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Poder Judiciário e funções essenciais à Justiça

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DESCRIÇÃO
Compreensão do Poder Judiciário e dos atores constitucionais da atividade judiciária.
PROPÓSITO
O conhecimento detalhado do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria Pública e
da Advocacia é vital para conceber um Estado Democrático de Direito e para defendê-lo.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar seu estudo, tenha em mãos a Constituição Federal.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Categorizar a função exercida pelo Poder Judiciário, seus órgãos e regime jurídico
MÓDULO 2
Identificar as garantias da Magistratura
MÓDULO 3
Reconhecer os diversos atores que exercem suas funções na tutela de direitos no âmbito
judicial
INTRODUÇÃO
Em um Estado Democrático de Direito, o Poder Judiciário deve estar presente. É
principalmente por meio dele que expansões estatais e particulares indevidas são
solucionadas. Após os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, foram incrementadas
constituições com previsão protetiva de direitos fundamentais e de uma Corte com tal
competência.
No Brasil, a Constituição de 1988 trouxe um desenho importante. Além de positivar um
catálogo aberto de direitos fundamentais, anunciou no Poder Judiciário e, particularmente, no
Supremo Tribunal Federal, o exercício dessa nobre função.
O Poder Judiciário, porém, não exerce seu mister de forma isolada. Atores diversos
contracenam nesse cenário. Aí entram:
Ministério Público
Defensoria Pública
Advocacia
MÓDULO 1
 Categorizar a função exercida pelo Poder Judiciário, seus órgãos e regime jurídico
ALGUMAS PALAVRAS INICIAIS SOBRE A
SEPARAÇÃO DE PODERES
A separação do poder estatal em funções distintas tem por objetivo limitar a ingerência estatal
no patrimônio jurídico das pessoas. Essa visão formata as funções:
Legislativa
Executiva
Judiciária
A fim de dar implementação a tal ideal, parece claro que os atores responsáveis por cada uma
das funções citadas não devem se submeter à vontade dos outros. É dizer, se a concepção
que se busca é de limitação do poder estatal, por conta do potencial abusivo a ele inerente, o
responsável por uma função, para o bom desempenho dela, não pode sofrer ingerência
externa. Daí a necessária independência de um com relação ao outro (art. 2º, da Constituição).
O exercício de uma função não pode depender ou se submeter ao desejo alheio.
Mas só isso não basta. O acima dito pode soar uma autorização para um atuar apartado e, no
limite, estremado. Nada disso é saudável, especialmente em uma democracia conforme
desenhada pela Constituição, em que a dignidade da pessoa humana é fundamento (art. 1º,
III). Para isso, o Constituinte de 1988 predicou também a harmonia entre esses atores. Desse
modo, a conjugação de esforços é um norte constitucional para o trabalho dos que
exercem as três funções estatais clássicas.
AS FUNÇÕES TÍPICAS E ATÍPICAS DO
PODER JUDICIÁRIO
A lição do item anterior é clássica e traz uma configuração tríplice das funções estatais
(BONAVIDES, 2005). Antes de mergulhar no estudo do Poder Judiciário, é preciso
compreender qual função esse ator exerce. O alerta aqui é para o fato de o Poder Judiciário
implementar funções típicas e atípicas (MORAES, 2002). Vejamos:
FUNÇÕES TÍPICAS
FUNÇÕES ATÍPICAS
FUNÇÕES TÍPICAS
Tradicionalmente, enxerga-se o Poder Judiciário como aquele ramo do Estado que exerce a
função de dizer o direito, de modo a, frente à provocação de terceiro, solucionar um problema.
Este pode ser um conflito de interesse qualificado por uma resistência. Por outro lado, não se
pode olvidar a nobre função de controle abstrato de constitucionalidade. Assim, a função
típica (ou função jurisdicional) caracteriza-se pelo julgamento, com pretensão de
definitividade, levado a efeito quando se diz o direito para solucionar um problema jurídico
abstrato ou concreto.
FUNÇÕES ATÍPICAS
Paralela à função jurisdicional, o Poder Judiciário concretiza funções de índole legislativa e
administrativa. São elas funções atípicas. Ao Poder Judiciário é permitido praticar atos com
caráter legislativo. É exemplo a iniciativa privativa do Supremo Tribunal Federal (STF) para
deflagrar o processo legislativo visando criar o Estatuto da Magistratura, sob a espécie
normativa de lei complementar (art. 93, caput, da Constituição).
Além disso, o Poder Judiciário pratica atos e conduz procedimentos e processos
administrativos. Um exemplo dessa função é a concessão de férias a seus membros
(MORAES, 2002). A própria Constituição trouxe mais exemplos, como a promoção e a
remoção de Magistrados (art. 93, II e VIII-A), e exigiu motivação e publicidade às decisões
administrativas judiciais (art. 93, X).
OS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO E
SUAS COMPOSIÇÕES
No vídeo a seguir, o professor André Farah comenta sobre as funções do Judiciário e faz um
panorama de seus órgãos. Vamos assistir!
O Brasil adota a federação como forma de Estado. No entanto, é preciso frisar que o Poder
Judiciário é nacional, sendo as diversas competências partilhadas em vários órgãos. É assim
que o art. 92 da Constituição deve ser lido.
São órgãos de um Poder Judiciário nacional desde o STF até os Juízos estaduais e distritais,
cada qual com competência de maior ou menor abrangência.
Um tema que mereceu atenção foi a inserção do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como
órgão do Poder Judiciário. Na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3.367, o STF
entendeu pela compatibilidade com a Constituição, afirmando:

Que o Conselho é órgão administrativo integrante do Poder Judiciário, cuja maioria dos seus
membros é de Magistrados, e seus atos sindicáveis pelo Supremo.
Porque o Poder Judiciário tem perfil nacional, não havendo que se falar em ofensa ao princípio
federativo.

 SAIBA MAIS
De caráter facultativo nos diversos Tribunais, a Constituição permitiu a criação do Órgão
Especial (art. 93, XI). Poderá ter vez quando a segunda instância for composta por mais de 25
julgadores. Sua composição mínima é de 11 e máxima de 25 integrantes. No preenchimento
das vagas, metade deve se dar por antiguidade e a outra metade por eleição do Tribunal
Pleno. Por fim, deve ser destacado que suas competências administrativas e jurisdicionais são
delegadas pelo aludido Pleno.
Matéria diversa é a composição dos Tribunais brasileiros. A porta de entrada na carreira da
Magistratura, em geral, é a classe inicial (por exemplo, como Juiz substituto) e a regra de
ingresso é o concurso público (art. 93, I, da Constituição).
 
Foto: Shuttestock.com
Tal sistemática, no entanto, diversifica-se quando se olha para os Tribunais locais e Superiores.
Para os Tribunais locais, aplica-se a regra do quinto constitucional, pela qual um quinto dos
lugares é composto por membros provenientes do Ministério Público (MP) e da Advocacia.
Vejamos, de acordo com o art. 94, da Constituição:
Uma lista com seis nomes escolhidos por cada um desses atores é enviada ao Tribunal cuja
vaga existe.
 
Tal Tribunal formará uma lista com três nomes e a enviará ao Chefe do Poder Executivo.
 
O Chefe do Poder Executivo escolhe um nome.
O valor subjacente é o da pluralidade (BARCELLOS, 2018) e legitimação das decisões dos
Tribunais.
O quinto constitucional também se aplica ao Tribunal Superior do Trabalho e aos Tribunais
Regionais do Trabalho (arts. 111-A, I e 115, I, da Constituição). Entretanto, não tem vez aos
demais Tribunais Superiores e à Corte Suprema.
 ATENÇÃO
Veja que para o STF vige a livre indicação do presidente da República com aprovação do
Senado Federal (art. 101, da Constituição). No Superior Tribunal de Justiça (STJ), a regra é do
terço constitucional (art. 104, da Constituição). Para mais, o Tribunal Superior Eleitoral e o
Superior Tribunal Militar possuem regras próprias (arts. 119 e 123, da Constituição).
Ponto que causa polêmica entre Advocacia ou MP e Tribunal é o da recusa, pelo Tribunal, da
lista sêxtupla enviada pela Advocacia e MP. A recusa, total ou parcial, pelo Tribunal é possível.
Mas a decisão deve ser objetiva, fundamentada e motivada no descumprimento dosrequisitos
do art. 94, da Constituição. A solução, portanto, passa pela devolução, e esta decisão
administrativa pode ser controlada judicialmente. Seguindo esse caminho, então, a substituição
de nomes da lista pelo próprio Tribunal é indevida. Isso se justifica porque o primeiro juízo
sobre a qualificação dos profissionais, para a formação da lista sêxtupla, é da Advocacia ou do
MP (MENDES; BRANCO, 2019).
 
Foto: Shutterstock.com
O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
O CNJ tem previsão constitucional no art. 103-B, da Constituição, positivado pela Emenda
Constitucional (EC) nº 45/2004, cuja redação foi alterada pela EC nº 61/2009. Sua composição
é de 15 membros de origens distintas com investidura de dois anos, permitida uma
recondução, e a presidência cabe ao presidente do STF, que em suas ausências e
impedimentos é substituído pelo vice-presidente dessa Corte.
 
