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CONCENTRAÇAO. E DISPERSA0 ELEITORAL: UM ESTUDO DA DISTRIBUIÇAO~EOGRAFICA DO VOTO EM MINAS GERAIS (1966-1974)* DAVID V. FLEISCHEIlH 1. Considerações iniciais; 2_ A. montagem da pesquisa; 3_ Operacionalizaçíio e coleto de dados; 4. Análise dOs dndos; 5. Coru:entrrJr;iio/dfspersii.o; 6. Representação regional; 7. Conseqülncúu. fi concluslicl. 1. Considerações iniciais Há algum tempo que se ouvem sugestões no sentido de que o Brasil de veria voltar a adotar um sistema eleitoral baseado em representação por distrito. em vez· do sistema de representação proporCional em vigor, desde a década de 30 e ora \igente. . Após o retomo à democracia, e~ 1946, o primeiro prójeto concreto de que se tem notícia foi· um anteprójeto .. ~laborado por Edgard Costa, em 1958. Na década de 60 foram apresentados os seguintes projetos: Milton Campos (1960), Oscar Dias Correa (1963), Franco Montoro (1964) e Gustavo Capanema (1969).1 Cada proposta apresenta sistemas eleitorais utilizando de uma forma ou de outra distritos em nível subesta dual: distritos com candidatos únicos; "distritões" com eleições proporcío nais para dois, três ou mais cadeiras dentro de cada circunscrição (à moda da Velha República); ou sistemas. "mistos", com deputados eleitos em dois níveis, uma parte dos eleitos vinculados em distritos (únicos ou Co O autor agradece a colaboração inestimável de sua esposa Edyr Resende Fleischer, na coleta dos dados; o acesso aos dados que foi gentilmente concedido pelas auto· ridades do TRE-MG, e !UI facilidades de PIOCessamento dos dados fornecidos pelo CPD/UnB. Trabalho apresentado à conferência sobre Política Brasileira., realizada pelo DCP/UFMG, B. Horizonte, 28 a 30 de novembro, 1915. ** Professor-adjunto, Departamento de Ciências Sociais, Universidade de Bra..'lilia. 1 São respectivamente: A legi.flação eleitoral. p. 328; Senado Federal. Projeto n.o 38 (1966); Câmara dos Deputados, Projeto D.o 2152 (1964); manuscrito entregue à direção nacional da Arena (J 969). R. Ci. po1., Rio de Janeiro, 19(3) : 15·36, jul./set. 1976 proporcionais) e a outra parte eleita proporcionalmente pelo estado in teiro (de uso mais conhecido na Alemanha). Recentemente foi publicado um estudo bastante compreensivo sobre o assunto, pela equipe do Instituto de Direito Público e Ciência Política da Fundação Getulio Vargas, sob a coordenação geral do Prof. Themis tocles Brandão Cavalcanti.2 Este relatório compila uma série de mesas redondas realizadas ao longo dos últimos três anos, agregando idéias e debates entre eminentes juristas, professores, advogados e políticos mili tantes; estudos em profundidade sobre os sistemas eleitorais do Império e da República Velha; uma análise de 50 entrevistas com estudiosos no assunto; e finalmente, apresenta uma apreciação balanceada sobre a viabilidade da adoção de um sistema de votação distrital no Brasil. Embora tenham feito uma exaustiva revisão da matéria em termos jurídicos e de ordem prática, sobre as vantagens e desvantagens de cada proposta, e considerações sobre o desmembramento dos demais estados em distritos, não se chegou ao ponto final de: a) propor uma divisão (ou várias divisões simuladas) para os demais estados; b) analisar a distribuição geográfica dos votos recebidos por deputadôs federais e estaduais em eleições recentes, em todos os estados, ou em al guns estados-chave. Com relação à primeira, uma vez decididos os critérios jurídicos, políticos, operacionais, e a unidade geográfica mínima a serem usados (circunscrição censitária, município, zona eleitoral, microrregião etc.), o trabalho de efetuar a divisão e compor os distritos, se torna uma tarefa relativamente fácil com o uso de computadores para simular as composi ções, de acordo com os critérios adotados.S Com relação à segunda, o presente trabalho pretende analisar esta distribuição geográfica em Minas Gerais para as eleições de deputados fe deral e estadual nos anos 1966, 1970 e 1974. 