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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO GUSTAVO DE CASTRO CLAUDIO SUSTENTABILIDADE DE DÍVIDA: UMA ANÁLISE FINANCEIRA SOBRE A OI/SA NITERÓI/RJ 2021 GUSTAVO DE CASTRO CLAUDIO SUSTENTABILIDADE DE DÍVIDA: UMA ANÁLISE FINANCEIRA SOBRE A OI/SA Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Administração, da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel. Orientador: Prof. Dr. Luis Perez Zotes SUSTENTABILIDADE DE DÍVIDA: UMA ANÁLISE FINANCEIRA SOBRE A OI/SA Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Administração, da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel. Aprovado em de de . Examinado por: ________________________________________ Prof. Dr.: Luis Perez Zotes Universidade Federal Fluminense ________________________________________ Prof. Dr.: Miguel Ferreira Lima Universidade Federal Fluminense ________________________________________ Prof. Dr.: Jaime Baron Universidade Federal Fluminense Niterói 2019 Dedico este trabalho aos meus pais e amigos, que sempre me incentivaram nessa caminhada. AGRADECIMENTOS Agradeço a todos os professores que, ao longo do curso, compartilharam de maneira clara e didática conteúdos essenciais para a minha formação profissional. Ademais, agradeço também aos meus familiares e amigos, que tiveram importante papel na minha formação como ser humano. “The big question is: When will the term structure of interest rates change? That's the question to be worried about.” (Ray Dalio) RESUMO Em um sistema financeiro com liquidez abundante, como observado atualmente, os investidores devem, em suas decisões de investimento, considerar a situação econômico-financeira de uma empresa caso exista interesse em ser credor ou acionista de tal organização. O objetivo deste trabalho, por meio do estudo de caso de uma companhia em recuperação judicial, a OI/SA, é examinar a importância dos indicadores financeiros e compreender como estes podem ajudar o investidor a tomar decisões de investimentos mais racionais. Por meio de uma análise financeira minuciosa da OI/SA, utilizando não só indicadores econômico financeiros mas também teorias de cálculo de custo de capital, será exposta a real situação de sustentabilidade de dívida da companhia. Para tanto, foi realizado um estudo de caso, à luz da Análise Financeira e de Balanços, onde foi possível revelar se existe racionalidade nos preços dos títulos de dívida da companhia negociados no mercado secundário, bem como se sua dívida é sustentável por si só. Os resultados do estudo são congruentes com a ideia de que deve haver um prêmio de risco para quaisquer investimento, além de contribuir para um melhor entendimento do comportamento de empresas em situações especiais. As conclusões ainda fornecem indicativos interessantes de novas formas de se pensar avaliar a sustentabilidade de uma dívida. Palavras-chave: CUSTO DE CAPITAL, ANÁLISE FINANCEIRA, ANÁLISE DE BALANÇOS, PRÊMIO DE RISCO, SUSTENTABILIDADE DE DÍVIDA, DECISÕES DE INVESTIMENTO ABSTRACT In a financial system with abundant liquidity, as currently observed, investors must, in their investment decisions, consider the economic-financial situation of a company, if they are realy interested in being a creditor or shareholder of such organization. The objective of this work, through the study of a company undergoing judicial reorganization, OI/SA, is to examine the importance of financiers and understand how they can help investors to make more rational investment decisions. Through a financial analysis of OI/SA, using not only economic-financial indicators, but also cost-of-capital calculation theories, it will be exposed the real situation of the company's debt sustainability. In order to do so, a case study was carried out, in the light of the Financial and Balance Sheet Analysis, where it was possible to reveal if there is rationality in the prices of the company debt bonds on secundary market, as well as whether its debt is sustainable in itself. The study results are congruent with the idea that there should be a risk premium for any investment, as well as contributing to a better understanding of the behavior of companies in special circumstances. The ways still provided interesting indicative of new forms of thinking about the sustainability of a financial obligation. Keywords: COST OF CAPITAL, FINANCIAL ANALYSIS, BALANCE SHEET ANALYSIS, RISK PREMIUM, DEBT SUSTAINABILITY, INVESTMENT DECISIONS LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AC Ativo circulante ANC Ativo não circulante B Bonds CAPM Capital asset pricing model CDS Credit default swap CE Composição do endividamento CRP Country risk premium E Equity EBIT Earnings before interest and taxes EBITDA Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization EG Endividamento geral FCFE Free cash flow to equity FCFF Free cash flow to firm GAF Grau de alavancagem financeira GAO Grau de alavancagem operacional ICJ Índice de Cobertura de Juros IPL Imobilização do patrimônio líquido LC Liquidez corrente LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS LG Liquidez geral LS Liquidez seca M&A Merger and acquisition PC Passivo circulante PNC Passivo não circulante RM Risco de mercado RF Risk free OIBR3 Ações ordinárias da empresa OI/SA listadas em bolsas TCC Trabalho de conclusão de curso UFF Universidade Federal Fluminense LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Ponto ótimo alavancagem ............................................................. 29 Gráfico 2 - Evolução da Dívida e do PL OI/AS (Valores em Bilhões de reais) 49 Gráfico 3 - Grau de Alavancagem Financeira OI/SA ...................................... 52 file:///C:/Users/Marcelo/Desktop/TCC%20SUSTENTABILIDADE%20DE%20DÍVIDA%20-%20UMA%20ANÁLISE%20FINANCEIRA%20SOBRE%20A%20OISA%20-%20Gustavo%20de%20Castro%20Claudio0%20(1).docx%23_Toc93351044 file:///C:/Users/Marcelo/Desktop/TCC%20SUSTENTABILIDADE%20DE%20DÍVIDA%20-%20UMA%20ANÁLISE%20FINANCEIRA%20SOBRE%20A%20OISA%20-%20Gustavo%20de%20Castro%20Claudio0%20(1).docx%23_Toc93351045 file:///C:/Users/Marcelo/Desktop/TCC%20SUSTENTABILIDADE%20DE%20DÍVIDA%20-%20UMA%20ANÁLISE%20FINANCEIRA%20SOBRE%20A%20OISA%20-%20Gustavo%20de%20Castro%20Claudio0%20(1).docx%23_Toc93351046 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Relação de spread e ICJ de uma empresa com valor de mercado inferior a US$5 bilhões .............................................................................................. 39 file:///C:/Users/gustavo.claudio/Desktop/TCC%20SUSTENTABILIDADE%20DE%20DÍVIDA%20-%20UMA%20ANÁLISE%20FINANCEIRA%20SOBRE%20A%20OISA%20-%20Gustavo%20de%20Castro%20Claudio0%20(1).docx%23_Toc94881624 file:///C:/Users/gustavo.claudio/Desktop/TCC%20SUSTENTABILIDADE%20DE%20DÍVIDA%20-%20UMA%20ANÁLISE%20FINANCEIRA%20SOBRE%20A%20OISA%20-%20Gustavo%20de%20Castro%20Claudio0%20(1).docx%23_Toc94881624 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Balanço patrimonial OI/SA 2018,2019e 2020 .............................. 45 Quadro 2 - Índices de liquidez OI/SA .............................................................. 47 Quadro 3 - Índices de endividamento e estrutura de capital OI/SA ................ 48 Quadro 4 - Evolução detalhada do endividamento OI/SA............................... 50 Quadro 5 - Capacidade de pagamento de juros OI/SA .................................. 51 Quadro 6 - Rentabilidade dos investimentos OI/SA ........................................ 53 Quadro 7 - Capacidade de geração de caixa e pagamento de dívida OI/SA . 53 file:///C:/Users/gustavo.claudio/Desktop/TCC%20SUSTENTABILIDADE%20DE%20DÍVIDA%20-%20UMA%20ANÁLISE%20FINANCEIRA%20SOBRE%20A%20OISA%20-%20Gustavo%20de%20Castro%20Claudio0%20(1).docx%23_Toc94881634 file:///C:/Users/gustavo.claudio/Desktop/TCC%20SUSTENTABILIDADE%20DE%20DÍVIDA%20-%20UMA%20ANÁLISE%20FINANCEIRA%20SOBRE%20A%20OISA%20-%20Gustavo%20de%20Castro%20Claudio0%20(1).docx%23_Toc94881635 file:///C:/Users/gustavo.claudio/Desktop/TCC%20SUSTENTABILIDADE%20DE%20DÍVIDA%20-%20UMA%20ANÁLISE%20FINANCEIRA%20SOBRE%20A%20OISA%20-%20Gustavo%20de%20Castro%20Claudio0%20(1).docx%23_Toc94881636 file:///C:/Users/gustavo.claudio/Desktop/TCC%20SUSTENTABILIDADE%20DE%20DÍVIDA%20-%20UMA%20ANÁLISE%20FINANCEIRA%20SOBRE%20A%20OISA%20-%20Gustavo%20de%20Castro%20Claudio0%20(1).docx%23_Toc94881637 file:///C:/Users/gustavo.claudio/Desktop/TCC%20SUSTENTABILIDADE%20DE%20DÍVIDA%20-%20UMA%20ANÁLISE%20FINANCEIRA%20SOBRE%20A%20OISA%20-%20Gustavo%20de%20Castro%20Claudio0%20(1).docx%23_Toc94881638 file:///C:/Users/gustavo.claudio/Desktop/TCC%20SUSTENTABILIDADE%20DE%20DÍVIDA%20-%20UMA%20ANÁLISE%20FINANCEIRA%20SOBRE%20A%20OISA%20-%20Gustavo%20de%20Castro%20Claudio0%20(1).docx%23_Toc94881639 SUMÁRIO 1.0 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 16 1.2 Justificativa ......................................................................................... 19 1.3 Objetivos .............................................................................................. 20 1.3.1 Objetivo geral ................................................................................ 20 1.3.2 Objetivos Específicos .................................................................. 20 2.0 REFERENCIAIS TEÓRICOS .................................................................... 