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ARTIGO DISCURSOS DE ÓDIO E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO LUCEMAR J URBANEK


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DISCURSOS DE ÓDIO E A QUESTÃO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. 
 
 
Lucemar José Urbanek 
 
Resumo: O presente artigo tem a pretensão de apresentar discursos de ódio 
divulgados no Brasil e Estados Unidos. Será analisado os discursos propagados pela 
organização racista Klu Klux Klan na sociedade norte-americana e alguns 
pensamentos advindos de publicações sob a responsabilidade de Siegfried Eliwanger 
Castan, do denominado movimento revisionista, difundido na sociedade brasileira, e 
o risco da propagação desse tipo de discurso dentro da sociedade democrática. A 
questão de fundo que se coloca é a seguinte: Em uma sociedade democrática como 
os Estados Unidos e o Brasil, é possível conviver e admitir a divulgação de discursos 
de ódio? Em seguida, desenvolve-se o debate acerca da liberdade de expressão e a 
tolerância aos discursos de ódio, tese defendida pelo jurista Ronald Dworkin, no seu 
entender imposição de restrições a tais discursos comprometeria a legitimidade do 
processo democrático, e o contraponto, apresentado pelo filósofo do direito Jeremy 
Waldron, este, assevera que os discursos de ódio, afetam a dignidade dos indivíduos; 
tais discursos comprometem e corrompem o ambiente democrático das sociedades . 
A partir destes referenciais teóricos, adotando o pensamento defendido por Waldron, 
procura-se demonstrar que existe risco real as sociedades democráticas quando 
inexistem limites na liberdade de expressão. Neste viés, para minimizar os riscos, o 
Estado precisa intervir de maneira adequada, não dando margem ao relativismo e a 
discricionariedade do julgador, o que deve ser evitado. Sendo que nestas 
circunstâncias, se faz necessário observar o fato de que a liberdade de expressão não 
pode ser absoluta, servindo de fundamento para apoiar discursos de ódio, conforme 
explicitado na Constituição Federal, na legislação infraconstitucional e nos tratados de 
direitos humanos assinados pelo Brasil. Não é admissível o ordenamento jurídico 
deixar de impor limites a manifestação de pensamentos que atacam a dignidade da 
pessoa humana, a liberdade, a igualdade dos cidadãos, e a própria existência da 
sociedade democrática. A presente pesquisa é bibliográfica. 
 
Palavras-chave: Democracia. Liberdade. Tolerância. Discriminação. Discurso de ódio. 
 
ABSTRAT 
 
This article intends to present hate speeches published in Brazil and the United States. 
We will analyze the speeches propagated by the racist organization Klu Klux Klan in 
American society and some thoughts arising from publications under the responsibility 
of Siegfried Eliwanger Castan, of the so-called revisionist movement, disseminated in 
Brazilian society, and the risk of the propagation of this type of discourse within 
democratic society. The basic question that arises is the following: In a democratic 
society like the United States and Brazil, is it possible to live and admit the 
dissemination of hate speech? Then, there is a debate about freedom of expression 
and tolerance of hate speech, a thesis advocated by jurist Ronald Dworkin, in his view 
imposing restrictions on such speech would compromise the legitimacy of the 
democratic process, and the counterpoint, presented by Philosopher of Law Jeremy 
2 
 
Waldron, who asserts that hate speech affects the dignity of individuals; such speeches 
compromise and corrupt the democratic environment of societies. Based on these 
theoretical references, adopting the thought defended by Waldron, we seek to 
demonstrate that there is a real risk to democratic societies when there are no limits 
on freedom of expression. In this bias, to minimize risks, the State needs to intervene 
in an appropriate manner, not allowing the judge's relativism and discretion, which must 
be avoided. In these circumstances, it is necessary to note the fact that freedom of 
expression cannot serve to support hate speech, as explained in the Federal 
Constitution, the infra-constitutional legislation and the human rights treaties signed by 
Brazil. It is not permissible for the legal system to fail to impose limits on the expression 
of thoughts that attack the dignity of the human person, freedom, equality of citizens, 
and the very existence of democratic society. This research is bibliographic. 
 
Keywords: Democracy. Freedom. Tolerance. Discrimination. Hate speech. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente artigo tem por objetivo analisar alguns tipos de discursos de ódio e 
a liberdade de expressão em uma sociedade democrática de direito. 
 
 
 Mestre em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Professor do Centro 
Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI. Advogado e Consultor 
Jurídico. E.mail. lucemarurbanek@unidavi.edu.br.
3 
 
O problema que se apresenta é, em uma sociedade democrática como os 
Estados Unidos e o Brasil, é possível conviver e admitir a divulgação de discursos 
de ódio que colocam em risco a própria existência do Estado Democrático de Direito? 
Para tanto, a pesquisa divide-se em três partes. Na primeira parte será 
dissertado acerca de movimentos que defendem discursos de ódio, sendo destacado 
neste artigo, algumas ideias apregoadas pelo movimento supraracista Ku Klux Klam, 
cuja bandeira central defendida por seus adeptos, é disseminar a suposta 
superioridade racial dos brancos sobre os negros, perseguir imigrantes, judeus e 
homossexuais. Em seguida, será analisado os principais argumentos de Siegfried 
Eliwanger Castan, caso Eliwanger. Que editou livros de cunho racista/antissemita e 
gerou toda uma discussão judicial no Brasil e acabou chegando até o Supremo 
Tribunal Federal. 
Na segunda parte da pesquisa, será delineado os principais argumentos 
defensivos utilizados pelo jurista Ronald Dworking, que concebe a Democracia de 
maneira abrangente. Ele sustenta haver um direito humano universal à liberdade de 
expressão; afirma que a imposição de restrições a tais discursos comprometeria a 
legitimidade do processo democrático. Nesta concepção, onde defende a Liberdade, 
a Igualdade e outros valores democráticos, acaba admitindo a manifestação do 
pensamento de diversos grupos, muitas vezes, inclusive, radicais e violentos, que 
defendem posições racistas, discriminatórias e contra a liberdade e igualdade entre 
todos os cidadãos; como é o caso da organização KKK e das teorias defendidas por 
Ellwanger. 
Na terceira e última parte deste artigo, será apresentado os principais 
argumentos de Jeremy Waldron, em oposição a linha de pensamento adotada por 
Dworkin, que se contrapõe quanto a sua concepção de liberdade ilimitada do indivíduo 
expressar suas ideias. 
Ele sustenta que os discursos de ódio afetam a dignidade dos indivíduos; afirma 
que tais discursos comprometem e corrompem o ambiente democrático das 
sociedades Entende que a abordagem defendida por Dworkin pode colocar em risco 
os fundamentos da sociedade democrática. Uma vez que admite a existência de 
organizações que tem em sua essência, atacar o Estado Democrático e seus 
princípios fundamentais, como a Liberdade e a Igualdade e a dignidade. 
A responsabilidade acerca das afirmações e opiniões sobre o presente artigo é 
do autor da pesquisa. Isentando totalmente qualquer outra pessoa ou instituição. 
 
