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1 DISCURSOS DE ÓDIO E A QUESTÃO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. Lucemar José Urbanek Resumo: O presente artigo tem a pretensão de apresentar discursos de ódio divulgados no Brasil e Estados Unidos. Será analisado os discursos propagados pela organização racista Klu Klux Klan na sociedade norte-americana e alguns pensamentos advindos de publicações sob a responsabilidade de Siegfried Eliwanger Castan, do denominado movimento revisionista, difundido na sociedade brasileira, e o risco da propagação desse tipo de discurso dentro da sociedade democrática. A questão de fundo que se coloca é a seguinte: Em uma sociedade democrática como os Estados Unidos e o Brasil, é possível conviver e admitir a divulgação de discursos de ódio? Em seguida, desenvolve-se o debate acerca da liberdade de expressão e a tolerância aos discursos de ódio, tese defendida pelo jurista Ronald Dworkin, no seu entender imposição de restrições a tais discursos comprometeria a legitimidade do processo democrático, e o contraponto, apresentado pelo filósofo do direito Jeremy Waldron, este, assevera que os discursos de ódio, afetam a dignidade dos indivíduos; tais discursos comprometem e corrompem o ambiente democrático das sociedades . A partir destes referenciais teóricos, adotando o pensamento defendido por Waldron, procura-se demonstrar que existe risco real as sociedades democráticas quando inexistem limites na liberdade de expressão. Neste viés, para minimizar os riscos, o Estado precisa intervir de maneira adequada, não dando margem ao relativismo e a discricionariedade do julgador, o que deve ser evitado. Sendo que nestas circunstâncias, se faz necessário observar o fato de que a liberdade de expressão não pode ser absoluta, servindo de fundamento para apoiar discursos de ódio, conforme explicitado na Constituição Federal, na legislação infraconstitucional e nos tratados de direitos humanos assinados pelo Brasil. Não é admissível o ordenamento jurídico deixar de impor limites a manifestação de pensamentos que atacam a dignidade da pessoa humana, a liberdade, a igualdade dos cidadãos, e a própria existência da sociedade democrática. A presente pesquisa é bibliográfica. Palavras-chave: Democracia. Liberdade. Tolerância. Discriminação. Discurso de ódio. ABSTRAT This article intends to present hate speeches published in Brazil and the United States. We will analyze the speeches propagated by the racist organization Klu Klux Klan in American society and some thoughts arising from publications under the responsibility of Siegfried Eliwanger Castan, of the so-called revisionist movement, disseminated in Brazilian society, and the risk of the propagation of this type of discourse within democratic society. The basic question that arises is the following: In a democratic society like the United States and Brazil, is it possible to live and admit the dissemination of hate speech? Then, there is a debate about freedom of expression and tolerance of hate speech, a thesis advocated by jurist Ronald Dworkin, in his view imposing restrictions on such speech would compromise the legitimacy of the democratic process, and the counterpoint, presented by Philosopher of Law Jeremy 2 Waldron, who asserts that hate speech affects the dignity of individuals; such speeches compromise and corrupt the democratic environment of societies. Based on these theoretical references, adopting the thought defended by Waldron, we seek to demonstrate that there is a real risk to democratic societies when there are no limits on freedom of expression. In this bias, to minimize risks, the State needs to intervene in an appropriate manner, not allowing the judge's relativism and discretion, which must be avoided. In these circumstances, it is necessary to note the fact that freedom of expression cannot serve to support hate speech, as explained in the Federal Constitution, the infra-constitutional legislation and the human rights treaties signed by Brazil. It is not permissible for the legal system to fail to impose limits on the expression of thoughts that attack the dignity of the human person, freedom, equality of citizens, and the very existence of democratic society. This research is bibliographic. Keywords: Democracy. Freedom. Tolerance. Discrimination. Hate speech. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo tem por objetivo analisar alguns tipos de discursos de ódio e a liberdade de expressão em uma sociedade democrática de direito. Mestre em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Professor do Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI. Advogado e Consultor Jurídico. E.mail. lucemarurbanek@unidavi.edu.br. 3 O problema que se apresenta é, em uma sociedade democrática como os Estados Unidos e o Brasil, é possível conviver e admitir a divulgação de discursos de ódio que colocam em risco a própria existência do Estado Democrático de Direito? Para tanto, a pesquisa divide-se em três partes. Na primeira parte será dissertado acerca de movimentos que defendem discursos de ódio, sendo destacado neste artigo, algumas ideias apregoadas pelo movimento supraracista Ku Klux Klam, cuja bandeira central defendida por seus adeptos, é disseminar a suposta superioridade racial dos brancos sobre os negros, perseguir imigrantes, judeus e homossexuais. Em seguida, será analisado os principais argumentos de Siegfried Eliwanger Castan, caso Eliwanger. Que editou livros de cunho racista/antissemita e gerou toda uma discussão judicial no Brasil e acabou chegando até o Supremo Tribunal Federal. Na segunda parte da pesquisa, será delineado os principais argumentos defensivos utilizados pelo jurista Ronald Dworking, que concebe a Democracia de maneira abrangente. Ele sustenta haver um direito humano universal à liberdade de expressão; afirma que a imposição de restrições a tais discursos comprometeria a legitimidade do processo democrático. Nesta concepção, onde defende a Liberdade, a Igualdade e outros valores democráticos, acaba admitindo a manifestação do pensamento de diversos grupos, muitas vezes, inclusive, radicais e violentos, que defendem posições racistas, discriminatórias e contra a liberdade e igualdade entre todos os cidadãos; como é o caso da organização KKK e das teorias defendidas por Ellwanger. Na terceira e última parte deste artigo, será apresentado os principais argumentos de Jeremy Waldron, em oposição a linha de pensamento adotada por Dworkin, que se contrapõe quanto a sua concepção de liberdade ilimitada do indivíduo expressar suas ideias. Ele sustenta que os discursos de ódio afetam a dignidade dos indivíduos; afirma que tais discursos comprometem e corrompem o ambiente democrático das sociedades Entende que a abordagem defendida por Dworkin pode colocar em risco os fundamentos da sociedade democrática. Uma vez que admite a existência de organizações que tem em sua essência, atacar o Estado Democrático e seus princípios fundamentais, como a Liberdade e a Igualdade e a dignidade. A responsabilidade acerca das afirmações e opiniões sobre o presente artigo é do autor da pesquisa. Isentando totalmente qualquer outra pessoa ou instituição. 