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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENFERMAGEM CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO ENFERMAGEM EM ESTOMATERAPIA NEIRIDIANE MIRANDA CONVIVER COM FERIDA CRÔNICA: UMA ABORDAGEM COMPREENSIVA Belo Horizonte 2020 NEIRIDIANE MIRANDA CONVIVER COM FERIDA CRÔNICA: UMA ABORDAGEM COMPREENSIVA Belo Horizonte 2020 Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Enfermagem em Estomaterapia da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Estomaterapia Orientadora: Profa. Dra. Miguir Terezinha Vieccelli Donoso. Miranda, Neiridiane. M672c Conviver com ferida crônica [manuscrito]: uma abordagem compreensiva. / Neiridiane Miranda. - - Belo Horizonte: 2020. 31 f. Orientador (a): Miguir Terezinha Vieccelli Donoso. Área de concentração: Enfermagem. Monografia (especialização): Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Enfermagem. 1. Ferimentos e Lesões/enfermagem. 2. Ferimentos e Lesões/psicologia. 3. Percepção. 4. Compreensão. 5. Autoimagem. 6.Qualidade de Vida. 7. Cuidados de Enfermagem. 8. Metanálise. 9. Dissertação Acadêmica. I. Donoso, Miguir Terezinha Vieccelli. II. Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Enfermagem. III. Título NLM: WY 100 Fabiene Letízia Alves Furtado | Bibliotecária CRB-6/2745 FOLHA DE APROVAÇÃO ALUNO(A): NEIRIDIANE MIRANDA TÍTULO DO TRABALHO: “CONVIVER COM FERIDA CRÔNICA: UMA ABORDAGEM COMPREENSIVA”. BANCA EXAMINADORA: AVALIADOR(A):PROF.ª DR.ª ELINE LIMA BORGES ASSINATURA: _________________________________________________ AVALIADOR(A): PROF.ª DR.ª SELME SILQUEIRA DE MATOS ASSINATURA: _________________________________________________ ORIENTADOR (A): PROFª DRª ROBERTA VASCONCELOS MENEZES AZEVEDO ASSINATURA: _________________________________________________ Aprovada em 27 de julho de 2020. Belo Horizonte 2020 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Estratégia 1 portal da BVS.......................................................................... 20 Quadro 2 Estratégia 2 portal da BVS.......................................................................... 20 Quadro 3 Sinóptico...................................................................................................... 22 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BVS Biblioteca Virtual em Saúde DESC Descritores em Ciências da Saúde E Estudo HU Hospital Universitário SOBEND Sociedade Brasileira de Enfermagem em Dermatologia SOBEST Associação Brasileira de Estomaterapia UFPE Universidade Federal de Pernambuco web Sistema de Informações Ligada DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a DEUS, por me dar força, paciência e sabedoria quando pensei em desistir, e à minha família, que soube compreender a minha ausência em tantas noites e fins de semana. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, o Senhor de todas as coisas visíveis e invisíveis; aos meus pais queridos pelo ensino das primeiras lições da vida; à minha família amada pelo apoio e compreensão nos momentos em que a minha ausência se justificou para a concretização deste objetivo; a todos aqueles que, neste último ano, passaram a fazer parte da minha história; aos amigos, com os quais compartilho este trabalho; a todos os professores pela dedicação ao ensinar e compartilhar as suas experiências e conhecimentos, essenciais para o meu crescimento profissional e pessoal; à minha orientadora, Prof. Dra. Miguir Terezinha Vieccelli Donoso, pela dedicação e paciência; e às demais pessoas que estiveram na minha trajetória de formação, pelo apoio e encorajamento, registro o meu reconhecimento com um agradecimento sincero: obrigada. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 12 2. OBJETIVO ......................................................................................................................... 14 3. REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................................... 15 4. MATERIAL E MÉTODO ................................................................................................. 18 4.1 Tipo de Estudo .............................................................................................................. 18 4.2 População e Amostra .................................................................................................... 18 4.3 Critérios de inclusão e exclusão na amostra ............................................................... 