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Abelhas Euglossina Hymenoptera, Apidae coletadas em uma monocultura de eucalipto circundada por Cerrado em Urbano Santos, Maranhão, Brasil

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Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(3):285-290, 30 de setembro de 2008
Abelhas Euglossina (Hymenoptera, Apidae) coletadas em uma...
Abelhas Euglossina (Hymenoptera, Apidae) coletadas em uma
monocultura de eucalipto circundada por Cerrado em Urbano Santos,
Maranhão, Brasil
Fernanda N. Mendes, Márcia M. C. Rêgo & Cristiane C. de Carvalho
Departamento de Biologia, Universidade Federal do Maranhão. Av. dos Portugueses, s/n, Campus Bacanga, 65080-580 São Luís, MA.
(fnmodel@yahoo.com.br; regommc@uol.com.br; cristiane_c@yahoo.com.br)
ABSTRACT. Euglossina bees (Hymenoptera, Apidae) collected in an eucalyptus monoculture surounded by Cerrado,
Urbano Santos, MA, Brazil. Males of Euglossina bees were collected in benzil benzoate, eucaliptol, eugenol, methyl salicylate and
vanillin scent baits in an eucalyptus monoculture surrounded by cerrado, located in the municipality of Urbano Santos, Maranhão. The
collections were carried out monthly, from April 2001 to April 2002, between 8 a.m. and 4 p.m., totaling 96 hours of sampling, resulting
in 58 individuals of 3 genera and 10 species. Euglossa Latreille, 1802 was the most abundant genus, followed by Eufriesea Cockerell, 1909
and Eulaema Lepeletier, 1841. The most frequent species were Euglossa cordata (Linnaeus, 1758), Euglossa gaianii Dressler, 1982 and
Euglossa modestior (Dressler, 1982). Eucaliptol was the most attractive chemical bait. The highest frequencies of visits were in the
morning and the highest abundance in September, in the drought period, and December, in the rainy period.
KEYWORDS. Euglossina, eucalyptus monoculture, abundance, diversity, scent baits.
RESUMO. Machos de Euglossina foram coletados por meio de iscas-odores de benzoato de benzila, eucaliptol, eugenol, salicilato de
metila e vanilina em uma monocultura de eucalipto circundada por cerrado, no município de Urbanos Santos, Maranhão. As coletas foram
realizadas mensalmente, de abril de 2001 a abril de 2002, entre 8h e 16h, totalizando 96 horas de amostragem. Foram coletados 58
indivíduos de 3 gêneros e 10 espécies. Euglossa Latreille, 1802 foi o gênero mais abundante, seguido por Eufriesea Cockerell, 1909 e
Eulaema Lepeletier, 1841. As espécies mais freqüentes foram Euglossa cordata (Linnaeus, 1758), Euglossa gaianii Dressler, 1982 e
Euglossa modestior (Dressler, 1982). Eucaliptol foi a essência mais atrativa. As maiores freqüências de visitas ocorreram no período da
manhã e as maiores abundâncias em setembro, no período de estiagem, e em dezembro, no período chuvoso.
PALAVRAS-CHAVE. Euglossina, monocultura de eucalipto, abundância, diversidade, iscas-odores.
As abelhas da Subtribo Euglossina forrageiam em
uma grande diversidade de plantas, sendo consideradas
importantes polinizadoras de algumas espécies de
Orchidaceae, que são polinizadas exclusivamente por
essas abelhas, as quais coletam substâncias odoríferas
em suas flores (WILLIAMS, 1982; WILLIAMS & WHITTEN,
1983). Adicionalmente, a grande diversificação biológica,
abundância e importância destas abelhas para muitos
ecossistemas – associados à atração e captura em iscas-
odoríferas – tornam-as possíveis indicadoras da qualidade
ambiental de áreas naturais ou de conservação (BROWN
JR., 1991).
Diante disso, as abelhas Euglossina são altamente
adequadas para estudos das conseqüências diretas e
indiretas da fragmentação florestal na estrutura e dinâmica
das comunidades de fragmentos florestais (BECKER et al.,
1991). O número de abelhas nas iscas reflete padrões de
emergência e é correlacionado com a visita aos recursos
naturais e, conseqüentemente, pode indicar a atual
abundância de machos de Euglossina (ACKERMAN, 1983).