Foto: Senado Federal
Com a modificação do caput, do art. 103-B, foram retiradas as limitações de idades mínima e
máxima para alguém ser candidato ao CNJ. A intenção foi, ao extirpar o limite máximo de
menos de 66 anos, possibilitar que os ministros de Tribunais Superiores não ficassem
impedidos de integrar o Conselho.
Dessa mudança constitucional, surge a indagação sobre a existência ainda de um limite
mínimo para integrar o CNJ. Ao que tudo indica, a EC nº 61/2009 foi clara a respeito da
mudança e não mais existe limite de idade mínima. No entanto, Gilmar Mendes sustenta a
obediência dos requisitos de idade mínima para nomeação a ministro do STJ (art. 104,
parágrafo único, da Constituição) por causa da competência correicional do CNJ sobre o STJ
(MENDES; BRANCO, 2019).
A sabatina do Senado Federal e nomeação pelo presidente da República acontece para todos
os candidatos, salvo o presidente do STF. Assim, os ministros de Tribunais Superiores se
submetem a novo escrutínio (art. 103-B, §2º, CRFB-88, com redação da EC 61/2009).
Relevante omissão constitucional que a EC 61/2009 trouxe foi quanto ao caso de empate na
votação. A redação anterior à EC 61/2009 dizia que o presidente do CNJ apenas votaria em
caso de empate. A nova redação do parágrafo primeiro foi omissa, entregando a solução para
o Regimento Interno.
No que concerne ao poder normativo do CNJ, grassou grande debate sobre sua natureza.
Se, por um lado, sustentava-se haver um poder normativo secundário, não podendo inovar na
ordem jurídica e não tendo como fundamento de validade dos seus atos a Constituição, sob o
fundamento do Estado Democrático de Direito e da separação de Poderes, porquanto órgão
administrativo não edita ato com força de lei que possa avançar sobre direitos fundamentais,
não se admitindo que o Poder Constituinte Derivado pudesse equiparar o CNJ ao Legislador
(STRECK; SARLET; CLÈVE, 2005).
 
O STF, ao analisar a ADI 4.638, reconheceu a existência do poder normativo primário, sendo
sua fonte direta a Constituição.
Tema também espinhoso refere-se à configuração da atribuição da Corregedoria do CNJ. A
resposta tranquila hoje é que sua atribuição é concorrente com as Corregedorias locais.
Por fim, um último tema de alta saliência político-constitucional foi saber se o próprio STF se
submeteria ao CNJ. Vejamos:

Ao julgar a ADI 3.367, o STF entendeu não se submeter ao Conselho.
Para tanto explicou que a Suprema Corte é órgão de cúpula do Poder Judiciário (art. 92, I, da
Constituição).


Disse que os ministros da Corte possuem regime político-disciplinar próprio, sendo que, em
crime comum, a competência é do STF (art. 102, I, ‘b’, da Constituição) e, em crime de
responsabilidade, do Senado Federal (art. 52, II, da Constituição).
E, por derradeiro, o desenho constitucional indica que o STF é quem julga as ações contra o
CNJ (art. 102, I, ‘r’, da Constituição).

OS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO E
SUAS COMPETÊNCIAS
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
O STF é o órgão de cúpula do Poder Judiciário brasileiro. Ele reúne três funções:
Corte Constitucional
Órgão máximo do Judiciário nacional
Órgão jurisdicional criminal originário
O STF funciona como guardião da Constituição e da ordem federativa. A Corte possui duas
turmas, com competências idênticas, e cada ministro integra uma, salvo o presidente. Os
processos são distribuídos aos ministros e não às turmas. Todavia, as decisões sobre a
(in)constitucionalidade são de competência do Pleno que só pode deliberar presentes, ao
menos, oito ministros, devendo a decisão ser tomada por maioria, pelo menos, de seis
ministros.
 
Foto: Conselho Nacional de Justiça
As competências da Suprema Corte encontram-se no art. 102, da Constituição, em que se
visualiza a existência de competência originária, de competência ordinária e de competência
extraordinária. Apesar do elenco previsto no aludido art. 102, há discussão sobre o que se
denomina de “competências implícitas” e o modo de se interpretar a competência da Corte:
Por um lado, sobretudo no que concerne à competência originária, é possível dizer que se trata
de uma competência excepcional e, por isso, a interpretação mais correta seria a restritiva (ou
estrita).

Por outro, como ensina Gilmar Mendes, o mais correto seria implementar uma interpretação
compreensiva. Seria ela a admissão da complementação de competências constitucionais
através, principalmente, da interpretação sistemática e teleológica (MENDES; BRANCO, 2019).
Ainda no tocante à competência do Supremo Tribunal, vem se verificando ao longo da
jurisprudência o que se pode qualificar como objetificação ou transmutação do recurso
extraordinário, como mecanismo de racionalização de processos na Corte. O ponto diz respeito
ao que aduz o art. 52, X, da Constituição e o contraponto percebido pelo aumento crescente
dos processos no Tribunal. Assim, tem sido concedida uma feição de processo objetivo com
fundamento na defesa da ordem constitucional objetiva.
Nesse sentido, o STF, na ADI 4.071 Ag.R., já entendeu que a declaração de
constitucionalidade em recurso extraordinário (RE) leva à improcedência da ação direta de
inconstitucionalidade com o mesmo objeto, argumentando-se a comunicabilidade das vias
difusa e concentrada. Também como exemplo do fenômeno citado, o Supremo, no RE 197.917
e no RE 353.657, já entendeu pela modulação temporal dos efeitos da decisão em recurso
extraordinário, em homenagem à segurança jurídica e à razoabilidade.
Paralelo a isso, com origem na EC nº 45/2004, foi positivado no art. 103-A o instituto da súmula
vinculante.
Quem aprova, revê e cancela uma súmula vinculante é o próprio Supremo, pelo quórum de 2/3
dos seus membros, seja por provocação, seja de ofício, tendo legitimidade aqueles mesmos
para ajuizar ação direta de inconstitucionalidade. Seu efeito vinculante atinge os demais órgãos
judiciais e toda a administração pública.
 COMENTÁRIO
Daí surge a pergunta se deve o próprio Supremo Tribunal se submeter à súmula vinculante.
Gilmar Mendes responde afirmativamente, exceto se pronunciar uma decisão formal no sentido
da superação do enunciado da súmula vinculante, ou seja, da sua não mais subsistência
(MENDES; BRANCO, 2019).
A súmula vinculante também é sinal do enfraquecimento do instituto da suspensão, previsto no
art. 52, X, da Constituição, e tem por finalidade assentar a validade, a interpretação ou a
eficácia de normas infraconstitucionais. Vale ainda ressaltar que seus limites objetivos são o
exato significado extraído do seu enunciado e da compreensão dos julgados que lhe serviram
de base (as referências). No ponto, para fins de distinção (distinguishing), as referências
também sempre são úteis.
A respeito dos pressupostos para edição de súmula vinculante:

É possível dizer que se impõe uma controvérsia, que seja atual e que se dê entre órgãos
judiciais ou entre estes e órgãos administrativos. Além disso, exige-se como consequência a
visualização de grave insegurança jurídica e de relevante multiplicação de processos sobre
questão idêntica. E, ainda, deve haver reiteradasdecisões do Supremo sobre a matéria
constitucional.
Este último ponto traz a indagação sobre a imprescindibilidade de prévia reiteração de
decisões sobre a matéria constitucional. Gilmar Mendes vai dizer que se exige uma maturação
da questão controvertida com reiteradas decisões da Corte Suprema no mesmo sentido
(MENDES; BRANCO, 2019), o que impossibilitaria a aprovação de súmula vinculante a partir
de decisão isolada.


Ainda em relação a isso, questiona-se se tais decisões tomadas para fins de aprovação da
súmula vinculante podem ter origem em processo objetivo. Gilmar Mendes explica que tal
súmula decorre de decisões tomadas em casos concretos, pela via incidental. E ainda afirma
que são necessárias prévia decisão do Plenário ou prévias decisões repetidas das turmas do
STF (MENDES; BRANCO, 2019).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
 ATENÇÃO
Questão que surge é se o terço reservado aos TRFs e o terço reservado aos TJs impedem a
indicação, escolha e nomeação de membro desses Tribunais oriundos da Advocacia ou do MP.
O Supremo Tribunal, na ADI 4.078, disse que o membro desses Tribunais com tal origem é
indicado como Magistrado para fins do respectivo terço.
As competências do STJ, inscritas no art. 105, da Constituição, podem ser classificadas em
originária, ordinária e especial. Além disso, é possível afirmar que sua missão precípua é de
uniformizar a aplicação do direito federal.
De todo modo, mostra-se relevante chamar a atenção para o fato de em recurso especial não
caber reexame de prova para dar nova conformação e de não ser admitido referido recurso
para hostilizar decisão de Turma Recursal, já que esta não se qualifica como Tribunal (RE
590.409 e Súmula 203, STJ).
OUTROS ÓRGÃOS DO JUDICIÁRIO
Paralelo ao STJ, existem ainda três Tribunais Superiores, decorrentes da especialização da
matéria. Daí diz-se existir a Justiça eleitoral, com seus órgãos (art. 118, da Constituição). São
eles:
 
Foto: Borowskki / Wikimedia commons / Domínio público
Tribunal Superior Eleitoral
Órgão de cúpula respectivo, guarda composição (art. 119, da Constituição) e competência
(arts. 121, §4º, e 14, da Constituição e em leis esparsas) próprias.
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Foto: Conselho Nacional de Justiça
Superior Tribunal Militar
Um dos órgãos da Justiça Militar, dentre os quais é a cúpula, composição e competência (arts.
122 a 124, da Constituição), sendo possível a criação, em âmbito estadual, de uma Justiça
Militar (art. 125, §§3º a 5º, da Constituição).
 
Foto: Luis Dantas / Wikimedia commons / Domínio público
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Tribunal Superior do Trabalho
Órgão de cúpula da Justiça do Trabalho, a qual possui composição e competência específicas.
A interpretação do art. 114, da Constituição, endereçou ao STF algumas perguntas:
Surgiu a dúvida de quem é a competência para processar e julgar ações oriundas da relação
jurídico estatutária entre poder público e servidor. Na ADI 3.395-6 MC, foi respondido que a
Justiça comum.
Foi perguntado se a Justiça do Trabalho tem competência para ações penais. E o Supremo, na
ADI 3.684-0 MC, já decidiu não existir competência para processar e julgar ações penais.
A Justiça comum ainda pode ser vista a partir de dois prismas:
Federal
&
Estadual
O federal tem como órgão de segunda instância o TRF, que possui competência originária e
recursal (art. 108, da Constituição). No ponto, a dúvida que se põe é em relação a uma
competência não expressa. Ela pode ser concretizada, por exemplo, com as seguintes
perguntas:
De quem é a competência para processar e julgar ação rescisória movida por ente federal
contra acórdão do TJ ou sentença de Juiz de Direito?
&
De quem é a competência para processar e julgar mandado de segurança impetrado por ente
federal contra ato de Juiz de Direito?
O STF já teve a oportunidade de emitir resposta, no RE 106.819 e no RE 176.881, e disse que
compete ao TRF.
Para acrescentar, é possível dividir a competência dos Juízes Federais em quatro assuntos:
Interesse da União (art. 109, I e IV)
Relações internacionais (art. 109, II, III, V, V-A e X)
Nacionalidade (art. 109, X)
Interesse especial da federação (art. 109, IV, VI, VII, IX e XI)
Nesse aspecto, o STJ sumulou entendimento de que quem decide se há interesse da União é
o Juiz Federal (Súmula 150). Soma-se a isso o fato de o Juiz estadual não poder rever a
decisão do Juiz Federal que excluiu a União do processo.
 
