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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ 
Reconhecida pela Portaria nº. 821/MEC – D.O.U. de 01.06.94 
CAMPUS AVANÇADO DE QUIXERAMOBIM 
CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
Prof.: Antonio Martins de Almeida Filho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BASES SÓCIO-FILOSÓFICAS 
DA EDUCAÇÃO FÍSICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
QUIXERAMOBIM – CEARÁ 
ABRIL E MAIO – 2011 
2 
 
 
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ 
Reconhecida pela Portaria nº. 821/MEC – D.O.U. de 01.06.94 
CAMPUS AVANÇADO DE QUIXERAMOBIM 
CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
Prof.: Antonio Martins de Almeida Filho 
 
 
EMENTA DA DISCIPLINA 
 
 
Professor: Antônio Martins de Almeida Filho 
Disciplina: BASES SÓCIO-FILOSÓFICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA 
Campus Avançado de Quixeramobim 
Período de oferta: abril e maio de 2011 
Turma - 260130 
 
DISCIPLINA CARGA 
HORÁRIA 
CRÉDITOS PRÉ-REQUISITO 
BASES SÓCIO-FILOSÓFICAS 
DA EDUCAÇÃO FÍSICA 
60 04 - 
 
Professor: Antônio Martins de Almeida Filho 
 
Ementa 
Discussão das condições históricas e das grandes correntes do pensamento social que tornaram 
possível o surgimento da Sociologia como ciência. Debate das polêmicas que constituem o campo de 
reflexão desta Unidade Educacional (objeto e método). Visão geral e crítica das grandes correntes 
sociológicas e de seus respectivos conceitos, relacionando-as com o mundo de trabalho, a sociedade, 
o ser humano e a cultura corporal enquanto objeto de estudo da Educação Física. 
 
Objetivos 
 
1 GERAL: 
Consolidar um “quadro histórico-epistemológico” sobre a “atividade física/Educação Física” no Brasil 
que possibilite sínteses provisórias sobre a gênese da Educação Física, o que ela vem sendo e 
perspectivas futuras, tendo como referência o “olhar” sobre seu objeto de estudo. 
 
2 ESPECÍFICOS: 
• Promover a reflexão histórica das bases sócio-filosóficas da atividade física. 
• Analisar as principais correntes das ciências sociais: Positivismo, Historicismo e Materialismo 
Histórico-dialético. 
• Promover o estudo das bases da Educação Física enquanto campo acadêmico. 
• Realizar a análise do(s) objeto(s) de estudo que se propõem singularizar a Educação Física 
enquanto campo acadêmico. 
• Promover a reflexão e investigação de como se constrói a identidade da Educação Física da 
região. 
 
3 
 
Conteúdo Programático 
 
� Positivismo, Historicismo e o Materialismo Histórico-dialético. 
� Bases sócio-filosóficas da atividade física. 
� A crise de identidade da Educação Física em sua função social – década de 1980. 
� A transformação da crise de identidade da Educação Física em sua função social para a crise 
de identidade epistemológica – década de 1990. 
� Perspectivas de campos acadêmicos na Educação Física. 
 
 
Metodologia 
 
A unidade pedagógica terá 30 h/a professor presencial e 15 h/a de atividades com orientação. A 
primeira terá caráter de produção teórica-reflexiva utilizando-se de procedimentos metodológicos tais 
como exposições dialogadas, estudos dirigidos, discussões a partir de estudos teóricos, reflexões 
acerca da prática pedagógica, leituras individuais e em grupos, debates, produções escritas. O 
segundo terá caráter de investigação prática e se utilizando-se de procedimentos metodológicos tais 
como relatórios, entrevistas e investigação de problemáticas. Ao término da unidade ocorrerá o festival 
da docência onde os grupos apresentarão a consolidação do conhecimento construído na unidade. 
 
Recursos 
 
Data show, retroprojetor, transparências, textos, painéis, quadro, pincéis, apagador e giz. 
 
 
Avaliação 
 
A avaliação será construída através das observações realizadas durante as aulas consolidadas em um 
memorial da unidade construído pelo professor considerando-se a participação, a evolução da 
aprendizagem, a responsabilidade e o compromisso do aluno. A cada unidade haverá uma 
consolidação de notas individuais que inclui auto avaliação, produção textual individual, docência em 
grupo ou individual sobre o conteúdo. 
 
 
Bibliografia 
 
_____________. A construção do campo acadêmico “Educação Física” no período de 1960 até nossos 
dias: onde ficou a Educação Física?, in: Anais do IV Encontro Nacional de História do Esporte, Lazer e 
Educação Física. Belo Horizonte, MG, 22 a 26 de outubro de 1996. 
 
_____________. Educação Física & Ciência: cenas de um casamento (in) feliz. Ijuí, Unijuí, 1999. 
 
ALEXANDRE, Júlio César da Costa. Epistemologia e Educação Física: significado e importância 
(artigo). 
 
BOTTOMORE. Introdução à Sociologia. Rio de Janeiro, Zahar, 1977. 
 
BRACHT, Valter. Educação Física e Aprendizagem Social. Porto alegre, Magister, 1992. 
4 
 
 
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª. Edição. Editora Ática. São Paulo – SP, 2004. 
 
COSTA, Cristina. Sociologia – Introdução à Ciência da Sociedade. 2ª. Edição. Editora Moderna . São 
Paulo – SP, 2002. 
 
CRISÓRIO, Ricardo & Valter Bracht (coords.). A Educação Física no Brasil e na Argentina: Identidade, 
Desafios e Perspectivas. Campinas, SP, Autores Associados, 2003. 
 
HELAL, Ronald. O que é Sociologia do Esporte, São Paulo, Editora Brasiliense, 1990. 
 
HOKHEIMER, Max e Adorno, Theodor (Org.). Temas Básicos da Sociologia. São Paulo, Cultrix, 1977. 
 
LAPLANTINE, François. O Campo e a Abordagem Antropológica, In: Laplantine, F. Aprender 
Antropologia (1987). São Paulo, Brasiliense, 1988. 
 
LARAIA, Roque de Barros. Como opera a cultura, In: Laraia, Roque de Barros. Cultura: Um Conceito 
Antropológico. Rio de Janeiro, Zahar, 1986. 
 
LÁZARO, André. Metamorfoses do Corpo, In: Lázaro, André. Amor do Mito ao Mercado. São Paulo, 
Vozes, 1997. 
 
LIMA, Homero Luis Alves de. Tendências Epistemológicas em torno do “movimento humano” e suas 
implicações para o campo acadêmico da Educação Física. (artigo). 
 
LINO, Castellani, Filho. Educação Física Escolar: temos o que ensinar? Ou considerações acerca do 
conhecimento (re) conhecido pela Educação Física Escolar, in: Política Educacional e Educação Física. 
Campinas, SP, Autores Associados, 1998. 
 
LOWY, Michael. Ideologia e Ciências Sociais: elementos para uma análise marxista. São PAULO. 
Cortez, 1985. 
 
PONCE, Aníbal. Educação e Luta de Classes. Rio de Janeiro, Ed. Cortez, Autores Associados, 1989. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
UNIDADE I 
 
POSITIVISMO, HISTORICISMO E O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO 
 
TEXTO 01 
 
 
1. A CORRENTE FILOSÓFICA DENOMINADA DE POSITIVISMO 
 
AUGUSTO COMTE 
 
Positivismo é um conceito utópico que possui distintos significados, englobando tanto 
perspectivas filosóficas e científicas do século XIX quanto outras do século XX. Desde o seu início, com 
Augusto Comte (1798-1857) na primeira metade do século XIX, até o presente século XXI, o sentido da 
palavra mudou radicalmente, incorporando diferentes sentidos, muito deles opostos ou contraditórios 
entre si. Nesse sentido, há correntes de outras disciplinas que se consideram "positivistas" sem 
guardar nenhuma relação com a obra de Comte. Exemplos paradigmáticos disso são o Positivismo 
Jurídico, do austríaco Hans Kelsen, e o Positivismo Lógico (ou Círculo de Viena), de Rudolph Carnap, 
Otto Neurath e seus associados. 
 
Para Comte, o Positivismo é uma doutrina filosófica, sociológica e política. Surgiu como 
desenvolvimento sociológico do Iluminismo, das crises social e moral do fim da Idade Média e do 
nascimento da sociedade industrial - processos que tiveram como grande marco a Revolução Francesa 
(1789-1799). Em linhas gerais, ele propõe à existência humana valores completamente humanos, 
afastando radicalmente a teologia e a metafísica (embora incorporando-as em uma filosofia da história). 
Assim, o Positivismo associa uma interpretação das ciências e uma classificação do conhecimento a 
uma ética humana radical, desenvolvida na segunda fase da carreira de Comte. 
 
1.1 Método do Positivismo de Augusto Comte 
 
O método geral do positivismo de Auguste Comte consiste na observação dos fenômenos, 
opondo-se ao racionalismo e ao idealismo, através da promoção do primado daexperiência sensível, 
única capaz de produzir a partir dos dados concretos (positivos) a verdadeira ciência (na concepção 
positivista), sem qualquer atributo teológico ou metafísico, subordinando a imaginação e à observação, 
tomando como base apenas o mundo físico ou material. O Positivismo nega à ciência qualquer 
possibilidade de investigar a causa dos fenômenos naturais e sociais, considerando este tipo de 
pesquisa inútil e inacessível, voltando-se para a descoberta e o estudo das leis (relações constantes 
entre os fenômenos observáveis). Em sua obra Apelo aos conservadores (1855), Comte definiu a 
palavra "positivo" com sete acepções: real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático. 
 