18 4.4 Coleta de Dados ............................................................................................................. 18 4.5 Instrumento de Coleta de Dados ................................................................................. 19 4.6 Estratégia de busca ....................................................................................................... 19 5. RESULTADOS ................................................................................................................... 21 6. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 23 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 27 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 28 APÊNDICE 1. Instrumento de identificação ....................................................................... 31 RESUMO As feridas crônicas são aquelas que não ocorrem ao longo do processo de reparação ordenado e apresentam complicações durante um período de três meses. O enfermeiro, nesse processo desempenha um papel importante na assistência – que deve ser ampla e holística – à pessoa com ferida crônica. O profissional sempre deve estar atento à existência de afecções de base, à utilização de medicamentos, processos infecciosos, aspectos nutricionais e tudo que pode influenciar para a cronicidade da lesão. Objetivo: Compreender os significados de se conviver com feridas crônicas. Método: Trata-se de uma metassíntese qualitativa sobre a compreensão do significado de se conviver com ferida crônica. Foram utilizadas como população e amostra artigos primários, de abordagem qualitativa, indexados nas bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Resultados: dos 5 artigos foram extraídas 14 categorias que compuseram esta metassíntese os artigos 1, 2, 3 e 4 utilizados como referencial metodológico na análise temática e o artigo 5 utilizou, para a fenomenologia, os artigos publicados entre 2011 e 2019. Conclusão: Ao cuidar de uma pessoa com lesão crônica, deve-se observar que não se trata apenas de uma lesão comum de quem convive com ela, o cuidado se mostra inerente à necessidade de se conhecer o paciente como um todo, pois a forma de tratar as lesões em suas diferentes formas exige procedimentos diferentes em seres humanos que merecem um olhar diferenciado, absolutamente necessário aos olhos do enfermeiro, e, principalmente, do enfermeiro estomaterapeuta. Descritores: Enfermagem; Feridas; Significado e Autopercepção.ABSTRACT Chronic wounds are those that do not occur during the orderly repair process and present complications over a period of three months. The nurse, in this process, plays an important role in the assistance - which must be broad and holistic - to the person with a chronic wound. The professional must always be aware of the existence of basic conditions, the use of medications, infectious processes, nutritional aspects and everything that can influence the chronicity of the injury. Objective: To understand the meanings of living with chronic wounds. Method: This is a qualitative meta-synthesis about understanding the meaning of living with a chronic wound. Primary and qualitative articles were used as population and sample, indexed in the Virtual Health Library (VHL) databases. Results: of the 5 articles 14 categories were extracted that this meta-synthesis comprised articles 1, 2, 3 and 4 used as a methodological framework in the thematic analysis and article 5 used, for phenomenology, articles published between 2011 and 2019. Conclusion: When caring for a person with a chronic injury, if one observes that it is not just a common injury to those who live with it, care is inherent to the need to know the patient as a whole, as the way to treat injuries in their different forms requires different procedures in human beings that deserve a different look, absolutely necessary in the eyes of the nurse, and, especially, of the stoma nurse. Descriptors: Nursing; Wounds; Meaning and Self-perception. 