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Associação entre aves e flores de duas espécies de árvores do gênero Erythrina abaceae na Mata Atlântica do sudeste do Brasil

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Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(1):123-128, 30 de março de 2008
Associação entre aves e flores de duas espécies de árvores...
Associação entre aves e flores de duas espécies de árvores do gênero
Erythrina (Fabaceae) na Mata Atlântica do sudeste do Brasil
Ricardo Parrini1 & Marcos A. Raposo2
1. Rua Desembargador Isidro, 126, bloco C, apto. 801, 20521-160 Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2. Setor de Ornitologia, Departamento de Vertebrados, Museu Nacional/UFRJ, Quinta da Boa Vista s/n, 20940-040 Rio de Janeiro, RJ,
Brasil. (raposo@mn.ufrj.br)
ABSTRACT. Association between birds and flowers of two species of trees of the genus Erythrina (Fabaceae) in the Atlantic
forest of southeastern Brazil. Flowers are considered important resources in the diet of birds during the dry season. We studied the
interaction between birds and two species of the trees of genus Erythrina (E. falcata and E. verna) at four localities in the state of Rio de
Janeiro: Serra dos Órgãos, Serra da Mantiqueira, Vale do Paraíba, and the southern coastal area (Costa Verde). Sampling was during the dry
season. The purpose of this study was to identify the bird species recorded visiting these Leguminosae species and to describe their feeding
behavior. A total of 27 bird species were recorded feeding on nectar and 16 were recorded catching arthropods attracted by the flowers.
Some strategies used by birds to exploit nectar are described. The presence of so many species and the time spent by them on the trees
corroborate the importance of nectar consumption and flowers to the bird community during the dry season. The importance of bird
species on pollination is also discussed.
KEYWORDS. Erythrina, birds, flower resources, pollination.
RESUMO. Flores são consideradas um importante recurso na alimentação de aves em épocas secas. A interação entre aves e árvores do
gênero Erythrina (E. falcata e E. verna) foi estudada em quatro regiões do Estado do Rio de Janeiro: Serra dos Órgãos, Serra da
Mantiqueira, Vale do Paraíba e região litorânea da Costa Verde. A amostragem foi realizada na época mais seca do ano. Objetivou-se listar
as espécies de aves que utilizam recursos florais e descrever os comportamentos associados. Ao todo, 27 espécies de aves foram observadas
alimentando-se de néctar ou outros recursos florais e 16 apenas predando artrópodes atraídos pelas flores. A presença de um número
elevado de espécies e o tempo despendido por elas nas árvores corroboram a relevância do néctar e das florações como recursos
alimentares para a comunidade de aves na época mais seca do ano. É discutido também o papel exercido pelas aves na polinização.
PALAVRAS-CHAVE. Erythrina, aves, recursos florais, polinização.
Erythrina (Fabaceae) é um gênero pantropical com
cerca de 110 espécies, tendo sua polinização efetuada
principalmente por aves (BRUNEAU, 1997; COTTON, 2001).
A interação entre aves e plantas desse gênero foi estudada
na Região Neotropical por MORTON (1979), FEINSINGER et
al. (1979), COTTON (2001) e RAGUSA-NETTO (2002), entre
outros. Alguns trabalhos empreendidos em distintas
regiões do Brasil mostraram a relevância das florações
de diferentes espécies do gênero Erythrina na
alimentação das aves. VITALI-VEIGA & MACHADO (2000)
constataram que as flores de Erythrina speciosa
constituem importante fonte alimentar para as aves no
inverno, em área urbana da cidade de Rio Claro, Estado
de São Paulo. RAGUSA-NETTO (2002), por sua vez, revelou
que a floração de Erythrina dominguezii representa
recurso alimentar alternativo para aves frugívoras em
florestas secas do oeste do Brasil durante os meses da
estação seca. Nesse sentido, alguns autores, como
TERBORGH (1986) e OLMOS & BOULHOSA (2000), sugeriram
que plantas que possuem alta produção de frutos ou
flores podem atrair muitas espécies de aves e mamíferos
em épocas de escassez de chuvas, funcionando como
recursos-chave. Na Mata Atlântica, alguns trabalhos têm
relatado a associação entre aves e plantas do gênero
Erythrina (VITALI-VEIGA & MACHADO, 2000; ALMEIDA &
ALVES, 2001; WILLIS, 2002).
