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Poder Judiciário estrutura e organização A reforma do Poder Judiciário

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PODER JUDICIARIO: ESTRUTURA E ORGANIZAÇAO 
A REFORMA DO PODER JUDICIARIO* 
1. Introdução 
MARIANA HERESCU** 
1. Introdução; 2. Poder Judiciário; 3. Reforma do Poder 
Judiciário; 4. Conclusões. 
A reformulação das estruturas sociais e políticas vem constituindo um 
anseio universal nestas últimas três décadas. 
Com efeito, a necessidade de adequar a estrutura social às transforma­
ções trazidas pelas novas conquistas tecnológicas que, após a II Guerra 
Mundial, mudaram a face do planeta, aponta o processo de modernização 
das instituições como única forma de assegurar a sobrevivência da civi­
lização ocidental e da própria sociedade. 
A realidade brasileira, condicionada, igualmente, por esta evolução, in­
corporou no elenco das aspirações nacionais a modernização de suas ins­
tituições políticas. 
Justifica-se, portanto, a escolha do tema desta monografia, por sua 
atualidade no cenário político nacional. A vastidão da matéria a ser tratada 
obriga, porém, face às limitações impostas pela própria natureza do presente 
trabalho, a um enfoque informativo, numa abordagem objetiva, de aspectos 
de ordem técnica. 
À vista do exposto, impõe-se, em primeiro lugar, algumas considerações 
de ordem conceitual, para, em seguida, situar o Poder Judiciário como uma 
das expressões políticas do poder nacional. 
* Monografia apresentada no VIII Curso de Estudo de Problemas Brasileiros do 
Forum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
** Membro do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e pesquisadora do 
Instituto de Direito Público e Ciência Política da Fundação Getulio Vargas. 
R. Cio paI.. Rio de Janeiro. 21 (4) : 19-42. out. / dez. 1978 
--~-----------------
o poder, como fenômeno natural, constitui um fato relacional que 
se objetiva nas relações do homem com a natureza, e do homem com 
os outros homens. Portanto, num sentido individual, poder-se-ia definir 
o poder como uma capacidade de impor uma vontade, ou melhor, a ca­
pacidade de transformar uma vontade num ato. Num sentido sociológico, 
entretanto, o poder seria a expressão de uma vontade coletiva de um 
grupo social; e, finalmente, num sentido político, acrescer-se-ia ao conceito 
de poder a idéia de autoridade, um- princípio de ordem que leva à con­
centração do poder do grupo social em uma ou mais vontade. Assim, a 
autoridade concentra a vontade do grupo bem como a capacidade de seus 
integrantes. 
Contudo, a autoridade representa, apenas, um elemento estático do poder 
político; sua parte dinâmica é constituída pelo movimento que suscita para 
conquistar a autoridade, para exercê-la ou conservá-la. Essa força motriz, 
propulsora da ação política ou social, confunde-se com o próprio poder 
político, o que levou Bertrand Russell a conceituá-lo como energia social. 
O poder político, como base da organização social, identifica-se com 
a própria noção de Estado - onde e através do qual o poder político 
se exerce. 
O conceito de Estado sofreu sucessivas reformulaçães ao longo da His­
tória. A clássica definição - nação politicamente organizada, segundo 
Bluntschli (ou 'a sociedade politicamente organizada" de Maquiavel), 
traduz, hoje, a expressão política de um grupo social complexo, com 
características históricas, geográficas e antropológicas próprias. E essas 
características, esses elementos, em sua totalidade, integram o poder 
nacional. 
No âmbito do conceito de poder nacional encontram-se não somente os 
elementos do poder político (autoridade, força para conquistá-la, exercê-la, 
mantê-la), sua faculdade (soberania), seus princípios (legitimidade), mas 
também um sentido teleológico, já que este existe como meio para alcançar 
o bem comum. A concepção de bem comum, muitas vezes empregada em 
sentido vulgar ou eleitoreiro, foi muito bem definida por Georg'es Bur­
deau( 1), segundo o qual " ... encarado sob o plano concreto, em sua 
ação como realidade social, o bem comum aparece menos como uma 
resposta que como um problema sempre presente nas coletividades huma­
nas, cujos termos variam incessantemente". 
Portanto, nessa colocação conjuntural, o bem comum reflete os intéresses 
nacionais, traduz as aspirações do povo, e consubstancia-se nos objetivos 
nacionais, os quais exprimem os desejos da Nação, os valores a que esta 
aspira, e são: 
a) a integridade territorial; 
b) a integração nacional; 
c) o progresso; 
d) a paz social; 
e) a soberania. 
20 R.C.P. 4/78 
E, como meta final, objetivo último do Estado situa-se, acima de tudo, 
na dignificação da pessoa humana, através do alcance de status melhor, 
com pleno acesso aos benefícios da civilização e do progresso. 
Mesmo porque, o bem-estar individual constitui fator integrante do bem­
estar coletivo e, portanto, do bem comum. 
Segundo a doutrina política consagrada pela Escola Superior de Guerra, 
os objetivos nacionais integram o conceito do poder nacional: 
"Expressão integrada dos meios de toda ordem de que dispõe efetivamente 
a Nação, para alcançar e manter, interna e externamente, os objetivos 
nacionais" . 
Ora, o poder nacional, de acordo com o campo em que exerce seus 
efeitos, assume várias expressões: política, econômica, psicossocial e militar. 
No campo político, das instituições políticas, situa-se, conseqüentemente, 
o Poder Judiciário, como uma das expressões políticas do poder nacional. 
2. Poder judiciário 
Na apreciação do Poder Judiciário como instituição política, mister se 
faz definir esta última. Para Gaston Richard, a instituição representa uma 
forma social que se cristalizou, possuindo uma finalidade específica: asse­
gurar a unidade e a continuidade do grupo. Já Geoffrey Roberts, assim a 
define: "rede de estruturas, processos e valores compartilhados dentro de 
um sistema social de natureza relativamente permanente que se ocupa de 
alguma função social ou de algum grupo de funções".l 
Henry Capitant vê a instituição como um conjunto de regras estabeleci­
das pelo legislador ou por um particular, tendo em vista a satisfação de 
interesses públicos ou privados. 
Em memorável conferência proferida neste VIII Curso de Atualização 
sobre Problemas Brasileiros, o grande publicista Prof. Pedro Calmon, ao 
discorrer sobre a estrutura política do Brasil, nela distinguiu as instituições 
políticas permanentes, que formam a "arquitetura do Estado", e, entre elas, 
os poderes do Estado: Legislativo, Executivo e Judiciário. 
Outros constitucionalistas recorreram a classificação diversa, dividindo 
as instituições políticas em dois grupos: o primeiro, representado pela ins­
tituição política originária; o Estado; e o segundo, pelas instituições polí­
ticas derivadas, que seriam todas as demais. Neste grupo divisavam as 
instituições políticas derivadas, de primeiro e segundo nível, considerando 
as primeiras como os instrumentos pelos quais o Estado exerce suas fun­
ções básicas - no caso, os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. 
Essa divisão de funções, ou melhor, dos modos pelos quais o Estado 
exerce seu poder, resultou da formulação de Montesquieu, mas sofreu 
grandes transformações, mercê da evolução das instituições políticas e da 
1 Robert, G. Dicionário de análise política. p. 122. 
Estrutura e organização do ludiciário 21 
conceituação moderna do Estado. A clássica tripartição do filósofo fran­
cês, preconizada, igualmente, por Locke e Kant, foi efeito do liberalismo 
e fundamentava-se na filosofia jurídica que erigia a liberdade individual 
em objetivo básico da organização estatal, fazendo uso, para tanto, de um 
sistema de limitações da soberania, traduzido no célebre princípio: "le 
pouvoir arrête le pouvoir". 
