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Alterações na ictiocenose do rio Forqueta em função da instalação da Pequena Central Hidrelétrica Salto Forqueta, Putinga, Rio Grande do Sul

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481
Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(4):481-488, 30 de dezembro de 2008
Alterações na ictiocenose do rio Forqueta em função da instalação...
Alterações na ictiocenose do rio Forqueta em função da
instalação da Pequena Central Hidrelétrica Salto Forqueta,
Putinga, Rio Grande do Sul
Alice Hirschmann1, Marco A. Majolo2 & Hamilton C. Z. Grillo3
1..PPG Biologia Animal, Laboratório de Ictiologia, UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 9500, 91501-970 Porto Alegre, RS.
(alicehirschmann@yahoo.com.br)
2. Autônomo. RS 115 Km 35, 95670-000 Gramado, RS. (mmajolo@hotmail.com)
3. Museu de Ciências Naturais, Centro Universitário UNIVATES. Rua Avelino Tallini, 171, Caixa Postal 155, Bairro Universitário,
95900-000 Lajeado, RS. (hgrillo@univates.br)
ABSTRACT. Alterations on the fish assemblage of the Forqueta River due the installation of the Small Hydroelectrical
Power-Station Salto Forqueta, Putinga, Rio Grande do Sul, Brazil. This study aimed to verify the alterations on the fish
assemblage due the installation of the Small Hydroelectrical Power-Station Salto Forqueta in the course of the Forqueta River. The study
area is located in the Taquari River basin, between the municipalities of Putinga (left margin of the river) and São José do Herval (right
margin of the river). The study encompassed four phases: Phase I – from dec/2000 to feb/2002 (before damming), Phase II – from dec/
2002 to jan/2004 (first year following damming), Phase III – from may/2004 to apr/2005 (second year following damming) and Phase
IV – from may/2005 to jul/2006 (third year following damming). The samples were taken using fishing nets with diverse mashes. It was
registered 28 species during Phase I, 21 species during Phase II, 19 species during Phase III and 18 species during Phase IV. The abundance
rates, during the four phases, varied among the following species: Astyanax spp., Hemiancistrus punctulatus Cardoso & Malabarba, 1999,
Steindachnerina biornata (Pearson, 1924), Oligosarcus jenynsii (Günther, 1864) and Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824).
It was verified a range of alterations in the local fish assemblage, nevertheless, these alterations were not statistically significant.
KEYWORDS. Ichthyofauna, reservoir, Taquari Valley, Hydroelectrical Power-Station.
RESUMO. Este estudo teve como objetivo verificar alterações na taxocenose de peixes devido à instalação da Pequena Central
Hidrelétrica Salto Forqueta no curso do rio Forqueta. A área de estudo localiza-se na bacia hidrográfica do rio Taquari, entre os municípios
de Putinga (margem esquerda do rio) e São José do Herval (margem direita do rio). O estudo abrangeu quatro etapas: Etapa I – dez/2000
a fev/2002 (anterior ao represamento), Etapa II – dez/2002 a jan/2004 (primeiro ano subseqüente ao represamento), Etapa III – maio/
2004 a abr/2005 (segundo ano após o represamento) e Etapa IV – maio/2005 a jul/2006 (terceiro ano após o represamento). As
amostragens foram realizadas com redes de espera de malhas diversas. Foram registradas 28 espécies na Etapa I, 21 espécies na Etapa II,
19 espécies na Etapa III e 18 espécies na Etapa IV, sendo que as maiores taxas de abundância nas quatro etapas de monitoramento
variaram entre as espécies Astyanax spp., Hemiancistrus punctulatus Cardoso & Malabarba, 1999, Steindachnerina biornata (Pearson,
1924), Oligosarcus jenynsii (Günther, 1864) e Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824). Verificaram-se diversas alterações na
ictiocenose local, porém, as alterações não se mostraram estatisticamente significativas.
PALAVRAS CHAVE. Ictiofauna, reservatório, Vale do Taquari, PCH.
A composição ictiofaunística ao longo dos rios
acompanha as mudanças ambientais no tempo e no
espaço, com a efetividade de suas barreiras naturais
(representadas por corredeiras e cachoeiras) e com o
tamanho e multiplicidade de nichos ecológicos. Os rios
são sistemas abertos que participam de todos processos
ecológicos que ocorrem nas bacias hidrográficas
(BARRELLA et al., 2000), influenciando fortemente na
composição da biota.
A inclusão de barreiras artificiais em ecossistemas
aquáticos continentais podem desencadear inúmeros
processos com repercussões ecológicas, econômicas e
sociais, em uma escala global, regional ou local. Tais
ecossistemas artificiais podem ocasionar alteração do
fluxo dos rios, do transporte de nutrientes e sedimentos,
interferência na migração e reprodução da ictiofauna,
produzindo uma completa reorganização dos sistemas.
Porém, podem proporcionar benefícios econômicos e
sociais, tais como a reserva de água para
hidroeletricidade, irrigação, navegação e água para
abastecimento público (TUNDISI, 1999).
As Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) são
usinas de pequeno porte, com potência instalada de até
30 MW. A PCH Salto Forqueta apresenta potência de 6,5
MW, seu reservatório abrange 34,6 ha com um volume de
2.260.000 m3, sendo que 12,8 ha representam o leito
original do rio e 21,8 ha correspondiam às áreas cobertas
por vegetação nativa localizadas na sua margem. De
acordo com TEIXEIRA et al. (1986) e JASPER et al. (2005), a
PCH Salto Forqueta atingiu uma região que apresentava
originalmente uma riquíssima cobertura vegetal, com uma
composição fitoecológica ímpar, inserida em uma área de
tensão ecológica entre as formações Floresta Estacional
Decidual e Floresta Ombrófila Mista.
É esperado que o impacto causado pelos
represamentos possa provocar a depleção ou mesmo a
extinção local de algumas populações, sendo que as mais
atingidas são aquelas tipicamente reofílicas, que têm seus
locais de desova e criadouros naturais reduzidos ou mesmo
eliminados (AGOSTINHO, 1992). Por outro lado, podem
favorecer outras espécies, aumentando as suas chances de
sobrevivência e reprodução (BARRELLA et al., 2000).
482
Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(4):481-488, 30 de dezembro de 2008
HIRSCHMANN et al.
A instabilidade do novo ambiente, fruto não apenas
do impacto inicial do represamento, mas também de
perturbações não cíclicas produzidas pela operação da
barragem ou por outras ações antropogênicas, torna as
comunidades instáveis e gradativamente mais simples.
Desta forma faz-se necessário verificar como os indicadores
ecológicos (abundância, constância de ocorrência,
riqueza de espécies, diversidade, equitabilidade) variam
após a intervenção (SCHINDLER, 1987).
O objetivo deste estudo foi verificar possíveis
alterações na estrutura e composição da assembléia de
peixes após a implantação da PCH Salto Forqueta no rio
Forqueta.
MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo localiza-se na bacia hidrográfica
do rio Taquari, entre os municípios de Putinga/RS e São
José do Herval, Rio Grande do Sul, 29°04’S e 52°12’W
(Fig. 1). Neste ponto, o rio Forqueta apresenta-se
encaixado em um vale de encostas muito íngrimes,
alternando poços e corredeiras, eventualmente
intercalados por saltos de pequeno porte. O rio Forqueta
tem sua foz no rio Taquari, entre os municípios de Lajeado
e Arroio do Meio, sendo que a área de estudo situa-se a
aproximadamente 45 Km a montante desta confluência.
O estudo abrangeu quatro etapas: Etapa I – dez/
2000 a fev/2002 (anterior ao represamento), Etapa II –
dez/2002 a jan/2004 (primeiro ano subseqüente ao
represamento), Etapa III – maio/2004 a abr/2005 (segundo
ano após o represamento) e Etapa IV – maio/2005 a jul/
2006 (terceiro ano após o represamento).
Na Etapa I, foram definidos quatro pontos de coleta,
sendo dois localizados a montante do local do barramento
e dois a jusante do mesmo, com distância aproximada de 1,5
Km. Foram realizadas 12 amostragens com nove redes de
espera de malhas 1,5 cm, 2,5 cm e 3,5 cm entre nós adjacentes
com 20 m de comprimento e 1,40 m de altura, dispostas em
ambas as margens. As redes permaneceram armadas durante
um período de 24 horas, sendo revisadas ao anoitecer, ao
amanhecer e ao meio do dia, momento da retirada.
Para as Etapas II, III e IV, foram escolhidos apenas
dois dos pontos de coleta previamente amostrados na
Etapa I, sendo um a montante e um a jusante dobarramento. No reservatório foram empregadas seis redes
de espera de malhas 1,5 cm, 2,5 cm e 3,5 cm entre nós
adjacentes, com 50 m de comprimento e 1,40 m de altura e
dispostas como na Etapa I. No ponto a jusante a
metodologia de coleta seguiu conforme a Etapa I. Foram
realizadas seis amostragens nas Etapas II e IV e sete
amostragens na Etapa III.
Adicionalmente, nas corredeiras e baixios, durante
a Etapa I, foi empregado puçá de tela plástica (1 m x 0,4
m). Os dados obtidos por este método foram apenas
qualitativos, não incluídos nas análises ecológicas e
estatísticas.
Os indivíduos coletados foram fixados em formol
10% e, em laboratório, foram conservados em álcool 70%.
Para identificação das espécies foram consultados
especialistas e bibliografia, tal como MALABARBA (1989),
KOCH et al. (2000), NAKATANI et al. (2001) e REIS et al.
(2003). O material de estudo encontra-se depositado na
coleção zoológica científica do Museu de Ciências
Naturais da UNIVATES.
Para análise estatística, todos os dados
quantitativos tiveram o esforço de amostragem
padronizado para 252 m2 de rede/h, esforço empregado
no ponto de amostragem a montante do barramento, pós-
enchimento.
Para visualização comparativa entre os dados antes
e depois do barramento, construiu-se um gráfico
representando as alterações na abundância das espécies.