22 2.1 Índices de Liquidez ............................................................................. 24 2.1.1 Liquidez Geral ............................................................................... 24 2.1.2 Liquidez Corrente ......................................................................... 25 2.1.3 Liquidez Imediata .......................................................................... 25 2.2 Indicadores de Endividamento .......................................................... 26 2.2.1 Endividamento Geral .................................................................... 26 2.2.2 Índice de Cobertura de Juros (ICJ) ............................................. 27 2.2.3 Composição do Endividamento .................................................. 27 2.2.4 Grau de Imobilização do Patrimônio Líquido ............................. 28 2.3 Indicadores de Alavancagem ............................................................. 29 2.3.1 A Alavancagem Financeira .......................................................... 29 2.3.2 A Alavancagem Operacional ....................................................... 31 2.4 Capital Asset Pricing Model (CAPM) ................................................. 31 2.5 Beta Alavancado ................................................................................. 34 2.6 Country Risk Premium (CRP) ............................................................. 35 2.7 Custo do Capital de Terceiros............................................................ 36 2.7.1 Cálculo do Custo da Dívida ......................................................... 37 2.7.2 Company Default Spread (CDS) .................................................. 37 2.8 Custo do Capital Próprio .................................................................... 39 2.8.1 Cálculo do custo do Capital Próprio ........................................... 40 2.9 Weighet Average Cost of Capital (WACC) ........................................ 40 3.0 METODOLOGIA ....................................................................................... 42 4.0 ESTUDO DE CASO OI/SA ....................................................................... 43 5.0 ANÁLISE DE RESULTADOS ................................................................... 45 5.1 O Balanço Patrimonial ........................................................................ 45 5.2 Avaliação dos Índices de Liquidez .................................................... 47 5.3 Avaliação dos índices de Endividamento ......................................... 48 5.4 Grau de Alavancagem ......................................................................... 52 5.5 Análise do Custo de Capital ............................................................... 54 6.0 CONCLUSÃO ........................................................................................... 57 Referências Bibliográficas .............................................................................. 58 16 1.0 INTRODUÇÃO Neste capítulo serão apresentados os objetivos do presente trabalho, bem como o contexto no qual ele foi desenvolvido. Em seguida, será mostrado como a dissertação foi organizada. É de suma importância a compreensão do real valor de todos os ativos os quais a empresa possuí – sejam estes tangíveis ou intangíveis – além da diferenciação do capital próprio e de terceiros para podermos delimitar exatamente o que é de fato patrimônio líquido da organização. Modigliani & Miller (1963) introduziram a teoria do trade-off, que determina as considerações a serem tomadas no processo de decisão da estrutura ótima de capital de uma empresa, levando em consideração o risco de falência (e seus consequentes custos) que acompanha o uso de tais dívidas, além do benefício fiscal, fator que tornaria atrativo a realização de um mix de capitais. No Brasil, foi visto uma grande melhora na transparência das informações financeiras referentes às empresas de capital aberto, com o advento de novos manuais e novas modalidades de governança corporativa por parte das companhias, que têm se preocupado cada vez mais em expressar de forma clara, ética e independente seus relatórios contábeis ao mercado financeiro e de capitais. Dentro desse contexto, é importante destacar a relevância dos acionistas majoritários, que detêm o poder de escolha nas decisões estratégicas referentes à predileção dos componentes dos conselhos de administração, fiscal como também dos cargos de diretores executivos e do próprio presidente da organização. Assim, considerando a criação e o desenvolvimento de novas tecnologias que nos possibilitam acompanhar em tempo real a cotação das ações no mercado secundário da Bovespa, assim como o crescimento dos mercados de dívida (bonds– em inglês) os investidores têm o poder de negociar, ao sabor de suas expectativas, e em tempo real, sua parcela de capital social (Stocks) e de suas dívidas (Bonds) de acordo com as informações que lhes são apresentadas pela companhia, fatores macroeconômicos e expectativas individuais. Desta forma, considerando o provável crescimento exponencial de tais meios de negociação e também olhando para o antigo mercado de balcão organizado, é indiscutível o papel da evolução tecnológica 17 na formação do preço dos ativos, sendo um dos componentes da redução do risco de liquidez observado no mercado de capitais. Diante do cenário supracitado,na atualidade, mesmo os ativos mais ilíquidos têm, de certa forma, uma precificação. Nesse contexto, a avaliação dos fluxos de caixa da firma (FCFF) bem como dos direcionados para os acionistas (FCFE) possuem papel estrondoso na dinâmica de preços, uma vez que são o principal e mais direto fator gerador de riqueza para seus acionistas e credores. Especificamente, o setor de telecomunicações está entre os que mais investe em P&D no Brasil e no mundo, sendo este um dos principais pré-requisitos para a sobrevivência das empresas participantes desse mercado, que se tornam muito dependentes de inovações para manterem-se competitivas. No entanto, a complexa situação de endividamento pela qual a companhia analisada perpassa torna esses investimentos de capital inviáveis no curto prazo, gerando uma grande queima de caixa. Além disso, existe um reconhecido grau de regulamentação do segmento no país, e no caso da OI/SA, a complexidade de normativas e imposições é um empecilho para a mudança de gestão, bem como também dificulta a execução de estratégias mais alinhadas com os interesses dos credores/acionistas da companhia. Um exemplo disso seria a obrigatoriedade de manter um sistema telefonia fixa gratuita em diversas cidades do país, devido a um contrato de concessão entre a OI/SA e o governo federal. Fatalmente, o custo de se manter centenas de milhares de orelhões, na atualidade, é muito maior do que as receitas provenientes dos mesmos, levando em consideração o fato de que o advento do telefone celular praticamente extinguiu o uso de tal meio de comunicação. Todavia, a PLC79, projeto de lei que visa desobrigar o investimento das companhias em redes de telefonia fixa gratuita foi aprovado no fim de 2019, um marco regulatório muito importante para a OI/SA, empresa que utilizaremos como parâmetro para discussão do tema. Ao longo de sua história, a OI/SA, ou antiga Telemar, foi uma empresa que passou por inúmeras mudanças de controle acionário e surgiu, basicamente, da privatização do antigo sistema Telebrás, em 1998. Após o processo de privatização, mais precisamente durante o governo de Luíz Inácio Lula da Silva, a empresa atravessou momentos de bonança, em um período de lucros crescentes pautados no crescimento do setor de telecomunicações no país. 18 Conforme supracitado, o desenvolvimento de novas tecnologias atinge e atingiu diretamente o setor, com a expansão das linhas telefônicas móveis, que estava fortemente correlacionada à redução do custo das mesmas para o cliente final. Desta maneira, a OI/SA, principal player do setor na época, chegou a ser cotada aos R$ 127 reais no fim de 2012. No entanto, a realidade da companhia mudou e uma série de decisões estratégicas e reformulações societárias, descapitalizações e assim como imposições estatais, acabaram por colocar a empresa em recuperação judicial no ano de 2020, quando chegou aos R$ 0,43 centavos. O objetivo era de reestruturar cerca de 70 bilhões em créditos, sendo, na data deste trabalho, a segunda maior recuperação registrada na américa latina, atrás apenas da Odebrecht S/A. Porém, será notado o endividamento da companhia a partir o atual momento, com o objetivo de analisar e situação econômico-financeira da companhia com foco na alavancagem da empresa, com base em algumas teorias, citadas mais à frente. A compreensão dos principais mecanismos que movem o setor bem como de todo o processo de declínio da companhia ao longo dos últimos 5 anos é extremamente crucial para que seja compreendido qual a situação de endividamento da empresa hoje e como a gestão dos ativos estressados pode salvar a organização de uma possível falência. Ademais, a complexidade referente a precificação dos ativos os quais a OI/SA têm como aval de sua dívida, além dos que possui como disponibilidades para uma possível alienação é um dos maiores desafios na reestruturação da empresa, dado que boa parte desses bens é