12 1. INTRODUÇÃO As feridas são definidas como interrupções da integridade do tecido conjuntivo que reveste as cavidades úmidas do corpo, decorrente de traumas ou de afecções clínicas (BRITO et al., 2013). Já para Vieira e Araújo (2018, p. 2), “as feridas crônicas, são aquelas que não conseguem avançar no processo de reparação ordenado para produzir integridade anatômica e funcional durante um período de três meses”. O retardo neste processo de cicatrização das feridas, é um problema de saúde pública que impacta na recuperação do paciente e aumenta significativamente os custos da assistência sanitária (OLIVEIRA; CASTRO; GRANJEIRO, 2013). Dessa forma, o enfermeiro desempenha um papel crucial no auxílio à pessoa com feridas crônicas é responsável por realizar todas as etapas do cuidado, desde o acolhimento do paciente, a avaliação da ferida, a escolha do tratamento a ser utilizado e o acompanhamento até a resolução do problema. Para tal, devem-se utilizar diretrizes e recomendações científicas. Segundo Borges et al. (2016), para feridas crônicas – como úlcera venosa, úlcera arterial, lesão por pressão e úlceras do pé diabético – estão disponíveis várias orientações internacionais direcionadas à prevenção e tratamentos destes ferimentos. Na abordagem clínica dos pacientes com lesões crônicas, os profissionais de saúde devem estar atentos à existência de afecções de base (as úlcera venosa e úlceras de perna são relacionadas a várias doenças como; diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, doença arterial periférica, entre outras), utilização de medicamentos, processos infecciosos, aspectos nutricionais e tudo aquilo que pode influenciar na cronicidade da lesão (BORGES; NASCIMENTO FILHO; PIRES JUNIOR, 2018). A prática de cuidados aos pacientes com feridas crônicas é uma especialidade dentro da enfermagem, reconhecida pela Sociedade Brasileira de Enfermagem em Dermatologia (SOBEND) e Associação Brasileira de Estomaterapia (SOBEST) e, ao mesmo tempo, é um desafio que requer conhecimento específico, habilidade e abordagem holística (FERREIRA; BOGAMIL; TORMENA, 2008). Nessa perspectiva, o planejamento da assistência de enfermagem à pessoa com feridas crônicas deve ser amplo e holístico. Porém, nas publicações sobre o tema, identifica-se o predomínio do modelo biomédico, reduzindo o foco do cuidado à lesão sem uma abordagem integral ao indivíduo (FIGUEIREDO; ZUFFI, 2012). Este foi considerado o problema de 13 pesquisa deste estudo, uma vez que uma prática holística envolve uma compreensão mais ampla do cotidiano da pessoa cuidada pelo enfermeiro. Desta forma, a pergunta norteadora deste estudo foi: Quais são os significados e a percepção de se ter uma ferida crônica? Entender o universo da pessoa – indo além das questões clínicas e epidemiológicas – mostra-se imprescindível, uma vez que há muitos aspectos que precisam ser revistos no modo de cuidar da pessoa com ferida crônica, incluindo as dimensões físicas, psicológicas, socioeconômicas, culturais, as condições dos serviços e a capacitação dos profissionais que atendem a essa clientela. Essas pessoas sofrem interferências em sua qualidade de vida devido à cronicidade do sofrimento imposto pela doença, que pode passar despercebido pelos profissionais de saúde, cuidadores e familiares (BRITO et al., 2013). Segundo Leal et al. (2017), as pessoas acometidas por lesões crônicas sofrem com as mudanças na aparência física, desconforto na vida diária e nas relações sociais. Esses sentimentos vivenciados pelas pessoas estão ligados diretamente à forma de adaptação que cada um tem e pelas alterações que ocorrem no cotidiano. Justifica-se que uma abordagem qualitativa, no estudo de pessoas com feridas crônicas, irá contribuir de forma ampla e integral com o planejamento da assistência de enfermagem. Assim, este estudo propõe compreender os significados de se conviver com feridas crônicas. 14 2. OBJETIVO Compreender os significados de se conviver com feridas crônicas. 15 3. REVISÃO DA LITERATURA Atualmente, as feridas crônicas são consideradas um problema grave para a saúde pública, implicando em limitações, gerando impactos na saúde mental, na vida social e econômica das pessoas, uma vez que ela causa desgastes nas pessoas, alteração das rotinas devido às sessões diárias de curativos, baixa de autoestima, interferência nas tarefas diárias, tristeza, depressão, ansiedade, isolamento social, vergonha (LEAL et al., 2017). Apresentada como um destaque na vida cotidiana, a saúde mental é um fator fundamental para o bem-estar de todo ser humano. Desta forma, o cuidado à saúde das pessoas que convivem com feridas crônicas corresponde a uma grande dificuldade a ser enfrentada, não só para quem sofre com a doença, mas também para a família, que não sabe como lidar com a situação. Esse fator pode se tornar um sofrimento físico e psíquico, resultando também em um grande desafio a ser enfrentado pelos profissionais da saúde, que lidam com pacientes de feridas crônicas, que, muitas vezes, resistem ao tratamento devido às