A rigidez inicial da concepção modificou-se, conforme acima foi acen­
tuado, em virtude da gradual transformação das estruturas políticas e 
sociais, chegando, hoje, à idéia de harmonia e cooperação mais do que de 
divisão dos poderes. 
Assim, vê-se que a nossa Carta Magna, em seu art. 69, prevê: 
"São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, 
oExecutivo e o Judiciário." 
Na realidade, a própria conceituação de poderes do Estado evoluiu 
para a de órgãos do Estado os quais desempenham funções: a legislativa, 
executiva e judiciária. 
Entretanto, a função exercida por cada órgão não poderá ser entendida 
como exclusiva e excludente das demais, mas sim como predominante, 
precípua, admitindo cada órgão em sua esfera de competência o exercício 
de outra função, diversa da que lhe é peculiar. Nesse sentido, o Poder 
Executivo exerce a função executiva, que é a função política, quando 
atende ao cumprimento das leis e representa o Estado, e a função admi­
nistrativa, pela prestação de serviços gerais por intermédio da administração 
pública. 
Mas, como já foi observado, exerce ele também as outras funções: a 
normativa, pela elaboração e expedição de decretos-leis ou de regulamentos 
- atos normativos privativos do Poder Executivo, que se destinam a 
regular a execução das leis e que constituem, numericamente, a faixa maior 
de normas legais; e a função jurisdicional, quando aplica a lei, julgando 
seus funcionários em inquéritos administrativos, por exemplo. 
O Poder Legislativo "produz" a Lei, pelo chamado processo legislativo, 
ou processo de elaboração legislativa. Mas em numerosos casos pratica 
atos de caráter administrativo e, em outros, profere julgamentos. O exer­
cício da função jurisdicional pelo Poder Legislativo concretiza-se quando 
o mesmo julga o presidente da República, os ministros do Supremo Tri­
bunal Federal e o procurador-geral da República nos crimes de responsa­
bilidade, bem como os ministros de Estado nos crimes da mesma natureza, 
quando conexos com os daquele. 
Ao Poder Judiciário cabe a função de distribuir justiça: eliminando 
conflitos, solucionando os litígios com base nas leis, declarando, enfim, o 
direito aplicável e, neste caso, cabe-lhe a função de "dizer o direito": juris 
dictio, função jurisdicional. 
A função jurisdicional assume, porém, um sentido mais amplo por meio 
do controle jurisdicional dos atos administrativos. A finalidade essencial 
22 R.C.P. 4/78 
do controle jurisdicional é a proteção do indivíduo em face da administra­
ção pública. 
Mesmo porque, de nada adiantaria legislar, definir direitos e submeter 
os administrados às leis, sem uma garantia de preservar esses direitos e 
de obstar e reprimir a sua violação, ainda quando esta decorra de agentes 
do próprio poder público. 
Tal garantia é assegurada, entre nós, pelo preceito constitucional segundo 
o qual não pode ser subtraída à apreciação do Poder Judiciário qualquer 
lesão de direito individual.2 
1:: indispensável, portanto, a importância da função exercida pelo Poder 
Judiciário no Brasil, país de regime presidencialista, com a conseqüente 
predominância do Poder Executivo sobre o Legislativo, em que este último 
- ao contrário do que ocorre no parlamentarismo - exerce função fis­
calizadora restrita e indireta. 
O Poder Judiciário tem, assim, indiscutível supremacia sobre as demais 
funções estatais, como elemento fiscalizador das atividades do Estado, pelo 
controle da legalidade dos atos da administração pública. 
Ademais, outro aspecto do controle jurisdicional se impõe: o controle 
da constitucionalidade das leis, função das mais relevantes do Supremo 
Tribunal Federal, que submete o Poder Legislativo aos preceitos consti­
tucionais. 
Destarte, podemos concluir, em última análise, que o Poder Judiciário 
exerce uma função política da mais alta relevância, já que por meio do 
controle jurisdicional da legalidade dos atos do Poder Público e da consti­
tucionalidade das leis, assegura a subordinação de toda a atividade estatal 
à ordem jurídica. 
2.1 Evolução histórica 
A estrutura e a organização do Poder Judiciário constituíram-se e modifi­
caram-se em função da evolução histórica da estrutura política do País. 
A existência do Estado unitário e o surgimento da Federação projetaram 
seus reflexos no principal problema enfrentado pelo Poder Judiciário nos 
diversos sistemas constitucionais: o problema da unidade e dualidade de 
jurisdição. 
2.1.1 O Poder Judiciário no sistema constitucional do Império 
No panorama político do Império verifica-se a existência de um Estado 
unitário, sob a égide da Constituição Política do Império, outorgada por 
D. Pedro I, em 25.3.1824, e que reconhecia, em seu art. 99, a divisão 
e harmonia dos poderes políticos, dispondo, no art. 10: 
2 Constituição Federal, art. 153, § 4.°. 
Estrutura e organização do Judiciário 23 
"Os poderes políticos reconhecidos pela Constituição do Império do Brasil 
são quatro: o Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Executivo 
e o Poder Judicial." 
No capítulo referente a este último (arts. 151 a 164) reconhece c prin­
cípio da independência do Poder Judiciário - ou "Judicial", como a ele 
se refere - e delineia a sua composição. Assim, em primeira instância, 
havia juízes e jurados: estes, para se pronunciarem sobre o fato, e aqueles, 
para aplicar a lei. Para o julgamento das causas em segunda instância. 
havia, nas províncias do Império, os tribunais locais, as Relações das 
Províncias; e, finalmente, o Supremo Tribunal de Justiça, que constituía 
uma instância superior às Relações das Províncias, e cuja competência, 
definida no art. 164, era recursal quando julgava as "revistas nas Causas", 
e originária ao conhecer os crimes de seus próprios membros, dos mem­
bros das Relações das Províncias, dos diplomatas e dos presidentes das 
províncias. 
Conclui-se, assim, que no Império, havia uma organização judiciária 
única para todo o País, em conseqüência de uma organização política 
unitária. Esse sistema da unidade judiciária possibilitava a aplicação 
uniforme da lei, bem como a uniformidade administrativa da justiça, uma 
só para todo o território nacional. 
2.1.2 O Poder Judiciário nos sistemas constitucionais da República 
Com o advento da República, o sistema da unidade judiciária foi substi­
tuído pela dualidade de jurisdição: a federal e a estadual, cada uma com 
sua esfera de competência própria. Com efeito, outra não poderia ser a 
conseqüência do regime federativo sobre a organização dos poderes do 
Estado. Nesse particular, muito bem observou o insigne publicista, Ministro 
Themistocles Brandão Cavalcanti: 
"Nos países que adotaram o sistema federal, especialmente nos Estados 
Unidos e Argentina, vigora o regime da dualidade das justiças: justiça 
estadual, justiça federal. 