composto pelo imobilizado, isto é, ativos ilíquidos dos quais a companhia passa a depender de uma possível venda, com o intuito de reduzir o seu grau de alavancagem financeira e voltar a fazer investimentos de capital. Nesse contexto, a modelagem e aquisição de um ativo estressado é, logicamente, pautada por expectativas mercadológicas, considerando incertezas econômicas, competitivas e flexibilidades possíveis durante a execução do projeto. Mesmo com as prováveis variações micro e macroeconômicas, grandes causadoras de volatilidade nos investimentos de alto risco, muitos investidores têm demonstrado interesse em aportar recursos em ativos estressados. Portanto, novos veículos de investimento têm surgido com o intuito de atender à demanda dos agentes econômicos superavitários. A indústria de fundos de investimentos bem como grandes bancos de investimento possuem importante papel 19 nessa dinâmica, na medida em que passam a criar um ‘colchão’ de liquidez para este tipo de investimento, tanto no mercado de crédito privado, negociando os bonds da companhia, quanto no mercado acionário. A considerada recente criação de fundos de private equity e venture capital, veículos os quais possuem regimentos e política de investimentos voltadas única e exclusivamente a empresas em estado de desenvolvimento, têm feito com que o mercado financeiro e de capitais possua forte influência na gestão dessas companhias, e consequentemente, torna-as mais líquidas e hábeis para enfrentar o nicho na qual estão inseridas. Diante desse cenário de aumento dos veículos de investimentos e mesmo com as prováveis variações econômicas, o crescimento dessa indústria tem sido vertiginoso, impulsionado pela flexibilização e desbancarização do setor financeiro do país, que representa a desconcentração dos investimentos nos grandes bancos, além da democratização e do crescimento ao acesso à informação para o pequeno e médio investidor, fator que certamente traz segurança para o aporte de capital em projetos de elevada viabilidade econômico-financeira, como é o caso do investimento em distressed assets. Assim, utilizaremos das forças de oferta e demanda, responsáveis pela precificação dos Bonds a Oi/SA para ser compreendido a que preço estão sendo negociadas essas dívidas no mercado secundário, comparando-as com o custo de capital de terceiros da companhia. Ademais, esclareceremos à luz da teoria, qual o verdadeiro custo de capital e principalmente, o grau de endividamento da companhia. 1.2 Justificativa Seja para quem trabalha na indústria de telecomunicações, no mercado financeiro e de capitais ou até mesmo em companhias de regulação ligadas ao segmento de Telecom, a compreensão do futuro da OI/SA é de suma importância para o entendimento do que será o setor de teles no curto e médio prazo, uma vez que uma falência da companhia ou até mesmo a alienação de parte de seus ativos poderá reorganizar drasticamente todo o segmento no Brasil. No meio de todo o ambiente de negócios que cerca a companhia selecionada para o estudo também está o ser humano, o gestor financeiro e seu poder de escolha nas tomadas de decisão da organização. Ou seja, o poder das expectativas futuras traçadas por esses indivíduos como também a execução das escolhas adotadas é, sem sombra de dúvidas, decisiva quando se trata de ativos estressados. Assim, o 20 entendimento e a ilustração de como o administrador financeiro trata e compreende a composição da estrutura de capital de uma companhia é de suma importância para a carreira de um executivo de sucesso. No mundo atual, a competição cada vez mais acirrada por profissionais com múltiplo entendimento organizacional torna quase que indispensável a união de campos de conhecimento, e o presente trabalho contribuirá de forma substancial na tomada de decisões estratégicas pertinentes à otimização da estrutura de capital de uma organização,lembrando-se todas as alternativas que o mercado financeiro e de capitais oferece na atualidade. 1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo geral Considerando toda a evolução dos meios de tecnologia, o presente trabalho visa apresentar uma análise financeira da companhia, apontando por meio de indicadores qual é o grau de alavancagem da companhia, bem como também discorrer acerca da atual composição da estrutura de capital da OI/SA. Assim, será feito um estudo de caso da OI/SA, com objetivo de apontar qual o real grau de endividamento da empresa por meio de autores como Assaf Neto (2015), Matarazzo (1998), bem como custo de capital da companhia, levando em consideração conceitos apresentados pelo professor Aswath Damodaran (2013) em sua publicação “Capital Structure: Finding the Right Financing Mix” e Ross (2013) em seu famoso livro “Fundamentos de Administração Financeira”. Segundo Damodaran (2014), uma empresa possui basicamente duas fontes principais de financiamento. Estas podem ser por meio de ações ou dívida. Assim, buscaremos mostrar por meio de uma análise detalhada qual é a real situação financeira da companhia. 1.3.2 Objetivos Específicos 1. Apontar qual o nível de alavancagem financeira da companhia por meio de indicadores de endividamento, liquidez e de alavancagem, sugerindo possíveis formas de desalavancagem para a empresa. 21 2. Compreender, à luz das teorias supracitadas, o cálculo do custo de capital da companhia. 3. Utilizar a empresa OI/SA como exemplo para compreender a importância de equalizar a estrutura de capital de uma companhia. 22 2.0 REFERENCIAIS TEÓRICOS Nesta breve apresentação, será feita uma explanação dos conceitos gerais e de algumas teorias utilizadas para apurar e avaliar a estrutura de capital das empresas. Segundo Franco Modigliani e Merton H. Miller (1953), o custo de capital terá de ser, no mínimo, igual ao retorno do projeto, dado que não faria sentido a aquisição de um ativo incapaz de gerar retornos acima do custo de capital da companhia. Partindo desse princípio, e considerando que, segundo Ross (2014) o custo de capital de uma organização reflete o retorno exigido pelos ativos de uma empresa, serão avaliadas as proposições com intuito de compreender quais são os riscos e como são tomadas as decisões de composição de estrutura de capital nas firmas. De acordo com Assaf Neto (2005), a estrutura de capital nada mais é do que a junção e a relação do exigível a longo prazo (dívidas), oriundas do capital de terceiros, e do capital próprio, representado pelo patrimônio líquido. Apesar de existirem diversos estudos de diferentes teóricos a respeito do tema, ainda existem muitas dúvidas a respeito de qual seria a estrutura de capital ótima para uma companhia, dado a alta complexidade dos fatores endógenos e exógenos a organização. Como exemplo, podemos citar as variações nas taxas de juros. Assim, quando os investidores buscam retornos sobre o seu capital avaliam, sem sombra de dúvidas, o retorno da taxa livre de risco. Diante disso, qualquer variação e ameaça de volatilidade nas taxas de retorno livre de risco de uma economia é capaz de modificar as expectativas de retorno dos investidores, sejam eles acionistas ou credores da companhia. Para definir e delinear as proporções entre o capital de terceiros (dívida) e o capital próprio (acionistas), Ross (2014) define que deve-se atribuir pesos para compreender de forma mais clara a participação do capital próprio e de terceiros em uma companhia. Para tal, será utilizada a seguinte fórmula: V = B + E 23 Onde, V é o valor total da companhia, isto é, a soma do valor de todas as dívidas com o valor de mercado da companhia, representado pelo valor da ação vezes o número de ações existentes, sendo B Os bonds e E o equity. Segundo Ross e Westerfield (2014), a estrutura ótima de capital é aquela de maximiza o valor da empresa para o acionista. Portanto, a ponderação e divisão ideal entre capital próprio e de terceiros deve reduzir o custo médio ponderado do capital da companhia (WACC) maximizando, por consequência, o valor dos fluxos de caixa gerados pela organização em determinado espaço de tempo. Entretanto, de acordo com algumas teorias específicas, como a de Brigham e Ehrhardt (2011), caso haja um incremento na proporção do capital de terceiros (B/V), poderíamos observar um aumento no custo médio do capital próprio, uma vez que os credores detém preferência no pagamento de seu capital, considerando o fato de que as companhias pagam primeiro os juros e somente depois os impostos, restando aos acionistas o resultado líquido da companhia, ou free cash flow no termo em inglês. Porém, existem alguns pontos importantes e que devem ser considerados. Em primeiro lugar, como o pagamento de juros e amortização da dívida é feito antes do pagamento dos juros, pode-se concluir que existe uma espécie de benefício fiscal da dívida, uma vez que os juros e amortizações pagos certamente serão deduzidos dos impostos, fazendo com que a companhia reduza o montante de impostos pagos ao governo. Porém, o aumento do endividamento da companhia gera, por si só, riscos maiores riscos e custos de falência, uma vez que em um cenário de crise financeira, a organização poderia não gerar caixa suficiente para remunerar seus credores, entrando em processo de falência, ou recuperação judicial, como é o caso da OI/SA. Ademais, Ross e Westerfield (2014) reconhecem que uma das melhores formas de comparar e compreender a saúde financeira e operacional das organizações é calcular os seus indicadores financeiros. Ainda segundo os autores, tais indicadores permitem investigar os relacionamentos entre as diferentes partes das informações financeiras, eliminando o problema de tamanho, dado que este é suprimido no processo de divisão. Deste modo, cabe ao administrador financeiro calcular e selecionar os índices que acredita serem importantes para sua avaliação. Diante do cenário supracitado, foi organizado algumas das principais métricas de avaliação financeira da OI/SA, com o objetivo de explicitar os principais indicadores de liquidez, endividamento, alavancagem e lucratividade e o risco na gestão de ativos 24 da companhia. A compreensão desses índices é de suma importância para o entendimento da estrutura de dívida e alavancagem da empresa e, principalmente, para o entendimento da real necessidade da companhia de receber possíveis aportes de capital, realizar adiantamentos de caixa por meio de M&A’s ou até mesmo para uma possível rolagem de dívida por parte da organização. 