dificuldades (WAIDMAN et al., 2011). Segundo Waidman et al. (2011), geralmente, as lesões crônicas provocam desgastes constantes aos pacientes, uma vez que são ferimentos com tratamento de longa duração ou até mesmo permanentes, que podem acarretar dependência contínua de medicamentos, curativos, acompanhamento, e, muitas vezes, ser irreversível e degenerativa.Diante disso, é possível que ocorra uma serie de impactos na vida dos pacientes, tais como isolamento social, problemas com a autoimagem, instigando a desmotivação e fazendo com que esses pacientes se afastem das pessoas e da convivência em sociedade (LEAL et al., 2017). A convivência com a ferida crônica pode trazer uma série de mudanças na vida do indivíduo, uma vez que, ao apresentar aquela lesão, essa pessoa necessitará de uma adaptação em sua rotina devido às sessões diárias de curativos, modificações na atividade física e alterações na deambulação, dependendo do local do ferimento e privações alimentares (WAIDMAN et al., 2011). Ainda segundo Waidman et al. (2011),todos esses fatores podem levar a pessoa a desenvolver sentimentos negativos que levam a tristeza, frustações e insatisfação com a vida, constrangimento, alterações na vida sexual e depressão. Joaquim et al. (2018) mencionam que a presença de lesões pode afetar membros do corpo do indivíduo, podendo provocar interferências na realização de tarefas do dia a dia, trazendo limitações na locomoção, fazendo com que essa pessoa dependa de outras pessoas. Para aquelas que ainda trabalham, muitas vezes, o rendimento fica comprometido, dificultando 16 a questão de se dedicar ou permanecer no trabalho, devido a essas restrições físicas e abalo do estado emocional. Nesse sentido, esses fatores podem tornar-se um grande obstáculo não só para a realização das atividades cotidianas, mas também para o tratamento e acompanhamento clínico devido às limitações físicas e, principalmente, emocionais (JOAQUIM et al., 2018). Pesquisas revelam que apresentar uma lesão crônica traz uma série sentimentos à pessoa, tais como ansiedade, depressão, frustação, preconceito e isolamentos sociais que a levam a resistir ou até mesmo desistir do tratamento (JOAQUIM et al, 2018). Liberato et al. (2017) afirmam que, diante de relatos, se pode evidenciar que pessoas com ferida crônica sentem-se constrangidas e acreditam que estão incomodando outras pessoas. Além disso, adquirem sensação de isolamento, o que dificulta seu convívio social. Esse constrangimento faz com que a pessoa com lesão crônica sinta vergonha de si mesma e de sua aparência, pois se sente incomodada com seu próprio corpo, agregando, assim, um sentimento de inferioridade, às vezes culminando com a desistência do tratamento. Estudo de Lara et al. (2011) revela que o paciente acometido pela lesão crônica lida com questões relacionadas à queda de autoestima, sentimento de impotência, incapacidade para o trabalho e isolamento social, cujos sofrimentos psíquicos interferem na sua recuperação. Waidman et al. (2011) relatam que a compreensão sobre a convivência com lesões crônicas corresponde às dificuldades relacionadas aos agravos decorrentes do preconceito, dependência para atividades diárias e consequentes alterações no estado emocional. Logo, deve-se promover o bem-estar psicológico das pessoas acometidas, tendo em vista a evolução do quadro clínico. A atenção da pessoa com ferida crônica vai além das intervenções voltadas para as lesões teciduais, ou seja, também se faz necessário trabalhar o lado emocional (WAIDMAN et al., 2011). O apoio dos familiares representa um aditivo importante, o que pode encorajar o paciente para enfrentar as dificuldades, facilitando no processo de tratamento, garantindo, assim, uma melhor adesão ao tratamento (LIBERATO et al., 2017). Ao realizar atendimento a esse público, é fundamental que os enfermeiros estejam atentos à evolução da doença para trabalhar na prevenção de sofrimento emocional e no tratamento adequado das lesões, buscando reduzir os prejuízos que o quadro clínico confere a esses pacientes. Para que isso aconteça, deve haver concentração não só nos cuidados com a lesão, mas também abordar o lado emocional, conhecendo suas reais preocupações, assistindo o paciente como um todo, uma vez que ele se torna o maior prejudicado nos aspectos físicos, 17 emocionais e sociais. A enfermagem deve atentar para as suas fragilidades e tentar proporcionar a esse paciente uma melhor qualidade de vida (JOAQUIM et al., 2018). 