2. A montagem da pesquisa A indagação central da pesquisa é bastante simples. Sem falar muito nos méritos da questão da adoção de um sistema de votação distrital, e nem como distritos devam ou não ser estruturados, pergunta-se: a) como os deputados eleitos nos últimos três pleitos se colocam em termos de dis- 2 Cavalcanti, ThemistOcles Brandão. O voto distrital no Brasil. Rio de Janeiro, Fun dação Getulio Vargas, 1975. li Para um exemplo de como isto foi feito no estado da Flórida (EUA), ver: Dauer. Manning J. Multi member districts in dade country: a study of a problem and a delegation. Joumal of Politics, 1966, v. 28, n. 3, p. 617-38. Refere-se às seguintes decisões relevantes de tribunais federais distritais: Gang V. Kirk, 278 F. Supp. 133 (967); e Swann v. Adams, 385 U. S. 440, 87 S. Ct. 569, L. Ed. 2d_ (1967). E mais recentemente, o memorandum Florida reapportionment, do PrOcurador-Geral do estado da Flórida, Robert L. Shevin, Tallahassee, Flórida, 10 de dezembro, 1971. 16 R.C.P. 3176 ~ .. persão ou concentração geográfica d.a. sua votação; b) que conseqüências estas distribuições teriam par.a as representações regional e partidária no estado. 3. Operacionalização e coleta de dados A fim de facilitar a análise, a môdade mínima adotada foi a de zonas eleitorais, de acordo com o esquema elaborado pelo TRE-MG na década de 40 e ainda em vigor. Ao se elaborar a distribuição geográfica da vo tação de cada deputado. estabeleceu-se um valor mínimo de 1,0% da sua votação total, para que uma zona eleitoral passas~ a fazer parte da con figuração do deputado naquele ano. Nota-se que, para finalidade prática da política eleitoral,. este mínimo é bastante liberal. Com o generoso acesso coucedido pelas. autoridades dQ TRE-MG, processou-se a coleta dos dados, anotando as zonas a serem incluídas e as votações respectivas para cada deputado. À posse de um mapa do estado de Minas Gerais com a sua divisão por zonas eleitorais, marcou-se a configuração de zonas para cada depu tado (ver figuras 1 a 9 como exemplos deste trabalho). ObservmdO'-se a configuração de cada deputado, avaliou-se a for mação de redutos ou núcleos eleitorais (clusters), de zonas mais ou menos contíguas umas às outras. Na base da formação destes núcleos, pode-se avaliar cada deputado ao longo de uma contínua "concentração- dispersão" eleitoral, usando-se os seguintes indicadores: 1. Número de zonas observadas com mais de 1,0% do voto total (dispersão) • 2. Número de núcleos observados (dispersão). 3 . Primeiro núcleo observado: número de zonas4 (concentração). 4. Primeiro núcleo: densidade (concentração). li 5 . Primeiro núcleo: % de votos (calculado sobre o total de votos re cebidos) ( concentração) . 6 . % de votos obtido em todos os núcleos observados (calculado sobre o total de votos) (concentração) . $ 4 O "primeiro" núcleo se definiu por ter o maior número de votos (não de zonas). Tomado por si SÓ, pode ser coll8iderado um indicador de dispersão; mas em compa ração com o indicador 1, pode ser considerado um indicador de concentração. li O cálculo de densidade do reduto obedeceu o seguinte esquema de contigüidade das zonas: 8. Todas zonas contíguas. 7. Uma zona não-contígua. 6. Duas zonas não-contiguas. 5. Três zonas não-contiguas. 4. Quatro zonas não-contfguas. 3. Cinco zonas não-contiguas. 2. Seis zonas não-contíguas. J • Sete ou mais ZODaS não-cOlltíguas. Ver, por exemplo, o caso dos deputados Temalaco C. Pompei (figura 1), com dcnai dade "4"; e Fábio B. Notini (figura 5) com densidade "8". Voto distrital 17 7 . % de votos núcleo 2 .I núcleo 1 (compara-se a distribuição de votos entre o primeiro núcleo e o segundo, quando observado) (dispersão).!