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1 PSICOFARMACOLOGIA NA APRENDIZAGEM 1 SUMÁRIO PSICOFARMACOLOGIA NA APRENDIZAGEMErro! Indicador não definido. FACULESTE ............................................................................................ 2 Introdução ................................................................................................ 2 Antipsicóticos .................................................................................... 4 Ansiolíticos ....................................................................................... 5 Antidepressivos ................................................................................ 5 Histórico da psicofarmacologia ............................................................ 6 Classificação dos psicofármacos ...................................................... 8 Farmacodinâmica ................................................................................. 9 Eficácia x afinidade x potência ....................................................... 10 Farmacocinética ................................................................................. 11 Aprendizagem .................................................................................... 18 Tolerância, sensibilização e aprendizado dependente de estado .. 20 Efeitos adversos de drogas e índice terapêutico ............................ 23 Fatores Modificadores das Respostas Terapêuticas ...................... 26 Considerações sobre o uso racional de medicamentos ................. 30 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 31 file:///F:/FACUMINAS/APOSTILA/EXTERNA/NEUROPSICANÁLISE/PSICOFARMACOLOGIA%20NA%20APRENDIZAGEM.docx%23_Toc49683873 2 FACULESTE A história do Instituto FACULESTE, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a FACULESTE, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A FACULESTE tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. Introdução 3 A psicofarmacologia é o ramo da farmácia que trata de substâncias conhecidas como psicotrópicas. As drogas psicotrópicas ou psicofármacos atuam de forma seletiva no sistema nervoso central (SNC), sendo também conhecidas como agentes psicoativos ou psicoterápicos. Desta forma, incluem nesta classe os fármacos que deprimem ou estimulam seletivamente as ações do SNC, que devido a tais propriedades, fizeram reduzir de forma considerável o número de internações em hospitais psiquiátricos. Seu objeto de estudo concentra-se nas ações e efeitos de drogas psicoativas que possuem terapia potencial ou efetiva para distúrbios mentais. Drogas psicoativas podem ser originárias de fontes naturais como plantas e animais, ou artificiais como as sintetizadas nos laboratórios químicos da indústria farmacêutica. Estas drogas interagem com alvos específicos ou receptores encontrados no sistema nervoso para induzir diferentes mudanças nas funções fisiológicas ou psicológicas. A interação específica entre as drogas e seus alvos é chamada de Ação da Droga e as mudanças observadas são conhecidas como Efeito da Droga. A psicofarmacologia moderna estuda um grande número de substâncias com vários tipos de propriedades psicoativas, mas a maioria dos estudos são conduzidos em drogas com propriedades médicas, com foco nas interações químicas entre estas e o cérebro humano. 4 Há diversas formas de classificar as substancias psicoativas, seja quanto a origem natural (extraída de plantas e animais) ou artificial (sintetizadas); quanto a utilização psicossocial (licitas, ilícitas; recreativas ou terapêuticas, etc) contudo como dito antes há relativo consenso que o nascimento da psicofarmacologia decorreu da utilização terapêutica de tais substancias nos distúrbios mentais. Nos estágios iniciais, a psicofarmacologia foi usada principalmente para sedação: sedativos administrados para transformar estados excitados em quiescente e estimulantes usados para aumentar a atividade em pacientes deprimidos pacientes. Estimulantes como a cafeína e derivados da anfetamina” Sedativos tipo hidrato de cloral e brometos (brometo de sódio) utilizados no século XIX substituídos por barbitúricos no começo do século XX até à descoberta dos alcaloides da Rauwolfia serpentina, a reserpina e derivados da fenotiazina, a clorpromazina, o que deu início ao tratamento das psicoses e/ou a categoria psicofarmacológica dos antipsicóticos. Após a década de 1960, o campo da psiquiatria mudou para incorporar as indicações e eficácia dos tratamentos farmacológicos, e começou a se concentrar no uso e toxicidade desses medicamentos. Antipsicóticos Himwich comentando as novas drogas psiquiátricas no ano 1955, “profetizava” que estávamos entrando em uma nova era no estudo e tratamento da doença mental, ressalta as descobertas da possibilidade de indução química de um estado psicótico semelhante às psicoses com injeções de LSD e diferenciação bioquímica dos estados emocionais da adrenalina e noradrenalina além de destacar a possibilidade de tratamento da esquizofrenia com a reserpina (mais eficiente em auxiliar pacientes hebefrênicos) e clorprmazina, drogas que segundo ele “acalmam os pacientes sem fazê-los dormir e seus efeitos duram mais tempo que o dos sedativos”. Lieberman e Ogas (o.c.) assinam que o que diferencia, principalmente, os efeitos da clorpromazina dos sedativos e tranquilizantes é a sua capacidade de intervir especificamente nos sintomas psicóticos tipo alucinação , delírio e confusão mental ou “pensamento 5 embaralhado", de modo análogo à redução da dor de cabeça ou temperatura com uso da aspirina. Ansiolíticos Ainda na a década de 1950 acompanhando as pesquisas terapêuticas