O Cerrado no Brasil destaca-se como o segundo
bioma em extensão territorial, constituído por uma série
de formações vegetais muito ricas. Porém são poucos os
relatos sobre a fauna de Euglossina em áreas de domínio
do Cerrado (REBÊLO & CABRAL, 1997; REBÊLO & GARÓFALO,
1997). No Maranhão, as áreas de Cerrado vêm sendo
continuamente devastadas e fragmentadas, dando lugar
a monoculturas de eucalipto e soja, as quais não oferecem
os recursos florais necessários ou sítios de nidificação
essenciais para a reprodução das abelhas (MILET-PINHEIRO
& SCHLINDWEIN, 2005).
As abelhas Euglossina são conhecidas por serem
polinizadoras de longa distância em florestas tropicais,
possuindo uma extensão de vôo de mais de 20 km (JANZEN,
1971; ACKERMAN & MONTALVO, 1985). Porém, existem
controvérsias quanto à extensão de vôo entre fragmentos
de florestas e a relação entre a área do fragmento e a
abundância e riqueza de espécies (POWELL & POWELL,
1987; BECKER et al., 1991; TONHASCA et al., 2003).
Neste contexto, objetivou-se identificar e analisar
a composição de espécies da comunidade de abelhas
Euglossina em uma monocultura de eucalipto inserida no
Cerrado, com base nos aspectos de riqueza, abundância
e diversidade.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no município de Urbano
Santos, nordeste do Maranhão (3°12’28’’S; 43º24’12’’N),
em 4 ha de uma monocultura de eucalipto circundada
totalmente por vegetação de cerrado.
O clima da região é tropical megatérmico
(enquadrando-se no tipo Aw’, classificação de Köppen),
com pluviosidade anual em torno de 1.800 mm, sendo
89% desse total concentrado nos meses de dezembro a
maio (e os meses de julho a outubro muito secos); a
temperatura média anual varia entre 26ºC e 27ºC. A
vegetação predominante na região é o Cerrado, ocorrendo
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MENDES et al.
ainda formações de Floresta Estacional Semidecídua e
manchas de vegetação mista, como a mata mesofítica
(BRASIL, 1984).
Foram realizadas coletas mensais de abril de 2001 a
abril de 2002, das 8 às 16 h, totalizando 96 horas de
amostragem. Empregou-se cinco substâncias aromáticas:
benzoato de benzila, eucaliptol, eugenol, salicilato de
metila e vanilina. Essas essências foram colocadas em
chumaços de algodão envolvidos em gaze, amarrados
com barbante e pendurados em um barbante maior, preso
nos troncos dos eucaliptos; as iscas foram dispostas
nesse barbante, entre os eucaliptos, a uma altura média
de 1,5 m do solo e distantes 5 m umas das outras.
As abelhas atraídas foram capturadas com rede
entomológica, colocadas em câmaras mortíferas e
acondicionadas em sacos plásticos com etiquetas
contendo data, tipo de substância odorífera utilizada e
horário em que foram coletadas. Os exemplares foram
identificados pelo Dr. José M. Macário Rebêlo, da
Universidade Federal do Maranhão, e estão depositados
na coleção entomológica do Laboratório de Estudos
sobre Abelhas (LEA) do Departamento de Biologia da
Universidade Federal do Maranhão.
Dados locais de temperatura e umidade relativa
foram tomados nos dias de coleta, a cada hora, através de
um termohigrômetro. Os dados referentes à precipitação
foram obtidos na estação meteorológica na sede da
Comercial e Agrícola Paineiras, a 5 km do local de estudo.
Foi utilizado o test t (p<0,05) para avaliar as
diferenças na proporção de machos capturados entre os
períodos (matutino/vespertino; chuvoso/de estiagem).
O coeficiente de correlação de Spearman (r) foi calculado
para avaliar a relação entre o número de espécimes
encontrados e as médias da temperatura, umidade relativa
e precipitação. O índice de diversidade de Shannon-
Wiener (H’) (PIELOU, 1975) foi empregado para verificar a
diversidade de abelhas na área estudada. Também foi
feito o cálculo da porcentagem de similaridade para
verificar a semelhança entre sítios na mesma localidade
de estudo. Dados resultantes de dois outros sítios (4 ha
de mata mesofítica, isolados por monoculturas de
eucalipto, e 5 ha de mata ciliar) (CARVALHO et al., 2006)
inventariados na mesma localidade e com metodologia
de coleta semelhante ao descrito anteriormente, foram
utilizados na discussão. As distâncias entre os pontos
de coleta em cada sítio são: monocultura de eucalipto-
mata ciliar: 9,7 km; monocultura de eucalipto-mata
mesofítica: 17,9 km; mata ciliar-matamesofítica: 9,5 km.