2.1 Índices de Liquidez Uma forma eficaz e ágil de avaliar a saúde financeira de uma companhia é verificar alguns indicadores referentes a sustentabilidade financeira da empresa. Esses indicadores, por sua vez, permitem a realização de análises comparativas e investigações mais detalhadas a respeito de uma organização. Entre os indicadores financeiros mais comuns, podemos citar os que, segundo Ross, Westerfield e Jordan (2014) se referem a solvência de curto ou longo prazo de uma empresa. Esses índices buscam medir a capacidade da organização de horar com seus compromissos e obrigações de curto e longo prazo, sem maior estresse. Ademais, existe uma grande vantagem ao utilizar-se de indicadores pois, por serem um número dividido pelo outro, existe grande facilidade em comparar a capacidade econômico-financeira de empresas de diferentes setores e portes. Neste trabalho, optou-se em apresentar alguns indicadores de liquidez. Estes podem ser divididos em dois grandes grupos: 2.1.1 Liquidez Geral De acordo com Silva (1996, p.221) “a liquidez geral indica quanto á empresa possui em dinheiro, bens e direitos realizáveis a curto e longo prazo, para fazer facede suas dívidas totais”. O principal objetivo do indicador é averiguar a capacidade da empresa de honrar com suas obrigações totais, analisando a relação entre seus ativos e seus passivos. Chega-se no indicador através da seguinte fórmula. 25 Analisando a fórmula, podemos perceber que quanto maior o numerador (total de ativos da companhia) maior é sua capacidade de, em um cenário adverso, alienar esses bens e direitos e utilizá-los para sanar suas dívidas e obrigações. Assim, quanto maior o indicador, menor é a necessidade da companhia de se financiar com recursos de curto prazo e menor o risco de a companhia necessitar de um aporte de recursos via capital próprio. 2.1.2 Liquidez Corrente A liquidez corrente é uma medida que, segundo Ross, Westerfield e Jordan (2014) busca indicar qual é o grau de alavancagem da companhia no curto prazo. A unidade de medida é em dinheiro ou em número de vezes. Esse índice é muito utilizado pelos bancos e instituições financeiras, além de fornecedores, para apontar falta de liquidez no curto prazo por parte de seus clientes ou parceiros. Na ótica da companhia, um índice de liquidez corrente elevado significa que esta possui boa capacidade de honrar com seus passivos de curto prazo (fornecedores, empréstimos para capital de giro, duplicatas a pagar). Todavia, pode demonstrar, também, baixa eficiência na aplicação de seu caixa. O índice de liquidez corrente, assim como qualquer índice, é afetado por diversos tipos de transações. Como exemplo, cita-se o efeito de um empréstimo de longo prazo. Esse financiamento seria automaticamente injetado no caixa da companhia. Entretanto, o passivo circulante (de curto prazo) não teria nenhuma alteração dado que, no balanço da companhia, passivos com liquidação longa devem ser lançados no passivo não circulante, ou exigível à longo prazo. 2.1.3 Liquidez Imediata Para Matarazzo (2003, p. 163 - 164) “este índice não pode ser confundido com índice de capacidade de pagamento, pois os índices de liquidez não são extraídos do fluxo de caixa que comparam as entradas com as saídas de dinheiro”. Sabendo disso, 26 a liquidez imediata tem como objetivo eliminar os estoques, uma vez que este representa o ativo menos líquido. Luidícubus (2009, p.93) diz que, “em relação a liquidez imediata, este quociente representa o valor de quanto dispomos imediatamente para saldar nossas dívidas de curto prazo”. Este indicador, por sua vez, apresenta maior capacidade de medir a capacidade da empresa de sanar suas dívidas de curto prazo, dado que exclui além dos estoques as contas a receber. 2.2 Indicadores de Endividamento O principal papel dos indicadores de endividamento está na capacidade de auferir qual o grau de alavancagem da companhia no longo prazo. Ross e Westerfield (2014) afirmam que “os indicadores de solvência de longo prazo destinam- se a abordar a capacidade da empresa de cumprir suas obrigações de longo prazo ou, de modo geral, sua alavancagem financeira”. Já Assaf Neto (2010) aponta que este índice avalia qual a proporção entre os recursos próprios frente ao capital de terceiros da companhia. A avaliação dos indicadores de endividamento, ou alavancagem financeira, é de suma importância para a compreensão de como o gestor financeiro levanta recursos para financiar sua atividade operacional. De fato, como explicitado mais acima neste trabalho, existe uma vantagem fiscal em possuir certo grau de endividamento. Todavia, altos índices de alavancagem no curto prazo podem ser responsáveis por criar uma situação de insolvência da companhia, levando a empresa a um processo indesejado de falência. 2.2.1 Endividamento Geral O Índice de endividamento geral, ou apenas EG, é um conhecido indicador financeiro que possui, como principal característica, a ótica de uma visão sistêmica do nível de alavancagem de uma companhia. Assim, o endividamento geral indica a porcentagem do capital de terceiros frente ao passivo total da companhia, que demonstra a totalidade da dívida da companhia somada ao seu patrimônio líquido. 27 Desta forma, é possível auferir qual o percentual das fontes de recursos é representado por dívida e, consequentemente, qual parte do capital é proveniente de aportes societários. 2.2.2 Índice de Cobertura de Juros (ICJ) Outro índice extremamente importante e de grande utilidade para avaliar a capacidade de pagamento das obrigações das companhias é o índice de cobertura de juros (ICJ). Este indicador visa estabelecer a razão entre a geração de caixa de uma empresa, conhecido como lucro antes dos juros e do imposto de renda, dividido pelos juros pagos. De acordo com este indicador, percebe-se que quanto maior for o lucro antes dos juros e do imposto de renda frente aos juros da dívida, maior será a capacidade de alavancagem da companhia. Todavia, é importante frisar que esse índice pode sofrer alterações bruscas de acordo com o setor e a correlação macroeconômica do segmento. Assim, companhias em setores mais sensíveis a taxas de juros, a renda, ou que possuam receitas vinculadas ao dólar podem, por exemplo, sofrer uma drástica redução em seus lucros. Entretanto, organizações menos cíclicas e sensíveis ao cenário micro e macroeconômico, como é o caso do setor elétrico, apresentam maior confiabilidade no que tange o índice de cobertura de juros (ICJ). 2.2.3 Composição do Endividamento A composição da dívida, ou do endividamento, refere-se à relação entre a dívida de curto prazo e a dívida total da empresa. É uma informação usada por gestores para tomar decisões financeiras especialmente em relação ao gerenciamento da dívida, e por investidores, para decidir em quais empresas aportar seus recursos. 28 Segundo Matarazzo (1998) Este indicador Indica qual o percentual de obrigações de curto prazo em relação às obrigações totais. A grande importância de se compreender o grau de endividamento, ainda segundo Matarazzo (1998), é a diferença entre a composição das obrigações da companhia. Deve-se diferenciar a aquisição de dívidas de curto prazo que precisam ser pagas com os recursos possuídos hoje, somados aqueles gerados no curto prazo (e sabe-se as dificuldades em gerar recursos a curto prazo) das obrigações de longo prazo, pois nesses casos a empresa dispõe de tempo para gerar recursos (normalmente lucro + depreciação). Deste modo, avaliando o indicador acima, percebe-se que quanto menor o índice, melhor, dado que o percentual de dívidas de curto prazo será mais baixo quanto menor for o indicador, trazendo maior liquidez para o administrador financeiro da empresa. 2.2.4 Grau de Imobilização do Patrimônio Líquido A Compreensão do grau de imobilização do patrimônio líquido de uma organização perpassa pelo entendimento de que, em alguma instância, o ativo permanente possui liquidez sensivelmente menor se comparado a ativos presentes no ativo circulante, como caixa, equivalente de caixa e estoques. Portanto, quanto maior o percentual do patrimônio líquido alocado no ativo permanente, maiores serão as dificuldade de obter liquidez a curto prazo da companhia, caso exista alguma necessidade de fazer caixa. Matarazzo (1998) afirma que o grau de imobilização do patrimônio líquido representa quanto, de fato, a empresa aplicou no ativo permanente para cada $ 100 de patrimônio líquido. Assim, quanto maior o indicador, pior a situação de liquidez da 29 companhia, dado que a maior parte do patrimônio líquido está alocada no ativo permanente, que possui baixa liquidez se comparado a maioria das contas do ativo circulante. 