da clorpromazina e grande interesse mobilizado pelo seu sucesso comercial, a indústria farmacêutica iniciou uma série de pesquisas na linha de tratamento dos distúrbios mentais. Retomou-se o interesse na utilização do meprobamato, comercializado como sedativo com relativos sucesso (o miltown) que resultara posteriormente na descoberta das benzodiazepinas na década de 60 apesar das críticas que se fazia ao tratamento com tranquilizantes das doenças mentais antes da clorpromazina e investiu-se no tratamento de outro antigo flagelo a melancolia e/ou depressão. Observe-se que até hoje, na farmacologia moderna, critica-se a inadequação do termo tranquilizante, distinguindo-se o efeito sedativo (hipnótico), ansiolítico e antipsicótico por sua atuação em níveis subhipnóticos. Antidepressivos O uso do carbonato de lítio para mania e, em seguida, em rápida sucessão, o desenvolvimento de antidepressivos tricíclicos, a imipramina, seguida pelos inibidores da monoamina oxidase, respectivamente por John Cade (1912 -1980) e Roland Kuhn (1912- 2005) foram as principais descobertas da década dos 50 no tratamento da depressão. Alguns estimulantes psicomotores tipo a anfetamina introduzidona prática médica nos últimos anos da década de 30 até hoje são utilizados, contudo com o desenvolvimento dos métodos de investigação, com o estabelecimento de estudos controlados com placebo, duplo cego, capacidade de analisar os níveis sanguíneos com relação ao resultado clínico, biomagem e maior sofisticação em ensaios clínicos realizando uma verdadeira dissecação farmacológica, diversos novos fármacos tem sido descobertos. Neste processo histórico de pesquisa 6 para “cura” controle dos transtornos afetivos (depressão e transtorno bipolar) não pode deixar de ser mencionado as pesquisas pioneiras de Sigmund Freud (1856- 1939) com a cocaína para o esgotamento nervoso e dependência da morfina apesar do insucesso terapêutico e a descoberta dos antidepressivos de segunda geração, a fluoxetina, e subsequente pesquisa com os inibidores seletivos da recaptação da serotonina. Histórico da psicofarmacologia O tratamento com psicofármacos trouxe uma revolução para aqueles pacientes denominados “loucos”, pois veio para substituir o tratamento com choque e camisas de força, e inserir esses indivíduos novamente na sociedade após a compreensão de que doentes acometidos pelas patologias psiquiátricas devem ser diagnosticados e tratados. Na década de 1940, teve início a psicofarmacologia moderna. Nessa época surgiram os primeiros fármacos para tratamento de transtornos psiquiátricos. Especificamente em 1949, Cade relatou o primeiro uso de lítio para tratamento de mania, e em 1952, Delay e Deniker descreveram os efeitos da clorpromazina, um fármaco antipsicótico. Ainda nessa década, em 1950, surgiram os primeiros ansiolíticos, como o Clordiazepóxido e Meprobamato. A descoberta de novos fármacos ocorreu de forma empírica, ou seja, baseandose apenas nas observações dos efeitos que os fármacos produziam. A Iproniazida, por exemplo, era utilizada no tratamento da tuberculose, mas com a observação da melhora do humor nos pacientes por ela tratados, a substância passou a compor uma importante classe terapêutica dos antidepressivos, os inibidores da enzima monoaminoxídase. 7 Nos anos seguintes, o uso de psicofármacos se disseminou amplamente, e o número de drogas também aumentou progressivamente, muito embora em termos de eficácia, os compostos mais recentes pouco se diferenciavam dos originais. Um ponto que evoluiu marcantemente foi a seletividade do fármaco. Um fármaco seletivo é aquele que atua especificamente sobre um local desejado; os efeitos colaterais que os fármacos apresentam estão diretamente relacionados à sua seletividade, ou seja, quanto menor a seletividade, maior a ligação do fármaco a outros receptores, e isso pode acarretar um efeito não desejado no organismo. Avançando no tempo, na década de 1960 surgiram várias teorias para a origem da depressão, assim como da esquizofrenia; essas teorias embasam a indústria farmacêutica até os dias de hoje no desenvolvimento de novos fármacos. Mas a decisão de se utilizar ou não um psicofármaco depende do quadro clínico que o paciente apresenta. Para muitos transtornos mentais, os medicamentos são o tratamento preferencial, como no caso de esquizofrenia, transtorno bipolar, depressões ou ataques de pânico. Em outros, como nas fobias específicas - por exemplo, aracnofobia (medo de aranhas) - e transtornos de personalidade, as psicoterapias podem ser a primeira opção. Também existem situações nas quais o melhor tratamento consiste na associação de terapia e medicamentos. 8 O médico é o profissional habilitado para decidir qual restrito; melhor tratamento para cada paciente. Essas substâncias têm seu uso controlado e restrito, apenas quem possui um receituário médico pode comprar essas medicações, segundo as especificações da Portaria nº 344/1998. Todo esse controle ocorre principalmente porque essas medicações apresentam um alto risco de causar dependência química. Classificação dos psicofármacos A maneira mais aceita e difundida de classificação dos psicofármacos é a divisão em três grandes grupos, conforme a seguir: Grupo 1: estimulantes do sistema nervoso central Estimulantes do sistema nervoso central são amplamente conhecidos como psicoanalépticos, noanalépticos, timolépticos. Esses estimulantes são fármacos que produzem um estado de alerta e aumento da vigília. Fazem com que as pessoas fiquem “ligadas”, “elétricas”. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), esses fármacos produzem alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora, sendo, portanto, passíveis de autoadministração (indivíduos usam para o seu próprio prazer, sem indicação médica). Em outras palavras, essas drogas levam à dependência química. Exemplos: anfetamina, cocaína e cafeína. Grupo 2: depressores do sistema nervoso central Depressores ou psicolépticos são fármacos que diminuem ou inibem a atividade do sistema nervoso central. Fazem com que as pessoas fiquem “lentas”, “desligadas”. Geralmente estão associados a alguma ação analgésica. Exemplos: álcool, tranquilizantes ou calmantes, soníferos, inalantes, solventes (cola de sapato, tinta, removedores) e opiláceos (morfina). Grupo 3: perturbadores do sistema nervoso central 9 Pertubadores do sistema nervoso central, psicoticomiméticos, psicodélicos ou psicometamórficos não alteram o cérebro de forma quantitativa, não ativam e nem inibem o sistema nervoso central; eles promovem uma mudança qualitativa do funcionamento do sistema, provocam uma ação perturbadora e o cérebro passa a funcionar de maneira desordenada. Exemplos: mescalina, ecstasy e maconha. Farmacodinâmica A farmacodinâmica é como uma determinada substância farmacológica atua em nosso corpo. Assim, quando o fármaco é administrado, ele atua em locais específicos do organismo, e o local primário onde esses fármacos vão atuar são o que chamamos de alvo primário de fármacos ou receptores. Estamos nos referindo a enzimas, moléculas transportadoras e, canais de íons receptores. A seguir teremos alguns exemplos. • Enzimas são proteínas essenciais para o bom funcionamento do nosso organismo. Elas possuem a função de catalisador, isso é, elas aumentam a velocidade das reações químicas que ocorrem no nosso corpo. Vale destacar que elas apenas aumentam a velocidade, mas não alteram essas reações. Fármacos da classe terapêutica dos antidepressivos como Selegilina e 10 Fenelzina atuam sobre a enzima monoamino-oxidase, também conhecida como MAO, resultando em melhora da depressão. • Moléculas transportadoras, também conhecidas como proteínas transportadoras, realizam o transporte de substância de um local para o outro. Em sua maioria, as substâncias transportadas têm uma origem hidrofílica e as membranas que devem atravessar têm uma origem lipofílica. Assim, o transporte não seria possível sem essas moléculas transportadoras devido a essa diferença de polaridade. Antidepressivos como amitriptilina intensificam sua ação por bloquearem a recaptação de noradrenalina por essas moléculas. • Canais de íons são proteínas que se localizam ou estão inseridas nas membranas celulares. Por esses canais passam íons do meio intracelular para o meio extracelular e o contrário também acontece, ou seja, do meio extracelular para o meio intracelular. Benzodiazepínicos atuam sobre os receptores do ácido gamaaminobutírico (GABA), especificamente nos canais do íon cloreto, promovendo a abertura desses canais. • Receptores se referem ao local onde o fármaco interage e produz o efeito terapêutico. Opiáceos como a morfina se ligam no seu receptor µ e desencadeiam seu efeito de analgesia. Uma substância que se liga a um receptor e produz um efeito de “ativação” é denominada substância agonista do receptor. Essa ativação se refere à capacidade da molécula dofármaco desencadear uma resposta onde se ligou. Já uma substância que se liga ao receptor sem causar ativação, impedindo consequentemente a ligação do agonista, é denominada antagonista do receptor. Ressaltamos que no mesmo receptor que se liga uma substância A para produzir um efeito (agonista) pode se ligar uma outra substância B para reverter o efeito da substância A. Como exemplo, temos a morfina: ela se liga ao seu receptor µ e promove seu efeito de analgesia. Porém, para esse mesmo receptor existe um antagonista que vai impedir o efeito da morfina, é o caso da substância conhecida como Naloxona. Eficácia x afinidade x potência 11 Esses três termos técnicos diferenciam os tipos de fármacos utilizados na terapêutica: eficácia é a capacidade de uma droga que, uma vez ligada ao receptor, desencadeia uma resposta; afinidade é a tendência de o fármaco se ligar ao seu receptor e, por fim, potência pode ser definida como a capacidade de uma droga produzir efeitos em baixas concentrações. Farmacocinética Corresponde ao que o corpo faz com a substância que é ingerida. A farmacocinética é dividida em absorção, distribuição, metabolização e excreção de drogas. Esses fatores farmacocinéticos dependem do seu transporte através das membranas plasmática. das células até chegar ao seu referido local de ação. Os mecanismos básicos de transporte da membrana são: • Difusão passiva: difusão simples de um soluto através da membrana plasmática; • Difusão facilitada: difusão facilitada por um transportador de membrana. A maioria dos fármacos são ácidos ou bases fracas, presentes em solução sob as formas ionizadas e não ionizadas. Em geral, as moléculas não ionizadas são mais lipossolúveis, e por isso podem difundir-se facilmente pela membrana celular. Por outro lado, as moléculas ionizadas geralmente não conseguem penetrar na membrana lipídica por apresentar pouca lipossolubilidade. É por isso que a droga ácida é mais bem absorvida em meio ácido, já que fica na forma não ionizada, o que facilita a difusão entre a membrana, enquanto droga básica é mais bem absorvida em meio básico, porque fica na forma não ionizada. 