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Psicofarmacologia na Aprendizagem

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PSICOFARMACOLOGIA NA APRENDIZAGEM 
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SUMÁRIO 
 
PSICOFARMACOLOGIA NA APRENDIZAGEMErro! Indicador não 
definido. 
FACULESTE ............................................................................................ 2 
Introdução ................................................................................................ 2 
Antipsicóticos .................................................................................... 4 
Ansiolíticos ....................................................................................... 5 
Antidepressivos ................................................................................ 5 
Histórico da psicofarmacologia ............................................................ 6 
Classificação dos psicofármacos ...................................................... 8 
Farmacodinâmica ................................................................................. 9 
Eficácia x afinidade x potência ....................................................... 10 
Farmacocinética ................................................................................. 11 
Aprendizagem .................................................................................... 18 
Tolerância, sensibilização e aprendizado dependente de estado .. 20 
Efeitos adversos de drogas e índice terapêutico ............................ 23 
Fatores Modificadores das Respostas Terapêuticas ...................... 26 
Considerações sobre o uso racional de medicamentos ................. 30 
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 31 
 
 
 
file:///F:/FACUMINAS/APOSTILA/EXTERNA/NEUROPSICANÁLISE/PSICOFARMACOLOGIA%20NA%20APRENDIZAGEM.docx%23_Toc49683873
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FACULESTE 
 
 
 
A história do Instituto FACULESTE, inicia com a realização do sonho de 
um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para 
cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a FACULESTE, 
como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A FACULESTE tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas 
de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
Introdução 
 
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A psicofarmacologia é o ramo da farmácia que trata de substâncias 
conhecidas como psicotrópicas. As drogas psicotrópicas ou psicofármacos 
atuam de forma seletiva no sistema nervoso central (SNC), sendo também 
conhecidas como agentes psicoativos ou psicoterápicos. Desta forma, incluem 
nesta classe os fármacos que deprimem ou estimulam seletivamente as ações 
do SNC, que devido a tais propriedades, fizeram reduzir de forma considerável 
o número de internações em hospitais psiquiátricos. 
Seu objeto de estudo concentra-se nas ações e efeitos de drogas 
psicoativas que possuem terapia potencial ou efetiva para distúrbios mentais. 
Drogas psicoativas podem ser originárias de fontes naturais como plantas e 
animais, ou artificiais como as sintetizadas nos laboratórios químicos da indústria 
farmacêutica. Estas drogas interagem com alvos específicos ou receptores 
encontrados no sistema nervoso para induzir diferentes mudanças nas funções 
fisiológicas ou psicológicas. A interação específica entre as drogas e seus alvos 
é chamada de Ação da Droga e as mudanças observadas são conhecidas como 
Efeito da Droga. 
A psicofarmacologia moderna estuda um grande número de substâncias 
com vários tipos de propriedades psicoativas, mas a maioria dos estudos são 
conduzidos em drogas com propriedades médicas, com foco nas interações 
químicas entre estas e o cérebro humano. 
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Há diversas formas de classificar as substancias psicoativas, seja quanto 
a origem natural (extraída de plantas e animais) ou artificial (sintetizadas); quanto 
a utilização psicossocial (licitas, ilícitas; recreativas ou terapêuticas, etc) contudo 
como dito antes há relativo consenso que o nascimento da psicofarmacologia 
decorreu da utilização terapêutica de tais substancias nos distúrbios mentais. 
Nos estágios iniciais, a psicofarmacologia foi usada principalmente para 
sedação: sedativos administrados para transformar estados excitados em 
quiescente e estimulantes usados para aumentar a atividade em pacientes 
deprimidos pacientes. Estimulantes como a cafeína e derivados da anfetamina” 
Sedativos tipo hidrato de cloral e brometos (brometo de sódio) utilizados no 
século XIX substituídos por barbitúricos no começo do século XX até à 
descoberta dos alcaloides da Rauwolfia serpentina, a reserpina e derivados da 
fenotiazina, a clorpromazina, o que deu início ao tratamento das psicoses e/ou a 
categoria psicofarmacológica dos antipsicóticos. Após a década de 1960, o 
campo da psiquiatria mudou para incorporar as indicações e eficácia dos 
tratamentos farmacológicos, e começou a se concentrar no uso e toxicidade 
desses medicamentos. 
 
Antipsicóticos 
 
Himwich comentando as novas drogas psiquiátricas no ano 1955, 
“profetizava” que estávamos entrando em uma nova era no estudo e tratamento 
da doença mental, ressalta as descobertas da possibilidade de indução química 
de um estado psicótico semelhante às psicoses com injeções de LSD e 
diferenciação bioquímica dos estados emocionais da adrenalina e noradrenalina 
além de destacar a possibilidade de tratamento da esquizofrenia com a reserpina 
(mais eficiente em auxiliar pacientes hebefrênicos) e clorprmazina, drogas que 
segundo ele “acalmam os pacientes sem fazê-los dormir e seus efeitos duram 
mais tempo que o dos sedativos”. Lieberman e Ogas (o.c.) assinam que o que 
diferencia, principalmente, os efeitos da clorpromazina dos sedativos e 
tranquilizantes é a sua capacidade de intervir especificamente nos sintomas 
psicóticos tipo alucinação , delírio e confusão mental ou “pensamento 
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embaralhado", de modo análogo à redução da dor de cabeça ou temperatura 
com uso da aspirina. 
 