} -~.~ 'Ainda, cada núcleo foi avaliado em, termos da sua situação geo gráfica: 7 1 . Número de regiões geográficas cobertas. 2. Região de primeira e segunda importância, em termos de número de votos. 4. Análise dos dados A análise dos dados se procedeu em duas áreas:uma análise global dos indicadores de concentração/dispersão eleitoral; e uma investigação quan to à representação geográfica e partidária para o estado. 5. Concentração/dispersão Referindo-se ao quadro 1, para os deputados federais, observa-se que os resultados são um tanto contraditórios. Tomando os totais para os três pleitos, observa-se que em termos de concentração, enquanto o número de zonas e % de votos do núcleo 1 aumentam em 1970, para cair novamente em 1974, a densidade cresce regularmente, e a percentagem dos núcleos 2/1 diminui da mesma forma. 8 6 Neste caso, quanto mais alta a percentagem, mais se aproxima a igualdade de votos entre os dois núcleos; portanto, maior dispersão em termos da formação de um reduto só. Ver o caso do Deputado federal Marcos W. Tito (figura 6), no qual a votação do segundo núcleo é da ordem de 94% do primeiro. '; Na codificação dos dados, usou·se o seguinte esquema (do IBGE), que foi redu zido para oito regiões na análise: 12. Alto-médio S. Francisco 13. Montes Claros 14. Alto São Francisco 1. Norte 15. Urucuia 16. ltacambira 23. Mucuri 27. Jequitinhonha 2. Jequitinhonha 34. Rio Doce 3. Rio Doce 45. Mata 4. Mata 50. Belo Horizonte 58. Metalúrgica (e Campos dos Vertentes) 5. Metalúrgica 60. Sul 6. Sul 71- Oeste 7. Oeste 78. Alto Paranaíba 87. Triângulo 8. Triângulo Por exemplo, na figura 9. a votação do Deputado Federal Homero Santos abrangeu em primeiro lugar a região do Triângulo, e em segundo, a do Alto Paranaíba. 8 Isto é, a concentração em núcleo 1 aumenta, 18 RC.P. 3/76 ~ ,>-.:~"". _7::.~1.- _ i' Isto tud.o indica que pata os q,eputados federais a concentração au- mentou lentamente, mas -que Ii). tamanho' dos redutos sofreu uma pequena alteração para o maior (em termos de % de votos e número de zonas) em 1970. Isto, provavelmente, poRfUe 'em 1970 MiRas Gerais teve uma queda viólenta no tamanho de sua bancada federal. de 48 para 35 cadeiras. Quadro. 1 IndicadoreS de dispenio/ceneentração eleitcral deputados federais (1966/1974) 1966 .1970 1974 Arena MDB Total ÁreDa' MOB Total Arena MDB Total N9de~ com mais de 1% do voto 21,08 14,82 19,65 20,54 13,57 19,14 21.74 14,21 18,89 N9 de núcleos 1,54 1,36 1,50 1,39 1,42 1,40 2,00 2,00 2,00 Núcleo 1: n9' de zonas 12,95 8,27 11,86 13,68 9,14 12,77 13,35 7,86 11,27 NfiCleo 1: densidade 6,46 5,13 6,29 6,95 6,29 6,83 6,96 7,36 7,11 % votos no núcleo 1 58,14 52,36 56,81 61,82 61,57 61,77 59,13 58,71 58,91 % votos em núcleos 66,81 59,82 65,21 67,79 69,71 68,17 74,48 73,57 74,18 % votol núc.2Inúc.l 51,90 50,74 51,65 47,71 39,13 44,85 41,79 40,00 41,10 Deputados (N) '(37) (11) (48) '(28) (7) (35) (23) (l4) (37 ) Em termos de dispersão, pode-se observar que o número total de zonas encontradas e a percentagem dos núcleos 2/1 diminui constante~ mente, enquanto o número de núcleos cai em 1970, aumentando bastante em 1974. Este último fenômeno talvez possa ser atribuído à proibição de "dobradinhas" interpartidárias em 1970, e o subseqüente reajustamento dos senhores deputados à nova realidade, em 1974. As diferenças entre os deputados dos· dois partidos são realmente poucas, cada um acompanhando as tendências gerais. Portanto, observa se uma ligeira tendência por parte dos deputados federais do MDB conseguirem se eleger com' um primeiro núcleo mais compacto (menos zonas e mais densas) em 1974, do que seus colegas da Arena. Essa ten~ dência pode ser devida em parte ao fenômeno do maior peso do voto em centros urbanos em 1974; outras pesquisas atribuíram a este fato