4 2 DISCURSOS DE ÓDIO No momento presente, as sociedades democráticas estão vivenciando o ressurgimento de diversas manifestações onde muitos indivíduos defendem posições extremistas. Discursos que afrontam os fundamentos básicos da democracia, que colocam em perigo a própria existência da sociedade democrática. São os denominados “discursos de ódio”. Nos Estados Unidos verifica-se a volta e o crescimento da organização supraracista Ku Klux Klan, utilizando-se das diversas mídias sociais existentes na atualidade, esse movimento vem divulgando suas ideias de superioridade racial dos brancos, o antissemitismo, perseguição aos imigrantes e homossexuais,o que afronta a liberdade e a igualdade de todos os cidadãos que compõem uma democracia. No Brasil, existem também discursos de intolerância apregoados especialmente pelas redes sociais, através de perfis falsos e Fake News, utiliza-se, inclusive, os chamados “robôs”, para divulgação em massa de notícias odiosas, que pregam a violência e o desrespeito as leis e as instituições do Estado, como Congresso Nacional e STF. Especialmente de cunho político, antissemita, racista, religiosa, contra homossexuais e outras minorias. Com fundamentos em teses denominados de neonazistas. Pregam ideias que, igualmente, colocam em risco a própria existência da sociedade democrática e do Estado de Direito. No presente texto, será trazido a baila algumas ideias defendidas em publicações e escritos de Sigfried Ellwanger Castan. Também será analisado brevemente, a maneira como o judiciário brasileiro atuou diante desse discurso de ódio nas terras tupiniquins. 2.1 Discursos da Ku Klux Klan Este grupo racista surgiu e cresceu após a Guerra da Secessão nos Estados Unidos, que ocorreu entre os anos de 1861 a 1865. Terminou na vitória dos territórios dos estados do norte do país sobre os estados do sul. As políticas de reconstrução que traziam a implantação de leis abolicionistas, entregando a liberdade para os escravos, trazia também revolta aos confederados do sul que tinham no escravismo sua principal mão de obra na produção agrária. As leis abolicionistas trouxeram grande prejuízo econômico para os senhores escravistas, uma vez que escravos eram uma das mercadorias de maior valor na época.1 No ano de 1866, na cidade de Pulaski, no estado do Tennessee, foi fundado 5 um clube social que recebeu o nome de Ku Klux Klan, ela era na verdade uma organização racista secreta, que tinha entre seus objetivos resistir à política imposta pelos estados do norte após a Guerra Civil e intimidar os negros, na maioria das vezes com atos de violência, garantido assim a supremacia branca no país. Criada pelo general Nathan Bedford Forrest, e tendo ainda membros como os veteranos da confederação sulista, Calvin Jones, Frank McCord, Richard Reed, John Kennedy, John Lester e James Crowe, a KKK conseguiu crescer em proporções inimagináveis em muito pouco tempo, ampliando seu número de seguidores por diversos outros estados2. Quando o cineasta Griffith, no ano de 1915, dirigiu o filme “O nascimento de uma nação”, onde deixou claro sua simpatia pelo clã, as chamas de um movimento racista acenderam novamente. Novamente, o contexto histórico da época serviu como fator determinante para o ressurgimento da organização. O grande fluxo de imigrantes que chegavam aos Estados Unidos, sendo muitos deles judeus ou católicos, era visto como justificativa para o grande aperto econômico pelo qual o país passava. Com o início da Primeira Guerra Mundial, o Klan passou a construir a imagem de defensores do país contra a “ameaça estrangeira”, assim como contra os judeus, os negros e os católicos. Em 1924, o Klan era uma força social e política reconhecida e aceita nos mais altos ranques do país, chegando a atrair políticos de grande renome para integrar 1 Publicado por: RODRIGUES. Lucas de Oliveira. Disponível: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/ku-klux-klan.htm 2 SOUSA. Luísa Maria Vilhena Ribeiro de. Forma Sinistra de Americanismo: O Puritanismo na Ética e na Retórica do Ku Klux Klan. Porto: Universidade Aberta. 2005.p. 57. http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/ku-klux-klan.htm 6 sua organização. Entretanto, a escalada dos atos violentos que envolviam lixamentos e do terror ao qual eram associados, acabou por fragilizar mais uma vez a imagem do Klan. Juntamente com os escândalos que envolviam as lideranças do grupo e a crise de 1929, a Ku Klux Klan se fragmentou mais uma vez e perdeu a relevância que havia obtido. Já sem a mesma força, a Ku Klux Klan voltou a aparecer nos anos 60, tentando evitar que os negros, liderados por Martin Luther King, conseguissem acesso às liberdades civis garantidas a todos pela Constituição. Até hoje existem grupos derivados da “KKK” e que defendem a supremacia branca nos Estados Unidos. O Klan emergiu na sociedade americana com a missão primordial de salvaguardar a supremacia branca e a civilização judaico-cristã. Conforme a estudiosa desta organização supraracista, Luísa Maria Vilhena Ribeiro de Sousa3: A inferioridade dos Africano-Americanos é justificada pelo Ku Klux Klan, visto que esta parece resultar da Vontade primordial divina. Tal como no período colonial puritano, Blackness representa o Mal, o pecado e a sujidade, encarnados nas figuras das “criaturas profanas” sentenciadas veementemente por determinados passos bíblicos. Neste contexto, a escravatura é considerada como uma instituição convertedora, punitiva e predestinada por Deus. Concomitantemente à fundamentação religiosa, deparamo-nos com alegações “biológicas” que insinuam a primazia de um fim último: a “pureza” racial. Esta apologia rememora as estratégias da teocracia e do folclore puritanos que atribuíam um cariz satânico, logo inferior, às “características biológicas” da “raça” negra. Determinados argumentos condenam ainda de forma inflexível os hábitos e os estilos de vida dos Africano-Americanos, já denunciados pelos Puritanos, tais como: falta de higiene, modos “selvagens” e “animalescos”, iliteracia, preguiça, imoralidade, criminalidade e inferioridade cultural, científica e tecnológica. Por contraste, o Klan manifesta uma profunda inquietação face a potenciais modificações sociais e ao gradual protagonismo dos Africano-Americanos. Como visto acima, os seguidores desta doutrina extremista do KKK, fundamentam suas atitudes intolerantes em argumentos de cunho religioso, biológico e social. E deste modo, sentem-se a vontade para propagar suas ideias que atacam violentamente minorias e todos aqueles que não concordem com seu modo de pensar. 