RESULTADOS
Foram coletados 58 machos distribuídos em três
gêneros e dez espécies (H’=1,71), sendo a maioria (seis)
do gênero Euglossa Latreille, 1802 (Tab. I). A espécie
mais abundante foi Euglossa cordata (Linnaeus, 1758)
(39,6%; n=23), seguida por Euglossa gaianii Dressler,
1982 (25,8%; n=15) e Euglossa modestior Dressler 1982
(12%; n=7).
As cinco essências utilizadas atraíram machos,
sendo a mais atrativa o eucaliptol (82,7%; n=48) e as
menos efetivas a vanilina e o salicilato de metila (1,7%;
n=1). O número total de machos coletados em cada isca
odorífera e o total de iscas visitadas por cada espécie
estão representados na tabela I.
Foram registradas visitas às iscas durante todo o
período de coleta, principalmente das 9 às 10 horas,
quando a temperatura média estava em torno de 29,5º C.
Nos horários seguintes houve queda na freqüência de
visitas, que se manteve baixa por todo o período da tarde,
com temperatura média próxima aos 31º C (Tab. II, Fig. 1).
Euglossa chalybeata Friese, 1925, E. townsendi
Cockerell, 1904, Eufriesea mussitans (Fabricius, 1787),
Eulaema cingulata (Fabricius, 1804) e E. nigrita
Lepeletier, 1841 visitaram as iscas somente no período da
manhã. Euglossa gaianii, E. cordata, E. modestior e
Eufriesea nigrescens (Friese, 1925) também foram
observadas durante a tarde, porém em baixa densidade.
Euglossa melanotricha Moure, 1967 só foi observada
no período entre 12 e 13 horas.
Considerando-se as espécies mais abundantes,
Euglossa gaianii apresentou pico de abundância nos
horários de 9 a10 h e de 11 a 12 h, E. cordata entre 8 e 11
horas, e E. modestior das 10 h às 11 h (Tab. II). Houve
diferença significativa (t=3,49; p<0,05) entre o número de
indivíduos amostrados visitando as iscas durante o
período da manhã (84,4%) e o período da tarde (15,5%).
Tabela I. Número de machos de abelhas Euglossina atraídos por benzoato de benzila (BB), eucaliptol (EC), eugenol (EG), salicilato de
metila (SM) e vanilina (VN), em Urbano Santos, Maranhão.
Espécies BB EC EG SM VN Total % Total iscas
Eufriesea nigrescens (Friese, 1925) 1 2 3 5,1 2
Eufriesea mussitans (Fabricius, 1787) 1 1 1,7 1
Eulaema nigrita Lepeletier, 1841 1 1 1,7 1
Eulaema cingulata (Fabricius, 1804) 2 1 3 5,1 2
Euglossa cordata (Linnaeus, 1758) 2 21 23 39,6 2
Euglossa gaianii Dressler, 1982 15 15 25,8 1
Euglossa modestior Dressler, 1982 2 5 7 12,0 2
Euglossa melanotricha Moure, 1967 1 1 1,7 1
Euglossa chalybeata Friese, 1925 3 3 5,1 1
Euglossa townsendi Cockerell, 1904 1 1 1,7 1
Nº de espécies 2 8 2 1 1
% dos indivíduos capturados 6,8 82,7 6,8 1,7 1,7
Total de indivíduos 4 48 4 1 1 58
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Abelhas Euglossina (Hymenoptera, Apidae) coletadas em uma...
As maiores freqüências ocorreram nos meses de
setembro – no período de estiagem – e dezembro, no
período chuvoso; a maior diversidade também foi
observada no mês de dezembro, havendo alta
concentração de espécies no período chuvoso (n=8)
(Tab. III, Fig. 2). Em relação ao número de indivíduos e de
espécies, não houve diferença significativa entre os
períodos chuvoso e de estiagem (número de indivíduos:
t=-1,08; p<0,05/ número de espécies: t=-1,58; p<0,05).
Cinco espécies foram capturadas somente no
período chuvoso: Euglossa chalybeata, E. melanotricha,
E. townsendi, Eufriesea nigrescens e E. mussitans.
Eulaema nigrita só foi observada no período de estiagem;
as demais espécies ocorreram em ambos os períodos,
sendo que destas E. gaianii e E. cordata foram mais
freqüentes no período chuvoso (Tab. III).
