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Farmacotécnica homeopática Prof. Javier Salvador Gamarra Junior Descrição Fundamentos da farmacotécnica homeopática, aplicada na produção dos medicamentos homeopáticos (MH) de modo seguro, com garantia de qualidade e com promoção de sua eficácia. Propósito O conhecimento dos fundamentos e detalhes da farmacotécnica e da farmácia homeopática é essencial para que o farmacêutico habilitado em homeopatia produza de forma segura, efetiva e qualificada medicamentos homeopáticos, principais ferramentas terapêuticas das Práticas Integrativas e Complementares (PICS) no Brasil. Preparação Antes de iniciar seu estudo, pesquise e acesse a Farmacopeia Homeopática Brasileira, 3ª edição, 2011, disponível no site da Anvisa. Objetivos Módulo 1 Insumos e veículos em homeopatia Reconhecer as bases conceituais de insumos e veículos homeopáticos. Módulo 2 Medicamento homeopático Descrever os conceitos básicos relacionados a medicamentos homeopáticos. Módulo 3 Formas farmacêuticas básicas e derivadas Identificar as formas farmacêuticas básicas e os princípios das formas farmacêuticas derivadas. Módulo 4 Preparação de FFD e formas farmacêuticas de dispensação Reconhecer os métodos de preparação de formas farmacêuticas derivadas, bem como formas de dispensação. Introdução Na atuação do profissional farmacêutico em homeopatia, é indispensável o conhecimento técnico pleno sobre farmácia homeopática e sobre farmacotécnica homeopática. Neste conteúdo, concentraremos nossa atenção na farmacotécnica homeopática. O estudo sobre a farmacotécnica voltada à homeopatia é terreno destinado ao farmacêutico e proporciona as ferramentas para que se possa produzir os medicamentos homeopáticos (MH), seja na farmácia homeopática seja em laboratórios industriais homeopáticos. Você conhecerá os insumos que são empregados na farmacotécnica homeopática, caracterizando-os conceitual e tecnicamente. Depois, abordaremos os conceitos básicos sobre medicamentos e sobre dinamização, técnica peculiar para produção dos MH. Em seguida, apresentaremos o que são as formas farmacêuticas homeopáticas, abordando a básica (FFB) e as derivadas (FFD). Nesse momento, você fará um mergulho nas escalas e nos métodos que são empregados em farmacotécnica homeopática para o preparo das dinamizações. Finalizaremos apresentando as formas farmacêuticas de dispensação. Esse é o percurso que convidamos você a percorrer, conhecendo de modo aprofundado os detalhes da farmacotécnica homeopática, essencial para que o futuro farmacêutico atue na farmácia homeopática com segurança e qualidade. 1 - Insumos e veículos em homeopatia Ao �nal deste módulo, esperamos que você reconheça as bases conceituais de insumos e veículos homeopáticos. Conceito de insumos inertes e descrição de insumos líquidos Vamos conhecer agora os insumos utilizados para a produção de medicamentos homeopáticos. Iniciaremos conhecendo o que são veículos e excipientes. Os veículos (substâncias líquidas) e excipientes (substâncias sólidas ou semissólidas) são denominados como insumos inertes (I.I). Trata-se de substâncias complementares sem ação farmacológica e terapêutica nas concentrações empregadas. Com esses insumos se realizam as diluições, preparam-se as dinamizações e se faz a extração de princípios ativos das drogas, quando se elaboram as tinturas-mãe homeopáticas. Um aspecto importante desse contexto é que, no medicamento homeopático, os veículos se tornam parte integrante dos medicamentos, conduzindo a informação terapêutica e facilitando a administração. São os veículos que incorporam, assimilam e transmitem as virtudes medicinais das substâncias para os organismos vivos. Na farmacotécnica homeopática, empregamos insumos comuns à alopatia (gerais) e alguns que são de uso somente em homeopatia, tais como: Alopatia (gerais) Água pura (ou purificada), álcool (etanol), lactose e sacarose. Homeopatia Glóbulos, microglóbulos, tabletes. É importante que os insumos gerais provoquem pouquíssima ou nenhuma sensibilidade ao organismo. Quanto aos padrões de pureza e qualidade dos insumos homeopáticos, eles devem seguir os compêndios oficiais, farmacopeias e formulários gerais, e os textos homeopáticos específicos, as farmacopeias e formulários homeopáticos. A partir de agora, conheceremos um pouco mais sobre esses insumos. Vamos lá? Insumos líquidos Água pura (ou puri�cada) A água empregada em farmacotécnica homeopática é pura ou purificada de acordo com padrão farmacopeico, sendo essa purificação obtida por meio de várias tecnologias, destilação, bidestilação, osmose reversa, deionização com filtração esterilizante, filtragem por membranas Milli Q. A água deve vir de fontes potáveis – rede pública, poços artesianos. Milli Q É uma marca de sistemas de purificação de água para o fornecimento de água ultrapura tipo I. Apenas equipamentos Milli Q são capazes de fornecer esse tipo de água que é popularmente conhecida como “água Milli Q”. Sistema de osmose reversa. As tecnologias mais frequentes nas farmácias homeopáticas ou em farmácias com manipulação que incluam produção de medicamentos homeopáticos são duas: a destilação e a osmose reversa. O menor custo é com a destilação. Entretanto, a tecnologia mais sustentável do ponto de vista ambiental é a osmose reversa. A água para homeopatia deve ter as seguintes características em termos de qualidade: incolor, límpida, inodora, isenta de impurezas. A armazenagem deve ser em recipientes de plástico virgem, vidro. O estoque de água pura deve ser renovado diariamente, uma vez que o prazo de validade é de 24 horas. Recomenda-se que a renovação do estoque ocorra no período da manhã. A água pura é empregada para preparo de soluções hidroalcoólicas, destinadas para líquidos extratores na técnica de tintura-mãe, para soluções de dinamização, para veículos de dispensação. Recomendação O ideal é que se acople o sistema de pré-filtragem à tecnologia selecionada, usando filtros de celulose, tela metálica, carvão ativado, antes de iniciar o processo de purificação. Isso vai possibilitar melhoria no rendimento e economia na manutenção. O sistema de purificação deve ser limpo e receber manutenção periodicamente. Álcool (Etanol) Na farmácia homeopática, o álcool utilizado é o álcool etílico neutro bidestilado (etanol). No Brasil, pode ser de cana-de-açúcar ou de cereais (neste caso, sobretudo o de milho). Em países europeus se pode empregar álcool obtido da beterraba. O médico fundador da homeopatia, o alemão Samuel Hahnemann, adotava álcool de uva (o chamado espírito do vinho). Frasco de etanol. Em termos de qualidade, o álcool deve ser límpido, incolor, sabor ardente, odor característico e isento de impurezas (sobretudo aldeídos e álcoois superiores). O armazenamento deve ser em embalagens herméticas, por exemplo, bombonas de polietileno. O álcool é o insumo mais importante da farmacotécnica homeopática, em termos quantitativos, para elaboração de tinturas e dinamizações homeopáticas. A seguir, compreenda os tipos de álcool empregados e seus variados usos, conforme Fontes (2018): Etanol a 5% (v/v) Utilizado como insumo inerte na dispensação de doses únicas líquidas. Etanol a 20% (v/v) Empregado para dissolução do 3º triturado (3CH trituração) na preparação da escala cinquenta milesimal. Etanol a 30% (v/v) Utilizado para dispensação de medicamentos homeopáticos em gotas. Etanol a 77% (v/v) Usado nas dinamizações intermediárias. Etanol igual ou superior a 77% (v/v) Direcionado para preparação de dinamizações que impregnarão a lactose, os glóbulos, os comprimidos e os tabletes, além de moldagem dos tabletes. Etanol a 96% (v/v) Aplicado na dinamização de medicamentos na escala cinquenta milesimal. Diferentes diluições etanólicas Direcionado para elaboração de tinturas homeopáticas e na diluição de drogas solúveis. Glicerina Glicerina líquida. A glicerina é um líquido viscoso, xaroposo, límpido, incolor,inodoro, higroscópico (absorve a umidade do ar). Pode ser empregada a glicerina bidestilada ou anidra. A glicerina deve ser acondicionada em embalagens de vidro ou de plástico – limpas e fechadas hermeticamente. Usos da glicerina: nas preparações denominadas “glicerinadas”, em proporções variadas considerando glicerina/água, glicerina/etanol, glicerina/água/etanol (1:1, 1:1, 1:1:1, respectivamente). As preparações são a partir de drogas animais, produtos biológicos, produtos extrativos ou de transformação vegetal. Insumos sólidos, recipientes e acessórios Insumos sólidos Lactose É o açúcar do leite de origem bovina. Descrita como pó branco, cristalino, levemente doce. Seu acondicionamento deve ser em recipientes bem fechados para evitar absorção de odores. É adotada para preparo de dinamizações de drogas insolúveis (trituração) em água pura, etanol e suas soluções, além do emprego na produção de comprimidos, tabletes, glóbulos. Comentário Outro uso relevante da lactose é na forma farmacêutica sólida denominada “pós”, em