 
4 
 
2 DISCURSOS DE ÓDIO 
 
No momento presente, as sociedades democráticas estão vivenciando o 
ressurgimento de diversas manifestações onde muitos indivíduos defendem posições 
extremistas. Discursos que afrontam os fundamentos básicos da democracia, que 
colocam em perigo a própria existência da sociedade democrática. 
São os denominados “discursos de ódio”. Nos Estados Unidos verifica-se a 
volta e o crescimento da organização supraracista Ku Klux Klan, utilizando-se das 
diversas mídias sociais existentes na atualidade, esse movimento vem divulgando 
suas ideias de superioridade racial dos brancos, o antissemitismo, perseguição aos 
imigrantes e homossexuais,o que afronta a liberdade e a igualdade de todos os 
cidadãos que compõem uma democracia. 
No Brasil, existem também discursos de intolerância apregoados 
especialmente pelas redes sociais, através de perfis falsos e Fake News, utiliza-se, 
inclusive, os chamados “robôs”, para divulgação em massa de notícias odiosas, que 
pregam a violência e o desrespeito as leis e as instituições do Estado, como 
Congresso Nacional e STF. Especialmente de cunho político, antissemita, racista, 
religiosa, contra homossexuais e outras minorias. Com fundamentos em teses 
denominados de neonazistas. Pregam ideias que, igualmente, colocam em risco a 
própria existência da sociedade democrática e do Estado de Direito. No presente 
texto, será trazido a baila algumas ideias defendidas em publicações e escritos de 
Sigfried Ellwanger Castan. Também será analisado brevemente, a maneira como o 
judiciário brasileiro atuou diante desse discurso de ódio nas terras tupiniquins. 
 
 
2.1 Discursos da Ku Klux Klan 
 
Este grupo racista surgiu e cresceu após a Guerra da Secessão nos Estados 
Unidos, que ocorreu entre os anos de 1861 a 1865. Terminou na vitória dos territórios 
dos estados do norte do país sobre os estados do sul. As políticas de reconstrução 
que traziam a implantação de leis abolicionistas, entregando a liberdade para os 
escravos, trazia também revolta aos confederados do sul que tinham no escravismo 
sua principal mão de obra na produção agrária. As leis abolicionistas trouxeram 
grande prejuízo econômico para os senhores escravistas, uma vez que escravos eram 
uma das mercadorias de maior valor na época.1 
No ano de 1866, na cidade de Pulaski, no estado do Tennessee, foi fundado 
5 
 
um clube social que recebeu o nome de Ku Klux Klan, ela era na verdade uma 
organização racista secreta, que tinha entre seus objetivos resistir à política imposta 
pelos estados do norte após a Guerra Civil e intimidar os negros, na maioria das vezes 
com atos de violência, garantido assim a supremacia branca no país. 
Criada pelo general Nathan Bedford Forrest, e tendo ainda membros como os 
veteranos da confederação sulista, Calvin Jones, Frank McCord, Richard Reed, John 
Kennedy, John Lester e James Crowe, a KKK conseguiu crescer em proporções 
inimagináveis em muito pouco tempo, ampliando seu número de seguidores por 
diversos outros estados2. 
Quando o cineasta Griffith, no ano de 1915, dirigiu o filme “O nascimento de 
uma nação”, onde deixou claro sua simpatia pelo clã, as chamas de um movimento 
racista acenderam novamente. Novamente, o contexto histórico da época serviu como 
fator determinante para o ressurgimento da organização. 
O grande fluxo de imigrantes que chegavam aos Estados Unidos, sendo muitos 
deles judeus ou católicos, era visto como justificativa para o grande aperto econômico 
pelo qual o país passava. Com o início da Primeira Guerra Mundial, o Klan passou a 
construir a imagem de defensores do país contra a “ameaça estrangeira”, assim como 
contra os judeus, os negros e os católicos. 
Em 1924, o Klan era uma força social e política reconhecida e aceita nos mais 
altos ranques do país, chegando a atrair políticos de grande renome para integrar 
1 
Publicado por: RODRIGUES. Lucas de Oliveira. Disponível: 
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/ku-klux-klan.htm 
2 
SOUSA. Luísa Maria Vilhena Ribeiro de. Forma Sinistra de Americanismo: O Puritanismo na 
Ética e na Retórica do Ku Klux Klan. Porto: Universidade Aberta. 2005.p. 57. 
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/ku-klux-klan.htm
6 
 
sua organização. Entretanto, a escalada dos atos violentos que envolviam lixamentos 
e do terror ao qual eram associados, acabou por fragilizar mais uma vez a imagem do 
Klan. Juntamente com os escândalos que envolviam as lideranças do grupo e a crise 
de 1929, a Ku Klux Klan se fragmentou mais uma vez e perdeu a relevância que havia 
obtido. 
Já sem a mesma força, a Ku Klux Klan voltou a aparecer nos anos 60, tentando 
evitar que os negros, liderados por Martin Luther King, conseguissem acesso às 
liberdades civis garantidas a todos pela Constituição. 
Até hoje existem grupos derivados da “KKK” e que defendem a supremacia 
branca nos Estados Unidos. 
O Klan emergiu na sociedade americana com a missão primordial de 
salvaguardar a supremacia branca e a civilização judaico-cristã. Conforme a estudiosa 
desta organização supraracista, Luísa Maria Vilhena Ribeiro de Sousa3: 
 
A inferioridade dos Africano-Americanos é justificada pelo Ku Klux 
Klan, visto que esta parece resultar da Vontade primordial divina. Tal 
como no período colonial puritano, Blackness representa o Mal, o 
pecado e a sujidade, encarnados nas figuras das “criaturas profanas” 
sentenciadas veementemente por determinados passos bíblicos. 
Neste contexto, a escravatura é considerada como uma instituição 
convertedora, punitiva e predestinada por Deus. 
Concomitantemente à fundamentação religiosa, deparamo-nos com 
alegações “biológicas” que insinuam a primazia de um fim último: a 
“pureza” racial. Esta apologia rememora as estratégias da teocracia e 
do folclore puritanos que atribuíam um cariz satânico, logo inferior, às 
“características biológicas” da “raça” negra. 
Determinados argumentos condenam ainda de forma inflexível os 
hábitos e os estilos de vida dos Africano-Americanos, já denunciados 
pelos Puritanos, tais como: falta de higiene, modos “selvagens” e 
“animalescos”, iliteracia, preguiça, imoralidade, criminalidade e 
inferioridade cultural, científica e tecnológica. Por contraste, o Klan 
manifesta uma profunda inquietação face a potenciais modificações 
sociais e ao gradual protagonismo dos Africano-Americanos. 
 
Como visto acima, os seguidores desta doutrina extremista do KKK, 
fundamentam suas atitudes intolerantes em argumentos de cunho religioso, biológico 
e social. E deste modo, sentem-se a vontade para propagar suas ideias que atacam 
violentamente minorias e todos aqueles que não concordem com seu modo de pensar. 
 