Este estudo enfoca as aves observadas
consumindo os recursos florais de Erythrina falcata e
Erythrina verna em quatro diferentes regiões do Estado
do Rio de Janeiro, durante a estação mais seca de
diferentes anos. Os objetivos foram determinar as
espécies de aves que se alimentam desses recursos
florais e descrever os seus comportamentos. Discute-se
com base nos dados levantados a importância das flores
de E. falcata e E. verna como recurso alimentar para as
aves, assim como potenciais deslocamentos
empreendidos pelas aves e o papel destas como agentes
polinizadores.
MATERIAL E MÉTODOS
Erythrina falcata é uma árvore de grande porte,
com até 35m de altura, que ocorre em vários países da
América do Sul: Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru e Brasil
(CARVALHO, 2003). No Brasil, ocorre desde Minas Gerais e
Mato Grosso do Sul até o Rio Grande do Sul. É encontrada
com regularidade em formações secundárias e capoeiras,
sendo típica para o sopé das grandes serras “com neblina”
(CARVALHO, 2003). Suas flores são vermelhas ou
alaranjadas, de 3 a 5cm de comprimento, situadas em
numerosos cachos pendentes na extremidade de ramos.
No Estado do Rio de Janeiro, a espécie floresce em agosto
e setembro (CARVALHO, 2003).
Erythrina verna é uma árvore de até 20m de altura
que ocorre na Bolívia e no Brasil, sendo encontrada em
várias regiões, incluindo o sudeste brasileiro (BACKES &
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PARRINI & RAPOSO
IRGANG, 2004). Assim como a espécie anterior, é encontrada
principalmente em formações secundárias. Suas flores
são vermelhas, tendo até 5cm de comprimento, situadas
em cachos pendentes na extremidade de ramos. A floração
ocorre em agosto e setembro, com a árvore desprovida
de folhas (BACKES & IRGANG, 2004). No gênero Erythrina,
o néctar é acumulado no cálice, na base das flores (VITALI-
VEIGA & MACHADO, 2000; COTTON, 2001).
O presente estudo foi empreendido em quatro
diferentes regiões do Rio de Janeiro onde a vegetação
original, a Floresta Pluvial Atlântica, ainda pode ser
encontrada, especialmente em parques nacionais e na
região da Costa Verde (litoral sul do estado), onde mescla-
se com áreas antrópicas em diversos setores.
As florações de E. falcata foram acompanhadas na
Serra dos Órgãos e da Mantiqueira e as de E. verna no
Vale do Paraíba e na região litorânea da Costa Verde.
Na Serra dos Órgãos, as observações foram feitas
no município de Teresópolis (22°24’S, 42°57’W) em duas
localidades distintas: no Parque Nacional da Serra dos
Órgãos (altitudes entre 800 e 1.400m) e no Bairro de
Ermitage (820m), nas seguintes datas: 31.05.2001,
06.06.2001, 18 a 20.06.2001, 01.07.2002, 05.07.2002,
9 e 10.07.2002. Foram observadas 32 árvores, tanto em
bordas de florestas quanto em locais abertos, totalizando
960min de observação.
Na Serra da Mantiqueira, as observações foram
feitas no município de Itatiaia (22°29’S, 44°33’W) nos
limites do Parque Nacional de Itatiaia (altitudes entre 750
e 1.420m), nas seguintes datas: 09 a 13.06.2001, 27.07.2002,
29.07.2002, 18 a 20.08.2002, 18 a 21.08.2003, 10.07.2004,
12.07.2004, 17 e 18.07.2004, 17 a 20.08.2004, 12 e 13.06.2005.
