Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DESCRIÇÃO Compreensão do Poder Judiciário e dos atores constitucionais da atividade judiciária. PROPÓSITO O conhecimento detalhado do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Advocacia é vital para conceber um Estado Democrático de Direito e para defendê-lo. PREPARAÇÃO Antes de iniciar seu estudo, tenha em mãos a Constituição Federal. OBJETIVOS MÓDULO 1 Categorizar a função exercida pelo Poder Judiciário, seus órgãos e regime jurídico MÓDULO 2 Identificar as garantias da Magistratura MÓDULO 3 Reconhecer os diversos atores que exercem suas funções na tutela de direitos no âmbito judicial INTRODUÇÃO Em um Estado Democrático de Direito, o Poder Judiciário deve estar presente. É principalmente por meio dele que expansões estatais e particulares indevidas são solucionadas. Após os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, foram incrementadas constituições com previsão protetiva de direitos fundamentais e de uma Corte com tal competência. No Brasil, a Constituição de 1988 trouxe um desenho importante. Além de positivar um catálogo aberto de direitos fundamentais, anunciou no Poder Judiciário e, particularmente, no Supremo Tribunal Federal, o exercício dessa nobre função. O Poder Judiciário, porém, não exerce seu mister de forma isolada. Atores diversos contracenam nesse cenário. Aí entram: Ministério Público Defensoria Pública Advocacia MÓDULO 1 Categorizar a função exercida pelo Poder Judiciário, seus órgãos e regime jurídico ALGUMAS PALAVRAS INICIAIS SOBRE A SEPARAÇÃO DE PODERES A separação do poder estatal em funções distintas tem por objetivo limitar a ingerência estatal no patrimônio jurídico das pessoas. Essa visão formata as funções: Legislativa Executiva Judiciária A fim de dar implementação a tal ideal, parece claro que os atores responsáveis por cada uma das funções citadas não devem se submeter à vontade dos outros. É dizer, se a concepção que se busca é de limitação do poder estatal, por conta do potencial abusivo a ele inerente, o responsável por uma função, para o bom desempenho dela, não pode sofrer ingerência externa. Daí a necessária independência de um com relação ao outro (art. 2º, da Constituição). O exercício de uma função não pode depender ou se submeter ao desejo alheio. Mas só isso não basta. O acima dito pode soar uma autorização para um atuar apartado e, no limite, estremado. Nada disso é saudável, especialmente em uma democracia conforme desenhada pela Constituição, em que a dignidade da pessoa humana é fundamento (art. 1º, III). Para isso, o Constituinte de 1988 predicou também a harmonia entre esses atores. Desse modo, a conjugação de esforços é um norte constitucional para o trabalho dos que exercem as três funções estatais clássicas. AS FUNÇÕES TÍPICAS E ATÍPICAS DO PODER JUDICIÁRIO A lição do item anterior é clássica e traz uma configuração tríplice das funções estatais (BONAVIDES, 2005). Antes de mergulhar no estudo do Poder Judiciário, é preciso compreender qual função esse ator exerce. O alerta aqui é para o fato de o Poder Judiciário implementar funções típicas e atípicas (MORAES, 2002). Vejamos: FUNÇÕES TÍPICAS FUNÇÕES ATÍPICAS FUNÇÕES TÍPICAS Tradicionalmente, enxerga-se o Poder Judiciário como aquele ramo do Estado que exerce a função de dizer o direito, de modo a, frente à provocação de terceiro, solucionar um problema. Este pode ser um conflito de interesse qualificado por uma resistência. Por outro lado, não se pode olvidar a nobre função de controle abstrato de constitucionalidade. Assim, a função típica (ou função jurisdicional) caracteriza-se pelo julgamento, com pretensão de definitividade, levado a efeito quando se diz o direito para solucionar um problema jurídico abstrato ou concreto. FUNÇÕES ATÍPICAS Paralela à função jurisdicional, o Poder Judiciário concretiza funções de índole legislativa e administrativa. São elas funções atípicas. Ao Poder Judiciário é permitido praticar atos com caráter legislativo. É exemplo a iniciativa privativa do Supremo Tribunal Federal (STF) para deflagrar o processo legislativo visando criar o Estatuto da Magistratura, sob a espécie normativa de lei complementar (art. 93, caput, da Constituição). Além disso, o Poder Judiciário pratica atos e conduz procedimentos e processos administrativos. Um exemplo dessa função é a concessão de férias a seus membros (MORAES, 2002). A própria Constituição trouxe mais exemplos, como a promoção e a remoção de Magistrados (art. 93, II e VIII-A), e exigiu motivação e publicidade às decisões administrativas judiciais (art. 93, X). OS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO E SUAS COMPOSIÇÕES No vídeo a seguir, o professor André Farah comenta sobre as funções do Judiciário e faz um panorama de seus órgãos. Vamos assistir! O Brasil adota a federação como forma de Estado. No entanto, é preciso frisar que o Poder Judiciário é nacional, sendo as diversas competências partilhadas em vários órgãos. É assim que o art. 92 da Constituição deve ser lido. São órgãos de um Poder Judiciário nacional desde o STF até os Juízos estaduais e distritais, cada qual com competência de maior ou menor abrangência. Um tema que mereceu atenção foi a inserção do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como órgão do Poder Judiciário. Na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3.367, o STF entendeu pela compatibilidade com a Constituição, afirmando: Que o Conselho é órgão administrativo integrante do Poder Judiciário, cuja maioria dos seus membros é de Magistrados, e seus atos sindicáveis pelo Supremo. Porque o Poder Judiciário tem perfil nacional, não havendo que se falar em ofensa ao princípio federativo. SAIBA MAIS De caráter facultativo nos diversos Tribunais, a Constituição permitiu a criação do Órgão Especial (art. 93, XI). Poderá ter vez quando a segunda instância for composta por mais de 25 julgadores. Sua composição mínima é de 11 e máxima de 25 integrantes. No preenchimento das vagas, metade deve se dar por antiguidade e a outra metade por eleição do Tribunal Pleno. Por fim, deve ser destacado que suas competências administrativas e jurisdicionais são delegadas pelo aludido Pleno. Matéria diversa é a composição dos Tribunais brasileiros. A porta de entrada na carreira da Magistratura, em geral, é a classe inicial (por exemplo, como Juiz substituto) e a regra de ingresso é o concurso público (art. 93, I, da Constituição). Foto: Shuttestock.com Tal sistemática, no entanto, diversifica-se quando se olha para os Tribunais locais e Superiores. Para os Tribunais locais, aplica-se a regra do quinto constitucional, pela qual um quinto dos lugares é composto por membros provenientes do Ministério Público (MP) e da Advocacia. Vejamos, de acordo com o art. 94, da Constituição: Uma lista com seis nomes escolhidos por cada um desses atores é enviada ao Tribunal cuja vaga existe. Tal Tribunal formará uma lista com três nomes e a enviará ao Chefe do Poder Executivo. O Chefe do Poder Executivo escolhe um nome. O valor subjacente é o da pluralidade (BARCELLOS, 2018) e legitimação das decisões dos Tribunais. O quinto constitucional também se aplica ao Tribunal Superior do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho (arts. 111-A, I e 115, I, da Constituição). Entretanto, não tem vez aos demais Tribunais Superiores e à Corte Suprema. ATENÇÃO Veja que para o STF vige a livre indicação do presidente da República com aprovação do Senado Federal (art. 101, da Constituição). No Superior Tribunal de Justiça (STJ), a regra é do terço constitucional (art. 104, da Constituição). Para mais, o Tribunal Superior Eleitoral e o Superior Tribunal Militar possuem regras próprias (arts. 119 e 123, da Constituição). Ponto que causa polêmica entre Advocacia ou MP e Tribunal é o da recusa, pelo Tribunal, da lista sêxtupla enviada pela Advocacia e MP. A recusa, total ou parcial, pelo Tribunal é possível. Mas a decisão deve ser objetiva, fundamentada e motivada no descumprimento dosrequisitos do art. 94, da Constituição. A solução, portanto, passa pela devolução, e esta decisão administrativa pode ser controlada judicialmente. Seguindo esse caminho, então, a substituição de nomes da lista pelo próprio Tribunal é indevida. Isso se justifica porque o primeiro juízo sobre a qualificação dos profissionais, para a formação da lista sêxtupla, é da Advocacia ou do MP (MENDES; BRANCO, 2019). Foto: Shutterstock.com O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA O CNJ tem previsão constitucional no art. 103-B, da Constituição, positivado pela Emenda Constitucional (EC) nº 45/2004, cuja redação foi alterada pela EC nº 61/2009. Sua composição é de 15 membros de origens distintas com investidura de dois anos, permitida uma recondução, e a presidência cabe ao presidente do STF, que em suas ausências e impedimentos é substituído pelo vice-presidente dessa Corte. Foto: Senado Federal Com a modificação do caput, do art. 103-B, foram retiradas as limitações de idades mínima e máxima para alguém ser candidato ao CNJ. A intenção foi, ao extirpar o limite máximo de menos de 66 anos, possibilitar que os ministros de Tribunais Superiores não ficassem impedidos de integrar o Conselho. Dessa mudança constitucional, surge a indagação sobre a existência ainda de um limite mínimo para integrar o CNJ. Ao que tudo indica, a EC nº 61/2009 foi clara a respeito da mudança e não mais existe limite de idade mínima. No entanto, Gilmar Mendes sustenta a obediência dos requisitos de idade mínima para nomeação a ministro do STJ (art. 104, parágrafo único, da Constituição) por causa da competência correicional do CNJ sobre o STJ (MENDES; BRANCO, 2019). A sabatina do Senado Federal e nomeação pelo presidente da República acontece para todos os candidatos, salvo o presidente do STF. Assim, os ministros de Tribunais