No Brasil também, desde a República, instituiu-se o regime da dualidade 
da justiça, em primeira e segunda instâncias, com jurisdição e compe­
tência determinadas - justiça federal, com o Supremo Tribunal Federal 
como tribunal de segunda instância e juízes federais, nas capitais dos 
Estados; justiça estadual com organização própria, juízes e tribunais 
integrados na organização peculiar a cada estado" (2). 
a) A primeira Constituição republicana, promulgada a 24.2.1891, con­
sagrou a tripartição dos poderes no art. 15: 
"São órgãos da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo e o 
Judiciário, harmônicos e independentes entre si." Além de adotar ... "como 
forma de governo, sob o regime representativo, a República Federativa" 
(art. 19 ). 
24 R.C.P. 4/78 
No capítulo referente ao Poder Judiciário (arts. 55 a 62) prevê a 
organização dual do mesmo, dividido em justiça féderal e justiça estadual. 
À justiça federal, composta por juízes e tribunais federais - "tantos 
quantos o Congresso criar" (art. 55) - atribui competência específica, 
dispondo, em relação à justiça estadual - composta por juízes e tribunais 
locais - competência geral. O órgão de cúpula do Poder Judiciário é 
constituído pelo Supremo Tribunal Federal, composto por 15 juízes, com 
competência originária, na forma do art. 59, e competência recursal para 
as decisões dos juízes e tribunais federais, e dos juízes e tribunais dos 
estados. 
N a vigência da Constituição de 1891 o direito adjetivo era estadual 
- um para cada Estado, ensejando divergência e, conseqüentemente,inúmeros conflitos de jurisdição. 
b) Após o desfecho da Revolução Constitucionalista de 1932, foi insti­
tuída, pela ditadura, a Comissão Constitucional, com o propósito de 
elaborar uma carta política pela qual o País ansiava. 
Com relação ao Poder Judiciário, novamente veio à baila a questão 
da dualidade da justiça, muito combatida na época, chegando a despertar 
verdadeira polêmica. Contra ela insurgia-se com lucidez Themistocles 
Cavalcanti: 
"Assim, a justiça, que deveria ser nacional, fragmentava-se aos poucos 
pela predominância dos interesses estaduais, contrariando o princípio 
fundamental de todo o sistema federativo, que é a preeminência da 
União." 
E, mais adiante: 
"Quem conhece, porém, a verdadeira situação da justiça de certos estados, 
outra solução não vê que não a da unidade, com o Supremo Tribunal 
transformado em Tribunal de Cassação, exercendo a sua benéfica ação 
revisora sobre as duas dezenas de tribunais superiores que distribuem 
justiça em última instância aos que vivem no Brasil. 
Este seria o grande fator da unidade nacional. A consciência de que todos 
no País teriam um mesmo direito, e uma só interpretação para aquelas 
leis que já agora são uma só para todos, traria uma força de grande 
expressão na formação da unidade moral e cultural do Brasil" (3). 
Palavras de indiscutível atualidade, ainda que proferidas há mais de 
40 anos ... 
A sua posição contrária à dualidade da justiça era também a de outros 
grandes juristas da época, como João Mangabeira, Rui Barbosa, Clóvis 
Bevilaqua e Oliveira Vianna; este último, com grande profundidade, 
colocou o problema como sendo de ordem política, no terreno da conve­
niência nacional. 
A Constituição promulgada a 16.7.1934 manteve "como forma de 
governo, sob o regime representativo, a República federativa" (art. 1 Q), 
e, como "órgãos da soberania nacional, dentro dos limites constitucionais, 
Estrutura e organização do Judiciário 25 
os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, independentes e coorde­
nados entre si" (art. 39 ). 
O Poder Judiciário - estruturado dentro do princípio da dualidade 
em justiça federal e estadual - era composto pela Corte Suprem:l, juízes 
e tribunais federais, juízes e tribunais militares, juízes e tribunais eleitorais 
e, finalmente, juízes e tribunais locais. 
Com relação ao direito processual, passou este a ser da competência 
da União, um só para todo o território nacional (art. 59, n. XIX). 
c) A Carta Constitucional, outorgada a 10.11.1937 pelo presidente da 
República, manteve a República Federativa, ou, conforme o disposto em 
seu art. 3: "O Brasil é um Estado federal, constituído pela União indis­
solúvel dos estados, do Distrito Federal e dos territórios." 
O presidente da República, segundo o art. 73, era a autoridade suprema 
do Estado, coordenando a atividade dos órgãos representativos de grau 
superior, sem qualquer menção explícita à divisão dos Poder;!s e ao 
princípio de sua independência. O próprio controle jurisdicional da cons­
titucionalidade das leis dependia, em última análise, do presidente da 
República, que poderia submeter uma decisão do Tribunal ao exame do 
Parlamento, o qual, confirmando uma lei, tornaria sem efeito a declaração 
de sua inconstitucionalidade (art. 96, § único). Evidentemente, em casos 
de recesso do Congresso, o presidente da República deteria, como deteve, 
este poder. 
A Carta de 1937 estabeleceu a unidade da justiça em primeira instância, 
e a dualidade, em segunda instância. Com efeito, a organização do Poder 
Judiciário, de acordo com o art. 90, passou a ser a seguinte: 
Supremo Tribunal Federal; 
- juízes e tribunais dos estados, do Distrito Federal e dos terri,órios; 
- juízes e tribunais militares. 
Ficou mantida a unidade do direito processual. 
d) Esta mesma estrutura mista - única em primeira instância, salvo 
para matérias específicas, e dual em segunda instância - foi mantida 
pela Constituição promulgada a 18.9.1946. 
Em seu art. 19 consagrava ela o regime representativo, a Federação e a 
República, reconhecendo como poderes da União, o Legislativo, o 
Executivo e o Judiciário, independentes e harmônicos entre si (art. 36). 
No capítulo em que tratava do Poder Judiciário, estabelecia a sua 
organização: 
"Art. 94 - O Poder Judiciário é exercido pelos seguintes órgãos: 
a) Supremo Tribunal Federal; 
b) Tribunal Federal de Recursos; 
c) Juízes e tribunais militares; 
d) Juízes e tribunais eleitorais; 
e) Juízes e tribunais do trabalho." 
26 R.C.P. 4/78 
E, ainda, a justiça dos estados, com seus juízes de primeira instância, e 
tribunais de segunda instância. 
Foi mantida, uma vez mais, a unidade de processo. 
2.l.3 Estrutura atual 
No período atual, subseqüente à Revolução de 1964, a organização do 
Poder Judiciário foi alterada pelo Ato Institucional n9 2, de 27.10.1965, 
que restabeleceu a justiça federal de primeira instância. 
Com o advento da Constituição de 24.1 .1967, o Poder Judiciário, na 
forma do art. 107, resultou composto pelos seguintes órgãos: 
a) Supremo Tribunal Federal; 
b) Tribunais Federais de Recursos e juízes federais; 
c) Tribunais e juízes militares; 
d) Tribunais e juízes eleitorais; 
e) Tribunais e juízes do trabalho. 
A organização da Justiça Estadual continuou sendo de competência 
dos Estados, observados os princípios gerais relativos à Magistratura. 
A Emenda Constitucional n9 1, de 17.11.1969, manteve praticamente 
a mesma estrutura do Poder Judiciário, incluindo a Justiça Estadual no 
dispositivo que trata de sua organização (art. 112), a saber: 
a) Supremo Tribunal Federal; 
b) Tribunais Federais de Recursos e juízes federais; 
c) Tribunais e juízes militares; 
d) Tribunais e juízes eleitorais; 
e) Tribunais e juízes do trabalho; e 
f) Tribunais e juízes estaduais. 
Esta é, então, a atual estrutura do Poder Judiciário, com seus órgãos 
e competência próprios. 