2.3 Indicadores de Alavancagem 2.3.1 A Alavancagem Financeira Segundo Ross e Westerfield (2014), quanto maior o nível de endividamento de uma companhia, maior será o grau de alavancagemfinanceira da mesma. Porém, os autores demonstram que, em um cenário de aumento do EBIT (earnings before interests and taxes), a troca de capital próprio por dívida pode ser bastante positiva, aumentando o lucro por ação (LPA) bem como o Retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) da companhia. Em um cenário hipotético, Ross e Westerfield (2014) simulam que uma empresa utiliza a emissão de dívida como meio para recomprar suas ações. Nesse cenário, a companhia troca o seu patrimônio líquido por dívida, mas como a alavancagem foi capaz de aumentar o EBIT acima dos juros pagos pelas obrigações, a empresa passa a obter lucros por ação maiores, dado que possuí menos ações e está gerando um resultado líquido acima do anterior, uma vez que o endividamento foi capaz de aumentar o EBIT em escala maior que os juros pagos pela dívida. Porém, caso a organização não seja capaz de aumentar seu EBIT suficientemente a ponto de cobrir os juros pagos e “sobrar” dinheiro, o lucro por ação e consequentemente o ROE da companhia tende a decair. Fonte: Ross & Westerfield (2014 Gráfico 1 - Ponto ótimo alavancagem 30 O gráfico acima mostra que, com alavancagem operacional (dívida), para cada R$ 400.000,000 de variação no EBIT, o lucro por ação varia em R$ 2,00. Portanto, quando a empresa lucra zero, o lucro é R$ -2,00 por ação, considerando a alavancagem financeira. Já em um cenário de lucro de R$ 1.200.000,000, a companhia utilizada no exemplo consegue lucrar R$ 4,00 por ação, enquanto se considerarmos zero de endividamento, essa mesma empresa obtém um lucro de R$ 3,00 por ação, conforme supracitado. Assim, percebe-se que, nesse caso, existe um certo momento no qual o juros da dívida é menos oneroso que o seu potencial de aumento no EBIT da companhia. Entretanto, vale ressaltar também os maiores riscos de uma empresa alavancada financeiramente dado que, em um cenário de lucro zero, a companhia endividada precisa horar com suas obrigações perante aos credores, fazendo que esta tenha prejuízo de R$ 2,00 por ação. Deve-se, portanto, observar que empresas com alto grau de alavancagem têm mais risco de falência. O grau de alavancagem financeira, ou GAF é calculado pela seguinte fórmula: O ROE, ou return on equity nada mais é do que divisão do lucro líquido pelo patrimônio líquido da companhia. Já o ROI, ou return on investment é representado pela divisão do EBIT pelo ativo total da companhia. Se o GAF for maior que 1,00, significa que ocorreu alavancagem e, portanto, é vantajoso captar recursos de terceiros. Se menor que 1,00, não houve alavancagem do capital e os custos dos empréstimos não retornam em capital próprio. 31 2.3.2 A Alavancagem Operacional “A alavancagem operacional é o grau em que um projeto ou uma empresa estão comprometidos com os custos fixos de produção. Uma empresa com alavancagem operacional baixa terá custos fixos baixos comparada a uma empresa com alavancagem operacional alta. De maneira geral, os projetos com investimento relativamente alto em instalações e equipamentos terão um grau relativamente alto de alavancagem operacional. Tais projetos são chamados de projetos intensivos em capital.” (Ross e Westerfield, 2013, p. 378). Em outras palavras, quanto maiores os custos fixos da companhia, maior será seu grau de alavancagem. De acordo com Assaf Neto (2015), o GAO mostra a presença dos custos e despesas fixas nos resultados da empresa. Quanto maior o GAO, melhor para a empresa em um cenário de aumento de vendas e também maior o risco operacional caso o mercado desacelere. O GAO é representado pela fórmula abaixo: Segundo Matarazzo (1998), a alavancagem operacional significa o quanto a empresa consegue aumentar o lucro através da atividade operacional, basicamente, em função do aumento da margem de contribuição (diferença entre receitas e custos variáveis) e manutenção de custos fixos, dividido pelo lucro operacional. 2.4 Capital Asset Pricing Model (CAPM) O método mais aceito atualmente para cálculo de rentabilidade exigida pelo investidor é o Capital Asset Pricing Model (CAPM) ou Modelo de Precificação de Ativos Financeiros desenvolvido por Sharpe (1964), Lintner (1965) e Mossin (1966). Sua principal vantagem em relação aos demais foi a simplificação do modelo da diversificação de portfólios proposto por Markowitz (1952), substituindo as variâncias do modelo por índices conhecidos (retorno do mercado e taxa livre de risco). O 32 principal objetivo nessa metodologia é a busca por um equilíbrio entre risco e retorno e, com isso, precificar da melhor forma os ativos financeiros. Mesmo sendo muito utilizado atualmente, o método possui algumas restrições as quais devem ser levadas em consideração, pois assume que: 1. O mercado tem uma eficiência máxima no qual todos os dados estão sempre disponíveis para o público. Ademais, o preço do ativo deverá refletir as informações apresentadas. 2. Ausência de taxas, impostos ou quaisquer custos transacionais ou restrições para os investimentos no mercado. 3. Todos investidores têm uma percepção ampla do desempenho de seus ativos, montando sempre carteiras eficientes a partir de perspectivas muito similares. Entretanto, de acordo com Damodaran (2014), existe no mercado um ativo com uma taxa livre de risco. Partindo dessa consideração, o investidor consegue avaliar uma combinação de ativos de diferentes riscos e compará-los com o investimento “livre de risco”, podendo, então, fazer uma espécie de cálculo de custo de oportunidade. Em países desenvolvidos, essa taxa livre de risco pode ser considerada como sendo de títulos públicos do tesouro nacional, principalmente devido ao fato de serem emissores de moeda local. Assim, em tese, não haveria risco de inadimplência. Por outro lado, em países com economias emergentes isso não pode ser considerado 100% correto, dado que estes possuem baixa solidez em seus fundamentos macroeconômicos, como alta inflação, maior volatilidade em suas taxas de juros, câmbio e menor previsibilidade de crescimento econômico. A compensação esperada pelo investidor em ativos mais arriscados, então, pode ser resumida novamente ao prêmio de risco no qual será obtida quando subtrai- se a taxa livre de risco (Rf) da taxa de risco de mercado (Rm). Logo, o prêmio de risco é calculado a partir da seguinte fórmula: Prêmio de risco = Rm – Rf 33 O prêmio de risco, portanto, revela o excesso de retorno que o investidor seria capaz de obter caso investisse em ativos expostos ao risco de mercado, isto é, sujeitos a volatilidade de índices de preços, podendo ser estes representados por preços de ações, curvas de juros, taxas de câmbio, volatilidades e correlações. É necessário, ainda, acrescentar o índice Beta (β) na formulação, dado que este é o principal motivo pelo qual alguns ativos possuem prêmio de risco maior do que outros. Assim, o Beta (β) tem a função de ser o principal indicador que mede a sensibilidade de um ativo em relação ao comportamento de uma carteira teórica de investimentos. Ou seja, o quanto de risco sistémico um determinado ativo possui se comparado a outro ativo médio (Ross, 2013). Em outras palavras, caso o Beta (β) de um ativo financeiro seja igual a 1, isto significa que ele tem a mesma variação do benchmark como é o caso do índice Bovespa, (carteira teórica que visa medir o desempenho de uma cesta de ações brasileiras, de acordo com critérios de liquidez e capitalização por exemplo). Desta maneira, quanto maior for o Beta, mais arriscada é a carteira avaliada. Por consequência, quanto menor for o (β), mais conservador será o ativo objeto, uma vez que este oscilará menos que o seu índice de referência. Portanto, é válido lembrar que quando o beta for igual a zero, os retornos são totalmente não correlacionadoscom o benchmark sugerido. Para o cálculo correto de Beta, será necessário a utilização de um modelo estatístico observado na equação abaixo: 𝛽 = 𝐶𝑜𝑣𝑎𝑟𝑖â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑐𝑜𝑚 𝑜 𝑏𝑒𝑛𝑐ℎ𝑚𝑎𝑟𝑘 𝑉𝑎𝑟𝑖â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑏𝑒𝑛𝑐ℎ𝑚𝑎𝑟𝑘 Por fim, é importante recordar que, de acordo com Damodaran, o único motivo pelo qual dois ativos possuem CAPM distintas se deve ao fato do beta de ambas ser diferente. Desta forma, podemos complementar a formulação do retorno exigido para um custo de capital próprio a partir do método do CAPM: Re = Rf + 𝛽 (Rm – Rf) 34 Re é o retorno esperado do ativo pelo investidor, Rf é a taxa livre de risco, 𝛽 é o Beta do ativo e Rm é a taxa esperada pelo mercado. O Método CAPM possuí o intuito de auferir qual seria a taxa mínima de atratividade para se investir em um ativo suscetível a riscos de mercado. De acordo com Damodaram (1999), a taxa de títulos públicos norte americana de 10 anos pode ser considerada como o ativo mais seguro do mundo. Por conta disso, o autor dessa monografia irá julgá-la como sendo uma taxa livre de risco. A cotação no dia de hoje desse tipo de título aponta para uma taxa de 1,70% ao ano. Vale ressaltar que, com a recente aceleração da inflação no mundo, as taxas dos títulos público longos tiveram forte alta, dado a maior aversão ao risco por parte dos investidores, fato que que gerou uma forte demanda por ativos de menor risco como o dólar. (Acesso às 14:32hrs do horário de Brasília, no dia 05/01/2022. Disponível em: < https://br.investing.com/rates-bonds/u.s.