses, formada por Aurélio de Lira Tavares, Márcio de Souza e Melo e Augusto Rademaker, conhecidos por decretar o Ato Institucional número quatorze (AI-14), em que aprovava a pena de morte e a prisão perpétua para casos de revolta contra o regime militar.
Após os dois meses, estabeleceu-se o governo de Emílio Garrastazu Médici, considerado o general do exército mais repressivo da ditadura, foi o responsável por criar o Destacamento de Operações e Informações e o Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), os quais eram encarregados do controle de interrogatórios, investigações e repressão contra pessoas opostas ao governo. Ernesto Geisel foi o quartopresidente do período, cujo governo concretizou vagarosos progressos para o Brasil rumo à redemocratização, dentre eles a concessão do fim do AI-5, como um de seus principais acontecimentos. E por fim, João Figueiredo, já pressionado pelo descontentamento popular, aprovou a Lei da Anistia, garantindo a volta dos exilados políticos ao Brasil, e também a norma que permitia a formação do pluripartidarismo.
Entretanto, foi a partir de 1966 que o corpo da resistência começou a tomar forma, por conta da tática econômica governamental que fazia aumentar a concentração de riqueza e o empobrecimento dos trabalhadores, além da repressão contra os manifestos e a militância pela redemocratização. Muitos estavam arrependidos pelo apoio ao golpe civil-militar, juntamente com tantos outros tons ideológicos que lutavam contra este regime repressor. Com o passar dos anos, variados setores da sociedade se uniram no campo da oposição, cansados da censura e da repressão, tendo como exemplo duas das principais organizações que romperam com o regime, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC). A ditadura acabou em 1985.
 
3.2 LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO UM DIREITO CONSTITUCIONAL
A Constituição Federal da República Brasileira de 1988, conhecida também como Constituição Cidadã, foi promulgada no dia 5 de outubro de 1988. Sua estrutura é dividida em 9 títulos, sendo eles: Princípios Fundamentais; Direitos e Garantias Fundamentais; Organização do Estado; Organização dos Poderes; Defesa do Estado e das Instituições; Tributação e Orçamento; Ordem Econômica e Financeira; Ordem Social e Disposições Gerais.
Dentre os direitos garantidos pela Constituição, a liberdade de expressão – direito à livre manifestação de opiniões, ideias ou pensamentos - é um direito fundamental por ser garantia da dignidade dos indivíduos e para a manutenção da democracia no Estado. Viver de forma digna pressupõe a liberdade de expressar escolhas, pensamentos e opiniões de forma que a individualidade de valores e convicções é explícita na sociedade. Em relação à democracia, o direito de se expressar livremente proporciona aos cidadãos voz para manifestar as variadas correntes políticas e ideológicas sem que haja repressão. Ressalta-se que a participação política da população não é o único benefício garantido pela liberdade comunicativa, mas a interação social relacionada à cultura, à economia e à educação também são resultados deste direito constitucional.
 
3.3 FUNDAMENTOS DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO
 
O simples ato de pensar, por si só, mostra-se irrelevante para a sociedade e, por consequência, para o Direito. Todavia, externado o pensamento ao público, este passa a gozar tanto de proteção específica quanto de restrições, conquanto relacionado a outros valores, como a dignidade humana, conforme será exposto adiante. Destacam-se, ainda, dentre as liberdades comunicativas, a liberdade de informação e de imprensa.
Nesse passo, quando tutelada constitucionalmente e livre de censura, a liberdade de expressão constitui característica essencial das sociedades democráticas contemporâneas (FARIAS, 2000, p.159). É importante destacar, todavia, que suas potencialidades dependem das condições políticas, sociais e econômicas existentes, sendo o ambiente democrático o mais favorável para o seu exercício.