12 Absorção É a transferência do fármaco do seu local de administração para o local de ação. Os fatores que influenciam a absorção de fármacos são: • Fatores referentes à droga: o Lipossolubilidade: quanto maior a lipossolubidade, maior a absorção, e o contrário também é verdadeiro – quanto menor a lipossolubilidade, menor a absorção. o Forma farmacêutica: fármacos líquidos são mais rapidamente absorvidos do que fármacos sólidos. • Fatores referentes ao local: o Fluxo sanguíneo, visto que áreas irrigadas com maior fluxo sanguíneo favorecem a absorção. o O pH determina ou não a ionização de drogas, e já estudamos que drogas não ionizadas penetram facilmente na membrana celular. o Barreiras biológicas dificultam a passagem do fármaco. Principais vias de administração 13 Via oral (VO): mais comumente utilizada, é mais segura, conveniente e econômica. A VO apresenta como desvantagem: absorção limitada, vômitos (irritação da mucosa), destruição de alguns fármacos pelas enzimas digestivas ou pH gástrico, necessidade da colaboração do paciente. Pode ocorrer também o efeito de primeira passagem, no qual parte do fármaco passa pelo sistema porta hepático e vai diretamente para a biotransformação, sem realizar seu efeito terapêutico. Via sublingual (SL): superfície de absorção pequena, rápida ação, sem efeito de primeira passagem. Como desvantagem, temos: é uma via incômoda, o gosto do medicamento pode ser desagradável e o uso dessa via requer a cooperação do paciente. Via retal (VR): via utilizada quando a ingestão oral estiver comprometida, o paciente está inconsciente ou quando apresenta vômito. Assim, a amplitude de efeito de primeira passagem é menor que pela via oral, entretanto, a absorção é irregular e incompleta, mas a cooperação do paciente não é necessária. Via intravenosa (IV): efeito rápido e completo do fármaco, porém por essa via não é possível reverter os efeitos do que foi administrado, porque não existe a absorção do fármaco, o qual passa direto para a corrente sanguínea. Via subcutânea (SC): apenas utilizada para fármacos que não causam irritação dos tecidos, caso contrário pode ocorrer necrose. Não necessita de cooperação do paciente. Via intramuscular (IM): via ideal para substâncias oleosas, que depende diretamente da taxa de fluxo sanguíneo local. Em relação à rapidez de efeito terapêutico, temos as três vias injetáveis na seguinte classificação: IV, IM e SC. Via tópica: alguns fármacos são aplicados nas mucosas da conjuntiva, nasofaringe, orofaringe, vagina, colo, uretra e bexiga, pois por causa de o efeito ser local, as drogas são absorvidas com maior rapidez. Via pulmonar: contanto que não causem irritação, fármacos gasosos e voláteis podem ser inalados e absorvidos pelo epitélio pulmonar e pelas mucosas do trato respiratório. O acesso a essa via é rápido, tendo em vista o tamanho da área pulmonar. Sua grande vantagem é a absorção quase que instantânea do 14 fármaco pela corrente sanguínea e a ausência do efeito de primeira passagem. Como desvantagem, pode-se citar: é uma via incômoda, requer cooperação do paciente e é apenas útil para drogas voláteis e gasosas, e não se tem controle da dose. Distribuição Depois da absorção ou administração sistêmica na corrente sanguínea, o fármaco distribui-se para todo o corpo, chegando primeiramente aos órgãos mais irrigados (maior fluxo sanguíneo) como fígado, rins e cérebro, e depois aos órgãos menos irrigados, como músculos, vísceras, pele e tecido adiposo. Para ser transportado, o fármaco precisa se ligar às proteínas plasmáticas, sendo a albumina a primeira escolha para os fármacos ácidos, enquanto a glicoproteína ácida α1, por exemplo, é uma escolha para fármacos básicos. Essa ligação do fármaco às proteínas é reversível e pode ser afetada por fatores relacionados com doenças, como hipoalbuminemia secundária e doença hepática grave. Durante a distribuição, alguns fármacos tendem a acumular-se em locais específicos, e a este processo damos o nome de reservatório de fármacos; isso prolonga a ação do fármaco, que pode acarretar efeitos tóxicos, porém é um processo reversível. Exemplo de formação de reservatório é a tetraciclina, um antibiótico que se acumula nos ossos. Metabolização É considerado um conjunto de alterações químicas que a droga sofre no organismo, geralmente promovidas por enzimas, tendo a finalidade de facilitar a excreção do fármaco. Resumidamente, ocorre a incorporação de moléculas hidrofílicas que diminuem a lipossolubilidade do fármaco, preparando-o para ser eliminado do organismo. Essas enzimas responsáveis pela metabolização de substâncias estão presentes em muitos tecidos do corpo, porém em níveis mais 15 altos no fígado e no intestino delgado. Exemplos de enzimas são as do sistema Citocromo P450. Em alguns casos, ao invés de tornar a droga inativa e facilitar sua excreção, o metabolismo promove a bioativação do fármaco, e isso quer dizer que seus metabolitos se tornam um composto ativo, que nesse caso são conhecidos como pró-fármacos. Exemplos de pró-fármacos: Ciclofosfamida e Azatioprina. Os fatores que afetam o metabolismo de fármacos são: Idade: tanto neonatos quanto idosos têm uma diminuição da funcionalidade dessas enzimas. Fatores genéticos: pessoas com deficiência de enzimas responsáveis pelo metabolismo dos fármacos. Exemplo: asiáticos têm uma menor quantidade da enzima responsável pelo metabolismo do álcool, fato esse que justifica a maior tendência que eles têm de sentir os efeitos tóxicos do álcool. Patologias: doenças que acometem o fígado e intestino delgado, que sãoos principais órgãos que realizam a metabolização, podem comprometer essa etapa da farmacocinética. Indução ou inibição enzimática: a indução enzimática aumenta a biotransformação (lipossolubilidade para hidrossolubilidade) do fármaco. Exemplos: fenobarbital, rifampicina, fenítoina, carbamazepina e etanol (uso crônico). A inibição enzimática diminui a biotransformação dos fármacos. Exemplos de fármacos: cloranfenicol, dissulfiram e etanol (uso agudo). Excreção Ocorre quando os fármacos são eliminados pelo processo de excreção sem qualquer alteração ou são convertidos em metabolitos. As vias excretórias são: renal (urina), biliar, fecal, suor, leite, lacrimal e salivar. Fatores que influenciam a excreção renal: Patologia renal: qualquer doença que afete o rim e que pode comprometer essa etapa da farmacocinética. 