Para tal, fez-se a média da abundância absoluta de cada
uma das espécies nas três etapas subseqüentes ao
barramento. Tais médias foram comparadas à abundância
absoluta das espécies na Etapa I, onde ambos dados
foram transformados (log n + 1). Também foram feitas
curvas de abundância, onde a abundância expressa em
log n + 1 é plotada contra o rank de espécies em ordem
decrescente de abundância.
Com o intuito de caracterizar a ictiocenose, foram
empregados o Índice de Shannon (H’), a Equitabilidade
de Pielou (J = H’/H’max) e a Riqueza de espécies de
Margalef, através do programa Divers, e o Índice de
Constância de Dajoz (1983), C= (p x 100)/P, onde p =
número de amostras que a espécie ocorre, P = número
total de amostragens efetuadas e C = índice de constância.
De acordo com os valores de C as espécies foram
agrupadas nas seguintes categorias: espécies constantes
– presentes em mais de 50% das amostragens; espécies
acessórias – presentes em 25% a 50% das amostragens;
espécies acidentais – presentes em menos de 25% das
amostragens. Também foram detectadas as espécies raras
para cada etapa do monitoramento, isto é, que somente
foram capturadas uma ou duas vezes durante o período.
O teste t de Student foi realizado através do programa
Divers e a análise de variância (ANOVA) foi realizada
através do programa GraphPad InStat 3. A análise de
cluster com índice de similaridade de Bray-Curtis referente
aos trechos montante e jusante das quatro etapas do
monitoramento foi realizada através do programa Past.
RESULTADOS
O levantamento ictiofaunístico referente à Etapa I,
resultou na captura de 2.721 indivíduos pertencentes a
Fig. 1. Localização da área de estudo no rio Forqueta, entre os
municípios de Putinga (PU) e São José do Herval (SJH), Rio Grande
do Sul.
PU
SJH
483
Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(4):481-488, 30 de dezembro de 2008
Alterações na ictiocenose do rio Forqueta em função da instalação...
28 espécies, distribuídas em 11 famílias e quatro ordens.
A ordem Characiformes apresentou 12 espécies (42,86%)
e a ordem Siluriformes 13 espécies (46,43%). Na Etapa II,
foram capturados 1.353 indivíduos de 21 espécies,
pertencentes a oito famílias e distribuídas em quatro
ordens, sendo que as mais representativas foram a ordem
Characiformes, com oito espécies (38,10%) e a ordem
Siluriformes, com sete espécies (33,33%). Na Etapa III,
capturou-se 1.466 indivíduos de 19 espécies pertencentes
a sete famílias e três ordens. Foram obtidas nove espécies
de Characiformes (47,37%) e seis espécies de Siluriformes
(31,58%). Finalmente, na Etapa IV foram capturados 1.335
indivíduos de 18 espécies pertencentes a oito famílias e
cinco ordens, sendo registradas sete espécies da ordem
Characiformes (38,89%) e cinco espécies da ordem
Siluriformes (27,78%).
Adicionalmente, com a utilização do puçá,
registrou-se a ocorrência de quatro outras espécies na
Etapa I (Eurycheilichthys sp., Hisonotus sp., Heptapterus
mustelinus (Valenciennes, 1835) e Synbranchus
marmoratus Bloch, 1795). O registro da espécie
Corydoras paleatus (Jenyns, 1842) na Etapa I foi obtido
somente através da análise de conteúdo estomacal de
um indivíduo de Oligosarcus jenynsii (Günther, 1864).
Obteve-se o registro total de 36 espécies de peixes para a
área de estudo no rio Forqueta.
A relação das espécies registradas em cada etapa
está apresentada na tabela I. Pode-se observar que, apesar
do registro de mais três espécies ao longo das Etapas II,
III e IV, das espécies registradas antes do barramento,
oito não foram registradas na Etapa II e 11 não foram
registradas nas Etapas III e IV.
De acordo com o índice de constância de
ocorrência, das 28 espécies registradas durante a Etapa
I, 12 foram consideradas constantes, cinco acessórias e
11 acidentais. Quanto à Etapa II, das 21 espécies
registradas, 14 foram consideradas constantes, três
acessórias e quatro acidentais. Na Etapa III, das 19
espécies registradas, 12 foram consideradas constantes,
cinco acessórias e duas acidentais. Por fim, na Etapa IV,
das 18 espécies registradas, 11 foram consideradas
constantes, três acessórias e quatro acidentais (Tab. I).
Ao longo do monitoramento observou-se que 17
espécies apresentaram pouca ou nenhuma variação em
sua constância de ocorrência. Por outro lado, nove
espécies não foram registradas após o represamento do
rio: Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819), Hypobrycon sp.,
Characidium pterostictum Gomes, 1947, Cyphocharax
voga (Hensel, 1870), Ancistrus brevipinnis (Regan, 1904),
Hypostomus aspilogaster (Cope, 1894), Rineloricaria
strigilata (Hensel, 1868), Pimelodus maculatus La
Cepède, 1803 e Eigenmannia trilineata Lópes & Castello,
1966 (Tab. I).
Outras variações foram observadas quanto à
constância com que se apresentaram algumas espécies.