Quanto à liberdade de expressão enquanto instrumento da democracia, destaca-se que a democracia é comumente definida como “governo exercido pelo povo”. Sobre essa afirmação, Dworkin (2011, p.501-502) destaca duas possíveis compreensões. A concepção “majoritarista”, na qual a democracia significa o governo exercido pela maioria das pessoas, observando a essencialidade da liberdade de expressão, já que tal concepção de democracia demanda a necessidade de se dar, aos cidadãos, a oportunidade de se informar e refletirem sobre suas escolhas; e a concepção co-participativa por meio da exposição de dimensões da democracia acerca da igualdade de cidadania, que está comprometida, visto que há muitas pessoas sem oportunidades de defender suas convicções.
Com base no exposto, destacam-se as três principais teorias mais tradicionais para fundamentar a liberdade de expressão. A primeira identifica a liberdade de expressão como manifestação da autonomia individual fundada no emissor da mensagem, enquanto forma de autorrealização e desenvolvimento de sua personalidade, como emanação de sua própria dignidade. A segunda relaciona-se à ideia da liberdade de expressão como meio para a busca da verdade, o que se reúne com um mercado de ideias. A respeito da analogia do mercado de ideias, destaca-se que a economia de livre mercado seria supostamente aquela cujos resultados são mais eficientes. A terceira vincula a liberdade de expressão à instrumentalização da democracia. É nesse cenário que são relevantes as teorias majoritarista e co-participativa, e esta última é que vai comportar a ideia de liberdade de expressão para a promoção da igualdade entre os participantes do processo político. Dentre outros requisitos, destaca-se sua essencialidade para o discurso democrático no contexto da possibilidade de manifestação do pensamento para a troca de ideias no espaço público. (MACHADO, 2002, p.237; SANKIEVICZ, 2011, p.19-46)
Pode-se afirmar, assim, que a liberdade de expressão é requisito da democracia e que a participação não será livre se não é possível que as pessoas se manifestem livremente e tenham a possibilidade de ouvir o que as demais tem a dizer, participando do discurso.
3.4 O DISCURSO DO ÓDIO
Atualmente, as pessoas não querem apenas ganhar ou perder, há uma necessidade de se sentir melhor e mais forte que os demais. A questão é destruir para acabar com as divergências de ideologias. A capacidade de conjugar a primeira pessoa do plural, “nós”, tem sido cada vez menor, logo, a experiência de se mostrar sem recalque transcendeu as redes sociais e contribuíram para um clima pesado sobre a sociedade e na internet no âmbito geral.
O problema não é a sociedade polarizada, mas sim, os polos se veem no direito de vencer e silenciar o outro, criando rivalidades. Tais rivalidades propiciam a intolerância já presente na sociedade e na vigência da liberdade de expressão, alegam estar no exercício dela, ao passo que estão discriminando e destruindo o exercício de liberdade cultural, social, de gênero e de ideologias.
O Brasil é um país cuja sua história é marcada pela violência contra indígenas, negros, mulheres, pobre, homossexuais, imigrantes e muitas outras minorias de direitos, e a persistência desse discurso antidemocrático perpetua nocivamente a violência moral, ética, físico, psicológico e até mesmo patrimonial, principalmente com a velocidade da internet, perdendo assim, um dos princípios basilares da convivência social, o respeito.
O discurso do ódio, é todo o discurso que pregue a intolerância, o ódio e a discriminação a determinados grupos sociais ou minorias, ferindo a dignidade humana.  De acordo com Ursula Owen (2003 apud Smiers p.319), “as palavras podem se tornar balas, a linguagem do ódio pode matar e mutilar, como a censura”. No trecho supracitado a autora ao comparar a pratica do ódio com a ditadura, expressa o quanto o discurso do ódio pode interferir na relação da democracia e da liberdade de cada cidadão.  
       Mesmo que no Estado Democrático tenha normas que regem a segurança a cada indivíduo em manifestar sua liberdade de expressão, nenhum direito é totalmente absoluto, sendo necessário rever a análise do discurso do ódio, uma vez que ele propaga a intolerância, fazendo com que as pessoas comentam excessos, como insultos e difamação a grupos que pensam diferente delas.