Como se verifica, foi mantida a dualidade da justiça, em primeira e 
segunda instância. 
Com relação às respectivas áreas de competência, adotou-se o critério 
de enumeração das causas e processos pertinentes aos órgãos da justiça 
federal e da chamada justiça especial (militar, do trabalho, eleitoral). 
No âmbito da justiça estadual ficaram incluídos os demais casos. 
Já quanto à legislação processual, o sistema vigente é o da plena 
competência da União, isto é, um código de processo civil e de processo 
penal únicos, para todo o território nacional. 
O gráfico 1, reproduzido de um trabalho publicado pelo eminente 
jurista e juiz do Tribunal de Alçada deste estado, Dr. Luiz Antonio 
Severo da Costa ( 4 ), possibilita a melhor compreensão da dualidade 
estrutural do Poder Judiciário e do acesso das causas ao Supremo Tribunal 
Federal, órgão de cúpula do Poder Judiciário. 
Estrutura e organização do Judiciário 27 
Gráfico 1 * 
Poder Judiciário 
JUíZES DE DIREITO 
.JUSTiÇA FEDERAL .JUSTiÇA ESTADUAL 
* O gráfico representa a estrutura do Poder Judiciário do Brasil e também como as 
causas podem subir até o STF. 
Fonte: Revista Brasileira de Estudos Políticos. 
3. Reforma do poder judiciário 
3.1 A Modernização do Poder Judiciário 
A modernização política, segundo o prof. René Rohan (5), é geralmente 
identificada como sendo o processo de adaptação das relações de ordem 
política, especialmente aquelas vinculadas à formação do consenso político 
e ao funcionamento das instituições políticas - a certos padrões históricos 
da vida política. Estes representam, atualmente, os novos problemas 
surgidos na vida social, causados pelo desenvolvimento tecnológico e 
econômico e pelas necessidades decorrentes da direção e organização 
racional das relações sociais. 
No que se refere aos problemas da organização e administração da 
justiça e a conseqüente preocupação com a modernização do Poder 
Judiciário, não constituem os mesmos fato novo nem de ordem local. 
No começo do século, Roscoe Pound, jovem advogado americano, 
proferiu um discurso histórico, sob o título de As causas da insatisfação 
popular coma distribuição da justiça, o que chocou a velha guaràa dos 
meios jurídicos norte-americanos, que considerava o sistema judiciário 
dos Estados Unidos como o mais perfeito do mundo. Em sua análise 
profunda, Roscoe Pound qualificou o sistema judiciário norte-americano 
de arcaico, e seu processo, desatualizado. Sua crítica, no entanto, defla­
grou um processo de revisão da instituição, o que ensejou grandes modi­
ficações no Poder Judiciário dos Estados Unidos. 
Hoje, o que se observa, em âmbito mundial, é uma "explosão 
judiciária", um desejo universal de reforma das estruturas judiciárias 
existentes. 
Na França, na Itália, nos Estados Unidos, na Argentina, e, finalmente, 
no Brasil, há grande luta pelo aperfeiçoamento da prestação jurisdicional 
e modernização do mecanismo do judiciário, para adaptá-lo às exigências 
inadiáveis do desenvolvimento. 
O certo é que a modernização das instituições políticas, de uma forma 
geral, torna necessário um processo de revisão, não só de suas estruturas, 
mas também do comportamento das pessoas que dentro delas exercem 
funções. 
Dessarte, no que tange ao Poder Judiciário, a. modernização exige: 
maior eficiência na realização dos objetivos do Judiciário, ou seja, da 
prestação jurisdicional, que só é possível alcançar por meio de dois 
fatores: 
a) utilização de técnicas mais modernas; 
b) modificação do comportamento do juiz, advogado, serventuário, no 
sentido de uma visão mais atual do direito, e da própria vida social. 
&Irulura e organização do Judiciário 29 
3.2 O "Diagnóstico" do Poder Judiciário 
Com tal objetivo, foi elaborado, pelo Supremo Tribunal Federal. o "Diag­
nóstico" do Poder Judiciário. 
Em 16.4.74, o presidente da República, em visita ao Supremo Tribunal 
Federal, manteve um diálogo com o presidente daquela egrégia Corte de 
Justiça, a mais alta autoridade judiciária do País. Este diálogo resultou 
nas seguintes conclusões: 
1. A necessidade e oportunidade da reforma do Poder Judiciário. 
2. A disposição do Governo de tomar as providências que se fizessem 
necessárias para o aprimoramento dos serviços da justiça. 
3. A conveniência de prévia fixação, pelo próprio Poder Judiciário, do 
diagnóstico da justiça, mediante levantamento imediato de dados e sub­
sídios necessários. 
Com esses elevados propósitos, mobilizou-se o meio jurídico nacional, 
que enviou lllumeras sugestões e colaborações ao Supremo Tribunal 
Federal. Entre elas, mister se faz destacar a atuação da Fundação Getulio 
Vargas, que, através de um de seus órgãos, - o Instituto de Direito 
Público e Ciência Política (INDIPO) -, realizou, já em 1967, duas 
mesas-redondas sobre a problemática do Poder Judiciário e a oportunidade 
de sua reforma. Estas reuniões, de alto valor científico, contaram com a 
participação de renomados juristas, professores de direito e ministros do 
Supremo Tribunal Federal, e suas conclusões foram apresentadas em 
forma de anteprojeto de emenda constitucional. 
Em 1974, o INDIPO realizou três mesas-redondas, ainda sobre o tema 
"Reforma do Poder Judiciário", com a participação de nomes ilustres do 
meio jurídico nacional; as conclusões resultantes foram remetidas ao 
Supremo Tribunal Federal, constituindo uma das inúmeras colaborações 
que aquela Suprema Corte de Justiça recebeu para a elaboração do 
documento conhecido como "Diagnóstico do Poder Judiciário", o qual 
serviu de base à elaboração do projeto da Emenda Constitucional nQ 7. 
Este documento contém amplo estudo, apresentado sob a forma de 
relatório, examinando as falhas e dificuldades do exercício da função 
judiciária através de alguns aspectos mais relevantes: 
ineficácia na execução dos julgados; 
- despreparo dos profissionais do Direito; 
- problemas da criminalidade com vistas a um sistema de penas inade-
quado, e a um regime carcerário e penitenciário falho. 
E conclui, em seu item 14 (6): 
"Todos estes fatores, que contribuem para a morosidade ou Fara a 
ineficácia na aplicação do direito, nem podem ser esquecidos, nem se 
removerão com a só reforma do Poder Judiciário. Estranhos ao âmbito 
das funções deste Poder, dependerão de estudos e de medidas de outras 
áreas da atividade estatal. Vale mencioná-los para que se não suponha 
que simples alterações da organização judiciária e de normas instrumentais 
30 R.C.P. 4/18 
serão bastantes para resolver todos os problemas relativos à boa distri­
buição da justiça, sem medidas outras que as complementem." 
Empreende, também, o citado documento uma análise dos órgãos do 
Poder Judiciário e seu mecanismo operacional, indicando as reformas 
necessárias. 
A partir do "Diagnóstico", e contando com a colaboração do procura­
dor-geral da República, Prof. Henrique Fonseca de Araújo, e do ministro 
José Rodrigues Alckmin, foi redigido o projeto de emenda constitucional 
relativo à reforma do Poder Judiciário, enviado pelo presidente da 
República ao Congresso Nacional, em 16.11.1976. 