O Positivismo defende a idéia de que o conhecimento científico é a única forma de 
conhecimento verdadeiro. Assim sendo, desconsideram-se todas as outras formas do conhecimento 
humano que não possam ser comprovadas cientificamente. Tudo aquilo que não puder ser provado 
6 
 
pela ciência é considerado como pertencente ao domínio teológico-metafísico caracterizado por 
crendices e vãs superstições. Para os Positivistas o progresso da humanidade depende única e 
exclusivamente dos avanços científicos, único meio capaz de transformar a sociedade e o planeta 
Terra no paraíso que as gerações anteriores colocavam no mundo além-túmulo. 
 
O Positivismo é uma reação radical ao Transcendentalismo idealista alemão e ao Romantismo, 
no qual os afetos das individuais, coletivos e a subjetividade são completamente ignoradas, limitando a 
experiência humana ao mundo sensível e ao conhecimento aos fatos observáveis. Substitui-se a 
Teologia e a Metafísica pelo Culto à Ciência, o Mundo Espiritual pelo Mundo Humano, o Espírito pela 
Matéria, a fé pela razão. 
 
A idéia-chave do Positivismo Comtiano é a Lei dos Três Estados, de acordo com a qual o 
homem passou e passa por três estágios em suas concepções, isto é, na forma de conceber as suas 
idéias e a realidade, quais sejam: 
 
1. Teológico: o ser humano explica a realidade apelando para entidades supranaturais (os 
deuses"), buscando responder a questões como "de onde viemos?" e "para onde vamos?"; 
além disso, busca-se o absoluto; 
 
2. Metafísico: é uma espécie de meio-termo entre a teologia e a positividade. No lugar dos 
deuses há entidades abstratas para explicar a realidade: "o Éter", "o Povo", "o Mercado 
financeiro", etc. Continua-se a procurar responder a questões como "de onde viemos?" e "para 
onde vamos?" e procurando o absoluto é a busca da razão e destino das coisas. é o meio 
termo entre teológico e metafísico. 
 
3. Positivo: etapa final e definitiva, não se busca mais o "porquê" das coisas, mas sim o "como", 
através da descoberta e do estudo das leis naturais, ou seja, relações constantes de sucessão 
ou de coexistência. A imaginação subordina-se à observação e busca-se apenas pelo 
observável e concreto. 
 
Na obra "Discurso sobre o espírito positivo" (1848), Comte explicitou que o espírito positivo é 
maior e mais importante que a mera cientificidade, na medida em que esta abrange apenas questões 
intelectuais e aquele compreende, além da inteligência, também os sentimentos (ou, em termos 
contemporâneos, a subjetividade em sentido amplo) e as ações práticas. 
 
Auguste Comte - através da obra Sistema de Política Positiva (1851-1854) - institui a Religião 
da Humanidade. Após a elaboração de sua filosofia, Comte concluiu que deveria criar uma nova 
religião: afinal, para ele, as religiões do passado eram apenas formas provisórias da única e verdadeira 
religião : a religião positiva. Segundo os positivistas, as religiões não se caracterizam pelo sobrenatural, 
pelos "deuses", mas sim pela busca da unidade moral humana. Daí a necessidade do surgimento de 
uma nova Religião que apresenta um novo conceito do Ser Supremo, a Religião da Humanidade. 
Comte foi profundamente influenciado a tal pela figura de sua amada Clotilde de Vaux. 
 
Segundo os Positivistas, a Teologia e a Metafísica, nunca inspiraram uma religião 
verdadeiramente racional, cuja instituição estaria reservada ao advento do espírito positivo. 
Estabelecendo a unidade espiritual através da ciência, a Religião da Humanidade possui como 
principal objetivo a Regeneração Social e Moral. 
 
7 
 
Assim como o catolicismo está fundamentado na filosofia escolástica de São Tomás de Aquino, 
a Religião da Humanidade está fundamentada na filosofia positivista de Auguste Comte. 
 
A Religião da Humanidade possui como Ser Supremo a Humanidade Personificada, tida como 
Deusa pelos positivistas. Ela representa o conjunto de seres convergente de todas as gerações, 
passadas, presentes e futuras que contribuíram, que contribuem e que contribuirão para o 
desenvolvimento e aperfeiçoamento humano. 
 
A Ciência Clássica se constitui no dogma da Religião da Humanidade. Também existem 
templos e capelas onde são celebrados cultos elaborados à Humanidade (chamada Grão-Ser pelos 
positivistas). A religião positivista caracteriza-se pelo uso de símbolos, sinais, estandartes, vestes 
litúrgicas, dias de santos (grandes tipos humanos), sacramentos, comemorações cívicas e pelo uso de 
um calendário próprio, o Calendário Positivista (um calendário lunar composto por 13 meses de 28 
dias). 
 
O lema da religião positivista é : "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por 
fim". Seu regime é: "Viver às Claras" e "Viver para Outrem". 
 
Auguste Comte foi o criador da palavra "altruísmo", palavra que segundo o fundador, resume o 
ideal de sua Nova Religião. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Positivismo Acesso em 18 de 
abril de 2011. 
 
 
TEXTO 02 
 
1. A CORRENTE FILOSÓFICA DENOMINADA DE HISTORICISMO 
 
 
ERNST TROELTSCH 
 
 Historicismo (ou ainda historismo) designa, em termos gerais, uma forma de abordagem dos 
fenômenos e das culturas humanas. De acordo com Ernst Troeltsch, o termo remete a uma 
"Historicização fundamental de todo o pensamento acerca dos seres humanos, sua cultura e seus 
valores". O Historicismo constitui, assim, a base de uma visão de mundo tipicamente moderna e 
ocidental. Esta fundamenta-se na noção de que as configurações do mundo humano, num dado 
momento presente, sempre são o resultado de processos históricos de formação, os quais são 
passíveis de ser mentalmente reconstruídos e, portanto, compreendidos. 
 
A perspectiva historicista surgiu no espaço acadêmico da Europa ocidental na segunda metade 
do século XVIII. Ao longo do século XIX e até as primeiras décadas do século XX, o Historicismo 
obteve um forte impacto social, sobretudo na Alemanha. 
8 
 
O posicionamento historicista proposto por Hegel sugere que não há um critério objetivo para 
determinar a melhor teoria de análise de um determinado objeto de estudo. De acordo com esse viés, a 
ciência, filosofia ou quaisquer outras disciplinas, estão fadadas à sua historicidade. 
 
Desde a década de 1990, alguns pensadores pós-modernos têm utilizado o termo Historicismo 
para descrever a visão de uma verdade absoluta, principalmente sobre questões filosóficas que 
persistiram ao longo dos séculos. 
 
O termo "novo Historicismo" é também empregado para a vertente do pensamento literário que 
interpreta os poemas, as peças de teatro e as demais produção desta área como a expressão de 
super-estruturas da sociedade. Stephen Greenblatt é o nome mais proeminente desse pensamento. 
Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Historicismo. Acesso em 18 de abril de 2011. 
 
 
 
TEXTO 03 
 
1. A CORRENTE FILOSÓFICA DENOMINADA DE MATERIALISMO HISTÓRICO-
DIALÉTICO 
 
 
KARL MARX 
 
No século XIX, houve a efetivação da sociedade burguesa e a implantação do capitalismo 
industrial, que trouxe a implantação de um novo modelo de sociedade, que desde o seu surgimento já 
é criticada pelas suas contradições internas e principalmente pelas desigualdades sociais que traz 
consigo. Na linha destas críticas e do estudo da sociedade capitalista destacam-se dois pensadores:Karl Marx e Friedrich Engels. Ambos elaboram uma nova concepção filosófica do mundo, o 
“materialismo histórico e dialético”, e ao fazerem a crítica da sociedade em que vivem, apresentam 
propostas para sua transformação: o socialismo científico. Seu método de explicação da sociedade, 
aplicado à história é o “materialismo histórico e dialético”. 
 
3.1 O que afirma o Materialismo? 
 
“As relações sociais são inteiramente interligadas às forças produtivas. Adquirindo novas forças 
produtivas, os homens modificam o seu modo de produção, a maneira de ganhar a vida, modificam 
todas as relações sociais. O moinho a braço vos dará a sociedade com o suserano; o moinho a vapor, 
a sociedade com o capitalismo industrial.” Afirma que o modo pelo qual a produção material de uma 
sociedade é realizada constitui o fator determinante da organização política e das representações 
9 
 
intelectuais de uma época. Assim, a base material ou econômica constitui a "infra-estrutura" da 
sociedade, que exerce influência direta na "super-estrutura", ou seja, nas instituições jurídicas, políticas 
(as leis, o Estado) e ideológicas (as artes, a religião, a moral) da época. Segundo Marx, a base material 
é formada por forças produtivas (que são as ferramentas, as máquinas, as técnicas, tudo aquilo que 
permite a produção) e por relações de produção (relações entre os que são proprietários dos meios de 
produção, as terras, as matérias primas, as máquinas e aqueles que possuem apenas a força de 
trabalho. 
 
3.2 O que afirma a Dialética? 
 
A dialética marxista postula que as leis do pensamento correspondem às leis da realidade. A 
dialética não é só pensamento: é pensamento e realidade a um só tempo. Mas, a matéria e seu 
conteúdo histórico ditam a dialética do marxismo: a realidade é contraditória com o pensamento 
dialético. A contradição dialética não é apenas contradição externa, mas unidade das contradições, 
identidade: "a dialética é ciência que mostra como as contradições podem ser concretamente idênticas, 
como passam uma na outra, mostrando também porque a razão não deve tomar essas contradições 
como coisas mortas, petrificadas, mas como coisas vivas, móveis, lutando uma contra a outra em e 
através de sua luta." (Henri Lefebvre, Lógica formal/ Lógica dialética, trad. Carlos N. Coutinho, 1979, p. 
192). Os momentos contraditórios são situados na história com sua parcela de verdade, mas também 
de erro; não se misturam, mas o conteúdo, considerado como unilateral é recaptado e elevado a nível 
superior. 
 