que se associa insumo ativo líquido (dinamização) com fração de lactose padronizada em peso (300 a 500mg) impregnada com no mínimo 10% de dinamização líquida (v/p). Também se faz a dispensação usando insumo ativo sólido, mantendo mesmo padrão de fração e proporção. Sacarose Garrafa de sacarose pura. Geralmente obtida a partir da cana-de-açúcar, purificada. Insumo descrito como cristais ou massas cristalinas, incolores ou brancas, ou pó cristalino branco, com sabor doce característico. Acondicionar em recipientes bem fechados. A sacarose é empregada no fabrico de várias formas farmacêuticas, como glóbulos, microglóbulos e comprimidos. Comprimidos Os comprimidos são pequenos discos que se obtêm mediante a compressão da lactose ou mistura de lactose e sacarose, com ou sem granulação prévia, e apresentam peso entre 100mg e 300mg. Para a produção dos medicamentos homeopáticos, esses insumos são usados por compressão ou por impregnação. Em impregnação, a proporção insumo ativo líquido/comprimido inerte é, no mínimo, de 10% (v/p). A forma farmacêutica sólida, assim como o próprio insumo inerte, é denominada “comprimidos” e possui pouca ocorrência em homeopatia. Comprimidos. Glóbulos Glóbulos. Essa forma farmacêutica sólida é uma das mais importantes para a homeopatia, amplamente usada na pediatria homeopática. São esferas bem pequenas de sacarose pura ou misturada com pequenas quantidades de lactose. Apresentam três padrões, com base no peso médio: n. 3 (30mg), n. 5 (50mg), n. 7 (70mg). Os glóbulos inertes devem ser esféricos, homogêneos e regulares, brancos, praticamente inodoros e com sabor doce. Devem possuir capacidade de adsorção da forma farmacêutica ativa líquida. São impregnados com a dinamização líquida para obtenção da forma farmacêutica denominada “glóbulos”. Microglóbulos Os microglóbulos inertes são esferas muito pequenas, de sacarose e amido de milho, com padronização em peso de 63mg a cada 100 unidades de microglóbulos, em média, conforme descrito no Organon da arte de curar, obra principal de Samuel Hahnemann (1810), no trecho em que o autor descreveu a técnica de preparo da dinamização cinquenta milesimal. O insumo deve apresentar-se como grão esférico, homogêneo, regular, branco, sabor doce, praticamente sem odor. Deve ser acondicionado em frascos bem fechados (frasco âmbar, por exemplo). Seu emprego é na produção de dinamizações na escala cinquenta milesimal, para geração de estoque e para dispensação. Microglóbulos armazenados em frascos âmbar. Tabletes São preparações de consistência sólida em formato de cilindros achatados, para dissolução na cavidade bucal. São feitos de lactose e obtidos por moldagem em tableteiro, possuem cor branca, são inodoros e de sabor levemente adocicado. O peso médio oscila entre 75 e 150mg. Devem ser acondicionados em recipientes bem fechados. Os tabletes são impregnados com dinamizações líquidas para obtenção da forma farmacêutica sólida denominada “tabletes”. Recipientes e acessórios Os recipientes e acessórios empregados na preparação e no acondicionamento dos medicamentos homeopáticos devem ser de materiais que não podem se alterar nem modificar as atividades medicamentosas. Esse cuidado também se aplica aos frascos de vidro utilizados no armazenamento das tinturas homeopáticas. Nesse caso, é importante que a embalagem seja de vidro, raramente será admitida embalagem plástica. Tinturas-mãe de Arnica montana, Calendula officinalis, Berberis vulgaris, por exemplo, serão sempre armazenadas em frascos de vidro âmbar. Características das embalagens de vidro Consta no texto farmacopeico brasileiro que a preparação e a estocagem de medicamentos homeopáticos e de tinturas homeopáticas devem ser feitas em frascos de vidro âmbar, de quatro classes hidrolíticas, I, II, III, NP. Conheça, a seguir, as características das vidrarias utilizadas em cada uma das classes hidrolíticas: Classe hidrolítica I Vidro não alcalino, neutro, destinado a embalar medicamentos para aplicações intravasculares e de uso parenteral. Classe hidrolítica II Vidro alcalino tipo III, tratado e semineutro, para embalar produtos de uso parenteral que não devem ter seu pH alterado. Classe hidrolítica III Vidro alcalino, em geral utilizado para preparações parenterais, exceto quando ensaios de estabilidade adequados não recomendem o uso. Classe hidrolítica NP Vidro não parenteral, alcalino, para embalagem de produtos para uso oral ou tópico. Acessórios São parte integrante dos recipientes, podendo ter contato direto com os medicamentos. Temos tampas, batoques, gotejadores, conta-gotas, que devem ser de polietileno ou polipropileno. Há ainda as cânulas, que devem ser de vidro, polietileno de alta densidade, polipropileno ou policarbonato. Já os bulbos devem ser de látex, silicone atóxico ou polietileno. Não se deve usar bulbos de borracha, que podem ceder resíduos ao medicamento. Quem utiliza as ponteiras descartáveis também deve estar atento, já que elas entram em contato com os medicamentos. Portanto, devem ser de polietileno de alta densidade, polipropileno ou policarbonato. Insumos, recipientes e acessórios Assista ao vídeo a seguir e conheça os principais insumos, recipientes e outros materiais utilizados em farmacotécnica homeopática. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 No contexto das formas farmacêuticas homeopáticas de dispensação, além dos critérios que estipulam concentração insumo ativo/insumo inerte, um dos elementos críticos é o parâmetro de validade dos insumos empregados na dispensação. Entre os principais insumos inertes empregados na dispensação, estão soluções hidroalcoólicas, água purificada, lactose, sacarose. Com base nessa reflexão, assinale a opção correta em termos de validade de insumos inertes para dispensação. A A validade padrão da água purificada em padrão farmacopeico é de sete dias. B Na dispensação de dose repetida líquida, deve ser adotado o etanol a 77% (v/v). C O etanol a 5% (v/v) é opção admitida para dispensação de dose única líquida. D O etanol padrão para dose repetida líquida deve ser, sempre, etanol a 5% (v/v). Parabéns! A alternativa C está correta. Para dispensação de dose única líquida, está previsto que se utilize água purificada a padrão farmacopeico ou solução hidroalcoólica fraca, no caso até a 5% (v/v). Questão 2 Em farmacotécnica homeopática, o insumo mais importante é o etanol, em termos quantitativos. Mas a água em diversas formas também é necessária e mesmo indispensável na farmácia homeopática, em seus procedimentos de farmacotécnica homeopática. Sabe-se que se parametriza tanto a água considerada potável quanto a água submetida a padrões farmacopeicos. Com base nessa introdução, assinale a opção correta no que tange à água em farmacotécnica homeopática. E Não é permitida a dispensação de dose única sólida empregandoo insumo inerte comprimido. A Para água purificada, a principal técnica de obtenção é a bidestilação. B Não se emprega água purificada em dispensação homeopática, sempre se adotando soluções hidroalcoólicas que variam de fracas a fortes (desde 5% até 77%). C A água a ser purificada deve ser coletada diretamente da rede de abastecimento pública ou do poço artesiano. D Para a pré-filtração da água de abastecimento, pode-se adotar filtros químicos (como carvão ativado) e físicos (telas metálicas e membranas de celulose). Parabéns! A alternativa D está correta. A água para homeopáticos deve ser purificada e as principais técnicas são destilação simples e osmose reversa. Bidestilação é cara e recomendada para indústrias. Água purificada é prevista para dispensação de doses únicas líquidas na FHB3 e não se adota álcool tão forte (77%) para dispensação. O limite é até 30%. A água de abastecimento coletada diretamente da rede pode danificar o sistema de purificação – recomenda-se pré-filtração. Para doses repetidas líquidas, adotar soluções hidroalcoólicas, o padrão farmacopeico é 30%. 