importância que favoreceu candidatos do MDB no último pleito. No caso mineiro, o MDB dobrou a sua bancada federal. Observa-se ainda que un1a proporção substancial dos deputados fe~ derais, embora colhendo votos de' maiores áreas do estado, apresenta níveis razoáveis de concentração e tende a aumentar. Para os depútados estadu~ (quadro 2). de início nota-se que os núcleos são menores eos ,indicadores de concentração são mais altos em Voto distrital 19 ~ .. relação aos federais. Isto era de se esperar, pois a representação estadual, além de ser mais numerosa (menor quociente eleitoral), é notadamente mais localizada, tendendo a formar pequenos redutos em tomo da terra natal do deputado. Quanto a estes, as diferenças entre os dois partidos são mais ou menos as mesmas que foram observadas no caso dos depu tados federais. A única exceção marcante que se observa é que as dife renças de densidade do primeiro núeleo são maiores para os federais, e que a variação de número de núcle.os é maior no caso dos estaduais. 1'>0'9 de zonas com mais de 1% do voto N9 de núcleos Núcleo 1: nQ de zonas Núcleo 1: densidade % votos no núcleo 1 % votos em núcleos % votos núc.21núc.l Deputados (N) • o. Quadro 2 Indicadores de dispersão/concentração eleitoral deputados estaduais (1966/1974) 1966 1970 1974 Arena MDB Total Arena MDB Total Arena MOB Total 12,65 1,78 9.13 7,37 8,74 11,74 1,05 1,15 6.11 8,42 7,47 7,39 76,21 76,84 76,35 78,49 77,21 78,20 42,77 15,59 40,60 (63) (19) (82) 13,64 1,40 9,72 6,98 9,58 12,81 1,33 1,39 6,83 9,14 7,25 7,03 71,30 77,25 12,51 77,17 83,33 78,42 35,09 61,85 39,55 (47) (12) (59) 15,43 1,78 10,03 7,00 9,13 12,95 1,54 1,67 6,83 8,77 7,42 7,16 69,24 74,17 71,18 80,41 83,46 81,61 33,41 33,40 33,40 (37) (24) (61) Para a Arena estadual, o número de zonas com mais de 1,0% do voto total aumenta na média de 2,0 de pleito em pleito, o que não ocorre com o MDB. Este fato se deve em parte às sucessivas reduções na bancada arenista: 16 em 1970, e 10 em 1974. Em termos de número de núcleos, número de zonas no núcleo 1, densidade, % de votos no núcleo 1 e % de votos nos núcleos, se apre senta como mais concentrada a votação dos adeptos do MDB e ao longo dos três pleitos mostra uma certa tendência a aumentar. 6. Representação regional Com base no mapeamento preciso da votação de cada deputado, conse guiu-se uma regionalização muito mais fidedigna do que os dados obtidos com outros métodos usados em pesquisas anteriores.\! 11 Foram basicamente dois métodos: 1. Análise de dados biográficos e de carreira política, ver Fleischer, David V. Recrutamento político em Minas Gerais 1890/1918. Belo Horizonte, Ed. RBEP, 1971. Fleischer, David V. Political recruitment in the 20 R.C.P. 3/76 o quadro 3 apr~enta a distribuição regional dos deputados ftderaís, conforme o primeiro núcleo eleitoral observado. No caso, dois indicadores foram elaborados: 1. A distribuição em termos absolutos, pela região mais atingida pelo núcleo. 10 2. Em termos ponderados. Neste caso, deu-se peso 0,5 a cada deputado, representando secundariamente a região com seu primeiro núcleo. Por exemplo, a Arena em 1966 apresentou quatro depu tados com núcleos que destacaram a região Norte em primeiro plano (peso 1,0), e 6 deputados com núcleos secundariamente na mesma re gião (peso 0,5). Assim o valor ponderado seria 4,0 + 3,0 = 7,0. Ainda no quadro 3 observa--seque a Arena com uma representação bastante diversa pelo estado em 1966, sofreu uma redução de nove depu- Quadro 3 Distribuição da representação regional com base no primeiro núcleo eleitoral; em termos absolutos e ponderados, deputados federais (1966/1974) Arena 1966 191O 1974 Região Abs •. Pondo Abs. Pondo Abs. Pondo Norte " 7,0 2 4,0 1 3,0 Jequitinhonha S 5,S 2 3,5 3 4.5 Rio Doce <4 6,5 7 7,5 4 4,5 Mata 7 8.S 4 6,0 2 3,0 Metalúrgica 1 