A dinâmica HIPÓTESE+DESENVOLVIMENTO+TESE+ANTITESE+DIALÉTICA=SÍNTESE, que 
expressa a contundência deste ensinamento, afirmando que tudo é fruto da luta de idéias e forças, que 
na sua oposição geram a realidade concreta, que uma vez sendo síntese da disputa, torna-se 
novamente tese, que já carrega consigo o seu oposto da sua antítese, que numa nova luta de um ciclo 
infinito gerará o novo. A nova síntese. A hipótese fundamental da dialética é de que não existe nada 
eterno, fixo, pois tudo está em perpétua transformação, em movimento, tudo está sujeito ao contexto 
histórico do dinâmico e da transformação. Outro elemento é a idéia de totalidade, a percepção da 
realidade social como um todo que está relacionado entre si. Há também as contradições internas da 
realidade, em relação ao valor e não valor, lucro ou não lucro, a mais valia, por exemplos, dentro da 
Produção, seja essa positiva ou negativa. 
 
Marx utilizou o método dialético para explicar as mudanças importantes ocorridas na história da 
humanidade através dos tempos. Ao estudar determinado fato histórico, ele procurava seus elementos 
contraditórios, buscando encontrar aquele elemento responsável pela sua transformação num novo 
fato, dando continuidade ao processo histórico. No Prefácio do livro "Contribuição à crítica da economia 
política", Marx identificou na História, de maneira geral, os seguintes estágios de desenvolvimento das 
forças produtivas, ou modos de produção: comunismo primitivo, o asiático, o escravista (da Grécia e de 
Roma), o feudal e o burguês. Ou seja, dividiu a história em períodos conforme a organização do 
trabalho humano e quem se beneficiasse dele. 
 
Marx desenvolveu uma concepção materialista da História, afirmando que o modo pelo qual a 
produção material de uma sociedade é realizada constitui o fator determinante da organização política 
e das representações intelectuais de uma época. Se a realidade não é estática, mas dialética e está em 
transformação pelas suas contradições internas. Assim, a base material ou econômica constitui a 
"infra-estrutura" da sociedade, que exerce influência direta na "superestrutura", ou seja, nas instituições 
jurídicas, políticas (as leis, o Estado) e ideológicas (as artes, a religião, a moral) da época. No processo 
histórico, essas contradições são geradas pelas lutas entre as diferentes classes sociais. Ao chamar a 
10 
 
atenção para a sociedade como um todo, para sua organização em classes, para o condicionamento 
dos indivíduos à classe a que pertencem, esses autores também exercem uma influência decisiva nas 
formas posteriores de se escrever a história. A evolução de um modo de produção para o outro ocorreu 
a partir do desenvolvimento das forças produtivas e da luta entre as classes sociais predominantes em 
cada período. Assim, o movimento da História possui uma base material, econômica e obedece a um 
movimento dialético. E conforme muda esta relação, mudam-se por conseguinte as leis, a cultura, a 
literatura, a educação, as artes... 
 
Propõem uma disputa que não mais seja baseada em coletividade, mas sim nos indivíduos e 
nos interesses que têm. Bem como a relação destas faz gerar de forma dialética a destruição dos 
atuais modelos de sociedade, de produção, de pensamento, e de poder econômico e político. Fazer-
nos pensar em como estas relações fazem com que pequenos homens possam ser considerados 
grandes objetos da história, ao invés de se tornarem meros seres alienados e guiados pelas 
consciências dominantes contrário. Disponível em: 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Materialismo_dial%C3%A9tico#O_que_afirma_o_Materialismo.3F. Acesso 
em 17 de abril de 2011. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
UNIDADE II 
 
TEXTO 01 
 
1. INTRODUÇÃO ÀS BASES SÓCIO-FILOSÓFICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA 
 
1.1 Educação? Educações? 
 
Seja bem-vindo(a) à disciplina Bases Sócio-Filosóficas da Educação Física. Esta disciplina 
integra a base curricular e teórica do Curso de Habilitação em Educação Física da universidade 
Estadual Vale do Acaraú – UVA, através do Instituto Dom José de Educação e Cultura, Campus 
Avançado da Cidade de Quixeramobim – Ceará. 
 
Esta apostila elaborada pelo professor Antônio Martins de Almeida Filho compreenderá uma 
série de reflexões em torno de questionamentos acerca da educação universal e principalmente da 
educação brasileira. Abordará conteúdos relevantes pra a formação profissional e, ao mesmo tempo, 
será ponte para o estudo de outras disciplinas contidas no currículo acadêmico, em especial para a 
formação dos novos educadores físicos e áreas afins, propiciando uma ampla compreensão, 
preparação humana e acadêmica dos futuros profissionais integrantes desta Universidade. 
Identificaremos e analisaremos os fundamentos teóricos, históricos, sociais, filosóficos e as políticas 
publicas voltada para a educação, com foco na educação física escolar. 
 
Alguns de vocês já são professores, educadores físicos e outros estão se preparando para 
isso. Todos juntos vão construir e reconstruir conceitos, atitudes, habilidades e valores imprescindíveis 
à atuação como profissionais de educação, conscientes de seu papel pedagógico, político e social. 
 
Diante das considerações anteriores vamos iniciar o aprofundamento dos conteúdos 
programáticos propostos para esta disciplina. 
Aprender e ensinar - Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma 
coisa. Todos nós ignoramos algumacoisa. Por isso aprendemos sempre. (PAULO FREIRE. Pedagogia 
da Autonomia. P. 34. 1998). 
 
Segundo Ghiraldelli Jr. (2003, p. 1), “a palavra educação foi derivada, de duas palavras do 
latim: educere, que significa “conduzir de fora”, “dirigir exteriormente”, e educare que significa 
“sustentar, alimentar, criar”. 
 
Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, todos nós envolvemos 
pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer 
ou para conviver com uma ou com várias: Educação? Educações? 
 
Presente em todos os espaços, de diferentes formas, nos diferentes contextos, a educação 
invade nossas vidas. Nessa perspectiva, sempre achamos que temos alguma coisa a dizer sobre 
educação. Assim, iniciamos nossa reflexão com o que alguns índios, certa vez, escreveram: 
 
Há muitos anos, nos Estados Unidos, os estados da Virgínia e Maryland assinaram um tratado 
de paz com os índios das Seis Nações. Sabendo que as promessas e os símbolos da educação 
sempre foram muito adequados em momentos solenes como aquele, logo depois dos termos do 
tratado serem assinados, os governantes americanos mandaram cartas aos índios convidando-os para 
12 
 
que enviassem alguns dos seus jovens às escolas dos brancos. Os chefes indígenas responderam 
agradecendo e recusando. Veja, abaixo, alguns trechos da justificativa. 
 
... Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e 
agradecemos de todo o coração. Mas daqueles que são sábios reconhecem que diferentes 
nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão 
ofendidos ao saber que a vossa idéia de educação não é a mesma que a nossa. 
 
... Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formandos nas escolas do Norte e aprenderam 
toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltaram para nós, eles eram maus corredores, 
ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. Não sabiam como 
caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. 
Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou 
como conselheiros. 
 
Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, 
para mostrar a nossa gratidão, oferecemos aos nobres senhores que nos enviem alguns dos 
seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, 
homens.(BRANDÃO, 1998, p.18-19) 
 
Essa carta acabou conhecida porque, alguns anos mais tarde, Benjamim Franklin adotou o 
costume de divulgá-la. A carta dos índios que vocês acabaram de ler apresenta algumas das questões 
importantes que vêm sendo objeto de estudo, reflexão e discussão de pesquisadores/as e 
educadores/as. 
 
Benjamin Franklin (1706-1790) Franklin tornou-se o primeiro Postmaster General (ministro 
dos correios) dos Estados Unidos da América. Foi um jornalista, editor, autor, filantropo, abolicionista, 
funcionário público, cientista, diplomata e inventor estadunidense, que foi também um dos líderes da 
Revolução Americana, e é muito conhecido pelas suas muitas citações e pelas experiências com a 
eletricidade. Um homem religioso, calvinista, é ao mesmo tempo uma figura representativa do 
Iluminismo. 
 
 
1.2 Será que há uma forma única, um único modelo de educação? 
 
Acreditamos que não. Aprende-se e ensina-se em todos os lugares. Nesse sentido, a escola 
não é o único espaço educacional; o ensino escolar não é a sua única prática e o professor não é o 
único praticante. 
 
Parafraseando (MCLUHAN, 1964), estamos vendo que chegará o dia – e talvez este já seja 
uma realidade – em que nossas crianças aprenderão muito mais e com maior rapidez em contato com 
o mundo exterior do que no recinto da escola. Isso nós já podemos observar no cotidiano. Uma vez que 
já assistimos a jovens e adultos que nos perguntam: Por que retornar à escola e deter minha 
educação? Este questionamento é feito por jovens que interrompem prematuramente seus estudos. 
Parece uma pergunta arrogante, mas como nos diz o autor acerta no alvo: o meio urbano poderoso 
explode de energia e de uma massa de informações diversas, insistentes, irreversíveis. 
 
A Educação, entendida como construção coletiva de produção do conhecimento, da ação 
social, busca intencional de sentidos e significados, diálogo e interação, perpassa todas as práticas 
sociais. 
 
13 
 
Em casa, na rua, na igreja, no sindicato, no clube, de um modo ou de muitos, todos nós 
envolvemos pedaços da vida com ela: para fazer, para saber, para ensinar, para ser ou conviver. Mas a 
educação (o processo educativo) carece de definições quanto às suas finalidades e caminhos usados 
na sua concretização, conforme as opções que se façam quanto ao tipo de homem/mulher – ser que se 
quer formar, que tipo de sociedade se deseja e se quer construir. 
 
Nesse sentido, a educação, conceitualmente e na prática, passa a sofrer as diversas 
influências das diferentes forças sociais e políticas que a percebem como objeto de poder e das 
Ideologias. Passa então a ser um instrumento fundamental no campo das disputas políticas e das 
intenções ideológicas. 
 