Foram observadas 29 árvores, a maioria delas situada em
bordas de florestas, totalizando 1.750min de observação.
No Vale do Paraíba, as observações foram
empreendidas no município de Barra Mansa (22°32’S,
44°10’W), ao longo da estrada RJ-155, entre a cidade de
Barra Mansa e a localidade de Getulândia (altitudes
entre 420 e 500m), nas seguintes datas: 20 e 21.10.2001 e
29 e 30.07.2002. Ao longo dos dez quilômetros iniciais
dessa estrada, 17 árvores foram observadas, sempre em
locais abertos e capoeiras, totalizando 420min de
observação.
Na região da Costa Verde, as observações foram
empreendidas em duas localidades: os arredores da
localidade de Perequê (altitudes de 30 a 50m), no município
de Angra dos Reis (23°00’S, 44°19’W), em 13 e 14.09.2001
e 20 e 21.10.2004,e no município de Parati (23°13’S,
44°42’W), em área da Fazenda Olaria situada a 2km ao sul
da cidade, na margem da estrada BR-101 (altitude de 30m),
entre 08 e 10.11.1995. Foram observadas 23 árvores em
Angra dos Reis e 17 em Parati, em orla de florestas e
locais abertos, totalizando 830min de observação.
As estações de floração observadas para E. falcata
e E. verna foram mais longas do que as citadas na
literatura por CARVALHO (2003) e BACKES & IRGANG (2004),
mas ainda dentro da época de estio na Região Sudeste
(final de abril a meados de novembro) (DAVIS, 1945).
Foram utilizados dois métodos para observar as
aves em Erythrina: o método de árvore-focal e o de
transecto. No primeiro, observou-se uma determinada
árvore por períodos de até 2h pela manhã, sempre até
09:00h, anotando-se as espécies que consumiam recursos
florais ou artrópodes, assim como seus comportamentos.
No segundo, utilizado em apenas alguns dias,
percorreram-se trilhas ou estradas, anotando-se o número
de árvores, espécies de aves e comportamentos
associados. Foram utilizados binóculos 8x30 nas
observações.
A identificação das duas espécies vegetais foi feita
mediante comparação direta nos herbários do Parque
Nacional da Serra dos Órgãos e do Jardim Botânico do
Rio de Janeiro. A nomenclatura utilizada para as aves foi
a de SICK (1997).
RESULTADOS
Ao todo 27 espécies de aves foram observadas
alimentando-se de recursos florais de Erythrina spp. A
tabela I mostra as espécies de aves observadas, o número
de registros em cada região, o método alimentar e o padrão
das visitas (número de indivíduos) exibido por cada
espécie. A seguir são enumerados detalhes e variações
comportamentais observados nas quatro diferentes
famílias de aves identificadas.
Cracidae. Penelope obscura (Temminck, 1815) foi
observada em bandos com 4 a 9 indivíduos em E. falcata,
sempre comendo brotos de flores ainda fechadas no início
da floração.
Psittacidae. As espécies dessa família foram
registradas geralmente em bandos com até 22 indivíduos,
apresentando comportamentos de certa forma
semelhantes entre si. Aratinga leucophthalmus (Statius
Muller, 1776), em grupos de até 18 indivíduos, utilizou em
similar proporção dois tipos de comportamentos. No
primeiro, as aves inseriram o bico nas flores para sorver o
néctar, parecendo em alguns casos trincar e furar a base
da flor. No outro método, as aves arrancaram as flores
com o bico e mandibularam-nas de forma a sorver o néctar,
sendo a flor descartada sob a árvore ao final do processo.
Neste último caso, o tempo gasto desde a remoção até o
momento em que a flor era descartada variou de 3 a 10s.