 
3 
SOUSA. Luísa Maria Vilhena Ribeiro de. Forma Sinistra de Americanismo: O Puritanismo na 
Ética e na Retórica do Ku Klux Klan. Porto: Universidade Aberta. 2005.p. 155. 
7 
 
Como fora visto recentemente na cidade americana de Charlottesville 
(Virgínia).4 Manifestações violentas entre seguidores do grupo KKK e aqueles que se 
opõe a seu pensamento entraram em confronto, resultando em muitos feridos e uma 
morte. Como pode ser observado, os seguidores desta organização tem uma postura 
violenta e de intolerância em relação as denominadas minorias. Defendem fortemente 
a supremacia branca em detrimento dos negros, judeus e outros. 
 
 
2.2 O Discurso de ódio advíndo das publicações de Sigfried Ellwanger Castan 
 
 
 
Sigfried Ellwanger Castan nasceu na cidade gaúcha de Candelária, no ano de 
1928, e faleceu em 2010. Foi empresário do ramo metalúrgico e o fundador da editora 
Revisão, onde editou e publicou alguns textos e livros defendendo posições de cunho 
racista e de ódio ao povo judeu, que acabou gerando toda uma discussão judicial, 
chegando até o Supremo Tribunal Federal brasileiro. 
Para bem ilustrar os argumentos apresentados em publicações de 
responsabilidade de Ellwanger, faz-se necessário mencionar algumas de suas ideias 
principais acerca do povo judeu. 
É o que facilmente se verifica das passagens extraídas da obra “Dos Judeus e 
suas Mentiras: A Questão Judaica”, de Martin Luther, traduzida para a Língua 
Portuguesa, pela Editora Revisão de Ellwanger, conforme observa-se a seguir.5 
 
“Será que os profetas de Deus não tinham outra coisa para anunciar 
a estes malditos judeus, senão satisfazer seu apetite pelo ouro e pela 
prata? Eles nutrem aos não judeus um ódio fatal, herdado dos pais e 
dos não rabinos, ódio, como diz o Salmo 109, que lhes passa pelos 
ossos e pela carne, e, como não se mudam ossos nem carne, não 
mudará seu ódio nem seu orgulho, a não ser por um ato milagrosode 
Deus. Saiba pois, caro cristão, que não tens inimigo mais atroz, mais 
forte, mais venenoso do que o judeu convicto.” – grifei, p. 16. “Em vez 
de matá-los, os deixamos impunes pelos assassinatos, blasfêmias e 
mentiras dando-lhes espaço entre nós; protegemos suas casas, suas 
escolas, suas vidas e seus bens, deixando que nos roubem, e ainda 
escutamos deles que nós devíamos ser espolidos e 
 
4 
Reportagem da Rede Globo. Correspondente: HENRIQUE GOMES BATISTA 12/08/2017. Leia mais:
 https://oglobo.globo.com/mundo/eua-carro-avanca-contra-protesto-antirracismo-deixa-um- 
morto-1-21699532#ixzz4pdXfEqkD 
5 
Disponível: http://editorarevisao.blogspot.com.br/2015/05/dos-judeus-e-suas-mentiras- 
martinho.html. p. 16 e 21. 
http://editorarevisao.blogspot.com.br/2015/05/dos-judeus-e-suas-mentiras-martinho.html
http://editorarevisao.blogspot.com.br/2015/05/dos-judeus-e-suas-mentiras-martinho.html
8 
 
mortos! Os judeus proclamam que têm razões sagradas para nos 
destruir. As práticas contra nós são convicção religiosa! O que nós, 
cristãos, devíamos fazer com este povo maldito e amaldiçoado? Que 
fazer, já que os temos entre nós, para não compartilhar suas mentiras 
e blasfêmias? – grifei, p. 21. 
 
A tradução e disseminação dessas ideias racistas e discriminatórias, por parte 
de Ellwanger, no Brasil, demonstra a existência de movimentos que apregoam 
discursos de ódio em desfavor de grupos minoritários. No caso em tela, utilizando-se 
de livro publicado por Lutero no século XVI. Em uma visão descontextualizada. 
Esse tipo de publicação em nada contribui para a construção de uma 
democracia pluralista e tolerante com as minorias que compõe essa sociedade. Ao 
contrário, traz ideias que podem influenciar muitas pessoas através de seus livros e 
das novas mídias sociais, de maneira negativa, levando a violência e a intolerância 
contra os judeus, negros e outros grupos minoritários. 
Nesta mesma linha de pensamento, fora publicado a obra intitulada, 
Cristianismo em Xeque, de Sérgio Oliveira.6 
 
“Adolf Hitler foi, no século que caminhava para o ocaso,o grande 
nome que se opôs às forças ocultas nomeadas por Getúlio e Jânio 
Quadros. Ele não se restringiu em nomeá-las com rodeios ou 
subterfúgios, não se valeu de meias palavras, de mensagens 
enigmáticas. Afirmou em claro e bom tom: “Se as nações e a Igreja 
não se rebelarem contra a sinagoga de satanás, o globo terrestre 
mergulhará no abismo e, possivelmente, o planeta venha a girar sem 
vida para a eternidade.” Era uma época em que o arsenal nuclear não 
passava além do campo da ficção científica. Hoje, ainda que coma 
trégua entre os Estados Unidos e a Rússia, os arsenais atômicos não 
foram destruídos e os riscos continuam tão grandes como alguns anos 
atrás. A belicosidade de Israel e dos Hebreus espalhados pelo mundo, 
o domínio por eles exercidos junto aos governos, a ignorância dos 
povos ante o andamento do plano diabólico contido nos Protocolos, o 
enfraquecimento do Cristianismo 
– o mais tradicional inimigo dos judeus, tudo isso contribui para que a 
exortação de Hitler continue viva.” (OLIVEIRA, p. 120/121, 1996). 
 
O supracitado pensamento traz teorias de conspiração em desfavor dos judeus 
dentro da história política do Brasil. Exorta Adolf Hitler, como grande nome que 
combateu contra a “ sinagoga de satanás”. Defende ainda a união dos cristãos contra 
os judeus, antes que seja tarde demais. 
 