Ideologia - De acordo com os escritos de Karl Marx, é aquele sistema ordenado de normas e 
de regras (com base no qual as leis jurídicas são feitas) que obriga os homens a comportarem-se 
segundo as vontades “do sistema”, mas como se estivessem se comportando segundo a sua própria 
vontade. Ou seja, o homem está sendo manobrado e explorado e na se percebe como tal, aceita 
passivamente sem nenhum questionamento. 
 
1.3 E por que essa disputa ideológica e sócio-política acontece? 
 
Porque, quando homens e mulheres têm acesso à educação, a um “tipo” de educação e ao 
conhecimento podem desvendar os motivos das desigualdades. Bem informados, podemos reivindicar 
e exigir nossos direitos em todos os espaços sociais: na família, na escola, no mercado, no ônibus, nos 
serviços de saúde. Enfim, em todos os espaços sociais nos quais estamos inseridos. 
 
Podemos ainda mais, quando qualificarmos melhor nossa participação nos espaços sociais de 
decisão: conselhos escolares, associação de moradores, sindicatos, partidos políticos, igreja etc. A 
socialização deste conhecimento e deste saber não interessa à classe dirigente que nós tenhamos 
acesso. Isso pode se tornar perigoso, libertar o homem de sua própria consciência é dá-lo ferramentas 
para que ele venha a ser ativo e participativo. Esse conhecimento não interessa a todos, afinal, quando 
não sabemos, podemos ser manipulados. O saber liberta o homem da ignorância e uma vez liberto 
desta ignorância o homem é levado a questionar, a participar, a reivindicar. É esse entendimento que 
vamos aprofundar ao longo da leitura dos diferentes conceitos e do contexto histórico em que foram 
elaborados. 
 
As diferentes concepções e teorias, ao longo da história, têm focado a Educação com ênfase, 
ora no conhecimento, ora nos métodos de ensino, ora no aluno, ora no educador, ora em ambos. 
Essas diferentes formas de “pensar” trouxeram e trazem conseqüências diversas em cada momento 
histórico, para os grupos hegemônicos de cada sociedade e todas se revestem de uma 
intencionalidade, de objetivos, que exercem forte influência sobre nosso jeito de fazer Educação e no 
modo como nos organizamos socialmente. 
 
Você perceberá que o Conceito de Educação não é consenso, ao contrário, abrange uma 
diversidade significativa de concepções e correntes de pensamento, que estão relacionadas 
diretamente ao período histórico, ao movimento social, econômico, cultural, político nacional e 
internacional. 
 
Quer conhecer o que alguns pensadores e educadores dizem sobre o que é educação e qual o 
seu papel social, político e cultural? 
 
14 
 
Então preste atenção às idéias, que lhe apresentaremos logo a seguir, que foram ou são 
fundamentos para as práticas pedagógicas, que veremos mais profundamente em outros trechos do 
nosso percurso.Vamos iniciar conhecendo o pensamento de Émile Durkheim, para quem a Educação é 
essencialmente o processo pelo qual aprendemos a ser membros da sociedade. Educação é 
socialização! É uma ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos como queremos. E, afirma que 
existem certos costumes, regras que precisam e devem ser obrigatoriamente transmitido no processo 
educacional, gostemos ou não deles. 
 
Émile Durkheim (1858 - 1917), sociólogo francês, positivista, viveu em um rico e conturbado 
momento histórico: de um lado, a Revolução Francesa, e de outro, a Revolução Industrial. “Bebeu” na 
fonte do pensamento de Auguste Comte (1798 - 1857), pai do Positivismo e filho do Iluminismo que 
enfatizava a razão e a ciência como formas de explicar o universo. Para Durkheim, a tarefa da 
educação era buscar “soluções” para a crise da burguesia do final de século XIX, que lutava para 
continuar como detentora do poder político e econômico. 
 
Seu pensamento refletia diferentes “educações”. Cada casta, classes ou grupo social deveria 
ter sua própria educação para adequar cada um a seus meios específicos de vida, ou seja, aqueles 
que nascessem pobres deveriam adaptar-se à sua realidade, e aqueles que nascessem ricos deveriam 
adaptar-se à sua condição e, assim, cada um desempenharia o seu papel social de forma harmoniosa. 
Suas idéias influenciaram grandemente as correntes pedagógicas até os dias atuais. 
 
Outro importante pensador, Karl Marx, dizia que a educação é diretamente relacionada aos 
interesses de classe. “Conforme o conteúdo de classe ao qual estiver exposta, ela pode ser uma 
educação para a alienação ou para a emancipação”. 
 
Karl Marx (1818 - 1883), intelectual alemão, é considerado um dos fundadores da Sociologia, 
mas, que contribuiu com várias outras áreas: filosofia, economia, história. Elaborou, em parceria com 
Friedrich Engels (1820-1895) também filósofo alemão, a Doutrina dos teóricos do Socialismo Científico 
ou Marxismo e escrevem juntos o Manifesto Comunista, “historicamente um dos tratados políticos de 
maior influência mundial, publicado pela primeira vez em 21/02/1848, em que os autores partem de 
uma análise histórica, distinguindo as várias formas de opressão social durante os séculos e situa na 
burguesia moderna como nova classe opressora, que super-valoriza a liberdade econômica em 
detrimento das relações pessoais e sociais, assim tratando o operário como uma simples peça de 
trabalho que o deixa completamente desmotivado e contribuindo para a sua miserabilidade e 
coisificação. 
 
O professor Tosi Rodrigues (2002) coloca que Marx, a partir de seus estudos sobre as 
conseqüências da Revolução Industrial, na vida dos trabalhadores ingleses, concluiu que o tipo de 
educação dado às crianças operárias era tão precário que só poderia servir para perpetuar as relações 
de opressão às quais as crianças e seus pais estavam sujeitos. 
 
Segundo relato citado por Marx, em seu livro sobre a realidade de uma das escolas que visitou, 
“a sala de aula tinha 15 pés de comprimento por 10 pés de largura e continha 75 crianças que 
grunhiam algo ininteligível (...) Além disso, o mobiliário escolar era pobre, faltavam livros e material de 
ensino e uma atmosfera viciada e fétida exercia efeito deprimente sobre as infelizes crianças. Estive 
em muitas dessas escolas e nelas vi filas inteiras de crianças que não faziam absolutamente nada, e a 
15 
 
isso se dá o atestado de freqüência escolar; e a esses meninos figuram na categoria de instruídos de 
nossas estatísticas oficiais” (O Capital, 1968, Vol. 1, Livro 1). 
 
Os estudos de Marx tiveram e têm uma forte influência nas idéias pedagógicas no mundo e 
aqui no Brasil. Dessa corrente de pensamento sociológico, decorre as chamadas pedagogias críticas, 
que estudaremos mais adiante. 
 
Seguindo a coerência em nossa linha de raciocínio encontramos na França o pensamento de 
Durkheim, depois, na Alemanha onde encontramos Marx. Agora, seguindo a coerência cronológica da 
história, vamos conhecer outro importante pensador na Suíça e, logo em seguida, voltaremos ao Brasil. 
 
Jean-Jaques Rousseau afirmava que “nascemos fracos, precisamos de força; nascemos 
desprovidos de tudo, temos necessidade de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de juízo. 
Tudo que não temos ao nascer e de que precisamos, quando adultos, nos é transmitido pela 
educação”. Seria, para ele, a educação responsável pela formação do cidadão em todos os sentidos. 
Pois acreditava que o homem nasce bom, mas a sociedade o perverte. 
 
Jean-Jaques Rousseau (1712 - 1978), filósofo e escritor suíço, foi uma das principais 
inspirações ideológicas da segunda fase da Revolução Francesa: inspirou fortemente os 
revolucionários, que defendiam o princípio da soberania popular e da igualdade de direitos. Apontava a 
desigualdade e a injustiça como frutos da competição e da hierarquia mal constituída. Segundo suas 
idéias, o grande objetivo do governo deveria ser assegurar liberdade, igualdade e justiça para todos, 
independentemente da vontade da maioria. Estudioso da filosofia da educação enalteceu a “educação 
natural”, defendendo um acordo livre entre o mestre e o aluno. Seu trabalho se tornou a diretriz das 
correntes pedagógicas nos séculos seguintes. Lançou sua filosofia, não somente através de escritos 
filosóficos formais, mas também de romances, cartas e de sua autobiografia. 
 
Após conhecer os principais acontecimentos sócio-filosóficos que nortearam as correntes e 
concepções de pensamentos do mundo vamos conhecer as influências destes pensamentos no Brasil. 
 
 
1.4 Influências destes pensamentos filosóficos no Brasil 
 
Vamos conhecer os liberais e suas idéias sobre a educação, que eram defendidas com um 
grande otimismo pedagógico: eles queriam reconstruir a sociedade por meio da educação (GADOTTI, 
1993). 
 
Vocês já ouviram falar dos liberais? Se não, prestem atenção. Era um grupo de intelectuais 
profundamente enraizados na classe burguesa, que defendiam e justificavam o modelo econômico da 
época, que privilegiavam alguns, em detrimento da maioria. Defendiam, apenas, alterações no como 
ensinar, e não, no modelo de educação excludente. 
 
Para os Liberais, o homem é produto do meio; ele e sua consciência se formam em suas 
relações acidentais, que podem e devem ser controladas pela educação, a qual deve trabalhar para a 
manutenção da ordem vigente, atuando diretamente com o sistema produtivo. O objetivo primeiro da 
educação é produzir indivíduos competentes para o mercado de trabalho, transmitindo eficientemente 
informações precisas, objetivas e rápidas. (LÍBANEO, 1989). 
 
16 
 
Parafraseando Paulo Freire, a educação é o fator mais importante para se alcançar a 
felicidade. O autor destacava ainda em seus escritos a educação como ação de conhecimento, como 
ato político, como direito de cidadania e, nesse sentido, o conhecimento, como construção social. Ainda 
segundo o autor, ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, as pessoas se educam entre 
si, mediatizadas pelo mundo. (2002 p.68). 
 