2 - Medicamento homeopático Ao �nal deste módulo, esperamos que você descreva os conceitos básicos relacionados a medicamentos homeopáticos. De�nições relacionadas a medicamentos homeopáticos Medicamento homeopático x remédio homeopático E Para doses repetidas líquidas, sempre adotar como veículo de dispensação água purificada a padrão farmacopeico. Você lembra das definições de medicamento e remédio? Medicamento Representa produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico (BRASIL, 1973; BRASIL, 2019). Remédio Corresponde a qualquer tipo de produto ou ação usado para curar ou aliviar doenças, sintomas, desconforto ou mal-estar. Complementando a definição de remédio, poderia ser tanto medicamentos industrializados/manipulados quanto chás, procedimentos lúdicos (abraço, por exemplo) e medicamentos de quaisquer racionalidades médicas. Agora, vamos pensar nessas definições no contexto da farmácia homeopática: Possui dois significados importantes. Um voltado aos aspectos filosóficos, em que é toda substância que tem a capacidade de produzir sintomas no homem sadio e de fazer desaparecer sintomas semelhantes no indivíduo enfermo, em um processo dinâmico que resulta em movimentação biopsicoanatomofuncional em direção à cura, seja no plano físico, mental ou moral. O segundo traz a visão farmacotécnica, em que o medicamento homeopático é toda forma farmacêutica de dispensação ministrada seguindo dois princípios de cura, como entende nossa Farmacopeia homeopática (2011), o da semelhança e o da identidade, com finalidade curativa/preventiva, obtida pela dinamização, com uso interno e externo. A técnica da dinamização será analisada em detalhes. Medicamento homeopático É um conceito inerente à homeopatia e que não deve ser confundido com o de remédio que você já conhece. Trata-se do medicamento homeopático que alcançou sucesso em suas finalidades, ou seja, alcançou a cura do paciente ao coincidir com a sintomatologia semelhante apresentada pelo doente durante a consulta e anamnese homeopática. Contexto de prescrição durante os estudos e trabalhos de Hahnemann Para desenvolver o contexto da ferramenta terapêutica da homeopatia, seu criador, Hahnemann, passou por diversas etapas no desenvolvimento de seu trabalho. Iniciou com uso e investigação de drogas em concentrações elevadas. O exemplo emblemático é o ensaio original, empregando China officinalis. Depois, passou a diluir as substâncias em solventes adequados, água purificada e açúcar de leite e, finalmente, desenvolveu a técnica farmacêutica peculiar à homeopatia, denominada dinamização. Dinamização homeopática Para entender a técnica criada por Hahnemann, analisemos alguns conceitos básicos. Diluição Diluir é desconcentrar, mediante adição de um líquido ou um sólido. Diluir também é atenuar. Adicionar solvente a uma solução explica bem o que é diluição. Esse procedimento em que se adiciona insumo inerte a um insumo ativo tem por consequência a redução da concentração de insumo ativo. Dinamização O termo dinamização é inerente à farmacotécnica homeopática. Resulta do processo de diluições seguidas de agitações mecânicas, que recebem uma denominação própria, as sucussões e/ou triturações. Antes de avançarmos, vamos entender o que é sucussão e trituração? Sucussão Remédio homeopático É um processo manual no qual ocorre um movimento vigoroso do insumo ativo dissolvido em insumo inerte adequado, por meio do movimento do antebraço, devidamente ritmado, contra um anteparo semirrígido. O movimento do braço humano se dá em angulação próxima a 90°, devendo ser repetido 100 vezes (100 ciclos ou golpes). É possível recorrer a tecnologias eletromecânicas, como os braços sucussionadores, que devem reproduzir o processo manual. Esse processo é utilizado quando os insumos são líquidos. Trituração É um procedimento que consiste na redução do insumo ativo a partículas menores, usando lactose como insumo inerte, para dinamizar o constituinte ativo. O processo pode ser manual (usando gral e pistilo) ou mecânico, neste caso, adota-se os moinhos de bolas, entre outras tecnologias. Nomenclatura dos medicamentos homeopáticos Como surgiu a nomenclatura dos medicamentos homeopáticos? A denominação dos medicamentos homeopáticos segue regras técnico- científicas bem estabelecidas. Os nomes são científicos, atendendo a regras internacionais de nomenclatura botânica, zoológica, biológica, química, farmacêutica, além de incluir nomes tradicionais dessas drogas na homeopatia. Nesses casos, constantes de compêndios oficiais, como farmacopeias e formulários homeopáticos, matérias médicas ou outras obras reconhecidas no meio homeopático. Os nomes são latinos ou então latinizados e científicos. Esse sistema começou durante os trabalhos pioneiros de Hahnemann e outros grandes homeopatas. Na nomenclatura moderna, basta grafar o primeiro nome iniciando por maiúscula e os demais, sempre, em minúscula. Exemplo Vejamos o caso de Arnica montana. Basta registrar desse modo, que estará identificada a droga investigada por Carlos Lineu (botânico sueco, 1707-1778), que é registrada como Arnica montana L. (em itálico, também se usa negrito e muitas vezes sublinhado), grande droga vegetal de importância homeopática. Na homeopatia se dispensa esses procedimentos. A organização das regras para nomenclatura é importante para análise e aviamento das prescrições pelos farmacêuticos, uma vez que orienta a conduta técnica dos prescritores profissionais de saúde homeopatas habilitados (médicos, cirurgiões-dentistas, médicos veterinários, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, além dos próprios farmacêuticos), na elaboração das receitas homeopáticas. Descrição das regras de nomenclatura A Farmacopeia Homeopática Brasileira em vigor apresenta com clareza as regras a serem adotadas para a nomenclatura homeopática. Usaremos sua referência técnica como base e comentários adicionais além de Fontes [(ed.), 2018]. Primeira recomendação Primeiro nome em letra maiúscula, segundo e seguintes, sempre em letra minúscula. Exemplos: Nux vomica, Apis mellifera, Pulsatilla nigricans, Ruta graveolens. Segunda recomendação Caso de uso de única espécie usada em homeopatia, admite-se que se use apenas gênero. Exemplo: é o caso de Lycopodium (Lycopodium clavatum). Terceira recomendação Há casos de nomes consagrados em homeopatia, em que se adota somente gênero, omitindo a espécie, desde que o procedimento não permita que haja dúvidas. Exemplos: Um dos casos mais emblemáticos é o do Eupatorium perfoliatum. Embora haja outras espécies, por exemplo, Eupatorium hagelundii, Eupatorium spathulatum, são pouco utilizadas. Desse modo, usar Eupatorium somente remete ao E. perfoliatum. E esseuso é corrente em homeopatia. Quarta recomendação Há casos de nomes consagrados em homeopatia em que se faculta omitir o gênero, adotando a espécie. Exemplos: Atropa belladonna, se usa Belladonna, Solanum dulcamara, se usa Dulcamara, Citrullus colocynthis, se adota Colocynthis. Quinta recomendação Quando forem espécies pouco usadas, deve ser utilizada a grafia completa. Exemplos: Aconitum ferox para não confundir com outra mais comum, Aconitum napellus, que adota somente o gênero. Outro exemplo, Crotalus horridus, para não confundir com Crotalus terrificus. Lobelia inflata, para não confundir com a espécie Lobelia purpurea. Sexta recomendação Outro caso importante é a denominação de drogas químicas, além da nomenclatura oficial, se adota a nomenclatura consagrada pelo uso homeopático. Exemplos: Barium e seus compostos, se admite também Baryta, como em Baryta carbonica. Bromum e seus compostos, se admite Bromium, como em Bromium, o metaloide. Em Calcium e seus compostos, se admite Calcarea, como em Calcarea phosphorica. Ocorre também em Kalium e seus compostos, adotando-se Kali, como em Kali carbonicum. Outro exemplo para finalizar, Sulfur e seus compostos, admite-se Sulphur, como é a denominação do medicamento homeopático que tem como ponto de partida as flores de enxofre. Sétima recomendação Em relação a drogas químicas, ácidos e sais, orgânicos ou inorgânicos, admite-se, além da designação química oficial, aquela consagrada pelo uso homeopático, escrevendo-se, de preferência, em primeiro lugar, o nome do elemento ou do íon de valência positiva e, em segundo lugar, o de valência negativa. Exemplos: Acidum aceticum ou Acetic acidum, Acidum muriaticum ou Muriatis acidum, Acidum nitricum ou Nitri acidum. Oitava recomendação Outro elemento importante é o emprego de abreviaturas na nomenclatura de medicamentos homeopáticos. Deve-se atentar para evitar geração de dúvidas com a aplicação do procedimento. A Farmacopeia homeopática brasileira (FHB) exemplifica situações que podem dar margem à dúvida, Antim. ars. que poderia ser identificado como Antimonium arsenicosum (deve-se abreviar Antim. arsenic.) ou Antimonium arsenicum (deve-se abreviar Antim. arsenicum), que são drogas distintas. Nos casos identificados como corretos são descritos: Mercurius solubilis (Merc. sol. ou Mercur. sol.), Atropa belladonna ou Belladonna (Bell. ou Bellad.), Solanum dulcamara ou Dulcamara (Dulc. ou Dulcam.). Sinonímias Os sinônimos adotados homeopaticamente (sinonímias) devem seguir o que está constando na literatura homeopática, obras consagradas, oficiais e científicas. Não é permitido o uso de sinônimos arbitrários que não constem nas obras comentadas acima, assim como códigos, números, siglas, nomes arbitrários. Reforçando, a prática é vedada de acordo com o regramento sanitário brasileiro. São ferramentas importantes para fortalecer a adesão terapêutica e devem ser empregadas com critério pelo clínico. Elas são úteis, por exemplo, nos casos de pacientes autodidatas, que procuram informações sobre seus medicamentos homeopáticos na internet, por exemplo, e que podem acabar buscando questionar a decisão do clínico de selecionar esse ou aquele medicamento. Exemplos de sinonímias adotadas: Nomenclatura Sinonímias Arsenicum album Metallum album Bryonia alba Vitis alba