 
 
6 
OLIVEIRA, Sergio. O Cristianismo em Xeque. Porto Alegre: Editora Revisão, 1996. p. 120/121. 
9 
 
A partir da defesa e divulgação desse tipo de ideias extremistas, Ellwanger 
respondeu diversos processos na justiça brasileira. Para melhor ilustrar, passa-se a 
história do caso que começou quando, em 14 de novembro de 1991, a juíza da 8ª vara 
criminal de Porto Alegre/RS recebeu a denúncia que acusava Ellwanger de crime de 
racismo (art. 5o, XLII da Constituição Federal e art. 20, da lei 7.716/89, na redação 
dada pela Lei 8.081/90) pelo fato de escrever, editar e publicar livros com conteúdo 
antissemita. O acusado foi absolvido de todas as acusações em primeira instância, 
razão pelo qual foi interposto recurso à 3ª câmara criminal do Tribunal de Justiça/RS. 
Os desembargadores reformaram a decisão monocrática e condenaram 
Ellwanger ao cumprimento de dois anos de reclusão. A defesa impetrou habeas 
corpus no Superior Tribunal de Justiça contra a decisão do acórdão na tentativa de 
desconstituir a imprescritibilidade do ato pelo qual Ellwanger havia sido condenado. 
Denegado o remédio constitucional pelo STJ, a defesa recorreu ao Supremo Tribunal 
Federal. 7 
O debate na corte constitucional girou em torno de dois pontos: os limites de 
significado da palavra “racismo” e a suposta colisão, solucionável através da 
ponderação de dois direitos fundamentais: liberdade de expressão e dignidade da 
pessoa humana. 
Os argumentos utilizados pelos Ministros do STF para tomarem suas decisões 
a despeito deste julgamento foram criticados pelo jurista Lênio Streck.8 Nos seguintes 
termos: 
 
Apesar da decisão constitucionalmente adequada denegando o HC, 
os votos, vencedores e vencidos, demonstram a fragilidade dos 
debates, baseados em argumentos de política ou nos juízos de 
ponderação de valores. Essa fragilidade, como será visto, demonstra 
a ausência de uma teoria da decisão, que exija uma resposta 
constitucionalmente adequada, e deixa os direitos fundamentais nas 
mãos do “relativismo ponderativo [...], porta aberta à 
discricionariedade. 
 
De qualquer modo, apesar da referida crítica do jurista Streck, certamente, no 
caso concreto, fora tomado uma decisão fundamentada na ponderação de direitos 
 
 
7 
HABEAS CORPUS Nº 82.424-2 – Rio Grande do Sul STF. D.J. 19.03.2004. Julgamento na íntegra. 
8 
STRECK. Lenio Luiz. Verdade e Consenso: constituição, hermenêutica e teorias discursivas. 
4.ed.São Paulo: Saraiva, 2011b. p. 50. 
10 
 
fundamentais e em leis que criminalizam a prática do racismo e discriminação em 
desfavor de judeus, negros e outros grupos minoritários. 
Em nome da dignidade humana o entendimento do STF limitou a liberdade de 
expressão daqueles que defendem discursos de ódio, apregoando a violência e a 
intolerância. Mostrando-se uma decisão adequada e que protege direitos 
democraticamente consagrados na Constituição Federal. 
A partir do narrado acerca da instituição supraracista KKK e as teorias 
defendidas por Ellwanger, o presente artigo aborda os principais argumentos de dois 
jurisfilósofos reconhecidos na comunidade internacional por suas contribuições para 
o direito, debatem a temática da dicotomia, liberdade de expressão e seus limites na 
sociedade democrática. Trata- se dos pensadores Ronald Dworkin e Jeremy Waldron. 
A seguir será esboçado os principais argumentos defendidos por ambos nesta 
discussão acerca dos limites da liberdade de expressão frente aos discursos de ódio 
nas sociedades democráticas. 
 
3 RONALD DWORKING E A DEFESA DA TOLERÂNCIA COM OS DISCURSOS 
DE ÓDIO NA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA 
 
Os discursos de ódio retratados acima, na acepção de Dworkin, deveriam ser 
tolerados em uma sociedade democrática. Esta tese fora defendido pelo jusfilósofo 
em um texto de 2009, trata-se do prefácio do livro editado por Ivan Hare e James 
Weinstein, intitulado Extreme Speech and Democracy. 
O argumento de Dworkin para aceitabilidade dos discursos de ódio na 
sociedade democrática fundamenta-se em duas premissas: “ Primeiramente, ele 
sustenta haver um direito humano universal à liberdade de expressão; em segundo 
lugar, afirma que a imposição de restrições a tais discursos comprometeria a 
legitimidade do processo democrático”. (CONSANI, 2015, p. 176) 
Segundo Dworkin, o princípio básico que dá suporte à liberdade de expressão 
como um direito humano universal é a condição de dignidade humana e a exigência 
de que todos devem ser tratados com igual consideração e respeito. (DWORKIN, 
2009, p. 6-7). 
Entende ainda que a legitimidadedemocrática de uma decisão política fica 
comprometida quando os indivíduos ou grupos dissidentes são proibidos ou 
restringidos em seu direito de contribuir para a formação da opinião e da vontade 
coletiva manifestando suas convicções políticas e morais, seus gostos e até mesmo 
seus preconceitos. Nesse sentido, ao estabelecer restrições à liberdade de 
11 
 
expressão, como vedações aos discursos de ódio, o Estado deixaria de respeitar o 
status de cada indivíduo como membro livre e igual da comunidade política. 
(DWORKIN, 2009, p. 07). 
Segundo a interpretação de Waldron,9 o jusfilósofo Dworkin, 
 
(...) pressupõe que os intolerantes são minoria em sociedades 
democráticas e, por essa razão, não seria justo que uma maioria 
pudesse impor a esta minoria leis contra discriminações sem que lhes 
fosse dada a oportunidade de expressar sua opinião, seja por meio de 
palavras, seja por meio de atitudes, contra tais leis antidiscriminação. 
Ou seja, a liberdade de expressar discursos de ódio é o preço que uma 
sociedade democrática deve pagar pela existência de leis contra a 
discriminação de minorias diversas (étnicas, raciais, religiosas, etc). 
 
De acordo com o argumento supracitado, em uma sociedade democrática, seria 
necessário pagar o preço pela imposição de leis pela maioria contra a minoria. E o 
preço seria a admissão pela maioria, dos discursos de ódio no interior das 
democracias. 
Para Dworkin, o princípio da maioria somente será válido para aquelas matérias 
sensíveis à escolha (preference-sensitive), ou seja, às questões políticas, excluindo 
do objeto de deliberação toda a matéria de direitos e liberdades, ou, como denomina, 
as questões de princípios (preference-insensitive). Seguindo esta classificação, são 
sensíveis à escolha aquelas matérias cuja solução depende essencialmente das 
preferências do povo. Já as matérias insensíveis à escolha, por sua vez, não estão à 
disposição da população, não podendo ser alteradas, seja diretamente, seja através 
dos representantes do povo. (TASSINARI, 2009, p. 58). 
Destarte, neste entendimento de Dworkin, em uma sociedade democrática 
deve ser excluído da deliberação toda matéria de direitos e liberdades. Não sendo 
matéria sensível a decisão da população a liberdade individual de defender posições 
muitas vezes caracterizados como discursos de ódio. 
Defende-se um respeito à todos os membros da sociedade, 
independentemente de suas convicções, que as vezes são extremistas e radicais. 
Nesse sentido, TASSINARI,10 esclarece, 
 
 
9 
Essa interpretação do argumento de Dworkin é feita por Jeremy Waldron. Cf. WALDRON, Jeremy. 
Dignity and defamation: the visibility of hate. Harvard Law Review, v. 123, 2010, p. 1640. 
10 
Estudos sobre (neo) constitucionalismo/ sob orientação de Lenio Luiz Streck e José Luis Bolzan de 
Morais – São Leopoldo: Oikos, 2009. p. 59. 
12 
 
Assim, os direitos fundamentais são uma exigência democrática antes 
que uma limitação à democracia. O ideal democrático de autogoverno 
(governo pelo povo) é satisfeito quando o princípio da maioria é 
respeitado/ nada obstante, o princípio majoritário não assegura o 
governo pelo povo senão quando todos os membros da comunidade 
são concebidos e igualmente respeitados. 
 