3 SOUSA. Luísa Maria Vilhena Ribeiro de. Forma Sinistra de Americanismo: O Puritanismo na Ética e na Retórica do Ku Klux Klan. Porto: Universidade Aberta. 2005.p. 155. 7 Como fora visto recentemente na cidade americana de Charlottesville (Virgínia).4 Manifestações violentas entre seguidores do grupo KKK e aqueles que se opõe a seu pensamento entraram em confronto, resultando em muitos feridos e uma morte. Como pode ser observado, os seguidores desta organização tem uma postura violenta e de intolerância em relação as denominadas minorias. Defendem fortemente a supremacia branca em detrimento dos negros, judeus e outros. 2.2 O Discurso de ódio advíndo das publicações de Sigfried Ellwanger Castan Sigfried Ellwanger Castan nasceu na cidade gaúcha de Candelária, no ano de 1928, e faleceu em 2010. Foi empresário do ramo metalúrgico e o fundador da editora Revisão, onde editou e publicou alguns textos e livros defendendo posições de cunho racista e de ódio ao povo judeu, que acabou gerando toda uma discussão judicial, chegando até o Supremo Tribunal Federal brasileiro. Para bem ilustrar os argumentos apresentados em publicações de responsabilidade de Ellwanger, faz-se necessário mencionar algumas de suas ideias principais acerca do povo judeu. É o que facilmente se verifica das passagens extraídas da obra “Dos Judeus e suas Mentiras: A Questão Judaica”, de Martin Luther, traduzida para a Língua Portuguesa, pela Editora Revisão de Ellwanger, conforme observa-se a seguir.5 “Será que os profetas de Deus não tinham outra coisa para anunciar a estes malditos judeus, senão satisfazer seu apetite pelo ouro e pela prata? Eles nutrem aos não judeus um ódio fatal, herdado dos pais e dos não rabinos, ódio, como diz o Salmo 109, que lhes passa pelos ossos e pela carne, e, como não se mudam ossos nem carne, não mudará seu ódio nem seu orgulho, a não ser por um ato milagrosode Deus. Saiba pois, caro cristão, que não tens inimigo mais atroz, mais forte, mais venenoso do que o judeu convicto.” – grifei, p. 16. “Em vez de matá-los, os deixamos impunes pelos assassinatos, blasfêmias e mentiras dando-lhes espaço entre nós; protegemos suas casas, suas escolas, suas vidas e seus bens, deixando que nos roubem, e ainda escutamos deles que nós devíamos ser espolidos e 4 Reportagem da Rede Globo. Correspondente: HENRIQUE GOMES BATISTA 12/08/2017. Leia mais: https://oglobo.globo.com/mundo/eua-carro-avanca-contra-protesto-antirracismo-deixa-um- morto-1-21699532#ixzz4pdXfEqkD 5 Disponível: http://editorarevisao.blogspot.com.br/2015/05/dos-judeus-e-suas-mentiras- martinho.html. p. 16 e 21. http://editorarevisao.blogspot.com.br/2015/05/dos-judeus-e-suas-mentiras-martinho.html http://editorarevisao.blogspot.com.br/2015/05/dos-judeus-e-suas-mentiras-martinho.html 8 mortos! Os judeus proclamam que têm razões sagradas para nos destruir. As práticas contra nós são convicção religiosa! O que nós, cristãos, devíamos fazer com este povo maldito e amaldiçoado? Que fazer, já que os temos entre nós, para não compartilhar suas mentiras e blasfêmias? – grifei, p. 21. A tradução e disseminação dessas ideias racistas e discriminatórias, por parte de Ellwanger, no Brasil, demonstra a existência de movimentos que apregoam discursos de ódio em desfavor de grupos minoritários. No caso em tela, utilizando-se de livro publicado por Lutero no século XVI. Em uma visão descontextualizada. Esse tipo de publicação em nada contribui para a construção de uma democracia pluralista e tolerante com as minorias que compõe essa sociedade. Ao contrário, traz ideias que podem influenciar muitas pessoas através de seus livros e das novas mídias sociais, de maneira negativa, levando a violência e a intolerância contra os judeus, negros e outros grupos minoritários. Nesta mesma linha de pensamento, fora publicado a obra intitulada, Cristianismo em Xeque, de Sérgio Oliveira.6 “Adolf Hitler foi, no século que caminhava para o ocaso,o grande nome que se opôs às forças ocultas nomeadas por Getúlio e Jânio Quadros. Ele não se restringiu em nomeá-las com rodeios ou subterfúgios, não se valeu de meias palavras, de mensagens enigmáticas. Afirmou em claro e bom tom: “Se as nações e a Igreja não se rebelarem contra a sinagoga de satanás, o globo terrestre mergulhará no abismo e, possivelmente, o planeta venha a girar sem vida para a eternidade.” Era uma época em que o arsenal nuclear não passava além do campo da ficção científica. Hoje, ainda que coma trégua entre os Estados Unidos e a Rússia, os arsenais atômicos não foram destruídos e os riscos continuam tão grandes como alguns anos atrás. A belicosidade de Israel e dos Hebreus espalhados pelo mundo, o domínio por eles exercidos junto aos governos, a ignorância dos povos ante o andamento do plano diabólico contido nos Protocolos, o enfraquecimento do Cristianismo – o mais tradicional inimigo dos judeus, tudo isso contribui para que a exortação de Hitler continue viva.” (OLIVEIRA, p. 120/121, 1996). O supracitado pensamento traz teorias de conspiração em desfavor dos judeus dentro da história política do Brasil. Exorta Adolf Hitler, como grande nome que combateu contra a “ sinagoga de satanás”. Defende ainda a união dos cristãos contra os judeus, antes que seja tarde demais. 6 OLIVEIRA, Sergio. O Cristianismo em Xeque. Porto Alegre: Editora Revisão, 1996. p. 120/121. 9 A partir da defesa e divulgação desse tipo de ideias extremistas, Ellwanger respondeu diversos processos na justiça brasileira. Para melhor ilustrar, passa-se a história do caso que começou quando, em 14 de novembro de 1991, a juíza da 8ª vara criminal de Porto Alegre/RS recebeu a denúncia que acusava Ellwanger de crime de racismo (art. 5o, XLII da Constituição Federal e art. 20, da lei 7.716/89, na redação dada pela Lei 8.081/90) pelo fato de escrever, editar e publicar livros com conteúdo antissemita. O acusado foi absolvido de todas as acusações em primeira instância, razão pelo qual foi interposto recurso à 3ª câmara criminal do Tribunal de Justiça/RS. Os desembargadores reformaram a decisão monocrática e condenaram Ellwanger ao cumprimento de dois anos de reclusão. A defesa impetrou habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça contra a decisão do acórdão na tentativa de desconstituir a imprescritibilidade do ato pelo qual Ellwanger havia sido condenado. Denegado o remédio constitucional pelo STJ, a defesa recorreu ao Supremo Tribunal Federal. 