Superiores se submetem a novo escrutínio (art. 103-B, §2º, CRFB-88, com redação da EC 61/2009). Relevante omissão constitucional que a EC 61/2009 trouxe foi quanto ao caso de empate na votação. A redação anterior à EC 61/2009 dizia que o presidente do CNJ apenas votaria em caso de empate. A nova redação do parágrafo primeiro foi omissa, entregando a solução para o Regimento Interno. No que concerne ao poder normativo do CNJ, grassou grande debate sobre sua natureza. Se, por um lado, sustentava-se haver um poder normativo secundário, não podendo inovar na ordem jurídica e não tendo como fundamento de validade dos seus atos a Constituição, sob o fundamento do Estado Democrático de Direito e da separação de Poderes, porquanto órgão administrativo não edita ato com força de lei que possa avançar sobre direitos fundamentais, não se admitindo que o Poder Constituinte Derivado pudesse equiparar o CNJ ao Legislador (STRECK; SARLET; CLÈVE, 2005). O STF, ao analisar a ADI 4.638, reconheceu a existência do poder normativo primário, sendo sua fonte direta a Constituição. Tema também espinhoso refere-se à configuração da atribuição da Corregedoria do CNJ. A resposta tranquila hoje é que sua atribuição é concorrente com as Corregedorias locais. Por fim, um último tema de alta saliência político-constitucional foi saber se o próprio STF se submeteria ao CNJ. Vejamos: Ao julgar a ADI 3.367, o STF entendeu não se submeter ao Conselho. Para tanto explicou que a Suprema Corte é órgão de cúpula do Poder Judiciário (art. 92, I, da Constituição). Disse que os ministros da Corte possuem regime político-disciplinar próprio, sendo que, em crime comum, a competência é do STF (art. 102, I, ‘b’, da Constituição) e, em crime de responsabilidade, do Senado Federal (art. 52, II, da Constituição). E, por derradeiro, o desenho constitucional indica que o STF é quem julga as ações contra o CNJ (art. 102, I, ‘r’, da Constituição). OS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO E SUAS COMPETÊNCIAS SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL O STF é o órgão de cúpula do Poder Judiciário brasileiro. Ele reúne três funções: Corte Constitucional Órgão máximo do Judiciário nacional Órgão jurisdicional criminal originário O STF funciona como guardião da Constituição e da ordem federativa. A Corte possui duas turmas, com competências idênticas, e cada ministro integra uma, salvo o presidente. Os processos são distribuídos aos ministros e não às turmas. Todavia, as decisões sobre a (in)constitucionalidade são de competência do Pleno que só pode deliberar presentes, ao menos, oito ministros, devendo a decisão ser tomada por maioria, pelo menos, de seis ministros. Foto: Conselho Nacional de Justiça As competências da Suprema Corte encontram-se no art. 102, da Constituição, em que se visualiza a existência de competência originária, de competência ordinária e de competência extraordinária. Apesar do elenco previsto no aludido art. 102, há discussão sobre o que se denomina de “competências implícitas” e o modo de se interpretar a competência da Corte: Por um lado, sobretudo no que concerne à competência originária, é possível dizer que se trata de uma competência excepcional e, por isso, a interpretação mais correta seria a restritiva (ou estrita). Por outro, como ensina Gilmar Mendes, o mais correto seria implementar uma interpretação compreensiva. Seria ela a admissão da complementação de competências constitucionais através, principalmente, da interpretação sistemática e teleológica (MENDES; BRANCO, 2019). Ainda no tocante à competência do Supremo Tribunal, vem se verificando ao longo da jurisprudência o que se pode qualificar como objetificação ou transmutação do recurso extraordinário, como mecanismo de racionalização de processos na Corte. O ponto diz respeito ao que aduz o art. 52, X, da Constituição e o contraponto percebido pelo aumento crescente dos processos no Tribunal. Assim, tem sido concedida uma feição de processo objetivo com fundamento na defesa da ordem constitucional objetiva. Nesse sentido, o STF, na ADI 4.071 Ag.R., já entendeu que a declaração de constitucionalidade em recurso extraordinário (RE) leva à improcedência da ação direta de inconstitucionalidade com o mesmo objeto, argumentando-se a comunicabilidade das vias difusa e concentrada. Também como exemplo do fenômeno citado, o Supremo, no RE 197.917 e no RE 353.657, já entendeu pela modulação temporal dos efeitos da decisão em recurso extraordinário, em homenagem à segurança jurídica e à razoabilidade. Paralelo a isso, com origem na EC nº 45/2004, foi positivado no art. 103-A o instituto da súmula vinculante. Quem aprova, revê e cancela uma súmula vinculante é o próprio Supremo, pelo quórum de 2/3 dos seus membros, seja por provocação, seja de ofício, tendo legitimidade aqueles mesmos para ajuizar ação direta de inconstitucionalidade. Seu efeito vinculante atinge os demais órgãos judiciais e toda a administração pública. COMENTÁRIO Daí surge a pergunta se deve o próprio Supremo Tribunal se submeter à súmula vinculante. Gilmar Mendes responde afirmativamente, exceto se pronunciar uma decisão formal no sentido da superação do enunciado da súmula vinculante, ou seja, da sua não mais subsistência (MENDES; BRANCO, 2019). A súmula vinculante também é sinal do enfraquecimento do instituto da suspensão, previsto no art. 52, X, da Constituição, e tem por finalidade assentar a validade, a interpretação ou a eficácia de normas infraconstitucionais. Vale ainda ressaltar que seus limites objetivos são o exato significado extraído do seu enunciado e da compreensão dos julgados que lhe serviram de base (as referências). No ponto, para fins de distinção (distinguishing), as referências também sempre são úteis. A respeito dos pressupostos para edição de súmula vinculante: É possível dizer que se impõe uma controvérsia, que seja atual e que se dê entre órgãos judiciais ou entre estes e órgãos administrativos. Além disso, exige-se como consequência a visualização de grave insegurança jurídica e de relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. E, ainda, deve haver reiteradasdecisões do Supremo sobre a matéria constitucional. Este último ponto traz a indagação sobre a imprescindibilidade de prévia reiteração de decisões sobre a matéria constitucional. Gilmar Mendes vai dizer que se exige uma maturação da questão controvertida com reiteradas decisões da Corte Suprema no mesmo sentido (MENDES; BRANCO, 2019), o que impossibilitaria a aprovação de súmula vinculante a partir de decisão isolada. Ainda em relação a isso, questiona-se se tais decisões tomadas para fins de aprovação da súmula vinculante podem ter origem em processo objetivo. Gilmar Mendes explica que tal súmula decorre de decisões tomadas em casos concretos, pela via incidental. E ainda afirma que são necessárias prévia decisão do Plenário ou prévias decisões repetidas das turmas do STF (MENDES; BRANCO, 2019). SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ATENÇÃO Questão que surge é se o terço reservado aos TRFs e o terço reservado aos TJs impedem a indicação, escolha e nomeação de membro desses Tribunais oriundos da Advocacia ou do MP. O Supremo Tribunal, na ADI 4.078, disse que o membro desses Tribunais com tal origem é indicado como Magistrado para fins do respectivo terço. As competências do STJ, inscritas no art. 105, da Constituição, podem ser classificadas em originária, ordinária e especial. Além disso, é possível afirmar que sua missão precípua é de uniformizar a aplicação do direito federal. De todo modo, mostra-se relevante chamar a atenção para o fato de em recurso especial não caber reexame de prova para dar nova conformação e de não ser admitido referido recurso para hostilizar decisão de Turma Recursal, já que esta não se qualifica como Tribunal (RE 590.409 e Súmula 203, STJ). OUTROS ÓRGÃOS DO JUDICIÁRIO Paralelo ao STJ, existem ainda três Tribunais Superiores, decorrentes da especialização da matéria. Daí diz-se existir a Justiça eleitoral, com seus órgãos (art. 118, da Constituição). São eles: Foto: Borowskki / Wikimedia commons / Domínio público Tribunal Superior Eleitoral Órgão de cúpula respectivo, guarda composição (art. 119, da Constituição) e competência (arts. 121, §4º, e 14, da Constituição e em leis esparsas) próprias. javascript:void(0) Foto: Conselho Nacional de Justiça Superior Tribunal Militar Um dos órgãos da Justiça Militar, dentre os quais é a cúpula, composição e competência (arts. 122 a 124, da Constituição), sendo possível a criação, em âmbito estadual, de uma Justiça Militar (art. 125, §§3º a 5º, da Constituição). Foto: Luis Dantas / Wikimedia commons / Domínio público javascript:void(0) javascript:void(0) Tribunal Superior do Trabalho Órgão de cúpula da Justiça do Trabalho, a qual possui composição e competência específicas. A interpretação do art. 114, da Constituição, endereçou ao STF algumas perguntas: Surgiu a dúvida de quem é a competência para processar e julgar ações oriundas da relação jurídico estatutária entre poder público e servidor. Na ADI 3.395-6 MC, foi respondido que a Justiça comum. Foi perguntado se a Justiça do Trabalho tem competência para ações penais. E o Supremo, na ADI 3.684-0 MC, já decidiu não existir competência para processar e julgar ações penais. A Justiça comum ainda pode ser vista a partir de dois prismas: Federal & Estadual O federal tem como órgão de segunda instância o TRF, que possui competência originária e recursal (art. 108, da Constituição). No ponto, a dúvida que se põe é em relação a uma competência não expressa. Ela pode ser concretizada, por exemplo, com as seguintes perguntas: De quem é a competência para processar e julgar ação rescisória movida por ente federal contra acórdão do TJ ou sentença de Juiz de Direito? & De quem é a competência para processar e julgar