Ansiolíticos 
 
Ainda na a década de 1950 acompanhando as pesquisas terapêuticas da 
clorpromazina e grande interesse mobilizado pelo seu sucesso comercial, a 
indústria farmacêutica iniciou uma série de pesquisas na linha de tratamento dos 
distúrbios mentais. Retomou-se o interesse na utilização do meprobamato, 
comercializado como sedativo com relativos sucesso (o miltown) que resultara 
posteriormente na descoberta das benzodiazepinas na década de 60 apesar das 
críticas que se fazia ao tratamento com tranquilizantes das doenças mentais 
antes da clorpromazina e investiu-se no tratamento de outro antigo flagelo a 
melancolia e/ou depressão. Observe-se que até hoje, na farmacologia moderna, 
critica-se a inadequação do termo tranquilizante, distinguindo-se o efeito 
sedativo (hipnótico), ansiolítico e antipsicótico por sua atuação em níveis 
subhipnóticos. 
 
Antidepressivos 
 
O uso do carbonato de lítio para mania e, em seguida, em rápida 
sucessão, o desenvolvimento de antidepressivos tricíclicos, a imipramina, 
seguida pelos inibidores da monoamina oxidase, respectivamente por John 
Cade (1912 -1980) e Roland Kuhn (1912- 2005) foram as principais descobertas 
da década dos 50 no tratamento da depressão. 
Alguns estimulantes psicomotores tipo a anfetamina introduzidona prática 
médica nos últimos anos da década de 30 até hoje são utilizados, contudo com 
o desenvolvimento dos métodos de investigação, com o estabelecimento de 
estudos controlados com placebo, duplo cego, capacidade de analisar os níveis 
sanguíneos com relação ao resultado clínico, biomagem e maior sofisticação em 
ensaios clínicos realizando uma verdadeira dissecação farmacológica, diversos 
novos fármacos tem sido descobertos. Neste processo histórico de pesquisa 
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para “cura” controle dos transtornos afetivos (depressão e transtorno bipolar) não 
pode deixar de ser mencionado as pesquisas pioneiras de Sigmund Freud (1856-
1939) com a cocaína para o esgotamento nervoso e dependência da morfina 
apesar do insucesso terapêutico e a descoberta dos antidepressivos de segunda 
geração, a fluoxetina, e subsequente pesquisa com os inibidores seletivos da 
recaptação da serotonina. 
 
Histórico da psicofarmacologia 
 
O tratamento com psicofármacos trouxe uma revolução para aqueles 
pacientes denominados “loucos”, pois veio para substituir o tratamento com 
choque e camisas de força, e inserir esses indivíduos novamente na sociedade 
após a compreensão de que doentes acometidos pelas patologias psiquiátricas 
devem ser diagnosticados e tratados. 
Na década de 1940, teve início a psicofarmacologia moderna. Nessa 
época surgiram os primeiros fármacos para tratamento de transtornos 
psiquiátricos. Especificamente em 1949, Cade relatou o primeiro uso de lítio para 
tratamento de mania, e em 1952, Delay e Deniker descreveram os efeitos da 
clorpromazina, um fármaco antipsicótico. Ainda nessa década, em 1950, 
surgiram os primeiros ansiolíticos, como o Clordiazepóxido e Meprobamato. 
A descoberta de novos fármacos ocorreu de forma empírica, ou seja, 
baseandose apenas nas observações dos efeitos que os fármacos produziam. 
A Iproniazida, por exemplo, era utilizada no tratamento da tuberculose, mas com 
a observação da melhora do humor nos pacientes por ela tratados, a substância 
passou a compor uma importante classe terapêutica dos antidepressivos, os 
inibidores da enzima monoaminoxídase. 
 
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Nos anos seguintes, o uso de psicofármacos se disseminou amplamente, 
e o número de drogas também aumentou progressivamente, muito embora em 
termos de eficácia, os compostos mais recentes pouco se diferenciavam dos 
originais. Um ponto que evoluiu marcantemente foi a seletividade do fármaco. 
Um fármaco seletivo é aquele que atua especificamente sobre um local 
desejado; os efeitos colaterais que os fármacos apresentam estão diretamente 
relacionados à sua seletividade, ou seja, quanto menor a seletividade, maior a 
ligação do fármaco a outros receptores, e isso pode acarretar um efeito não 
desejado no organismo. 
Avançando no tempo, na década de 1960 surgiram várias teorias para a 
origem da depressão, assim como da esquizofrenia; essas teorias embasam a 
indústria farmacêutica até os dias de hoje no desenvolvimento de novos 
fármacos. Mas a decisão de se utilizar ou não um psicofármaco depende do 
quadro clínico que o paciente apresenta. 
Para muitos transtornos mentais, os medicamentos são o tratamento 
preferencial, como no caso de esquizofrenia, transtorno bipolar, depressões ou 
ataques de pânico. Em outros, como nas fobias específicas - por exemplo, 
aracnofobia (medo de aranhas) - e transtornos de personalidade, as 
psicoterapias podem ser a primeira opção. Também existem situações nas quais 
o melhor tratamento consiste na associação de terapia e medicamentos. 
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 O médico é o profissional habilitado para decidir qual restrito; melhor 
tratamento para cada paciente. Essas substâncias têm seu uso controlado e 
restrito, apenas quem possui um receituário médico pode comprar essas 
medicações, segundo as especificações da Portaria nº 344/1998. Todo esse 
controle ocorre principalmente porque essas medicações apresentam um alto 
risco de causar dependência química. 
 