Calcarea carbonica Calcium ostrearum, Calcarea edulis Graphites Carbo mineralis, Plumbago mineralis Hydrastis canadenses Warneria canadenses Lappa major Arctium majus Lycopodium Muscus clavatus Pulsatilla Anemone pratensis Nux vomica Strychnos colubrina Sulphur Flavum Tabela: Relação entre nomenclaturas e sinonímias utilizadas na homeopatia. Thaiane Andrade. Abreviaturas e símbolos em farmácia homeopática Existem símbolos e abreviaturas que fazem parte da rotina operacional da farmácia homeopática e sua abordagem farmacotécnica (constam da farmacopeia, na rotulagem dos medicamentos), assim como são empregados na elaboração das prescrições dos profissionais de saúde homeopatas habilitados. Na tabela a seguir, veja a relação de símbolos e abreviaturas úteis para a prática da farmacotécnica homeopática. Símbolos e abreviaturas - Farmacotécnica homeopática Comprimido (comp.) Microglóbulo (mcglob ou mcgl.) Diluição (dil.) Partes iguais (ana ou ãã) Dinamização (din.) Quantidade suficiente (qs) Escala centesimal, método Hahnemanniano (CH) Quantidade suficiente para (qsp) Escala cinquenta milesimal (LM) Resíduo seco tintura-mãe (r.s.) Escala decimal de Hering, método Hahnemanniano (DH) Resíduo sólido de vegetal fresco (r.sol.) Farmacopeia Homeopática Brasileira (FHB) Solução (sol.) Forma farmacêutica básica (FFB) Tabletes (tabl.) Glóbulos (glob.) Tintura-mãe (Tint.mãe, TM, ϕ) Método de Fluxo Contínuo (FC) Título alcoólico da tintura- mãe (tit. alc.) Método Korsakoviano (K) Trituração (trit.) Tabela: Símbolos e abreviaturas. Thaiane Andrade. Classi�cação dos medicamentos homeopáticos em categorias Origem dos medicamentos homeopáticos Os medicamentos homeopáticos podem ser categorizados considerando origem na natureza e espectro de ação farmacológica homeopática. As drogas homeopáticas podem vir de diversas fontes na natureza. Reino Vegetal, Reino Mineral, Reino Animal, Reino Fungi, Reino Monera, Reino Protista, além de drogas desenvolvidas por Hahnemann por meio de marchas analíticas químicas (preparações especiais de Hahnemann), drogas desenvolvidas como fruto do engenho tecnológico humano (químicas, farmacêuticas, biotecnológicas), e drogas de origem biológica natural. Outra categoria importante são as drogas que não se enquadram nas categorias anteriores, mas são obtidas mediante exploração de princípios físicos sobretudo. São denominadas imponderáveis. A seguir, indicamos as categorias de origem dos medicamentos homeopáticos (MH), comentando aspectos básicos sobre o uso de drogas de cada categoria e citando exemplos de drogas: Aspectos básicos: fornece maior número de drogas; drogas frescas ou secas; plantas inteiras ou suas partes – flores, folhas, raízes etc. Importância da identificação botânica e coleta correta. Exemplos de drogas conforme a categoria: Belladonna (planta inteira); Allium cepa (bulbo); Berberis vulgaris (casca da raiz). Aspectos básicos: considera-se drogas em estado natural e drogas obtidas pelas tecnologias de extração, purificação, produção laboratorial. Importância da identificação correta. Usar drogas com padrão de pureza mais elevado (PA). Exemplos de drogas conforme a categoria: Grandes MH: Sulphur, Phosphorus, Aurum metallicum – drogas químicas naturais; Reino Vegetal Reino Mineral drogas industrializadas: Sulfanilamidum, Acidum sulfuricum, Barium carbonicum. Aspectos básicos: menor aporte de drogas entre os 3 reinos principais. Drogas de grande importância. Organismos inteiros, suas partes, produtos extrativos ou de transformação, produtos patológicos. Importância do conhecimento exato da droga, identificação técnica acurada, higidez dos organismos – alimentação, ciclo claro-escuro, regras bioéticas. Exemplos de drogas conforme a categoria: Amanita phalloides (cálice da morte), Lycoperdon bovista, Agaricus muscarius (agárico mosqueado). Apresentam patogenesias ricas. Aspectos básicos: Agrupa bactérias e cianobactérias. São organismos procariontes. Incluídas bactérias e seus produtos fisiológicos – toxinas Exemplos de drogas conforme a categoria: Colibaccillinum (Escherichia coli), Tuberculinum (tuberculina bruta de Koch) Aspectos básicos: três drogas minerais obtidas mediante marchas analíticas. Não existem em estado natural. Exemplos de drogas conforme a categoria: Causticum, Hepar sulphuris calcareum, Mercurius solubilis. Aspectos básicos: agrupa drogas não classificadas nas categorias anteriores. Produtos biotecnológicos, vírus. Exemplos de drogas conforme a categoria: Albuminum, Beta- carotenum, Biotinum, Influenzinum (vírus Influenza), Latrodectus ReinoFungi Reino Monera Preparações especiais de Hahnemann Drogas biológicas matans serum (soro da viúva negra). Classi�cação pelo espectro de ação farmacológica homeopática Aqui se apresenta como se classificam os medicamentos homeopáticos (MH), tendo em consideração o perfil dos estudos realizados para investigação do potencial terapêutico de drogas que podem vir a ser empregadas como MH. É importante compreender que a base dessa classificação é o banco de dados resultante dos estudos denominados Experimentação Patogenética do Homem São, método investigativo desenvolvido por Hahnemann, como já descrito no estudo sobre os fundamentos da homeopatia. Sob esse contexto, os MH se classificam em três grupos: policrestos, semipolicrestos e menores. Analisemos brevemente cada um: Policrestos O termo se origina de duas palavras de origem grega, polys = muito, khréstos = amplo, benéfico, favorável. Interpreta-se que tem muitas aplicações. São MH que apresentaram patogenesias extensas, e isso determina o amplo espectro de ação farmacológica homeopática, as listas variam de país a país, com 24 MH ao todo. Nos estudos de uso de MH, são os mais frequentes nas prescrições. Exemplos de MH policrestos: Arnica montana, Atropa belladonna, Mercurius solubilis, Sulphur. Semipolicrestos Apresentam patogenesias relativamente menos extensas. As listas apresentam 36 MH, e também são variáveis internacionalmente. Exemplos de MH desse grupo: Baryta carbonica, Causticum, Graphytes, Lilium tigrinum, Natrum sulphuricum. Medicamentos menores Apresentam patogenesias de menor porte, porém são drogas importantes já que, na individualização clínica do paciente para escolha do MH, os sintomas descritos em suas matérias médicas podem ser mais raros, mais estranhos e mais peculiares (sigla REP), e assim se ajustarem à necessidade clínica individualizada daquele paciente. Consideremos que são mais de 3.000 drogas investigadas como MH no mundo e que os menores são todos os demais fora dos itens policrestos e semipolicrestos. Classi�cação de medicamentos homeopáticos Você sabe a origem e a classificação dos medicamentos homeopáticos em categoria? Assista ao vídeo a seguir que apresenta exatamente essa temática, com base em exemplos e aplicações. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Medicamento homeopático é uma tecnologia em saúde presente no sistema de saúde brasileiro, podendo ser produzido por manipulação em farmácias homeopáticas ou industrializado em laboratórios farmacêuticos homeopáticos industriais. O que o caracteriza é a farmacotécnica específica, que inclui o processo chamado dinamização. Sobre dinamização homeopática, é correto afirmar: Parabéns! A alternativa D está correta. A alternativa D é a correta, pois apresenta as duas etapas farmacotécnicas que compõem a dinamização, diluição seguida de agitações mecânicas, que para sistemas líquidos são as sucussões. E as sucussões devem ser feitas sempre 100 vezes a cada potência a ser produzida. A Dinamização é ato farmacotécnico peculiar à homeopatia, caracterizado por procedimento de diluições sucessivas em insumo inerte líquido ou sólido adequado. B Para dinamizar, deve proceder a diluições sucessivas em escalas de proporção conhecida consagradas na homeopatia, por exemplo, escala decimal, seguidas de agitações mecânicas denominadas trituração, em sistemas líquidos. C Para produzir as dinamizações, temos duas escalas matemáticas de proporção adotadas na homeopatia, a decimal e a centesimal. D Para preparo de medicamentos na escala centesimal, devemos observar o uso de um frasco de diluição para cada potência a ser produzida, seguida de 100 agitações mecânicas, denominadas sucussões. E O frasco de dinamização, quando aplicado o método hahnemanniano dos frascos múltiplos, deve ser preenchido, sempre, em ½ da sua capacidade, do contrário haverá queda de qualidade no vascolejamento. Questão 2 Os medicamentos homeopáticos (MH), do ponto de vista da Farmacologia Homeopática, são classificados segundo o espectro de ação farmacológica. Sobre esse critério de classificação, analise as afirmações e identifique a correta. Parabéns! A alternativa B está correta. A opção correta é a alternativa B. Os policrestos são os MH mais prescritos e com patogenesias mais extensas, um grupo de 24 drogas. Os MH menores são a maioria dos mais de 3.000 MH investigados até o presente no mundo todo e são importantes pela individualização clínica e pelos sintomas raros, estranhos e peculiares. Os semipolicrestos são 36 drogas cujas listas são A Medicamentos menores são MH de patogenesias pequenas, e compõem um pequeno grupo de medicamentos no universo do arsenal terapêutico homeopático. B Policrestos são os MH de maior abrangência no emprego terapêutico e nos estudos sobre uso desses medicamentos. C O grupo de MH semipolicrestos perfaz um total de 24 drogas. D A relevância dos menores é limitada, já que suas patogenesias são pouco extensas e portanto referem e identificam poucos sinais e sintomas homeopáticos. E Os semipolicrestos se originam apenas de drogas de origem vegetal. variáveis, como é praxe nessa classificação, e se originam dos mais diversos reinos da natureza. 