Comparando-se a flutuação mensal das abelhas com
a variação dos fatores ambientais (Fig. 3) foram observadas
correlações positivas entre: número de indivíduos e
temperatura (r = 0,98; p<0,05), indivíduos e umidade (r=0,59;
p<0,05), número de espécies e temperatura (r=0,99; p<0,05)
e espécies e umidade (r=0,61; p<0,05). Não houve correlação
entre número de indivíduos e precipitação, nem entre
quantidade de espécies e precipitação.
DISCUSSÃO
Quanto à composição da fauna de abelhas
Euglossina, resultados semelhantes aos encontrados
neste trabalho foram observados por M. H. M. Magalhães
(dados inéditos) em São Benedito do Rio Preto, município
vizinho de Urbano Santos, em área de mata ciliar (também
no bioma cerrado): seis espécies de Euglossa, duas de
Eulaema, duas de Eufriesea e uma de Exaerete (Tab.
IV). Apesar de nenhum indivíduo deste último gênero ter
sido coletado na monocultura de eucalipto, foi observado
um espécime em campo.
Comparativamente ao estudo realizado em dois
outros sítios (mata ciliar e mata mesofítica) no mesmo
município (CARVALHO et al., 2006), o número de espécies
amostrados na monocultura de eucalipto (n=10) foi
superior ao encontrado na mata mesofítica (n=7) e inferior
ao da mata ciliar (n=16) (Tab. IV). De acordo com a
composição de espécies, as áreas da mata mesofítica e
Tabela II. Número de machos de abelhas Euglossina capturados das 8 às 16h, de abril de 2001 a abril de 2002, em Urbano Santos,
Maranhão, Brasil.
Espécies/ Horários 8-9h 9-10h 10-11h 11-12h 12-13h 13-14h 14-15h 15-16h Total
Euglossa chalybeata Friese, 1925 1 1 1 3
Euglossa gaianii Dressler, 1982 2 6 1 4 1 1 15
Euglossa cordata (Linnaeus, 1758) 7 7 6 1 1 1 23
Euglossa modestior Dressler, 1982 2 3 1 1 7
Euglossa melanotricha Moure, 1967 1 1
Euglossa townsendi Cockerell, 1904 1 1
Eufriesea nigrescens (Friese, 1925) 1 1 1 3
Eufriesea mussitans (Fabricius, 1787) 1 1
Eulaema cingulata (Fabricius, 1804) 3 3
Eulaema nigrita Lepeletier, 1841 1 1
Nº espécies 4 7 5 2 3 2 2 2
Total indivíduos 13 19 12 5 3 2 2 2 58
Figs. 1-3. 1, Número de indivíduos capturados, temperatura e
umidade relativa médias por horário de coleta; 2, número mensal
de indivíduos e de espécies coletados; 3, dados climáticos mensais
(temperatura, umidade relativa e precipitação), de abril de 2001 a
abril de 2002, Urbano Santos, Maranhão, Brasil.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
8-9
h
9 -1
0h
10-1
1h
11-1
2h
12-
13h
13-1
4h
14-1
5h
15-1
6h
Horários de coleta
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
temperatura (ºC) umidade nº indivíduos
N
.
in
d
iv
íd
u
o
s
u
m
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(%
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(º
C
)
0
2
4
6
8
10
12
14
abr mai jun jul ago set out nov dez jan mar abr
Meses de coleta
0
1
2
3
4
5
6
nº indivíduos nº espécies
N
.
in
d
iv
íd
u
o
s
N
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s
1
2
3
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
abr mai jun jul ago set out nov dez jan mar abr
Meses de coleta
0
50
100
150
200
250
300
350
temperatura média local
umidade relativa média local
precipitação
T
/
U
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R
.
(%
)
(º
C
)
P
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m
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MENDES et al.
da monocultura de eucalipto apresentaram maiores
coeficiente e porcentagem de similaridade (Q.S.=0,87;
P.S.=0,74), significando uma maior semelhança entre as
comunidades de Euglossina nessas duas áreas. Já entre
a mata ciliar e a monocultura de eucalipto a similaridade
foi menor (Q.S.=0,72; P.S.=0,49), assim como entre as
matas ciliar e mesofítica (Q.S.=0,61; P.S.=0,49). Talvez
fatores como o tamanho das três áreas, a influência da
vegetação do entorno (CARVALHO et al., 2006) e o
isolamento da mata mesofítica quando comparada às
outras áreas, possa ser considerado, entretanto são
necessários estudos e testes mais quantitativos.