Classificação dos psicofármacos 
 
A maneira mais aceita e difundida de classificação dos psicofármacos é a 
divisão em três grandes grupos, conforme a seguir: 
 
Grupo 1: estimulantes do sistema nervoso central 
 
Estimulantes do sistema nervoso central são amplamente conhecidos 
como psicoanalépticos, noanalépticos, timolépticos. Esses estimulantes são 
fármacos que produzem um estado de alerta e aumento da vigília. Fazem com 
que as pessoas fiquem “ligadas”, “elétricas”. Segundo a Organização Mundial de 
Saúde (OMS), esses fármacos produzem alterações de comportamento, humor 
e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora, sendo, portanto, 
passíveis de autoadministração (indivíduos usam para o seu próprio prazer, sem 
indicação médica). Em outras palavras, essas drogas levam à dependência 
química. Exemplos: anfetamina, cocaína e cafeína. 
Grupo 2: depressores do sistema nervoso central 
 
Depressores ou psicolépticos são fármacos que diminuem ou inibem a 
atividade do sistema nervoso central. Fazem com que as pessoas fiquem 
“lentas”, “desligadas”. Geralmente estão associados a alguma ação analgésica. 
Exemplos: álcool, tranquilizantes ou calmantes, soníferos, inalantes, solventes 
(cola de sapato, tinta, removedores) e opiláceos (morfina). 
Grupo 3: perturbadores do sistema nervoso central 
 
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Pertubadores do sistema nervoso central, psicoticomiméticos, 
psicodélicos ou psicometamórficos não alteram o cérebro de forma quantitativa, 
não ativam e nem inibem o sistema nervoso central; eles promovem uma 
mudança qualitativa do funcionamento do sistema, provocam uma ação 
perturbadora e o cérebro passa a funcionar de maneira desordenada. Exemplos: 
mescalina, ecstasy e maconha. 
 
 
Farmacodinâmica 
 
 
A farmacodinâmica é como uma determinada substância farmacológica 
atua em nosso corpo. Assim, quando o fármaco é administrado, ele atua em 
locais específicos do organismo, e o local primário onde esses fármacos vão 
atuar são o que chamamos de alvo primário de fármacos ou receptores. Estamos 
nos referindo a enzimas, moléculas transportadoras e, canais de íons 
receptores. A seguir teremos alguns exemplos. 
• Enzimas são proteínas essenciais para o bom funcionamento do nosso 
organismo. Elas possuem a função de catalisador, isso é, elas aumentam a 
velocidade das reações químicas que ocorrem no nosso corpo. Vale destacar 
que elas apenas aumentam a velocidade, mas não alteram essas reações. 
Fármacos da classe terapêutica dos antidepressivos como Selegilina e 
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Fenelzina atuam sobre a enzima monoamino-oxidase, também conhecida como 
MAO, resultando em melhora da depressão. 
• Moléculas transportadoras, também conhecidas como proteínas 
transportadoras, realizam o transporte de substância de um local para o outro. 
Em sua maioria, as substâncias transportadas têm uma origem hidrofílica e as 
membranas que devem atravessar têm uma origem lipofílica. Assim, o transporte 
não seria possível sem essas moléculas transportadoras devido a essa diferença 
de polaridade. Antidepressivos como amitriptilina intensificam sua ação por 
bloquearem a recaptação de noradrenalina por essas moléculas. 
• Canais de íons são proteínas que se localizam ou estão inseridas nas 
membranas celulares. Por esses canais passam íons do meio intracelular para 
o meio extracelular e o contrário também acontece, ou seja, do meio extracelular 
para o meio intracelular. Benzodiazepínicos atuam sobre os receptores do ácido 
gamaaminobutírico (GABA), especificamente nos canais do íon cloreto, 
promovendo a abertura desses canais. 
• Receptores se referem ao local onde o fármaco interage e produz o efeito 
terapêutico. Opiáceos como a morfina se ligam no seu receptor µ e 
desencadeiam seu efeito de analgesia. Uma substância que se liga a um 
receptor e produz um efeito de “ativação” é denominada substância agonista do 
receptor. Essa ativação se refere à capacidade da molécula dofármaco 
desencadear uma resposta onde se ligou. Já uma substância que se liga ao 
receptor sem causar ativação, impedindo consequentemente a ligação do 
agonista, é denominada antagonista do receptor. 
Ressaltamos que no mesmo receptor que se liga uma substância A para 
produzir um efeito (agonista) pode se ligar uma outra substância B para reverter 
o efeito da substância A. Como exemplo, temos a morfina: ela se liga ao seu 
receptor µ e promove seu efeito de analgesia. Porém, para esse mesmo receptor 
existe um antagonista que vai impedir o efeito da morfina, é o caso da substância 
conhecida como Naloxona. 
 