18 4. MATERIAL E MÉTODO 4.1 Tipo de Estudo Trata-se de uma metassíntese qualitativa sobre a compreensão do significado de se conviver com a ferida crônica. A metassíntese qualitativa é uma das modalidades de pesquisa bibliográfica que realizam revisões sistemáticas, sendo importante para a busca e definição de alguns aspectos da área de investigação qualitativa (ALENCAR; ALMOULOUD, 2017). 4.2 População e Amostra Para a elaboração desta pesquisa, foram utilizadas como população e amostra artigos primários, de abordagem qualitativa, indexados nas bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). A BVS é uma rede de gestão da informação, intercâmbio de conhecimento e evidência científica em saúde, que se estabelece por meio da cooperação entre instituições e profissionais na produção, intermediação e uso das fontes de informação científica e técnica em saúde, com acesso aberto e universal na Web (BIREME, 2011). O levantamento bibliográfico foi realizado no período de março de 2020. 4.3 Critérios de inclusão e exclusão na amostra Foram incluídas pesquisas realizadas com pacientes acometidos por feridas crônicas, de acordo com a questão norteadora, sob a forma de artigo completo, utilizando a metodologia qualitativa, disponíveis por acesso online, escritos em português, inglês e espanhol, produzidos entre 2009 e 2019. Foram excluídos: artigos quantitativos, trabalhos monográficos, teses, dissertações e artigos de revisão de literatura ou revisão teórica. 4.4 Coleta de Dados Para coleta de dados foi elaborado um instrumento que incluiu dados relativos ao artigo, ao periódico, às categorias geradas pelo estudo e ao referencial metodológico utilizado. 19 Foram utilizados os descritores: Enfermagem; Feridas; Significado; Autopercepção. Todos são descritores encontrados no banco do Descritores em Ciências da Saúde (DESC) da BVS. Além disso, foram utilizados os booleanos ”AND” e “OR”. 4.5 Instrumento de Coleta de Dados Foi utilizado um instrumento de coleta de dados (Apêndice 1) elaborado pela pesquisadora somente para esta finalidade. O instrumento incluiu dados relativos a código do artigo, título do periódico, título do artigo, base de dados, ano de publicação, país, idioma, local de realização da pesquisa, profissão dos autores, titulação dos autores, tipo de estudo, objetivo, categorias geradas pelo estudo, referencial teórico utilizado e síntese dos resultados. 4.6 Estratégia de busca A estratégia de busca foi planejada para recuperar os estudos que contemplassem, pelo menos, um dos termos de cada conceito contido nos temas: feridas; significado; enfermagem e autopercepção. Operadores booleanos: O operador OR foi utilizado dentro de cada conceito para ampliar o escopo da busca. O operador AND foi utilizado para conectar os conceitos e refinar os resultados da pesquisa. O * é caractere curinga utilizado para expandir uma palavra que pode Significado Enferma- gem Autopercepção Feridas 20 ter vários sufixos a partir de um radical (por exemplo, enferm* = enfermagem, enfermeira, enfermeiro, etc.). Quadro 1 – Estratégia 1 portal da BVS: "Wounds and Injuries" OR "Heridas y Traumatismos" OR "Ferimentos e Lesões" OR ferida OR feridas OR ferimento OR ferimentos) AND (perception OR percepción OR percepção OR "Self Concept" OR autoimagen OR autoimagem OR "Amor-Próprio" OR autoestima OR autopercepção) AND ( db:("LILACS" OR "BDENF" OR "IBECS" OR "CUMED" OR "INDEXPSI" OR "colecionaSUS")) AND (year_cluster:[2015 TO 2020]) Número de artigos encontrados: 61 artigos Quadro 2 – Estratégia 2 portal da BVS: "Wounds and Injuries"[All Fields] AND (("perception"[MeSH Terms] OR "perception"[All Fields]) OR "Self Concept"[All Fields]) AND ("2015/01/29"[PDat] : "2020/01/27"[PDat]) Número de artigos encontrados: 140 artigos Por meio estratégia de busca foram encontrados 201 artigos, sendo que 180 foram descartados somente pelo título, restando 16 artigos. Foi feita a leitura dos resumos dos 16 artigos, sendo que 11 foram descartados pelos seguintes motivos: três estavam repetidos; cinco eram artigos de revisão; um era artigo quantitativo; um era artigo reflexivo que não gerava categorias e um não respondia a questão norteadora. Assim, cinco artigos compuseram essa metassíntese. Os cinco artigos estavam contemplados com os seguintes critérios: Ser artigo primário; Qualitativo; Escrito nos idiomas português, espanhol ou inglês; Ter como amostra pessoas adultas e com feridas crônicas; Ter sido escrito entre 2009 e 2019; Que discorressem sobre significados e percepções; Disponíveis gratuitamente online. 