3 - Formas farmacêuticas básicas e derivadas Ao �nal deste módulo, esperamos que você identi�que as formas farmacêuticas básicas e os princípios das formas farmacêuticas derivadas. De�nições O que é tintura-mãe? Como vai ficando claro, à medida que se desenvolve o tema, medicamentos homeopáticos podem ser produzidos a partir das drogas diretamente, ou a partir das tinturas homeopáticas, que são denominadas tinturas-mãe. Forma farmacêutica básica (FFB) é a preparação que constitui o ponto inicial para a preparação das formas farmacêuticas derivadas (FFD). Além disso, FFB é a tintura-mãe (TM), conforme a FHB 3 (2011). Agora, vejamos o que é a TM. Tintura-mãe (TM) é preparação farmacêutica em forma de solução, resultante da ação dissolvente e/ou extrativa de um insumo inerte (I.I.) hidroalcoólico ou hidroglicerinado sobre uma determinada droga. A droga pode ser vegetal fresca ou dessecada e também animal, igualmente fresca ou dessecada. TM pode ser obtida por meio de técnicas como a maceração e percolação, atualmente, sem deixar de considerar que no tempo de Hahnemann havia outra técnica por ele desenvolvida, denominada expressão, atualmente em desuso. A tintura- mãe será identificada pelos símbolos TM e ϕ. O preparo de TM é atribuição do laboratório industrial homeopático, sendo raramente feito em farmácia homeopática, dado que essa produção será onerosa, considerando os requisitos de qualidade exigíveis para o preparo de TM conforme a legislação brasileira. Processos para obtenção da TM Agora passemos à análise dos principais processos de obtenção de TM. A literatura descreve três processos: expressão, técnica de Hahnemann, maceração e percolação – técnicas mais recentes e que prevalecem modernamente. Maceração Na maceração, a droga, vegetal ou animal, é colocada em contato com o líquido extrator, com agitação, durante certo período. Na FHB, esse período está definido em, no mínimo, 15 dias. É importante, durante esse processo, lembrar-se de sempre agitar o frasco com a preparação. A razão para estar atento à agitação é que se trata de uma técnica de extração, na qual atuam a difusão e a osmose. O líquido extrator atua sobre a superfície celular, exercendo a ação dissolvente até que estabelece um equilíbrio, com igualdade de concentração entre os líquidos extra e intracelular. Por isso, é importante a maior quantidade de líquido extrator, garantindo a entrada na célula, provocando seu rompimento. Já a agitação assegura melhor distribuição da droga, reduzindo essa concentração ao redor das células, isso altera o equilíbrio das concentrações. Técnica de maceração. Percolação É a técnica de extração prevista parauso em plantas dessecadas, descrita em diversas farmacopeias, citando-se a norte-americana (HPUS), a alemã (GHP) e a edição brasileira em vigor (FHB, 2011). A técnica brasileira estabelece os seguintes passos: Primeiro A droga vegetal, finamente dessecada e tamisada (tamis 40 ou 60) em recipiente adequado, deve ser deixada em contato com quantidade suficiente de líquido extrator (20% do peso da droga), de modo a umedecer o pó, por um período de quatro horas. Segundo Deve ser feita a transferência para percolador (que tenha capacidade ideal) com cuidado, para evitar formação de canais preferenciais para escoamento do solvente. A droga deve estar distribuída homogeneamente. Terceiro A seguir, coloca-se volume do líquido extrator, que seja suficiente para cobrir toda a droga e obter o volume desejado de tintura- mãe, por 24 horas, com velocidade de percolação calibrada para oito gotas por minuto para cada 100g de droga vegetal. Quarto O solvente deve ser reposto mantendo a droga imersa até se alcançar o volume de TM. Para finalizar, o líquido resultante deve ficar em repouso por 48 horas, ser filtrado e depois armazenado. Expressão A expressão é uma técnica desenvolvida por Hahnemann no começo da homeopatia. Hahnemann a considerava a técnica mais adequada para o preparo de TM a partir de vegetais frescos, conforme posto no Organon. A técnica pode ser descrita por meio dos seguintes procedimentos: Primeiro O vegetal fresco é reduzido em pedaços pequenos até formar uma pasta fina. Essa pasta é envolta em um pano de linho novo. Segundo O pano é prensado para que se obtenha o suco. Esse suco é misturado com álcool de imediato pós-prensagem. Terceiro O preparado será conservado em frasco âmbar fechado, por alguns dias, protegido da luz e do calor. Para finalizar, ele será filtrado em papel de filtro de boa qualidade. Apesar de estar em desuso, essa forma de obtenção tem seu valor histórico que deve ser reconhecido. Preparo a partir de drogas animais, acondicionamento e validade Preparo de TM a partir de drogas animais Para produção de TM tendo como ponto de partida drogas de origem animal, se prevê o uso de animais vivos, recém-sacrificados ou dessecados, podendo usar o animal inteiro, suas partes ou secreções. Para essa TM, a técnica é a maceração, podendo incluir como líquidos extratores soluções hidroalcoólicas ou hidroglicerinadas. Segundo a atual edição da FHB, poderão ser usados como líquidos extratores soluções hidroalcoólicas de 65% a 70% (v/v), mistura glicerina e água (partes iguais), misturas entre etanol, água e glicerina (1:1:1), soluções hidroalcoólicas indicadas nas respectivas monografias de cada droga. A relação droga/líquido extrator para TM de origem animal é de 1:20 (p/v), ou seja, 5%. Exemplo No emprego de drogas a partir de órgãos e glândulas de animais superiores, exemplificado pelo Thyroidinum (obtido da hipófise), o líquido extrator será uma mistura de água e glicerina; não se emprega etanol, que pode alterar constituintes orgânicos. No emprego de drogas a partir de insetos, por exemplo, Apis mellifica, que é a abelha operária inteira viva submetida à maceração, emprega-se mistura hidroalcoólica. Maceração de drogas animais A maceração de drogas animais consiste em, basicamente, acondicionar uma parte da droga, fragmentada ou não, atendendo ao determinado em monografia, em presença de 20 partes de líquido extrator, por pelo menos 20 dias, agitando o recipiente contentor 3 vezes ao dia. A maceração nesse caso deve ocorrer em ambiente refrigerado e protegido da luz. Na etapa seguinte, é feita filtração sem prensagem nem expressão. Se a quantidade final de TM não alcançar 20 vezes o peso da droga, acrescenta-se ao resíduo do macerado quantidade suficiente de líquido extrator. Esse líquido permanecerá em repouso por 48 horas. Findo esse tempo, proceder à filtragem com papel de filtro de boa qualidade. Acondicionamento e conservação de tinturas- mãe Entre os cuidados técnicos no manuseio de TM, sua conservação e seus modos de acondicionamento são críticos para garantia da qualidade de tão importante insumo farmacêutico no contexto da farmácia homeopática. Devem ser acondicionadas em frascos de vidro âmbar, bem fechados e protegidos da exposição à luz e ao calor. Não se recomenda acondicionar TM em frascos de material plástico, pois poderá alterar a qualidade do insumo, em razão do modo de estocagem e da natureza da própria TM. Os procedimentos para TM conforme a natureza de seu preparo são: TM hidroalcoólicas Consiste em armazenar em locais com temperatura entre 16-22°C. TM hidroglicerinadas Baseia-se em estocar em ambientes refrigerados (temperatura entre 2 e 8°C) com prazo de validade inferior a seis meses. Validade de TM Prazo de validade de TM dependerá das condições de estocagem e de sua natureza. É importante destacar que as TM durante a armazenagem poderão sofrer uma série de alterações, como precipitações, oxidações, hidrólises, reações com componentes dos recipientes em que as TM estão armazenadas – pela cedência. Outro fator relevante é a perda de álcool por evaporação – nesse caso, a TM foi acondicionada de modo inadequado. Atenção! Atribui-se à TM o prazo de validade de cinco anos pelos laboratórios, a quem cabe, por lei, essa responsabilidade, e deve ser feita caso a caso. É altamente recomendável que se realizem testes de controle de qualidade após um ano nas TM preparadas com soluções hidroalcoólicas. Deve ser lembrado que as TM perdem suas propriedades farmacológicas à medida que o