Eficácia x afinidade x potência 
 
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 Esses três termos técnicos diferenciam os tipos de fármacos utilizados 
na terapêutica: eficácia é a capacidade de uma droga que, uma vez ligada ao 
receptor, desencadeia uma resposta; afinidade é a tendência de o fármaco se 
ligar ao seu receptor e, por fim, potência pode ser definida como a capacidade 
de uma droga produzir efeitos em baixas concentrações. 
 
Farmacocinética 
 
Corresponde ao que o corpo faz com a substância que é ingerida. A 
farmacocinética é dividida em absorção, distribuição, metabolização e excreção 
de drogas. Esses fatores farmacocinéticos dependem do seu transporte através 
das membranas plasmática. das células até chegar ao seu referido local de ação. 
Os mecanismos básicos de transporte da membrana são: 
• Difusão passiva: difusão simples de um soluto através da membrana 
plasmática; 
• Difusão facilitada: difusão facilitada por um transportador de membrana. 
A maioria dos fármacos são ácidos ou bases fracas, presentes em solução 
sob as formas ionizadas e não ionizadas. Em geral, as moléculas não ionizadas 
são mais lipossolúveis, e por isso podem difundir-se facilmente pela membrana 
celular. Por outro lado, as moléculas ionizadas geralmente não conseguem 
penetrar na membrana lipídica por apresentar pouca lipossolubilidade. É por isso 
que a droga ácida é mais bem absorvida em meio ácido, já que fica na forma 
não ionizada, o que facilita a difusão entre a membrana, enquanto droga básica 
é mais bem absorvida em meio básico, porque fica na forma não ionizada. 
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Absorção 
 
É a transferência do fármaco do seu local de administração para o local 
de ação. Os fatores que influenciam a absorção de fármacos são: 
• Fatores referentes à droga: o Lipossolubilidade: quanto maior a 
lipossolubidade, maior a absorção, e o contrário também é verdadeiro – quanto 
menor a lipossolubilidade, menor a absorção. o Forma farmacêutica: fármacos 
líquidos são mais rapidamente absorvidos do que fármacos sólidos. 
• Fatores referentes ao local: o Fluxo sanguíneo, visto que áreas irrigadas 
com maior fluxo sanguíneo favorecem a absorção. o O pH determina ou não a 
ionização de drogas, e já estudamos que drogas não ionizadas penetram 
facilmente na membrana celular. o Barreiras biológicas dificultam a passagem 
do fármaco. 
 
 
 
Principais vias de administração 
 
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Via oral (VO): mais comumente utilizada, é mais segura, conveniente e 
econômica. A VO apresenta como desvantagem: absorção limitada, vômitos 
(irritação da mucosa), destruição de alguns fármacos pelas enzimas digestivas 
ou pH gástrico, necessidade da colaboração do paciente. Pode ocorrer também 
o efeito de primeira passagem, no qual parte do fármaco passa pelo sistema 
porta hepático e vai diretamente para a biotransformação, sem realizar seu efeito 
terapêutico. 
Via sublingual (SL): superfície de absorção pequena, rápida ação, sem 
efeito de primeira passagem. Como desvantagem, temos: é uma via incômoda, 
o gosto do medicamento pode ser desagradável e o uso dessa via requer a 
cooperação do paciente. 
Via retal (VR): via utilizada quando a ingestão oral estiver comprometida, 
o paciente está inconsciente ou quando apresenta vômito. Assim, a amplitude 
de efeito de primeira passagem é menor que pela via oral, entretanto, a absorção 
é irregular e incompleta, mas a cooperação do paciente não é necessária. 
Via intravenosa (IV): efeito rápido e completo do fármaco, porém por 
essa via não é possível reverter os efeitos do que foi administrado, porque não 
existe a absorção do fármaco, o qual passa direto para a corrente sanguínea. 
Via subcutânea (SC): apenas utilizada para fármacos que não causam 
irritação dos tecidos, caso contrário pode ocorrer necrose. Não necessita de 
cooperação do paciente. 
Via intramuscular (IM): via ideal para substâncias oleosas, que depende 
diretamente da taxa de fluxo sanguíneo local. Em relação à rapidez de efeito 
terapêutico, temos as três vias injetáveis na seguinte classificação: IV, IM e SC. 
Via tópica: alguns fármacos são aplicados nas mucosas da conjuntiva, 
nasofaringe, orofaringe, vagina, colo, uretra e bexiga, pois por causa de o efeito 
ser local, as drogas são absorvidas com maior rapidez. 
Via pulmonar: contanto que não causem irritação, fármacos gasosos e 
voláteis podem ser inalados e absorvidos pelo epitélio pulmonar e pelas mucosas 
do trato respiratório. O acesso a essa via é rápido, tendo em vista o tamanho da 
área pulmonar. Sua grande vantagem é a absorção quase que instantânea do 
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fármaco pela corrente sanguínea e a ausência do efeito de primeira passagem. 
Como desvantagem, pode-se citar: é uma via incômoda, requer cooperação do 
paciente e é apenas útil para drogas voláteis e gasosas, e não se tem controle 
da dose. 
 