Foi desenvolvida nos Estados Unidos a visão sobre a liberdade de expressão 
que afirmava que a Constituição obriga os cidadãos ao experimento das opiniões, 
baseando-se na presunção de que o melhor teste para a verdade é o poder de 
determinada ideia ser aceita na “competição do mercado de ideias” (DWORKIN, 2005, 
p. 198). 
O governo frustra e nega esse aspecto da personalidade moral quando impede 
determinadas pessoas de exercer a livre comunicação de ideias com o fundamento 
de que suas convicções desqualificam-nas como cidadãos de poucas virtudes 
(DWORKIN, 2005, p. 200). 
Para TASSINARI e NETO11 
 
Os discursos de incitamento ao ódio – hate speeches– são 
representações simbólicas que expressam ódio, desprezo ou 
desrespeito a outra pessoa ou grupo. O uso de expressões pejorativas 
para grupos étnicos é um claro exemplo. De maneira mais ampla, é 
possível incluir até mesmo os pontos de vista que sejam 
extremamente ofensivos aos outros, que podemos exemplificar com 
afirmações sobre a suposta inferioridade da mulher em relação ao 
homem. Michel Rosenfeld (2001) define os hate speeches como 
aqueles discursos elaborados com a finalidade de promover o ódio e 
que são fundamentados em diferenças de raça, religião, etnia ou 
nacionalidade. Trata-se de uma restrição à liberdade de expressão 
cuja regulamentação foi fenômeno posterior à segunda grande guerra 
mundial e nasceu pela ligação nítida entre a propaganda racista da 
Alemanha nazista e o holocausto. 
 
Como visto acima, os argumentos de Dworkin visam evitar qualquer medida 
estatal no sentido de coagir os denominados discursos de ódio. Essa tese é 
amplamente aceita nos Estados Unidos. De modo geral, a KKK faz suas 
manifestações de ódio sem qualquer intervenção do Estado para coibir essas ações, 
na atualidade. 
 
 
 
11 
TASSINARI, Clarissa. NETO, Elias Jacob de Menezes. Liberdade de expressão e hate speeches: As 
influências da jurisprudência dos valores e as consequências da ponderação de princípios no 
julgamento do caso Ellwanger. Revista Brasileira de Direito, IMED, Vol. 9, nº 2, jul-dez 2013 – ISSN 
2238-0604. p. 19. 
13 
 
Neste sentido, assevera Dworkin, “ Em uma democracia, ninguém, por mais 
poderoso ou impotente que seja, pode ter o direito de não ser insultado ou ofendido. 
(DWORKIN, 2009, p. 08). Trata-se de uma concepção que é preponderante nos 
Estados Unidos da América. Mas não encontra sustentação na doutrina e nas 
decisões dos tribunais brasileiros. 
A legislação brasileira, democraticamente elaborada, além de atribuir caráter 
criminoso à prática, indução ou incitação de determinados discursos preconceituosos, 
prescreve pena mais grave quando ocorre veiculação através de meios de 
comunicação social ou publicação de qualquer natureza. 
Tal medida legislativa está de acordo com o ditame da dignidade humana 
presente no art. 5º inciso XLII da Constituição brasileira que, ciosa do ódio e do sangue 
que maculou a história do país, tornou esses crimes imprescritíveis. (TASSINARI, 
2013.p. 20-21). 
Esse entendimento adotado pelo Brasil em relação aos discursos de 
intolerância, racistas, discriminatórios em desfavor das minorias é tratado de maneira 
tal que procura-se inibir e criminalizar qualquer conduta fundamentada neste tipo de 
pensamento extremista e radical. Essa postura de controle da liberdade de expressão 
se enquadra aos argumentos do pensador Jeremy Waldron. Como poderá ser 
observado a seguir. 
 
 
4 JEREMY WALDRON E A DEFESA DE LIMITES AOS DISCURSOS DE ÓDIO NA 
SOCIEDADE DEMOCRÁTICA 
 
Waldron se opõe ao pensamento de Dworkin em relação a tolerância aos 
discursos de ódio. Essa discussão fora realizada em um texto de 2012, intitulado “ The 
harm in the hate speech” ( O dano nos discursos de ódio). 
Ao reportar às restrições legais aos discursos de ódio, Waldron tem em mente 
uma espécie de regulamentação proibidora de declarações públicas que possam 
causar perturbações à paz social ou insultar e atacar diretamente membros de uma 
minoria vulneráveis, essa concepção tem sido adotadas por diversos países, tais 
14 
 
como Canadá, Dinamarca, Alemanha, Nova Zelândia e o Reino Unido”. (CONSANI, 
p. 181).12 
O Brasil enquadra-se entre os países que adotam a mesma posição dos países 
citados em relação aos discursos de intolerância em desfavor das minorias. Deste 
modo, não se alinha a doutrina jurídica pátria ao entendimento de Dworkin, em relação 
aos discursos extremistas. 
Nessa discussão, Waldron levanta dois argumentos importantes a respeito dos 
discursos de ódio, a saber: primeiramente, ele sustenta que os discursos de ódio 
afetam a dignidade dos indivíduos; em segundo lugar, afirma que tais discursos 
comprometem ecorrompem o ambiente democrático das sociedades. (CONSANI, 
2015. p. 182). 
 