7 O debate na corte constitucional girou em torno de dois pontos: os limites de significado da palavra “racismo” e a suposta colisão, solucionável através da ponderação de dois direitos fundamentais: liberdade de expressão e dignidade da pessoa humana. Os argumentos utilizados pelos Ministros do STF para tomarem suas decisões a despeito deste julgamento foram criticados pelo jurista Lênio Streck.8 Nos seguintes termos: Apesar da decisão constitucionalmente adequada denegando o HC, os votos, vencedores e vencidos, demonstram a fragilidade dos debates, baseados em argumentos de política ou nos juízos de ponderação de valores. Essa fragilidade, como será visto, demonstra a ausência de uma teoria da decisão, que exija uma resposta constitucionalmente adequada, e deixa os direitos fundamentais nas mãos do “relativismo ponderativo [...], porta aberta à discricionariedade. De qualquer modo, apesar da referida crítica do jurista Streck, certamente, no caso concreto, fora tomado uma decisão fundamentada na ponderação de direitos 7 HABEAS CORPUS Nº 82.424-2 – Rio Grande do Sul STF. D.J. 19.03.2004. Julgamento na íntegra. 8 STRECK. Lenio Luiz. Verdade e Consenso: constituição, hermenêutica e teorias discursivas. 4.ed.São Paulo: Saraiva, 2011b. p. 50. 10 fundamentais e em leis que criminalizam a prática do racismo e discriminação em desfavor de judeus, negros e outros grupos minoritários. Em nome da dignidade humana o entendimento do STF limitou a liberdade de expressão daqueles que defendem discursos de ódio, apregoando a violência e a intolerância. Mostrando-se uma decisão adequada e que protege direitos democraticamente consagrados na Constituição Federal. A partir do narrado acerca da instituição supraracista KKK e as teorias defendidas por Ellwanger, o presente artigo aborda os principais argumentos de dois jurisfilósofos reconhecidos na comunidade internacional por suas contribuições para o direito, debatem a temática da dicotomia, liberdade de expressão e seus limites na sociedade democrática. Trata- se dos pensadores Ronald Dworkin e Jeremy Waldron. A seguir será esboçado os principais argumentos defendidos por ambos nesta discussão acerca dos limites da liberdade de expressão frente aos discursos de ódio nas sociedades democráticas. 3 RONALD DWORKING E A DEFESA DA TOLERÂNCIA COM OS DISCURSOS DE ÓDIO NA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA Os discursos de ódio retratados acima, na acepção de Dworkin, deveriam ser tolerados em uma sociedade democrática. Esta tese fora defendido pelo jusfilósofo em um texto de 2009, trata-se do prefácio do livro editado por Ivan Hare e James Weinstein, intitulado Extreme Speech and Democracy. O argumento de Dworkin para aceitabilidade dos discursos de ódio na sociedade democrática fundamenta-se em duas premissas: “ Primeiramente, ele sustenta haver um direito humano universal à liberdade de expressão; em segundo lugar, afirma que a imposição de restrições a tais discursos comprometeria a legitimidade do processo democrático”. (CONSANI, 2015, p. 176) Segundo Dworkin, o princípio básico que dá suporte à liberdade de expressão como um direito humano universal é a condição de dignidade humana e a exigência de que todos devem ser tratados com igual consideração e respeito. (DWORKIN, 2009, p. 6-7). Entende ainda que a legitimidadedemocrática de uma decisão política fica comprometida quando os indivíduos ou grupos dissidentes são proibidos ou restringidos em seu direito de contribuir para a formação da opinião e da vontade coletiva manifestando suas convicções políticas e morais, seus gostos e até mesmo seus preconceitos. Nesse sentido, ao estabelecer restrições à liberdade de 11 expressão, como vedações aos discursos de ódio, o Estado deixaria de respeitar o status de cada indivíduo como membro livre e igual da comunidade política. (DWORKIN, 2009, p. 07). Segundo a interpretação de Waldron,9 o jusfilósofo Dworkin, (...) pressupõe que os intolerantes são minoria em sociedades democráticas e, por essa razão, não seria justo que uma maioria pudesse impor a esta minoria leis contra discriminações sem que lhes fosse dada a oportunidade de expressar sua opinião, seja por meio de palavras, seja por meio de atitudes, contra tais leis antidiscriminação. Ou seja, a liberdade de expressar discursos de ódio é o preço que uma sociedade democrática deve pagar pela existência de leis contra a discriminação de minorias diversas (étnicas, raciais, religiosas, etc). De acordo com o argumento supracitado, em uma sociedade democrática, seria necessário pagar o preço pela imposição de leis pela maioria contra a minoria. E o preço seria a admissão pela maioria, dos discursos de ódio no interior das democracias. Para Dworkin, o princípio da maioria somente será válido para aquelas matérias sensíveis à escolha (preference-sensitive), ou seja, às questões políticas, excluindo do objeto de deliberação toda a matéria de direitos e liberdades, ou, como denomina, as questões de princípios (preference-insensitive). Seguindo esta classificação, são sensíveis à escolha aquelas matérias cuja solução depende essencialmente das preferências do povo. Já as matérias insensíveis à escolha, por sua vez, não estão à disposição da população, não podendo ser alteradas, seja diretamente, seja através dos representantes do povo. (TASSINARI, 2009, p. 58). Destarte, neste entendimento de Dworkin, em uma sociedade democrática deve ser excluído da deliberação toda matéria de direitos e liberdades. Não sendo matéria sensível a decisão da população a liberdade individual de defender posições muitas vezes caracterizados como discursos de ódio. Defende-se um respeito à todos os membros da sociedade, independentemente de suas convicções, que as vezes são extremistas e radicais. Nesse sentido, TASSINARI,10 esclarece, 9 Essa interpretação do argumento de Dworkin é feita por Jeremy Waldron. Cf. WALDRON, Jeremy. Dignity and defamation: the visibility of hate. Harvard Law Review, v. 123, 2010, p. 1640. 10 Estudos sobre (neo) constitucionalismo/ sob orientação de Lenio Luiz Streck e José Luis Bolzan de Morais – São Leopoldo: Oikos, 2009. p. 59. 