Distribuição 
 
Depois da absorção ou administração sistêmica na corrente sanguínea, o 
fármaco distribui-se para todo o corpo, chegando primeiramente aos órgãos mais 
irrigados (maior fluxo sanguíneo) como fígado, rins e cérebro, e depois aos 
órgãos menos irrigados, como músculos, vísceras, pele e tecido adiposo. 
Para ser transportado, o fármaco precisa se ligar às proteínas 
plasmáticas, sendo a albumina a primeira escolha para os fármacos ácidos, 
enquanto a glicoproteína ácida α1, por exemplo, é uma escolha para fármacos 
básicos. Essa ligação do fármaco às proteínas é reversível e pode ser afetada 
por fatores relacionados com doenças, como hipoalbuminemia secundária e 
doença hepática grave. 
Durante a distribuição, alguns fármacos tendem a acumular-se em locais 
específicos, e a este processo damos o nome de reservatório de fármacos; isso 
prolonga a ação do fármaco, que pode acarretar efeitos tóxicos, porém é um 
processo reversível. Exemplo de formação de reservatório é a tetraciclina, um 
antibiótico que se acumula nos ossos. 
 
Metabolização 
 
É considerado um conjunto de alterações químicas que a droga sofre no 
organismo, geralmente promovidas por enzimas, tendo a finalidade de facilitar a 
excreção do fármaco. Resumidamente, ocorre a incorporação de moléculas 
hidrofílicas que diminuem a lipossolubilidade do fármaco, preparando-o para ser 
eliminado do organismo. Essas enzimas responsáveis pela metabolização de 
substâncias estão presentes em muitos tecidos do corpo, porém em níveis mais 
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altos no fígado e no intestino delgado. Exemplos de enzimas são as do sistema 
Citocromo P450. 
Em alguns casos, ao invés de tornar a droga inativa e facilitar sua 
excreção, o metabolismo promove a bioativação do fármaco, e isso quer dizer 
que seus metabolitos se tornam um composto ativo, que nesse caso são 
conhecidos como pró-fármacos. Exemplos de pró-fármacos: Ciclofosfamida e 
Azatioprina. 
Os fatores que afetam o metabolismo de fármacos são: 
 Idade: tanto neonatos quanto idosos têm uma diminuição da 
funcionalidade dessas enzimas. 
Fatores genéticos: pessoas com deficiência de enzimas responsáveis 
pelo metabolismo dos fármacos. Exemplo: asiáticos têm uma menor quantidade 
da enzima responsável pelo metabolismo do álcool, fato esse que justifica a 
maior tendência que eles têm de sentir os efeitos tóxicos do álcool. 
Patologias: doenças que acometem o fígado e intestino delgado, que sãoos principais órgãos que realizam a metabolização, podem comprometer essa 
etapa da farmacocinética. 
Indução ou inibição enzimática: a indução enzimática aumenta a 
biotransformação (lipossolubilidade para hidrossolubilidade) do fármaco. 
Exemplos: fenobarbital, rifampicina, fenítoina, carbamazepina e etanol (uso 
crônico). A inibição enzimática diminui a biotransformação dos fármacos. 
Exemplos de fármacos: cloranfenicol, dissulfiram e etanol (uso agudo). 
Excreção 
 
Ocorre quando os fármacos são eliminados pelo processo de excreção 
sem qualquer alteração ou são convertidos em metabolitos. As vias excretórias 
são: renal (urina), biliar, fecal, suor, leite, lacrimal e salivar. Fatores que 
influenciam a excreção renal: 
 Patologia renal: qualquer doença que afete o rim e que pode 
comprometer essa etapa da farmacocinética. 
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pH da urina: na urina ácida, a droga ácida fica na forma não ionizada, 
sendo facilmente reabsorvida; já a droga básica fica ionizada, sendo facilmente 
excretada. 
 
Interação entre drogas 
 
É a ação combinada de uma ou mais drogas, administradas sucessiva ou 
simultaneamente, podendo induzir a efeitos benéficos ou maléficos. Essas 
interações podem ser do tipo sinérgica ou antagônica. 
 
 
 
 
Tipos de sinergismo 
 
Adição: os efeitos de duas drogas são iguais aos efeitos de cada uma 
delas isoladamente (efeito AB = A + B). Potencialização: cocaína inibe a 
captação de noradrenalina e epinefrina, a aumentando a contração muscular 
(efeito AB > A + B). 
 