As espécies Rineloricaria cadeae (Hensel, 1868),
Glanidium melanopterum Miranda Ribeiro, 1918 e
Crenicichla punctata Hensel, 1870, que se apresentavam
constantes no período anterior ao barramento, tiveram
suas constâncias de ocorrência visivelmente diminuídas.
Por outro lado, Astyanax jacuhiensis Cope, 1894,
Hyphessobrycon luetkenii (Boulenger,1887) e Geophagus
brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) apresentaram um
aumento considerável, tanto na constância de ocorrência
quanto na abundância (Tab. I e Fig. 2).
Assim, verificou-se que a maioria das espécies
consideradas acidentais e raras na Etapa I, não foram
mais registradas após o barramento do rio, e outras
espécies consideradas constantes sofreram alterações
principalmente na abundância, com a maioria mantendo
o status constante nas amostragens (Tab. I e Fig. 2).
As espécies de Astyanax spp. (40,28%),
Hemiancistrus punctulatus Cardoso & Malabarba, 1999
(24,55%) e Steindachnerina biornata (Pearson, 1924)
(10,88%) foram as mais abundantes no rio Forqueta
durante a Etapa I. Na Etapa II, as espécies que
apresentaram maior abundância foram Astyanax spp.
(27,17%), H. punctulatus (24,82%), S. biornata (13,32%)
e O. jenynsii (8,69%). Já na Etapa III, as maiores
abundâncias foram observadas para as espécies, S.
biornata (41,40%), Astyanax spp. (27,37%), O. jenynsii
(9,99%) e G. brasiliensis (7,33 %). Na Etapa IV, as espécies
mais abundantes foram Astyanax spp. (25,88%), S.
biornata (21,88%), H. luetkenii (16,70%), G. brasiliensis
(14,05%) e O. jenynsii (10,81%). Com relação as espécies
mais abundantes na área, verificou-se que a
representatividade de Astyanax spp. diminuiu nas etapas
subseqüentes ao barramento, embora tenha se mantido
entre as espécies mais abundantes. Em contrapartida, H.
punctulatus, uma das espécies mais abundantes nas
primeiras duas etapas, apresentou uma drástica redução
em seus números nas Etapas III e IV. Quanto às espécies
S. biornata,O. jenynsii e H. luetkenii, observou-se um
gradativo aumento na abundância ao longo das etapas.
Quanto à G. brasiliensis, espécie rara nas duas primeiras
etapas, sua representatividade aumentou de 0,04% (Etapa
I) para 14,05% (Etapa IV), sendo a quarta espécie mais
abundante (Fig. 2).
A ordem Characiformes foi a mais abundante em
todas as etapas (I: 59,61%; II: 57,37%; III: 86,6% e IV:
80,56%), apresentando aumento após o barramento. Já a
ordem Siluriformes apresentou um grande decréscimo em
sua abundância (I: 34,85%; II: 37,41%; III: 4,07% e IV:
2,39%), apresentando taxas menores que a ordem
Perciformes a partir da Etapa III (I: 5,41%; II: 5,17%; III:
9,33% e IV: 17,57%).
Fig. 2. Gráfico comparativo da abundância das espécies no rio
Forqueta, área de abrangência da PCH Salto Forqueta, entre os
municípios de Putinga e São José do Herval, Rio Grande do Sul,
antes e depois do barramento, entre dezembro de 2000 e julho de
2006. 1: Astyanax spp.; 2: H. punctulatus; 3: S. biornata; 4: O.
jenynsii; 5: B. iheringii; 6: R. cadeae; 7: G. labiatus; 8: Rhamdia
sp.; 9: C. punctata; 10: H. commersoni; 11: G. melanopterum; 12:
H. aspilogaster; 13: A. brevipinnis; 14: Australoheros sp.; 15: C.
alburnus; 16: H. malabaricus; 17: R. eriarcha; 18: G. carapo; 19:
H. luetkenii; 20: C. voga; 21: A. fasciatus; 22: A. jacuhiensis; 23:
Hypobrycon sp.; 24: C. pterostictum; 25: R. strigilata; 26: P.
maculatus; 27: G. brasiliensis; 28: E. trilineata; 29: D. speculiferum;
30: G. gymnogenys; 31: C. carpio.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
Espécies
A
b
u
n
d
ân
ci
a
(l
o
g
n
+
1
) Antes
Depois
484
Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(4):481-488, 30 de dezembro de 2008
HIRSCHMANN et al.