Uma vez que a flor é descartada, a ave logo se move nos
ramos para coletar outra flor. Brotogeris tirica (Gmelin,
1788), em bandos de até 16 indivíduos, alternou
comportamento similar ao primeiro mencionado para A.
leucophthalmus com outro, em que as aves removeram
as flores com o bico e em seguida utilizaram um dos pés
para segurá-las enquanto sorviam o néctar. Observamos
aves removendo de 4 a 7 flores em um minuto. Este último
comportamento foi exibido também por Brotogeris chiriri
(Vieillot, 1818) e Pyrrhura frontalis (Vieillot, 1817), sendo
mais freqüentemente observado nesta última espécie.
Pyrrhura frontalis, que empreendeu visitas com até 22
indivíduos, empregou, adicionalmente, os mesmos
comportamentos mencionados para A. leucophthalmus em
que não ocorre a utilização dos pés. Pionus maximiliani
(Kuhl, 1820), em bandos de até 12 indivíduos, sempre
removeu as flores utilizando eventualmente as patas.
Embora não tenhamos observado o consumo de
pétalas por membros dessa família, achamos possível a
ingestão, mesmo que involuntária, e sobretudo de outras
partes florais (e. g. estames) durante a mandibulação
empreendida por algumas espécies.
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Visitas com duração de aproximadamente 30 a 40min
foram registradas para A. leucophthalmus (n=3), B. tirica
(n=7) e P. frontalis (n=5). Para esta última espécie, foram
registradas outras com tempo superior a 140min (n=2).
Durante o tempo em que as aves permaneceram nas árvores
ocorreram, no entanto, períodos de inatividade em que as
aves estiveram pousadas sem se alimentar.
Trochilidae. Várias espécies de beija-flores
utilizaram os recursos florais de Erythrina. Para obtenção
de néctar, as espécies pairaram ou pousaram brevemente
nas pétalas enquanto inseriam o bico na flor. Entre as
espécies observadas, Eupetomena macroura (Gmelin,
1788), Clytolaema rubricauda (Boddaert, 1783) e
Leucochloris albicollis (Vieillot, 1818) apresentaram
comportamentos territoriais, espantando outras espécies
de beija-flores. Leucochloris albicollis, aparentemente
a mais territorial entre elas, perseguiu indivíduos da
própria espécie (n=14) e de outras, como C. rubricauda
(n=3) e Stephanoxis lalandi (Vieillot, 1818) (n=1).
Clytolaema rubricauda foi a espécie de ave mais
registrada em E. falcata na Serra dos Órgãos, onde foi
observada em agregações de até cinco indivíduos.
Leucochloris albicollis, em grupos de até dez indivíduos,
foi uma das espécies mais freqüentemente encontradas
em E. falcata, tanto na Serra dos Órgãos como na
Mantiqueira. Outras espécies que empreenderam visitas
em grupos foram Colibri serrirostris (Vieillot, 1816), com
até seis indivíduos, e Anthracothorax nigricollis (Vieillot,
1817), com até 13 indivíduos em E. verna. Eupetomena
macroura foi registrada em pequenos grupos de 3 a 4
indivíduos e apenas em E. verna. As demais espécies
empreenderam visitas com até dois indivíduos.
Phaethornis eurynome (Lesson, 1832), S. lalandi e
Aphantochroa cirrhochloris (Vieillot, 1818) foram
visitantes raros de E. falcata.
Algumas espécies de beija-flor estiveram entre as
aves com as visitas mais prolongadas. Esse é o caso de
L. albicollis e E. macroura, as quais permaneceram por
mais de 120min em E. falcata, e de A. nigricollis, com
períodos de 40 a 60min em E. verna. Assim como os
psitacídeos, os beija-flores também “descansaram” em
certos períodos durante estas longas estadias nas árvores.
Emberizidae. Essa família revelou diversidade
comportamental durante a obtenção de recursos florais,
Tabela I. Número e características das visitas de aves que utilizaram recursos florais de Erythrina spp. (Fabaceae) em quatro áreas
amostradas no Estado do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil. Recurso floral explorado: Pe, pétalas; Ne, néctar; Br, brotos de flor. Método
utilizado para obtenção do recurso alimentar: A, inserir o bico entre as pétalas para obtenção de néctar; B, perfurar a base da flor para
obtenção de néctar; C, remover flores inteiras com o bico para sorver néctar; D, remover e ingerir pedaços de pétalas; E, remover e ingerir
brotos de flores. Padrão das visitas: S, ave solitária; P, em pares; B, em bando.