16 pH da urina: na urina ácida, a droga ácida fica na forma não ionizada, sendo facilmente reabsorvida; já a droga básica fica ionizada, sendo facilmente excretada. Interação entre drogas É a ação combinada de uma ou mais drogas, administradas sucessiva ou simultaneamente, podendo induzir a efeitos benéficos ou maléficos. Essas interações podem ser do tipo sinérgica ou antagônica. Tipos de sinergismo Adição: os efeitos de duas drogas são iguais aos efeitos de cada uma delas isoladamente (efeito AB = A + B). Potencialização: cocaína inibe a captação de noradrenalina e epinefrina, a aumentando a contração muscular (efeito AB > A + B). Tipos de antagonismo 17 Antagonismo químico: droga A e droga B interagem em solução (antes da administração) e ocorre inativação, precipitação ou diminuição do efeito de uma delas. Exemplo: quelantes se ligam aos metais pesados e diminuem sua toxicidade. Antagonismo fisiológico ou funcional: efeito da droga A é oposto ao da droga B, de modo que uma droga anula o efeito da outra. Exemplo: curare que atua como relaxante muscular, diminuindo o efeito da estricnina, que tem ação convulsivante. Antagonismo farmacológico competitivo: droga A e droga B se ligam ao mesmo receptor e competem por ele quando administradas sucessiva ou simultaneamente. Antagonismo competitivo reversível: uma droga antagonista se liga ao receptor e impede a ligação da droga agonista. No entanto, quando se aumenta a concentração do agonista, ele desloca o antagonista do receptor e se liga ao receptor. Em outras palavras, a substância com maior concentração no receptor é quem se liga e desenvolve seu efeito. Antagonismo competitivo irreversível: a droga antagonista se liga irreversivelmente ao receptor, levando ao aumento da concentração do agonista, sem deslocar o antagonista do receptor. Antagonismo farmacocinético: droga A interfere na absorção, distribuição, metabolismo ou excreção da droga B. Exemplo de absorção: antiácidos como sal de frutas aumentam o pH estomacal e diminuem a absorção de drogas ácidas como ácido acetilsalicílico (AAS). Exemplo de distribuição: a fenilbutazona, um anti-inflamatório, diminui a ligação da warfarina, um anticoagulante, às proteínas plasmáticas, aumentando sua distribuição e, em consequência, seus efeitos (hemorragias). Exemplo de metabolismo: Dissulfiram diminui o metabolismo da warfarina, reduzindo a coagulação sanguínea e favorecendo a hemorragia. 18 Exemplo de excreção: bicarbonato de sódio aumenta a excreção urinária de fármacos ácidos como ácido acetilsalicílico (AAS). Aprendizagem Segundo Neistadt, o aprendizado pode ser definido como uma alteração relativamente permanente no comportamento, ou na potencialidade de comportamento, que resulta da experiência e não pode ser atribuída a estados corporais temporários induzidos por doença, fadiga ou medicamentoso. Os filósofos, desde Platão e Aristóteles, têm debatido se a natureza do conhecimento é determinada principalmente pela mente ou pela experiência sensorial. Alguns teóricos como Pavlov (1849 a 1936), Watson (1878 a 1958) e Skinner (1904 a 1990), acharam que o aprendizado era mais bem explicado pela observação e descrição das relações entre os comportamentos e os eventos observáveis. Outra definição diz que o aprendizado é a aquisição de novas informações e/ou conhecimentos. Todo novo comportamento que um organismo apresenta, tanto em decorrência das variações no ambiente, como no organismo, é entendido como aprendizado. A intenção e a motivação para aprender não são essenciais por si mesmas, mas são importantes no foco da atenção do aprendiz. 19 A simples repetição em geral não é o melhor método para a aprendizagem, mas provavelmente é ampliado pelo processo de elaboração, que liga o material novo ao já conhecido. Entretanto, a repetição mecânica pode ser útil para certos protocolos, como a aprendizagem da pronúncia de palavras em idiomas estrangeiros. A partir da perspectiva de processamento da informação, o aprendizado exige a eficácia da recepção sensorial, do processamento cerebral e do comportamento motor para movimentação ou comunicação. A memória é uma importante ferramenta na aprendizagem. Uma abordagem que explica o aprendizado pela memória diz que a informação flui a partir do ambiente por meio do armazenamento sensorial e da memória de curta e de longa duração. Existem algumas classificações para memória, relevantes à compreensão do processo. São elas: Memória sensorial – armazenamento pelo sistema perceptivo por tempo suficiente para esconder o intervalo entre as imagens estáticas. Memória de curta duração – usamos este termo de forma neutra em relação à teoria, para nos referirmos à retenção temporária de pequenas quantidades de material sobre breves períodos de tempo. Memória de trabalho – sistema de memória que serve de base à nossa capacidade de “manter as coisas em mente” ao realizarmos tarefas complexas. Memória de longa duração – sistemas que servem de base à capacidade de armazenar informação por longos períodos de tempo. Memória explicita/declarativa – memória que está aberta à evocação intencional, seja com base na recordação de eventos pessoais (memória episódica) ou fatos (memória semântica). Memória implícita/não declarativa – evocação de informação da memória de longa duração por meio de desempenho em vez de lembrança ou do reconhecimento conscientes. 