Foto: Shutterstock.com
A RESERVA DE PLENÁRIO
No âmbito estadual, a Constituição, no art. 125, §2º, trouxe importante instrumento de
efetivação de controle abstrato de constitucionalidade, a representação de
inconstitucionalidade. Sua finalidade é proteger a ordem constitucional objetiva estadual,
sendo seu parâmetro de validade a Constituição Estadual. Assim, as normas atacadas são lei
ou ato normativo estadual ou municipal, em tese, incompatíveis com referida norma superior.
Ademais, a legitimidade ativa deve ser plural.
A esse respeito, na indagação sobre a possibilidade de o Constituinte estadual criar uma ação
direta de inconstitucionalidade por omissão, Gilmar Mendes (MENDES; BRANCO, 2019)
responde positivamente, sob o fundamento da existência do fenômeno da omissão parcial e da
fungibilidade entre:
Ação direta de inconstitucionalidade (representação de inconstitucionalidade)
&
Ação direta de inconstitucionalidade por omissão
Também sobre controle de constitucionalidade estadual, quanto ao questionamento sobre a
possibilidade de o Constituinte estadual criar o instituto da representação de
constitucionalidade, Gilmar Mendes se posiciona favoravelmente, exatamente por conta da
ambivalência desse tipo de ação (MENDES; BRANCO, 2019).
Por fim e comum às Justiças estadual e federal, o art. 98, I, da Constituição traz a previsão dos
Juizados Especiais. Seu segundo grau de jurisdição é composto por Turmas integradas por
Juízes. Essas Turmas Recursais não se qualificam como Tribunal e não são autônomas
em relação ao Tribunal a que vinculadas. Daí que a pergunta quanto à aplicação da cláusula
de reserva de plenário no âmbito dos Juizados é respondida negativamente, posto não
funcionarem sob o regime de plenário (Pleno) ou de Órgão Especial e porque a cláusula se
aplica a processos nos Tribunais.
A cláusula de reserva de plenário vem positivada no art. 97, da Constituição. São dois os
pressupostos de sua aplicação:
Precisa o Tribunal estar frente a um processo subjetivo
&
A questão de inconstitucionalidade deve ser incidental
Assim, é de inconstitucionalidade que se debate, em um processo com partes e conflito de
interesses. O tema de inconstitucionalidade deve ser veiculado como causa de pedir e não
como pedido.
Vejamos:
Havendo provocação ou percebido o integrante de órgão fracionário do Tribunal que seu
processo é possuidor de uma matéria eivada de inconstitucionalidade, é preciso que,
reconhecida tal situação, seja o assunto enviado ao Tribunal Pleno ou ao Órgão Especial (art.
949, II, do Código de Processo Civil de 2015 – CPC).
O Tribunal Pleno ou o Órgão Especial é, pela Constituição, o competente para fazer análise do
ponto referente à inconstitucionalidade. Tendo decidido pela inconstitucionalidade da matéria,
aquele órgão fracionário da Corte retoma o julgamento do processo subjetivo, partindo da
premissa encontrada pelo Pleno ou pelo Órgão Especial.
A cláusula de reserva de plenário, no entanto, possui exceções:
O CPC de 2015 diz que ela não se aplica quando antes houver pronunciamento sobre o
assunto por parte do Pleno ou pelo Órgão Especial do Tribunal ou do Plenário do STF (art.
949, parágrafo único). Tradicionalmente, a Corte Suprema enxerga a desnecessidade de
submissão da reserva de plenário quando “a decisão judicial estiver fundada em jurisprudência
do Plenário do Supremo Tribunal Federal ou em Súmula deste Tribunal” (Recurso
Extraordinário com Agravo - ARE 914.045 Repercussão Geral - RG).
Ademais, já decidiu que, se houver decisão de ambasas suas turmas, é dispensável a cláusula
de reserva de plenário (AI 607.616 Ag.R. e RE 578.582 Ag.R.).
 ATENÇÃO
Questão que surge é se pode um órgão fracionário de Tribunal, para não se submeter à
presente cláusula, afastar a aplicação de um dispositivo de lei, deixando de declarar
expressamente sua inconstitucionalidade. O STF editou a súmula vinculante nº 10 e disse que
“[v]iola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de
Tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público, afasta sua incidência, no todo ou em parte”. Frente a isso, é
possível manejar reclamação junto ao STF (Rcl. 33.086).
Por último, duas questões são interessantes: se na interpretação conforme a Constituição e
se na declaração parcial de nulidade sem redução de texto levadas a efeito pelo órgão
fracionário do Tribunal deve ser respeitada a cláusula de reserva de plenário. Vejamos duas
visões a esse respeito:
SEGUNDO LUIZ GUILHERME MARINONI
O professor Luiz Guilherme Marinoni entende que esse proceder deve ser feito pelo Pleno ou
pelo Órgão Especial (SARLET; MARINONI; MITIDIERO, 2015).
SEGUNDO GEORGES ABBOUD
O professor Georges Abboud explica que, na interpretação conforme a Constituição, por não
haver uma declaração de inconstitucionalidade de todas as interpretações possíveis, inexiste
uma decisão de inconstitucionalidade. Ademais, a súmula vinculante nº 10 exige afastamento
de incidência do ato normativo, no todo ou em parte, pela decisão, o que não acontece quando
se fala em interpretação adequada à Constituição. Por isso, não se aplicaria a reserva de
plenário (ABBOUD, 2018).
 
Quanto à declaração parcial de nulidade sem redução de texto, a defesa pela inaplicação do
art. 97 segue a lógica de que, como o texto da norma permanece intacto e o ato normativo não
é retirado do ordenamento jurídico, não se aplicaria a reserva de plenário, porque não se põe
em causa a obra do legislador. Parece ir nesse sentido, em que pese sua explicação, o STF
nos RE 184.093, RE 460.971 e ARE 676.006 Ag.R.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. NO CONTEXTO ATUAL BRASILEIRO DAS RELAÇÕES ENTRE OS
INTEGRANTES DE PODER, VÊ-SE, POR VEZES, ATITUDES QUE PODEM
SER QUALIFICADAS COMO ABUSIVAS OU QUE DENOTAM A VONTADE
DE DOMINAÇÃO. CONSIDERANDO O AQUI ESTUDADO, COMO A
CONSTITUIÇÃO A ISSO RESPONDE?
A) A Constituição não tem resposta a isso, posto que se trata de matéria de ordem política,
espaço não franqueado à atuação da Constituição.
B) A resposta constitucional é veiculada pelo exercício do voto direto, secreto e com igual valor
para todos, já que desse modo o povo poderia reprovar aquele que age de modo abusivo ou
com vontade dominadora.
C) A qualificação da independência entre os Poderes é o que basta e a Constituição elege
unicamente para permear essa relação.
D) A independência é qualidade da relação apenas entre Executivo e Legislativo, posto que
Poderes com fonte democrática, não alcançando o Judiciário, porque os ministros do STF são
nomeados pelo presidente da República, após prévia sabatina na Câmara dos Deputados.
E) A Constituição traz uma resposta que alia a independência e harmonia entre os Poderes,
para que um não dependa do outro e um não se arvore a subjugar o outro.
2. O PODER JUDICIÁRIO NO CONHECIMENTO COMUM É AQUELA
FUNÇÃO ESTATAL COM RESPONSABILIDADE ÚNICA DE FAZER
JULGAMENTOS DOS CASOS QUE SE APRESENTAM A ELE. COM
RELAÇÃO A ISSO:
A) Os Poderes Legislativo e Executivo são funções estatais que respectivamente, além de
exercerem a atribuição de legislar e administrar, também promovem julgamentos, mas o Poder
Judiciário, não, exatamente por faltar a este pedigree democrático.
B) Devido à sua representatividade democrática, somente o Poder Judiciário agrega em suas
mãos a função julgadora.
C) Ao Poder Executivo é concedida com exclusividade a prática de atos de administração,
somada à possibilidade de efetivar julgamentos internos de casos administrativos, já que seu
chefe recebeu através do voto legitimidade popular para tanto.
D) O Poder Legislativo, casa na qual devem ser debatidos os temas de maior importância para
a sociedade, é o único ator que tem função legislativa e julgadora, não possuindo mister
administrativo, por causa da separação de Poderes.
E) Conquanto seja possível dizer que os Poderes Legislativo e Executivo possuam maior
pedigree democrático, não é vedado ao Poder Judiciário realizar funções outras que não
apenas a de julgar.
GABARITO
1. No contexto atual brasileiro das relações entre os integrantes de Poder, vê-se, por
vezes, atitudes que podem ser qualificadas como abusivas ou que denotam a vontade de
dominação. Considerando o aqui estudado, como a Constituição a isso responde?
A alternativa "E " está correta.
 
No art. 2º, a Constituição de 1988, afirma a independência e harmonia entre as funções do
Poder. Isso significa, por um lado, que cada um deve agir sem precisar da vontade do outro,
mas também importa que, sobretudo em momento de ascensão de polarização política,
trabalhem de modo harmônico, particularmente sem abuso de poder e intenção dominadora.
2. O Poder Judiciário no conhecimento comum é aquela função estatal com
responsabilidade única de fazer julgamentos dos casos que se apresentam a ele. Com
relação a isso:
A alternativa "E " está correta.
 