 Erythrina falcata Erythrina verna
Famílias e Serra dos Serra da Vale do Costa Verde Recurso Método de Padrão das
espécies de aves Órgãos Mantiqueira Paraíba explorado obtenção visitas
CRACIDAE
Penelope obscura 5 Br E B
PSITTACIDAE
Aratinga leucophthalmus 4 2 6 Ne A, C P, B
Pyrrhura frontalis 7 21 Ne A, C P, B
Brotogeris tirica 8 2 7 Ne A, C P, B
Brotogeris chiriri 4 Ne C P, B
Pionus maximiliani 3 Ne C P
TROCHILIDAE
Phaethornis eurynome 2 Ne A S
Eupetomena macroura 9 3 7 Ne A S, P, B
Melanotrochilus fuscus 8 2 16 Ne A S, P
Colibri serrirostris 5 4 Ne A S, P, B
Anthracothorax nigricollis 2 11 Ne A S, P, B
Stephanoxis lalandi 1 1 Ne A S
Thalurania glaucopis 16 10 3 Ne A S, P
Leucochloris albicollis 32 17 1 3 Ne A S, P, B
Amazilia versicolor 6 2 6 9 Ne A S, P
Amazilia lactea 5 Ne A S, P
Aphantochroa cirrhochloris 1 Ne A S
Clytolaema rubricauda 37 6 Ne A S, P, B
EMBERIZIDAE
Coereba flaveola 11 5 6 6 Ne A, B S, P, B
Cissopis leveriana 3 Br E P
Ramphocelus bresilius 3 5 Ne A S, P
Thraupis sayaca 2 3 3 6 Ne-Pe A, D S, P, B
Tangara cayana 1 Ne A P
Dacnis nigripes 4 Ne A P, B
Dacnis cayana 14 18 9 5 Ne A S, P, B
Psarocolius decumanus 4 2 Ne A BCacicus haemorrhous 33 3 Ne A, C P, B
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PARRINI & RAPOSO
com uso freqüente da técnica do “espaçar” (SICK, 1997).
Cacicus haemorrhous (Linnaeus, 1766) foi a espécie de
ave com maior número de registros (n=33) em E. falcata
na Serra da Mantiqueira, tendo sido registrada poucas
vezes na Costa Verde, em E. verna. O número de
indivíduos por visita variou de 2 a 32. No dia 12.06.2001,
entre 06:20 e 06:40 h, no P. N. de Itatiaia, registramos
aproximadamente 32 indivíduos durante intensa atividade
em torno de diferentes cachos de flores de uma E. falcata.
Três tipos diferentes de comportamentos para obter néctar
foram utilizados por C. haemorrhous, ocorrendo a
remoção de flores em apenas um deles. O mais comum
consiste na ave introduzir o bico por entre as pétalas
para sorver o néctar (n=32), de forma semelhante ao
observado para Psarocolius decumanus (Pallas, 1769).
No segundo mais utilizado, a ave arranca a flor com o
bico e a leva até um galho horizontal próximo para então
firmá-la com um dos pés sobre o ramo e introduzir o bico
por entre as pétalas (n=18). No terceiro, a ave inicialmente
puxa a flor com o bico e, a seguir, segura-a com um dos
pés enquanto insere o bico por entre as pétalas sem
arrancar a flor de seu ramo. O último comportamento foi
observado apenas em E. falcata. A técnica do “espaçar”
foi registrada durante os três comportamentos citados
anteriormente, no momento em que as aves inseriam o
bico nas flores (n=16).