20 Memória semântica – sistema que se supõe armazenar conhecimento sobre o mundo. Memória episódica – sistema que se supõe servir de base à capacidade de relembrar eventos específicos. Diversos sistemas têm demonstrado que a memória pode resultar de alterações dependentes da experiência na transmissão sináptica. Em quase todos os casos, a transmissão sináptica é modificada como resultado de uma alteração no número de grupos fosfato ligados a proteína da membrana sináptica. O aprendizado e a memória podem ocorrer nas sinapses e os eventos são representados primeiramente como mudanças na atividade elétrica do encéfalo, seguindo para moléculas de segundos mensageiros e posteriormente aparecem como modificações em proteínas sinápticas preexistentes. Essas alterações temporárias são convertidas em alterações permanentes por modificações na estrutura da sinapse. Independentemente da espécie, da localização no encéfalo e do tipo de memória, muitos mecanismos responsáveis por esses eventos parecem ser universais, sendo também uma característica universal o envolvimento de íons Ca2+. Este, claramente, não participa apenas da construção de ossos e dentes, nem apenas da secreção de neurotransmissores e na contração muscular, mas também em qualquer forma de plasticidade sináptica. Tolerância, sensibilização e aprendizado dependente de estado O efeito de algumas drogas vai diminuindo progressivamente (ocorre um desvio da curva dose-efeito para a direita) quandoa droga é administrada de forma repetida por certo tempo. Esse fenômeno é denominado aumento de tolerância ou, simplesmente, tolerância. Nem sempre o desenvolvimento de tolerância ocorre com a mesma intensidade para todos os efeitos de determinado fármaco. Por exemplo, o efeito sedativo observado em pacientes, bem como em animais de laboratório, tratados por período prolongado com ansiolíticos 21 benzodiazepínicos (diazepam) diminui com o passar do tempo, embora o efeito ansiolítico permaneça constante por tempo bem maior. Algumas vezes é o efeito terapêutico que mostra tolerância. Por exemplo, o uso continuado de barbituratos ou drogas benzodiazepínicas leva à diminuição do efeito sedativo. No entanto, no caso dos barbitúricos, o efeito depressor de centros respiratórios, apresentado por altas doses destes compostos, não diminui na mesma proporção, aproximando as doses efetivas das tóxicas. O tempo necessário para o desenvolvimento da tolerância depende da natureza da droga, variando de minutos até várias semanas. Quando ela aparece rapidamente, após administração única ou poucas administrações de droga, o fenômeno é denominado taquifilaxia. A tolerância para determinada droga pode, em alguns casos, ser acompanhada da diminuição do efeito de outros compostos. Nesse caso, fala- se de tolerância cruzada. Por exemplo, o uso crônico do álcool etílico pode diminuir os efeitos dos barbituratos. Mecanismos farmacocinéticos e/ou farmacodinâmicos podem estar envolvidos na tolerância. No primeiro caso, ocorre diminuição da concentração do agonista no nível do receptor. A causa mais frequente é o aumento do metabolismo do composto no fígado. Fármacos capazes de produzir indução de enzimas metabolizadoras no fígado incluem barbituratos, álcool etílico e morfina. Já a tolerância farmacodinâmica decorre da diminuição do número de receptores, da resposta à combinação da droga com o receptor ou de mecanismos homeostáticos do organismo, efetuados por sistemas sobre os quais a droga não atua diretamente. Embora a tolerância farmacodinâmica ocorra de maneira frequente, nem sempre os mecanismos subjacentes são bem conhecidos. Entre as drogas que atuam no sistema nervoso central, e que apresentam tolerância farmacodinâmica, podemos citar o LSD, a anfetamina, a cocaína, a cafeína, a nicotina e os benzodiazepínicos, além dos já referidos barbituratos, do álcool etílico e da morfina, que, portanto, apresentam ambos os tipos de tolerância. Além destes dois mecanismos, fenômenos envolvendo aprendizado também podem desempenhar um papel no desenvolvimento da tolerância (Quadro 1.12). 22 Outro fenômeno que pode ocorrer com certos psicofármacos é o aprendizado dependente de estado. Nesse caso, tarefas aprendidas em presença de determinada droga são mais bem recordadas sob o efeito da mesma droga ou de análogas, porém, não de drogas com efeitos diferentes, ou ainda na ausência de qualquer droga. Isso parece ocorrer porque as sensações internas produzidas pela droga passaram a configurar o “ambiente” e, por aprendizado, associar-se a ocorrências externas. Algumas drogas, particularmente psicostimulantes como a cocaína e a anfetamina, podem ter efeitos aumentados após uso repetido, o que é chamado de sensibilização, ou tolerância reversa. Alterações neuroquímicas, inclusive na expressão gênica, têm sido implicadas nesse fenômeno. Assim como na tolerância, fatores de aprendizado também podem desempenhar um papel aqui. Por exemplo, foi mostrado que a sensibilização ao efeito estimulatório da atividade motora exercido pela cocaína é maior quando o animal é testado no mesmo ambiente em que recebeu anteriormente a droga 23 Efeitos adversos de drogas e índice terapêutico Não existe medicamento que produza apenas um efeito farmacológico, e toda droga tem potencial de produzir efeitos adversos (Quadro 1.13). Estudos epidemiológicos revelaram que até 30% dos pacientes hospitalizados podem apresentar algum tipo de efeito adverso, e de 5% a 15% das internações podem ter como causa alguma forma de efeito adverso de drogas. Felizmente, 80% desses efeitos são previsíveis, embora nem sempre evitáveis. 