tempo avança, influenciado pelos procedimentos de armazenamento e acondicionamento. O farmacêutico deve realizar o descarte da TM cuja validade venceu e ao se perceber alterações em suas características organolépticas, turvação, precipitação. O descarte deverá atender às regras de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, conforme preconizado na legislação. Introdução à Formas Farmacêuticas Derivadas (FFD) Formas Farmacêuticas Derivadas Para entendermos as escalas e os métodos das formas farmacêuticas derivadas (FFD), precisamos conhecê-las. As FFD são o produto da aplicação da técnica chamada dinamização sobre as drogas no estado em que se encontram na natureza, sobre as drogas secas, sobre as formas farmacêuticas básicas e intermediárias ou sobre dinamizados anteriores (potências). E o que seriam escalas e métodos? Escalas É uma relação matemática de proporção entre um insumo ativo (IA) e um insumo inerte (II). Essa relação deve ser reproduzível ao longo de toda a execução da técnica. As escalas são seguidas no preparo das diferentes diluições para se obter as dinamizações. A farmacopeia em vigência estabelece que são três as escalas: Decimal, Centesimal e cinquenta milesimal. É o roteiro técnico seguido para o preparo das diversas FFD. São três os Métodos em farmacotécnica homeopática: Hahnemanniano, Korsakoviano e fluxo contínuo. No Brasil, temos uma quarta escala, não oficializada na FHB, mas descrita no Manual de normas técnicas da ABFH, a Escala SD ou Dinamização Especial. A seguir, descreveremos as diversas escalas e métodos. Método Hahnemanniano (H) É o método criado por Hahnemann, identificado pelo símbolo “H” e que se tornou o principal método para preparo de dinamizações homeopáticas. Sua importância se deve ao fato de esse método ser adotado para produzir FFD nas escalas centesimal, decimal e SD, além de ser empregado associado aos outros dois: o Korsakoviano e o do fluxo contínuo. Comentário É também denominado de método dos frascos múltiplos porque, para cada potência produzida, se emprega um frasco de dinamização e um procedimento de agitações mecânicas (sucussões). Vamos agora conhecer as escalas que empregam o método H, conforme a FHB. Escala centesimal (C) A escala centesimal, identificada pelo símbolo “C”, foi desenvolvida por Hahnemann. Inicialmente, o criador da homeopatia usava número baixo Métodos de agitações mecânicas, as sucussões, conforme já descrito anteriormente, sendo entre duas e dez. Depois, com o aprimoramento de seu trabalho, ele propôs que se realizassem 100 fortes sucussões. Assim, a dinamização na Escala Centesimal moderna preconiza que se proceda à diluição de uma parte da substância ativa em 100 partes de diluente (solvente, insumo inerte, veículo) (1:100), o que perfaz uma proporção de 1 parte (substância ativa) + 99 partes (veículo) em frasco que esteja preenchido com a capacidade entre ½ e 2/3 do volume do frasco de dinamização. Segundo Fontes [(ed.)2018], isso permitirá que, durante o ato da dinamização, o sistema líquido a ser dinamizado seja melhor vascolejado, o que qualifica o resultado final do procedimento farmacotécnico. A seguir, veja o passo a passo de produção de uma potência na Escala Centesimal adotando o método Hahnemanniano, tendo como ponto de partida uma TM qualquer. Para o preparo de dinamização na Escala Centesimal a partir de TM: Para o preparo da 2CH: Escala decimal (D ou X) A escala decimal foi criada pelo médico homeopata alemão radicado nos Estados Unidos (EUA) Constantin Hering (1800-1880), em 1833. A produção e popularização da técnica ocorreram devido ao trabalho de Bruno Albert Vehsemeyer (1807-1871), na Alemanha (a introduziu em 1836), e de Samuel Richard Dubs (1811-1900), nos EUA, que iniciou em 1839-1840. Isso traz um aspecto importante, que estabelece como se identificam as potências na Escala Decimal. Saiba mais Na Alemanha, identificou-se pelo símbolo “D” e, nos EUA, pelo símbolo “X”, que atualmente também são adotados. Na FHB, a identificação se dá pelo símbolo DH (escala e método em que se produz, mas admite-se a identificação com X também). Acompanhe a descrição da técnica de preparo de FFD pela Escala Decimal, tendo TM como ponto de partida. Para o preparo de dinamização na escala decimal a partir de TM: Para o preparo da 2DH ou 2X: Escala SD A escala SD (também denominada Dinamização Especial) surgiu nos anos 1990, desenvolvida por Javier Salvador Gamarra (1941-2014), médico homeopata paraguaio radicado no Brasil e primeiro presidente da Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB). A escala é uma alta diluição produzida pelo método H. Não está inscrita na FHB, mas está descrita no Manual de normas Técnicas para Farmácia Homeopática, editado pela Associação Brasileira de Farmacêuticos Homeopatas – ABFH (edição de 2019). A SD é considerada dinamização homeopática não farmacopeica (não está inserida como técnica em compêndios oficiais, sobretudo a edição em vigor da Farmacopeia Homeopática Brasileira) e deve ser preparada segundo prescrição magistral. A diluição da escala SD é 1:100.000, sendo preparada em duplo-passo, tendo como ponto de partida a dinamização 4CH (Centesimal Hahnemanniana). Ela é prescrita e aviada em diversos estados brasileiros (sobretudo nas regiões Sul e Sudeste) e seu conhecimento é importante. Vamos agora conhecer a técnica de preparo de FFD empregando a escala SD. Para o preparo das primeiras dinamizações na escala SD, proceda conforme descrito a seguir. Para preparo da 1SD: Separe uma parte da 4CH + 99 partes de solução hidroalcoólica a 77% (v/v). Aplique 100 fortes sucussões. Separe uma parte da solução obtida + 999 partes de solução hidroalcoólica a 77% (v/v). Aplique 100 fortes sucussões. Este será o medicamento no grau de potência 1SD. Para preparo da 2SD: Separe uma parte da 1SD + 99 partes de solução hidroalcoólica a 77% (v/v). Aplique 100 fortes sucussões. Separe uma parte da solução obtida + 999 partes de solução hidroalcoólica a 77% (v/v). Aplique 100 fortes sucussões. Este será o medicamento no grau de potência 2SD. Para 3SD, repetir o procedimento de duplo-passo usando a 2SD como ponto de partida. Como preparar formas farmacêuticas derivadas – método Hahnemanniano Agora, veja na prática as preparações farmacêuticas derivadas por meio do método hahnemanniano. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Tintura-mãe (TM) é forma farmacêutica básica (FFB), segundo a FHB3 (2011). Desse modo, ela pode ser ponto de partida para preparo de dinamizações homeopáticas. Sobre a FFB, analise as afirmações e assinale a correta. A Tintura-mãe é técnica para obtenção de constituintes que se encontram unicamente em drogas de origem vegetal. Parabéns! A alternativa E está correta. A opção correta é a alternativa E. TM se produz a partir de drogas de origem vegetal e animal. Para preparo das TM, adota-se etanol, água purificada, glicerina e soluções associando esses insumos. A técnica mais adotada nas farmácias é a maceração, já nas indústrias, maceração ou percolação. Expressão é técnica em desuso, somente tem interesse histórico, já que é a pioneira. Para drogas vegetais e animais, pode-se adotar qualquer dos três insumos indicados, a depender da monografia da droga. Questão 2 Um dos aspectos críticos no que tange à farmacotécnica e produção de TM é assegurar que a produção aconteça atendendo a parâmetros rigorosos de qualidade. Isso é aplicado tanto a farmácias homeopáticas quanto a laboratórios industriais homeopáticos. Tendo em conta essa preocupação, analise as afirmações e assinale a correta. B Tintura-mãe deve ser produzida a partir de insumos (líquidos extratores) preparados com água purificada e etanol, não se admitindo outros insumos. C A principal técnica de obtenção de TM é a chamada expressão. D Para drogas animais, adota-se para TM somente as preparações glicerinadas ou mistura de água, glicerina, etanol. E Para preparo de TM de drogas de origem animal, adota-se a Força Medicamentosa (FM) de 1:20 (o que corresponde a 5%). Parabéns! A alternativa A está correta. A opção correta é a alternativa A. TM com insumos glicerinados tem validade menor – geralmente até seis meses. TM por maceração deve ser agitada diariamente durante a preparação. Em termos de temperatura de armazenagem, TM glicerinadas devem ser refrigeradas (2 a 8°C), e não as TM hidroalcoólicas, neste caso a armazenagem deve ser em temperaturas que oscilam entre 16 e 22°C. A Em relação a prazo de validade de TM, o prazo geral, atribuído via indústria, é de até cinco anos, mas deve ser definido mediante testes de estabilidade caso a caso. B TM com insumos glicerinados tendem a ter prazo de validade maior. C É indispensável manter a TM obtida via maceração em repouso absoluto durante a preparação, respeitando o período estipulado. D Em termos de armazenagem, as TM hidroalcoólicas ficam resguardadas refrigeradas e as TM à base de glicerina devem ser armazenadas em temperatura ambiente. E