Paulo Freire: Biografia resumida - O caminho de um Educador. Nasceu em Recife em 1921 e 
faleceu em 1997. É considerado um dos grandes educadores da atualidade e respeitado 
mundialmente. Publicou várias obras que foram traduzidas e comentadas em vários países. Suas 
primeiras experiências educacionais foram realizadas em 1962 em Angicos, no Rio Grande do Norte, 
onde 300 trabalhadores rurais se alfabetizaram em 45 dias. Participou ativamente do MCP (Movimento 
de Cultura Popular) do Recife. 
 
Suas atividades são interrompidas com o golpe militar de 1964, que determinou sua prisão. 
Exila-se por 14 anos no Chile e posteriormente vive como cidadão do mundo. Com sua participação, o 
Chile, recebe uma distinção da UNESCO, por ser um dos países que mais contribuíram à época, para 
a superação do analfabetismo. Em 1970, junto a outros brasileiros exilados, em Genebra, Suíça, cria o 
IDAC (Instituto de Ação Cultural), que assessoradiversos movimentos populares, em vários locais do 
mundo. Retornando do exílio, Paulo Freire continua com suas atividades de escritor e debatedor, 
assume cargos em universidades e ocupa, ainda, o cargo de Secretário Municipal de Educação da 
Prefeitura de São Paulo, na gestão da Prefeita Luisa Erundina. 
 
Algumas de suas principais obras: Educação como Prática de Liberdade, Pedagogia do 
Oprimido, Cartas à Guiné Bissau, Vivendo e Aprendendo, A importância do ato de ler, Pedagogia da 
Autonomia. 
 
Freire (1997), também nos ensina que a educação não é neutra, ao contrário, é um dos 
instrumentos capazes de: garantir aos cidadãos o atendimento às necessidades que permitem o seu 
desenvolvimento integral, que possibilita a integração entre o pensar e o agir, porque quando o pensar 
é privado de realidade e o agir, de sentido, ambos ficam sem significado. Caso contrário, podemos 
reproduzir uma educação que se coloca como mera transmissora de informações descontextualizadas 
historicamente, sem autor, sem intencionalidade “clara” e privada de sentido, a que o autor denominou 
de educação bancária. Minha presença no mundo não é a de quem nele se adapta, mas de quem nele 
se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da história. 
(FREIRE, 1983, p. 57). 
 
Sendo assim, educar é construir, é libertar o homem do determinismo, passando a reconhecer 
o seu papel na História e onde a questão da identidade cultural, tanto em sua dimensão individual, 
como em relação à classe dos educandos é essencial à prática pedagógica libertadora. 
 
Sem respeitar essa identidade, sem autonomia, sem levar em conta as experiências vividas 
pelos educandos antes de chegarem à escola, o processo será inoperante, somente meras palavras 
despidas de significação real. Temos que lutar por uma educação dialógica, pois só assim se pode 
estabelecer a verdadeira comunicação da aprendizagem entre seres constituídos de alma, prazer, 
sentimentos. 
 
Em seus escritos, Freire destaca o ser humano como um ser autônomo, livre, criativo, ativo, 
capaz de significar e ressignificar suas ações. Essa autonomia está presente na definição de vocação 
17 
 
ontológica de ‘ser mais’ que está associada à capacidade de transformar o mundo. É exatamente aí 
que o homem se diferencia do animal. Afinal, animal não tem história. 
 
1.5 Educação? Educações? Educar? 
 
Vamos conhecer uma pequena parte do relatório da UNESCO de 1996, sobre educação, e 
seguir, conhecendo Educação/Educações. 
 
Segundo Moran, (2000, p. 3), educar: 
 
 
É colaborar para que professores e alunos – nas escolas e organizações – transformem suas 
vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção de 
sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional – do seu projeto de vida, no 
desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção, comunicação que lhes 
permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e profissionais e tornarem-se cidadão 
realizados e produtivos. 
 
 
No relatório da UNESCO, organizado e escrito pelo francês Jacques Delors, intitulado: 
Educação um tesouro a descobrir, de 1996, a Educação precisa de uma concepção mais ampla, ou 
seja: 
 
Uma concepção ampliada de educação deveria fazer com que todos pudessem descobrir, 
reanimar e fortalecer o seu potencial criativo – revelar o tesouro escondido em cada um de nós. Isso 
supõe que se ultrapasse a visão puramente instrumental da educação considerada a via obrigatória 
para obter certos resultados (saber-fazer, aquisição de capacidades diversas, fins de ordem 
econômica), e se passe a considerá-la em toda a sua plenitude: realização da pessoa que, na sua 
totalidade, aprende a ser (DELORS, 2003, p. 90). 
 
As diferentes concepções de educação têm reflexos profundos em nosso cotidiano. Como você 
deve ter percebido, todos nós temos memória, uns mais, outros menos, da infinidade de informações 
que recebemos ao longo de nossas vidas como estudantes. 
 
Muitos de nós estudamos em escolas que reproduziam informações e conhecimentos, e nós 
não sabíamos para que serviriam, nem imaginávamos quem produziu esse conhecimento, nem em que 
contexto histórico. Não víamos sentido para os conteúdos, que eram apenas para ser decorados e para 
que respondêssemos questões dos questionários, das provas, que depois esquecíamos – a “educação 
bancária”. Não queremos dizer com isso que informação/ conhecimento não é importante, ao contrário, 
têm importância e significam poder. 
 
A esse respeito, o cientista político, americano Emir Sader, indagou em sua palestra proferida 
no Fórum Mundial da Educação (2003): “se o conhecimento não serve para inserir os homens de forma 
consciente na sociedade, para que serve então”? (...) “o excesso de informação existente hoje 
disseminada, porém descontextualizada e sem história, sem o conhecimento de quem a produziu, vem 
banalizando o processo educacional e fragmentando o saber, colaborando para a produção de um 
novo tipo de analfabetismo”. 
 
 
 
18 
 
UNIDADE III 
 
 
TEXTO 01 - A FILOSOFIA EM BUSCA DE RESPOSTAS 
 
 
Certamente você deve estar-se perguntando por que estudar fundamentos sócio-filosóficos da 
educação para compreender as Políticas públicas em Educação e Educação Física? Qual o 
significado? 
 
Para saber mais sobre essa questão vamos fazer um estudo breve que nos ajudará a entender 
o significado dessas palavras e a importância de estudá-las para sua formação, enquanto um futuro 
profissional da área de Educação Física. 
 
• Fundamentos - Vamos juntos tentar entender o que são fundamentos? De forma geral, e aqui 
em especial, fundamentos são os princípios básicos, nosso porto seguro, aquilo que nos dará 
base para entender o que vem a seguir, ou seja, alicerce para o entendimento de outras 
disciplinas e a nossa postura enquanto futuro profissional. 
 
• Sócio - nesse caso, remete-nos à sociologia, ciência que se dedica a estudar a sociedade e 
suas transformações ao longo da história, e as transformações pelas quais temos passado. 
Afinal, estamos vivendo uma verdadeira revolução educacional, com o apoio significativo das 
novas tecnologias. 
 
• Filosófico - é a junção de duas palavras gregas: filos/amante + sofia/sabedoria = amor pela 
sabedoria. Na prática pedagógica, representa aquele olhar indagador e crítico sobre a 
realidade, na busca de respostas sobre os porquês dos fenômenos, nesse caso, relacionados 
à educação. 
 
• Em síntese, Fundamentos Sócio-Filosófico é a base para o entendimento da educação na 
sociedade, de forma crítica, construída através da reflexão, da pesquisa, da observação. 
 
• Políticas Públicas em Educação e Educação Física são definidas como o conjunto de ações 
desencadeadas pelo Estado, no caso brasileiro, nas escalas federal, estadual e municipal, com 
vistas ao bem coletivo. Elas podem ser desenvolvidas em parcerias com organizações não 
governamentais e, como se verifica mais recentemente, com a iniciativa privada. 
 
E por que estudar os fundamentos de áreas pedagógicas? Porque as demais ciências da 
educação e em especial a pedagogia são como bússolas que auxiliam o professor a agir diante da 
grande diversidade que caracteriza o povo brasileiro. Diante dessa afirmativa e estando o Curso de 
Educação Física ligado à área da Educação somos desafiados a conhecer a Pedagogia enquanto 
Ciência da Educação. 
 
Nossa cultura é muito rica e diversa, nosso povo – crianças, jovens, adultos – faz a diferença 
em cada comunidade, município, estado ou região. É muita diversidade para uma única ação 
pedagógica. 
 
Como trabalhar com essa diversidade? Como devemos ser educadores reflexivos e críticos? 
 
19 
 
2.1 O Filósofo e o Filosofar 
 
O verdadeiro filósofo é, antes de tudo, um observador atento da realidade, um pensador 
dedicado e que tenta, pelo seu próprio esforço, desvendar o Universo que o cerca. E o que é filosofar? 
 
É pensar livremente, é não se deixar guiar por ideologias, religiões, crenças, pelas opiniõesdos 
outros, sem reflexão. É colocar tudo como objeto a ser refletido, perguntar sobre tudo, por exemplo: 
Quais os motivos que guiaram as diferentes escolhas humanas ao longo da história? Por que agimos 
assim, e não, de outro jeito? 
 
Para o professor/educador, é fundamental filosofar sobre sua prática, pensar sobre o seu fazer 
pedagógico diário, buscar respostas para as dificuldades e para as conquistas do dia-a-dia. Assim, o 
educador ao superar as dificuldades, socializa as conquistas e contribui com a comunidade onde está 
atuando. 
 
Embora a Filosofia, em geral, não seja produzida para resultados concretos e imediatos, crer 
que ela não tenha aplicação prática não é correto. A forma de compreender o mundo é que determina o 
modo como se produzem as coisas, investiga-se a natureza, propõem-se as leis. Ética, Política, Moral, 
Esporte, Arte, Ciência, Religião, tudo tem a ver com Filosofia. 
 