 
3.5 LIMITES DA LIBERDADE
A linguagem de expressão é feita por meio de linguagem oral, artística, escrita ou qualquer outro meio de comunicação. Contudo, ainda há limites sobre a liberdade de expressão.
A liberdade de expressão, mesmo sendo um direito de todos, possui limites. O limite está em ultrapassar os direitos fundamentais dos outrosindivíduos, cometendo algum tipo de preconceito ou proferindo qualquer tipo de palavra racista. Isso não é liberdade de expressão, mas sim um crime exercido sobre uma pessoa que possui os mesmos direitos assegurados e é considerado igual as demais pessoas perante a lei. Portanto se a liberdade de expressão ferir a liberdade de outra pessoa deixa de ser liberdade e torna-se uma opressão.
A relação entre a mídia e a liberdade de expressão é salientada principalmente pela censura. A mídia possui papel fundamental dentro da sociedade, no entanto, é necessário desenvolver um senso crítico para entender informações como enxurradas, sabendo distinguir o conteúdo de conhecimento do que conteúdo que a mídia apenas trás para provocar e aguçar os ânimos.
Isso ocorre normalmente no mundo das pessoas famosas, nas situações em que uma delas de manifesta em alguma opinião, comentário, fotos e outros meios em determinados assuntos onde ela poderá ter cunho ofensivo. A mídia nesse momento dissemina as informações tornando-a tendenciosa e assim criando um teatro entre vítima e ofendido.
Podemos ver atualmente diversas situações em que a mídia se encaixa dentro da liberdade de expressão de forma negativa, onde assuntos diversos poderiam passar despercebidos e ser ignorados, porém acabam se tornando um caos podendo se tornar até assunto judicial com ações de indenização por danos morais.
Assim como nos demais veículos de comunicação, na internet elas seguem as mesmas regras que também se aplicam para tudo que é dito fora da mídia, como dentro da sua casa, na rua, no parque ou em qualquer outro lugar. É necessário manter os limites. Assim como fazer o uso de palavras racistas é considerada um crime, na internet promover o preconceito também é, e a pessoa ofendida pode entrar com um processo por danos morais e com as provas ela pode até pedir uma indenização.
A contribuição da tecnologia e da internet para a liberdade de expressão é de extrema importância, pois auxilia na abertura de novos canais de divulgação. Ela faz com que inúmeras pessoas tenham voz. Principalmente aquelas pessoas que ficariam de fora da divulgação tradicional. Mas assim como o lado bom, também existe o lado ruim, pois ela também abre um espaço para pensamentos opressores e antidemocráticos encorajando o indivíduo a falar tudo o que lhe convém, pois pensa estar em anonimato e não em um confronto real. Já existem leis contra esse tipo de atitude e sendo regularizadas por crimes virtuais.
 
4. CONTEXTO VIRTUAL
A internet mudou a vida de das as pessoas radicalmente desde o primeiro e-mail (1971) a criação do primeiro site (1983), a chegada do primeiro milhão de usuários (1983) até os dias de hoje. Foi criada em 1969 pelo Departamento de defesa dos Estados Unidos, durante a Guerra Fria, na qual havia uma disputa tecnológica entre os norte-americanos e a União Soviética. O projeto foi idealizado pela Advanced Research and Projects Agency (Arpa) -financiado pela Nasa e pelo Pentágno- que tinha como objetivo criar uma rede capaz de armazenar dados e resistir a uma destruição parcial, em casos de ataques nucleares.
 A partir de 1982, a Arpa começou a operar em quatro instituições acadêmicas, sendo elas: Universidade da Califórnia (Los Angeles), Universidade da Califórnia (Santa Bárbara), Instituto de Pesquisa de Stanford e Universidade de Utah. Inicialmente, o uso era restrito aos EUA, mas se expandiu para outros países, como Holanda, Dinamarca e Suécia. Desde então, começou a ser utilizado o nome internet. 