9,0 4 6,5 5 f>,5 Sul , 5,0 5 5,0 5 5,5 Oeste fi 9,0 2 6,0 2 4,5 Triângulo 1 1.0 2 2,0 1 1,0 Representação pondllrada Sl.S 40,S 12.5 Representação absOluta (N) (31) (28) (23) 1 MOB 1966 uno 1974 . Região Abs. Pondo Abs. Pondo Abs. Pondo Norte O t,S (} 0,0 1 2,0 Jequitinhonha O 0,0 O 0,0 O 0,0 Rio Doce O 0,5 1 1,0 1 1,0 Mata O 0,5 1 1,5 2 2.0 Metalúrgica S 8,S S 5,S 7 iO.5 Sul 1 1,0 (} 0.0 O 0,0 Oeste :2 3,0 O 1,0 1 2.5 Triângulo O 0,0 O 0,0 2 2,5 Representaçãoponderada 15,0 9,0 20,5 R.epresentação absoluta (Nl (11) (7) (14) State of MiTltlS Gerais. Bra:r.il (1890/1910). Tese de Ph.D., University of Florida, 1972. c:aps. 4 e 5. 2. Apuração da base eleitoral no decorrer de entrevistas com os próprios deputadoS, idem caps. 9, lO e 11. 10 Ver a operacionalização destes jndiaufores na nota 7. Voto dilfrltal ·21 tados na sua bancada em 1970, o que proporcionou perdas substanciais nas regiões Norte, Jequitinhonha e Oeste; aumentos para as regiões Sul e Rio Doce e uma manutenção relativa para as regiões Mata e Metalúr gica. Em 1974 a situação piora mais ainda para o Norte e Mata; o Rio Doce volta ao que era em 1966; e os demais continuam no mesmo. Com relação ao MDB, nota-se que a sua representação estava res trita a apenas três regiões em 1966, predominando a região Metalúrgica (mais populosa, industrializada e urbanizada). Em 1970, esta região con tinua predominando; mas o Sul e Oeste perdem a sua representação por completo, e a Mata e Rio Doce passam a ter um deputado cada. Em 1974 o MDB apresenta uma representação bem maior e mais diversa geograficamente, atingindo seis das oito regiões mineiras. No entanto, a Metalúrgica predomina em 1974, seguida pelo Triângulo e Mata com dois deputados cada. Quadro 4 Distribuição da representação regional com base no primeiro núcleo eleitoral em termos absolutos e ponderados. Deputados estaduais (96611974) Região Norte ] equitinhonha Rio Doce Mata Metalúrgica Sul Oeste Triângulo Representação ponderada Representação absoluta (N) Região Norte Jequitinhonh a Rio Doce Mata Metalúrgica Sul Oeste Triângulo Representação ponderada Representação absoluta (N) 22 Arena 1966 Abs. Pondo 7 11,5 5 7,5 9 11,0 13 16,0 6 9,5 10 11,0 9 13,5 4 4,0 84,0 (63) MDB 1966 Abs. Pondo 2 2,0 O 0,0 1 1,0 2 2,0 8 10,0 2 2,5 2 5,5 2 2,0 25,0 (19) 1970 1974 Abs. Pondo Abs. Pondo 3 6,0 4 6,0 1 3,0 O 2,5 5 5,5 7 7,5 10 lI,O 8 10,0 10 12,0 4 7,5 11 12,5 8 8,5 3 7,5 5 6,5 4 4,0 I 1,0 61,5 49,5 (47) (37) 1970 1974 Abs. Pondo Abs. Pondo 1 {,5 2 2,5 O 0,0 1 2,5 O 0,0 1 1,5 2 2,0 3 3,5 5 6,0 10 14,0 O 0,0 3 4,0 2 3,5 3 4,5 2 2,5 1 1,5 15,5 34,0 (12) (24) R.C.P, 3/76 Passando -para a compOSlçao region~l .da Assembléia Legislativa, no quadro 4, a grande diferença é que, com seu maior número de deputados, apresenta-se uma distribuição mais diversa •. em tennos globais, do que a dos deputados federais. Para a Arena, ao longo dos três pleitos, o Norte é menos prejudicado do que no caso federal, o Jequitinhonha sai perdendo a partir de 1970 e o Triângulo em 1974. É interessante notar as perdas da Arena estadual nas regiões Mata, Metalúrgica e Sul em 1974: à) comparada com a Arena Cederal, que se mantém mais ou menos estável; h) principalmente compa rada com o MDB estadual, que dobra a sua representação nestas três regiões mais desenvolvidas do estado. O quadro do MDB em nível estadual é mais animador que nas elei ções federais. Com a exceção do Rio Doce e Jequitinhonha, conserva-se uma representação razoável nas outras seis regiões. Quadro 5 Distribuição regional das bancadllS federais e estaduais, comparadas com a distribuição da população do estado (1966, 1970 e 1914) Deputados federais I I Deputados estaduais 1966 1970 1974 % da' população 1966 1970 1974 % % % em 1970 % % % Norte 8,4 5,7 5,4 11,4 10,9 6,8 9.8 Jequitinhonha 10,4 5,7 8,1 9,1 6,1 1,7 1,7 Rio Doce 8,4 22,9 13,5 14,8 12,2 8~5 13,1 Mata 14,5 14,3 10,9 13,8 18,3 20,3 18,0 Metalúrgica 31,2 25,7 32,4 20,5 17,1 25,4 13,,0 Sul 8,4 14,3 13,5 13,6 14,6 18,6 18,0 Oeste 16,6 5,7 8,1 10,9 13,4 8,5 13, t Triângulo 2,1 5,7 . 