O pensamento humano não apenas influenciou e influencia o mundo, na verdade, é ele que o 
determina. Todos os movimentos sociais, econômicos, políticos, religiosos da história têm origem no 
pensamento humano, na Filosofia. 
 
Aquele que se dedica à Filosofia não se abstém da realidade, não é um alienado. É aquele que 
procura compreender a realidade e busca dar o primeiro passo para interagir com ela, ou mesmo 
alterá-la, da melhor forma possível. 
 
Saberemos mais sobre Filosofia e as principais correntes filosóficas. Elas nos ajudarão a 
entender melhor onde estão ancoradas algumas práticas pedagógicas, que estudaremos mais adiante. 
 
Bem, recapitulando, Filosofia é uma palavra grega “philosophia” – sophia, que significa 
sabedoria; philo significa amor, ou amizade. Então, literalmente, um filósofo é um amigo ou amante de 
sophia, alguém que admira e busca a sabedoria. Logo, todos somos filósofos, podemos e devemos 
filosofar. Mas, o que são filosofia e filosofar? 
 
• O termo philosofia foi empregado, pela primeira vez, pelo famoso filósofo grego 
PITÁGORAS, por volta do século V a.C, ao responder a um de seus discípulos que ele não era 
um “Sábio”, mas apenas alguém que amava a Sabedoria. Filosofia é, então, a busca pelo 
conhecimento último e primordial, a Sabedoria Total. 
 
Embora, de um modo ou de outro, o Ser Humano sempre tenha exercido seus dons filosóficos, 
a Filosofia Ocidental, como um campo de conhecimento coeso e estabelecido, surge, na Grécia Antiga, 
com a figura de TALES de MILETO, que foi o primeiro a buscar uma explicação para os fenômenos da 
natureza usando a Razão e a Lógica, e não, os Mitos como eram de costume. 
 
• Mito é uma narrativa tradicional com caráter explicativo e/ou simbólico, profundamente 
relacionado com uma dada cultura e/ou religião. O mito procura explicar os principais 
acontecimentos da vida, os fenômenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio 
20 
 
de deuses, semi-deuses e heróis (todas elas são criaturas sobrenaturais). Pode-se dizer que o 
mito é uma primeira tentativa de explicar a realidade. 
 
• Razão é a faculdade de raciocinar, de apreender, de compreender, de ponderar, de 
julgar...Disponível em: http://pt.wikipedia. org/wiki/Raz%C3%A3o. Acesso em: 28 julho de 
2010. 
 
• Lógica é o ramo da Filosofia que cuida das regras do bem pensar, ou do pensar correto, 
sendo, portanto, um instrumento do pensar. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ 
L%C3%B3gica Acesso em: 28 julho de 2010. 
 
Mas você sabe que, como o resto das coisas da vida, nem tudo foi flores na constituição da 
história da Filosofia, assim como na Religião. 
 
Ela também já teve sua morte decretada. No entanto, a Filosofia Ocidental perdura há mais de 
2.500 anos, tendo sido a “Mãe” de quase todas as Ciências: Psicologia, Antropologia, História, Física, 
Astronomia e, praticamente, todas as outras que derivam direta ou indiretamente da Filosofia. 
Entretanto, as “filhas” ciências se ocupam de objetos de estudo específicos, e a “Mãe” se ocupa do 
“Todo”, da totalidade do real. 
 
Nada escapa à investigação filosófica. A amplitude de seu objeto de estudo é tão vasta que 
foge à compreensão de muitas pessoas, que chegam a pensar ser a Filosofia uma atividade inútil. 
Além disso, seu significado também é muito distorcido no conhecimento popular que, muitas vezes, a 
reduz a qualquer conjunto simplório de idéias específicas, as “filosofias de vida” ou, basicamente, a um 
exercício poético. 
 
Entretanto, como sendo praticamente o ponto de partida de todo o conhecimento humano 
organizado, a Filosofia estuda tudo o que pode, estimulando e produzindo os mais vastos campos do 
saber. Mas, diferente da Ciência, a Filosofia não é empírica, ou seja, não faz experiências, mesmo 
porque geralmente, seus objetos de estudo não são acessíveis ao Empirismo. 
 
• A RAZÃO e a INTUIÇÃO são as principais ferramentas da Filosofia, que tem como 
fundamento a contemplação, o deslumbramento pela realidade, a vontade de conhecer e, 
como método primordial, a rigorosidade do raciocínio, para atingir a estruturação do 
pensamento e a organização do saber. 
 
Vamos conhecer um dos principais textos da Filosofia, escrito por Platão, no século IV a.C.: O 
Mito da Caverna ou Alegoria da Caverna. 
 
O Mito da Caverna de autoria de Platão e escrito no livro VII do República é, talvez, uma das 
mais poderosas metáforas imaginadas pela filosofia. O autor descreve a situação geral em que se 
encontra a humanidade. Para o filósofo, todos nós estamos condenados a ver sombras a nossa frente 
e tomá-las como verdadeiras. Uma critica poderosa à condição dos homens, escrita há quase 2500 
anos atrás, inspirou e ainda inspira inúmeras reflexões por todos que o lêem. 
 
Trecho de: O Mito da Caverna Extraído de A República, de Platão(1987) 
 
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres 
humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são 
21 
 
forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas à frente, não podendo girar a cabeça 
nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de 
modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior. 
 
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ele e os prisioneiros - 
no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se 
fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam 
estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas. 
 
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na 
parede, no fundo da caverna, as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as 
próprias estatuetas, nem os homens que as transportam. 
 
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginavam que as sombras vistas são as 
próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens 
(estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem 
saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade 
possível é a que reina na caverna. Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os 
prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os 
outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de 
imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho 
ascendente, nele adentraria. 
 
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol, 
e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens 
que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo 
que, durante toda a sua vida, não vira senão sombra de imagens (as sombras das estatuetasprojetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade. 
 
Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela 
escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. 
 
Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam 
em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo 
espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da 
caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe alguns poderiam ouvi-lo e, contra a 
vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade. Após a leitura, escreva um 
depoimento articulando-o com o que você estudou sobre educação / escola / aprendizagem. Disponível 
em:http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=796 Acesso em: 28 de julho de 2010. 
 
 
2.2 As Correntes Filosóficas 
 
Vamos agora estudar as principais correntes filosóficas. Nos grandes períodos da história: 
Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Contemporânea, viveu-se à influência de vários 
pensadores. Na Antiguidade, destacam-se os filósofos gregos Sócrates, Platão e Aristóteles. O 
primeiro, no estudo da ética; o segundo preconiza o idealismo; e o último, o realismo. 
 
22 
 
• Na Idade Média, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino são pensadores cristãos que 
ocupam papel de realce. Santo Agostinho é tido como filósofo da fé e São Tomás de Aquino, 
como embasador do catolicismo, afirma que o conhecimento tem primazia sobre a ação. 
 
• Na Idade Moderna, começa-se a negar a fé e a ampliar os caminhos da ciência. Projetam- se 
vários filósofos, como Descartes, no racionalismo, Bacon, no empirismo, Hegel, na dialética, 
Kant, na epistemologia, na metafísica e na antropologia e Comte, no positivismo. Na época 
contemporânea, acentua-se uma reação à Filosofia do século XIX, idealista e positivista, bem 
como a Filosofia moderna geral. Destacam-se: Kierkegaard, considerado o fundador do 
Existencialismo, Hidegeer, que analisou a existência humana e Husserl, que dá ênfase ao 
estudo dos fenômenos – a fenomenologia. 
 
 
2.3 E a Filosofia Oriental? 
 
Ainda nessa rota, vamos entrar em um canal que nos leva até a filosofia oriental. 
 
Estamos prontos? Lá vamos nós! Embora não seja aceito como Filosofia pela maior parte dos 
acadêmicos, o pensamento produzido no Oriente, especificamente na China e na Índia por budistas e 
hinduístas, possui qualidades equivalentes à da Filosofia Ocidental. 
 
A questão é basicamente a definição do que vem a ser a Filosofia e suas características 
principais que, da maneira como é colocada pelos acadêmicos ocidentais, de fato exclui a Filosofia 
Oriental. Mas nada impede que se considere Filosofia num conceito mais amplo, como faremos aqui. 
 
A Filosofia Oriental é mais intuitiva que a Ocidental e menos racional, o que contribui para 
sua inclinação mística e hermética. No entanto, vemos os paralelos que ela possui, principalmente, 
com a Filosofia Antiga. 
 
Ambas surgiram por volta do século VI a.C, tratando de temas muito semelhantes, e há de se 
considerar que Grécia e Índia não são tão distantes uma da outra a ponto de inviabilizar um contato. 
 
Veja o mapa mundial. A maioria dos estudiosos considera que não há qualquer relação entre 
os pré-socráticos e os filósofos orientais. O que, na realidade, pouco importa nesse momento. 
 
O fato é que, assim como a Ciência, a Arte e a Mística, a Filosofia sempre existiu em forma 
latente no ser humano. Nós sempre pensamos. Logo, existimos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
UNIDADE IV 
 
 
TEXTO 01 - OS CAMINHOS DA SOCIOLOGIA 
 
A Sociologia é a ciência que estuda o comportamento humano em função do meio e os 
processos que interligam o indivíduo em associações, grupos e instituições. Ou seja, a sociologia surge 
na história como o resultado da tentativa de compreender situações sociais novas, criadas pela, então, 
nascente sociedade capitalista. 
 
• Capitalismo – é comumente definido como um sistema de organização de sociedade baseado 
na propriedade privada dos meios de produção, na propriedade intelectual e na liberdade de 
contrato sobre estes bens, o chamado livre-mercado. 
 