Tabela I. Lista das espécies de peixes amostradas no rio Forqueta, área de abrangência da PCH Salto Forqueta, entre os municípios de
Putinga e São José do Herval, Rio Grande do Sul, entre dezembro de 2000 e julho de 2006, e suas respectivas constâncias de ocorrência
durante as quatro etapas do estudo (*, espécie encontrada em análise de conteúdo estomacal de Oligosarcus jenynsii; **, espécies raras;
***, espécies capturadas apenas com puçá, desconsideradas na análise de constância de ocorrência).
Lista de Espécies Constância de Ocorrência
Etapa I Etapa II Etapa III Etapa IV
CHARACIFORMES
CHARACIDAE
Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) Acidental** - - -
Astyanax jacuhiensis Cope, 1894 Acidental** Acessória Constante Constante
Astyanax spp. Constante Constante Constante Constante
Bryconamericus iheringii (Boulenger,1887) Constante Constante Acessória** Constante
Diapoma speculiferum Cope, 1894 - - Acidental** -
Hyphessobrycon luetkenii (Boulenger,1887) Acidental** Constante Constante Constante
Hypobrycon sp. Acidental** - - -
Oligosarcus jenynsii (Günther, 1864) Constante Constante Constante Constante
CRENICHIDAE
Characidium pterostictum Gomes, 1947 Acidental** - - -
CURIMATIDAE
Steindachnerina biornata (Pearson, 1924) Constante Constante Constante Constante
Cyphocharax voga (Hensel, 1870) Acidental** - - -
ERYTHRINIDAE
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Acessória Constante Constante Constante
SILURIFORMES
LORICARIIDAE
Ancistrus brevipinnis (Regan, 1904) Constante Acessória - -
Eurycheilichthys sp.*** - - - -
Hemiancistrus punctulatus Cardoso & Malabarba, 1999 Constante Constante Constante Acessória
Hisonotus sp.*** - - - -
Hypostomus aspilogaster (Cope, 1894) Acessória - - -
Hypostomus commersoni Valenciennes, 1836 Constante Constante Constante Constante
Rineloricaria cadeae (Hensel, 1868) Constante Constante Acessória** Acidental**
Rineloricaria strigilata (Hensel, 1868) Acidental** - - -
CALLICHTHYDAE
Corydoras paleatus (Jenyns, 1842)* - - - -
PIMELODIDAE
Pimelodus maculatus La Cepède, 1803 Acidental** - - -
HEPTAPTERIDAE
Rhamdia sp. Constante Constante Constante Constante
Rhamdella eriarcha (Eigenmann & Eigenmann, 1888) Acessória Constante Acessória Acessória
Heptapterus mustelinus (Valenciennes, 1835)*** - - - -
AUCHENIPTERIDAE
Glanidium melanopterum Miranda Ribeiro, 1918 Constante Constante Acidental** -
PERCIFORMES
CICHLIDAE
Gymnogeophagus labiatus (Hensel, 1870) Constante Constante Constante Constante
Gymnogeophagus gymnogenys (Hensel, 1870) - Acidental Acessória -
Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) Acidental** Acidental** Constante Constante
Australoheros sp. Acessória Acidental** - Acessória**
Crenicichla punctata Hensel, 1870 Constante Constante Constante Acidental
GYMNOTIFORMES
GYMNOTIDAE
Gymnotus carapo Linnaeus, 1758 Acidental Acidental** - Acidental**
STERNOPYGIDAE
Eigenmannia trilineata Lópes & Castello, 1966 Acidental** - - -
SYNBRANCHIFORMES
SYNBRANCHIDAE
Synbranchus marmoratus Bloch, 1795 - - - -
CYPRINIFORMES
CYPRINIDAE
Cyprinus carpio Linnaeus, 1758 - - - Acidental**
485
Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(4):481-488, 30 de dezembro de 2008
Alterações na ictiocenose do rio Forqueta em função da instalação...
As alterações na abundância das espécies refletem
modificações no padrão de distribuição das abundâncias
na assembléia, que se torna gradativamente mais simples,
com a perda de espécies ao longo das etapas de
monitoramento (Fig. 3).
No que se refere às comparações das abundâncias
das espécies entre montante e jusante, em cada uma das
etapas, não foram encontradas diferenças significativas,
como pode ser observado na tabela II.
Com relação aos índices ecológicos aplicados (Tab.
II), verificou-se um aumento da diversidade na Etapa II
em relação à Etapa I e um aumento da equitabilidade, com
uma posterior redução na Etapa III. A Etapa I apresentou
os índices mais elevados de riqueza de espécies. Na Etapa
IV houve um modesto aumento na diversidade e
equitabilidade em relação à Etapa III, embora menores do
que as observadas na Etapa II.
O resultado do teste t de Student (Tab. II) mostrou
que a Etapa II foi a única a apresentar diferença
estatisticamente significativa entre montante e jusante
quanto a diversidade de espécies (t = 6,107; p = 0,0001).
A análise de cluster com índice de similaridade de
Bray-Curtis, para os trechos a montante e jusante, entre
Tabela II. Representação dos índices de diversidade de Shannon (H’), equitabilidade (E) e riqueza de espécies de Margalef (R), juntamente
com a análise de variância (F e P) e teste t de Student (t) referentes à ictiofauna do rio Forqueta durante as quatro etapas de monitoramento
na área de abrangência da PCH Salto Forqueta, entre os municípios de Putinga e São José do Herval, Rio Grande do Sul, entre dezembro
de 2000 e julho de 2006. EI, Etapa I; EII, Etapa II e EIII, Etapa III.