24 Fonte especial de efeitos adversos a drogas é a interação medicamentosa. Esse fenômeno pode ser definido como o aparecimento de efeito farmacológico que não pode ser explicado por ação de cada uma das drogas isoladamente, mas apenas pela combinação delas. O uso concomitante de vários medicamentos para o tratamento de determinada doença é muito comum em todas as áreas da medicina, e também 25 na psiquiatria. Muitas vezes esse uso é inadequado, pois além de aumentar a possibilidade de interação não desejável entre as drogas, na eventualidade de ocorrência de um efeito adverso, pode dificultar a identificação da droga responsável. Além disso, eleva o custo do tratamento. Apenas três situações justificam o uso combinado de drogas: 1) melhora comprovada na eficácia terapêutica, como a associação de lítio com antidepressivos em pacientes com depressão que não melhoram com estes últimos, administrados isoladamente; 2) diminuição de efeitos adversos, como o uso de antimuscarínicos para diminuir a intensidade dos efeitos extrapiramidais provocados por neurolépticos; 3) melhora na farmacocinética, como a combinação de carbidopa com L- dopa no tratamento da doença de Parkinson. Nessas situações, fala-se em associações medicamentosas. O termo interações medicamentosas é quase sempre reservado para aquelas potencialmente danosas ao indivíduo. Elas podem ser divididas em três grandes grupos: as farmacêuticas, as farmacocinéticas e as farmacodinâmicas. Interações farmacêuticas são aquelas que ocorrem fora do organismo. Por exemplo, ao administrarmos carbenecilina e gentamicina — dois antibióticos — em um mesmo frasco, o primeiro inativará o segundo. As interações farmacocinéticas, por outro lado, envolvem o aparecimento de algum efeito indesejável em decorrência da modificação na farmacocinética de uma droga por influência de outra. Por exemplo, diuréticos tiazídicos diminuem a excreção renal de lítio, e podem levar à intoxicação por esse composto, se não ocorrer ajuste de dose. Finalmente, as interações farmacodinâmicas relacionam-se com o aparecimento de efeito adverso em decorrência da alteração no efeito de uma droga por influência de outra. Pode ocorrer tanto antagonismo quanto facilitação. O antagonismo pode ser fisiológico, ou de efeito, ou farmacológico. No primeiro, as drogas apresentam efeitos opostos, que irão antagonizar- se, embora os mecanismos farmacológicos responsáveis por esses efeitos sejam distintos. Por exemplo, a cafeína é um psicostimulante leve, sendo que 26 aumenta o estado de vigília possivelmente por antagonizar receptores purinérgicos, enquanto o diazepam é um sedativo, sendo que provoca sonolência por potencializar a transmissão GABAérgica. Já no antagonismo farmacológico as drogas atuam no mesmo sistema farmacológico; por exemplo, o antagonismo dos efeitos da anfetamina por um neuroléptico, que antagoniza receptores de dopamina. Interações que levam à facilitação de efeitos são de três tipos: adição, potencialização e sinergismo. Na adição, a intensidade de um mesmo efeito adverso apresentado por duas drogas empregadas concomitantemente resulta da soma dos efeitos isolados de cada uma delas. Na potencialização, um dos compostos não provoca determinado efeito, mas ao combinar-se com outra droga aumenta (potencializa) o efeito dessa última. Por fim, no sinergismo ambos os compostos produzem determinado efeito, mas seu uso concomitante leva a um efeito de maior intensidade do que a soma daqueles produzidos pelos agentes de forma isolada. Um exemplo típico dessa situação são os efeitos adversos do uso concomitante do álcool etílicoe de drogas benzodiazepínicas. Cabe ainda mencionar um conceito bastante importante em relação a efeitos adversos de drogas. É o chamado índice terapêutico (IT), ou seja, a relação entre a dose que produz efeito tóxico em 50% dos indivíduos (DT50) e a dose efetiva em 50% dos pacientes (DE50). Quanto maior o IT, mais segura será a droga. Fatores Modificadores das Respostas Terapêuticas A resposta terapêutica da grande maioria dos fármacos depende fundamentalmente de sua adequada concentração no sítio de ação, em última 27 análise da interação entre suas moléculas com receptores farmacológicos específicos. Contudo, é fato perfeitamente conhecido que a relação existente dose e efeito de fármacos são muito variáveis entre os indivíduos (Esquema 11- 1). Tais variações interindividuais dependem não só da dose, mas podem estar relacionadas ao estado patológico (distúrbios renais, hepáticos, cardiovasculares, endócrinos etc), gravidez, fatores constitucionais tradicionais (idade, sexo, fator genético e ritmos biológicos) e ao modo de administração de fármacos (interação medicamentosa). Ademais, a otimização da resposta terapêutica dependem também de fatores socioeconômicos e culturais e da qualidade de vida dos indivíduos. Estado patológico Depuração renal: A insuficiência renal traz várias consequências nocivas, particularmente pelo acúmulo de fármacos e outras substâncias que dependem dos rins para sua excreção. A dose de vários fármacos deve ser 28 ajustada ou intervalo de dosagem aumentada para evitar o acúmulo no organismo. Depuração hepática: A eliminação de fármacos está também prejudicada na obstrução portal e especialmente na insuficiência parenquimatosa, a qual pode ou não estar associada à insuficiência excretora. Insuficiência hepatocelular no homem (insuficiência das células hepáticas) pode ocorrer em várias formas de doenças hepáticas, sendo comum na cirrose portal e na hepatite