Por quase duas décadas, apenas os meios acadêmico e científico tiveram acesso à rede. Em 1987, pela primeira vez foi liberado seu uso comercial nos Estados Unidos e logo após (1992), começaram a surgir diversas empresas provedoras de acesso à internet.
A internet veio para o Brasil em 1988, por iniciativa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAESP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). No ano seguinte, foi criada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia a Rede Nacional de Pesquisas (RNP), com o objetivo de iniciar a coordenar a disponibilização de serviços de acesso à internet no Brasil ainda como base educacional.
4.1 REDES SOCIAIS
 A verdade que a internet proporcionou inúmeras formas de comunicação entre as pessoas de todo o mundo. Atualmente é possível interagir com pessoas de todo o mundo e a qualquer momento. A distância não mais existe por meio da internet e as pessoas ficaram mais próximas, facilitando as conversas nas redes sociais como Facebook, Twitter, Whatsapp e muitas outras redes. 
Pode-se afirmar que as redes sociais que antes eram apenas meios de entretenimento e diversão, hoje ganham força para protestos, coberturas de conflitos, assuntos polêmicos, manifestações, relacionamento, informação e também para empresas realizarem seu marketing digital.
 A internet é um território livre para todas as pessoas exporem suas ideias, opiniões e seus comentários sobre qualquer assunto. O que é divulgado tem o poder de tornar uma mensagem em uma opinião formadora, podendo levar a níveis mais relevantes e sérios dependendo do caso, uma vez que nem sempre o que é divulgado é verdadeiro, pois qualquer pessoa pode postar o que desejar. 
Com tantas opções de serviços sociais para os mais diversos propósitos, e considerando o gigantesco alcance que as plataformas dominantes do mercado apresentam hoje em dia, pode-se considerar ingenuidade o pensamento de que as redes sociais existem somente no mundo virtual. Sim, elas funcionam no ambiente da internet, mas impactam profundamente as nossas "vidas reais". Inclusive, vivemos um momento da história em que os conceitos de "vida virtual" e "vida real" se mesclam quase que por completo. 
Com tanta influência, há quem acredite que as pessoas estão ficando mais "burras" ou "preguiçosas" com o advento das redes sociais. Isso porque, em uma época não muito distante, precisávamos nos esforçar muito mais para obter uma informação, consultando livros, enciclopédias e perguntando por aí. Depois da popularização da internet, basta "dar um Google" para, em poucos segundos, descobrir o que se precisa. 
Ainda, as redes sociais atuais têm causado o fenômeno chamado de "câmaras de eco", em que, em vez de as pessoas ficarem mais abertas a novas ideias disseminadas nas plataformas, elas acabam ficando cada vez mais intolerantes, admitindo apenas aquelas ideias que são condizentes com as suas. Essa percepção vem sendo abordada em diversos estudos, confirmando que os usuários, tendem a se agregar em comunidades de seu interesse, causando segregação e polarização.
 De maneira independente, essas pessoas usam a plataforma para soltar ideias, atrair militantes às suas causas e fazer denúncias, de um jeito que as agências de notícias e veículos de imprensa ainda não o fazem com a mesma eficácia. 
4.2 DISCURSO DE ÓDIO NO CONTEXTO VIRTUAL
O contexto virtual, principalmente nos dias de hoje, tem sido um caos. O senso do que é certo está sumindo em uma sociedade de diferenças. São milhares casos em que os usuários da internet expressam seu ódio às diferenças raciais, sociais, política, econômica, sexual, religiosa, entre muitas outras que há num país como o Brasil.
No ano de 2017, a Titi, filha adotada de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, foi vítima de um discurso racista incitado por Day McCarthy. Na sua fala, chamou a menina de apenas 4 anos de “macaca”, se referindo a cor, aos traços e o cabelo.
No ano de 2018, na época da copa, torcedores brasileiros que estavam na Rússia, fizeram um vídeo em que coloca uma moça em uma situação embaraçosa, pois ela por não saber o português e na confiança, se referiu ao próprio corpo de forma desrespeitosa. Além disso, foi filmado e exposto na internet.