Na exposição de motivos que acompanhou a mensagem do presidente 
da República, o ministro da Justiça assinalou que o projeto "... não 
possui cunho político ou partidário, nem tampouco é obra exclusiva do 
Executivo". 
Trata-se de um projeto bem lançado, sob o ponto de vista técnico­
legislativo. Entretanto, a sua promulgação, que resultou, afinal, na Emenda 
Constitucional n9 7, transformou-se em grave problema poltíico, provo­
cando fortes reações e acirrada polêmica. 
Não cabe no âmbito deste trabalho examinar o impasse político pro­
vocado pelo encaminhamento do projeto que trata da reforma do Poder 
Judiciário. É oportuno ressaltar, porém, que a reação às reformas é 
fenômeno verificado sempre que estas ocorrem. Quebrar hábitos, modi­
ficar sistemas de vida e de comportamento provoca a natural resistência 
do homem às mudanças, ao que é novo e, portanto, desconhecido. 
3.3 A Emenda Constitucional n9 7, de 13.4.1977 - o que mudou 
A Emenda Constitucional n9 7, promulgada em 13.4.77, concretizou a 
reforma do Poder Judiciário. Alterou 24 artigos da Constituição vigente 
(Emenda Constitucional n9 1, de 1969) e acrescentou-lhe mais sete. 
Repete, basicamente, o projeto enviado pelo presidente da República ao 
Congresso Nacional, e que não obteve quorum constitucional para sua 
aprovação. 
As funções do Supremo Tribunal Federal podem ser enfocadas sob 
vários aspectos. 
A junção jurisdicional constitui a aplicação da lei ao fato, onde o 
Supremo Tribunal Federal atua originariamente ou em nível recursal. 
Também atua o mesmo com órgão uniformizador da interpretação diver­
gente de outro tribunal ou do próprio Supremo Tribunal Federal, de texto 
legal ou constitucional, formando a jurisprudência. Ou, na ausência da 
norma legal, decide segundo os princípios gerais do direito. Esta função, 
aliás, não é privativa do Supremo Tribunal Federal, mas sua importância 
é crescente e torna-se um binômio com a função de intérprete da lei. 
A junção política do Supremo Tribunal Federal emerge quando atua 
como órgão maior do Poder Judiciário, guardião da Constituição e da 
Estrutura e organização do Judiciário 31 
lei, bem como da decisão judiciária. No exerClClO desta função, poderá 
requerer, até, a intervenção da União nos estados, conforme o estatuído 
nos arts. 10 e 11 da Constituição Federal. 
A função normativa do Supremo Tribunal Federal caracteriza-se, prin­
cipalmente, na elaboração de seu Regimento Interno. Nesse sentido, é 
mister citar a Emenda Regimental n9 3, de 12.6.75, que alterou dispo­
sitivos do seu Regimento Interno, introduzindo o conceito de "rele­
vância" na admissibilidade do recurso extraordinário, com o que restringiu 
a competência recursal daquela egrégia Corte de Justiça. 
Pelo acima exposto, fácil é deduzir o excesso de trabalho que sobre­
carrega o Supremo Tribunal Federal. Assim, viu-se como primeira neces­
sidade a adoção de medidas para reduzir tal sobrecarga. 
Nesse sentido, é interessante analisar os seguintes dados numéricos, 
citados em conferência proferida na Escola Superior de Guerra, em 
5.7.77pelo procurador-geral da República, Prof. Henrique Fonseca de 
Araújo (7). 
Anos 
Processos recebidos 
Processos distribuídos 
Processos julgados 
1971 
5.921 
6.006 
6.407 
1972 
6.253 
6.692 
6.523 
1973 
7.093 
7.298 
8.049 
1974 
7.352 
7.854 
7.986 
1975 
8.775 
9.324 
9.083 
Já em 1975, com a Emenda Regimental nQ 3, anteriormente mencio­
nada, que restringiu a competência do Supremo Tribunal Federal com 
relação aos casos de julgamento de recurso extraordinário, o número de 
processos recebidos, distribuídos e julgados, em 1976, caiu, respectiva­
mente, para 6.877, 6.935 e 7.565. Verifica-se, assim que, em relação a 
1975, houve uma diminuição de aproximadamente 1.800 processos, ou 
seja, um índice percentual de 20%. 
Com as alterações introduzidas pela reforma, a tendência é no sentido 
de maior redução da carga de serviço atribuída ao Supremo Tribunal 
Federal. As medidas mais importantes são, em primeiro lugar, a possi­
bilidade de, mediante provocação do procurador-geral da República, ser 
chamado o Supremo Tribunal Federal a interpretar, em tese, ato normativo, 
federal ou estadual, para declarar-lhe a inconstitucionalidade (art. 119, 
I, 1). E, em segundo lugar, avocar causa processada em qualquer juízo 
ou tribunal quando ocorrer imediato perigo de grave lesão à ordem, saúde, 
segurança, finanças públicas (art. 119, I, O). Estas medidas visam evitar 
a multiplicação de demandas sobre a, mesma matéria, possibilitando, a 
médio prazo, uma substancial diminuição do número de processos a serem 
julgados pelo Supremo Tribunal Federal, sem a necessidade de aumentar 
o número de seus ministros. 
32 R.C.P. 4/78 
3.3.2 A justiça federal 
A justiça federal, conforme assinalado no item 2.1.3, compõe-se de órgãos 
de primeira e de segunda instância. A justiça federal de primeira instância, 
restabelecida pelo Ato Institucional nQ 2, de 1965, com a competência e 
organização definidas em lei especial, vê-se às voltas com dois problemas 
principais: insuficiência de seus quadros e da sua infra-estrutura !ldminis­
trativa. Tais problemas já estão sendo solucionados, pelo aumento do 
número de juízes e a melhoria de seu status, já que, a Emenda nQ 7 
extinguiu os cargos de juiz federal substituto, transformando-os em cargos 
de juiz federal, com melhores vencimentos; e também a liberação de 
dotações orçamentárias para a reestruturação dos quadros administrativos. 
O problema mais grave, entretanto, encontra-se na justiça federal de 
segunda instância, representada pelo Tribunal Federal de Recursos, com­
posto de 13 ministros. Encontrava-se esta egrégia Corte de Justiça com 
enorme sobrecarga de trabalho, competente que é para o julgamento em 
grau de recurso de todas as causas decididas pelos juízes federais, além 
da competência originária para processar e julgar os juízes federais, do 
trabalho, e membros dos tribunais regionais de trabalho nos crimes comuns 
e de responsabilidade, os mandados de segurança e habeas-corpus contra 
atos de ministro de Estado, de responsável pela direção geral da polícia 
federal, ou de juiz federal, e conflitos de jurisdição entre juízes federais 
e tribunais federais. No momento, de 11 a 12 mil processos aguardam 
julgamento no Tribunal Federal de Recursos. 
Era fundamental que a reforma encontrasse uma solução para o im­
passe, ou pela instalação de dois Tribunais Federais de Recursos, em São 
Paulo e Recife, já previstos na Constituição, ou pela criação de Tribunais 
Regionais de Recursos, com a transformação do atual Tribunal Federal 
de Recursos em Tribunal Superior de Recursos, ou, finalmente, pelo au­
mento do número de ministros do atual Tribunal Federal de Recursos. A 
Emenda nQ 7 adotou esta última alternativa, elevando o número àe mi­
nistros de 13 para 27, permitindo a constituição de seis turmas, com 
quatro membros cada uma, reunidos em dois grupos especializados. O 
presidente, vice-presidente e Corregedor do Tribunal Federal de Recursos 
passaram a não ter função judicante, salvo nos processos de competência 
do plenário, de cujos julgamentos participam, apenas, como vogais. 