mandado de segurança impetrado por ente federal contra ato de Juiz de Direito? O STF já teve a oportunidade de emitir resposta, no RE 106.819 e no RE 176.881, e disse que compete ao TRF. Para acrescentar, é possível dividir a competência dos Juízes Federais em quatro assuntos: Interesse da União (art. 109, I e IV) Relações internacionais (art. 109, II, III, V, V-A e X) Nacionalidade (art. 109, X) Interesse especial da federação (art. 109, IV, VI, VII, IX e XI) Nesse aspecto, o STJ sumulou entendimento de que quem decide se há interesse da União é o Juiz Federal (Súmula 150). Soma-se a isso o fato de o Juiz estadual não poder rever a decisão do Juiz Federal que excluiu a União do processo. Foto: Shutterstock.com A RESERVA DE PLENÁRIO No âmbito estadual, a Constituição, no art. 125, §2º, trouxe importante instrumento de efetivação de controle abstrato de constitucionalidade, a representação de inconstitucionalidade. Sua finalidade é proteger a ordem constitucional objetiva estadual, sendo seu parâmetro de validade a Constituição Estadual. Assim, as normas atacadas são lei ou ato normativo estadual ou municipal, em tese, incompatíveis com referida norma superior. Ademais, a legitimidade ativa deve ser plural. A esse respeito, na indagação sobre a possibilidade de o Constituinte estadual criar uma ação direta de inconstitucionalidade por omissão, Gilmar Mendes (MENDES; BRANCO, 2019) responde positivamente, sob o fundamento da existência do fenômeno da omissão parcial e da fungibilidade entre: Ação direta de inconstitucionalidade (representação de inconstitucionalidade) & Ação direta de inconstitucionalidade por omissão Também sobre controle de constitucionalidade estadual, quanto ao questionamento sobre a possibilidade de o Constituinte estadual criar o instituto da representação de constitucionalidade, Gilmar Mendes se posiciona favoravelmente, exatamente por conta da ambivalência desse tipo de ação (MENDES; BRANCO, 2019). Por fim e comum às Justiças estadual e federal, o art. 98, I, da Constituição traz a previsão dos Juizados Especiais. Seu segundo grau de jurisdição é composto por Turmas integradas por Juízes. Essas Turmas Recursais não se qualificam como Tribunal e não são autônomas em relação ao Tribunal a que vinculadas. Daí que a pergunta quanto à aplicação da cláusula de reserva de plenário no âmbito dos Juizados é respondida negativamente, posto não funcionarem sob o regime de plenário (Pleno) ou de Órgão Especial e porque a cláusula se aplica a processos nos Tribunais. A cláusula de reserva de plenário vem positivada no art. 97, da Constituição. São dois os pressupostos de sua aplicação: Precisa o Tribunal estar frente a um processo subjetivo & A questão de inconstitucionalidade deve ser incidental Assim, é de inconstitucionalidade que se debate, em um processo com partes e conflito de interesses. O tema de inconstitucionalidade deve ser veiculado como causa de pedir e não como pedido. Vejamos: Havendo provocação ou percebido o integrante de órgão fracionário do Tribunal que seu processo é possuidor de uma matéria eivada de inconstitucionalidade, é preciso que, reconhecida tal situação, seja o assunto enviado ao Tribunal Pleno ou ao Órgão Especial (art. 949, II, do Código de Processo Civil de 2015 – CPC). O Tribunal Pleno ou o Órgão Especial é, pela Constituição, o competente para fazer análise do ponto referente à inconstitucionalidade. Tendo decidido pela inconstitucionalidade da matéria, aquele órgão fracionário da Corte retoma o julgamento do processo subjetivo, partindo da premissa encontrada pelo Pleno ou pelo Órgão Especial. A cláusula de reserva de plenário, no entanto, possui exceções: O CPC de 2015 diz que ela não se aplica quando antes houver pronunciamento sobre o assunto por parte do Pleno ou pelo Órgão Especial do Tribunal ou do Plenário do STF (art. 949, parágrafo único). Tradicionalmente, a Corte Suprema enxerga a desnecessidade de submissão da reserva de plenário quando “a decisão judicial estiver fundada em jurisprudência do Plenário do Supremo Tribunal Federal ou em Súmula deste Tribunal” (Recurso Extraordinário com Agravo - ARE 914.045 Repercussão Geral - RG). Ademais, já decidiu que, se houver decisão de ambasas suas turmas, é dispensável a cláusula de reserva de plenário (AI 607.616 Ag.R. e RE 578.582 Ag.R.). ATENÇÃO Questão que surge é se pode um órgão fracionário de Tribunal, para não se submeter à presente cláusula, afastar a aplicação de um dispositivo de lei, deixando de declarar expressamente sua inconstitucionalidade. O STF editou a súmula vinculante nº 10 e disse que “[v]iola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de Tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua incidência, no todo ou em parte”. Frente a isso, é possível manejar reclamação junto ao STF (Rcl. 33.086). Por último, duas questões são interessantes: se na interpretação conforme a Constituição e se na declaração parcial de nulidade sem redução de texto levadas a efeito pelo órgão fracionário do Tribunal deve ser respeitada a cláusula de reserva de plenário. Vejamos duas visões a esse respeito: SEGUNDO LUIZ GUILHERME MARINONI O professor Luiz Guilherme Marinoni entende que esse proceder deve ser feito pelo Pleno ou pelo Órgão Especial (SARLET; MARINONI; MITIDIERO, 2015). SEGUNDO GEORGES ABBOUD O professor Georges Abboud explica que, na interpretação conforme a Constituição, por não haver uma declaração de inconstitucionalidade de todas as interpretações possíveis, inexiste uma decisão de inconstitucionalidade. Ademais, a súmula vinculante nº 10 exige afastamento de incidência do ato normativo, no todo ou em parte, pela decisão, o que não acontece quando se fala em interpretação adequada à Constituição. Por isso, não se aplicaria a reserva de plenário (ABBOUD, 2018). Quanto à declaração parcial de nulidade sem redução de texto, a defesa pela inaplicação do art. 97 segue a lógica de que, como o texto da norma permanece intacto e o ato normativo não é retirado do ordenamento jurídico, não se aplicaria a reserva de plenário, porque não se põe em causa a obra do legislador. Parece ir nesse sentido, em que pese sua explicação, o STF nos RE 184.093, RE 460.971 e ARE 676.006 Ag.R. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. NO CONTEXTO ATUAL BRASILEIRO DAS RELAÇÕES ENTRE OS INTEGRANTES DE PODER, VÊ-SE, POR VEZES, ATITUDES QUE PODEM SER QUALIFICADAS COMO ABUSIVAS OU QUE DENOTAM A VONTADE DE DOMINAÇÃO. CONSIDERANDO O AQUI ESTUDADO, COMO A CONSTITUIÇÃO A ISSO RESPONDE? A) A Constituição não tem resposta a isso, posto que se trata de matéria de ordem política, espaço não franqueado à atuação da Constituição. B) A resposta constitucional é veiculada pelo exercício do voto direto, secreto e com igual valor para todos, já que desse modo o povo poderia reprovar aquele que age de modo abusivo ou com vontade dominadora. C) A qualificação da independência entre os Poderes é o que basta e a Constituição elege unicamente para permear essa relação. D) A independência é qualidade da relação apenas entre Executivo e Legislativo, posto que Poderes com fonte democrática, não alcançando o Judiciário, porque os ministros do STF são nomeados pelo presidente da República, após prévia sabatina na Câmara dos Deputados. E) A Constituição traz uma resposta que alia a independência e harmonia entre os Poderes, para que um não dependa do outro e um não se arvore a subjugar o outro. 2. O PODER JUDICIÁRIO NO CONHECIMENTO COMUM É AQUELA FUNÇÃO ESTATAL COM RESPONSABILIDADE ÚNICA DE FAZER JULGAMENTOS DOS CASOS QUE SE APRESENTAM A ELE. COM RELAÇÃO A ISSO: A) Os Poderes Legislativo e Executivo são funções estatais que respectivamente, além de exercerem a atribuição de legislar e administrar, também promovem julgamentos, mas o Poder Judiciário, não, exatamente por faltar a este pedigree democrático. B) Devido à sua representatividade democrática, somente o Poder Judiciário agrega em suas mãos a função julgadora. C) Ao Poder Executivo é concedida com exclusividade a prática de atos de administração, somada à possibilidade de efetivar julgamentos internos de casos administrativos, já que seu chefe recebeu através do voto legitimidade popular para tanto. D) O Poder Legislativo, casa na qual devem ser debatidos os temas de maior importância para a sociedade, é o único ator que tem função legislativa e julgadora, não possuindo mister administrativo, por causa da separação de Poderes. E) Conquanto seja possível dizer que os Poderes Legislativo e Executivo possuam maior pedigree democrático, não é vedado ao Poder Judiciário realizar funções outras que não apenas a de julgar. GABARITO 1. No contexto atual brasileiro das relações entre os integrantes de Poder, vê-se, por vezes, atitudes que podem ser qualificadas como abusivas ou que denotam a vontade de dominação. Considerando o aqui estudado, como a Constituição a isso responde? A alternativa "E " está correta. No art. 2º, a Constituição de 1988, afirma a independência e harmonia entre as funções do Poder. Isso significa, por um lado, que cada um deve agir sem precisar da vontade do outro, mas também importa que, sobretudo em momento de ascensão de polarização política, trabalhem de modo harmônico, particularmente sem abuso de poder e intenção dominadora. 