Embalagens de plástico são importante opção para armazenar TM. 4 - Preparação de FFD e formas farmacêuticas de dispensação Ao �nal deste módulo, esperamos que você reconheça os métodos de preparação de formas farmacêuticas derivadas, bem como formas de dispensação. Métodos para preparação de FFD Método Korsakoviano (K) Método de preparo de FFD é denominado Korsakoviano (símbolo “K”) em homenagem a seu criador, o homeopata russo Semion Korsakov (1788-1853). Conhecido também como Método do Frasco Único, pois emprega um único frasco de dinamização para o preparo das FFD. Na FHB, está descrito tendo como ponto de partida a potência 30CH, usando como insumo inerte etanol a 77% (v/v) para o preparo das potências e etanol a 30% (v/v) para o preparo das dispensações. FFD produzidas seguindo essa técnica não podem ser estocadas, conforme a regra farmacopeica. É um método pouco empregado no Brasil, prevalecendo em alguns estados da região Sudeste, além de ser empregado em medicamentos homeopáticos industrializados. O princípio do método K é que a quantidade de líquido aderida às paredes do frasco, após este ser emborcado, reteria quantidade de solução correspondente à centésima parte do volume original, sendo, portanto, equivalente à diluição centesimal. Vejacomo é feito o preparo farmacotécnico de FFD no método Korsakoviano: Separe o ponto de partida (potência 30CH) para preencher o frasco de dinamização (frasco único) em etanol a 77% (v/v). Emborque o frasco do ponto de partida por 5 segundos (cronometrados), escoando o líquido sem interferências. Preencha o frasco de dinamização com insumo inerte - etanol a 77% (v/v) entre ½ e 2/3 da capacidade do frasco. Aplique ao frasco 100 fortes sucussões. Estará pronto o medicamento na potência 31K. Para o preparo das potências subsequentes, repita o procedimento até a potência desejada. Método do Fluxo Contínuo (FC) O método do Fluxo Contínuo, identificado pelo símbolo “FC”, surgiu com a introdução de altas e altíssimas potências na homeopatia, sobretudo pela influência de James Tyler Kent (1849-1916) nos EUA. O método é eletromecânico, usa como solvente água purificada, o que determina elevado consumo de energia e água para a produção das FFD. Segue em uso no Brasil, embora esteja em declínio, o que pode ser devido aos evidentes custos financeiros e ambientais para seu emprego. O princípio do método é a diluição seguida do turbilhonamento do insumo inerte de escolha, a água pura. Deve haver fluxo ininterrupto do insumo inerte. A técnica atual tem como base o equipamento desenvolvido por Paul Lock, o turbo-dinamizador e segue os seus parâmetros. Método Hahnemanniano aplicado a drogas insolúveis Para drogas insolúveis nos solventes principais, água purificada e etanol, o insumo inerte de escolha é a lactose e a técnica de dinamização, desenvolvida por Hahnemann, é a trituração. Escala cinquenta milesimal (LM) Essa escala também é identificada na literatura como método. Na FHB, é escala cinquenta milesimal. O símbolo de identificação é “LM”, sendo também reconhecido, sobretudo fora do Brasil, como “Q”, de quinquemilesimale (em italiano). A técnica da LM foi descrita por Hahnemann na sexta edição de sua obra principal, o Organon da arte de curar, publicada em 1922, nos EUA, postumamente. O autor utilizou a LM nos últimos cinco anos de sua trajetória e a considerava seu melhor e mais aperfeiçoado método. O grau de diluição da LM é 1:50.000. Alguns parâmetros técnicos são básicos para compreender os procedimentos farmacotécnicos em relação à LM. Atenção! A dispensação da LM é sempre de um microglóbulo no veículo de dispensação. Em dose repetida líquida, usar frasco com 2/3 da capacidade preenchida, em dose única líquida, usar um microglóbulo diluído no volume de veículo de dispensação sem precisar adotar a regra de 2/3 da capacidade do frasco. Características e aplicações de métodos para preparação de formas farmacêuticas derivadas Conheça mais profundamente os métodos de fluxo contínuo, hahnemanniano, aplicado a drogas insolúveis, e a escala cinquenta milesimal, por meio de exemplos. Formas farmacêuticas de dispensação líquidas de uso interno As formas farmacêuticas de dispensação em homeopatia se dividem em uso interno e externo, e existem formas farmacêuticas líquidas, sólidas e semissólidas. Vamos analisar as principais formas. Formas farmacêuticas homeopáticas de uso interno Nesse caso, são dois grandes grupos, as líquidas e as sólidas. No Brasil, as mais comuns são: Líquidas Gotas, dose única líquida e formulações líquidas. Sólidas Comprimidos, glóbulos, pós, tabletes, dose única sólida e formulações sólidas. Formas farmacêuticas líquidas Gotas Forma farmacêutica líquida. É a forma farmacêutica dispensada, na maior parte das vezes em etanol a 30% (v/v), padrão farmacopeico, obtida via os métodos já descritos – H, K, FC, com volume definido pelo prescritor. Forma de grande demanda. Prepara-se conforme a FHB estabelece, sendo o medicamento dinamizado na potência requerida (escala e método), em frasco de dinamização, transferido para frasco de dispensação no volume prescrito. Se não for especificado, será dispensado pelas farmácias geralmente em 15, 20, 30mL. Como exemplo, observe a seguinte prescrição: Arnica montana 12CH 30mL GTS. Comentário Nessa sugestão de prescrição, separa-se a potência mais próxima (ao menos a 11CH) e se dinamiza em etanol a 30% (v/v) no volume requerido, transferindo para frasco de dispensação. O padrão farmacopeico prevalece, mas há outras formas de prescrever, como a diluição a 1% em etanol a 30% (v/v). No caso da LM, dispensar 1mcgl no veículo requerido na prescrição, completando o frasco até 2/3 de sua capacidade. A validade das dispensações em gotas dependerá do veículo: Água purificada: de 24 horas a 7 dias, conforme presença do álcool de matriz. Etanol a 5%: 3 meses. Etanol a 30%: 2 anos. Etanol a 77%: 5 anos. As farmácias podem obter prazos distintos validados em testes de estabilidade para medicamentos dinamizados: por exemplo, água pura em maior prazo, etanol de matriz idem. Dose única líquida (DUL) Preparação farmacêutica obtida por meio dos métodos homeopáticos já citados, para ser tomada de uma só vez. Prepara-se a potência requerida em etanol a 77%. Atende-se ao volume na receita, se não houver especificado, dispensar duas gotas da potência por mL (em água purificada ou etanol até 5%) até 10mL. 2 gotas por mL. Veja como exemplo a prescrição a seguir: Pulsatilla 30CH 30mL. Dose única líquida. Tomar todo o conteúdo do frasco em jejum. Comentário Nesse caso, separa-se a potência estoque da farmácia e se dilui 60 gotas da potência estoque 30CH em etanol a 77% (v/v) em 30mL de água pura ou a etanol até 5% (v/v). Na maioria dos casos, os prescritores dão preferência à dispensação em água purificada. A validade dessa forma farmacêutica é mais curta, já que a maioria das preparações será em água purificada. Recomenda-se validade de 24 horas até sete dias em água purificada, a depender do volume de matriz alcoólica constante na preparação. No caso de preparações a 5% (v/v), validade de 90 dias. As farmácias têm autonomia para definir prazos distintos mediante testes de estabilidade. Formulações líquidas Transferência de formulações líquidas. Formulações líquidas/sólidas são preparações farmacêuticas homeopáticas que apresentam, em uma composição, um ou mais insumos ativos, obtidos por meio dos métodos homeopáticos conhecidos. Formulações com mais de um insumo ativo atendem às prescrições homeopáticas complexistas. As formulações líquidas com apenas um insumo ativo devem ser diluídas no insumo inerte com o volume indicado na receita. Para formulações com mais de um insumo ativo, é necessário preparar os medicamentos, separadamente, em etanol 30%, potências até 3CH/6DH, usar o mesmo etanol do ponto de partida. As dinamizações devem ser misturadas em um cálice e transferidas para frasco de dispensação. Veja a seguir exemplos de formulações líquidas: Sepia 10MFC 2% Etanol a 30% 30mL Nesse caso, 2% da potência será diluída em etanol a 30% (v/v) em 30mL de volume. O uso do caractere ãã indica formulação líquida em forma de complexo (mistura de dinamizações na mesma apresentação farmacêutica). } ãã 30mL Bryonia alba 12CH Drosera 12CH Comentário Nessa formulação, deve-se preparar, separadamente, cada potência, no volume correspondente a 50% do volume total, 15mL cada, a partir da potência anterior disponível – ao menos a 11CH de cada medicamento, empregando veículo etanol a 30% (v/v). Para: Rhus tox. 30CH X/20mL GTS. Deve-se separar a potência estoque, Rhus toxicondendron, na potência 30CH, e dispor dez gotas do estoque em frasco de dispensação com 20mL, cujo veículo será o padrão farmacopeico, etanol a 30% (v/v), para uso em gotas. Formas farmacêuticas de uso interno sólidas e de uso externo Essas formas farmacêuticas já foram descritas quando falamos anteriormente sobre insumos e veículos, assim, vamos nos concentrar nos formatos