8,1 5,9 7,4 10,2 3,2 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100.0 tN) (48) (35) (37) (82) {59) (6lJ o quadro 5 confronta a distribuição regional da representação polí tica em Minas Gerais, por deputados federais e estaduais, somando os valores absolutos dos dois partidos nos quadros 3 e 4, respectivamente, com a distribuição da população do estado pelas oito regiões, conforme os dados do Censo de 1970. Grosso modo, a representação política aproxima de certa maneira a distribuição populacional, com alguns desvios, acentuados em certos pleitos e não outros, comonne a região. Se se tomar o líltimo pleito (1974) como sendo a atual representação política, pode-se ver que é ele desproporcional para algumas regiões: Norte, Jequitinhonha c Rio Doce estão sub-representadas nos dois níveis, principalmente as duas primeiras. A Mata e o Oeste estão sub-represen tados no plano federal e super-representados no estadual. O inverso, Voto distrital portanto, ocorre com o Triângulo. Como era de se esperar, a Metalúr gica está super-representada nos dois níveis, enquanto o Sul se acha nesta situação apenas no plano estadual. 7. Conseqüências e conclusões Embora observando um razoável agrupamento natural dos votos dos depu tados em redutos ou núcleos, resta saber, na hipótese de ser adotado algum sistema distrital em futuro próximo, que conseqüências teriam para os deputados egressos do sistema proporcional e para a classe política de modo geral. Quadro 6 Deputados federais e estaduais: percentagem de votos em núcleo I, por faixa. Agrupados por partidOS para os três pleitos (1966, 1970 e 1974) Deputados federais Núcleo 1: Faixa de % de votos sobre o 1966 1970 1974 voto total Arena MOB Arena MDB Arena MDB De O a 30 6 1 1 O 1 2 De 31 a 50 5 6 6 2 7 3 De 51 a 70 11 2 11 2 8 4 De 71 a 100 15 2 10 3 7 5 (N) (37) (lI) (28) (7) (23) (14) Deputados estaduais Núcleo 1: Faixa de % de votos sobre o 1966 1970 1974 voto total Arena MDB Arena MDB Arena MDB De O a 30 3 1 O O 3 O De 31 a 50 3 2 8 2 4 4 De 51 a 70 10 O 11 1 8 4 De 71 a 100 41 16 28 9 22 16 (N) (63) (19) (47) (12) (37) (24) 24 R.C.P. 3/76 Para os deputados eleitos nos últimos três pleitos, observa-se, no quadro 6, que um sistema distrital seria mais prejudicial para os federais que os estaduais. F ato este que leva alguns estudiosos do assunto a suge rir que se adote o sistema alemão (.deputados gerais e distritais) para eleições federais, e o distrito puro para ii& . .estaduais. Não obstante, se tomar as duas faixas mais altas (acima de 51 % de votos em um núcleo só) como sendo passíveis de eleição nos pleitos distritais, se vê que sempre uns 2/3 dos deputados federais da Arena e do MDB se acham neste nível. Em relação às eleições estaduais, entre 3/4 e 4/5 dos deputados encontram-se nesta faixa. Nota-se, também, uma ligeira tendência do MDB de ter uma maior proporção dos seus deputados entre as fileiras dos "distritáveis" do que a Arena, principalmente no plano estadual. Embora' a equação para se prever os destinos das duas legendas seja bastante complexa, envolvendo muitas variáveis de ordem política, eco nômica, social e conjuntural, e Que sempre aparecem candidaturas alter nando o quadro regional e a contínua "concentração - dispersão", pode se afirmar que uma cprta base natural existe entre os deputados mineiros dos dois partidos, no sentido de se enquadrarem num sistema deste tipo, DO futuro. Porém pode-se indagar ainda: que tipos de deputados serão benefi ciados ou prejudicados com a adoção de um sistema distrital? Responde mos esta questão, citando apenas alguns