A separação de Poderes e o desenho da Constituição de 1988 autorizam afirmar que o Poder
Judiciário não implementa apenas a função julgadora. Apesar de esta ser, no caso do Poder
Judiciário, uma função típica, a doutrina ensina que esse ramo exerce funções atípicas de
administração e legislativa.
MÓDULO 2
 Identificar as garantias da Magistratura
A FRAGILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO
A Constituição, ao catalogar as competências do Poder Judiciário, principia com uma das
funções mais nobres que algum órgão ou instituição poderia ter. Ao STF compete a guarda da
Carta Magna. Em tempos de despolarização, essa função é um pouco menos complexa. Isso,
entretanto, muda de figura com a gradual polarização social em torno, sobretudo, de líderes
políticos que se extremam.
 
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 COMENTÁRIO
A compreensão desse fenômeno é simples, o que não significa que ele seja aceitável. Quanto
mais extremado um político, ele será mais desejoso de reunir poder e atrair sua base de
sustentação. Dentro dessa lógica, uma das suas estratégias invariavelmente é eleger alguns
alvos como adversários. Nesse ponto, ataques ao Poder Judiciário e, particularmente, a uma
Suprema Corte que não se dobrem à vontade executiva são vistos em inúmeros casos de
direito comparado.
No Brasil, o Poder Judiciário, por conta do art. 5º, XXXV, da Constituição, tem um espaço de
atuação muito amplo. Nesse cenário, a Suprema Corte tem um protagonismo enorme. A título
de exemplo, é possível apontar para algumas competências que o STF tem. A Corte é a
responsável por julgar processos objetivos – processos de fiscalização abstrata da
inconstitucionalidade de leis e atos normativos federais e estaduais e da constitucionalidade de
leis e atos normativos federais (art. 102, I, ‘a’, da Constituição). O Tribunal tem competência
para analisar medidas normativas dos Poderes Executivo (como uma medida provisória) e
Legislativo (como uma lei) e isso pode simbolizar o STF como um ator de bloqueio aos anseios
de agentes políticos.
Isso também pode acontecer quando do exercício de outra competência constitucional. No
caso do foro especial por prerrogativa de função (competência originária criminal), a relação
entre os Poderes da República é ainda mais delicada. Pela mera leitura do que dizem as
alíneas ‘b’ e ‘c’, do art. 102, I, da Constituição, verifica-se uma grande complexidade política.
Processar e julgar membros do Congresso Nacional, com o pedigree democrático que
carregam, não é atribuição fácil de ser implementada. Tudo isso se torna ainda mais
complicado em um cenário político polarizado.
 
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Além disso, é de competência do STF conhecer e resolver eventual conflito federativo. A
controvérsia que tenha potencial de desestabilização do equilíbrio federativo fica nas mãos do
Tribunal solucionar (art. 102, I, ‘f’, da Constituição).
 EXEMPLO
Quando está em disputa qual pessoa política tem competência para conduzir questões afetas
ao direito fundamental da saúde, em uma situação excepcional de pandemia, é a Corte
Suprema o ator eleito pelo Constituinte a dirimir a dúvida.
 
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Por fim, instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), ou mesmo antes (ver MS
37.760 MC Ref.), é de competência do STF processar e julgar eventuais habeas corpus e
mandados de segurança (art. 102, I, ‘d’, da Constituição). Nesse sentido, o STF tem concedido
habeas corpus para que o investigado não seja obrigado a comparecer em CPI na condição de
testemunha. Porque violaria o direito de defesa, a Corte tem facultado à pessoa nessa situação
não responder a perguntas, fazer-se acompanhar por advogado, não prestar compromisso de
dizer a verdade e ausentar-se da sessão se conveniente ao exercício da sua defesa (HC
202.940).
 
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Os exemplos anteriores apenas demonstram o quão politicamente densas são as
competências do STF. No entanto, um alerta mostra-se importante. Isso se espalha para o
exercício da função jurisdicional como um todo. O Juiz de uma comarca do interior igualmente
recebe missões de alta saliência política. O julgamento de uma ação por improbidade
administrativa cujo demandado seja um mandatário local é tão difícil quanto os casos acima
indicados.
Veja que, em uma formatação ampla, os Poderes Legislativo e Executivo possuem, ao menos
simbolicamente, força maior. Observemos as suas competências:
COMPETÊNCIAS DO CONGRESSO NACIONAL COM O
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
No plano federal, cabe ao Congresso Nacional, com o presidente da República, conforme o
art. 48, da Constituição, dispor, entre outros assuntos, sobre: o sistema tributário, a
arrecadação e a distribuição de rendas; o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias, o
orçamento anual, a operações de crédito, a dívida pública e as emissões de curso forçado; a
fixação e a modificação do efetivo das Forças Armadas; os planos e programas nacionais,
regionais e setoriais de desenvolvimento; a matéria financeira, cambial e monetária, instituições
financeiras e suas operações; a moeda, seus limites de emissão, e montante da dívida
mobiliária federal; e a fixação do subsídio dos ministros do STF.
COMPETÊNCIAS EXCLUSIVAS DO CONGRESSO
NACIONAL
Em paralelo, cabe ao Congresso, com exclusividade, entre as matérias do art. 49, da
Constituição: autorizar o presidente da República a declarar guerra e a permitir que forças
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; aprovar o
estado de defesa e a intervenção federal, e autorizar o estado de sítio; sustar os atos
normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de
delegação legislativa; fixar idêntico subsídio para os deputados federais e os senadores; fixar
os subsídios do presidente e do vice-presidente da República e dos ministros de Estado; julgar
anualmente as contas prestadas pelo presidente da República e apreciar os relatórios sobre a
execução dos planos de governo; fiscalizar e controlar os atos do Poder Executivo; aprovar
iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares; autorizar referendo e convocar
plebiscito; e decretar o estado de calamidade pública de âmbito nacional.
COMPETÊNCIAS EXCLUSIVAS DO PRESIDENTE DA
REPÚBLICA
Segundo o art. 84, da Constituição, compete apenas ao presidente da República, entre
outros misteres: exercer a direção superior da administração federal; manter relações com
Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; decretar o estado de
defesa e o estado de sítio; decretar e executar a intervenção federal; exercer o comando
supremo das Forças Armadas; nomear os ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do
Tribunal de Contas da União; nomear os magistrados, nos casos previstos na Constituição;
declarar guerra, no caso de agressão estrangeira e decretar a mobilização nacional; permitir
que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente; enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de
diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição; e propor ao
Congresso Nacional a decretação do estado de calamidade pública de âmbito nacional.
Tudo isso transparece um claro poderio nas mãos do Poder Legislativo. Pela leitura dessa lista,
a influência sobre questões estratégicas como a pertinente ao dinheiro público é grande. Por
sua vez, ao Poder Executivo também foi dada uma gama de atribuições com enorme
importância.
O Poder Executivo também é detentor de uma força muito grande. É de se destacar, dentre
outros pontos, a atribuição ligada ao uso da violência, legitimado excepcionalmente seu uso.
Corrobora essa ideia a entrega da autoridade suprema das Forças Armadas, dada pelo art.
142, da Constituição, ao presidente da República. No mesmo sentido, mas relacionado aos
governadores, a Constituição atribui a eles o comando da polícia militar, do corpo de bombeiro
militar e da polícia civil (art. 144, §6º).
 
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Frente a tanto peso conferido aos Poderes Legislativo e Executivo, foi preciso desenhar um
Poder Judiciário que realmente ficasse blindado de qualquer influência por parte daqueles. Ou
seja, para realmente cumprir a promessa de independência do art. 2º, a Constituição precisou
formatar essa última função com diversas garantias. Inexistentes elas, tanto seus integrantes,
como a sociedade, destinatária final de um Judiciário isento e protegido, ficariam à mercê das
vontades e pressões. Desse modo, é possível dizer que as garantias da Magistratura têm
como foco equilibrar o jogo de forças que o quadro político constitucional apresenta.
INVESTIDAS ILEGÍTIMAS SOBRE O PODER
JUDICIÁRIO
É preciso compreender que faz parte do jogo democrático que os Poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário, cada um ao seu modo, desenvolvam e solucionem determinado tema. A
Constituição estrutura isso. Não à toa, repita-se, ela pede harmonia entre esses atores. A
harmonia não significa subserviência, mas importa, dentre outras condutas exigíveis, em um
pedido de não ataque de uma em relação à outra função.
No entanto, historicamente, investidas institucionais à Suprema Corte são vistas no Brasil e no
mundo.
 EXEMPLO
Podemos citar alterações no número dos membros da Corte, manipulação da competência,
impeachment de ministros por razões não disciplinares e para alinhamento da jurisprudência às
preferências políticas de uma maioria, controles do Congresso sobre o orçamento dos
Tribunais e os subsídios dos Juízes, processo de nomeação de ministros e recusa na
implementação de decisões judiciais. 
 