Etapas H’ E R F P t P
Montante-EI 1,82518 0,60926 2,58667 - - 1,21888 0,11150
Jusante-EI 1,88203 0,60023 3,11330
Montante-EII 2,17910 0,71574 2,93966
- - 6,10725 0,00001
Jusante-EII 1,81779 0,67126 2,28912
Montante-EIII 1,63004 0,58791 2,17496
- - 0,71953 0,23600
Jusante-EIII 1,67549 0,61871 2,26996
Montante-EIV 1,81514 0,64067 2,37621
- - 1,04080 0,29818
Jusante-EIV 1,76310 0,73527 1,61067
Montante-EI, II, III e IV - - - 0,994 0,39 - -
Jusante-EI, II, III e IV - - - 1,976 0,12 - -
Montante e Jusante- - - - 1,488 0,17 - -
EI, II, III e IV
Etapa I 1,88179 0,56473 3,41394
Etapa II 2,14419 0,70428 2,77361
0,564 0,68
 Etapa III 1,69958 0,57722 2,46904
Etapa IV 1,95933 0,67788 2,36171
Fig. 3. Curvas de abundância das espécies para as quatro etapas do
estudo no rio Forqueta, área de abrangência da PCH Salto Forqueta,
entre os municípios de Putinga e São José do Herval, Rio Grande do
Sul entre dezembro de 2000 e julho de 2006.
Fig. 4. Dendograma relativo à análise de cluster comparativa
entre os trechos a montante e a jusante nas quatro etapas de
monitoramento da ictiofauna no rio Forqueta, área de abrangência
da PCH Salto Forqueta, entre os municípios de Putinga e São José
do Herval, Rio Grande do Sul, entre dezembro de 2000 e julho de
2006. MEI, Montante Etapa I; JEI, Jusante Etapa I; MEII,
Montante Etapa II; JEII, Jusante Etapa II; MEIII,Montante
Etapa III; JEIII, Jusante Etapa III; MEIV, Montante Etapa IV e
JEIV, Jusante Etapa IV.
as quatro etapas de monitoramento, identificou dois
clusters, formados respectivamente pelas Etapas I e II e
pelas Etapas III e IV, similares entre si pouco mais de
50%. (Fig. 4). Observa-se uma grande similaridade (80%)
entre montante e jusante na Etapa I (anterior ao
represamento) e uma subseqüente diminuição na
similaridade entre os trechos montante e jusante ao longo
das etapas do estudo, revelando o maior distanciamento
dos mesmos na Etapa IV.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
Rank das espécies
A
b
u
n
d
ân
ci
a
(l
o
g
n
+
1
)
Etapa I
Etapa II
Etapa III
Etapa IV
486
Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(4):481-488, 30 de dezembro de 2008
HIRSCHMANN et al.
DISCUSSÃO
O conhecimento sobre a ictiofauna da bacia do rio
Taquari é parco, estando disponível apenas em poucos
trabalhos não publicados (dissertação de mestrado e
resumos). A única literatura publicada refere-se ao rio
das Antas (AGOSTINHO et al., 2003), que é considerado a
parte superior do rio Taquari, formando a grande bacia
hidrográfica Taquari-Antas. Nesse trabalho é relatada a
presença de 54 espécies de peixes, das quais 17 não foram
registradas no presente estudo. Por ouro lado, seis das
36 espécies registradas no rio Forqueta não foram
registradas no trabalho de AGOSTINHO et al. (2003). Tais
diferenças podem estar associadas ao ambiente e aos
métodos de amostragem utilizados por estes estudos,
que não os torna diretamente comparáveis.
A composição da assembléia de peixes observada
no presente estudo segue o padrão descrito para rios
neotropicais, com a predominância de Characiformes e
Siluriformes (LOWE MCCONNELL, 1999). Porém, após o
barramento houve uma inversão quanto ao número de
espécies dessas ordens. Na Etapa I, a ordem Siluriformes
apresentava maior representatividade e após o barramento
(Etapas II, III e IV) a ordem Characiformes apresentou
maior representatividade. A maior alteração nestas ordens,
porém, está na abundância, onde, após a implantação da
PCH constatou-se um grande aumento na abundância de
Characiformes e um grande decréscimo na abundância
de Siluriformes. Estas alterações podem estar
relacionadas a formação de um novo ambiente
ocasionado pelo barramento do rio que, segundo
AGOSTINHO et al. (2007), leva à criação de novos hábitats
e perda de outros. Dentre os hábitats novos, cabe ressaltar
a zona pelágica (AGOSTINHO et al., 2007), onde são
encontrados principalmente os representantes da família
Characidae, cujos membros geralmente formam o principal
conjunto de espécies de meia água (BUCKUP, 1999). Dentre
os hábitats perdidos, destacam-se as corredeiras
(AGOSTINHO et al., 2007), onde são encontradas diversas
espécies da família Loricariidae, características deste tipo
de hábitat (BUCKUP, 1999). Assim, no presente estudo, a
perda das corredeiras pode ter resultado na diminuição
da abundância de Siluriformes e o acréscimo da zona
pelágica pode ter resultado no aumento da abundância
de Characiformes.
Conforme MATTHEWS (1998), na maioria das
comunidades animais, há poucas espécies abundantes e
muitas espécies representadas por poucos indivíduos.