21 5. RESULTADOS Os cinco artigos que compuseram esta metassíntese foram denominados de Artigo 1, Artigo 2, Artigo 3, Artigo 4 e Artigo 5. Os Artigos 1, 2, 3 e 4 utilizaram como referencial metodológico a análise de conteúdo e o Artigo 5 utilizou a fenomenologia. Os cinco artigos geraram 14 categorias temáticas, contidas no Quadro Sinóptico. Todos os periódicos são brasileiros e os artigos encontram-se em português. Os artigos foram escritos entre 2011 e 2019. A titulação dos autores variou de graduado a doutor. Quanto ao qualis, os periódicos são classificados pela Capes como: Artigo 1 (Revista do Hospital Universitário (HU): qualis B3 Artigo 2 (Revista de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) online): qualis B2 Artigo 3 (Revista Baiana de Enfermagem): qualis B2 Artigo 4 (Revista Cogitare): qualis B1 Artigo 5 (Revista Gaúcha de Enfermagem): qualis B1 Todos os artigos foram em português e publicados em revistas qualis B1, B2 e B3, as técnicas de coleta de dados foram a entrevista aberta (Artigo 1), entrevista semiestruturada (Artigo 2), técnicas desenhos-estórias com tema e entrevista em profundidade realizada individualmente (Artigo 3), entrevista semiestruturada e análise documental (Artigo 4) e entrevista semiestruturada (Artigo 5). Os cinco artigos encontram-se decodificados e detalhados a seguir, no formato de quadro sinóptico: 22 Quadro 3 – Sinopse dos artigos que compuseram esta metassíntese. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 2020. Título do artigo Periódico e ano de publicação Delineamento metodológico Objetivos da pesquisa Categorias temáticas Artigo 1 Limitações no cotidiano das pessoas com lesão crônica HU Revista 2019 Análise de conteúdo Compreender as limitações no cotidiano das pessoas com lesões crônicas. 1) Reação psicoemocional perante as limitações provocadas pela presença da lesão crônica. Artigo 2 Percepção de pessoas com a ferida crônica Rev enferm UFPE online 2017 Análise de conteúdo Compreender a percepção de pessoas com ferida crônica. 1) Mudança no cotidiano e limitações da pessoa com ferida crônica. 2) O impacto emocional gerado pela ferida. 3) Enfrentamento da doença por meio da religiosidade. Artigo 3 Expressão do luto em mulheres com feridas crônicas de membros inferiores Revista Baiana de Enfermagem 2017 Análise de conteúdo Compreender como as mulheres expressam o luto diante da ferida crônica de membros inferiores. 1) Vivenciando a negação. 2) Vivenciando a raiva. 3) Vivenciando a barganha. 4) Vivenciando a depressão. 5) Vivenciando a aceitação. Artigo 4 Significado da ferida para portadores de úlceras crônicas Cogitare 2011 Análise de conteúdo Compreender o significado da ferida para portadores de úlceras crônicas. 1) Sensações marcantes. 2) O cotidiano e a ferida crônica. 3) O impacto emocional. Artigo 5 O cotidiano do homem que convive com a úlcera venosa crônica: estudo fenomenológico Revista Gaúcha de Enfermagem 2013 Fenomenologia Compreender o cotidiano do homem que convive com a úlcera venosa crônica. 1) Restrições na vida social. 2) Recuperar a integridade da pele e retomar as atividades afetadas pela ferida. Fonte: Artigos selecionados 23 6. DISCUSSÃO As diversas profissões da saúde, especialmente a enfermagem, transitam predominantemente nas relações interpessoais e de assistência à saúde e doença. Por isso, encontram coerência na interação humana e no aprofundamento das experiências individuais possibilitadas pela pesquisa qualitativa (ZIMMER, 2006). Esta metassíntese discorreu sobre significados e percepções de se conviver com ferida crônica. O Artigo 1 apresentou uma única categoria: Reação psicoemocional perante as limitações provocadas pela presença da lesão crônica. Os sentimentos desenvolvidos pelos participantes da pesquisa, frente às limitações, eram, em sua maioria, negativos: tristeza, sofrimento, constrangimento, sensação de deficiência. Porém, todos os nove participantes da pesquisa receberam alta por cura em uma média de cinco meses de tratamento. Assim, com a cicatrização completa, as formas de isolamento social e retraimento foram atenuadas com o retorno da realização das atividades cotidianas (RODRIGUES et al., 2019). Esse aspecto também é contemplado no Artigo 2, na categoria Mudança no cotidiano e limitações da pessoa com ferida crônica. Nesta categoria, torna-se evidente por meio dos discursos que evidenciam as mudanças impostas, principalmente, nas atividades