Em diversos trabalhos realizados (BRAGA, 1976;
RAW, 1989; MORATO et al., 1992; NEVES & VIANA, 1997;
REBÊLO & CABRAL, 1997; REBÊLO & GARÓFALO, 1997;
ALBUQUERQUE et al., 2001; BRITO & RÊGO, 2001; SOFIA &
SUZUKI, 2004; CARVALHO et al., 2006), eucaliptol também
foi o composto que obteve o maior número de visitas. De
acordo com SOFIA & SUZUKI (2004), o eucaliptol apresenta
maior volatilidade (baixo peso molecular) quando
comparado a outros compostos aromáticos.
Euglossa chalybeata, E. gaianii, E. melanotricha,
E. townsendii e Eulaema nigrita visitaram somente o
eucaliptol. Porém, em Alcântara,Maranhão, Euglossa
chalybeata, E. gaianii e Eulaema nigrita visitaram, além
do eucaliptol, iscas de salicilato de metila e vanilina (BRITO
& RÊGO, 2001); e em São Benedito do Rio Preto, também
no Maranhão, Euglossa townsendii foi coletada em isca
Tabela III. Número mensal de machos de abelhas Euglossina capturados de abril de 2001 a abril de 2002, em Urbano Santos, Maranhão.
Anos 2001 2002
Períodos Chuvoso Estiagem Chuvoso Total
Espécies/ Meses A M J J A S O N D J M A
Euglossa chalybeata Friese, 1925 2 1 3
Euglossa gaianii Dressler, 1982 5 1 2 3 2 2 15
Euglossa cordata (Linnaeus, 1758) 1 1 2 5 3 7 2 2 23
Euglossa modestior Dressler, 1982 1 1 3 1 1 7
Euglossa melanotricha Moure, 1967 1 1
Euglossa townsendi Cockerell, 1904 1 1
Eufriesea nigrescens (Friese, 1925) 2 1 3
Eufriesea mussitans (Fabricius, 1787) 1 1
Eulaema cingulata (Fabricius, 1804) 1 1 1 3
Eulaema nigrita Lepeletier, 1841 1 1
Nº espécies 3 3 2 0 1 3 3 2 5 2 5 1
Total indivíduos 5 7 3 0 1 9 6 2 13 4 7 1 58
Tabela IV. Riqueza e diversidade de machos de abelhas Euglossina coletados em duas localidades no Nordeste do Maranhão, Brasil (MC,
mata ciliar; MM, mata mesofítica (CARVALHO et al., 2006); ME, monocultura de eucalipto (este trabalho); SBRP, São Benedito do Rio
Preto (M. H. M. Magalhães, dados inéditos)).
Espécies MC MM ME SBRP- MC
Eufriesea surinamensis (Linnaeus, 1758) 3 1 1 2
Eufriesea nigrescens (Friese, 1925) 3 1 3
Eufriesea laniventris (Ducke 1902) 6
Eufriesea ornata (Mocsary,1896) 2
Eufriesea pulchra (Smith,1854) 5
Euglossa avicula Dressler,1982 1
Euglossa chalybeata Friese, 1925 7 3 1
Euglossa cordata (Linnaeus, 1758) 54 16 23 24
Euglossa gaianii Dressler, 1982 18 5 15
Euglossa liopoda Dressler, 1982 4
Euglossa melanotricha Moure, 1967 1 1
Euglossa modestior Dressler, 1982 77 3 7 4
Euglossa pleosticta Dressler, 1982 1
Euglossa securigera Dressler 1982 2
Euglossa stilbonota Dressler 1982 1
Euglossa truncata Rebêlo & Moure,1995 1
Euglossa townsendi Cockerell, 1904 1 1
Eulaema cingulata (Fabricius, 1804) 52 8 3 40
Eulaema nigrita Lepeletier, 1841 26 4 1 8
Exaerete smaragdina (Guérin-Menéville,1845) 28 4
Nº indivíduos 283 38 58 93
Nº espécies 16 7 10 11
H’ 2,04 1,58 1,71 1,68
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Abelhas Euglossina (Hymenoptera, Apidae) coletadas em uma...
de eugenol (M. H. M. Magalhães, dados inéditos). De
acordo com REBÊLO (2001), uma sustância dificilmente é
específica para uma espécie em particular, visto que
compostos que atraem apenas uma ou nenhuma espécie
em um local podem atrair várias em outro. O mesmo pode
acontecer em relação às estações do ano, visto que as
respostas dos machos a certas substâncias aromáticas
estão sujeitas a variações geográficas e sazonais (REBÊLO,
2001). Isso pode explicar as diferentes respostas às iscas.