2. O Poder Judiciário no conhecimento comum é aquela função estatal com responsabilidade única de fazer julgamentos dos casos que se apresentam a ele. Com relação a isso: A alternativa "E " está correta. A separação de Poderes e o desenho da Constituição de 1988 autorizam afirmar que o Poder Judiciário não implementa apenas a função julgadora. Apesar de esta ser, no caso do Poder Judiciário, uma função típica, a doutrina ensina que esse ramo exerce funções atípicas de administração e legislativa. MÓDULO 2 Identificar as garantias da Magistratura A FRAGILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO A Constituição, ao catalogar as competências do Poder Judiciário, principia com uma das funções mais nobres que algum órgão ou instituição poderia ter. Ao STF compete a guarda da Carta Magna. Em tempos de despolarização, essa função é um pouco menos complexa. Isso, entretanto, muda de figura com a gradual polarização social em torno, sobretudo, de líderes políticos que se extremam. Foto: Shutterstock.com COMENTÁRIO A compreensão desse fenômeno é simples, o que não significa que ele seja aceitável. Quanto mais extremado um político, ele será mais desejoso de reunir poder e atrair sua base de sustentação. Dentro dessa lógica, uma das suas estratégias invariavelmente é eleger alguns alvos como adversários. Nesse ponto, ataques ao Poder Judiciário e, particularmente, a uma Suprema Corte que não se dobrem à vontade executiva são vistos em inúmeros casos de direito comparado. No Brasil, o Poder Judiciário, por conta do art. 5º, XXXV, da Constituição, tem um espaço de atuação muito amplo. Nesse cenário, a Suprema Corte tem um protagonismo enorme. A título de exemplo, é possível apontar para algumas competências que o STF tem. A Corte é a responsável por julgar processos objetivos – processos de fiscalização abstrata da inconstitucionalidade de leis e atos normativos federais e estaduais e da constitucionalidade de leis e atos normativos federais (art. 102, I, ‘a’, da Constituição). O Tribunal tem competência para analisar medidas normativas dos Poderes Executivo (como uma medida provisória) e Legislativo (como uma lei) e isso pode simbolizar o STF como um ator de bloqueio aos anseios de agentes políticos. Isso também pode acontecer quando do exercício de outra competência constitucional. No caso do foro especial por prerrogativa de função (competência originária criminal), a relação entre os Poderes da República é ainda mais delicada. Pela mera leitura do que dizem as alíneas ‘b’ e ‘c’, do art. 102, I, da Constituição, verifica-se uma grande complexidade política. Processar e julgar membros do Congresso Nacional, com o pedigree democrático que carregam, não é atribuição fácil de ser implementada. Tudo isso se torna ainda mais complicado em um cenário político polarizado. Foto:Shutterstock.com Além disso, é de competência do STF conhecer e resolver eventual conflito federativo. A controvérsia que tenha potencial de desestabilização do equilíbrio federativo fica nas mãos do Tribunal solucionar (art. 102, I, ‘f’, da Constituição). EXEMPLO Quando está em disputa qual pessoa política tem competência para conduzir questões afetas ao direito fundamental da saúde, em uma situação excepcional de pandemia, é a Corte Suprema o ator eleito pelo Constituinte a dirimir a dúvida. Foto: blvdone / Shutterstock.com Por fim, instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), ou mesmo antes (ver MS 37.760 MC Ref.), é de competência do STF processar e julgar eventuais habeas corpus e mandados de segurança (art. 102, I, ‘d’, da Constituição). Nesse sentido, o STF tem concedido habeas corpus para que o investigado não seja obrigado a comparecer em CPI na condição de testemunha. Porque violaria o direito de defesa, a Corte tem facultado à pessoa nessa situação não responder a perguntas, fazer-se acompanhar por advogado, não prestar compromisso de dizer a verdade e ausentar-se da sessão se conveniente ao exercício da sua defesa (HC 202.940). Foto: Shutterstock.com Os exemplos anteriores apenas demonstram o quão politicamente densas são as competências do STF. No entanto, um alerta mostra-se importante. Isso se espalha para o exercício da função jurisdicional como um todo. O Juiz de uma comarca do interior igualmente recebe missões de alta saliência política. O julgamento de uma ação por improbidade administrativa cujo demandado seja um mandatário local é tão difícil quanto os casos acima indicados. Veja que, em uma formatação ampla, os Poderes Legislativo e Executivo possuem, ao menos simbolicamente, força maior. Observemos as suas competências: COMPETÊNCIAS DO CONGRESSO NACIONAL COM O PRESIDENTE DA REPÚBLICA No plano federal, cabe ao Congresso Nacional, com o presidente da República, conforme o art. 48, da Constituição, dispor, entre outros assuntos, sobre: o sistema tributário, a arrecadação e a distribuição de rendas; o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias, o orçamento anual, a operações de crédito, a dívida pública e as emissões de curso forçado; a fixação e a modificação do efetivo das Forças Armadas; os planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento; a matéria financeira, cambial e monetária, instituições financeiras e suas operações; a moeda, seus limites de emissão, e montante da dívida mobiliária federal; e a fixação do subsídio dos ministros do STF. COMPETÊNCIAS EXCLUSIVAS DO CONGRESSO NACIONAL Em paralelo, cabe ao Congresso, com exclusividade, entre as matérias do art. 49, da Constituição: autorizar o presidente da República a declarar guerra e a permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, e autorizar o estado de sítio; sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; fixar idêntico subsídio para os deputados federais e os senadores; fixar os subsídios do presidente e do vice-presidente da República e dos ministros de Estado; julgar anualmente as contas prestadas pelo presidente da República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo; fiscalizar e controlar os atos do Poder Executivo; aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares; autorizar referendo e convocar plebiscito; e decretar o estado de calamidade pública de âmbito nacional. COMPETÊNCIAS EXCLUSIVAS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA Segundo o art. 84, da Constituição, compete apenas ao presidente da República, entre outros misteres: exercer a direção superior da administração federal; manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; decretar o estado de defesa e o estado de sítio; decretar e executar a intervenção federal; exercer o comando supremo das Forças Armadas; nomear os ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União; nomear os magistrados, nos casos previstos na Constituição; declarar guerra, no caso de agressão estrangeira e decretar a mobilização nacional; permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição; e propor ao Congresso Nacional a decretação do estado de calamidade pública de âmbito nacional. Tudo isso transparece um claro poderio nas mãos do Poder Legislativo. Pela leitura dessa lista, a influência sobre questões estratégicas como a pertinente ao dinheiro público é grande. Por sua vez, ao Poder Executivo também foi dada uma gama de atribuições com enorme importância. O Poder Executivo também é detentor de uma força muito grande. É de se destacar, dentre outros pontos, a atribuição ligada ao uso da violência, legitimado excepcionalmente seu uso. Corrobora essa ideia a entrega da autoridade suprema das Forças Armadas, dada pelo art. 142, da Constituição, ao presidente da República. No mesmo sentido, mas relacionado aos governadores, a Constituição atribui a eles o comando da polícia militar, do corpo de bombeiro militar e da polícia civil (art. 144, §6º). Foto: Celso Pupo / Shutterstock.com Frente a tanto peso conferido aos Poderes Legislativo e Executivo, foi preciso desenhar um Poder Judiciário que realmente ficasse blindado de qualquer influência por parte daqueles. Ou seja, para realmente cumprir a promessa de independência do art. 2º, a Constituição precisou formatar essa última função com diversas garantias. Inexistentes elas, tanto seus integrantes, como a sociedade, destinatária final de um Judiciário isento e protegido, ficariam à mercê das vontades e pressões. Desse modo, é possível dizer que as garantias da Magistratura têm como foco equilibrar o jogo de forças que o quadro político constitucional apresenta. INVESTIDAS ILEGÍTIMAS SOBRE O PODER JUDICIÁRIO É preciso compreender que faz parte do jogo democrático que os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, cada um ao seu modo, desenvolvam e solucionem determinado tema. A Constituição estrutura isso. Não à toa, repita-se, ela pede harmonia entre esses atores. A harmonia não significa subserviência, mas importa, dentre outras condutas exigíveis, em um pedido de não ataque de uma em relação à outra função. No entanto, historicamente, investidas institucionais à Suprema Corte são vistas no Brasil e no mundo. EXEMPLO Podemos citar alterações no número dos membros da Corte, manipulação da competência, impeachment de ministros por razões não disciplinares e para alinhamento da jurisprudência às preferências políticas de uma maioria, controles do Congresso sobre o orçamento dos Tribunais e os subsídios dos Juízes, processo de nomeação de ministros e recusa na implementação de decisões judiciais. Muitas dessas condutas são ataques que, conquanto majoritariamente endereçados à Corte Suprema, têm como destino o Poder Judiciário como um todo, no intuito de fazer prevalecer a vontade do Poder Legislativo ou do Poder Executivo sobre a do Judiciário (BRANDÃO, 2012). Como parece evidente, isso é prejudicial ao Estado de Direito, justamente porque enfraquece a independência judicial. Antevendo tudo isso, o Constituinte previu as garantias da Magistratura. AS GARANTIAS DA MAGISTRATURA No vídeo a seguir, o professor André Farah discorre sobre as garantias da Magistratura e de seus membros. Vamos assistir! De acordo com Moraes (2002), as garantias da Magistratura podem ser divididas em: GARANTIAS INSTITUCIONAIS Relacionam-se ao Poder Judiciário como instituição, ou seja, como um todo, e dizem respeito ao relacionamento desse ramo com os demais. javascript:void(0) GARANTIAS DOS MEMBROS Referem-se às pessoas dosJuízes e voltam-se externa e internamente ao Poder Judiciário. AS