12 Assim, os direitos fundamentais são uma exigência democrática antes que uma limitação à democracia. O ideal democrático de autogoverno (governo pelo povo) é satisfeito quando o princípio da maioria é respeitado/ nada obstante, o princípio majoritário não assegura o governo pelo povo senão quando todos os membros da comunidade são concebidos e igualmente respeitados. Foi desenvolvida nos Estados Unidos a visão sobre a liberdade de expressão que afirmava que a Constituição obriga os cidadãos ao experimento das opiniões, baseando-se na presunção de que o melhor teste para a verdade é o poder de determinada ideia ser aceita na “competição do mercado de ideias” (DWORKIN, 2005, p. 198). O governo frustra e nega esse aspecto da personalidade moral quando impede determinadas pessoas de exercer a livre comunicação de ideias com o fundamento de que suas convicções desqualificam-nas como cidadãos de poucas virtudes (DWORKIN, 2005, p. 200). Para TASSINARI e NETO11 Os discursos de incitamento ao ódio – hate speeches– são representações simbólicas que expressam ódio, desprezo ou desrespeito a outra pessoa ou grupo. O uso de expressões pejorativas para grupos étnicos é um claro exemplo. De maneira mais ampla, é possível incluir até mesmo os pontos de vista que sejam extremamente ofensivos aos outros, que podemos exemplificar com afirmações sobre a suposta inferioridade da mulher em relação ao homem. Michel Rosenfeld (2001) define os hate speeches como aqueles discursos elaborados com a finalidade de promover o ódio e que são fundamentados em diferenças de raça, religião, etnia ou nacionalidade. Trata-se de uma restrição à liberdade de expressão cuja regulamentação foi fenômeno posterior à segunda grande guerra mundial e nasceu pela ligação nítida entre a propaganda racista da Alemanha nazista e o holocausto. Como visto acima, os argumentos de Dworkin visam evitar qualquer medida estatal no sentido de coagir os denominados discursos de ódio. Essa tese é amplamente aceita nos Estados Unidos. De modo geral, a KKK faz suas manifestações de ódio sem qualquer intervenção do Estado para coibir essas ações, na atualidade. 11 TASSINARI, Clarissa. NETO, Elias Jacob de Menezes. Liberdade de expressão e hate speeches: As influências da jurisprudência dos valores e as consequências da ponderação de princípios no julgamento do caso Ellwanger. Revista Brasileira de Direito, IMED, Vol. 9, nº 2, jul-dez 2013 – ISSN 2238-0604. p. 19. 13 Neste sentido, assevera Dworkin, “ Em uma democracia, ninguém, por mais poderoso ou impotente que seja, pode ter o direito de não ser insultado ou ofendido. (DWORKIN, 2009, p. 08). Trata-se de uma concepção que é preponderante nos Estados Unidos da América. Mas não encontra sustentação na doutrina e nas decisões dos tribunais brasileiros. A legislação brasileira, democraticamente elaborada, além de atribuir caráter criminoso à prática, indução ou incitação de determinados discursos preconceituosos, prescreve pena mais grave quando ocorre veiculação através de meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza. Tal medida legislativa está de acordo com o ditame da dignidade humana presente no art. 5º inciso XLII da Constituição brasileira que, ciosa do ódio e do sangue que maculou a história do país, tornou esses crimes imprescritíveis. (TASSINARI, 2013.p. 20-21). Esse entendimento adotado pelo Brasil em relação aos discursos de intolerância, racistas, discriminatórios em desfavor das minorias é tratado de maneira tal que procura-se inibir e criminalizar qualquer conduta fundamentada neste tipo de pensamento extremista e radical. Essa postura de controle da liberdade de expressão se enquadra aos argumentos do pensador Jeremy Waldron. Como poderá ser observado a seguir. 4 JEREMY WALDRON E A DEFESA DE LIMITES AOS DISCURSOS DE ÓDIO NA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA Waldron se opõe ao pensamento de Dworkin em relação a tolerância aos discursos de ódio. Essa discussão fora realizada em um texto de 2012, intitulado “ The harm in the hate speech” ( O dano nos discursos de ódio). Ao reportar às restrições legais aos discursos de ódio, Waldron tem em mente uma espécie de regulamentação proibidora de declarações públicas que possam causar perturbações à paz social ou insultar e atacar diretamente membros de uma minoria vulneráveis, essa concepção tem sido adotadas por diversos países, tais 14 como Canadá, Dinamarca, Alemanha, Nova Zelândia e o Reino Unido”. (CONSANI, p. 181).12 O Brasil enquadra-se entre os países que adotam a mesma posição dos países citados em relação aos discursos de intolerância em desfavor das minorias. Deste modo, não se alinha a doutrina jurídica pátria ao entendimento de Dworkin, em relação aos discursos extremistas. Nessa discussão, Waldron levanta dois argumentos importantes a respeito dos discursos de ódio, a saber: primeiramente, ele sustenta que os discursos de ódio afetam a dignidade dos indivíduos; em segundo lugar, afirma que tais discursos comprometem ecorrompem o ambiente democrático das sociedades. (CONSANI, 2015. p. 182). 12 CONSANI, Cristina Forani, p. 193. Nos Estados Unidos a discussão a respeito do estabelecimento de leis contra discursos e manifestações de ódio é influenciada, tanto na prática política quanto no debate teórico, pela Primeira Emenda à Constituição, a qual proíbe o Congresso americano de promulgar leis instituindo uma religião oficial ou dando preferência a uma religião e, também, leis que proíbam o livre exercício da religião ou, ainda, leis que limitem a liberdade de expressão e imprensa, o direito de livre associação pacífica e de petição ao governo. Por outro lado, em alguns países da Europa, assim como no Canadá, na Nova Zelândia, há normas vedando ações que podem causar discriminação de indivíduos ou grupos ou mesmo comprometer a paz social. No caso do Canadá, da Dinamarca e da Alemanha, as leis contra discursos e manifestações de ódio encontram-se inseridas em códigos criminais. No caso da Nova Zelândia e do Reino Unido, as regras impondo restrições a tais discursos compõem o “Human Rights Act” de 1993 (Nova Zelândia) e o “Public Order Act” de 1986 (Reino Unido) (cf. WALDRON, 2012, p. 236/237). No Brasil, o tema é regulado pela Constituição Federal de 1988, que proíbe discriminações em razão de origem, raça, cor, idade e quaisquer outras (art. 3º, IV). Há ainda a Lei nº 7.716/89, que “define os crimes resultantes do preconceito de raça e de cor”. Tais crimes são definidos especificamente no artigo 20 da referida Lei, que estabelece o seguinte: “Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) Pena: reclusão de um a três anos e multa; § 