Tipos de antagonismo 
 
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Antagonismo químico: droga A e droga B interagem em solução (antes da 
administração) e ocorre inativação, precipitação ou diminuição do efeito de uma 
delas. Exemplo: quelantes se ligam aos metais pesados e diminuem sua 
toxicidade. 
Antagonismo fisiológico ou funcional: efeito da droga A é oposto ao 
da droga B, de modo que uma droga anula o efeito da outra. Exemplo: curare 
que atua como relaxante muscular, diminuindo o efeito da estricnina, que tem 
ação convulsivante. 
Antagonismo farmacológico competitivo: droga A e droga B se ligam 
ao mesmo receptor e competem por ele quando administradas sucessiva ou 
simultaneamente. 
Antagonismo competitivo reversível: uma droga antagonista se liga ao 
receptor e impede a ligação da droga agonista. No entanto, quando se aumenta 
a concentração do agonista, ele desloca o antagonista do receptor e se liga ao 
receptor. Em outras palavras, a substância com maior concentração no receptor 
é quem se liga e desenvolve seu efeito. 
Antagonismo competitivo irreversível: a droga antagonista se liga 
irreversivelmente ao receptor, levando ao aumento da concentração do agonista, 
sem deslocar o antagonista do receptor. 
Antagonismo farmacocinético: droga A interfere na absorção, 
distribuição, metabolismo ou excreção da droga B. 
 Exemplo de absorção: antiácidos como sal de frutas aumentam o pH 
estomacal e diminuem a absorção de drogas ácidas como ácido acetilsalicílico 
(AAS). 
Exemplo de distribuição: a fenilbutazona, um anti-inflamatório, diminui 
a ligação da warfarina, um anticoagulante, às proteínas plasmáticas, 
aumentando sua distribuição e, em consequência, seus efeitos (hemorragias). 
Exemplo de metabolismo: Dissulfiram diminui o metabolismo da 
warfarina, reduzindo a coagulação sanguínea e favorecendo a hemorragia. 
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Exemplo de excreção: bicarbonato de sódio aumenta a excreção urinária 
de fármacos ácidos como ácido acetilsalicílico (AAS). 
 
Aprendizagem 
 
Segundo Neistadt, o aprendizado pode ser definido como uma alteração 
relativamente permanente no comportamento, ou na potencialidade de 
comportamento, que resulta da experiência e não pode ser atribuída a estados 
corporais temporários induzidos por doença, fadiga ou medicamentoso. 
 Os filósofos, desde Platão e Aristóteles, têm debatido se a natureza do 
conhecimento é determinada principalmente pela mente ou pela experiência 
sensorial. Alguns teóricos como Pavlov (1849 a 1936), Watson (1878 a 1958) e 
Skinner (1904 a 1990), acharam que o aprendizado era mais bem explicado pela 
observação e descrição das relações entre os comportamentos e os eventos 
observáveis. 
Outra definição diz que o aprendizado é a aquisição de novas informações 
e/ou conhecimentos. Todo novo comportamento que um organismo apresenta, 
tanto em decorrência das variações no ambiente, como no organismo, é 
entendido como aprendizado. A intenção e a motivação para aprender não são 
essenciais por si mesmas, mas são importantes no foco da atenção do aprendiz. 
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A simples repetição em geral não é o melhor método para a 
aprendizagem, mas provavelmente é ampliado pelo processo de elaboração, 
que liga o material novo ao já conhecido. Entretanto, a repetição mecânica pode 
ser útil para certos protocolos, como a aprendizagem da pronúncia de palavras 
em idiomas estrangeiros. A partir da perspectiva de processamento da 
informação, o aprendizado exige a eficácia da recepção sensorial, do 
processamento cerebral e do comportamento motor para movimentação ou 
comunicação. 
A memória é uma importante ferramenta na aprendizagem. Uma 
abordagem que explica o aprendizado pela memória diz que a informação flui a 
partir do ambiente por meio do armazenamento sensorial e da memória de curta 
e de longa duração. Existem algumas classificações para memória, relevantes à 
compreensão do processo. São elas: 
 Memória sensorial – armazenamento pelo sistema perceptivo por tempo 
suficiente para esconder o intervalo entre as imagens estáticas. 
 Memória de curta duração – usamos este termo de forma neutra em 
relação à teoria, para nos referirmos à retenção temporária de pequenas 
quantidades de material sobre breves períodos de tempo. 
 Memória de trabalho – sistema de memória que serve de base à nossa 
capacidade de “manter as coisas em mente” ao realizarmos tarefas complexas. 
 Memória de longa duração – sistemas que servem de base à capacidade 
de armazenar informação por longos períodos de tempo. 
 Memória explicita/declarativa – memória que está aberta à evocação 
intencional, seja com base na recordação de eventos pessoais (memória 
episódica) ou fatos (memória semântica). 
 Memória implícita/não declarativa – evocação de informação da 
memória de longa duração por meio de desempenho em vez de lembrança ou 
do reconhecimento conscientes. 
20 
 