-10-year-bond-yield>). Para a taxa do prêmio de risco (Rm – Rf), utilizaremos o site do Prof. Aswath Damodaran. Considerando uma média do período entre 1928-2021, obtendo então um valor de 6,69% referente ao mercado americano. Essa taxa referência o excesso de retorno de uma carteira de ações (que representa o risco de mercado) frente a taxa livre de risco, ou o título com vencimento em 10 anos do tesouro estadunidense (T- note). (Acesso às 14:35hrs do horário de Brasília, no dia 05/02/2021. Disponível em: <http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/New_Home_Page/datafile/histretSP.html>). O valor obtido do beta desalavancado, ou seja, aquele composto exclusivamente por capital próprio, é de 0.85 e foi também retirado a partir do site do professor Aswath Damodaran. É válido lembrar que esse número corresponde aos serviços de telecomunicações, segmento no qual se encontra a empresa Oi/SA, objeto de análise no próximo capitulo deste trabalho. (Acesso às 14:45hrs do horário de Brasília, no dia 05/01/2022. A informação está disponível para visualização em: <http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/New_Home_Page/datafile/Betas.html>). 2.5 Beta Alavancado A principal diferença entre uma empresa com um alto índice de endividamento externo é o beta alavancado. Esse índice foi explicado por Damodaran (2014) e leva em consideração que uma companhia ao adquirir capital de terceiros, aumenta, por https://br.investing.com/rates-bonds/u.s.-10-year-bond-yield http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/New_Home_Page/datafile/histretSP.html http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/New_Home_Page/datafile/histretSP.html 35 consequência, o seu risco de falência já que, no caso do capital próprio, o risco é assumido pelo investidor ou acionista. Devemos levar em conta também que os juros pagos por uma empresa, de acordo com Ross (2013), são dedutíveis para fins fiscais. De forma mais sucinta, o governo realiza parte do pagamento desses juros, de acordo com a teoria do tax shield, e, obviamente, isso deve ser incluído na conta. Assim, temos a fórmula do Beta alavancado explicitada abaixo: 𝛽𝐿 = 𝛽𝑈(1 + (1 − 𝑡) ( 𝐵 𝑆 )) O 𝛽𝑈 é o Beta desalavancado visto na seção anterior, 𝛽𝐿por sua vez, faz referência ao Beta alavancado, t indica a alíquota tributária de pessoa jurídica e ( 𝐵 𝑆 ) mostra a relação do endividamento sobre o patrimônio líquido, ou seja, a proporção da dívida sobre o capital próprio da empresa. Com essa equação podemos afirmar que quanto maior for o débito da empresa com o mercado, maior será seu grau de alavancagem em razão de um incremento de 𝛽𝐿. O modelo para obtenção desse beta alavancado será melhor desenvolvido no capítulo seguinte. 2.6 Country Risk Premium (CRP) Também conhecido como risco país, é um tipo de taxa que visa quantificar qual, de fato, o prêmio de risco que investidores exigem por aportar seu capital em países subdesenvolvidos, no qual as empresas são teoricamente mais instáveis no ambiente macroeconômico e político e, portanto, o risco do investidor estrangeiro é maior em detrimento de mercados mais estáveis como o dos Estados Unidos, por exemplo. (De acordo com o site (<https://www.investopedia.com/terms/c/country-risk- premium.asp>) Alguns fatores que embasam esse risco são descritos abaixo: 1. Inflação descontrolada; 2. Mudanças regulamentais frequentes; 3. Instabilidade política; 4. Alta dívida soberana com probabilidade de inadimplência. https://www.investopedia.com/terms/c/country-risk-premium.asp https://www.investopedia.com/terms/c/country-risk-premium.asp 36 Como forma de calcular esse prêmio de risco pelo investimento em cada país, o banco estadunidense J.P. Morgan criou na década de 1990 o chamado Emerging Markets Bond Index Plus (EMBI+). Esse índice de atualização diária realiza a comparação da taxa de juros oferecida em países emergentes com a dos Estados Unidos - que representa, supostamente, o ativo livre de risco. Assim, quanto maior for a diferença, maior é o risco oferecido por aquele país. O risco país calculado do Brasil (EMBI+BR) pode ser obtido no site IPEA data e será utilizado como taxa CRP nesta monografia. O valor obtido foi de 323 pontos, o que equivale a uma taxa de 3,23%. Com isso, podemos auferir que o prêmio de risco de se investir no Brasil, ou o prêmio de risco soberano deverá ser 323 pontos base acima da taxa norte-americana na data desta consulta. (Acesso às 16:45hrs do horário de Brasília, no dia 04/01/2022. A informação está disponível para visualização em: <http://www.ipeadata.gov.br/ExibeSerie.aspx?serid=40940&module=M>). 2.7 Custo do Capital de Terceiros De forma simplificada, é o retorno esperado pelo qual os credores estão dispostos a financiar uma companhia. Segundo Ross et al (2013), a obtenção desse valor pode ser atingida de forma direta ou indireta de modo bem mais simples que o custo do capital próprio. Assim, o custo de capital de terceiros de uma organização visa definir qual a taxa de juros exigida para aquisição de novas dívidas. Porém, conforme expresso na introdução deste trabalho, essa taxa pode ser observada em tempo real nos próprios títulos de dívida da firma, que são negociados no mercado secundário ao sabor da oferta e da demanda dos investidores que são, em sua maioria, institucionais. Outro modo é descobrir o rating de crédito da empresa e comparar com outras de mesma classificação, pois as taxas de juros de dívida recém-emitidas tendem a ser parecidas, dado que o prêmio de risco macroeconômico (risco de taxas de juros, inflação, atividade econômica e câmbio) em um curto espaço de tempo, ceteris paribus, é relativamente constante. Um exemplo da empresa Disney pode ser visto na tabela 1 a seguir. Quanto pior a classificação da firma (Bond Rating) maior será o custo de capital de terceiros exigido (Cost of Debt). http://www.ipeadata.gov.br/ExibeSerie.aspx?serid=40940&module=M 37 Um último fator a ser considerado é o benefício fiscal (tax shield), em outras palavras, o tax shield prevê que os juros pagos pela captação de terceiros são deduzidos da alíquota marginal dos impostos. É como se o próprio governo pagasse uma parte daquele empréstimo de forma indireta. É importante lembrar, contudo, que os títulos de dívidaemitidos referenciam taxas do passado. Portanto, a partir do momento em que foram expedidos e não refletem necessariamente o instante atual. Para evitar esse problema, Ross et al (2013) sugere que os investidores deste tipo de ativo examinem o retorno da dívida do momento passado até os dias atuais. O objetivo dessa seção é justamente mensurar esse retorno para o momento presente. 2.7.1 Cálculo do Custo da Dívida Segundo Damodaran (2014), o modo mais simples de obter o valor final do custo da dívida de uma empresa é a partir de três componentes principais, os quais serão analisados na formulação a seguir: Custo da dívida = Rf + CRP + Company Default Spread Ao avaliar a fórmula supracitada, contata-se que Rf simboliza a taxa livre de risco e CRP a taxa de risco Brasil, ambas já comentadas e explicadas anteriormente. Tanto o CRP quanto a taxa livre de risco (Rf) terão seus valores atribuídos da mesma forma conforme foi explicitado na seção anterior, referente ao custo de capital próprio. 2.7.2 Company Default Spread (CDS) O Company Default Spread (CDS) representa a diferença entre um título de dívida de uma companhia e um ativo livre de risco. Assim, o mercado de capitais avalia toda a estrutura de capital da companhia, a sua capacidade de geração de caixa para os credores, ou seu fluxo de caixa para a firma (FCFF), (Póvoa,2013). Com isso, quanto pior for a percepção do mercado de que a companhia é uma má pagadora de dívidas, pior será o rating de crédito da empresa estudada como dito na seção antecedente. É válido lembrar que o valor do CDS pode variar com o tempo e com o cenário macroeconômico do atual momento. Em situações de estresse ou 38 depressão econômica o investidor tende, obviamente, a exigir um prêmio de risco maior para alocar seu capital em ativos considerados de risco e, diante disso, a taxa de retorno determinada para o ativo em questão aumenta, dado o crescimento do prêmio de risco (CDS). Assim, para que uma empresa reduza suas taxas de financiamento e captação no mercado primário de crédito, é de suma importância que esta busque melhorar seu rating de crédito de A, para A+, por exemplo. Com isso, o spread cobrado pelos investidores tende a diminuir, tornando o custo de capital de terceiros mais atrativo para a empresa. Uma forma de obter o rating de uma empresa, e com isso seu spread, é a partir do Índice de Cobertura de Juros (ICJ), o qual