aguda por vírus. Em ambas as condições, a metabolização e a excreção biliar estão alteradas. Outras patologias podem influenciar a depuração hepática. Alteração da união de fármacos às proteínas plasmáticas: O fígado é o principal local de síntese de albumina e de outras proteínas ligantes de fármacos; portanto, diversas patologias hepáticas podem influenciar em grau variável essa síntese e subsequente a união de fármacos às proteínas. Gestação e lactação No uso racional de medicamentos, avaliação de risco/benefício na gestação é única e complexa, pelo fato dos efeitos de fármacos envolverem dois organismos - mãe e feto. A presença de patologias crônicas pré-existentes e a ocorrência de doenças durante a gestação, dentre elas a hipertensão, diabetes, transtornos psiquiátricos (depressão) e epilepsia. Justifica às vezes o uso de farmacoterapia nessas patologias que pode comprometer a gestação e o desenvolvimento fetal. No Brasil, estimativas mostraram que pelo menos, um fármaco é usado durante 90 % das gestações, sendo de 4 medicamentos em média por gestação. Contudo, pouco se sabe sobre os efeitos de fármacos sobre gestante e o feto. Por esta razão se faz necessário uma avaliação criteriosa na escolha e utilização de medicamentos pelos clínicos. Os riscos do uso de fármacos durante a 29 gestação, segundo Food and Drug Administration (FDA) podem ser classificados em cinco categorias de risco: Quando se prescreve um medicamento para uma gestante é importante considerar as alterações fisiológicas que podem alterar a farmacocinética e a farmacodinâmica. Durante a lactação, o uso de fármacos pode ser prejudicial à lactante e ao desenvolvimento do recém-nascido e da criança. Idade A grande maioria dos estudos de avaliação das respostas terapêuticas aos fármacos é realizada em indivíduos adultos jovens ou de meia-idade, sendo que as informações são escassas em indivíduos idosos e recém-nascidos e crianças. O fator etário nos dois extremos da vida é muito importante na clínica geriátrica e pediátrica. Além disso, na prática não existe nenhum princípio fidedigno ou fórmula para converter doses de fármacos utilizados em adultos em doses que sejam eficazes e seguras em idosos, recém-nascidos e crianças. Recém-nascidos e infantes: Em recém-nascidos, a atividade metabolizadora dos sistemas enzimáticos de microssomas hepáticos está totalmente ausente ou aparece em nível muito reduzido, embora em algumas isoenzimas do sistema CYP (CYP3A4) surgem depois de uma semana. 30 Idosos: O processo de envelhecimento reflete uma progressão de alterações nos processos biológicos que acarretam modificações estruturais e funcionais dos órgãos, as quais podem ser acompanhadas de mudanças graduais nos efeitos dos fármacos. Sexo: De importância particular são as interações medicamentosas entre as mulheres. Devido ao uso de contraceptivos orais que aumentam a atividade glicuroniltransferase. Por isso alteram a depuração de vários fármacos entre outros, acetominofeno, morfina e temazepam. Ademais, o uso de produtos dietéticos e fitoterápicos (erva de S. João) são mais frequentes entre as mulheres de que nos homens. Esses produtos contem princípios ativos naturais com propriedade indutora enzimática que são responsáveis por interações medicamentosas. Considerações sobre o uso racional de medicamentos Na prática clínica, é importante levar em conta apenas a hipótese do que vai acontecer num paciente em particular e as possibilidades da resposta terapêutica pode não ocorrer num determinado paciente, efeitos adversos não previstos e de muitas respostas não serem relatadas na rotina clínica. Para isso, a prescrição médica deve contemplar os seguintes aspectos: a) diagnóstico (s); b) escolha das alternativas de tratamento medicamentoso; c) relação entre conhecimento sobre os medicamentos, diagnóstico e condições do paciente; d) possibilidade de interações entre os medicamentos; e) hábitos e alimentação que possam interferir na eficácia do medicamento ou no aparecimento de efeitos adversos; f) escolha dos medicamentos a serem prescritos; e g) orientação ao paciente e redação da prescrição. No caso de paciente não apresentar resposta terapêutica, as seguintes hipóteses podem ser admitidas: a) diagnóstico errado; 31 b) escolha inadequada da dose ou dos intervalos de administração; e c) ausência de adesão. No tocante à adesão, na sua grafia original significa, “a obediência participativa, ativa, do paciente à prescrição a ele dirigida”. Alguns autores preferem usar a grafia “ concordância”, pois a decisão de ser medicado é prerrogativa exclusiva do paciente. O fato de o paciente receber uma prescrição médica correta não garante a adesão, devidos aos seguintes obstáculos: a) tratamento longo; b) patologia é pouco sentida/entendida pelo paciente; c) posologia é complicada por várias doses diárias ou vários medicamentos; d) semelhança na aparência de diferentes medicamentos ou de suas embalagens; e f) pacientes têm dificuldades em compreender instruções consideradas perfeitamente claras pelo profissional que as escreveu ou transmitiu oralmente. Em resumo, todo o conhecimento sobre os fatores modificadores da resposta terapêutica são fundamentais para individualização da terapia e aprendizagem aos pacientes. REFERÊNCIAS ÄBERG, E., HOLST, S., NEAGU, A., ÖGREN, S.O., LAVEBRATT, C. Prenatal exposure to carbamazepine reduces hippocampal and cortical neuronal cell population in new-born and young mice without detectable effects on learning memory. Plos one. November 2013, volume 8, issue 11. BADDELEY, Alan; ANDERSON, Michael C.; EYSENCK, Michael. 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