 
12 
CONSANI, Cristina Forani, p. 193. Nos Estados Unidos a discussão a respeito do estabelecimento 
de leis contra discursos e manifestações de ódio é influenciada, tanto na prática política quanto no 
debate teórico, pela Primeira Emenda à Constituição, a qual proíbe o Congresso americano de 
promulgar leis instituindo uma religião oficial ou dando preferência a uma religião e, também, leis que 
proíbam o livre exercício da religião ou, ainda, leis que limitem a liberdade de expressão e imprensa, o 
direito de livre associação pacífica e de petição ao governo. Por outro lado, em alguns países da Europa, 
assim como no Canadá, na Nova Zelândia, há normas vedando ações que podem causar discriminação 
de indivíduos ou grupos ou mesmo comprometer a paz social. No caso do Canadá, da Dinamarca e da 
Alemanha, as leis contra discursos e manifestações de ódio encontram-se inseridas em códigos 
criminais. No caso da Nova Zelândia e do Reino Unido, as regras impondo restrições a tais discursos 
compõem o “Human Rights Act” de 1993 (Nova Zelândia) e o “Public Order Act” de 1986 (Reino Unido) 
(cf. WALDRON, 2012, p. 236/237). No Brasil, o tema é regulado pela Constituição Federal de 1988, 
que proíbe discriminações em razão de origem, raça, cor, idade e quaisquer outras (art. 3º, IV). Há 
ainda a Lei nº 7.716/89, que “define os crimes resultantes do preconceito de raça e de cor”. Tais crimes 
são definidos especificamente no artigo 20 da referida Lei, que estabelece o seguinte: “Art. 20. Praticar, 
induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. 
(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) Pena: reclusão de um a três anos e multa; § 1º Fabricar, 
comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que 
utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo -Pena: reclusão de dois a cinco 
anos e multa; § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de 
comunicação social ou publicação de qualquer natureza -Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa; 
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido 
deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência; I -o recolhimento imediato ou a 
busca e apreensão dos exemplares do material respectivo; II -a cessação das respectivas transmissões 
radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio; III -a interdição das 
respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores” (cf. BRASIL. Lei 
n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989). 
Embora não exista no Brasil nenhuma lei específica contra discursos e manifestações de ódio, o 
Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Habeas Corpus 82.424/RS, que tratava do caso Sigfried 
Ellwanger Castan, livreiro e fundador da editora Revisão que escreveu e publicou livros de conteúdo 
racista e antissemita, julgou que a dignidade humana (valor absoluto) deve ser considerada superior à 
liberdade de expressão (valor relativo) e ressaltou que as liberdades públicas (como a liberdade de 
expressão) não são incondicionadas e, por essa razão, devem ser exercidas dentro dos limites 
estabelecidos na Constituição Federal. Nesse sentido, o STF concluiu que manifestações 
preconceituosas e capazes de incitar a violência e a intolerância contra determinados grupos ou 
indivíduos não podem ser admitidas sob o argumento da proteção da liberdade de expressão. (cf. 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Habeas Corpus 82.424-2/RS). 
15 
 
Waldron parte do conceito rawlsiano de sociedade bem-ordenada. Interessa- 
lhe principalmente a parte deste conceito que sustenta que em uma sociedade bem 
ordenada todos aceitam e sabem que todos os demais aceitam os mesmos princípios 
de justiça. (WALDRON, 2012, p. 69). Interessa-lhe, ainda, não apenas os aspectos 
normativos deste conceito. Sua principal indagação é: “como uma sociedade bem-
ordenada parece na prática”? Discursos de ódio devem ser tolerados pela lei em uma 
sociedade bem-ordenada? (CONSANI, 2015, p. 182). 
A princípio, “uma sociedade não pode ser bem-ordenada se pessoas defendem 
o ódio racial ou religioso, haja vista a ideia de uma sociedade bem- ordenada ser 
aquela amplamente e efetivamente governada por uma concepção de justiça” 
(WALDRON, 2012, p. 77/78). 
Em outras palavras, “uma sociedade não pode ser bem ordenada a menos que 
os intolerantes e racistas desistam de sua missão e aceitem os princípios básicos de 
justiça e de igual respeito aos quais tinham aversão”. (WALDRON, 2012, p. 78). 
Segundo Waldron, em nossas sociedades muito menos do que bem- 
ordenadas é preciso contar com proteções contra a intolerância e discursos de ódio. 
A educação pública contra a intolerância é uma forma de proteção. Leis que proíbem 
discursos e manifestações de ódio são outra espécie de proteção. Em seu 
entendimento, no mundo real, quando as pessoas buscam segurança elas não 
clamam por uma concepção favorita de justiça, mas por fundamentos de justiça 
segundo os quais todos são igualmente humanos e possuem a dignidade da 
humanidade, isto é, todos possuem o mesmo direito à justiça e merecem proteção 
contra as mais variadas formas de violência, exclusão, indignidade e subordinação. 
(CONSANI, 2015, p. 183). 
Discursos de ódio ou difamação negam esses fundamentos para alguns 
indivíduos ou grupos da sociedade. Ao se almejar uma sociedade que seja bem- 
ordenada, deve-se buscar meios pelos quais a segurança básica seja assegurada e 
meios pelos quais a dignidade pessoal seja protegida. Dignidade torna-se, assim, um 
conceito central. Mas o que se entende por dignidade? Como este conceito é definido? 
De acordo com Waldron, há muitas formas de se compreender esse conceito: 13 
 
13 
WALDRON, Jeremy.The harm in the hate speech. Cambridge, Massachussets: Harvard University 
Press, 2012. p.137/138. 
16 
 
Há a teoria kantiana que identifica dignidade com a capacidade moral, 
há a teologia romana católica que associa a dignidade com homens e 
mulheres sendo criados à imagem e semelhança de Deus; há a teoria 
de Ronald Dworkin que associa a dignidade com a responsabilidade 
que cada pessoa deve assumir para sua própria vida; há teorias que 
usam dignidade para capturar algo sobre o alto status que 
concedemos a cada pessoa nas interações sociais e legais. Meu uso 
é como o último desses conceitos, mas não há como negar que outros 
usos também são muito proeminentes. 
 
No seu entender, a dignidade pessoal é, pois, uma questão de status social e 
legal e, como tal, é normativa. O conceito de dignidade exige para os indivíduos 
respeito dos outros indivíduos e também do Estado. (CONSANI, 2015, p. 183). 
Uma vez definida a dignidade como um status, como um bem público a ser 
assegurado em sociedades que pretendem se tornar bem-ordenadas, Waldron realiza 
uma diferenciação importante entre atacar a dignidade de uma pessoa ou meramente 
ofender uma pessoa, isto é, ele traça uma linha divisória entre indignidade e ofensa. 
A distinção se estabelece a partir de critérios objetivos e subjetivos. Os 
aspectos objetivos dizem respeito à posição de uma pessoa na sociedade e não como 
ela se sente diante de um fato X ou Y; os aspectos subjetivos dizem respeito a como 
uma pessoa se sente diante de fatos X ou Y. (CONSANI, 2015, p. 184). 
A dignidade da pessoa ou a reputação está relacionada ao modo como as 
coisas são para essa pessoa na sociedade, isto é, aos critérios objetivos, e não ao 
modo como as pessoas se sentem diante de um acontecimento, ainda que esse 
acontecimento cause uma reação subjetiva em segundo plano, como, por exemplo, 
dor e humilhação (WALDRON, 2012, p. 106). 
Um judeu que se deparar com um cartaz dizendo “judeus e cachorros são 
proibidos” sentir-se-á, obviamente, humilhado, mas tal cartaz afeta tambémaspectos 
objetivos da sua vida em sociedade. A ofensa, por sua vez, causa uma reação 
inerentemente subjetiva nos indivíduos. Ela afeta os indivíduos em seus sentimentos, 
mas não chega a afetar sua dignidade ou seu status de igual perante os demais 
membros da sociedade. Carece-lhe esse aspecto objetivo que autoriza a intervenção 
do Estado. (CONSANI, 2015, p.. 184-185). 
Assim, no âmbito da política, cabe assegurar, por meio do direito, a proteção 
da “dignidade das pessoas e seu tratamento decente na sociedade” (WALDRON, 
2012, p. 107). Não é possível proteger as pessoas contra ofensas, pois isso seria 
17 
 