exemplos típicos das últimas eleições de 1974, demonstrados nas noves figuras em anexo. Figuras 1 e 2 apresentam dois deputados estaduais da Arena, que à primeira vista seriam beneficiados pelo sistema distrital: Temalaco Co riolano Pompei e Ronaldo P. CanMo. Ambos têm um só núcleo e apre sentam altos índices de densidade e concentração percentual (da ordem de 90,0%). Porém, na realidade, adotando-se um sistema distrital, seriam altamente prejudicados, pois seus núcleos estão quase coincidentes na Zona da Mata, ao longo da Rio--Bahia. Num distrito envolvendo estes redutos. a Arena teria que escolher um só candidatopara concorrer com o MOR Este caso exemplifica os problemas de competição intrapartidária inerentes em eleições distritais. As figuras 3 e 4 mostram mais dois deputados estaduais da Arena e do MDB que seriam prejudicados por eleições distritais: Lourival Brasil Filho e Said Paulo Arges; não por competição intrapartidária, mas .por dispersão. Ambos têm dois redutos razoáveis e bastante concentrados, mas não se elegeriam fora do sistema proporcional. A figura 5 apresenta um deputado estadual do MDB com um reduto muito concentrado. Com sua base política em Divin6polis, Fábio Botelho Notini tem um núcleo que engloba os municípios vizinhos e que exemplifica o padrão do político local, que consegue construir uma base sub-regiooaI. Passando para o terreno federal, as figuras 6 e 7 mostram dois parla mentares do MDB: Marcos Wellington Tito e Carlos Cotta. Aquele com l' oto distrital 25 MINAS GERAIS Por Zona Eleitofol Eleição Dep. Estaduol Ano 1974 . • -...o:- NIl !D' Portído' A RENA _ Nome' __ Tef11Jllf!.fIl_SoriololJ.P... Pomp..si NIl de votos' 209:39 NR de munlc(plos votados' Zonas .12 FI i -z~";;o~ 18. 684 Vofo$ lJ9,20 % MINAS GERAIS 'For Zona Eleitoral Eleiçôo Dep. Esfadual Ano .19.74 NI! lO' Partido' ARENA Nome' R(2noldo Passos Coned,o h NR de votos,~§9~ N2 de munlcI'plo1!l votados: Zon05=14 ..;'~' ..r;.... ~_',c, ' /3 Zonas 32,805 Votos 94,60% "\ ., }J j u~ ! ./ MINAS <3ERAIS Por Zona Eleitoral EleiçÕoDep.Esfadual Ano 191'4 Nt JD' Partido' ARENA ,Nome' ~lJ!J!1 Brasil Eilh.!L __ _ Nt de votos'~ Ni de rnunfo(plo, votadosl Zonas =16 2 MINAS GERAIS Por Zona Eleitoral Eleição Dtlp.êstadual <Ano 19~ NI ID' ,Portido: M I) 8 Nome' s..aJJ:L.E.o.JJ.1a ~r" B $ <NI de votos: 1.? 405_ NI! de munict'plos votados' Zonas-/5 - '';~ ~ I MINAS GERAIS Por Zona Eleiforal Eleição Oep.Es1odtJa! Ano 19~ NI! ID' ___ Partido'. MOB • . i Nome. llla -No/IO'---. __ _ Eáluo BQ/.e. NII de votos: ~1.ZL Ni de munlcl'plos votados: Zonas: /I MINAS GERAIS Por Zona Ele It o r a I Eleição Dep. FederaL Ano 19 74 N!! 10: Partido'. M.D8 Nome' Marcos Wflllinglon Ti}JL... ___ _ Ni de votos' 61.386 NlÍclflo I 4 Zonas 17. 455 Votos 28,00% N!I de munic(plos votados:Zonos=12 -."i.......:.:... '~ ll: ;'~ MINAS GERAIS Por Zona EI.ltorol Eleiçõo,Dtlp.F'edtlrol Ano 19 74 NR lO' _Portido' MDB Nome: _-f!!!/~~:..Spl!t'L . NR de votos • .:!Z 015 N2 de munlc(p los votados: Zonos ~I três núcleos (impossibilitado de concorrer em eleições distritais) e este com um núcleo bastante cOIt:l.pacto no Vale do Rio Doce. Finalmente, vejamos a Arena em nível federal, nas figuras 8 e 9. O Deputado Manoel José de Almeida, como Marcos W. Tito, têm três redutos: um em volta de Alienas (terra do seu sogro), um outro localizado na parte oriental do Rio· Docé (provavelmente efeito de uma dobradinha com um deputado estadual). e um terceiro bastante disperso -no norte do estado (sua região natal e onde realizou gamde parte de sua carreira como oficial graduado na Polícia Militar). Contudo, mesmo somando estes três redutos, isto representa um pouco mais da metade da sua votação total. Trata-se de um representante classista da PMMG e do funcionalismo público estadu~ que recebe vOWs"pingados" pelo .:estado