GARANTIAS INSTITUCIONAIS OU AS AUTONOMIAS DO PODER JUDICIÁRIO Predicado estruturante e viabilizador do desenho constitucional idealizado no art. 2º, da Constituição, a autonomia do Poder Judiciário busca conferir a ele uma igualdade frente aos Poderes Legislativo e Executivo. ATENÇÃO É relevante ter em mente que tal autonomia, longe de significar que esse ramo de função estatal fique apartado das demandas sociais, importa, ao cabo, em um modo de tutelar a própria sociedade. Na verdade, ao se proteger aquele ator que decidirá casos nos quais existe um desequilíbrio de forças, por exemplo, com a presença do Estado, deseja-se tutelar o interesse da sociedade em ter um Poder Judiciário não dependente das vontades eventualmente políticas e financeiras de terceiros. No desenho constitucional próprio do Poder Judiciário, é possível, então, enxergar três ordens de autonomia: AUTONOMIA ADMINISTRATIVA (ARTS. 99 E 96, DA CONSTITUIÇÃO) AUTONOMIA FINANCEIRA (ART. 99, DA CONSTITUIÇÃO) AUTONOMIA FUNCIONAL javascript:void(0) AUTONOMIA ADMINISTRATIVA (ARTS. 99 E 96, DA CONSTITUIÇÃO) É dado ao Poder Judiciário autogovernar-se. Seu mérito é permitir, por exemplo, que seus próprios integrantes elejam os órgãos diretivos e elaborem seus regimentos internos. AUTONOMIA FINANCEIRA (ART. 99, DA CONSTITUIÇÃO) Dentro dessa temática, estão a elaboração da proposta orçamentária e os repasses dos duodécimos. A proposta orçamentária deve ser elaborada pelo Tribunal, ou seja, ele é, em um primeiro momento, o autor da proposta e mais ninguém. A razão de ser é porque o próprio Tribunal conhece suas necessidades e historicamente sabe-se que pela fragilização financeira de um ente ou órgão consegue-se que se dobrem os joelhos. Com a mesma razão, existem os repasses dos duodécimos. Os recursos pertinentes ao Poder Judiciário devem ser entregues até o dia 20 de cada mês (art. 168, da Constituição). AUTONOMIA FUNCIONAL A lógica dela vai no sentido de que no exercício de sua atividade final, o Poder Judiciário não deve estar atrelado a qualquer vontade que não do direito. SAIBA MAIS O STF, em medida cautelar no Mandado de Segurança 34.483, reconheceu ato omissivo de Governador de Estado e violador de autonomia. Afirmou a Corte que o “direito prescrito no art. 168 da CF/88 instrumentaliza o postulado da Separação de Poderes e, dessa perspectiva, institui um dos fundamentos essenciais para a permanência do Estado Democrático de Direito, impedindo a sujeição dos demais Poderes e órgãos autônomos da República a arbítrios e ilegalidades perpetradas no âmbito do Poder Executivo respectivo”. Pergunta importante e relacionada ao tema é sobre a possibilidade de alteração do número de integrantes do STF, já que a Constituição previu o número de onze e, ao mesmo tempo, proclamou como cláusula pétrea a separação de poderes (arts. 101, caput, e 60, §4º, III). Alexandre de Moraes já sustentou que, se a intenção da mudança for desrespeitar a autonomia do Tribunal ou de suas decisões, a alteração seria inconstitucional (MORAES, 2002). Caracteriza como crime de responsabilidade do presidente da República, na forma do art. 85, II, da Constituição, a prática de ato que atente contra o livre exercício do Poder Judiciário. Assim, a conduta presidencial que se volte contra a autonomia do Poder Judiciário poderá dar azo, a depender do contexto, em impeachment do aludido agente político. AS GARANTIAS DOS MEMBROS A Constituição, no art. 95, trouxe ainda as garantias constitucionais específicas dos Juízes. Com essa nomenclatura, elencou-as em três: Vitaliciedade Inamovibilidade Irredutibilidade de subsídios Elas podem ser qualificadas de garantias de liberdade dos Magistrados, exatamente porque visam entregar certa liberdade de atuação no exercício da judicatura. Existem, em paralelo, as garantias de imparcialidade, o que nos dizeres da Constituição importam em vedações. Segundo o parágrafo único, do art. 95, são vedados: O exercício de outro cargo ou função, salvo uma de magistério A percepção de valores decorrentes de processo A dedicação à atividade político-partidária O recebimento de valores pagos por pessoa física ou jurídica pública ou privada, exceto casos legais O exercício da advocacia dentro de uma quarentena de três anos A garantia funcional da vitaliciedade possui sentidos que precisam ser explicados. Diferente do que acontece na Suprema Corte norte-americana, em que, de fato, os Magistrados podem exercer suas funções até o final da vida, no Brasil, o termo serve para distinguir essa carreira de outras. Nesse ponto, por exemplo, o Magistrado perderá seu cargo se for proferida uma decisão judicial transitada em julgado. Além disso, a aposentadoria compulsória colhe o Magistrado que atingir a respectiva idade, denotando outra peculiaridade distintiva da vitaliciedade do sistema constitucional brasileiro (Súmula 36, STF). Ainda cabe acrescentar que o ministro do STF pode sofrer impeachment, pela prática de crime de responsabilidade. Conquanto exista a garantia da vitaliciedade, ela não funciona como um escudo de absoluta proteção do Magistrado, servindo efetivamente ao propósito de tutelar a liberdade do atuar judicial. No entanto, vale consignar mais um ponto relevante. Vejamos: A forma de ingresso na Magistratura, em regra, é por meio de concurso público. Aprovada a pessoa, exercerá seu múnus na classe inicial da carreira e, nesse momento, passará por um período de confirmação de dois anos (estágio probatório ou comprobatório). Nesse interregno, o Juiz não possui vitaliciedade, e a perda do cargo pode ser deliberada por seu Tribunal. Aos demais Magistrados que ingressam na carreira pelos mecanismos constitucionais autorizadores, como junto aos Tribunais locais e Tribunais Superiores, o sistema é diverso. Empossado no cargo, adquire-se a vitaliciedade. A título de exemplo, o advogado que ingressa no TJ, por meio do quinto constitucional, tornando-se desembargador, com a posse já é vitalício. Soma-se a essa garantia, a inamovibilidade. Significa que o Magistrado não pode ser removido do cargo ex officio ou, por outro mecanismo, ainda que indireto, ser afastado da apreciação de um processo. O STF, em 2012, no MS 27.958, já decidiu que a inamovibilidade também abraça o Juiz substituto. Segundo a fundamentação, a garantia da inamovibilidade toca a Magistratura como um todo e, por isso, a classe dos substitutos não poderia ficar apartada. ATENÇÃO Inamovibilidade não significa a impossibilidade de remoção, disponibilidade ou aposentadoria do Magistrado, por interesse público. A própria Constituição contemplou esses instrumentos (arts. 95, II, segunda parte e 93, VIII). Devem ser decididos pela maioria absoluta do Tribunal ou do CNJ, respeitada previamente a ampla defesa. Em interessante caso, o STF se debruçou a respeito da possibilidade de o CNJ, por ato normativo seu, criar hipótese cautelar de afastamento de Magistrado. Na ADI 4.638 MC-Ref, a Corte disse que esse proceder viola a Constituição e que a restrição à inamovibilidade (e vitaliciedade) de Juiz exige lei em sentido formal e material, sob pena de violação à legalidade e devido processo legal. Por último, a terceira garantia específica da Magistratura arrolada pela Constituição no capítulo próprio, é a irredutibilidade de subsídio. Também ela busca assegurar a independência dos Juízes e afastar a sua exposição a posturas legislativas e executivas. Antes, essa garantia atingia apenas os Magistrados, mas hoje integra a proteção dos servidores públicos em geral, como se lê do art. 37, XV, da Constituição, com redação alterada pela EC nº 19/98. A irredutibilidade de subsídio tem regramento que precisa ser respeitado. Nesse sentido, a fixação ou alteração do subsídio exige lei específica, com observância da iniciativa privativa do processo legislativo respectivo. Além disso, é preciso não ignorar a existênciade tetos e subtetos (arts. 37, X e XI, e 39, §4º). Costuma-se fazer uma divisão da irredutibilidade jurídica e da real: IRREDUTIBILIDADE JURÍDICA A garantia constitucional é respeitada se não houver uma diminuição nominal do subsídio. IRREDUTIBILIDADE REAL A concessão de aumento deve ser de acordo com o índice oficial, porque do contrário seria admitir a redução do subsídio. Ao lado disso tudo, as garantias de imparcialidade tiveram acento constitucional com a expressão vedações. Existem justamente para dar sustentação à ideia de um Magistrado equidistante. Nesse sentido, foram positivadas na forma de vedações. Com esse mote, o Magistrado não pode exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério. Ao contrário da vedação ligada a membros do Ministério Público que se circunscreve apenas à função e pública, aqui a proibição, pelas palavras do Constituinte, é um pouco mais ampla. A preocupação é quanto ao sistema remuneratório do Juiz e o cerne é o exercício de outra atividade, pública ou privada, remunerada. Com olhos nesse ponto, o STF já teve a javascript:void(0) javascript:void(0) oportunidade de, ao analisar resolução do CNJ proibitiva da acumulação de funções de Juiz e integrante da Justiça Desportiva, afirmar a incompatibilidade constitucional, em decorrência da norma da Constituição e da autoexecutoriedade do ato administrativo (MS 25.938). Foto: Shutterstock.com Um assunto correlato é sobre a interpretação da expressão “uma de magistério”. O STF já afirmou que a teleologia da norma constitucional é impedir a atividade de magistério incompatível com as funções da Magistratura. Sob esse pensamento, não permite a Constituição apenas um único cargo ou função de magistério. O que precisa ser avaliado é se os horários são compatíveis. Portanto, a análise deve ser casuística (ADI 3.126 MC). Ao lado disso, a Constituição, em dois momentos bem próximos, proíbe a percepção de custas ou participação em processo e de auxílio ou contribuição – exceto