Esta afirmação se confirmou nos resultados do presente
estudo durante as quatro etapas, porém constatou-se
que as espécies mais abundantes não foram sempre as
mesmas. As abundâncias mais elevadas ficaram restritas
principalmente a Astyanax spp., H. punctulatus, S.
biornata, O. jenynsi, G. brasiliensis e H. luetkenii.
As análises estatísticas utilizadas, como ANOVA,
podem não estar revelando as reais modificações sofridas
pela comunidade. Tais análises baseiam-se em dados
quantitativos, sendo altamente influenciadas por espécies
com altas taxas de abundância e pouco influenciadas por
espécies pouco abundantes. Assim, o desaparecimento
de espécies raras e a alteração das espécies mais
abundantes nas diferentes etapas não são refletidas.
Uma explicação para a não significância estatística
da ANOVA também entre montante e jusante ao longo
das etapas, pode ser o fato de que o trecho a jusante do
barramento também teve sua característica lótica alterada
devido à diminuição da vazão ocasionada pelo
barramento. Além disso, existe um obstáculo natural (uma
queda d’água de aproximadamente três metros de altura)
localizado antes da casa de máquinas, que em virtude da
diminuição do fluxo de água, geralmente encontra-se seco.
Assim, entre a barragem e a casa de máquinas, forma-se
um trecho de rio com pouco fluxo e relativamente isolado.
A transformação das águas lóticas de um rio em
lênticas ou semilênticas de um reservatório tem efeitos
adversos sobre a biota. Espécies que não encontrarem
as condições adequadas para satisfazerem suas
demandas ecológicas no novo ambiente poderão ter a
sua abundância reduzida, ou mesmo serem eliminadas
(AGOSTINHO, 1992). No presente estudo, verificou-se o
desaparecimento de nove espécies após o barramento,
das quais sete já possuíam ocorrência acidental na área
de implantação. Assim, é provável que as modificações
advindas da implantação da PCH tenham exercido um
maior impacto sobre as espécies consideradas acessórias
e acidentais e/ou menos abundantes, causando uma
diminuição na riqueza local de espécies.
O aumento repentino da quantidade de água e a
elevada disponibilidade de alimento no início da formação
do reservatório, especialmente os de origem alóctone
(PETRERE JR. & RIBEIRO, 1994; AGOSTINHO & JÚLIO JR., 1999),
pode explicar o aumento da diversidade a montante e sua
diferença significativa com relação a jusante do
barramento na Etapa II. Porém, esta disponibilidade de
alimento tende a decrescer após os primeiros anos da
formação do reservatório (PETRERE JR. & RIBEIRO, 1994),
promovendo novas alterações populacionais que refletem
na estrutura da comunidade (AGOSTINHO et al., 2003). As
alterações na diversidade e abundância relativa das
espécies ao longo das etapas podem estar associadas a
um período de adaptação e restabelecimento frente ao
novo ambiente. Resultados semelhantes podem ser
observados com relação à equitabilidade. Já com a riqueza
de espécies, pode-se observar uma redução após o
barramento devido à diminuição no número de espécies,
de 28 espécies registradas na Etapa I para 18 na Etapa IV,
representando uma queda de 35,71%.
Além da diminuição do número de espécies,
algumas espécies tiveram sua abundância e constância
de ocorrência reduzidas. Entre estas espécies destacam-
se Hemiancistrus punctulatus, Rineloricaria cadeae,
Glanidium melanopterum e Crenicichla punctata. No
caso de H. punctulatus, que tem como ambiente
preferencial corredeiras e substrato rochoso (AGOSTINHO
et al., 2003), houve uma grande redução na sua
abundância ao longo do período de estudo, ainda que
tenha se apresentado de forma relativamente constante
nas Etapas II e III, passando à acessória na Etapa IV. Da
mesma forma, constatou-se a redução na abundância e
na constância de ocorrência nas amostragens para as
demais espécies da família Loricariidae. Exceção pode ser
feita à espécie H. commersoni, que manteve sua
abundância e constância de ocorrência estáveis durante
as quatro etapas do monitoramento. Esta espécie
487
Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(4):481-488, 30 de dezembro de 2008
Alterações na ictiocenose do rio Forqueta em função da instalação...
aparentemente possui a capacidade de desenvolver seu
ciclo reprodutivo inteiramente em ambiente lêntico, como
encontrado por AGOSTINHO et al. (1991) no reservatório
de Capivari-Cachoeira. Assim, H. commersoni
provavelmente esteja mais apta a adaptar-se às
modificações causadas pelo barramento do que outras
espécies de Loricariidae.
Por outro lado, outras espécies tiveram sua
abundância e constância de ocorrência elevadas após o
barramento do rio. Entre as espécies que apresentaram
maiores aumentos estão A. jacuhiensis, H. luetkenii, O.
jenynsii, S. biornata e G. brasiliensis. A proliferaçãode
pequenos caracídeos tem sido observada em vários
reservatórios (AGOSTINHO & JÚLIO JR., 1999). No caso de
O. jenynsii, é conhecida sua preferência por águas
lênticas (FROESE & PAULY, 2005), o que poderia explicar o
aumento em sua abundância. Também é freqüentemente
observada a proliferação de G. brasiliensis em ambientes
lênticos, como em vários reservatórios localizados no
Estado de São Paulo (CASTRO & ARCIFA, 1987), o que
evidencia que os requerimentos ecológicos desta espécie
a predispõem ao sucesso na colonização deste tipo de
ambiente (ABELHA & GOULART, 2004).