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo -Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa; § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza -Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa; § 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência; I -o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo; II -a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio; III -a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores” (cf. BRASIL. Lei n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989). Embora não exista no Brasil nenhuma lei específica contra discursos e manifestações de ódio, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Habeas Corpus 82.424/RS, que tratava do caso Sigfried Ellwanger Castan, livreiro e fundador da editora Revisão que escreveu e publicou livros de conteúdo racista e antissemita, julgou que a dignidade humana (valor absoluto) deve ser considerada superior à liberdade de expressão (valor relativo) e ressaltou que as liberdades públicas (como a liberdade de expressão) não são incondicionadas e, por essa razão, devem ser exercidas dentro dos limites estabelecidos na Constituição Federal. Nesse sentido, o STF concluiu que manifestações preconceituosas e capazes de incitar a violência e a intolerância contra determinados grupos ou indivíduos não podem ser admitidas sob o argumento da proteção da liberdade de expressão. (cf. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Habeas Corpus 82.424-2/RS). 15 Waldron parte do conceito rawlsiano de sociedade bem-ordenada. Interessa- lhe principalmente a parte deste conceito que sustenta que em uma sociedade bem ordenada todos aceitam e sabem que todos os demais aceitam os mesmos princípios de justiça. (WALDRON, 2012, p. 69). Interessa-lhe, ainda, não apenas os aspectos normativos deste conceito. Sua principal indagação é: “como uma sociedade bem- ordenada parece na prática”? Discursos de ódio devem ser tolerados pela lei em uma sociedade bem-ordenada? (CONSANI, 2015, p. 182). A princípio, “uma sociedade não pode ser bem-ordenada se pessoas defendem o ódio racial ou religioso, haja vista a ideia de uma sociedade bem- ordenada ser aquela amplamente e efetivamente governada por uma concepção de justiça” (WALDRON, 2012, p. 77/78). Em outras palavras, “uma sociedade não pode ser bem ordenada a menos que os intolerantes e racistas desistam de sua missão e aceitem os princípios básicos de justiça e de igual respeito aos quais tinham aversão”. (WALDRON, 2012, p. 78). Segundo Waldron, em nossas sociedades muito menos do que bem- ordenadas é preciso contar com proteções contra a intolerância e discursos de ódio. A educação pública contra a intolerância é uma forma de proteção. Leis que proíbem discursos e manifestações de ódio são outra espécie de proteção. Em seu entendimento, no mundo real, quando as pessoas buscam segurança elas não clamam por uma concepção favorita de justiça, mas por fundamentos de justiça segundo os quais todos são igualmente humanos e possuem a dignidade da humanidade, isto é, todos possuem o mesmo direito à justiça e merecem proteção contra as mais variadas formas de violência, exclusão, indignidade e subordinação. (CONSANI, 2015, p. 183). Discursos de ódio ou difamação negam esses fundamentos para alguns indivíduos ou grupos da sociedade. Ao se almejar uma sociedade que seja bem- ordenada, deve-se buscar meios pelos quais a segurança básica seja assegurada e meios pelos quais a dignidade pessoal seja protegida. Dignidade torna-se, assim, um conceito central. Mas o que se entende por dignidade? Como este conceito é definido? De acordo com Waldron, há muitas formas de se compreender esse conceito: 13 13 WALDRON, Jeremy.The harm in the hate speech. Cambridge, Massachussets: Harvard University Press, 2012. p.137/138. 16 Há a teoria kantiana que identifica dignidade com a capacidade moral, há a teologia romana católica que associa a dignidade com homens e mulheres sendo criados à imagem e semelhança de Deus; há a teoria de Ronald Dworkin que associa a dignidade com a responsabilidade que cada pessoa deve assumir para sua própria vida; há teorias que usam dignidade para capturar algo sobre o alto status que concedemos a cada pessoa nas interações sociais e legais. Meu uso é como o último desses conceitos, mas não há como negar que outros usos também são muito proeminentes. No seu entender, a dignidade pessoal é, pois, uma questão de status social e legal e, como tal, é normativa. O conceito de dignidade exige para os indivíduos respeito dos outros indivíduos e também do Estado. (CONSANI, 2015, p. 183). Uma vez definida a dignidade como um status, como um bem público a ser assegurado em sociedades que pretendem se tornar bem-ordenadas, Waldron realiza uma diferenciação importante entre atacar a dignidade de uma pessoa ou meramente ofender uma pessoa, isto é, ele traça uma linha divisória entre indignidade e ofensa. A distinção se estabelece a partir de critérios objetivos e subjetivos. Os aspectos objetivos dizem respeito à posição de uma pessoa na sociedade e não como ela se sente diante de um fato X ou Y; os aspectos subjetivos dizem respeito a como uma pessoa se sente diante de fatos X ou Y. (CONSANI, 2015, p. 184). A dignidade da pessoa ou a reputação está relacionada ao modo como as coisas são para essa pessoa na sociedade, isto é, aos critérios objetivos, e não ao modo como as pessoas se sentem diante de um acontecimento, ainda que esse acontecimento cause uma reação subjetiva em segundo plano, como, por exemplo, dor e humilhação (WALDRON, 2012, p. 106). Um judeu que se deparar com um cartaz dizendo “judeus e cachorros são proibidos” sentir-se-á, obviamente, humilhado, mas tal cartaz afeta tambémaspectos objetivos da sua vida em sociedade. A ofensa, por sua vez, causa uma reação inerentemente subjetiva nos indivíduos. Ela afeta os indivíduos em seus sentimentos, mas não chega a afetar sua dignidade ou seu status de igual perante os demais membros da sociedade. Carece-lhe esse aspecto objetivo que autoriza a intervenção do Estado. (CONSANI, 2015, p.. 184-185). Assim, no âmbito da política, cabe assegurar, por meio do direito, a proteção da “dignidade das pessoas e seu tratamento decente na sociedade” (WALDRON, 2012, p. 107). Não é possível proteger as pessoas contra ofensas, pois isso seria 17 uma tentativa de “proteger as pessoas de certa espécie de efeito em seus sentimentos.” (WALDRON, 2012, p. 107). Em outras palavras, na concepção de Waldron, leis proibindo discursos de ódio são necessárias e legítimas para proteger a dignidade dos indivíduos, mas