3.3.3 A Lei Orgânica da Magistratura Nacional 
A Emenda Constitucional nQ 7 alterou o art. 112 da Constituição, de­
terminando o estabelecimento de normas relativas à organização, ao fun­
cionamento, à disciplina, às vantagens, aos direitos e deveres dos magis­
trados, através de Lei complementar, e criando, também, como órgão 
disciplinar, o Conselho Nacional da Magistratura. 
Estrutura e organização do Judiciário 33 
Essa idéia não é nova. Com pulsando-se a obra de Themistocles Ca­
valcanti, escrita em 1933, quando participava ele da comissão que elaborou 
o projeto da Constituição de 1934, À margem do anteprojeto constitucional, 
ali encontramos a idéia da Lei Orgânica da Justiça Nacional, fixando 
normas para os estados organizarem sua justiça, acesso, e promoção dos 
juízes etc., bem como a criação de um Conselho Nacional da Magistratura. 
A Emenda n'? 7 previu uma Lei Orgânica da Magistratura para todo 
o País, não com o intuito de impor aos estados uma organização judiciária 
única, mas para complementar os preceitos constitucionais em relação à 
justiça dos estados. Esta, é claro, organizar-se-á sempre em funç50 das 
dimensões, condições socioeconômicas e peculiaridades de cada estado. A 
Lei Orgânica, porém, terá por objetivo instituir certos princípios bási;::os, 
capazes de assegurar um mínimo de uniformidade na estrutura do Poder 
Judiciário estadual, em vista do caráter nacional da justiça, sem ferir o 
princípio federativo da autonomia dos estados. 
Como corolário, a criação do Conselho Nacional da Magistratur:l surgiu 
da necessidade de se criar um órgão disciplinador dos membros do Poder 
Judiciário, em âmbito nacional. Será ele composto por sete Ministros do 
Supremo Tribunal Federal, e competente para apreciar qualquer reclama­
ção, queixa ou acusação contra ato de juiz ou desembargador que infringir 
dispositivo da Lei Orgânica da Magistratura relativo à sua atuação pro­
fissional ou conduta civil, determinando, afinal, a remoção, disponibilidade 
e aposentadoria de uns e outros. 
3.3.4 Os Contenciosos Administrativos 
O art. 111 da Emenda n'? 7 prevê a criação de contencioso administrativo, 
explicitando, no art. 203: 
"Poderão ser criados contenciosos administrativos, federais e estaduais, 
sem poder jurisdicional, para a decisão de questões fiscais e previdenciárias, 
inclusive relativas a acidentes do trabalho." 
Implicam tais dispositivos na instituição de uma justiça administrativa, 
com competência específica para processar e julgar as questões fel ativas 
aos servidores públicos, questões de direito tributários e previdenciário, e 
de acidentes do trabalho. 
De plano uma indagação se impõe: como entender a existência de uma 
justiça administrativa, estranha ao Poder Judiciário, ante o princípio in ar­
redável do controle jurisdicional dos atos da administração pública pelo 
Poder Judiciário, e à garantia constitucional prevista no § 49 do art. 153? 
A Emenda n9 7 adotou uma forma conciliatória: condicionou o ingresso 
no Judiciário para apreciação de qualquer lesão de direito individual ao 
prévio exaurimento da via administrativa, estabelecendo, entretanto, um 
limite no tempo para esse exaurimento que não poderá ultrapassar o prazo 
de 180 dias. 
34 R.C.P. 4/78 
o objetivo da criação do contencioso administrativo é acelerar o julga­
mento de demandas sobre matérias especializadas, desafogando a justiça 
comum de uma enorme quantidade de causas que encontrariam, pela via 
administrativa, solução mais rápida, e imprimindo maior uniformidade às 
decisões. 
3.3.5 Justiça estadual: os Tribunais de Alçada, as leis de organização 
judiciária, justiça militar estadual 
A justiça estadual mereceu especial atenção na reforma do Poder Judiciário. 
A organização da justiça estadual continuou a cargo dos estados, ob­
servados, porém, além dos dispositivos constitucionais, os preceitos que a 
Lei Orgânica da Magistraturavier a estabelecer. 
A Emenda n9 1, de 1969, conferia aos Tribunais de Justiça estaduais 
competência para editar, por meio de Resolução, a Lei de Organização 
e Divisão Judiciária. A Emenda n9 7 manteve com os tribunais locais a 
iniciativa da proposta de alteração da organização e divisão judiciária do 
estado, mas atribuiu ao Poder Legislativo a sua apreciação. 
O projeto da reforma do Poder Judiciário propunha a extinção dos 
Tribunais de Alçada. Entretanto, em face da polêmica suscitada pela 
proposta, foi levada em consideração a dificuldade de, em certos estados 
- como São Paulo e Rio de Janeiro - colocar a totalidade da segunda 
instância num só tribunal, e, ainda o fato de que os Tribunais de Alçada, 
em todas as capitais onde existem, têm funcionado muito bem. 
A Emenda n9 7 manteve. os Tribunais de Alçada, a eles se reierindo, 
sem especificar, como "tribunais inferiores de segunda instância", condi­
cionando a sua criação aos requisitos previstos na Lei Orgânica da Ma­
gistratura Nacional. 
Relativamente à primeira instância estadual, ampliou a competência dos 
juízes togados com investidura temporária ao julgamento de crimes punidos 
com pena de detenção ou multa. 
Mediante nova redação da alínea d do § 19 do art. 144, a Emenda n9 7 
definiu melhor a competência da Justiça Militar estadual para processar 
e julgar os crimes militares praticados por policiais, através do Conselho 
de Justiça em primeira instância, funcionando como segunda instância o 
Tribunal de Justiça estadual. 
3.3.6. A judicatura: aprimoramento cultural, garantias 
Um dos problemas cruciais do Poder Judiciário e, portanto, de sua re­
forma, consiste no recrutamento e aprimoramento de seus quadros. 
No "Diagnóstico" (8) já se reconhecia: 
"27. A primeira e capital dificuldade está no recrutamento de bons juízes. 
É dizer o óbvio afirmar que, sem magistrados de excelente formação moral 
e intelectual, não haverá Poder Judiciário altamente capaz." 
Estrutura e organização do Judiciário 35 
A Emenda Constitucional n'? 7 tratou do problema da seleção dos juízes 
em duas fases: antes do ingresso na carreira, no art. 144, n. I, permitiu 
que a lei ordinária exigisse, como condição, além de aprovação em con­
curso de provas e títulos, também a conclusão de curso de preparação 
para a magistratura. E, após o ingresso, a freqüência e aprovação em 
escola de aperfeiçoamento de magistrados - a ser criada - constituirá 
requisito para promoção por merecimento, a partir de determinada en­
trância (art. 144, n'? VI). Esse curso, com freqüência e aprovação, cons­
tituirá, igualmente, requisito para acesso do magistrado aos tribunais de 
segunda instância. 
Reconhecendo, assim, a importância do elemento humano na boa dis­
tribuição da justiça, bem andou a lei em exigir o aperfeiçoamento cultural 
dos juízes, inclusive ao longo da carreira, para evitar que o juiz, ,oltado 
para o casuísmo dos processos, abandone o estudo sistemático do direito. 