uma tentativa de “proteger as pessoas de certa espécie de efeito em seus 
sentimentos.” (WALDRON, 2012, p. 107). Em outras palavras, na concepção de 
Waldron, leis proibindo discursos de ódio são necessárias e legítimas para proteger a 
dignidade dos indivíduos, mas não podem protegê-los contra ofensas. 
Conforme exposto, Waldron considera leis contra discursos de ódio um recurso 
do qual uma sociedade pode fazer uso para assegurar aos seus membros a dignidade 
e a igualdade de consideração e respeito. 
Quanto a questão da legitimidade. Segundo Dworkin, leis que restringem 
discursos de ódio podem solapar a legitimidade democrática justamente por negar aos 
indivíduos ou grupos intolerantes a possibilidade de participação na formação da 
opinião e da vontade política da maneira como consideram adequada. 
Waldron analisa essa premissa e sustenta que a melhor forma de interpretá- la, 
segundo orientações do próprio Dworkin em “Is democracy possible here?”, é tomar a 
legitimidade como uma questão de grau. Ou seja, leis contra discursos de ódio 
(upstream laws) podem diminuir a legitimidade de leis contra discriminação 
(downstream laws) sem destruir sua legitimidade. 
Assim, partindo dessa interpretação segundo a qual a legitimidade não é uma 
questão de “tudo ou nada”, mas uma questão de “grau”, Waldron aceita um suposto 
déficit de legitimidade em prol da proteção da dignidade. E, por essa razão, sustenta 
que leis proibindo discursos e manifestações de ódio podem fortalecer a democracia 
ao invés de restringi-la (WALDRON, 2012, p. 192-197). 
A premissa da legitimidade de Dworkin encontra suporte no argumento de que 
manifestantes de discursos de ódio aceitam as regras democráticas exatamente 
porque podem se pronunciar no espaço público do modo como querem. O ponto de 
Dworkin parece ser o mesmo de Rawls quando analisa os limites da tolerância com 
os intolerantes e defende que “as liberdades dos intolerantes podem persuadi-los a 
crer na liberdade.” (RAWLS, 2008, p. 270). 
Em outras palavras, postula-se que em sociedades com instituições 
democráticas consolidadas o espaço público deve acolher a intolerância na 
expectativa de eliminá-la, ou seja, se aposta na percepção e no reconhecimento, por 
parte dos intolerantes, de que possuem liberdade para manifestar seu 
posicionamento, do modo como querem, e aceitem essa liberdade como um valor que 
eles também precisam atribuir aos demais membros da sociedade, abrindo-se para 
uma perspectiva distinta da sua e aceitando a diversidade. 
18 
 
Waldron parece duvidar da possibilidade do intolerante ser persuadido pela 
atmosfera de liberdade e de tolerância que o acolhe no espaço público.14 
 
Seu argumento é que indivíduos podem manifestar seu desacordo 
sem discursos ou manifestações de ódio. Por outro lado, indivíduos ou 
grupos que lançam mão de tais discursos não parecem estar abertos 
ao diálogo democrático. Ao contrário, quando a intolerância com a 
diferença de opinião, de crença ou de modo de vida chega ao ponto 
de um discurso de ódio, parece que a própria possibilidade da 
discussão política já deixou de existir e com ela findou também a 
esperança de que o intolerante se deixe convencer por argumentos 
contrários aos seus. Como levar a sério, por exemplo, a possibilidade 
de um debate entre nazistas e liberais?. 
 
O fato daqueles que defendem discursos de ódio se negarem ao diálogo 
democrático, por suas posições extremistas e radicais, impossibilita qualquer debate 
político sério e que contribua para a construção de uma sociedade tolerante. 
Nesse sentido, Waldron não considera problemático que o ódio e suas 
manifestações permaneçam no submundo, sem vir à público, já que tais discursos 
podem tanto minar princípios fundamentais das sociedades democráticas, como a 
segurança de indivíduos ou grupos minoritários no que concerne à sua dignidade e à 
sua reputação, quanto podem também contaminar a atmosfera democrática. 
A preocupação de Waldron no que concerne à democracia é justamente com a 
“poluição” do ambiente democrático, pois uma vez alçados ao espaço público o ódio 
e a intolerância podem adquirir e impulsionar forças não razoáveis e não 
democráticas. (CONSANI, 2015, p. 187). 
O autor utiliza a metáfora ambiental, para explicar seu argumento, sustenta que 
assim como uma sociedade, no que diz respeito ao cuidado com o meio ambiente, 
não pode deixar para adotar medidas restritivas à poluição somente quando o dano 
ambiental já tiver sido causado, também no que diz respeito ao dano ao ambiente 
democrático as medidas devem ser preventivas, no sentido de tentar evitar que o dano 
ocorra. Leis que proíbem discursos e manifestações de ódio, neste sentido, têm um 
caráter preventivo em relação a danos à segurança e à dignidade de minorias 
vulneráveis, assim como em relação ao ambiente democrático da sociedade como um 
todo (cf. WALDRON, 2012, p. 96/97). 
 
 
 
14 
WALDRON, Jeremy.The harm in the hate speech. Cambridge, Massachussets: Harvard University 
Press, 2012. p. 95. 
19 
 
Pensando em evitar a “poluição” e degradação do ambiente social com a 
ascensão dos discursos de ódio no espaço público que Waldron entende possível e 
necessária a aceitação de leis que proíbam discursos de ódio. Sua preocupação volta-
se justamente para a cultura democrática, a qual com certeza encontra-se vulnerável 
perante a aceitação e o crescimento, sempre possível, do ódio em sociedades 
democráticas. (cf. WALDRON, 2010, p. 1632). 
Como no caso de Dworkin, as considerações de Waldron estão atreladas ao 
modo pelo qual ele define a democracia. Em seu entendimento, o principal elemento 
da democracia é o autogoverno popular. Waldron aceita a premissa majoritária e tem 
se manifestado contrário ao deslocamento de questões políticas de grande relevância 
do fórum político para o fórum judicial. (CONSANI, 2015, p. 188/189). 
Segundo ele, o espaço para a discussão de temas políticos controversos é o 
legislativo representativo e não o judiciário. A aposta no espaço político como o local 
mais adequado ao debate de temas controversos contribui para que se entenda 
melhor a importância que esse autor confere ao fortalecimento de uma cultura política 
intolerante com a intolerância. 
De acordo com CONSANI,15 
 
Essa compreensão do povo enquanto agente moral dotado de 
responsabilidade e de autonomia está estreitamente conectada com a 
premissa do desacordo razoável ou de boa fé isto é, um desacordo 
oriundo da ausência de consenso entre posicionamentos que podem 
ser sustentados racionalmente. Essa premissa é um elemento 
normativo da teoria da democracia de Waldron, haja vista que sem ela 
a própria teoria deixa de apresentar qualquer segurança para os 
direitos de minorias e para a própria democracia. O desacordo 
razoável ou de boa fé acaba por se tornar a própria condição de 
discussão no espaço público. Por essa razão, quando a intolerância 
na sociedade passa a se expressar na forma de discursos ou 
manifestações de ódio, o que se perde é justamente a possibilidade 
de um desacordo razoável, comprometendo-se, desse modo, a própria 
democracia. 
 