diárias, afazeres domésticos, impossibilidade para o trabalho e lazer. Segundo Waidman et al. (2011), percebe-se que para pessoas com lesão crônica, este agravo pode não ser apenas uma lesão física, mas algo que dói sem necessariamente precisar de estímulos sensoriais, uma marca, uma perda irreparável, ou seja, algo além de uma doença incurável, que fragiliza e, muitas vezes, incapacita o ser humano para diversas atividades, em especial as laborativas. Segundo Gomes et al. (2018), há que se ressaltar que estes pacientes devem ser incluídos em grupos de apoio e rede especializada mais acessível, conferindo-lhes suporte assistencial que garanta atividades e desenvolvimento de vida produtiva e adequada às suas limitações. O Artigo 5 também aborda as limitações que a lesão crônica impõe por meio da categoria Recuperar a integridade da pele e retomar as atividades afetadas pela ferida. Ressalta- se que o Artigo 5 teve como população apenas homens com lesão crônica, no qual os autores, Silva et al. (2013) percebem que, ao refletir sobre os limites impostos ao seu cotidiano pela presença da lesão crônica, o homem tem como expectativa recuperar a integridade da sua pele, o que lhe possibilitará a retomada de suas atividades no âmbito social. Segundo Oliveira et al. (2019), pessoas com lesões crônicas culminam na baixa adaptação ou aceitação e incluindo, ainda, o receio pelo estigma de estar com a lesão, levando-as a desenvolverem problemas relacionados ao isolamento social, ao receio de expor e até mesmo de olhar a ferida. 24 A emoção emergiu no Artigo 2, na categoria O impacto emocional gerado pela ferida e no Artigo 4, na categoria O impacto emocional. No Artigo 4, o desgaste emocional sofrido pelos participantes da pesquisa é explícito. Alguns participantes da pesquisa afirmam que desequilíbrios estão presentes em várias situações, que vão desde a ansiedade e desânimo até a depressão. Já no Artigo 2, os autores descrevem o fato de o portador da lesão crônica sofrer com o preconceito associado à doença em relação às demais pessoas, ou seja, acentuando sentimento de rejeição e autodepreciação, havendo constatação dessa tendência nos depoimentos dos participantes. Diante da cronicidade da lesão, em período de tempo maior ou menor, as lesões podem ocasionar repercussões psicossociais aos pacientes, na medida em que estas resultam em mudança do estilo de vida e dificuldade para o convívio social (GATTI et al., 2011). O Enfrentamento da doença por meio da religiosidade emerge como categoria no Artigo 2. Nos demais artigos, essa categoria não foi citada. Porém, de acordo com Pessini (2007), a crença religiosa constitui uma parte importante da cultura, dos princípios e dos valores utilizados pelas pessoas para dar forma a julgamentos e ao processamento de informações. Pessini (2007) refere que pesquisas têm sido desenvolvidas no sentido de provar que a crença, o cultivo de uma fé e a participaçãoem uma comunidade fazem bem e ajudam as pessoas a viverem mais, ressaltando-se a fé como um fator de saúde. As Restrições na vida social emergem no Artigo 5, e de forma indireta no Artigo 2, na categoria Mudança no cotidiano e limitações da pessoa portadora de ferida crônica. Essas duas categorias fazem alusão à vida social comprometida, ou seja, às restrições que a doença pode trazer, culminando em isolamento social. Frequentemente, o distanciamento entre os indivíduos é intensificado pela visão estigmatizada que a sociedade tem da pessoa com lesão, podendo ter repercussões em seu cotidiano (SALOMÉ, 2010). O Artigo 4 apresenta a categoria O quotidiano e a ferida crônica. Essa categoria diz respeito ao dia a dia modificado, quando se compara o antes e o depois da lesão. Ainda a categoria Mudança no cotidiano e limitações da pessoa portadora de ferida crônica (Artigo 2) compartilha o cotidiano de quem vive nessa condição. Possuir uma ferida crônica traz uma série de mudanças na vida do indivíduo, como isolamento social, necessidade de adaptação às sessões diárias de curativos, alterações na atividade física e deambulação, abstenções alimentares (nutrição inadequada por condições socioeconômicas), uso de medicamentos contínuos e, especialmente, distúrbios de autoimagem (BEDIN et al., 2014). 25 A categoria Sensações marcantes emergiu no Artigo 4 como uma alusão ao cenário das sensações referidas, constituído por dores, dificuldades, medos, esperanças e preconceitos sofridos, conforme explicitado nos discursos abaixo, de pacientes entrevistados: “[...] o que amola muito é a dor; dói muito a perna, dói muito[...]