Em seu art. 114, n. I, a Emenda n'? 7 previu a acumulação, pelo juiz, 
de apenas um cargo de magistério superior. Com isso, procurou evitar o 
excesso na acumulação de cargos no magistério. Mesmo porque, a acu­
mulação entre o exercício do cargo do juiz e o do magistério superior é 
benéfica: para a justiça, porque abre os horizontes culturais do juiz, 
obrigando-o a um constante estudo e atualização; e para o magistério. 
porque o juiz leva para a cátedra do direito sua vivência profissional. 
Entretanto, os encargos da magistratura são absorventes e relevantes, não 
permitindo os excessos, e o exercício de magistério que não seja superior 
não se compatibiliza com a nobreza da profissão judicante. 
A remuneração dos juízes constituiu, igualmente, objeto da emenda 
que, no art. 144, § 4'?, estabeleceu a igualdade entre os vencimentos dos 
secretários de estado e dos desembargadores, sendo os vencimentos dos 
juízes relacionados com os destes últimos. Tal medida assegura a melhoria 
dos padrões de vencimento da magistratura, o que, sem dúvida, tem re­
flexo direto no nível de seus quadros, e, em última análise, da distribuição 
da justiça. 
São asseguradas, pela Emenda n'? 7, as garantias constitucionais da 
magistratura: inamovibilidade, vitaliciedade e irredutibilidade de venci­
mentos. Só perderá o juiz a inamovibilidade por motivo de interesse pú­
blico, a critério do Tribunal de Justiça, pelo voto de 2/3 de seus mem­
bros. Quanto à vitaliciedade, será esta adquirida após dois anos de exer­
cício do cargo. 
3.3.7 O Ministério Público 
O Ministério Público é geralmente conceituado como órgão do estado, 
titular da ação penal, fiscal da lei e a quem incumbe a tutela dos chamados 
"direitos indisponíveis". 
36 R.C.P. 4f78 
É órgão do estado porque retira diretamente da soberania do estado o 
poder de agir e de oficiar, não tendo qualquer subordinação funcional, 
a não ser à lei. 
- É titular da ação penal, porque lhe incumbe iniciar o competente 
procedimento criminal. 
- É fiscal do cumprimento da lei, porque em determinados processos, 
quando em jogo garantias constitucionais, como é o caso do mandado de 
segurança, por exemplo, o Ministério Público funciona, propugnando 
unicamente pela fiel atuação da vontade legal, independentemente do in­
teresse das partes conflitantes. 
Finalmente, por "direitos indisponíveis", entende-se aqueles dos quais 
a própria parte interessada não pode livremente dispor, manifestando o 
estado uma especial tutela por meio do órgão do Ministério Público. São 
os processos relativos à família (divórcio, anulação de casamento, guarda 
de filhos), os processos em que há interesse de incapazes e ausentes, nas 
falências e concordatas, registros públicos, testamentos, fundações, aci­
dentes do trabalho. 
De acordo com o estabelecido na Carta Magna, e em consonância com 
o princípio federativo, divide-se o Ministério Público em federal e estadual. 
O Ministério Público federal, tendo como chefe o procurador-geral da 
República, atua junto às varas da justiça federal, o Tribunal Federal de 
Recursos, o Superior Tribunal Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal. 
Tendo como chefe o procurador-geral da justiça militar, atua junto às 
auditorias militares e o Superior Tribunal Militar. E, finalmente, tendo 
como chefe o procurador-geral da justiça do trabalho, funciona perante 
os Tribunais Regionais do Trabalho e o Tribunal Superior do Trabalho. 
O Ministério Público do Distrito Federal e territórios atua junto aos 
juízes do Distrito Federal e territórios, e Tribunal de Justiça do Distrito 
Federal. 
O Ministério Público dos estados funciona perante os juízes e Tribunais 
de Alçada e de Justiça dos estados. 
A Emenda nQ 7 previu, em seu art. 96, uma lei complementar, à se­
melhança da Lei Orgânica da Magistratura, para estabelecer as normas 
gerais a serem adotadas na organização do Ministério Público estadual, 
visando alcançar maior uniformidade em sua estrutura básica, com o con­
seqüente aprimoramento de seus órgãos e melhor atuação dos mesmos 
no exercício de suas relevantes funções. 
3.3.8 As serventias - oficialização 
A reforma do Poder Judiciário determinou a oficialização das serventias 
do foro judicial (cartórios das varas, distribuidoras, contadores etc.) e 
extrajudicial (tabelionatos, registros civis, protestos de títulos etc.), me­
diante remuneração de seus servidores exclusivamente pelos cofres pú-
Estrutura e organização do Judiciário 37 
blicos, respeitando, entretanto, a situação dos atuais titulares, vitalícios ou 
nomeados em caráter efetivo, deixando a cargo de lei complementar as 
normas referentes à oficialização, e proibindo, até a entrada em vigor da 
aludida lei complementar, qualquer nomeação em caráter efetivo, para as 
serventias não oficializadas. 
Sem dúvida, em que pesem as dificuldades a serem enfrentadas, inclu­
sive de ordem financeira - uma vez que, no atual regime de custas, os 
cofres públicos não sofrem qualquer ônus - a oficialização constitui me­
dida saneadora, dentro da filosofia da Reforma,que comporta mudanças 
de comportamento e de mentalidade. Com efeito, dentro desse espírito, 
impunha-se a extinção do sistema de "custas e emolumentos", cuja co­
b:ança, mais ou menos arbitrária, enriqueceu alguns titulares menos es­
crupulosos, em detrimento das partes. 
3.3.9 Outras alterações 
A Emenda n9 7 introduziu, também, outras alterações além das acima 
comentadas, cuja enumeração segue: ampliação da competência da União 
para legislar sobre taxas judiciárias, custas e emolumentos, de serviços 
fcrenses, registros públicos, juntas comerciais e tabelionatos; redução da 
competência da justiça federal; atribuição da homologação de sentenças 
estrangeiras ao presidente do Supremo Tribunal Federal; proibição de 
recebimento de custas pelos magistrados; ampliação da competência do 
Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Federal de Recursos em matéria 
de mandados de segurança e conflitos de jurisdição; competência origi­
nária do Tribunal Federal de Recursos para processar e julgar os membros 
do Ministério Público da União; declaração de inconstitucionalidade só 
por maioria absoluta de seus membros, por qualquer tribunal. 
4. Conclusões 
De tudo que acima foi dito, pode-se concluir que o Poder Judiciário 
precisa ter uma estrutura e organização capaz de atender ao bom desem­
penho de suas relevantes funções e à altura da primordial posição que o 
mesmo ocupa no quadro institucional do Estado. A Reforma do Poder 
Judiciário, consubstanciada na Emenda Constitucional n9 7, propõe-se 
alcançar estes objetivos. 
A fim de avaliar-se, do ponto de vista técnico, jurídico e institucional, 
a reforma conseguiu, pelos seus dispositivos, melhorar a prestação juris­
dicional, mister se faz analisá-la sob três aspectos: institucional, estru­
tural ou orgânico, e operacional. 