• Karl Marx – observa o Capitalismo através da dinâmica da lutas de classes, incluindo aí a 
estrutura de estratificação de diferentes segmentos sociais, dando ênfase às relações entre 
proletariado (classe trabalhadora) e burguesia (classe dominante). Disponível em: 
http://www.renascebrasil.com.br/f_capitalismo2.htm. Acesso em: 28 de julho de 2010. 
 
Apesar do termo “sociologia” ter sido criado por Auguste Comte em 1837, que inicialmente a 
denominou de “física social”, existem controvérsias sobre quem é seu verdadeiramente e real fundador. 
 
Em geral, nessas escolhas, pesam motivos nacionais, cada qual tentando ver num inglês, num 
alemão ou num francês, o verdadeiro criador da sociologia. Raymond Aron (1992), por exemplo, aponta 
Montesquieu, enquanto Salvador Giner indica uma série de outros nomes (Saint-Simon, Proudhom, 
J.S.Mill, o já citado Comte e Marx). 
 
A maioria dos anglo-saxãos, defendem o nome de Herbert Spencer que consagrou o termo em 
caráter definitivo com a obra -The Study of Sociology, 1880 -, enquanto os alemães asseveram que o 
fundador é Max Weber. 
 
Do rol dos fundadores intelectuais ainda constam nomes como: Jane Addams, Charles 
H.Cooley, William E. DuBois, George H. Mead e Robert Merton. Vale ressaltar, que talvez a sociologia 
tardasse bem mais em surgir no cenário cultural e científico europeu caso não tivessem surgido as 
doutrinas sociais de Jean-Jacques Rousseau - o grande revolucionário do Século das Luzes. 
 
• O Surgimento - Podemos entender a sociologia como uma das manifestações do pensamento 
moderno. É importante colocar que, a sociologia veio preencher a lacuna do saber social, 
surgindo após, a constituição das ciências naturais e de várias ciências sociais. Seu 
surgimento coincide com os últimos momentos da desagregação da sociedade feudal e da 
consolidação da civilização capitalista. 
 
• A criação da sociologia não é obra de um só filósofo ou cientista, mas o trabalho de vários 
pensadores empenhados em compreender as situações novas de existência que estavam em 
curso, quais sejam, as transformações econômicas, políticas e culturais verificadas no século 
XVII. 
 
• A Revolução Industrial, a Revolução Gloriosa Inglesa, a Independência dos EUA e a 
Revolução Francesa patrocinam a instalação definitiva da sociedade capitalista. Mas, somente 
24 
 
por volta de 1830, um século depois, surge a palavra sociologia, fruto dos acontecimentos das 
duas revoluções citadas. 
 
• A Revolução Industrial, com a introdução da máquina a vapor e os aperfeiçoamentos dos 
métodos produtivos, determinou o triunfo da indústria capitalista, especialmente, pela 
concentração e controle de máquinas, terras e ferramentas onde a grande massa de 
trabalhadores, era obrigada a produzir. As máquinas não simplesmente destruíam os 
pequenos artesãos, mas os obrigava à forte disciplina nas fábricas, surge uma nova conduta e 
uma relação de trabalho até então desconhecidas. 
 
Este fenômeno, o da Revolução Industrial, determinou o aparecimento da chamada classe 
trabalhadora ou proletariado. Os seus efeitos catastróficos para a classe trabalhadora geraram, no 
primeiro momento, sentimentos de revolta traduzidos externamente na forma de destruição de 
máquinas, sabotagens, explosão de oficinas, roubos e outros crimes, no segundo momento, deram 
lugar a busca pela organização, defendida pelos socialistas e comunistas, através da constituição de 
associações livres e de sindicatos, que abriram espaço, com muita luta, para o diálogo de classes 
organizadas, de um lado a classe trabalhadora – proletariado e de outro, a classe proprietária - 
burguesia, cientes de seus interesses e desejos. 
 
 
Indicação de Filme - Tempos Modernos 
 
Sinopse – O Filmedirigido e estrelado por Charles Chaplin e com Paulette Goddard no elenco. 
Foi lançado nos Estados Unidos em 1936 a partir do qual o seu sucesso espalhou-se pelo mundo. Um 
operário de uma linha de montagem, que testou uma “máquina revolucionária” para evitar a hora do 
almoço, é levado à loucura pela “monotonia frenética” do seu trabalho. Após um longo período em um 
sanatório ele fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Ele deixa o hospital para começar 
sua nova vida, mas encontra uma crise generalizada e equivocadamente é preso como um agitador 
comunista, que liderava uma marcha de operários em protesto. Simultaneamente uma jovem rouba 
comida para salvar suas irmãs famintas, que ainda são bem garotas. Elas não têm mãe e o pai delas 
está desempregado, mas o pior ainda está por vir, pois ele é morto em um conflito. A lei vai cuidar das 
órfãs, mas enquanto as menores são levadas a jovem consegue escapar. 
 
Após assistirmos ao filme vamos continuar conhecendo os acontecimentos sociológicos. Estes 
importantes acontecimentos e as transformações sociais verificadas foram as bases para a 
necessidade de investigação sociológica. 
 
Os pensadores ingleses que testemunhavam estas transformações e com elas se 
preocupavam não eram homens de ciência ou sociólogos profissionais. Eram homens de atitude que 
desejavam introduzir determinadas modificações na sociedade. 
 
Os precursores da sociologia se encontravam entre militantes políticos e entre as pessoas que 
se preocupavam e/ou vivenciavam os problemas sociais e desejavam conservar, modificar 
radicalmente ou reformar a sociedade de seu tempo. Estes pertenciam a diferentes correntes 
ideológicas: conservadoras, liberais, socialistas/marxistas. Foi com o aparecimento das cidades 
industriais, das transformações tecnológicas, da organização do trabalho na fábrica, e da formação de 
uma estrutura social específica – a sociedade capitalista – que se impôs uma reflexão sobre a 
sociedade, suas transformações, suas crises, e sobre seus antagonismos de classe. 
 
25 
 
O “progresso” das formas de pensar, a partir do uso da razão e da lógica, contribuiu para 
afastar interpretações baseadas em suposições, superstições e crenças, representou uma mudança de 
paradigma e abriu espaço para a constituição de um novo saber sobre os fenômenos histórico-sociais. 
E, conseqüentemente, para a formulação de uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da 
natureza e da cultura. 
 
A lógica é uma ciência de índole matemática e fortemente ligada à Filosofia. Já que o 
pensamento é a manifestação do conhecimento, e que o conhecimento busca a verdade, é preciso 
estabelecer algumas regras para que essa meta possa ser atingida. O principal organizador da lógica 
clássica foi Aristóteles, com sua obra chamada Organon. Ele divide a lógica em formal e material. 
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%B3gica Acesso em: 28 de julho de 2010. 
 
Esta postura influenciou os historiadores escoceses da época, como David Hume (1711- 1776) 
e Adam Ferguson (1723-1816), e seria posteriormente desenvolvida e amadurecida por Hegel e Karl 
Marx. 
 
Foi também dessa época a disposição de tratar a sociedade, a partir do estudo de seus grupos 
e não dos indivíduos isolados. Frutifica o entendimento de que os homens e as mulheres produzem ao 
longo de suas vidas: conhecimentos, crenças, valores, linguagem, arte, música. Criamos, destruímos, 
inventamos, re-inventamos. Enfim, fazemos Cultura. Sendo assim, a sociologia se debruça sobre todos 
os aspectos da vida social e tem como preocupação estudar desde o funcionamento de macro-
estruturas (o estado, a classe social) até o comportamento dos indivíduos. 
 
Ela, em parceria com a filosofia, dão fundamento para entendermos o que é educação, sua 
história e suas mudanças ao longo do tempo. 
 
O pensamento de alguns sociólogos voltados para a educação - Vamos pensar o que se 
refletiu e reflete no pensar e no fazer dos educadores. 
 
Para Durkheim, o objeto da sociologia é o fato social. Sendo a educação considerada como o 
fato social, isto é, se impõe, coercitivamente, como uma norma jurídica ou como uma lei. A doutrina 
pedagógica se apóia na concepção do homem e de sociedade, onde o processo educacional emerge 
através da família, igreja, escola e comunidade. Para o autor as gerações adultas exercem uma forte 
pressão sobre os mais novos, que tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança determinados 
números de estados físicos, intelectuais e morais (DURKHEIM, 1973). 
 
Já para um divulgador da obra de Durkheim, Talcott Parsons (1965), sociólogo americano, a 
educação é entendida como socialização. 
 
Nessa perspectiva, ela é o mecanismo básico de constituição dos sistemas sociais e de 
manutenção e perpetuação dos mesmos, em formas de sociedades, e destaca que sem a socialização, 
o sistema social é ineficaz de manter-se integrado, de preservar sua ordem, seu equilíbrio e conservar 
seus limites. 
 
• Parsons, afirma que é necessário uma complementação do sistema social e do sistema de 
personalidade. Ambos têm necessidades básicas que podem ser resolvidas de forma 
complementar. A criança aceita o marco normativo do sistema social em troca do amor e do 
carinho maternos. Este processo se desenvolve através de mediações primárias: os próprios 
pais, através da internalização de normas, inicia o processo de socialização primária. A criança 
26 
 
não percebe que as necessidades do sistema social estão se tornando suas próprias 
necessidades. 
 
Dessa forma, para o autor, o indivíduo é funcional para o sistema social. De acordo com 
Durkheim e Parsons, a educação não é um elemento para a mudança social, mas sim , pelo contrario, 
é um elemento fundamental para a conservação e funcionamento do sistema social. 
 
Mas existem autores que têm pensamento oposto, entre eles, destacamos Dewey e Mannheim. 
O ponto de partida desses autores é que a educação constitui um mecanismo dinamizador das 
sociedades através de um indivíduo que promove mudanças. 
 