visa medir objetivamente a capacidade de uma empresa honrar com suas obrigações de juros e amortização previstas. O seu valor é igual ao Earnings Before Interests and Taxes (EBIT) da empresa dividido pelos juros da dívida pagos pela mesma. Deste modo, conforme exposto neste trabalho mais acima, o ICJ é um índice que busca quantificar qual a real capacidade de pagamento de juros e amortizações por parte da companhia, de acordo com sua geração de caixa, segundo Póvoa (2003). Avaliado pelos investidores como um índice de solvência, logicamente, quanto maior for seu valor melhor será o rating de crédito da empresa. Para exemplificar, se a companhia possui um ICJ de 5, significa que a geração de caixa operacional cobre 5 vezes o pagamento dos juros mais o principal. O professor Aswath Damoradan mantém em seu site uma tabela relacionando o ICJ da empresa com o seu rating e o spread da mesma. A partir dessa informação, obteremos o fator a ser utilizado na formulação do custo da dívida mencionado anteriormente. No próximo capítulo esse conceito será mais bem desenvolvido. (Site acessado no dia 05/01, às 09:43hrs. Disponível em: <http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/New_Home_Page/datafile/ratings.htm>). De acordo com o software ComDinheiro, o valor médio da ação da empresa Oi no ano de 2020 foi de R$ 1,29. Considerando uma cotação de R$ 1,29, o valor de mercado em dólares da companhia, é de US$1,50 bilhões. Por isso, será utilizada uma tabela de empresas com valor de mercado inferior a US$5 bilhões. http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/New_Home_Page/datafile/ratings.htm 39 Fonte:<http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/New_Home_Page/datafile/ratings.htm> Diante disso, possuímos todas as incógnitas necessárias para a resolução do problema do custo da dívida de uma empresa e o próximo passo será o cálculo do custo do capital próprio. 2.8 Custo do Capital Próprio De forma resumida, o custo do capital próprio de uma firma são os recursos provenientes dos proprietários ou acionistas. É considerado por Damodaram (2013) o mais difícil de ser calculado pois não tem como ser obtido de maneira direta ou indireta pelo fato de um sócio da companhia não ter plena certeza do retorno esperado no investimento. Uma das abordagens sugeridas por Ross et al (2013) é feita a partir da estimativa do prêmio de risco do ativo, ou seja, a diferença entre a taxa de retorno esperada e uma taxa “teoricamente” livre de risco. Esse prêmio, logicamente, deve ser diretamente proporcional ao risco do investimento. Em um mercado competitivo como o atual, o prêmio de risco muda conforme o risco não diversificável, o qual chamamos de beta. Uma suposição interessante a se fazer é comparar duas empresas A e B com estilos de investimento distintos. A primeira é uma gigante do mercado de eletrônicos, mas está à beira da falência com Tabela 1 - Relação de spread e ICJ de uma empresa com valor de mercado inferior a US$5 bilhões http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/New_Home_Page/datafile/ratings.htm 40 suas ações sendo vendidas a um preço muito inferior ao seu valor de liquidação, enquanto a segunda vem do segmento bancário com um crescimento constante, porém estável. Considerando o fato de a empresa A ter uma chance maior de não honrar com o acordo previamente feito, é razoável supor que o retorno teórico exigido pelos acionistas seja consideravelmente maior nela do que na empresa B. 2.8.1 Cálculo do custo do Capital Próprio Diante dos fatores mostrados nas seções anteriores, podemos enfim realizar o cálculo do custo de capital próprio de uma companhia. Essa formulação é uma adaptação da equação demonstrada do CAPM, com o incremento do CRP e do Beta alavancado. De acordo com Damodaran (2014), essa adequação é necessária pelo fato da empresa a ser estudada possuir um endividamento externo que deve ser levado em consideração. O uso do CRP se deve ao fato da companhia a ser estudada estar localizada no Brasil, um país emergente que possui uma taxa risco atrelada a ele como explicitado anteriormente. Custo do capital próprio = Rf + 𝛽𝐿 (Rm – Rf) + CRP Novamente, Rf é a taxa livre de risco, 𝛽𝐿 o beta alavancado, Rm taxa de risco do mercado e por fim CPR é a taxa de risco do país na qual a firma está inserida. Todos os valores da equação anterior já foram devidamente definidos e informados ao decorrer desse capítulo com exceção do 𝛽𝐿 e do cálculo final do custo de capital próprio, que serão demonstrados posteriormente no estudo de caso da OI/SA. 2.9 Weighet Average Cost of Capital (WACC) Também conhecido como custo médio ponderado do capital, ou taxa de desconto, o Weighted Average Cost of Capital (WACC) Pode ser entendido como a combinação entre o custo de capital próprio e de terceiros de uma determinada firma. 41 De acordo com Ross et al (2013), ele representa, ainda, o retorno total que a empresa deve obter e retorno sobre seu ativo existente para manter o valor de suas ações. De modo simplificado, se uma firma apresenta retornos de 18% e tem um WACC de 10%, isso significa que a empresa está gerando 8% de retorno sobre cada real investido. Para o cálculo do WACC, é necessário ainda levar em conta a alíquota tributária, conforme mencionado anteriormente no tópico sobre o beta alavancado. Portanto, quando uma empresa opera com capital de terceiros, uma parte desse valorpoderá ser abatido dos impostos futuramente. Em síntese, o custo de capital de uma empresa pode ser apresentado como na formulação a seguir: Custo de capital = 𝐵 𝐵+𝑆 𝑅𝑏(1 − 𝑡) + 𝑆 𝐵+𝑆 𝑅𝑠 Nesse cálculo, S representa o valor de mercado do capital próprio da empresa (Stocks), B indica o valor de mercado da dívida (Bond), Rs é o custo do capital próprio e Rb o custo de dívida, enquanto (1- t) simboliza a alíquota tributária de pessoa jurídica, mais conhecida como Tax Shield. O valor da taxa do imposto corporativo atual no brasil (t) foi escolhido como sendo 34% para a realização desse trabalho de monografia. (Dado colhido no dia 30/12/2021 às 16:05hrs do horário de Brasília. Disponível em: <https://www.internationaltaxreview.com/article/b1ky4shpfqhsy4/pref225cio- cen225rio-tribut225rio-brasileiro 2020#:~:text=A%20al%C3%ADquota%20nominal%20de%20imposto,e%20acionista s%20%C3%A9%20hoje%20tributado>). https://www.internationaltaxreview.com/article/b1ky4shpfqhsy4/pref225cio-cen225rio-tribut225rio-brasileiro%202020#:~:text=A%20al%C3%ADquota%20nominal%20de%20imposto,e%20acionistas%20%C3%A9%20hoje%20tributado https://www.internationaltaxreview.com/article/b1ky4shpfqhsy4/pref225cio-cen225rio-tribut225rio-brasileiro%202020#:~:text=A%20al%C3%ADquota%20nominal%20de%20imposto,e%20acionistas%20%C3%A9%20hoje%20tributado https://www.internationaltaxreview.com/article/b1ky4shpfqhsy4/pref225cio-cen225rio-tribut225rio-brasileiro%202020#:~:text=A%20al%C3%ADquota%20nominal%20de%20imposto,e%20acionistas%20%C3%A9%20hoje%20tributado https://www.internationaltaxreview.com/article/b1ky4shpfqhsy4/pref225cio-cen225rio-tribut225rio-brasileiro%202020#:~:text=A%20al%C3%ADquota%20nominal%20de%20imposto,e%20acionistas%20%C3%A9%20hoje%20tributado 42 3.0 METODOLOGIA A metodologia utilizada nesse trabalho se baseia no livro publicado em 1998 por Matarazzo, chamado “Análise Financeira de Balanços” e no artigo publicado pelo professor Aswath Damodaran em 2013 chamado “Capital Structure: Finding the Right Financing Mix”, bem como também no livro “Fundamentos de Administração Financeira”, publicado por Ross e Westerfield (2014). Portanto, foi com base na junção de uma série de teorias e de dados que chegaremos a uma conclusão abrangente acerca da sustentabilidade da dívida da OI/SA, com objetivo de auferir a real saúde econômico-financeira da companhia e concluir se de fato a empresa precisará de aportes de capital, novas emissões de ações, mais emissões de dívida ou se o quadro atual é sustentável à médio longo prazo. Para tanto, foram utilizados os clássicos indicadores de balanço referentes a liquidez da companhia, endividamento, lucratividade, alavancagem bem como também foi calculado o custo total de capital da empresa em dólares, considerando- se o prêmio de risco Brasil e todos os empecilhos que o pais se encontra. Desta forma, será possível compreender detalhadamente em qual grau de endividamento encontra- se a organização. Considerando que todo negócio possui uma relação de dívida/capital próprio, será avaliado tanto o nível de endividamento e alavancagem da OI/SA, além do custo da dívida da companhia hoje, de acordo com as últimas demonstrações de resultado divulgadas pela companhia. Ademais, será possível compreender também, diante da ótica do investidor, o motivo pelo qual a empresa encontra-se em recuperação judicial, uma vez que a companhia era um dos maiores players do setor de telecomunicações no Brasil. Ao final do trabalho, o autor, por sua vez, buscou avaliar de forma especifica todos os indicadores e de forma abrangente a situação da companhia com o objetivo de concluir de forma racional qual seria o melhor caminho para a empresa, mediante toda exposição previamente realizada. 