ínteiro. Portanto, -este caso seria um deputado e uma classe prejudicados num sistema distrital. No caso de Homero Santos, seu único reduto bastante compacto sira em tomo de Uberlândia, sua terra natal e base política, com notoriedade pelo Triângulo e parte ocidental do Alto Paranatoa. Seria tranqüilamente eleito num sistema distrital. Finalmente, podemos dizer que os mitos de que "a oposição seria liquidada" e que "a Arena seria muito beneficiada" não são confirmados pelOS dados. Os dados tendem a sugerir que, no caso de se adotar um sistema distrital, a melhor maneira (para o caso de Minas Gerais) seria a implan tação do sistema alemão para deputados federais (2/3 distritais, e 1/3 gerais), e o do distrito puro ( um eleito em cada distrito), para eleições estaduaís. Porém se a tendência institucional for para um retomo ao multipar tidarismo, então, o sistema proporcional seria o mais visado. II No caso de Minas Gerais, a Arena certamente seria mais prejudi cada com eleições distritais., que forçassem a escolha de candidatos únicos nos demais distritos, por causa do problema de competição intrapartidária. Com o ex-PSD. ex-UDN e ex-PR coexistindo sob a mesma legenda, em muitas regiões a escolha seriª- desastrosa para a coesão partidária. Os dados refletem o trabalho meticuloso e árduo do MDB após as eleições de 1970 para recrutar .candidatos fortes em todas as regiões, numa tentativa de ~izar a competição -intiapartidária. Constatou-se que o atual sistema de eleições proporcionais não signi fica uma representação política fiel à distribuição geográfica da população mineira, deixando algumas regiões ,sub-representadas e outras super-repre sentadas. Fenômeno este que não ocorreria com o sistema distrital. 11 EstudiOllOS sobre "engenharia constitucional", sistemas partidários e a politica eleitoral, apontam os vinculos "bipartidarismo-eleiçóe8 distritais" e "multipartidarismo· representáção proporcional", Key, Ir., V. O. Political parties anil presswe groups. New Yort. Crowell. 1'948. p. 218·9. Duverger, Maurice. Political parties. New York, Wiley, 1963. p. 20S. - Voto distrital 33 MINAS GERAIS Por Zona Eléltoral Eleição Ot!E: Fedtuo! Ano 19 7'4 NR /D. Portido'...4RENA Nome' _Manoel dou' dJt Almeida NR de votos' ~ 088 Nl! de munic(plos votados' Zonas =23. MINAS -GERAIS Por Zona Eleitoral Elelção.Q!e,Üderal_ Ano 191'4 NIII. ID' Partido' ARENA Nome' Homero Santos NR de votos' ..6..LlLL Núcleo I , l/Zonas 59.532l-ólos 96,40% NI'I de muniCl'plos votados: Zonas'" ff f;' 1:' ~~ " Como uma observação final, vale a pena lembrar que um dos efeitos inerentes ao sistema proporcional mais sentidos pela classe política e pelos líderes locais, é o de um município ou região ficar sem representante, no caso do "seu" candidato cair numa suplência. Embora a resposta seja sempre que "outros deputados menos votados na área, porém eleitos, pas sarão a representar eficazmente a mesma", resta lembrar que tanto gover nadores e secretários de estado manifestam seu intento de "governar com mapas eleitorais na mão", como deputados "representam e decidem com vistas à sua votação obtida em lugar tal".12 Para elucidar estes e outros fatos relacionados com a viabilidade e aceitação de sistemas distritais, pretende-se analisar futuramente um con junto de dados colhidos em entrevistas com 87 deputados federais e esta duais em Minas. Resta ainda frisar que este é um estudo-piloto sobre um estado, e para ter uma visão mais geral do fenômeno para o Brasil, precisaria efetuar pesquisas similares para as outras 21 unidades da Federação. 12 Isto ficou bem claro, tanto em observações durante a coleta dos dados np TRE MO, como em entre;1stas e conversas informais com deputados, prefeitos e líderes locais no estado. 36 R.C.P. 3/76
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