não podem protegê-los contra ofensas. Conforme exposto, Waldron considera leis contra discursos de ódio um recurso do qual uma sociedade pode fazer uso para assegurar aos seus membros a dignidade e a igualdade de consideração e respeito. Quanto a questão da legitimidade. Segundo Dworkin, leis que restringem discursos de ódio podem solapar a legitimidade democrática justamente por negar aos indivíduos ou grupos intolerantes a possibilidade de participação na formação da opinião e da vontade política da maneira como consideram adequada. Waldron analisa essa premissa e sustenta que a melhor forma de interpretá- la, segundo orientações do próprio Dworkin em “Is democracy possible here?”, é tomar a legitimidade como uma questão de grau. Ou seja, leis contra discursos de ódio (upstream laws) podem diminuir a legitimidade de leis contra discriminação (downstream laws) sem destruir sua legitimidade. Assim, partindo dessa interpretação segundo a qual a legitimidade não é uma questão de “tudo ou nada”, mas uma questão de “grau”, Waldron aceita um suposto déficit de legitimidade em prol da proteção da dignidade. E, por essa razão, sustenta que leis proibindo discursos e manifestações de ódio podem fortalecer a democracia ao invés de restringi-la (WALDRON, 2012, p. 192-197). A premissa da legitimidade de Dworkin encontra suporte no argumento de que manifestantes de discursos de ódio aceitam as regras democráticas exatamente porque podem se pronunciar no espaço público do modo como querem. O ponto de Dworkin parece ser o mesmo de Rawls quando analisa os limites da tolerância com os intolerantes e defende que “as liberdades dos intolerantes podem persuadi-los a crer na liberdade.” (RAWLS, 2008, p. 270). Em outras palavras, postula-se que em sociedades com instituições democráticas consolidadas o espaço público deve acolher a intolerância na expectativa de eliminá-la, ou seja, se aposta na percepção e no reconhecimento, por parte dos intolerantes, de que possuem liberdade para manifestar seu posicionamento, do modo como querem, e aceitem essa liberdade como um valor que eles também precisam atribuir aos demais membros da sociedade, abrindo-se para uma perspectiva distinta da sua e aceitando a diversidade. 18 Waldron parece duvidar da possibilidade do intolerante ser persuadido pela atmosfera de liberdade e de tolerância que o acolhe no espaço público.14 Seu argumento é que indivíduos podem manifestar seu desacordo sem discursos ou manifestações de ódio. Por outro lado, indivíduos ou grupos que lançam mão de tais discursos não parecem estar abertos ao diálogo democrático. Ao contrário, quando a intolerância com a diferença de opinião, de crença ou de modo de vida chega ao ponto de um discurso de ódio, parece que a própria possibilidade da discussão política já deixou de existir e com ela findou também a esperança de que o intolerante se deixe convencer por argumentos contrários aos seus. Como levar a sério, por exemplo, a possibilidade de um debate entre nazistas e liberais?. O fato daqueles que defendem discursos de ódio se negarem ao diálogo democrático, por suas posições extremistas e radicais, impossibilita qualquer debate político sério e que contribua para a construção de uma sociedade tolerante. Nesse sentido, Waldron não considera problemático que o ódio e suas manifestações permaneçam no submundo, sem vir à público, já que tais discursos podem tanto minar princípios fundamentais das sociedades democráticas, como a segurança de indivíduos ou grupos minoritários no que concerne à sua dignidade e à sua reputação, quanto podem também contaminar a atmosfera democrática. A preocupação de Waldron no que concerne à democracia é justamente com a “poluição” do ambiente democrático, pois uma vez alçados ao espaço público o ódio e a intolerância podem adquirir e impulsionar forças não razoáveis e não democráticas. (CONSANI, 2015, p. 187). O autor utiliza a metáfora ambiental, para explicar seu argumento, sustenta que assim como uma sociedade, no que diz respeito ao cuidado com o meio ambiente, não pode deixar para adotar medidas restritivas à poluição somente quando o dano ambiental já tiver sido causado, também no que diz respeito ao dano ao ambiente democrático as medidas devem ser preventivas, no sentido de tentar evitar que o dano ocorra. Leis que proíbem discursos e manifestações de ódio, neste sentido, têm um caráter preventivo em relação a danos à segurança e à dignidade de minorias vulneráveis, assim como em relação ao ambiente democrático da sociedade como um todo (cf. WALDRON, 2012, p. 96/97). 14 WALDRON, Jeremy.The harm in the hate speech. Cambridge, Massachussets: Harvard University Press, 2012. p. 95. 19 Pensando em evitar a “poluição” e degradação do ambiente social com a ascensão dos discursos de ódio no espaço público que Waldron entende possível e necessária a aceitação de leis que proíbam discursos de ódio. Sua preocupação volta- se justamente para a cultura democrática, a qual com certeza encontra-se vulnerável perante a aceitação e o crescimento, sempre possível, do ódio em sociedades democráticas. (cf. WALDRON, 2010, p. 1632). Como no caso de Dworkin, as considerações de Waldron estão atreladas ao modo pelo qual ele define a democracia. Em seu entendimento, o principal elemento da democracia é o autogoverno popular. Waldron aceita a premissa majoritária e tem se manifestado contrário ao deslocamento de questões políticas de grande relevância do fórum político para o fórum judicial. (CONSANI, 2015, p. 188/189). Segundo ele, o espaço para a discussão de temas políticos controversos é o legislativo representativo e não o judiciário. A aposta no espaço político como o local mais adequado ao debate de temas controversos contribui para que se entenda melhor a importância que esse autor confere ao fortalecimento de uma cultura política intolerante com a intolerância. De acordo com CONSANI,15 Essa compreensão do povo enquanto agente moral dotado de responsabilidade e de autonomia está estreitamente conectada com a premissa do desacordo razoável ou de boa fé isto é, um desacordo oriundo da ausência de consenso entre posicionamentos que podem ser sustentados racionalmente. Essa premissa é um elemento normativo da teoria da democracia de Waldron, haja vista que sem ela a própria teoria deixa de apresentar qualquer segurança para os direitos de minorias e para a própria democracia. O desacordo razoável ou de boa fé acaba por se tornar a própria condição de discussão no espaço público. Por essa razão, quando a intolerância na sociedade passa a se expressar na forma de discursos ou manifestações de ódio, o que se perde é justamente a possibilidade de um desacordo razoável, comprometendo-se, desse modo, a própria democracia. Assim, considerando-se que a intolerância, no nível de discursos de ódio, rompe com esse suposto pacto social em torno do desacordo razoável, contaminando e comprometendo o ambiente democrático, a segurançae a dignidade de minorias vulneráveis, Waldron entende que, mesmo aceitando-se o argumento de Dworkin segundo o qual leis contra discursos de ódio geram em 15 CONSANI, C. Democracia e os discursos de Ódio Religioso: Debate entre Dworkin e Waldron. p. 189. 