No que tange ao aspecto institucional, ou seja, a modificação dos 
dispositivos constitucionais que regulam o Poder Judiciário, a Emenda 
n9 7 revela nível técnico-legislativo elevado, de conteúdo amplo, calcada 
38 R.C.P. 4/78 
que foi sobre um estudo profundo da problemática do Poder Judiciário, 
a saber, o citado "Diagnóstico", elaborado em função do pensamento de 
juristas eminentes. Levou, também, em conta o projeto que posterior­
mente resultou na Emenda Constitucional nl? 7, estudos anteriores, e 
trabalhos de publicistas como João Mangabeira, Rui Barbosa, Cló\"is Be­
vilaqua, Amaro Cavalcanti e, finalmente, ThemistocIes Cavalcanti, que há 
mais de 40 anos se debruça sobre os problemas do Judiciário. Pouco 
restaria, então, a assinalar quanto a este aspecto. 
Já quanto ao aspecto estrutural ou orgânico, isto é, dar ao Poder Ju· 
diciário uma estrutura e uma organização eficiente, moderna, ajustada à 
realidade nacional, muito se espera das leis complementares, que poderão 
trazer à reforma os elementos necessários para sua efetiva implemwtação. 
A Lei Orgânica da Magistratura e o Conselho Nacional da Magistratura 
representarão medidas que, dentro do princípio de estruturação do Poder 
Judiciário em âmbito nacional - como corolário do princípio de unidade 
da justiça - muito poderão contribuir para uma nova organização, uma 
nova mentalidade, uma modernização, enfim. 
O último aspecto a ser considerado na reforma é o aspecto operacional, 
o que diz respeito aos meios materiais, à infra-estrutura da justiça, a 
seus órgãos auxiliares, à máquina burocrática que garante o andam~nto 
dos trabalhos do Judiciário e a própria prestação jurisdicional. Nesse par­
ticular, muito pouco poderá ser alcançado apenas com a Emenda Cons­
titucional nl? 7. 
Na verdade - e aqui torna-se necessária uma referência ao item 3.1. 
de~te trabalho, referente à modernização do Poder Judiciário - ~xige-se, 
sobretudo, eficiência na realização dos objetivos do Poder Judiciário, ou 
seja, na prestação jurisdicional. E tal eficiência só poderá ser alcançada 
pela utilização de técnicas mais modernas na base do Poder Judiciário, 
que é a justiça de primeira instância. 
Com efeito, os males de que a justiça brasileira padece infeEzmente não 
constituem segredo para ninguém; ao contrário, apresentam-se como uma 
dolorosa realidade para todos aqueles que recorrem a ela. 
Nas comarcas mais pobres, nas regiões socioeconômicas menos aqui­
nhoadas, há falta de meios materiais e a dificuldade de a::esso do povo 
aos órgãos judicantes. 
Já nos grandes centros metropolitanos, como Rio, São Paulo, Belo Ho­
rizonte, os males são outros. A explosão populacional e as vertiginosas 
mudanças das estruturas sociais acarretaram um aumento do número de 
processos em proporção geométrica. Por outro lado, os meios de que a 
justiça dispõe para atender a essa pletora de feitos não aumentaram, sequer, 
em proporção aritmética. Para ilustrar tal assertiva, e não indo muito 
longe, o Rio de Janeiro, 25 anos atrás, contava com aproximadamente 2 
milhões de habitantes, e a justiça desta cidade compunha-se de dezoito Varas 
Cíveis, vinte e cinco Varas Criminais, duas Varas de Órfãos e Sucessões e 
quatro Varas de Família; hoje, para uma população que atinge 7 milhões de 
Estrutura e organização do Judiciário 39 
habitantes, a estrutura judiciária da Comarca da Capital conta com 22 
Varas Cíveis, 28 Varas Criminais, quatro Varas de Órfãos e Sucessões e 
nove Varas de Família. 
Dentro de 15 anos, prevêem os futurólogos para o Rio de Janeiro uma 
população de 20 milhões de habitantes. Qual a contrapartida, na organi­
zação do Poder Judiciário, capaz de fazer face a esta explosão? 
Dizer que o instrumental da prestação jurisdicional na primeira instância 
precisa acompanhar tal mudança, não passa de truísmo ... 
N a realidade, a introdução das necessárias inovações tecnológicas para 
a modernização da infra-estrutura do Poder Judiciário e a melhoria de 
sua organização esbarram num obstáculo mais inarredável que a simples 
falta de meios materiais, de verbas necessárias para a ampliação e equi· 
pamento das serventias, e contratação de funcionários: é a mentalidade, 
o comportamento imobilista, a reação às mudanças. Como bem observou 
o Prof. J osafá Marinho: 
"Exatamente porque o sistema jurídico estabelece diretrizes e formas de 
comportamento, com repercussão direta nas relações gerais de coexistência, 
a revisão de suas instituições é intensamente polêmica. Interesses criados, 
privilégios instituídos, o espírito de rotina, resíduos da formação histórica, 
o medo de inovar interferem para retardar as transformações da ordem 
jurídica. "3 
Sem esquecer que a introdução da própria máquina de escrever no Ju­
diciário suscitou resistência; além de que, ainda hoje - tal como no 
tempo das Ordenações - os processos são costurados ... 
Assim, ao lado das técnicas, dos meios materiais, é mister antes de 
tudo a mudança no comportamento daqueles que compõem o Poder Ju­
diciário. A oficialização das serventias constitui, nesse sentido, medida 
de longo alcance. A sua transformação em simples secretarias ou repar­
tições públicas, a exemplo do que ocorre na justiça do trabalho, contri­
buirá para sua organização e eficiência. 
A introdução do computador nos registros públicos poderia simplificar 
e baratear os serviços. 
Seria muito longo enumerar todos os pontos de estrangulamento, em 
todos os setores da justiça. O importante é considerar a necessidade da 
mudança de mentalidade, principalmente no que tange ao setor adminis­
trativo. Com efeito, a administração dos serviços auxiliares melhor 2ndaria 
se entregue a um técnico especialista em organização e administração. 
Em recente trabalho, publicado na Revista dos Tribunais, o jurista Se­
vero da Costa, juiz do 19 Tribunal de Alçada desta cidade, e graduado 
em administração pública pela Universidade de Michigan (9), ressalta a 
importância de se entregar a administração dos tribunais e dos próprios 
serviços da justiça a especialistas no campo da organização. Nos Estados 
:; Marinho, J. A reforma da estrutura jurídica. Revista de Informação Legislativa. 
~et. 1974. 
40 R.C.P. 4/78 
Unidos, segundo informao autor, já existe o cargo de administrador 
judicial, exercido por bacharéis em Administração. Assim, desvincula-se 
a pessoa do magistrado da função administrativa, que passa para técnicos 
especializados. Poderia o juiz, então, dedicar maior tempo e esforço ao 
seu aperfeiçoamento cultural, e ao exercício da função judicante. 
Mesmo porque a função de julgar é relevante e complexa. E a prestação 
jurisdicional a seu cargo faz ver no juiz mais do que um profissional, 
mais do que um técnico: torna-o a própria personificação da justiça. 
Referências bibliográficas 
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Apud Brasil, Francisco de Souza. O poder nacional e suas expressões. Cadernos de 
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4. Severo da Costa, Luiz Antônio. O Poder Judiciário em nosso sistema constitucional. 
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de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 7(1) :5-23, mar. 1973. 
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Superior de Guerra (ADESG), (169) :28-42, 1977. 
8. Brasil. Supremo Tribunal Federal. op. cit. p. 28. 
9. Severo da Costa, Luiz Antônio. A reforma da infra-estrutura do Judiciário. Revista 
dos Tribunais, 502:256-60, ago. 1977. 
Estrutura e organização do Judiciário 41

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