Cissopis leveriana (Gmelin, 1788) comeu pequenos
botões novos e ainda fechados de flores com coloração
marrom-avermelhada. Coereba flaveola (Linnaeus, 1788)
obteve néctar de duas maneiras. Na primeira, a ave,
enquanto inseria o bico por entre pétalas de flores ainda
fechadas, utilizou o “espaçar” de forma a abrir espaço
para sorver o néctar. Na outra, aves perfuraram a base
das flores. Dacnis cayana (Linnaeus, 1766), registrada
em todas as regiões, foi uma das espécies mais observadas
em flores de E. falcata. Sempre em número de 1 a 4
indivíduos, esta espécie foi observada inserindo o bico
em flores abertas e fechadas, sendo que nestas últimas
utilizou a técnica do “espaçar” como mencionado para C.
flaveola. Dacnis nigripes (Pelzeln, 1856) foi observada
sempre associada a D. cayana e utilizando
comportamentos similares. Thraupis sayaca (Linnaeus,
1766), em bandos de até sete indivíduos, removeu e
“mascou” pedaços das pétalas de flores ou inseriu o bico
entre as pétalas para sorver o néctar, usando também a
técnica do “espaçar”.
Alguns emberizídeos, como D. cayana e T. sayaca,
alimentaram-se também de artrópodes coletados por entre
as inflorescências. Tempos de permanência em árvores
acima de 30min foram assinalados para C. flaveola, D.
cayana e Cacicus haemorrhous.
Além do consumo direto dos recursos florais, 15
espécies de aves foram observadas somente capturando
artrópodes em E. falcata: Macropsalis creagra (Nitzsch,
1840), Picumnus cirratus (Temminck, 1825), Cranioleuca
pallida (Wied, 1831), Philydor rufus (Vieillot, 1818),
Sittasomus griseicapillus (Vieillot, 1818), Lepidocolaptes
squamatus (Lichtenstein, 1822), Phyllomyias fasciatus
(Thunberg, 1822), Myiornis auricularis (Vieillot, 1818),
Knipolegus cyanirostris (Vieillot, 1818), Oxyruncus
cristatus (Swainson, 1821), Orchesticus abeillei (Lesson,
1839), Hemithraupis ruficapilla (Vieillot, 1818), Tangara
seledon (Station Muller, 1776), Tangara cyanoventris
(Vieillot, 1819), Thraupis ornata (Sparrman, 1789); e
apenas uma em E. verna: Colonia colonus (Vieillot, 1818).
As presas foram capturadas em galhos, folhas, no espaço
aéreo ou nos cachos de flores.
DISCUSSÃO
Este estudo reforça o uso intensivo de flores de
plantas do gênero Erythrina por diversas espécies de
aves na Floresta Atlântica. Em um gradiente altitudinal
que se estende desde as florestas costeiras do litoral sul
do Estado do Rio de Janeiro (Costa Verde) até as florestas
montanas dos Parques Nacionais da Serra dos Órgãos e
Itatiaia (1.420m), diversas espécies de aves foram
observadas consumindo recursos florais de E. verna e
E. falcata ao longo da estação mais seca do ano. Assim
como relatado em trabalhos anteriores (MORTON, 1979;
COTTON, 2001; RAGUSA-NETO, 2002), o néctar pode ser visto
como recurso alternativo para aves frugívoras das famílias
Psittacidae e Emberizidae.
A permanência de várias espécies de aves, amiúde
em bandos numerosos, durante longos períodos nas
árvores estudadas demonstra que as aves estão optando
por explorar por mais tempo os abundantes recursos
florais destas plantas ao invés de procurar outras fontes
de alimento. Esse foi o caso de alguns beija-flores, como
Eupetomena macroura, Leucochloris albicollis e
Clytolaema rubricauda, que permaneceram pelo menos
durante 2h de certas manhãs em ramos de E. falcata; de
alguns psitacídeos, como Aratinga leucophthalmus e
Pyrrhura frontalis, igualmente com longas visitas
(40min) pelas manhãs, e de emberizídeos, como Dacnis
cayana e Cacicus haemorrhous, observados durante
visitas com pelo menos 30min de duração. COTTON (2001)
relatou o mesmo fenômeno em Erythrina fusca, em que
algumas espécies da família Psittacidae permaneceram
durante as primeiras horas do dia sem abandonar as
árvores, mesmo quando não estavam forrageando. Nesse
sentido, ressalta-se que a maior parte das aves
forragearam nas primeiras horas do dia, como já relatado
por COTTON (2001) para E. fusca e por RAGUSA-NETTO (2002)
para Erythrina dominguezii.