as permissões legais. Mais uma vez, como fica claro, o objetivo é, focando na remuneração, blindar o Magistrado e o colocar na posição de imparcialidade. Com tal ideia, o STF teve oportunidade de analisar resolução do CNJ que proibia que entidade privada com fim lucrativo arcasse com o custo dos Magistrados em encontros jurídicos e culturais, excetuados aqueles na condição de palestrante, conferencista, presidente de mesa, moderador, debatedor e organizador. Conquanto tenha sido decidido pelo não conhecimento do mandado de segurança, o tema mereceu consideração e reprovação (MS 32.040 MC-AgR). Além dessas vedações, a Constituição também proibiu que o Magistrado se dedique à atividade político-partidária. Trata-se de uma vedação originariamente absoluta, o que a distingue do regime jurídico constitucional dos membros do MP. Caso o Juiz deseje implementar essa atividade, a solução é a aposentadoria ou a exoneração da carreira da Magistratura. Mais uma vez, o objetivo é a isenção desse agente público. Foto: Shutterstock.com SAIBA MAIS Na AO 2.236 ED, o STF se debruçou sobre o fato de tratado internacional revogar norma constitucional e, então, permitir que Juiz, nessa condição, candidate-se a pleito eleitoral. A Corte afirmou, dentre tantos outros fundamentos, que mesmo que o Tratado de Nova York, internalizado como norma constitucional, dite genericamente a possibilidade de as pessoas serem eleitas, o art. 95, parágrafo único, III, da Constituição deveria ser interpretado como norma excepcional e aplicável aos Juízes, justamente por causa da finalidade da proibição. Por fim, a última vedação é quanto ao exercício da advocacia no juízo ou Tribunal do qual se afastou. A norma constitucional, acrescentada pela EC nº 45/2004, então, impõe uma quarentena de três anos, a partir da aposentadoria ou exoneração. O tema gera controvérsia frente ao direito fundamental de liberdade de ofício (art. 5º, XIII, da Constituição). Gilmar Mendes, no entanto, explica que a vedação visa reforçar a independência e a imparcialidade do Magistrado e cria uma barreira ao tráfico de influência (MENDES; BRANCO, 2019). No fundo, essa é uma proteção com dois enfoques: O próprio Magistrado que ainda na carreira deseja sair & O outro Magistrado que porventura pudesse ser procurado pelo seu colega exonerado ou aposentado O Juiz que deseje sair, deverá refletir profundamente a respeito de sua opção. E o Juiz estará protegido para exercitar sua função da forma mais isenta possível, sem a importunação de um colega exonerado ou aposentado. COMENTÁRIO A interpretação a respeito do termo “no juízo ou Tribunal do qual se afastou” gera dúvida. Por um lado, parece indicar uma proibição de ordem territorial. Por outro, no entanto, pode ser vista com olhos na função exercida. Assim, não teria importância e, por isso, a vedação não se direcionaria ao âmbito territorial do órgão jurisdicional. A atenção, nessa lógica, seria voltada ao espectro da antiga competência funcional e, então, proibir a atuação dentro dele. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A FRAGILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO É UM TEMA IMPORTANTE E INAUGURAL NO TRATO DAS GARANTIAS DA MAGISTRATURA. DENTRO DESSA TEMÁTICA COMPLEXA, ALGUNS PONTOS MERECEM DESTAQUE E SE INTERRELACIONAM. ASSIM, É POSSÍVEL DIZER QUE: A) O Poder Judiciário não exerce atividade que pode ser qualificada, ainda que minimamente, como política. B) Na estrutura do Poder Judiciário, apenas o STF possui competências que podem ser categorizadas como de algum modo políticas. C) A Constituição não outorga ao Poder Legislativo competência que permite afirmar figurar o mesmo com força maior, já que, a título de exemplo, não julga as contas prestadas pelo presidente da República. D) A Constituição outorga ao Poder Executivo enorme força, posto que advém da exclusiva vontade do presidente da República declarar guerra e permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional. E) A conformação constitucional do Poder Judiciário, frente às competências, sobretudo, dos arts. 48, 49 e 84, exigiu uma engenharia de blindagem. 2. O GOVERNADOR DE DETERMINADA UNIDADE DA FEDERAÇÃO, POR VONTADE PRÓPRIA, RESOLVEU NÃO REPASSAR O VALOR MENSAL ATINENTE AO PODER JUDICIÁRIO, EXPLICANDO QUE ELE SERIA COLOCADO EM APLICAÇÃO FINANCEIRA QUE TRARIA UM BOM RENDIMENTO AO ESTADO, DE MODO QUE, NO FUTURO, PUDESSE SAIR DA CRISE FINANCEIRA NA QUAL SE ENCONTRA. SOBRE ESSA SITUAÇÃO, ANALISE AS OPÇÕES A SEGUIR E MARQUE A CORRETA. A) A conduta administrativa do chefe do Poder Executivo é legitimada pela aplicação do princípio da supremacia do interesse público. B) A atitude do Executivo não é compatível com a Constituição, posto que, para ser, precisaria de anuência do Poder Legislativo. C) É inerente à autonomia financeira do Poder Judiciário o repasse de duodécimos, ou seja, da entrega da parcela mensal da verba pública ao referido ramo de função, que, se não acontecer, autoriza a impetração de mandado de segurança. D) O Poder Judiciário é detentor de autonomia administrativa e funcional, de modo que não está incorreto o proceder administrativo, sobretudo por causa do resultado futuro do rendimento colocado na aplicação financeira. E) O STF não enxerga na autonomia financeira a materialização da separação de Poderes, o que permite concluir que, ausente ela, não se configura uma submissão dos ramos e órgãos autônomos à vontade executiva. GABARITO 1. A fragilidade do Poder Judiciário é um tema importante e inaugural no trato das garantias da Magistratura. Dentro dessa temática complexa, alguns pontos merecem destaque e se interrelacionam. Assim, é possível dizer que: A alternativa "E " está correta. É clássica a lição segundo a qual o desenho institucional do Poder Legislativo e do Poder Executivo importa na outorga de um poder muito agudo em termos de dinheiro público e de monopólio da força. Para compensar isso e evitar que tal se torne um modo de pressãosobre o Poder judiciário, foi preciso uma engenharia de blindagem. Esta pode ser compreendida, por exemplo, a partir do estudo das garantias da Magistratura. 2. O governador de determinada unidade da federação, por vontade própria, resolveu não repassar o valor mensal atinente ao Poder Judiciário, explicando que ele seria colocado em aplicação financeira que traria um bom rendimento ao Estado, de modo que, no futuro, pudesse sair da crise financeira na qual se encontra. Sobre essa situação, analise as opções a seguir e marque a correta. A alternativa "C " está correta. Ao Poder Judiciário é reconhecida, entre outras, a autonomia financeira. Significa ela um importante pilar para o bom desempenho das funções inerentes ao citado ramo. Isso porque, mantendo-se apartado financeiramente de quem administra a verba pública do tesouro estadual, o Poder Judiciário poderá exercer seu mister de forma isenta. Nesse sentido, o STF reconhece que o repasse das parcelas mensais ao Poder Judiciário é concretização da autonomia financeira e não pode ficar à mercê de uma vontade arbitrária do chefe do Executivo local, podendo a situação ser tutelada via mandado de segurança impetrado pelo próprio Poder Judiciário. MÓDULO 3 Reconhecer os diversos atores que exercem suas funções na tutela de direitos no âmbito judicial MINISTÉRIO PÚBLICO O MP é a instituição que inaugura o capítulo da Constituição intitulado de funções essenciais à Justiça, apesar de, assim como os demais, não atuar apenas no exercício de funções judiciais. A Constituição outorgou-lhe atribuições sensíveis: a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Foto: Moacir Ximenes / Wikimedia commons / CC BY 3.0 BR PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS O MP se rege pelos seguintes princípios: Autonomia Unidade Indivisibilidade Independência funcional O princípio da autonomia (art. 127, §§2º a 6º, da Constituição) é subdividido em: FUNCIONAL Significa que o MP deve ser “imune a qualquer influência externa no exercício de sua atividade finalística” (GARCIA, 2008, p. 93-94). ADMINISTRATIVO Importa que se assegure a “prerrogativa de editar atos relacionados à gestão dos seus quadros de pessoal, à administração e à aquisição de bens” (GARCIA, 2008, p. 94-95). FINANCEIRO Garante a aptidão para elaboração de sua proposta orçamentária e de gestão e aplicação dos recursos destinados a prover suas atividades, com recebimento de duodécimos e possibilidade de abertura de créditos suplementares e especiais (MAZZILLI, 2001). A Constituição, no entanto, trouxe três exceções ao princípio da autonomia administrativa (art. 128, §§3º a 5º, I, ‘a’): A nomeação do Procurador-Geral de Justiça (PGJ) é feita pelo chefe do Poder Executivo. O PGJ pode ser destituído pelo Poder Legislativo. Os membros vitalícios só podem perder o cargo por decisão judicial com trânsito em julgado. Os outros três princípios estão previstos no art. 127, §1º, da Constituição: javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Imagem: Shutterstock.com UNIDADE O princípio da unidade importa em dizer que cada unidade do MP é uma instituição única, submetida a uma chefia própria. Imagem: Shutterstock.com INDIVISIBILIDADE O princípio da indivisibilidade significa a impossibilidade de cisão da instituição, impossibilitando-se sua subdivisão. Imagem: Shutterstock.com INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL O princípio da independência funcional tem o sentido de que o membro do MP, em sua atividade fim, pode atuar de forma livre, com obediência apenas à Constituição, às leis e à sua consciência, além de não poder ser responsabilizado por atos praticados no estrito exercício das suas funções. OS MINISTÉRIOS PÚBLICOS, FORMAS DE ESCOLHA E DESTITUIÇÃO A Constituição, no caput do art. 128, traz uma primeira divisão entre as unidades do MP. Assim, enxerga-se o MP da União (MPU) e o MP dos