Neste mesmo ano, Marcelo Brigadeiro desrespeita a opinião política de pessoas que se posicionaram contra Jair Messias Bolsonaro usando do discurso homofóbico contra Pablo Vittar, além de desrespeitar a profissão deLarissa de Macedo Machado (Anitta) e Mc Carol. 
Crimes praticados pela Internet vêm se tornando cada vez mais crescentes e muitas das vezes a legislação se torna antiquada para regulamentar estas situações que estão no cotidiano dos cidadãos brasileiros. Tendo isto em mente, dá-se início aqui à explanação sobre a necessidade de uma normatização de situações atípicas dentro do ponto de vista penal.
Com todo esse avanço da comunicação, a sociedade vem se deparando com o surgimento de novos tipos legais, dado suas singularidades, exigindo cada vez mais dos operadores do direito. Enquanto não houver uma preocupação por parte dos nossos legisladores, materializando tal ato na formulação de leis que qualifiquem e tipifiquem as ações destes agentes como criminosas, os delitos praticados pela internet, serão na em sua maioria carecedores de uma reprimenda legal.
No Código Penal Brasileiro (CP) não há nenhum artigo que se enquadre o sujeito que comete uma infração por meio do computador. Sendo assim, é muito comentada no âmbito jurídico a analogia para casos inéditos, como o crime na internet. No entanto, no CP só se aplica a analogia em benefício do réu (in dúbio pro réu). Sendo assim, em casos de dúvida, compreende-se que o réu é inocente. Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal, preceitos previstos nos incisos II e XXXIX do art. 5º da CF/88, respectivamente, base de todo nosso regime jurídico, sendo assim é inviável o funcionamento atual ser controverso a esse posicionamento, mesmo que algumas decisões já sejam tomadas direcionadas a esse ponto, não é totalmente efetivo o combate a esses delitos.
Projetos de lei já tramitam no congresso, no entanto o processo é muito vagaroso, e devido às grandes mudanças existentes na internet, os meios de regulamentar concretamente se tornam difíceis, tendo isto em mente é que surge a necessidade de uma normatização para o combate efetivo das práticas delituosas efetuadas na rede mundial de computadores, essa situação não pode continuar se munindo da defasagem da legislação, por isso se faz necessária uma legalização, para combater estas práticas que se firmam cada vez mais em território nacional.
5. CONCLUSÃO
De acordo com os dados supracitados, percebe-se a grande importância dos direitos fundamentais principalmente depois da ditadura militar, que corresponde a um período de muita repressão. A liberdade de expressão, além de muitos outros direitos, tem um grande peso não só no ordenamento social, mas também no jurídico, já que atualmente está à luz da Constituição de 1988. 
Apesar de a liberdade expressão ser um direito constitucional, a utilização de má fé é um ato muito recorrente. Na vigência da mesma, o discurso de ódio alega estar no exercício dos seus direitos. Contudo, o discurso de ódio não passa de uma retórica preconceituosa e antidemocrática, colocando em risco as conquistas da Constituição Cidadã.
Com o avanço tecnológico, principalmente com a criação da internet e posteriormente das redes sociais, os discursos de ódio também se propagam dentro delas. O maior problema em relação a esta atrocidade é a negligência por parte dos legisladores que não estão focados nos crimes virtuais, abrindo uma coluna na ordem social e no sistema democrático brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS
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FARIAS, Edilsom Pereira. Colisão de Direitos: A honra, a intimidade, a vida privada e a imagem versus a liberdade de expressão e informação. 2ª ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2000.
MACHADO, Jónatas E.M.. Liberdade de Expressão: dimensões constitucionais da esfera pública no sistema social. Coimbra: Coimbra Editora, 2002.
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 SMIERS, Josst. Artes sob pressão: Promovendo a diversidade cultural na era da globalização. 1ª Ed. São Paulo: Escrituras, 2003.
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