Comportamentos territoriais exibidos por algumas
espécies de aves, sobretudo beija-flores, sugerem que
elas estavam defendendo um importante recurso
alimentar. Trochilidae, não surpreendentemente, teve mais
representantes em Erythrina spp. do que qualquer outra
família (12 espécies, 47% do total). Conforme COTTON
(2001), beija-flores foram observados freqüentemente
alimentando-se de néctar em E. fusca e podem ser
dependentes desse recurso. Ainda segundo este autor,
os beija-flores estabelecem territórios em E. fusca ao
longo do dia, parecendo defender uma importante fonte
energética.
VIEIRA et al. (1992) sugeriram que a presença de
algumas espécies de aves em sua área de estudo poderia
estar relacionada com o período de floração de Mabea
fistulifera (Euphorbiaceae). Adicionalmente, MORTON
(1979) relatou que o emberizídeo Icterus spurius
(Linnaeus, 1766) foi a espécie mais comum em sua área
de estudo durante o período de floração de E. fusca.
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É possível que os registros de Brotogeris chiriri e
Dacnis nigripes, espécies não mencionadas em trabalhos
que descrevem a avifauna do P. N. de Itatiaia (HOLT, 1928;
BARTH, 1957; PINTO, 1951, 1954; PARKER & GOERCK, 1997),
estejam associados à floração de E. falcata naquela
região.
Particularmente para as aves, as espécies do gênero
Erythrina devem ser facilmente localizadas durante
deslocamentos sazonais, pelos seguintes motivos: são
árvores altas desprovidas de folhagem durante a floração,
fato que realça a cor vermelha intensa dos diversos cachos
de flores; são geralmente comuns em suas respectivas
regiões e, além disso, possuem “distribuição agregada”
em certos locais. Altas concentrações de E. falcata e de
E. verna podem ser observadas, por exemplo, no P. N. de
Itatiaia e em torno da cidade de Barra Mansa,
respectivamente.
Erythrina verna e E. falcata, por sua vez, devem
beneficiar-se da presença das diversas espécies de aves
devido ao já conhecido papel exercido por esse grupo
como polinizador de plantas desse gênero (KRUKOOF &
BARNEBY, 1974; BRUNEAU, 1997; COTTON 2001; RAGUSA-
NETTO, 2002). Alguns trabalhos anteriores, como os de
KRUKOFF & BARNEBY (1974) e TOLEDO & HERNÁNDEZ (1979),
relataram que existem dois padrões básicos de estrutura
floral no gênero Erythrina: o primeiro com estrutura ou
formato tubular e o segundo não tubular. Ainda conforme
esses autores, enquanto espécies de Erythrina com
estruturasflorais tubulares são polinizadas principalmente
por beija-flores (Trochilidae), as de estruturas não
tubulares, como é o caso de E. falcata e E. verna, são
polinizadas por vários tipos de aves, incluindo também
os beija-flores. No presente estudo, a ocorrência de várias
espécies das famílias Psittacidae, Trochilidae e
Emberizidae consumindo recursos florais das duas
espécies de Erythrina corrobora o padrão “generalista”
estabelecido por esses autores para estas plantas. Com
resultados semelhantes, COTTON (2001) relatou várias
espécies dessas mesmas famílias como potenciais
polinizadoras de E. fusca, espécie com estrutura não-
tubular de flores.