Assim, considerando-se que a intolerância, no nível de discursos de ódio, 
rompe com esse suposto pacto social em torno do desacordo razoável, contaminando 
e comprometendo o ambiente democrático, a segurançae a dignidade de minorias 
vulneráveis, Waldron entende que, mesmo aceitando-se o argumento de Dworkin 
segundo o qual leis contra discursos de ódio geram em 
15 
CONSANI, C. Democracia e os discursos de Ódio Religioso: Debate entre Dworkin e Waldron. p. 
189. 
20 
 
alguma medida um déficit de legitimidade democrática para leis que proíbem 
discriminações, ainda há um ganho maior para a democracia, para seus valores e 
para suas práticas, ao se restringir a intolerância do que ao aceitá-la. 
Nesse mesmo sentido, assevera TASSINARI e NETO16 
 
A aceitação de hate speeches por parte do Estado mina a igualdade 
daqueles que são alvos desses discursos ofensivos e viola direitos 
fundamentais dos cidadãos. Sob essa perspectiva, o Brasil, através do 
decreto 592/92, inseriu no ordenamento nacional o pacto internacional 
sobre direitos civis e políticos de 1966. Os artigos 19.3, 
20.2 e 26, apesar de garantirem a liberdade de expressão, as- 
seguram a proibição de qualquer apologia ao ódio que constitua 
discriminação, hostilidade ou violência e aplica essas restrições à 
liberdade de expressão. 
 
Desse modo, fica evidente que a legislação, as decisões judiciais dos Tribunais 
pátrios e a doutrina estão muito mais atrelados ao pensamento de Jeremy Waldron . 
Uma vez que, como visto acima, o Estado aceitando os discursos de ódio irá violar 
direitos fundamentais daqueles que são alvo destes extremistas. 
A liberdade de expressão está garantida, todavia, é assegurado a proibição de 
discursos que constituam discriminação, hostilidade ou violência em desfavor de 
minorias. 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O presente artigo procurou mostrar alguns discursos de ódio ainda presentes 
nas sociedades democráticas. De modo especial, fora destacado o discurso da 
organização racista Ku Klux Klan, que ainda é muito atuante nos Estados Unidos da 
América. E como visto, continua divulgando sua mensagem extremista, de cunho 
discriminatório, racista e violento, contra negros, judeus, homossexuais, imigrantes, 
etc. Isso tudo, dentro de uma sociedade democrática. Sem, a princípio, serem 
importunados pelas autoridades. 
Fora também apresentado alguns elementos dos discursos propagados no 
Brasil e outros países democráticos, pelo editor e autor revisionista Ellwanger e alguns 
de seus seguidores, igualmente de cunho racista. Que apregoa violência e 
 
16 
TASSINARI, Clarissa. NETO, Elias Jacob de Menezes. Liberdade de expressão e hate speeches: As 
influências da jurisprudência dos valores e as consequências da ponderação de princípios no 
julgamento do caso Ellwanger. Revista Brasileira de Direito, IMED, Vol. 9, nº 2, jul-dez 2013 – ISSN 
2238-0604 
21 
 
intolerância em desfavor, especialmente de judeus. Neste caso, apresentou-se, 
inclusive, alguns elementos do julgamento de Ellwanger, que acabou chegando até o 
STF. O tribunal utilizou-se da ponderação de valores, teoria defendida por Robert 
Alexis e criticada por Lenio Streck, que alega em suma, que a referida teoria, pode dar 
margem ao relativismo e a discricionariedade do julgador, o que deve ser evitado. 
Sendo que nestas circunstâncias, se faz necessário observar o fato de que a 
liberdade de expressão não pode servir para apoiar discursos de ódio, conforme 
explicitado na Constituição Federal, na legislação infraconstitucional e nos tratados de 
direitos humanos assinados pelo Brasil. 
Posteriormente, houve a apresentação dos principais argumentos de Ronald 
Dworkin. Que defende a tolerância aos discursos dos intolerantes. 
Sustentou sua argumentação na premissa de haver um direito humano 
universal à liberdade de expressão; e defendeu que a imposição de restrições a tais 
discursos comprometeria a legitimidade do processo democrático. 
Como visto, esta teoria de Dworkin foi contraposta pelo jusfilósofo Jeremy 
Waldron. Que não aceita a liberdade de expressão ilimitada em uma sociedade 
democrática. Diante de discursos de ódio, não é possível ser tolerante. Uma vez que 
não existe mais espaço para o chamado desacordo razoável e o debate fundamentado 
na boa-fé. 
Segundo ele, os discursos de ódio podem contaminar a sociedade democrática. 
Para evitar essa contaminação justifica-se a aprovação de leis que criem sanções em 
desfavor daqueles que defendem posições extremistas e radicais. Uma vez que esse 
tipo de discurso pode colocar em risco a própria sociedade democrática. 
Essa assertiva encontra amparo no fato de que os adeptos desse tipo de 
discurso não respeitam o direito a liberdade, igualdade e muitas vezes, a própria vida 
dos grupos denominados de minoritários, como os judeus, negros, homossexuais, 
imigrantes, etc. 
Como foi visto, a liberdade de expressão é direito fundamental na democracia 
constitucional. Sua importância vem sendo demonstrada tanto no direito interno, 
especialmente na Constituição brasileira de 1988, quanto no direito internacional, com 
ênfase na declaração universal dos direitos humanos. A mesma importância 
22 
 
tem o pluralismo político, pois somente através da livre circulação de ideias é possível 
falar em possibilidades do diálogo democrático. 
Ao final do presente artigo, responde-se ao problema proposto, qual seja, em 
uma sociedade democrática como os Estados Unidos e o Brasil, é possível conviver 
e admitir a divulgação de discursos de ódio? 
Embora os argumentos apresentados por Ronald Dworkin, sejam muito 
pertinentes em relação a tolerância aos intolerantes, em nome da absoluta liberdade 
de expressão e da legitimidade democrática. A teoria apresentada por Jeremy 
Waldron, ao que parece, no momento, responde de maneira mais adequada e 
pertinente os anseios de uma sociedade democrática. Garantindo dignidade e 
segurança a todas as pessoas. Uma vez que a liberdade de expressão precisará 
sempre ser limitada pelo legislação quanto aos discursos de ódio, que pregam 
inclusive, o fim da democracia e das liberdades individuais. 
 
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