43 4.0 ESTUDO DE CASO OI/SA A empresa OI/SA é, hoje, um dos maiores players do setor de telecomunicações no Brasil. Com intuito de superar o seu atual status de ‘recuperação judicial’, a gigante do setor traçou um plano estratégico bastante especifico e que engloba, logicamente, o desenvolvimento tecnológico do mercado em que se encontra. De olho no crescimento do mercado de fibra ótica no brasil e no mundo, a OI/SA optou por vender a sua operação de telefonia móvel no ano de 2021 para as suas três maiores concorrentes, por R$ 16,5 bilhões. Entretanto, esse movimento não foi à toa. O conselho de administração da companhia junto de sua diretoria executiva enxergou, por meio de um detalhado plano de recuperação, uma maneira de capitalizar a empresa para se posicionar de forma inteligente no mercado de telecomunicações, por meio da fibra ótica. O chamado fiber to the home é, hoje, o maior trunfo da empresa. Diante do entendimento de que boa parte da receita bruta da companhia dependia de telefonia fixa, que está em extremo declínio a anos, os executivos da OI/SA precisavam, de alguma forma, estancar essa queda de receitas. Portanto, em 2018 a empresa apresentou um plano estratégico com foco no investimento massivo em fibra ótica, entendendo que essa seria a melhor forma de se posicionar no mercado, dado que o novo 5G necessitará desse material para conectar as grandes antenas e revolucionar o mundo digital. Assim, a empresa concluiu que os antigos cabos coaxiais não faziam mais sentido e começou um processo de enorme investimento de capital na fibra. Nesse plano, considerando a baixa disponibilidade de recursos (caixa) da empresa e também seu grau de endividamento, que compromete o fluxo de caixa para investimentos, o plano estratégico elaborado em 2018 também contemplava a alienação de diversos ativos com o objetivo de gerar caixa para investir. A Companhia realizou então, ao longo dos últimos anos, a venda de participações em empresas fora do pais, torres, data-centers, sua operação de TV bem como também das operações de telefonia móvel. O Setor de telecomunicações, por sua vez, é um segmento extremamente volátil, visto a alta necessidade de mudanças tecnológicas que necessitam claramente de investimentos de capital extremamente vultuosos para tornar os negócios 44 competitivos e não obsoletos. Porém, conforme supracitado no início deste trabalho, a OI/SA não foi capaz de investir pesadamente em mudanças ao longo da última década. Assim, a companha perdeu competitividade nos três principais setores em que atua (telefonia móvel, telefonia fixa – já em extinção e banda larga). Por questões políticas e decisões equivocadas, o conselho de administração da companhia junto de seus executivos priorizou a distribuição de altos dividendos ao invés de realizar reinvestimentos e desalavancar a companhia, além de alguns escândalos revelados junto ao governo federal. Diante disso, veremos a seguir qual a real necessidade de captação de recursos por parte da companhia e principalmente qual é, de fato, o grau de alavancagem econômico financeira da empresa, que se encontra em recuperação judicial desde o ano de 2016. Dentro do mundo das finanças, algumas companhias em fases de sua existência se encontram estagnadas no seu processo de crescimento. Portanto, com o objetivo de sair da inércia em um cenário cada vez mais competitivo, diante de um mundo globalizado e com menores assimetrias de informação, as empresas possuem cada vez mais necessidades de buscar novas fontes de obtenção de recursos para alavancar o desenvolvimento do seu negócio. Existem duas principais maneiras para captação de recursos atualmente para empresas. A primeira se baseia na contração de dívidas externas e a segunda é o uso do seu capital próprio. De acordo com Ross et al (2013), o custo do capital de uma companhia é a combinação dos retornos exigidos para remunerar tanto os acionistas quanto credores da desta. Assim, é de suma importância ressaltar que a escolha de uma proporção errada de capital, isto é, excesso de dívida externabem como expansão descontrolada de ações pode significar um aumento excessivo nos gastos sob a pena de perder competitividade no mercado. Além disso, é de extrema importância que a alta administração da companhia tenha definido claramente o destino do montante adquirido – seja por emissão de dívida ou de ações – com intuito de reduzir riscos, uma vez que, com o advento de melhores práticas de governança corporativa, a transparência por parte dos gestores tem ganhado cada vez mais destaque entre os investidores, podendo, inclusive, reduzir o custo de captação da organização. 45 5.0 ANÁLISE DE RESULTADOS Com objetivo de avaliar qual é, de fato, o grau de endividamento da companhia e o real custo que gera para o acionista, temos que calcular alguns indicadores chave para avaliação da estrutura de capital da empresa. Portanto, devemos construir uma análise acerca de tudo que envolve a estrutura de capital da empresa. 5.1 O Balanço Patrimonial Quadro 1 - Balanço patrimonial OI/SA 2018,2019 e 2020 Valores em R$ milhões 2018 2019 2020 TOTAL DO ATIVO 65.438 71.892 73.840 Ativo Circulante 21.314 17.993 15.106 Caixa e Equivalentes de Caixa 4.385 2.082 4.350 Aplicações Financeiras 202 184 194 Instrumentos Financeiros Derivativos - - Contas a Receber 6.517 6.335 5.050 Estoques 318 327 390 Tributos Correntes e a Recuperar 621 543 365 Outros Tributos 803 1.089 1.882 Depósitos e Bloqueios Judiciais 1.716 1.514 1.096 Ativos Mantidos para Venda 4.923 4.391 113 Outros Ativos 1.829 1.528 1.667 Ativo Não Circulante 44.124 53.899 58.733 Realizável a Longo Prazo 8.632 10.856 12.722 Outros Tributos 716 2.996 1.619 Aplicações Financeiras 37 34 10 Depósitos e Bloqueios Judiciais 7.019 6.651 6.233 Outros Ativos 860 1.175 4.860 Investimentos 118 134 124 Imobilizado 28.426 38.911 41.433 Intangível 6.948 3.998 4.455 TOTAL DO PASSIVO 65.438 71.892 73.840 46 Passivo Circulante 10.688 11.836 12.050 Fornecedores 5.226 5.594 4.543 Arrendamentos a Pagar 1.510 1.689 Empréstimos e Financiamentos 673 326 426 Cessão de Crédito – Sistel 197 Instrumentos Financeiros - 1 - Pessoal, Encargos Sociais e Benefícios 907 853 951 Provisões 681 548 782 Provisões para Fundo de Pensão - - - Tributos a Recolher e Diferidos 27 67 21 Outros Tributos 1.034 887 1.407 Dividendos e Juros sobre Capital Próprio 6 6 18 Passivos Associados a Ativos Mantidos para Venda 527 494 42 Autorizações e Concessões a Pagar 86 59 88 Outras Contas a Pagar 1.522 1.492 1.886 Passivo Não Circulante 31.854 42.259 54.020 Fornecedores 3.593 3.293 5.021 Arrendamentos a Pagar 6.640 6.929 Empréstimos e Financiamentos 15.777 17.900 25.919 Cessão de Crédito - Sistel 180 Instrumentos Finaceiros - - Tributos a Recolher e Diferidos - 0 - 0 Outros Tributos 629 1.224 1.328 Provisões 4.358 4.704 5.092 Provisões para Fundo de Pensão 579 633 702 Autorizações e Concessões a Pagar - - - Outras Contas a Pagar 6.917 7.865 8.849 Patrimônio Líquido 22.896 17.797 7.770 Fonte: Elaborado pelo Autor Segundo Brigham e Ehrhardt (p. 77, 2010) “para entender o desempenho de uma empresa e prever onde esse desempenho a levará, é necessário avaliar as demonstrações contábeis.” Observando de forma isolada o balanço patrimonial percebe-se, em um panorama ano contra ano, uma queda do patrimônio líquido em detrimento de um 47 aumento do endividamento de curto prazo (passivo circulante) e também de longo prazo (passivo não circulante). 5.2 Avaliação dos Índices de Liquidez Fonte: Elaborado pelo Autor Avaliando os indicadores de liquidez da OI/SA, Nota-se que todos os índices apresentaram uma grande redução. Desta forma, é possível afirmar que a empresa passou, em dois anos, a apresentar menor capacidade de sanar suas obrigações. Esta diminuição de capacidade de pagamento é explicada em partes pela LC, onde pode ser observado a variação do ativo circulante e do passivo circulante. Em 2018, a companhia possuía R$ 21,3 bilhões de AC. Já em 2020, conforme sensibilizado no balanço, o ativo circulante teve declínio de 29%, para R$ 15,1 bilhões. Já o passivo circulante anotou aumento de 12,7% em 2020 ante 2018, somando R$ 12,05 bilhões. Ademais, por meio a liquidez geral (LG) da OI/SA, nota-se que houve um crescimento no ativo total da companhia, que saiu de R$ 65,4 bilhões de reais para R$ 73,8 bilhões. Todavia, a liquidez geral da empresa piorou, tendo em vista o fato de que esse crescimento do ativo circulante se deu financiado por um aumento de dívida de longo prazo, uma vez que o passivo total da companhia, nos últimos 3 anos, anotou um crescimento extremamente significativo, saindo de R$ 31,8 bilhões para R$ 54 bilhões, o que representa um aumento de 2018 a 2020 de cerca de 70% em 2 anos. De acordo com estudos externos, de fato a empresa necessitou de dois empréstimos ponte, com altas taxas de juros dado o seu nível de alavancagem, para honrar com sua queima de caixa que ainda é muito alta. Efetivamente, todos os indicadores de liquidez da companhia apontam para uma piora na sua capacidade de pagamento. Em linhas gerais, pelos índices de liquidez e no próprio balanço patrimonial, o passivo total (PC+PNC) cresceu em Quadro 2 - Índices de liquidez OI/SA 48 velocidade muito maior o ativo total da companhia (AC+ ANC). Sendo assim, a empresa possui recursos de longo prazo aplicado nas contas de curto prazo do ativo, mas, de acordo com a presente análise, parte desse endividamento foi utilizado para financiar os prejuízos
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