 
 Memória semântica – sistema que se supõe armazenar conhecimento 
sobre o mundo. 
 Memória episódica – sistema que se supõe servir de base à capacidade 
de relembrar eventos específicos. Diversos sistemas têm demonstrado que a 
memória pode resultar de alterações dependentes da experiência na 
transmissão sináptica. Em quase todos os casos, a transmissão sináptica é 
modificada como resultado de uma alteração no número de grupos fosfato 
ligados a proteína da membrana sináptica. 
O aprendizado e a memória podem ocorrer nas sinapses e os eventos são 
representados primeiramente como mudanças na atividade elétrica do encéfalo, 
seguindo para moléculas de segundos mensageiros e posteriormente aparecem 
como modificações em proteínas sinápticas preexistentes. Essas alterações 
temporárias são convertidas em alterações permanentes por modificações na 
estrutura da sinapse. 
Independentemente da espécie, da localização no encéfalo e do tipo de 
memória, muitos mecanismos responsáveis por esses eventos parecem ser 
universais, sendo também uma característica universal o envolvimento de íons 
Ca2+. Este, claramente, não participa apenas da construção de ossos e dentes, 
nem apenas da secreção de neurotransmissores e na contração muscular, mas 
também em qualquer forma de plasticidade sináptica. 
 
Tolerância, sensibilização e aprendizado dependente de estado 
 
O efeito de algumas drogas vai diminuindo progressivamente (ocorre um 
desvio da curva dose-efeito para a direita) quandoa droga é administrada de 
forma repetida por certo tempo. Esse fenômeno é denominado aumento de 
tolerância ou, simplesmente, tolerância. Nem sempre o desenvolvimento de 
tolerância ocorre com a mesma intensidade para todos os efeitos de determinado 
fármaco. Por exemplo, o efeito sedativo observado em pacientes, bem como em 
animais de laboratório, tratados por período prolongado com ansiolíticos 
21 
 
 
benzodiazepínicos (diazepam) diminui com o passar do tempo, embora o efeito 
ansiolítico permaneça constante por tempo bem maior. 
Algumas vezes é o efeito terapêutico que mostra tolerância. Por exemplo, 
o uso continuado de barbituratos ou drogas benzodiazepínicas leva à diminuição 
do efeito sedativo. No entanto, no caso dos barbitúricos, o efeito depressor de 
centros respiratórios, apresentado por altas doses destes compostos, não 
diminui na mesma proporção, aproximando as doses efetivas das tóxicas. 
O tempo necessário para o desenvolvimento da tolerância depende da 
natureza da droga, variando de minutos até várias semanas. Quando ela 
aparece rapidamente, após administração única ou poucas administrações de 
droga, o fenômeno é denominado taquifilaxia. 
A tolerância para determinada droga pode, em alguns casos, ser 
acompanhada da diminuição do efeito de outros compostos. Nesse caso, fala-
se de tolerância cruzada. Por exemplo, o uso crônico do álcool etílico pode 
diminuir os efeitos dos barbituratos. Mecanismos farmacocinéticos e/ou 
farmacodinâmicos podem estar envolvidos na tolerância. No primeiro caso, 
ocorre diminuição da concentração do agonista no nível do receptor. A causa 
mais frequente é o aumento do metabolismo do composto no fígado. 
Fármacos capazes de produzir indução de enzimas metabolizadoras no 
fígado incluem barbituratos, álcool etílico e morfina. Já a tolerância 
farmacodinâmica decorre da diminuição do número de receptores, da resposta 
à combinação da droga com o receptor ou de mecanismos homeostáticos do 
organismo, efetuados por sistemas sobre os quais a droga não atua diretamente. 
Embora a tolerância farmacodinâmica ocorra de maneira frequente, nem 
sempre os mecanismos subjacentes são bem conhecidos. Entre as drogas que 
atuam no sistema nervoso central, e que apresentam tolerância 
farmacodinâmica, podemos citar o LSD, a anfetamina, a cocaína, a cafeína, a 
nicotina e os benzodiazepínicos, além dos já referidos barbituratos, do álcool 
etílico e da morfina, que, portanto, apresentam ambos os tipos de tolerância. 
Além destes dois mecanismos, fenômenos envolvendo aprendizado também 
podem desempenhar um papel no desenvolvimento da tolerância (Quadro 1.12). 
22 
 
 
Outro fenômeno que pode ocorrer com certos psicofármacos é o aprendizado 
dependente de estado. Nesse caso, tarefas aprendidas em presença de 
determinada droga são mais bem recordadas sob o efeito da mesma droga ou 
de análogas, porém, não de drogas com efeitos diferentes, ou ainda na ausência 
de qualquer droga. Isso parece ocorrer porque as sensações internas produzidas 
pela droga passaram a configurar o “ambiente” e, por aprendizado, associar-se 
a ocorrências externas. 
Algumas drogas, particularmente psicostimulantes como a cocaína e a 
anfetamina, podem ter efeitos aumentados após uso repetido, o que é chamado 
de sensibilização, ou tolerância reversa. Alterações neuroquímicas, inclusive na 
expressão gênica, têm sido implicadas nesse fenômeno. Assim como na 
tolerância, fatores de aprendizado também podem desempenhar um papel aqui. 
Por exemplo, foi mostrado que a sensibilização ao efeito estimulatório da 
atividade motora exercido pela cocaína é maior quando o animal é testado no 
mesmo ambiente em que recebeu anteriormente a droga 
23 
 