Salicilato de metila e vanilina foram compostos
menos efetivos, ao contrário do que foi observado na
Bacia Amazônica (MORATO et al., 1992; MORATO, 1994) e
na Bahia (NEVES & VIANA, 1997) onde salicilato foi bastante
atrativo e em Viçosa, Minas Gerais (PERUQUETTI et al.,
1999), em que vanilina foi o composto que atraiu o maior
número de espécimes.
Duas hipóteses são sugeridas para o fato de alguns
compostos considerados bons atrativos não atraírem
Euglossina em determinados locais: (1) estes compostos
aromáticos não estariam presentes em nenhum recurso
natural utilizado pelos machos para obtenção de fragância,
não sendo assim reconhecidos (PERUQUETTI & CAMPOS,
1997; PERUQUETTI, 1998); ou (2) estes compostos estariam
ausentes nos materiais utilizados pelas fêmeas para a
construção do ninho (PERUQUETTI et al., 1999).
A atividade diária dos machos de Euglossina em
Urbano Santos apresentou-se, de modo geral, conforme
o padrão descrito na literatura (POWELL & POWELL, 1987;
BRITO & RÊGO, 2001), caracterizado pela maior freqüência
de visitas durante a manhã, período caracterizado por
temperaturas mais amenas. A redução na atividade dos
machos observada após as 14 horas pode refletir a
existência de um ritmo intrínseco dos machos, que determina
suas atividades diárias na exploração de compostos
aromáticos no ambiente (SANTOS & SOFIA, 2002).
Uma correlação positiva entre o número de
indivíduos coletados e a temperatura e umidade do
ambiente também foi observada no sudeste do Brasil
(REBÊLO & GARÓFALO, 1991) e na Paraíba (BEZERRA &
MARTINS, 2001).
Euglossa cordata, que foi a espécie mais
abundante, é comumente encontrada o ano inteiro, de
acordo com REBÊLO & SILVA (1999) e REBÊLO & CABRAL
(1997); em Urbano Santos, 56,5% dos 23 indivíduos
capturados ocorreram no período chuvoso. Já Euglossa
modestior (terceira espécie mais abundante), foi mais
observada no período de estiagem (71,4%). Esta última
espécie mostrou evidências de sazonalidade em
Alcântara, sendo ativa em abril e agosto (final das chuvas
e início do período de estiagem) (BRITO & RÊGO, 2001).
O gênero Eufriesea inclui abelhas tipicamente
sazonais, sendo algumas espécies ativas apenas durante
um ou dois meses por ano (DRESSLER, 1982). Isso poderia
explicar a ocorrência de E. nigrescens e E. mussitans
apenas na estação chuvosa.
Devido à baixa densidade de indivíduos e à
distribuição irregular ao longo do ano, não é seguro inferir
sobre o padrão sazonal da maioria das espécies
observadas.
Quando comparados os três habitats estudados
no cerrado de Urbano Santos, percebe-se a baixa
abundância dos Euglossina para uma área isolada de uma
cultura exótica, como é o caso do eucalipto. A monocultura
e a conseqüente ausência de substratos para nidificação
certamente afetam as populações de abelhas. A presença
de corredores ecológicos ligando essas áreas às matas
adjacentes (principalmente matas ciliares, as quais
funcionariam como berçários naturais por sua variedade
de flora e de nichos para nidificação) seria uma alternativa
para minimizar o rareamento de espécies, garantindo a
biodiversidade e a própria manutenção do ecossistema,
uma vez que estas e outras abelhas são importantes
agentes polinizadores.
Agradecimentos. Esta pesquisa recebeu apoio logístico,
em Urbano Santos, da Comercial & Agrícola Paineiras. Ao Prof.
Dr. José Manoel Macário Rebêlo (Universidade Federal do
Maranhão), pela identificação das abelhas; aos consultores
anônimos, pelas valiosas críticas e sugestões.
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