20 alguma medida um déficit de legitimidade democrática para leis que proíbem discriminações, ainda há um ganho maior para a democracia, para seus valores e para suas práticas, ao se restringir a intolerância do que ao aceitá-la. Nesse mesmo sentido, assevera TASSINARI e NETO16 A aceitação de hate speeches por parte do Estado mina a igualdade daqueles que são alvos desses discursos ofensivos e viola direitos fundamentais dos cidadãos. Sob essa perspectiva, o Brasil, através do decreto 592/92, inseriu no ordenamento nacional o pacto internacional sobre direitos civis e políticos de 1966. Os artigos 19.3, 20.2 e 26, apesar de garantirem a liberdade de expressão, as- seguram a proibição de qualquer apologia ao ódio que constitua discriminação, hostilidade ou violência e aplica essas restrições à liberdade de expressão. Desse modo, fica evidente que a legislação, as decisões judiciais dos Tribunais pátrios e a doutrina estão muito mais atrelados ao pensamento de Jeremy Waldron . Uma vez que, como visto acima, o Estado aceitando os discursos de ódio irá violar direitos fundamentais daqueles que são alvo destes extremistas. A liberdade de expressão está garantida, todavia, é assegurado a proibição de discursos que constituam discriminação, hostilidade ou violência em desfavor de minorias. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo procurou mostrar alguns discursos de ódio ainda presentes nas sociedades democráticas. De modo especial, fora destacado o discurso da organização racista Ku Klux Klan, que ainda é muito atuante nos Estados Unidos da América. E como visto, continua divulgando sua mensagem extremista, de cunho discriminatório, racista e violento, contra negros, judeus, homossexuais, imigrantes, etc. Isso tudo, dentro de uma sociedade democrática. Sem, a princípio, serem importunados pelas autoridades. Fora também apresentado alguns elementos dos discursos propagados no Brasil e outros países democráticos, pelo editor e autor revisionista Ellwanger e alguns de seus seguidores, igualmente de cunho racista. Que apregoa violência e 16 TASSINARI, Clarissa. NETO, Elias Jacob de Menezes. Liberdade de expressão e hate speeches: As influências da jurisprudência dos valores e as consequências da ponderação de princípios no julgamento do caso Ellwanger. Revista Brasileira de Direito, IMED, Vol. 9, nº 2, jul-dez 2013 – ISSN 2238-0604 21 intolerância em desfavor, especialmente de judeus. Neste caso, apresentou-se, inclusive, alguns elementos do julgamento de Ellwanger, que acabou chegando até o STF. O tribunal utilizou-se da ponderação de valores, teoria defendida por Robert Alexis e criticada por Lenio Streck, que alega em suma, que a referida teoria, pode dar margem ao relativismo e a discricionariedade do julgador, o que deve ser evitado. Sendo que nestas circunstâncias, se faz necessário observar o fato de que a liberdade de expressão não pode servir para apoiar discursos de ódio, conforme explicitado na Constituição Federal, na legislação infraconstitucional e nos tratados de direitos humanos assinados pelo Brasil. Posteriormente, houve a apresentação dos principais argumentos de Ronald Dworkin. Que defende a tolerância aos discursos dos intolerantes. Sustentou sua argumentação na premissa de haver um direito humano universal à liberdade de expressão; e defendeu que a imposição de restrições a tais discursos comprometeria a legitimidade do processo democrático. Como visto, esta teoria de Dworkin foi contraposta pelo jusfilósofo Jeremy Waldron. Que não aceita a liberdade de expressão ilimitada em uma sociedade democrática. Diante de discursos de ódio, não é possível ser tolerante. Uma vez que não existe mais espaço para o chamado desacordo razoável e o debate fundamentado na boa-fé. Segundo ele, os discursos de ódio podem contaminar a sociedade democrática. Para evitar essa contaminação justifica-se a aprovação de leis que criem sanções em desfavor daqueles que defendem posições extremistas e radicais. Uma vez que esse tipo de discurso pode colocar em risco a própria sociedade democrática. Essa assertiva encontra amparo no fato de que os adeptos desse tipo de discurso não respeitam o direito a liberdade, igualdade e muitas vezes, a própria vida dos grupos denominados de minoritários, como os judeus, negros, homossexuais, imigrantes, etc. Como foi visto, a liberdade de expressão é direito fundamental na democracia constitucional. Sua importância vem sendo demonstrada tanto no direito interno, especialmente na Constituição brasileira de 1988, quanto no direito internacional, com ênfase na declaração universal dos direitos humanos. A mesma importância 22 tem o pluralismo político, pois somente através da livre circulação de ideias é possível falar em possibilidades do diálogo democrático. Ao final do presente artigo, responde-se ao problema proposto, qual seja, em uma sociedade democrática como os Estados Unidos e o Brasil, é possível conviver e admitir a divulgação de discursos de ódio? Embora os argumentos apresentados por Ronald Dworkin, sejam muito pertinentes em relação a tolerância aos intolerantes, em nome da absoluta liberdade de expressão e da legitimidade democrática. A teoria apresentada por Jeremy Waldron, ao que parece, no momento, responde de maneira mais adequada e pertinente os anseios de uma sociedade democrática. Garantindo dignidade e segurança a todas as pessoas. Uma vez que a liberdade de expressão precisará sempre ser limitada pelo legislação quanto aos discursos de ódio, que pregam inclusive, o fim da democracia e das liberdades individuais. REFERÊNCIAS ALEXY, Robert. Direitos Fundamentais, Balanceamento e Racionalidade. Trad. Menelick de Carvalo Netto. Ratio Juris, Oxford, v. 16, n. 2, p. 131-140, jun. 2003. ISSN 1467-9337. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: DF. Disponível: www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. . Lei n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989. 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