Muitas dessas condutas são ataques que, conquanto majoritariamente endereçados à Corte
Suprema, têm como destino o Poder Judiciário como um todo, no intuito de fazer prevalecer a
vontade do Poder Legislativo ou do Poder Executivo sobre a do Judiciário (BRANDÃO, 2012).
Como parece evidente, isso é prejudicial ao Estado de Direito, justamente porque enfraquece a
independência judicial. Antevendo tudo isso, o Constituinte previu as garantias da Magistratura.
AS GARANTIAS DA MAGISTRATURA
No vídeo a seguir, o professor André Farah discorre sobre as garantias da Magistratura e de
seus membros. Vamos assistir!
De acordo com Moraes (2002), as garantias da Magistratura podem ser divididas em:
GARANTIAS INSTITUCIONAIS
Relacionam-se ao Poder Judiciário como instituição, ou seja, como um todo, e dizem respeito
ao relacionamento desse ramo com os demais.
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GARANTIAS DOS MEMBROS
Referem-se às pessoas dosJuízes e voltam-se externa e internamente ao Poder Judiciário.
AS GARANTIAS INSTITUCIONAIS OU AS
AUTONOMIAS DO PODER JUDICIÁRIO
Predicado estruturante e viabilizador do desenho constitucional idealizado no art. 2º, da
Constituição, a autonomia do Poder Judiciário busca conferir a ele uma igualdade frente aos
Poderes Legislativo e Executivo.
 ATENÇÃO
É relevante ter em mente que tal autonomia, longe de significar que esse ramo de função
estatal fique apartado das demandas sociais, importa, ao cabo, em um modo de tutelar a
própria sociedade. Na verdade, ao se proteger aquele ator que decidirá casos nos quais existe
um desequilíbrio de forças, por exemplo, com a presença do Estado, deseja-se tutelar o
interesse da sociedade em ter um Poder Judiciário não dependente das vontades
eventualmente políticas e financeiras de terceiros.
No desenho constitucional próprio do Poder Judiciário, é possível, então, enxergar três ordens
de autonomia:
AUTONOMIA ADMINISTRATIVA 
(ARTS. 99 E 96, DA CONSTITUIÇÃO)
AUTONOMIA FINANCEIRA 
(ART. 99, DA CONSTITUIÇÃO)
AUTONOMIA FUNCIONAL 
 
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AUTONOMIA ADMINISTRATIVA (ARTS. 99 E 96, DA
CONSTITUIÇÃO)
É dado ao Poder Judiciário autogovernar-se. Seu mérito é permitir, por exemplo, que seus
próprios integrantes elejam os órgãos diretivos e elaborem seus regimentos internos.
AUTONOMIA FINANCEIRA (ART. 99, DA
CONSTITUIÇÃO)
Dentro dessa temática, estão a elaboração da proposta orçamentária e os repasses dos
duodécimos. A proposta orçamentária deve ser elaborada pelo Tribunal, ou seja, ele é, em um
primeiro momento, o autor da proposta e mais ninguém. A razão de ser é porque o próprio
Tribunal conhece suas necessidades e historicamente sabe-se que pela fragilização financeira
de um ente ou órgão consegue-se que se dobrem os joelhos. Com a mesma razão, existem os
repasses dos duodécimos. Os recursos pertinentes ao Poder Judiciário devem ser entregues
até o dia 20 de cada mês (art. 168, da Constituição).
AUTONOMIA FUNCIONAL
A lógica dela vai no sentido de que no exercício de sua atividade final, o Poder Judiciário não
deve estar atrelado a qualquer vontade que não do direito.
 SAIBA MAIS
O STF, em medida cautelar no Mandado de Segurança 34.483, reconheceu ato omissivo de
Governador de Estado e violador de autonomia. Afirmou a Corte que o “direito prescrito no art.
168 da CF/88 instrumentaliza o postulado da Separação de Poderes e, dessa perspectiva,
institui um dos fundamentos essenciais para a permanência do Estado Democrático de Direito,
impedindo a sujeição dos demais Poderes e órgãos autônomos da República a arbítrios e
ilegalidades perpetradas no âmbito do Poder Executivo respectivo”.
Pergunta importante e relacionada ao tema é sobre a possibilidade de alteração do número de
integrantes do STF, já que a Constituição previu o número de onze e, ao mesmo tempo,
proclamou como cláusula pétrea a separação de poderes (arts. 101, caput, e 60, §4º, III).
Alexandre de Moraes já sustentou que, se a intenção da mudança for desrespeitar a autonomia
do Tribunal ou de suas decisões, a alteração seria inconstitucional (MORAES, 2002).
Caracteriza como crime de responsabilidade do presidente da República, na forma do art. 85,
II, da Constituição, a prática de ato que atente contra o livre exercício do Poder Judiciário.
Assim, a conduta presidencial que se volte contra a autonomia do Poder Judiciário poderá dar
azo, a depender do contexto, em impeachment do aludido agente político.
AS GARANTIAS DOS MEMBROS
A Constituição, no art. 95, trouxe ainda as garantias constitucionais específicas dos Juízes.
Com essa nomenclatura, elencou-as em três:
Vitaliciedade
Inamovibilidade
Irredutibilidade de subsídios
Elas podem ser qualificadas de garantias de liberdade dos Magistrados, exatamente porque
visam entregar certa liberdade de atuação no exercício da judicatura.
Existem, em paralelo, as garantias de imparcialidade, o que nos dizeres da Constituição
importam em vedações. Segundo o parágrafo único, do art. 95, são vedados:
O exercício de outro cargo ou função, salvo uma de magistério
A percepção de valores decorrentes de processo
A dedicação à atividade político-partidária
O recebimento de valores pagos por pessoa física ou jurídica pública ou privada, exceto casos
legais
O exercício da advocacia dentro de uma quarentena de três anos
A garantia funcional da vitaliciedade possui sentidos que precisam ser explicados. Diferente
do que acontece na Suprema Corte norte-americana, em que, de fato, os Magistrados podem
exercer suas funções até o final da vida, no Brasil, o termo serve para distinguir essa carreira
de outras. Nesse ponto, por exemplo, o Magistrado perderá seu cargo se for proferida uma
decisão judicial transitada em julgado. Além disso, a aposentadoria compulsória colhe o
Magistrado que atingir a respectiva idade, denotando outra peculiaridade distintiva da
vitaliciedade do sistema constitucional brasileiro (Súmula 36, STF). Ainda cabe acrescentar que
o ministro do STF pode sofrer impeachment, pela prática de crime de responsabilidade.
Conquanto exista a garantia da vitaliciedade, ela não funciona como um escudo de absoluta
proteção do Magistrado, servindo efetivamente ao propósito de tutelar a liberdade do atuar
judicial.
No entanto, vale consignar mais um ponto relevante. Vejamos:
A forma de ingresso na Magistratura, em regra, é por meio de concurso público. Aprovada a
pessoa, exercerá seu múnus na classe inicial da carreira e, nesse momento, passará por um
período de confirmação de dois anos (estágio probatório ou comprobatório). Nesse interregno,
o Juiz não possui vitaliciedade, e a perda do cargo pode ser deliberada por seu Tribunal.
Aos demais Magistrados que ingressam na carreira pelos mecanismos constitucionais
autorizadores, como junto aos Tribunais locais e Tribunais Superiores, o sistema é diverso.
Empossado no cargo, adquire-se a vitaliciedade. A título de exemplo, o advogado que ingressa
no TJ, por meio do quinto constitucional, tornando-se desembargador, com a posse já é
vitalício.
Soma-se a essa garantia, a inamovibilidade. Significa que o Magistrado não pode ser
removido do cargo ex officio ou, por outro mecanismo, ainda que indireto, ser afastado da
apreciação de um processo.
O STF, em 2012, no MS 27.958, já decidiu que a inamovibilidade também abraça o Juiz
substituto. Segundo a fundamentação, a garantia da inamovibilidade toca a Magistratura como
um todo e, por isso, a classe dos substitutos não poderia ficar apartada.
 ATENÇÃO
Inamovibilidade não significa a impossibilidade de remoção, disponibilidade ou aposentadoria
do Magistrado, por interesse público. A própria Constituição contemplou esses instrumentos
(arts. 95, II, segunda parte e 93, VIII). Devem ser decididos pela maioria absoluta do Tribunal
ou do CNJ, respeitada previamente a ampla defesa. 
 
Em interessante caso, o STF se debruçou a respeito da possibilidade de o CNJ, por ato
normativo seu, criar hipótese cautelar de afastamento de Magistrado. Na ADI 4.638 MC-Ref, a
Corte disse que esse proceder viola a Constituição e que a restrição à inamovibilidade (e
vitaliciedade) de Juiz exige lei em sentido formal e material, sob pena de violação à legalidade
e devido processo legal.
Por último, a terceira garantia específica da Magistratura arrolada pela Constituição no capítulo
próprio, é a irredutibilidade de subsídio. Também ela busca assegurar a independência dos
Juízes e afastar a sua exposição a posturas legislativas e executivas. Antes, essa garantia
atingia apenas os Magistrados, mas hoje integra a proteção dos servidores públicos em geral,
como se lê do art. 37, XV, da Constituição, com redação alterada pela EC nº 19/98.
A irredutibilidade de subsídio tem regramento que precisa ser respeitado. Nesse sentido, a
fixação ou alteração do subsídio exige lei específica, com observância da iniciativa privativa do
processo legislativo respectivo. Além disso, é preciso não ignorar a existênciade tetos e
subtetos (arts. 37, X e XI, e 39, §4º).
Costuma-se fazer uma divisão da irredutibilidade jurídica e da real:
IRREDUTIBILIDADE JURÍDICA
A garantia constitucional é respeitada se não houver uma diminuição nominal do subsídio.
IRREDUTIBILIDADE REAL
A concessão de aumento deve ser de acordo com o índice oficial, porque do contrário seria
admitir a redução do subsídio.
Ao lado disso tudo, as garantias de imparcialidade tiveram acento constitucional com a
expressão vedações. Existem justamente para dar sustentação à ideia de um Magistrado
equidistante. Nesse sentido, foram positivadas na forma de vedações.
Com esse mote, o Magistrado não pode exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou
função, salvo uma de magistério. Ao contrário da vedação ligada a membros do Ministério
Público que se circunscreve apenas à função e pública, aqui a proibição, pelas palavras do
Constituinte, é um pouco mais ampla.
A preocupação é quanto ao sistema remuneratório do Juiz e o cerne é o exercício de outra
atividade, pública ou privada, remunerada. Com olhos nesse ponto, o STF já teve a
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oportunidade de, ao analisar resolução do CNJ proibitiva da acumulação de funções de Juiz e
integrante da Justiça Desportiva, afirmar a incompatibilidade constitucional, em decorrência da
norma da Constituição e da autoexecutoriedade do ato administrativo (MS 25.938).
 