O efeito da alteração do fluxo hidrológico sobre o
detrito e a capacidade dos detritívoros em utilizá-lo como
recurso alimentar (BOWEN, 1984), constitui uma possível
justificativa para o aumento da abundância da espécie S.
biornata e a permanência da espécie H. commersoni.
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794), por ser espécie
de ambiente lêntico (JÚLIO JR. et al., 1997), poderia
apresentar proliferação após o barramento, porém apenas
apresentou um aumento sutil em sua abundância
chegando a representar 2,26% na Etapa IV. Apesar de o
novo ambiente ser aparentemente favorável para a sua
proliferação, flutuações bruscas no nível da água durante
o período reprodutivo podem comprometer o sucesso
reprodutivo dessa espécie (SUZUKI & AGOSTINHO, 1997).
Tais flutuações de nível da água foram comumente
observadas no reservatório durante o monitoramento pós
barramento.
Apesar de não amostrada durante a Etapa IV com a
metodologia utilizada, D. speculiferum pode ser
freqüentemente observada por visualização e coletas com
puçá nas margens do reservatório, sugerindo que a
abundância desta espécie é, provavelmente, muito maior
do que a detectada.
Tal como citado anteriormente, as espécies mais
atingidas devido às modificações ambientais impostas
pelos reservatórios seriam as reofílicas (AGOSTINHO, 1992).
A única espécie reofílica registrada durante o período de
estudo foi P. maculatus e a mesma apresentou baixa
abundância e constância de ocorrência acidental. No
estudo realizado no rio das Antas, AGOSTINHO et al. (2003)
encontraram cinco espécies reofílicas, número baixo se
comparado às grandes bacias brasileiras. Dessas cinco
espécies, P. maculatus foi a que apresentou distribuição
mais ampla na região amostrada, sendo que as demais
espécies ficaram restritas a um determinado trecho.
Semelhantemente ao estudo de AGOSTINHO et al. (2003), a
localização da área estudada em relação à bacia do Jacuí-
Taquari-Antas pode estar relacionada à baixa ocorrência
de espécies reofílicas.
Outra indicação de alteração biológica no rio
Forqueta pode ser constatada através da análise de cluster
apresentada no dendograma da figura 4, onde nota-se
uma diminuição na similaridade entre os trechos montante
e jusante ao longo das quatro etapas. A alta similaridade
entre os trechos na Etapa I é justificada pelo rio ainda
não encontrar-se bloqueado pelo barramento,
apresentando um fluxo contínuo de água. A partir da
Etapa II, o barramento encontrava-se concluído e a
PCH em funcionamento. O represamento reduziu
consideravelmente o fluxo e o volume de água a jusante
para uma vazão mínima de 0,24 m3/s, sendo que a média
da vazão na etapa anterior ao barramento era de 18 m3/s.
Sugere-se que estas condições ambientais ocasionadas
pelo empreendimento, foram responsáveis pela redução
da similaridade entre os trechos jusante e montante, como
também entre as etapas ao longo do estudo.
Os resultados ora apresentados representam um
dos primeiros esforços na compreensão das alterações
na composição da comunidade de peixes em um rio do
Rio Grande do Sul pela instalação de uma central
hidrelétrica. Este estudo mostra uma avaliação inicial dos
efeitos da instalação e funcionamento da PCH Salto
Forqueta, sendo o primeiro levantamento da ictiofauna
deste rio. Estudos futuros poderão revelar com mais
precisão o real impacto deste empreendimento, visto que
a comunidade ainda encontra-se em adaptação ao novo
ambiente. Não obstante, seis espécies registradas neste
trabalho, apresentam status taxonômico parcialmente
indeterminado, isto é, que só foram identificadas até o
nível de gênero, denotando o parco conhecimento da
ictiofauna regional.
Agradecimentos. Agradecemos ao Dr. Luiz R. Malabarba
e ao Msc. Juan A. Anza, do Laboratório de Ictiologia/ UFRGS, e ao
Dr. Roberto E. Reis, do Laboratório de Ictiologia MCP/PUCRS,
pelo auxílio na determinação das espécies. À Drª. Clarice B. Fialho,
do Laboratório. de Ictiologia/ UFRGS, ao Dr. Fábio F. Lopes, da
UESC/BA, e ao doutorando Carlos Benhur Kasper, do Departamento
de Zoologia/UFRGS, pela revisão do presente artigo. Ao Dr. Eduardo
Périco, da UNIVATES, pelo auxílio nas análises estatísticas e a
todos os colegas da UNIVATES que auxiliaram em campo. Este
estudo recebeu apoio financeiro da UNIVATES e da CERTEL.
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