Algumas espécies de aves registradas neste
trabalho foram citadas anteriormente como potenciais
polinizadoras de outras espécies do gênero Erythrina,
também com estruturas florais não tubulares:
Anthracothorax nigricollis para E. fusca (COTTON,
2001), Coereba flaveola e Dacnis cayana para Erythrina
poeppigiana (FEINSINGER et al., 1979) e Psarocolius
decumanus para E. fusca e E. dominguezii (COTTON, 2001;
RAGUSA-NETTO, 2002).
Conforme ressaltado anteriormente por alguns
autores, como COTTON (2001) e RAGUSA-NETTO (2002), aves
que inserem o bico (e a cabeça) por entre as pétalas para
sorver o néctar são potenciais polinizadoras de plantas do
gênero Erythrina, visto que podem, eventualmente,
contactar as anteras e estigmas. Nesse sentido, vários
membros das famílias Trochilidae e Emberizidae (Coerebinae,
Thraupinae, Icterinae) exibiram tal comportamento e, assim,
podem estar entre os principais polinizadores das duas
espécies de Erythrina aqui estudadas.
Mesmo alguns emberizídeos como Thraupis sayaca
e Cacicus haemorrhous, que eventualmente comeram ou
removeram flores, mostraram, alternativamente, tais
comportamentos e também estão entre os potenciais
agentes polinizadores. Os “tanagers” (Emberizidae:
Thraupinae) foram citados como potenciais polinizadores
de E. fusca por COTTON (2001) e FEINSINGER et al. (1979) e
de E. poeppigiana pelo último autor.
De outro modo, algumas aves como Penelope
obscura e Cissopis leveriana, que foram observadas
apenas comendo botões de flores, não devem contribuir
à polinização.
Um caso à parte são os membros da família
Psittacidae que, freqüentemente, apresentaram
comportamentos destrutivos enquanto consumiam
recursos florais. Duas espécies dessa família, Brotogeris
chiriri e Pionus maximiliani, sempre que observados,
apenas arrancavam flores. Cabe ressaltar que RAGUSA-
NETTO (2002) relatou que B. chiriri atuou como predador
de flores em E. dominguezii, em florestas secas do oeste
brasileiro.
Aratinga leucophthalmus, Pyrrhura frontalis e
Brotogeris tirica, no entanto, apesar de exibirem
comportamentos destrutivos na maioria dos casos,
algumas vezes inseriram o bico entre as pétalas para
sorver o néctar, aparentemente sem destruir partes florais,
podendo dessa forma contribuir para a polinização.
No caso das espécies insetívoras, a sua associação
com as árvores estudadas ocorre meramente devido à
concentração de insetos nas proximidades de cachos com
flores. A abundância de artrópodes, especialmente
abelhas e vespas (Hymenoptera), percevejos
(Hemiptera), besouros (Coleoptera) e borboletas
(Lepidoptera), já foi relatada por VITALI-VEIGA & MACHADO
(2000) em Erythrina speciosa e por FEINSINGER et al.
(1979) em E. fusca e E. poeppigiana.
O conhecimento sobre a relação entre aves e as
diferentes espécies vegetais é de vital importância em
termos científicos e de conservação. Este estudo
descreveu comportamentos e levantou dados que
possibilitam o estabelecimento de hipóteses de
associação merecedoras de futuros testes. A relevância
das florações para a alimentação tanto de espécies de
aves nectarívoras (e. g. beija-flores) como frugívoras e
onívoras, como também a relação dessas florações com
deslocamentos migratórios, são temas quase obrigatórios
para futuros estudos sobre a história natural das
comunidades de aves do sudeste do Brasil.
Agradecimentos. Somos gratos à Fundação Carlos Chagas
Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ),
pelo constante suporte ao Setor de Ornitologia, na figura de M. A.
Raposo (proc. Instalação E-26/170.871/2003 e Primeiros Projetos
E-26/170.642/2004). Somos gratos também a Carlos Rodrigo
Meireles Abreu e Renata Stopiglia pelas sugestões e correções do
texto, a Jorge Bruno Nacinovic pela correção do “abstract” e a
José Fernando Pacheco por importantes informações prestadas
aos autores.
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