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Um assunto correlato é sobre a interpretação da expressão “uma de magistério”. O STF já
afirmou que a teleologia da norma constitucional é impedir a atividade de magistério
incompatível com as funções da Magistratura. Sob esse pensamento, não permite a
Constituição apenas um único cargo ou função de magistério. O que precisa ser avaliado é se
os horários são compatíveis. Portanto, a análise deve ser casuística (ADI 3.126 MC).
Ao lado disso, a Constituição, em dois momentos bem próximos, proíbe a percepção de custas
ou participação em processo e de auxílio ou contribuição – exceto as permissões legais. Mais
uma vez, como fica claro, o objetivo é, focando na remuneração, blindar o Magistrado e o
colocar na posição de imparcialidade.
Com tal ideia, o STF teve oportunidade de analisar resolução do CNJ que proibia que entidade
privada com fim lucrativo arcasse com o custo dos Magistrados em encontros jurídicos e
culturais, excetuados aqueles na condição de palestrante, conferencista, presidente de mesa,
moderador, debatedor e organizador. Conquanto tenha sido decidido pelo não conhecimento
do mandado de segurança, o tema mereceu consideração e reprovação (MS 32.040 MC-AgR).
Além dessas vedações, a Constituição também proibiu que o Magistrado se dedique à
atividade político-partidária. Trata-se de uma vedação originariamente absoluta, o que a
distingue do regime jurídico constitucional dos membros do MP. Caso o Juiz deseje
implementar essa atividade, a solução é a aposentadoria ou a exoneração da carreira da
Magistratura. Mais uma vez, o objetivo é a isenção desse agente público.
 
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 SAIBA MAIS
Na AO 2.236 ED, o STF se debruçou sobre o fato de tratado internacional revogar norma
constitucional e, então, permitir que Juiz, nessa condição, candidate-se a pleito eleitoral. A
Corte afirmou, dentre tantos outros fundamentos, que mesmo que o Tratado de Nova York,
internalizado como norma constitucional, dite genericamente a possibilidade de as pessoas
serem eleitas, o art. 95, parágrafo único, III, da Constituição deveria ser interpretado como
norma excepcional e aplicável aos Juízes, justamente por causa da finalidade da proibição.
Por fim, a última vedação é quanto ao exercício da advocacia no juízo ou Tribunal do qual se
afastou. A norma constitucional, acrescentada pela EC nº 45/2004, então, impõe uma
quarentena de três anos, a partir da aposentadoria ou exoneração.
O tema gera controvérsia frente ao direito fundamental de liberdade de ofício (art. 5º, XIII, da
Constituição). Gilmar Mendes, no entanto, explica que a vedação visa reforçar a independência
e a imparcialidade do Magistrado e cria uma barreira ao tráfico de influência (MENDES;
BRANCO, 2019). No fundo, essa é uma proteção com dois enfoques:
O próprio Magistrado que ainda na carreira deseja sair
&
O outro Magistrado que porventura pudesse ser procurado pelo seu colega exonerado ou
aposentado
O Juiz que deseje sair, deverá refletir profundamente a respeito de sua opção. E o Juiz estará
protegido para exercitar sua função da forma mais isenta possível, sem a importunação de um
colega exonerado ou aposentado.
 COMENTÁRIO
A interpretação a respeito do termo “no juízo ou Tribunal do qual se afastou” gera dúvida. Por
um lado, parece indicar uma proibição de ordem territorial. Por outro, no entanto, pode ser vista
com olhos na função exercida. Assim, não teria importância e, por isso, a vedação não se
direcionaria ao âmbito territorial do órgão jurisdicional. A atenção, nessa lógica, seria voltada
ao espectro da antiga competência funcional e, então, proibir a atuação dentro dele.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A FRAGILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO É UM TEMA IMPORTANTE E
INAUGURAL NO TRATO DAS GARANTIAS DA MAGISTRATURA. DENTRO
DESSA TEMÁTICA COMPLEXA, ALGUNS PONTOS MERECEM DESTAQUE
E SE INTERRELACIONAM. ASSIM, É POSSÍVEL DIZER QUE:
A) O Poder Judiciário não exerce atividade que pode ser qualificada, ainda que minimamente,
como política.
B) Na estrutura do Poder Judiciário, apenas o STF possui competências que podem ser
categorizadas como de algum modo políticas.
C) A Constituição não outorga ao Poder Legislativo competência que permite afirmar figurar o
mesmo com força maior, já que, a título de exemplo, não julga as contas prestadas pelo
presidente da República.
D) A Constituição outorga ao Poder Executivo enorme força, posto que advém da exclusiva
vontade do presidente da República declarar guerra e permitir que forças estrangeiras
transitem pelo território nacional.
E) A conformação constitucional do Poder Judiciário, frente às competências, sobretudo, dos
arts. 48, 49 e 84, exigiu uma engenharia de blindagem.
2. O GOVERNADOR DE DETERMINADA UNIDADE DA FEDERAÇÃO, POR
VONTADE PRÓPRIA, RESOLVEU NÃO REPASSAR O VALOR MENSAL
ATINENTE AO PODER JUDICIÁRIO, EXPLICANDO QUE ELE SERIA
COLOCADO EM APLICAÇÃO FINANCEIRA QUE TRARIA UM BOM
RENDIMENTO AO ESTADO, DE MODO QUE, NO FUTURO, PUDESSE SAIR
DA CRISE FINANCEIRA NA QUAL SE ENCONTRA. SOBRE ESSA
SITUAÇÃO, ANALISE AS OPÇÕES A SEGUIR E MARQUE A CORRETA.
A) A conduta administrativa do chefe do Poder Executivo é legitimada pela aplicação do
princípio da supremacia do interesse público.
B) A atitude do Executivo não é compatível com a Constituição, posto que, para ser, precisaria
de anuência do Poder Legislativo.
C) É inerente à autonomia financeira do Poder Judiciário o repasse de duodécimos, ou seja, da
entrega da parcela mensal da verba pública ao referido ramo de função, que, se não acontecer,
autoriza a impetração de mandado de segurança.
D) O Poder Judiciário é detentor de autonomia administrativa e funcional, de modo que não
está incorreto o proceder administrativo, sobretudo por causa do resultado futuro do
rendimento colocado na aplicação financeira.
E) O STF não enxerga na autonomia financeira a materialização da separação de Poderes, o
que permite concluir que, ausente ela, não se configura uma submissão dos ramos e órgãos
autônomos à vontade executiva.
GABARITO
1. A fragilidade do Poder Judiciário é um tema importante e inaugural no trato das
garantias da Magistratura. Dentro dessa temática complexa, alguns pontos merecem
destaque e se interrelacionam. Assim, é possível dizer que:
A alternativa "E " está correta.
 
É clássica a lição segundo a qual o desenho institucional do Poder Legislativo e do Poder
Executivo importa na outorga de um poder muito agudo em termos de dinheiro público e de
monopólio da força. Para compensar isso e evitar que tal se torne um modo de pressãosobre o
Poder judiciário, foi preciso uma engenharia de blindagem. Esta pode ser compreendida, por
exemplo, a partir do estudo das garantias da Magistratura.
2. O governador de determinada unidade da federação, por vontade própria, resolveu
não repassar o valor mensal atinente ao Poder Judiciário, explicando que ele seria
colocado em aplicação financeira que traria um bom rendimento ao Estado, de modo
que, no futuro, pudesse sair da crise financeira na qual se encontra. Sobre essa
situação, analise as opções a seguir e marque a correta.
A alternativa "C " está correta.
 
Ao Poder Judiciário é reconhecida, entre outras, a autonomia financeira. Significa ela um
importante pilar para o bom desempenho das funções inerentes ao citado ramo. Isso porque,
mantendo-se apartado financeiramente de quem administra a verba pública do tesouro
estadual, o Poder Judiciário poderá exercer seu mister de forma isenta. Nesse sentido, o STF
reconhece que o repasse das parcelas mensais ao Poder Judiciário é concretização da
autonomia financeira e não pode ficar à mercê de uma vontade arbitrária do chefe do Executivo
local, podendo a situação ser tutelada via mandado de segurança impetrado pelo próprio Poder
Judiciário.
MÓDULO 3
 Reconhecer os diversos atores que exercem suas funções na tutela de direitos no
âmbito judicial
MINISTÉRIO PÚBLICO
O MP é a instituição que inaugura o capítulo da Constituição intitulado de funções essenciais à
Justiça, apesar de, assim como os demais, não atuar apenas no exercício de funções judiciais.
A Constituição outorgou-lhe atribuições sensíveis: a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
 
Foto: Moacir Ximenes / Wikimedia commons / CC BY 3.0 BR
PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS
O MP se rege pelos seguintes princípios:
Autonomia
Unidade
Indivisibilidade
Independência funcional
O princípio da autonomia (art. 127, §§2º a 6º, da Constituição) é subdividido em:
FUNCIONAL
Significa que o MP deve ser “imune a qualquer influência externa no exercício de sua atividade
finalística” (GARCIA, 2008, p. 93-94).
ADMINISTRATIVO
Importa que se assegure a “prerrogativa de editar atos relacionados à gestão dos seus quadros
de pessoal, à administração e à aquisição de bens” (GARCIA, 2008, p. 94-95).
FINANCEIRO
Garante a aptidão para elaboração de sua proposta orçamentária e de gestão e aplicação dos
recursos destinados a prover suas atividades, com recebimento de duodécimos e possibilidade
de abertura de créditos suplementares e especiais (MAZZILLI, 2001).
A Constituição, no entanto, trouxe três exceções ao princípio da autonomia administrativa (art.
128, §§3º a 5º, I, ‘a’):
A nomeação do Procurador-Geral de Justiça (PGJ) é feita pelo chefe do Poder Executivo.
O PGJ pode ser destituído pelo Poder Legislativo.
Os membros vitalícios só podem perder o cargo por decisão judicial com trânsito em julgado.
Os outros três princípios estão previstos no art. 127, §1º, da Constituição:
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Imagem: Shutterstock.com
UNIDADE
O princípio da unidade importa em dizer que cada unidade do MP é uma instituição única,
submetida a uma chefia própria.
 
Imagem: Shutterstock.com
INDIVISIBILIDADE
O princípio da indivisibilidade significa a impossibilidade de cisão da instituição,
impossibilitando-se sua subdivisão.
 