Estados. Em seguida, é possível verificar a existência de subdivisões no MPU: MP Federal MP do Trabalho MP Militar MP do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) Em que pese a obviedade, com relação aos MPs estaduais, é possível afirmar a existência de 26 unidades às quais se aplicam todos os princípios explicados. É de suma relevância destacar que inexiste qualquer hierarquia entre as diversas unidades do MP. O Procurador-Geral da República (PGR) é o chefe do MPU. Segundo a Carta Magna, sua escolha e nomeação é feita pelo presidente da República, antecedida pelo que se denomina de sabatina, feita pelo Senado Federal. A aprovação do nome do aspirante pela casa legislativa deve ser feita por maioria absoluta dos membros e a investidura é de dois anos, sendo franqueada a recondução. O postulante precisa ter pelo menos 35 anos e integrar a carreira (art. 128, §1º, da Constituição). Detalhe importante e que fica mais nítido quando feita comparação com a sistemática estadual é que os membros do MPU, pelas palavras da Constituição, não constituem uma lista tríplice a ser apresentada ao chefe do Poder Executivo. O sentido é fácil de se compreender. O PGR precisa guardar distância do presidente da República, pois é quem possui atribuição para investigá-lo e processá-lo criminalmente, por exemplo. EXEMPLO Essa é a situação pela qual passou, em 2019, Augusto Aras para se tornar PGR, já que seu nome não figurou na escolha a partir do escrutínio de seus pares. Em que pese a falta de previsão constitucional para o MPU, como acontece para os MP estaduais, até então vinha se consolidando uma tradição constitucional de indicar um dos nomes de uma lista tríplice, preferencialmente o mais votado, em eleição organizada pela associação de classe. Foto: Justiça Viva / TV Justiça / Wikimedia commons / CC BY 3.0 Augusto Aras. Ademais, como mencionado, ao PGR é permitida a recondução. Igualmente, se comparado o dispositivo constitucional com o similar dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, é permitido dizer que para o PGR não se proíbe mais de uma recondução. Esse não é o caso para os PGJs, porque apenas se admite uma recondução. Também a destituição do PGR merece atenção e comparação com o congênere estadual: A iniciativa para destituição do PGR é do presidente da República. E a autorização é dada pela maioria absoluta do Senado Federal (art. 128, §2º, da Constituição). No ponto relacionado à nomeação, a Constituição entendeu por bem entregar desenho diverso aos MP estaduais e resolveu incluir nele o MPDFT. Vejamos: Para escolher o PGJ, a Carta Magna prevê expressamente uma lista tríplice prévia, formada por integrantes da respectiva carreira (art. 128, §3º). Dessa lista tríplice, o chefe do Executivo escolhe um nome. A investidura do PGJ é de dois anos, sendo possível apenas uma recondução. Inexiste, como acontece com o aspirante a PGR, exigência constitucional de idade mínima e nem participação do Legislativo no procedimento de escolha. Por outro lado, a destituição de tais PGJs também não se assimila à configuração voltada ao PGR. A deliberação para tanto é feita pela casa legislativa, por maioria absoluta, mas as demais exigências foram deixadas à norma infraconstitucional (lei complementar) para colmatação (art. 128, §4º, da Constituição). INICIATIVA LEGISLATIVA A complexidade do tema afeto à iniciativa legislativa para tratar do MP se dá porque a Constituição possui o art. 128, §5º e o art. 61, §1º, II, ‘d’. Nesse sentido, é preciso fazer distinções, para saber qual é o sentido das exigências constitucionais. A Lei nº 8.625/93 é a Lei Orgânica Nacional do MP e dispõe de normas gerais para organizar os MPs estaduais. Para tal tipo de norma geral, segundo a Constituição, o presidente da República, em uma especificação do que dispõe a competência legislativa concorrente (art. 24), possui iniciativa legislativa privativa tanto para os MP estaduais, como para o MPDFT (art. 61, §1º, II, ‘d’, segunda parte). ATENÇÃO Uma peculiaridade existe quando se estudaa iniciativa legislativa para organização do MPU. Isso porque, em que pese a Constituição prever no art. 61, §1º, II, ‘d’, primeira parte, a privatividade do presidente da República, a Carta Magna diz que essa iniciativa é facultada ao PGR (art. 128, §5º). Assim, a iniciativa, nesse ponto exclusivo, é concorrente. Por fim, cabe trazer alguns aportes sobre a iniciativa legislativa para a norma de organização do MP estadual. Aqui, existe controvérsia a respeito da privatividade desse atuar nas mãos do PGJ: Sob uma lógica e olhando para o art. 128, §5º, é possível dizer que apenas esse ator pode iniciar o processo legislativo. Outro pensamento autoriza que, caso a Constituição do Estado possua norma semelhante à do art. 61, §1º, II, ‘d’, a iniciativa seja concorrente entre Governador do Estado e PGJ. GARANTIAS, VEDAÇÕES E DEVERES CONSTITUCIONAIS Tal como fez com a Magistratura, a Constituição trouxe dispositivos pertinentes a garantias, vedações e deveres dos membros do MP: Imagem: Shutterstock.com GARANTIAS Como garantias, elencou a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de subsídio. Imagem: Shutterstock.com VEDAÇÕES Quanto às vedações, proibiu receber quantias decorrentes de processos; exercer a advocacia; participar de sociedade comercial; exercer outra função pública, exceto uma de magistério; exercer atividade político-partidária; como regra, receber valores de pessoas físicas ou jurídicas; e exercer advocacia junto ao órgão jurisdicional em que antes atuava como membro do MP (quarentena). Imagem: Shutterstock.com DEVERES CONSTITUCIONAIS Em relação aos deveres constitucionais, é possível visualizar ao menos dois: dever de fundamentação jurídica das manifestações processuais e dever de residência na comarca (art. 129, VIII, e §2º). No tocante às garantias e vedações, a lógica e a explicação pertinentes ao regime jurídico da Magistratura devem ser consideradas para o membro do MP, ante a proximidade existente. Vale, entretanto, destacar que, ao membro ingresso antes da Constituição, é dado escolher o regime anterior quanto às garantias e vantagens, assim como às vedações pertinentes à situação jurídica da data da promulgação da Carta Magna (art. 29, §3º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). ATENÇÃO É necessário enfatizar que a EC nº 45/04 tornou a vedação de atividade político-partidária, antes relativa, absoluta, e trouxe a figura da quarentena. FUNÇÕES CONSTITUCIONAIS As funções constitucionais do MP, apesar de mais presentes no art. 129, da Constituição, são iniciadas no próprio caput, do art. 127, que traz caros misteres em um Estado Democrático de Direito. Conquanto isso seja correto, vale frisar que muitas outras funções podem ser atribuídas ao MP, por exemplo, por lei. Seja qual for a espécie normativa que veicule papéis a serem exercidos, eles somente podem ser exercidos por integrante da carreira. Das funções do MP, três merecem comentários, ainda que breves, por conta da relevância: Seguindo a ordem do próprio art. 129, a ação penal com possibilidade de fiscalização externa da atividade policial e requisição de inquérito policial é algo que torna o MP único e, ao mesmo tempo, com um ônus social muito grande. O exercício da acusação em matéria criminal exige equilíbrio. E a fiscalização da atividade da polícia é vital em uma democracia. No ponto, é importante destacar, ante a teoria dos poderes implícitos, dentre outros argumentos, que pode o MP realizar investigação criminal por conta própria. Paralelo a isso, a tutela da probidade administrativa torna o MP um agente de especial importância no cenário político. Para isso, conta com a possibilidade de fazer uso de mecanismos como o inquérito civil e a ação civil pública. Por fim, é franqueado ao chefe do MP se fazer presente em processo objetivo de fiscalização abstrata de constitucionalidade da compatibilidade de atos normativos infraconstitucionais com a Constituição. A título de exemplo, o PGR é um dos legitimados ativos para propositura de ação direta de inconstitucionalidade. O PGJ, no mais das vezes, também tem legitimidade na ordem jurídica estadual. No vídeo a seguir, o professor André Farah comenta sobre a estrutura do Ministério Público e suas funções. Vamos assistir! CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO (CNMP) Figura nascida da EC nº 45/04, o CNMP assumiu papel central em diversos setores institucionais. Com poder para edição de ato normativo primário, que guarda fundamento de validade junto à Constituição, possui composição híbrida, tendo integrantes de origem interna aos MPs e externa provenientes de indicação do STF, do STJ, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Seus membros, nomeados pelo presidente da República, após aprovação do Senado, por maioria absoluta, têm investidura de dois anos, autorizada uma recondução. De início, é preciso localizar o CNMP na estrutura constitucional. Isso porque seu paralelo na Magistratura foi tratado como um órgão administrativo interno do Poder Judiciário. Porém, a gênese do CNMP permite afirmar que se trata de um órgão de controle externo, não compondo nenhum MP. Ainda, é preciso esclarecer que o CNMP não integra os Poderes legislativo, Executivo e Judiciário. Por isso, é possível dizer que o CNMP é um órgão constitucional autônomo, como o são os Tribunais de Contas e o próprio MP (GARCIA, 2008). Foto: Senado Federal / Wikimedia commons / CC BY 2.0 O CNMP não pode se imiscuir no exercício da atividade fim, mas exerce controle da atividade administrativa e financeira, fiscalizando o cumprimento dos deveres funcionais dos membros dos MPs. Entre suas atribuições, duas merecem destaque: A primeira é a de zelar pela autonomia funcional e administrativa do MP. Nessa seara é que entra o poder normativo antes mencionado. Assim, passados