. É porque incomoda, incomoda dia e noite mesmo; é dor forte que queima. Tem dezoito anos que eu vivo sentindo dor direto.” (E1) “Eu já sou muito discriminado por causa dessa ferida [...]. Já houve pessoa de falar, assim, que não poderia sentar no mesmo lugar que eu sentava, nem tampouco comer nas vasilhas que eu usasse.” (E4) Observa-se a marca da dor física no discurso de E1. Em contrapartida, no discurso de E4, a marca referida extrapola para a desvalorização social do indivíduo, que se sente desestruturado, incapaz e segregado, enfrentando o preconceito. Os pacientes com feridas, embora portadores de características comuns que os unem em um grupo especial, são pessoas com necessidades e reações próprias implícitas à sua identidade e subjetividade. Assim, a resposta à problemática causada pelo rompimento da pele guarda relação com as condições pessoais de cada um, tais como a qualidade do suporte familiar, financeiro e assistencial recebido em todas as fases do tratamento, pois, muitas vezes, esses indivíduos convivem com dor, odor, preconceito e isolamento por parte de familiares e amigos (MORAIS; OLIVEIRA; SOARES, 2008). O Artigo 3 traz cinco categorias que merecem ser discutidas entre si: são vivências de negação; raiva; barganha; depressão e aceitação. Segundo as autoras Oliveira, Carvalho e Rodrigues (2017), ao assumir um novo corpo, marcado pela presença da ferida, e, portanto, considerado incompleto, as mulheres participantes vivenciaram a perda de identidade e a necessidade de elaboração de novo referencial de corpo feminino. Desta forma, o luto expressou-se por meio da negação, ira, barganha, tristeza e aceitação. Segundo Tada e Kovacs (2007), o luto seria o processo de elaboração do sentimento de pesar devido à perda de uma pessoa querida, que envolve, isto posto, muita tristeza. Por analogia, a pessoa com lesão crônica vivencia o luto decorrente da perda de um corpo saudável. Essa metassíntese proporcionou uma diferente forma de compreensão do paciente portador de lesão crônica. O estomaterapeuta estuda e cuida de pessoas com feridas, incontinência e estomas. Porém, o atendimento holístico não se limita ao corpo do paciente, mas ao ser humano como um todo. A humanização na assistência tem sido um tema preconizado por várias instituições preocupadas em desenvolver um cuidado integral ao paciente, analisando-o em sua totalidade e dentro de um contexto (LEMOS et al., 2010). 26 A limitação encontrada na realização desta metassíntese foi o baixo número de artigos que preenchiam os critérios de inclusão. Dessa forma, sugere-se que novos estudos qualitativos sejam elaborados, contribuindo com o desvelamento da questão norteadora. 27 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O cuidado humanizado se mostra inerente à necessidade de se conhecer o paciente como um todo. Ao se cuidar de uma pessoa com lesão crônica, deve-se observar que não se trata apenas de uma lesão – mesmo que a complexidade da ferida crônica seja considerada. Trata-se de um universo contido nas categorias geradas pelos artigos aqui pesquisados. Foram apresentadas 14 categorias, distribuídas em cinco artigos que tratavam de um mesmo tema: o universo de quem convive com uma lesão crônica. Aquele conjunto de temas abordados que emergiu nos artigos ora de forma recorrente, ora unicamente em um dos artigos, tem em comum o fato de se tratar de seres humanos, que merecem um olhar diferenciado, absolutamente necessário aos olhos do enfermeiro, e, principalmente, do enfermeiro estomaterapeuta. 28 REFERÊNCIAS ALENCAR, Edvonete Souza de; ALMOULOUD, Saddo Ag. A metodologia de pesquisa: metassíntese qualitativa. Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 25, n. 3, p. 204-220, set. 2017. ISSN 1982-9949. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/ view/9731. Acesso em: 11 ago. 2020. BEDIN, Liarine Fernandes; et al. Estratégias de promoção da autoestima, autonomia e autocuidado das pessoas com feridas crônicas. Rev. Gaúcha Enferm., Porto Alegre, v.35, n.3, p.61-67, Set. 2014. 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Instrumento de identificação Título do artigo: Ano de publicação: Idioma: País: Autores: Base de dados: Titulação do autor principal: Periódico: Qualis: Referencial teórico: Objetivo: Categorias levantadas: Descreve limitações do estudo? Sim_____ Não_____ Quais?
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