Imagem: Shutterstock.com
INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL
O princípio da independência funcional tem o sentido de que o membro do MP, em sua
atividade fim, pode atuar de forma livre, com obediência apenas à Constituição, às leis e à sua
consciência, além de não poder ser responsabilizado por atos praticados no estrito exercício
das suas funções.
OS MINISTÉRIOS PÚBLICOS, FORMAS DE
ESCOLHA E DESTITUIÇÃO
A Constituição, no caput do art. 128, traz uma primeira divisão entre as unidades do MP. Assim,
enxerga-se o MP da União (MPU) e o MP dos Estados.
Em seguida, é possível verificar a existência de subdivisões no MPU:
MP Federal
MP do Trabalho
MP Militar
MP do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)
Em que pese a obviedade, com relação aos MPs estaduais, é possível afirmar a existência de
26 unidades às quais se aplicam todos os princípios explicados. É de suma relevância destacar
que inexiste qualquer hierarquia entre as diversas unidades do MP.
O Procurador-Geral da República (PGR) é o chefe do MPU. Segundo a Carta Magna, sua
escolha e nomeação é feita pelo presidente da República, antecedida pelo que se denomina de
sabatina, feita pelo Senado Federal. A aprovação do nome do aspirante pela casa legislativa
deve ser feita por maioria absoluta dos membros e a investidura é de dois anos, sendo
franqueada a recondução. O postulante precisa ter pelo menos 35 anos e integrar a carreira
(art. 128, §1º, da Constituição).
Detalhe importante e que fica mais nítido quando feita comparação com a sistemática estadual
é que os membros do MPU, pelas palavras da Constituição, não constituem uma lista tríplice a
ser apresentada ao chefe do Poder Executivo. O sentido é fácil de se compreender. O PGR
precisa guardar distância do presidente da República, pois é quem possui atribuição para
investigá-lo e processá-lo criminalmente, por exemplo.
 EXEMPLO
Essa é a situação pela qual passou, em 2019, Augusto Aras para se tornar PGR, já que seu
nome não figurou na escolha a partir do escrutínio de seus pares. Em que pese a falta de
previsão constitucional para o MPU, como acontece para os MP estaduais, até então vinha se
consolidando uma tradição constitucional de indicar um dos nomes de uma lista tríplice,
preferencialmente o mais votado, em eleição organizada pela associação de classe.
 
Foto: Justiça Viva / TV Justiça / Wikimedia commons / CC BY 3.0
 Augusto Aras.
Ademais, como mencionado, ao PGR é permitida a recondução. Igualmente, se comparado o
dispositivo constitucional com o similar dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, é
permitido dizer que para o PGR não se proíbe mais de uma recondução. Esse não é o caso
para os PGJs, porque apenas se admite uma recondução.
Também a destituição do PGR merece atenção e comparação com o congênere estadual:
A iniciativa para destituição do PGR é do presidente da República. E a autorização é dada pela
maioria absoluta do Senado Federal (art. 128, §2º, da Constituição).
No ponto relacionado à nomeação, a Constituição entendeu por bem entregar desenho diverso
aos MP estaduais e resolveu incluir nele o MPDFT. Vejamos:
Para escolher o PGJ, a Carta Magna prevê expressamente uma lista tríplice prévia, formada
por integrantes da respectiva carreira (art. 128, §3º).
Dessa lista tríplice, o chefe do Executivo escolhe um nome.
A investidura do PGJ é de dois anos, sendo possível apenas uma recondução. Inexiste, como
acontece com o aspirante a PGR, exigência constitucional de idade mínima e nem participação
do Legislativo no procedimento de escolha.
Por outro lado, a destituição de tais PGJs também não se assimila à configuração voltada ao
PGR. A deliberação para tanto é feita pela casa legislativa, por maioria absoluta, mas as
demais exigências foram deixadas à norma infraconstitucional (lei complementar) para
colmatação (art. 128, §4º, da Constituição).
INICIATIVA LEGISLATIVA
A complexidade do tema afeto à iniciativa legislativa para tratar do MP se dá porque a
Constituição possui o art. 128, §5º e o art. 61, §1º, II, ‘d’. Nesse sentido, é preciso fazer
distinções, para saber qual é o sentido das exigências constitucionais.
A Lei nº 8.625/93 é a Lei Orgânica Nacional do MP e dispõe de normas gerais para organizar
os MPs estaduais. Para tal tipo de norma geral, segundo a Constituição, o presidente da
República, em uma especificação do que dispõe a competência legislativa concorrente (art.
24), possui iniciativa legislativa privativa tanto para os MP estaduais, como para o MPDFT (art.
61, §1º, II, ‘d’, segunda parte).
 ATENÇÃO
Uma peculiaridade existe quando se estudaa iniciativa legislativa para organização do MPU.
Isso porque, em que pese a Constituição prever no art. 61, §1º, II, ‘d’, primeira parte, a
privatividade do presidente da República, a Carta Magna diz que essa iniciativa é facultada ao
PGR (art. 128, §5º). Assim, a iniciativa, nesse ponto exclusivo, é concorrente.
Por fim, cabe trazer alguns aportes sobre a iniciativa legislativa para a norma de organização
do MP estadual. Aqui, existe controvérsia a respeito da privatividade desse atuar nas mãos do
PGJ:
Sob uma lógica e olhando para o art. 128, §5º, é possível dizer que apenas esse ator pode
iniciar o processo legislativo.

Outro pensamento autoriza que, caso a Constituição do Estado possua norma semelhante à do
art. 61, §1º, II, ‘d’, a iniciativa seja concorrente entre Governador do Estado e PGJ.
GARANTIAS, VEDAÇÕES E DEVERES
CONSTITUCIONAIS
Tal como fez com a Magistratura, a Constituição trouxe dispositivos pertinentes a garantias,
vedações e deveres dos membros do MP:
 
Imagem: Shutterstock.com
GARANTIAS
Como garantias, elencou a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de subsídio.
 
Imagem: Shutterstock.com
VEDAÇÕES
Quanto às vedações, proibiu receber quantias decorrentes de processos; exercer a advocacia;
participar de sociedade comercial; exercer outra função pública, exceto uma de magistério;
exercer atividade político-partidária; como regra, receber valores de pessoas físicas ou
jurídicas; e exercer advocacia junto ao órgão jurisdicional em que antes atuava como membro
do MP (quarentena).
 
Imagem: Shutterstock.com
DEVERES CONSTITUCIONAIS
Em relação aos deveres constitucionais, é possível visualizar ao menos dois: dever de
fundamentação jurídica das manifestações processuais e dever de residência na comarca (art.
129, VIII, e §2º).
No tocante às garantias e vedações, a lógica e a explicação pertinentes ao regime jurídico da
Magistratura devem ser consideradas para o membro do MP, ante a proximidade existente.
Vale, entretanto, destacar que, ao membro ingresso antes da Constituição, é dado escolher o
regime anterior quanto às garantias e vantagens, assim como às vedações pertinentes à
situação jurídica da data da promulgação da Carta Magna (art. 29, §3º, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias).
 ATENÇÃO
É necessário enfatizar que a EC nº 45/04 tornou a vedação de atividade político-partidária,
antes relativa, absoluta, e trouxe a figura da quarentena.
FUNÇÕES CONSTITUCIONAIS
As funções constitucionais do MP, apesar de mais presentes no art. 129, da Constituição, são
iniciadas no próprio caput, do art. 127, que traz caros misteres em um Estado Democrático de
Direito. Conquanto isso seja correto, vale frisar que muitas outras funções podem ser atribuídas
ao MP, por exemplo, por lei.
Seja qual for a espécie normativa que veicule papéis a serem exercidos, eles somente podem
ser exercidos por integrante da carreira.
Das funções do MP, três merecem comentários, ainda que breves, por conta da relevância:

Seguindo a ordem do próprio art. 129, a ação penal com possibilidade de fiscalização externa
da atividade policial e requisição de inquérito policial é algo que torna o MP único e, ao mesmo
tempo, com um ônus social muito grande. O exercício da acusação em matéria criminal exige
equilíbrio. E a fiscalização da atividade da polícia é vital em uma democracia. No ponto, é
importante destacar, ante a teoria dos poderes implícitos, dentre outros argumentos, que pode
o MP realizar investigação criminal por conta própria.
Paralelo a isso, a tutela da probidade administrativa torna o MP um agente de especial
importância no cenário político. Para isso, conta com a possibilidade de fazer uso de
mecanismos como o inquérito civil e a ação civil pública.


Por fim, é franqueado ao chefe do MP se fazer presente em processo objetivo de fiscalização
abstrata de constitucionalidade da compatibilidade de atos normativos infraconstitucionais com
a Constituição. A título de exemplo, o PGR é um dos legitimados ativos para propositura de
ação direta de inconstitucionalidade. O PGJ, no mais das vezes, também tem legitimidade na
ordem jurídica estadual.
No vídeo a seguir, o professor André Farah comenta sobre a estrutura do Ministério Público e
suas funções. Vamos assistir!
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO (CNMP)
Figura nascida da EC nº 45/04, o CNMP assumiu papel central em diversos setores
institucionais. Com poder para edição de ato normativo primário, que guarda fundamento de
validade junto à Constituição, possui composição híbrida, tendo integrantes de origem interna
aos MPs e externa provenientes de indicação do STF, do STJ, da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB), da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Seus membros, nomeados pelo
presidente da República, após aprovação do Senado, por maioria absoluta, têm investidura de
dois anos, autorizada uma recondução.
De início, é preciso localizar o CNMP na estrutura constitucional. Isso porque seu paralelo na
Magistratura foi tratado como um órgão administrativo interno do Poder Judiciário. Porém, a
gênese do CNMP permite afirmar que se trata de um órgão de controle externo, não compondo
nenhum MP. Ainda, é preciso esclarecer que o CNMP não integra os Poderes legislativo,
Executivo e Judiciário. Por isso, é possível dizer que o CNMP é um órgão constitucional
autônomo, como o são os Tribunais de Contas e o próprio MP (GARCIA, 2008).
 