Para estes dois sociólogos, o processo educacional possibilita ao indivíduo atuar na sociedade 
sem reproduzir experiências anteriores, acriticamente. Pelo contrario, elas serão avaliadas 
criticamente, com o objetivo de modificar seu comportamento e desta maneira, produzir mudanças 
sociais. 
 
Muito conhecida e difundida no Brasil a obra de Dewey, o autor defende ser impossível separar 
a educação do mundo da vida. Suas idéias tiveram grande influência na nossa educação que veremos 
em aulas a seguir. “A educação não é preparação nem conformidade. Educação é vida, é viver, é 
desenvolver, é crescer” (DEWEY, 1971, p. 29). Para o autor, os indivíduos deveriam ter chances iguais. 
Em outras palavras, igualdade de oportunidades dentro dum universo social de diferenças individuais. 
 
Outro sociólogo, Mannheim, (1971, p. 34) define a educação como: 
 
 
O processo de socialização dos indivíduos para uma sociedade harmoniosa, democrática 
porem controlada, planejada, mantida pelos próprios indivíduos que a compõe. A pesquisa é 
uma das técnicas sociais necessárias para que se conheçam as constelações históricas 
especificas. O planejamento é a intervenção racional, controlada nessas constelações para 
corrigir suas distorções e seus defeitos. O instrumento que por excelência põe em pratica os 
planos desenvolvidos é a Educação. 
 
 
Você viu? Como estes autores têm diferentes idéias não é mesmo? 
 
Veja as diferenças separam os sociólogos que se ocuparam da questão educacional. Você 
reparou? Prestou atenção? 
 
Mas apesar das divergências, não podemos ignorar, que: Existe entre elas um ponto de 
encontro: a educação constitui um processo de transmissão cultural no sentido amplo do termo 
(valores, normas, atitudes, experiências, imagens, representações) cuja função principal é a 
reprodução do sistema social. 
 
Isto é claro no pensamento durkheimiano, que podemos resumir como: longe de a educação 
ter por objeto únicoe principal o indivíduo e seus interesses, ela é antes de tudo o meio pelo qual a 
sociedade renova perpetuamente as condições de sua própria existência. A sociedade só pode viver se 
dentre seus membros existe uma suficiente homogeneidade. A educação perpetua e reforça essa 
homogeneidade, fixando desde cedo na alma da criança as semelhanças essenciais que a vida 
coletiva supõe (DURKHEIM, 1973). 
 
27 
 
Também verificamos que tanto Durkheim, como seus seguidores, se esforçavam por assinalar 
que a importância do processo educacional se baseava no fato de que o mesmo tinha como função 
principal a transmissão da cultura na sociedade. Esta cultura era assim apresentada como única, 
indivisa, propriedade de todos os membros que compõem o conjunto social. 
 
Entretanto, outros dois sociólogos Bourdieu e Passeron, também famosos pelos seus estudos 
e sua preocupação com a questão educacional, tiveram pretensões de justamente demonstrar a não 
existência de uma cultura única, mas que: 
 
 
Na realidade, devido ao fato de que elas correspondem a interesses materiais e simbólicos 
de grupos ou classes diferentemente situadas nas relações de força, esses agentes 
pedagógicos tendem sempre a reproduzir a estrutura de distribuição do capital cultural entre 
esses grupos ou classes, contribuído do mesmo modo para a reprodução da estrutura social: 
com efeito, as leis do mercado em que se forma o valor econômico ou simbólico, isto é, o 
valor enquanto capital cultural, dos arbítrios culturais reproduzidos pelas diferentes ações 
pedagógicas (indivíduos educados) constituem um dos mecanismos mais o menos 
determinantes segundo os tipos de formação social, pelos quais se acha assegurada a 
reprodução social, definida como reprodução das relações de força entre classes sociais 
(BOURDIEU e PASSERON, 1976, p. 218). 
 
 
Para os autores citados, sistema escolar reproduz, assim, em nível social, os diferentes 
capitais culturais das classes sociais e, por fim, as próprias classes sociais. 
 
Os mecanismos de reprodução encontram sua explicação ultima nas relações de poder, 
relações essas de domínio e subordinação que não podem ser explicadas por um simples 
reconhecimento de consumos diferenciais. 
 
Nessa perspectiva, quando analisam a função ideológica do sistema escolar, uma de suas 
preocupações é justamente a da possível autonomia que pode ser atribuída a ele, em relação à 
estrutura de classes. Com efeito, Bourdieu e Passeron se perguntam: 
 
 
Como levar em conta a autonomia relativa que a Escola deve à sua função específica, sem 
deixar escapar as funções de classes que ela desempenha, necessariamente, em uma 
sociedade dividida em classes? (BOURDIEU e PASSERON, 1976, p. 219). 
 
 
E os autores respondem: 
 
 
Se não é fácil perceber simultaneamente a autonomia relativa do sistema escolar, e sua 
dependência relativa à estrutura das relações de classe, é porque, entre outras razões, a 
percepção das funções de classe do sistema escolar está associada, na tradição teórica, a 
uma representação instrumentalista das relações entre a escola e as classes dominantes 
como se a comprovação da autonomia supusesse a ilusão de neutralidade do sistema de 
ensino. (BOURDIEU e PASSERON, 1976, p. 220). 
 
Concluímos, que existem pontos divergentes e pontos comuns entre as idéias dos autores que 
estudamos. Sejam elas no que diz respeito à concepção de educação, de sociedade, de escola. 
 
28 
 
UNIDADE V 
 
 
TEXTO 01 - A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ENQUANTO PRODUÇÃO HUMANA – DA 
EDUCAÇÃO UNIVERSAL À EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
 
1.1 A Educação Primitiva 
 
A educação entre os povos primitivos constitui a forma mais rudimentar do tradicionalismo 
pedagógico. Entre os povos selvagens vamos encontrar as formas mais simples e elementares de 
educação e facilmente se pode determinar a natureza geral, o fim, o método, a organização e o 
resultado da educação. 
 
Vamos encontrar nos povos situados no mais ínfimo grau da civilização, as formas mais puras, 
mais elevadas e mais espiritualizadas de religião, de moral e de educação. Já nos povos pigmeus, 
pertencentes às “culturas iniciais”, deparamos com uma educação intencional realizada pela família e 
pela comunidade, visando ideais éticos e espirituais. 
 
Nas civilizações primitivas a família é que desempenha o papel primordial na formação 
educativa das novas gerações até a puberdade. Após a puberdade, a educação vai variar nas diversas 
civilizações. Nas civilizações totêmicas, a educação masculina assume um caráter antifamiliar, as 
mulheres são desprezadas. Nas civilizações matriarcais, a educação feminina é preponderante devido 
à primazia da mulher. Nas civilizações pastoris, a família patriarcal conserva o seu privilégio educativo. 
 
O estudo da educação primitiva nos faz entrar em contato com a alma do homem primitivo e 
conhecer a estrutura da sua personalidade. 
 
O homem primitivo não é um ser animalizado. Não há educação sistemática, nem instituições 
escolares. A escola teria surgido pela primeira vez entre os Incas e os Astecas. Os povos possuem 
épocas próprias e lugares determinados para a realização da educação intencional. A época preferida 
é a da puberdade dos educandos e quanto aos lugares há as chamadas casas dos homens dos povos 
primitivos, os santuários do bosque ou os bosques sagrados. Há uma preocupação clara pela formação 
das novas gerações, embora o objetivo imediato da educação seja a satisfação de necessidades 
materiais, relativas à alimentação, ao vestuário e ao abrigo. Daí a possibilidade de se caracterizarem 
entre os povos primitivos, ainda que de forma rudimentar, as 3 formas fundamentais da educação: a 
educação física, a educação intelectual e a educação moral. 
 
Educação física: os selvagens dão grande liberdade às crianças que se aproveitam para o 
exercício dos seus jogos naturais. O jogo e a imitação têm papel importante e considerável na 
educação primitiva. As crianças de tribos guerreiras fazem espadas, arcos, escudos. Nas pacíficas 
imitam as atividades de tecelagem, construção de cabanas, confecção de vasos e adornos, trabalhos 
no capo, a caça, a pesca e a navegação. 
 
Educação intelectual: é prática e visa tornar a criança capaz de prover às suas necessidades 
individuais, mais tarde às da família e da comunidade. Esta educação começa cedo conforme o sexo e 
a maneira de viver da tribo. Os jovens aprendem a conhecer hábitos dos animais e peixes, a 
confeccionar instrumentos de caça e de pesca, a manejar armas e construir embarcações, a 
desenvolver sua agilidade física, aperfeiçoar sua acuidade sensorial. Assim suas faculdades 
intelectuais se tornam precisas, ágeis e eficazes. As mulheres são preparadas para o lar, criação dos 
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filhos e auxiliar o marido nas ocupações. Nos povos selvagens a memória se revela pronta, rica e fiel. 
Sua imaginação é exuberante e colorida. Sua inteligência é viva, engenhosa e inventiva. 
 
Educação moral: o senso moral dos selvagens se encontra mais ou menos obscurecido e 
desfigurado, mas sua alma guarda a marca indelével da lei natural. A sua consciência é lúcida. Eles 
compreendem o dever que possuem de transmitir aos descendentes preceitos morais e espirituais. 
Esses preceitos se referem ao respeito aos pais e aos velhos ao culto dos antepassados, ao 
sentimento da honra, à fidelidade à palavra empenhada, à obediência às autoridades legítimas. O 
acontecimento de maior importância na educação dos povos primitivos é a iniciação da puberdade, que 
se reveste de um caráter de formação moral. A iniciação representa a recepção solene dos 
adolescentes na comunidade dos adultos. Os jovens nesta cerimônia são separados da comunidade e 
enviados a uma residência especial onde permanecem sob a vigilância dos anciãos da tribo. Lá, são 
realizadas solenidades de caráter purificatório, depois ritos de iniciação. Recebem novo nome, são 
submetidos a provas cruéis e brutais que servem para aferir a coragem e a resistência ao sofrimento. 
Recebem instruções relativas

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