de dispensação considerando essas formas farmacêuticas. Formatos de dispensação das formas farmacêuticas sólidas Para comprimidos, a preparação, seguindo a farmacopeia, será na proporçãode 10% (v/p ou p/p), e em seguida é realizada secagem em temperatura inferior a 50°C. Sugere-se validade de 02 anos. Para os glóbulos, a dispensação será via impregnação, na proporção de 5% (v/p), seguindo a FHB. Para microglóbulos, a dispensação atende ao preconizado, seja para dose repetida seja para dose única, 1mcgl dispensado em qualquer volume de dispensação; observar que, em DRL, preencher o frasco em 2/3 da capacidade para a dispensação. Para tabletes, preparar na proporção 10% (v/p ou p/p), secagem abaixo de 50°C. Uma forma a ser mais detalhada é a dose única sólida, a seguir. Dose única sólida É a quantidade limitada de medicamento na forma sólida a ser tomada de uma só vez. O ponto de partida será o insumo ativo na potência desejada. A técnica a ser adotada é impregnar a forma sólida com duas gotas do insumo ativo ou de acordo com a prescrição. Quanto à dispensação, quando não indicado na prescrição, dispensar: Comprimidos Um (1) comprimido. Glóbulos Cinco (5) glóbulos. Pó 300 a 500mg de lactose. Tablete Um (1) tablete. Pós Dispensação de formas farmacêuticas sólidas. Os pós de uso interno serão constituídos de insumo ativo, na potência desejada, veiculados em lactose. A impregnação é a 10% (v/p ou p/p). Deve-se repartir em porções de 300 a 500mg, adotando a secagem padrão conforme já descrito. Dispensação em papéis, sachês, flaconetes, cápsulas gelatinosas, com liberação do conteúdo diretamente na boca. Formas farmacêuticas de uso externo São classificadas em: Líquidas Há algumas opções desses tipos de formas farmacêuticas, que são menos frequentes em farmacotécnica homeopática. Elas estão descritas na edição em vigência da FHB (3ª, 2011), por exemplo os linimentos, que serão preparados e dispensados a 10% (v/v ou p/v); as preparações nasais, líquidas ou semissólidas, com proporção 1 a 5% (p/v ou v/v); as preparações oftálmicas, proporção 0,5 a 1%; as preparações otológicas, líquidas ou semissólidas, proporção 10% (v/v, p/v). Sólidas Entre essas formas farmacêuticas, estão incluídos apósitos medicinais, em algodão ou gaze esterilizada; pós medicinais (talcos), na proporção 10% (p/p, v/p), adotando a secagem padrão já detalhada; supositórios retais, com a proporção 5% (p/p, v/p); e supositórios vaginais (óvulos), usados na proporção a 5%. Semissólidas Essas formas farmacêuticas são adotadas na farmacotécnica geral, mas com algumas particularidades. Para uso em homeopatia, devem apresentar a maior hipossensibilidade possível, assegurando que não apresentarão risco considerável de reações indesejáveis de cunho alérgico. Entre essas formas farmacêuticas, incluímos: cremes, géis, géis-creme, pomadas, a proporção estabelecida via farmacopeia é de 10%. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 As formas farmacêuticas de dispensação em homeopatia podem ser de uso interno e externo, subdividindo-se em sólidas, líquidas, semissólidas. As mais frequentes são as líquidas, algumas sólidas são de grande relevância em alguns casos específicos. Mais recentemente, ganhou importância o uso de pomadas, cremes, géis-cremes. Com base nessas premissas, analise as afirmações e assinale a única correta. Parabéns! A alternativa A está correta. A dispensação de gotas está correta, conforme a FHB3. A farmácia deve adotar o padrão farmacopeico para a dispensação, não se adota modelo próprio. Os volumes mais frequentes de dispensação são 15, 20 ou 30mL. Os volumes indicados também ocorrem, mas em menor frequência. O padrão farmacopeico é fazer a potência requerida no volume de dispensação e no veículo requerido pelo prescritor ou no padrão farmacopeico. A validade de dispensações nessa alcoolatura é de dois anos. Cinco anos está incorreto. Questão 2 A As gotas são forma farmacêutica líquida de uso interno. A dispensação se dá, considerando o padrão farmacopeico, em etanol a 30% (v/v). B A farmácia pode adotar padrão próprio quando o prescritor não especificar qual será o veículo de dispensação. C O volume de dispensação mais frequente para gotas é 60 ou 100mL. D O padrão farmacopeico de dispensação é diluir volume da dinamização no veículo padrão ou no requerido pelo prescritor. Por exemplo, diluir 1mL em 30mL de etanol a 30% (v/v). E A validade de dispensações em etanol a 30% é de cinco anos. A dispensação homeopática ocorre com o emprego de diversas formas farmacêuticas. Entre as principais, doses repetidas e doses únicas, que podem ser líquidas e sólidas. Com base nessa introdução, analise as afirmações e identifique a correta. Parabéns! A alternativa C está correta. A opção correta é a alternativa C. Esse é o procedimento padrão para dispensar DUL pela FHB3 (2011). O veículo para DUL é água pura a até, no máximo, álcool a 5%. A dispensação farmacopeica de DRL é usar etanol a 30%. Na DUL, pela FHB3 (2011), se dispensa o insumo padrão (duas gotas a cada mL de veículo). Para DRL, preparar a potência requerida a partir da potência anterior, no veículo prescrito ou adotar o padrão de álcool a 30%. A Quanto à dose única líquida (DUL), o veículo recomendado é o etanol a 20%. B Para dispensação de dose repetida líquida (DRL), o padrão farmacopeico é empregar etanol a 5%. C Dose única líquida, pela FHB3 (2011), deve ser feita em água pura ou até etanol a 5% com proporção de duas gotas de insumo ativo por mL de veículo até 10mL de limite. D Ao se aviar dose DUL, deve ser adotado o padrão de 1% de insumo ativo e o restante insumo inerte. E O padrão farmacopeico para DRL é diluir 1% do insumo ativo no veículo de dispensação, qualquer que seja o volume. Considerações �nais Neste conteúdo, estabelecemos as diferenças entre insumos e veículos, observando as peculiaridades do medicamento homeopático. Depois, fizemos análise conceitual sobre o medicamento homeopático, principal tecnologia de saúde adotada na homeopatia, pontuando conceitos de base e depois buscando o entendimento sobre o medicamento homeopático e suas características. Fizemos a classificação dos medicamentos considerando origem e espectro farmacológico, assim como estudamos as regras de nomenclatura para medicamentos homeopáticos. Estudamos a tintura- mãe, única forma farmacêutica básica da farmacotécnica homeopática, considerando as regras farmacopeicas nacionais e analisando suas técnicas de obtenção. Em seguida, estudamos as formas farmacêuticas derivadas homeopáticas, bem como as escalas e os métodos adotados para produzi-las, detalhando e descrevendo cada um. Por fim, estudamos as formas farmacêuticas de dispensação e vimos que podem ser líquidas, sólidas e semissólidas, podendo ser de uso interno ou externo. Consideramos suas concentrações e verificamos a validade dos insumos empregados nas dispensações homeopáticas. Podcast Para encerrar, ouça o especialista apresentar um resumo do conteúdo abordado no estudo, ressaltando a importância desses contextos para a formação do farmacêutico homeopata. Explore + Pesquise o artigo (dossiê) Farmacotécnica homeopática, de Verano Costa Dutra (2012), que esmiúça com riqueza de detalhes aspectos básicos da farmacotécnica homeopática abordada em nosso conteúdo. Visite o site da Associação Brasileira de Farmacêuticos Homeopatas – ABFH, para tomar contato com a principal entidade de representação dos farmacêuticos homeopatas e da farmácia homeopática em nível nacional. Conheça a cartilha Homeopatia, editada pelo CRF-SP (3ª edição, 2019), que aborda aspectos da farmácia homeopática e da manipulação homeopática. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FARMACÊUTICOS HOMEOPATAS. ABFH. Manual de Normas Técnicas para Farmácia Homeopática: ampliação dos aspectos técnicos e inovações na prática farmacêutica homeopática. 5. ed. São Paulo: 2019, 218p. BRASIL. Lei nº 5991, de 17 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Controle Sanitário do Comércio de Drogas, Medicamentos, Insumos Farmacêuticos e Correlatos, e dá outrasProvidências. Brasil, DF, 2022. Consultado na Internet em: 29 abr. 2022. BRASIL. Farmacopeia homeopática Brasileira (FHB). 3. ed. Brasília-DF: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Componente populacional: introdução, método e instrumentos. Ministério da Saúde – Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2016, 80 p. BRASIL. Farmacopeia brasileira. Volume I. 6. ed. Brasília-DF: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2019. CÉSAR, A. de T. Dinamização. Cultura Homeopática, 2 (5), out-dez 2003, p.15-41. FONTES, O. L. (Ed.). Farmácia homeopática: teoria e prática. 5. ed. rev. e atual. Barueri-SP: Manole, 2018, 381p. HOLANDINO, C. et al. Medicamentos homeopáticos e o paradigma da evidência científica. J. Manag. Prim. Heal. Care., 2017; 8(2):322-332. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF()
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