Foto: Senado Federal / Wikimedia commons / CC BY 2.0
O CNMP não pode se imiscuir no exercício da atividade fim, mas exerce controle da atividade
administrativa e financeira, fiscalizando o cumprimento dos deveres funcionais dos membros
dos MPs.
Entre suas atribuições, duas merecem destaque:
A primeira é a de zelar pela autonomia funcional e administrativa do MP. Nessa seara é que
entra o poder normativo antes mencionado. Assim, passados mais de dez anos de existência,
o CNMP tem atuado nos mais diversos segmentos para dar, de algum modo, coesão e, às
vezes, uniformidade de atuação ministerial.
A segunda se relaciona com a função correicional. O CNMP possui uma Corregedoria
Nacional (CN) que recebe notícias e reclamações pertinentes a membros e serviços do MP,
realiza correições e inspeções, revê processos disciplinares julgados há um ano, aplica
sanções disciplinares (exceto perda do cargo) e pode requisitar e delegar funções a membros e
servidores do MP. Inicialmente vista como problemática, tornou-se tranquila, sobretudo na
prática, a ideia de que a CN pode atuar simultaneamente com a Corregedoria local, não
guardando subsidiariedade sua atividade.
DEFENSORIA PÚBLICA
A Defensoria Pública (DP), tal qual o MP, foi concebida pelo constituinte como instituição
permanente e essencial à função jurisdicional do Estado. No entanto, como antes salientado, a
DP também exerce importante função extrajudicial.
 
Imagem: Defensoria Pública de Pernambuco
Com a redação conferida pela EC nº 80/14, a Constituição retratou melhor a essência da DP.
Nessa nova redação, o caput, do art. 134, passou a dizer que incumbe a ela “a orientação
jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e
extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados,
na forma do inciso LXXIV do art. 5º”.
A DP deve ser entendida como expressão e instrumento do regime democrático, significando
isso que em si precisa pautar-se pela pluralidade e buscar tutelar tal pluralidade. Além disso,
nos mais diversos segmentos em que atua, deve ter como foco aquele que a Constituição
chamou de necessitado.
Parece claro que, em um país como o Brasil, com tamanha desigualdade, a DP é instituição
imprescindível para a concretização do princípio da inafastabilidade da jurisdição, inscrito no
art. 5º, XXXV, da Constituição. Assim, a DP tem amplo campo de atuação, seja na seara cível,
seja na criminal.
O campo da tutela coletiva merece destaque. Se antesa legislação e sua respectiva
interpretação eram acanhadas no tocante à legitimidade da DP para atuação, hoje,
particularmente como positivado pela EC nº 80/14, dúvida não existe da sua plena legitimidade
ativa, o que deve ser feito com olhos no mencionado caput, do art. 134.
AS DEFENSORIAS PÚBLICAS, GARANTIA,
VEDAÇÃO E PRINCÍPIOS
A Constituição, como fez com o MP, expressou a existência, no art. 134, das unidades da DP.
Elencou-as em três:
 
Imagem: Defensoria Pública da União / Wikimedia commons / Domínio público
DP da União (DPU)
 
Imagem: Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios
DP do Distrito Federal e dos Territórios
 
Imagem: Defensoria Pública do Estado de São Paulo
DPs dos Estados
 ATENÇÃO
Com a EC nº 69/12, passou a competir à União, exclusivamente, organizar e manter apenas a
DP dos Territórios, excluindo do seu raio de alcance a DP do Distrito Federal, em um gesto de
maior respeito à autonomia institucional (art. 21, XIII). Isso também aconteceu no tocante à
competência legislativa privativa da União (art. 22, XVII).
O constituinte previu ainda expressamente a garantia da inamovibilidade. Buscando entregar
proteção à atuação do Defensor Público, especialmente para tutelar sua atividade fim contra
ingerências externas e para atender seu público com correção, não se faz possível, em regra,
retirar o membro da DP titular de seu órgão.
Proibiu a Constituição o exercício da advocacia. Tal como se deu com o MP, a lógica é centrar
o Defensor Público na atividade de DP, não se permitindo, como regra, que sua carga horária
laboral seja partilhada com o atuar da advocacia privada. Para isso, inclusive, ele é
remunerado pelo sistema de subsídio. Uma omissão, porém, dessas mudanças constitucionais
foi a falta de criação de uma quarentena, nos moldes equivalentes ao que se deu com a
Magistratura e o MP.
 
Foto: Shutterstock.com
Sinal da evolução da mentalidade do legislador constitucional brasileiro, primeiramente, a EC
nº 45/04 contemplou a existência das autonomias funcional, administrativa e financeira às DPs
estaduais. Como apenas esse movimento não tornava o sistema uniforme, a EC nº 74/13
positivou essas autonomias à DPU e à DP do Distrito Federal.
Além disso, com mesmo propósito e igual explicação dada para o MP, a EC nº 80/14 sinalizou
mais um passo de evolução. Com ela, os princípios institucionais da unidade, da indivisibilidade
e da independência funcional foram trazidos para a DP.
ADVOCACIA
A Advocacia é múnus público e, como tal, de relevância ímpar em uma sociedade democrática.
É por causa disso que o Advogado é indispensável à administração da Justiça. Nesse sentido,
possui inviolabilidade constitucional por seus atos e suas manifestações, no exercício
profissional. Isso, no entanto, tem limites legais. Disso tudo, extrai-se o princípio da
essencialidade da Advocacia.
 
Foto: Shutterstock.com
Tal princípio, como parece lógico, não é absoluto. Sua condicionante é o exercício regular e
legítimo da Advocacia. Nessa mesma lógica, é preciso dizer que a imprescindibilidade da
advocacia pode ser mitigada.
 EXEMPLO
No âmbito dos Juizados Especiais, a depender da situação, é dispensada a atuação do
Advogado. De igual modo acontece na impetração de habeas corpus e de ajuizamento de
revisão criminal. 
 
Também o STF já decidiu algumas situações. Em processo de perda de mandato de
parlamentar, a Corte disse que a defesa não precisa ser feita por Advogado (MS 21.360). Além
disso, sua Súmula Vinculante 05 diz ser prescindível a presença do Advogado em processo
administrativo disciplinar.
Em caso interessante, o STF teve que decidir se norma infralegal podia estender ao advogado
associado a advogado ex-Magistrado a quarentena que restringia a atuação deste. A situação
envolvia o direito fundamental ao livre ofício (art. 5º, XIII, da Constituição) e a extensão da
proibição já estudada (quarentena). Na ADPF 310, a Corte respondeu negativamente,
afirmando ter havido violação à liberdade profissional, a proibição de ampliação de norma
restritiva e a necessidade de lei para criar tal vedação.
No mais, é caro situar a relevância para o Estado Democrático de Direito da OAB. Isso fica
evidente, por exemplo, quando se outorga a ela, por meio de seu Conselho Federal,
legitimidade ativa para deflagrar processo objetivo de fiscalização de constitucionalidade. O
reconhecimento dessa singularidade é feita inclusive pelo STF, que enxerga a OAB como
instituição autônoma e independente, não se aproximando com órgãos de fiscalização
profissional e não compondo a administração pública indireta (ADI 3.026).
 
Foto: Eugenio Novaes / Wikimedia commons / CC BY 3.0
ADVOCACIA PÚBLICA
Ao lado do Advogado, a Constituição trouxe, e a EC nº 19/98 aperfeiçoou, a figura da
Advocacia Pública. Pela interpretação dos arts. 131 e 132, é possível extrair a existência da
Advocacia Pública nos diversos níveis da federação.
Junto à União, há:
 
Foto: Governo do Brasil / CC BY-ND 3.0
Advocacia-Geral da União (AGU)
Tem, por exemplo, o dever constitucional de defesa do ato impugnado em processo objetivo de
inconstitucionalidade da lei ou ato normativo (art. 103, §3º).
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Foto: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional / Associação Nacional dos Especialistas em
Políticas Públicas e Gestão Governamental (ANESP)
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional
É atuante na execução da dívida ativa em matéria tributária.
A AGU representa judicial e extrajudicialmente a União, realizando consultoria e
assessoramento jurídico do Poder Executivo. Seu chefe é de livre nomeação pelo presidente
da República, devendo o aspirante cumprir quatro requisitos:
Ser cidadão brasileiro
Ter mais de 35 anos
Possuir notável saber jurídico
Deter reputação ilibada
Nas esferas estadual, distrital e mesmo municipal, existem as respectivas Procuradorias-
Gerais. Nas letras da Constituição, organizam-se as duas primeiras em carreira e exercem
representação judicial e consultoria jurídica da respectiva unidade federativa. Seus
Procuradores, após três anos de efeito exercício, adquirem a estabilidade.
Como ensina Gilmar Mendes, a Advocacia Pública integra o Poder Executivo e a ela não se
garante a independência funcional e a inamovibilidade. Além disso, o poder de representação
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da qual aqui se trata é decorrente da lei, dispensando-se mandato para tanto (MENDES;
BRANCO, 2019, p. 1.164-1.165).
 SAIBA MAIS
Questão interessante é sobre a possibilidade de criação de Procuradoria Legislativa, para
defesa de interesses peculiares relacionados à autonomia ou independência diante dos outros
Poderes. O STF já decidiu pela possibilidade. No entanto, a defesa dos interesses da pessoa
política é de atribuição da Procuradoria-Geral do Estado ou do Distrito Federal (ADI 1.557).
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. COM RELAÇÃO AOS PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS PREVISTOS NA
CONSTITUIÇÃO DE 1988, RELACIONADOS AO MP, É POSSÍVEL DIZER:
A) À existência do princípio da unidade importa dizer que, no Brasil, há apenas um MP.
B) Pelo princípio da autonomia funcional, o MP fica protegido de influências externas, sendo
admitida apenas a interna.
C) O princípio da autonomia tem uma tríplice divisão, significando a autonomia funcional, a
autonomia administrativa e a autonomia financeira.
D) Em obediência ao princípio da unidade, a chefia do MP brasileiro é exercida pelo PGR.
E) Pelo princípio da independência funcional, o membro do MP tem liberdade de atuar no
terreno da atividade meio.
2. NA COMPARAÇÃO ENTRE O MPU E O MP ESTADUAL, É POSSÍVEL
DIZER QUE:
A) Integram o MP estadual, o MP Militar e o MP do Trabalho; e o MPU, o MP Federal e o
MPDFT.
B) A destituição do PGJ é deliberada pelo respetivo Poder Legislativo.
C) A chefia institucional do MPU é levada a efeito pelo PGJ, cujo desenho constitucional de
escolha é feito a partir dos membros da própria instituição.
D) O PGR, segundo a engrenagem constitucional, é o auxiliar

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