mais de dez anos de existência, o CNMP tem atuado nos mais diversos segmentos para dar, de algum modo, coesão e, às vezes, uniformidade de atuação ministerial. A segunda se relaciona com a função correicional. O CNMP possui uma Corregedoria Nacional (CN) que recebe notícias e reclamações pertinentes a membros e serviços do MP, realiza correições e inspeções, revê processos disciplinares julgados há um ano, aplica sanções disciplinares (exceto perda do cargo) e pode requisitar e delegar funções a membros e servidores do MP. Inicialmente vista como problemática, tornou-se tranquila, sobretudo na prática, a ideia de que a CN pode atuar simultaneamente com a Corregedoria local, não guardando subsidiariedade sua atividade. DEFENSORIA PÚBLICA A Defensoria Pública (DP), tal qual o MP, foi concebida pelo constituinte como instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado. No entanto, como antes salientado, a DP também exerce importante função extrajudicial. Imagem: Defensoria Pública de Pernambuco Com a redação conferida pela EC nº 80/14, a Constituição retratou melhor a essência da DP. Nessa nova redação, o caput, do art. 134, passou a dizer que incumbe a ela “a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º”. A DP deve ser entendida como expressão e instrumento do regime democrático, significando isso que em si precisa pautar-se pela pluralidade e buscar tutelar tal pluralidade. Além disso, nos mais diversos segmentos em que atua, deve ter como foco aquele que a Constituição chamou de necessitado. Parece claro que, em um país como o Brasil, com tamanha desigualdade, a DP é instituição imprescindível para a concretização do princípio da inafastabilidade da jurisdição, inscrito no art. 5º, XXXV, da Constituição. Assim, a DP tem amplo campo de atuação, seja na seara cível, seja na criminal. O campo da tutela coletiva merece destaque. Se antesa legislação e sua respectiva interpretação eram acanhadas no tocante à legitimidade da DP para atuação, hoje, particularmente como positivado pela EC nº 80/14, dúvida não existe da sua plena legitimidade ativa, o que deve ser feito com olhos no mencionado caput, do art. 134. AS DEFENSORIAS PÚBLICAS, GARANTIA, VEDAÇÃO E PRINCÍPIOS A Constituição, como fez com o MP, expressou a existência, no art. 134, das unidades da DP. Elencou-as em três: Imagem: Defensoria Pública da União / Wikimedia commons / Domínio público DP da União (DPU) Imagem: Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios DP do Distrito Federal e dos Territórios Imagem: Defensoria Pública do Estado de São Paulo DPs dos Estados ATENÇÃO Com a EC nº 69/12, passou a competir à União, exclusivamente, organizar e manter apenas a DP dos Territórios, excluindo do seu raio de alcance a DP do Distrito Federal, em um gesto de maior respeito à autonomia institucional (art. 21, XIII). Isso também aconteceu no tocante à competência legislativa privativa da União (art. 22, XVII). O constituinte previu ainda expressamente a garantia da inamovibilidade. Buscando entregar proteção à atuação do Defensor Público, especialmente para tutelar sua atividade fim contra ingerências externas e para atender seu público com correção, não se faz possível, em regra, retirar o membro da DP titular de seu órgão. Proibiu a Constituição o exercício da advocacia. Tal como se deu com o MP, a lógica é centrar o Defensor Público na atividade de DP, não se permitindo, como regra, que sua carga horária laboral seja partilhada com o atuar da advocacia privada. Para isso, inclusive, ele é remunerado pelo sistema de subsídio. Uma omissão, porém, dessas mudanças constitucionais foi a falta de criação de uma quarentena, nos moldes equivalentes ao que se deu com a Magistratura e o MP. Foto: Shutterstock.com Sinal da evolução da mentalidade do legislador constitucional brasileiro, primeiramente, a EC nº 45/04 contemplou a existência das autonomias funcional, administrativa e financeira às DPs estaduais. Como apenas esse movimento não tornava o sistema uniforme, a EC nº 74/13 positivou essas autonomias à DPU e à DP do Distrito Federal. Além disso, com mesmo propósito e igual explicação dada para o MP, a EC nº 80/14 sinalizou mais um passo de evolução. Com ela, os princípios institucionais da unidade, da indivisibilidade e da independência funcional foram trazidos para a DP. ADVOCACIA A Advocacia é múnus público e, como tal, de relevância ímpar em uma sociedade democrática. É por causa disso que o Advogado é indispensável à administração da Justiça. Nesse sentido, possui inviolabilidade constitucional por seus atos e suas manifestações, no exercício profissional. Isso, no entanto, tem limites legais. Disso tudo, extrai-se o princípio da essencialidade da Advocacia. Foto: Shutterstock.com Tal princípio, como parece lógico, não é absoluto. Sua condicionante é o exercício regular e legítimo da Advocacia. Nessa mesma lógica, é preciso dizer que a imprescindibilidade da advocacia pode ser mitigada. EXEMPLO No âmbito dos Juizados Especiais, a depender da situação, é dispensada a atuação do Advogado. De igual modo acontece na impetração de habeas corpus e de ajuizamento de revisão criminal. Também o STF já decidiu algumas situações. Em processo de perda de mandato de parlamentar, a Corte disse que a defesa não precisa ser feita por Advogado (MS 21.360). Além disso, sua Súmula Vinculante 05 diz ser prescindível a presença do Advogado em processo administrativo disciplinar. Em caso interessante, o STF teve que decidir se norma infralegal podia estender ao advogado associado a advogado ex-Magistrado a quarentena que restringia a atuação deste. A situação envolvia o direito fundamental ao livre ofício (art. 5º, XIII, da Constituição) e a extensão da proibição já estudada (quarentena). Na ADPF 310, a Corte respondeu negativamente, afirmando ter havido violação à liberdade profissional, a proibição de ampliação de norma restritiva e a necessidade de lei para criar tal vedação. No mais, é caro situar a relevância para o Estado Democrático de Direito da OAB. Isso fica evidente, por exemplo, quando se outorga a ela, por meio de seu Conselho Federal, legitimidade ativa para deflagrar processo objetivo de fiscalização de constitucionalidade. O reconhecimento dessa singularidade é feita inclusive pelo STF, que enxerga a OAB como instituição autônoma e independente, não se aproximando com órgãos de fiscalização profissional e não compondo a administração pública indireta (ADI 3.026). Foto: Eugenio Novaes / Wikimedia commons / CC BY 3.0 ADVOCACIA PÚBLICA Ao lado do Advogado, a Constituição trouxe, e a EC nº 19/98 aperfeiçoou, a figura da Advocacia Pública. Pela interpretação dos arts. 131 e 132, é possível extrair a existência da Advocacia Pública nos diversos níveis da federação. Junto à União, há: Foto: Governo do Brasil / CC BY-ND 3.0 Advocacia-Geral da União (AGU) Tem, por exemplo, o dever constitucional de defesa do ato impugnado em processo objetivo de inconstitucionalidade da lei ou ato normativo (art. 103, §3º). javascript:void(0) Foto: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional / Associação Nacional dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental (ANESP) Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional É atuante na execução da dívida ativa em matéria tributária. A AGU representa judicial e extrajudicialmente a União, realizando consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo. Seu chefe é de livre nomeação pelo presidente da República, devendo o aspirante cumprir quatro requisitos: Ser cidadão brasileiro Ter mais de 35 anos Possuir notável saber jurídico Deter reputação ilibada Nas esferas estadual, distrital e mesmo municipal, existem as respectivas Procuradorias- Gerais. Nas letras da Constituição, organizam-se as duas primeiras em carreira e exercem representação judicial e consultoria jurídica da respectiva unidade federativa. Seus Procuradores, após três anos de efeito exercício, adquirem a estabilidade. Como ensina Gilmar Mendes, a Advocacia Pública integra o Poder Executivo e a ela não se garante a independência funcional e a inamovibilidade. Além disso, o poder de representação javascript:void(0) da qual aqui se trata é decorrente da lei, dispensando-se mandato para tanto (MENDES; BRANCO, 2019, p. 1.164-1.165). SAIBA MAIS Questão interessante é sobre a possibilidade de criação de Procuradoria Legislativa, para defesa de interesses peculiares relacionados à autonomia ou independência diante dos outros Poderes. O STF já decidiu pela possibilidade. No entanto, a defesa dos interesses da pessoa política é de atribuição da Procuradoria-Geral do Estado ou do Distrito Federal (ADI 1.557). VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. COM RELAÇÃO AOS PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988, RELACIONADOS AO MP, É POSSÍVEL DIZER: A) À existência do princípio da unidade importa dizer que, no Brasil, há apenas um MP. B) Pelo princípio da autonomia funcional, o MP fica protegido de influências externas, sendo admitida apenas a interna. C) O princípio da autonomia tem uma tríplice divisão, significando a autonomia funcional, a autonomia administrativa e a autonomia financeira. D) Em obediência ao princípio da unidade, a chefia do MP brasileiro é exercida pelo PGR. E) Pelo princípio da independência funcional, o membro do MP tem liberdade de atuar no terreno da atividade meio. 2. NA COMPARAÇÃO ENTRE O MPU E O MP ESTADUAL, É POSSÍVEL DIZER QUE: A) Integram o MP estadual, o MP Militar e o MP do Trabalho; e o MPU, o MP Federal e o MPDFT. B) A destituição do PGJ é deliberada pelo respetivo Poder Legislativo. C) A chefia institucional do MPU é levada a efeito pelo PGJ, cujo desenho constitucional de escolha é feito a partir dos membros da própria instituição. D) O PGR, segundo a engrenagem constitucional, é o auxiliar
Compartilhar