 
 
Efeitos adversos de drogas e índice terapêutico 
 
Não existe medicamento que produza apenas um efeito farmacológico, e 
toda droga tem potencial de produzir efeitos adversos (Quadro 1.13). Estudos 
epidemiológicos revelaram que até 30% dos pacientes hospitalizados podem 
apresentar algum tipo de efeito adverso, e de 5% a 15% das internações podem 
ter como causa alguma forma de efeito adverso de drogas. Felizmente, 80% 
desses efeitos são previsíveis, embora nem sempre evitáveis. 
24 
 
 
 
 
Fonte especial de efeitos adversos a drogas é a interação 
medicamentosa. Esse fenômeno pode ser definido como o aparecimento de 
efeito farmacológico que não pode ser explicado por ação de cada uma das 
drogas isoladamente, mas apenas pela combinação delas. 
O uso concomitante de vários medicamentos para o tratamento de 
determinada doença é muito comum em todas as áreas da medicina, e também 
25 
 
 
na psiquiatria. Muitas vezes esse uso é inadequado, pois além de aumentar a 
possibilidade de interação não desejável entre as drogas, na eventualidade de 
ocorrência de um efeito adverso, pode dificultar a identificação da droga 
responsável. Além disso, eleva o custo do tratamento. Apenas três situações 
justificam o uso combinado de drogas: 
1) melhora comprovada na eficácia terapêutica, como a associação de 
lítio com antidepressivos em pacientes com depressão que não melhoram com 
estes últimos, administrados isoladamente; 
2) diminuição de efeitos adversos, como o uso de antimuscarínicos para 
diminuir a intensidade dos efeitos extrapiramidais provocados por neurolépticos; 
3) melhora na farmacocinética, como a combinação de carbidopa com L-
dopa no tratamento da doença de Parkinson. Nessas situações, fala-se em 
associações medicamentosas. 
O termo interações medicamentosas é quase sempre reservado para 
aquelas potencialmente danosas ao indivíduo. Elas podem ser divididas em três 
grandes grupos: as farmacêuticas, as farmacocinéticas e as farmacodinâmicas. 
Interações farmacêuticas são aquelas que ocorrem fora do organismo. Por 
exemplo, ao administrarmos carbenecilina e gentamicina — dois antibióticos — 
em um mesmo frasco, o primeiro inativará o segundo. As interações 
farmacocinéticas, por outro lado, envolvem o aparecimento de algum efeito 
indesejável em decorrência da modificação na farmacocinética de uma droga por 
influência de outra. Por exemplo, diuréticos tiazídicos diminuem a excreção renal 
de lítio, e podem levar à intoxicação por esse composto, se não ocorrer ajuste 
de dose. 
Finalmente, as interações farmacodinâmicas relacionam-se com o 
aparecimento de efeito adverso em decorrência da alteração no efeito de uma 
droga por influência de outra. Pode ocorrer tanto antagonismo quanto facilitação. 
O antagonismo pode ser fisiológico, ou de efeito, ou farmacológico. 
No primeiro, as drogas apresentam efeitos opostos, que irão antagonizar-
se, embora os mecanismos farmacológicos responsáveis por esses efeitos 
sejam distintos. Por exemplo, a cafeína é um psicostimulante leve, sendo que 
26 
 
 
aumenta o estado de vigília possivelmente por antagonizar receptores 
purinérgicos, enquanto o diazepam é um sedativo, sendo que provoca 
sonolência por potencializar a transmissão GABAérgica. Já no antagonismo 
farmacológico as drogas atuam no mesmo sistema farmacológico; por exemplo, 
o antagonismo dos efeitos da anfetamina por um neuroléptico, que antagoniza 
receptores de dopamina. 
Interações que levam à facilitação de efeitos são de três tipos: adição, 
potencialização e sinergismo. Na adição, a intensidade de um mesmo efeito 
adverso apresentado por duas drogas empregadas concomitantemente resulta 
da soma dos efeitos isolados de cada uma delas. Na potencialização, um dos 
compostos não provoca determinado efeito, mas ao combinar-se com outra 
droga aumenta (potencializa) o efeito dessa última. 
Por fim, no sinergismo ambos os compostos produzem determinado 
efeito, mas seu uso concomitante leva a um efeito de maior intensidade do que 
a soma daqueles produzidos pelos agentes de forma isolada. Um exemplo típico 
dessa situação são os efeitos adversos do uso concomitante do álcool etílicoe 
de drogas benzodiazepínicas. 
Cabe ainda mencionar um conceito bastante importante em relação a 
efeitos adversos de drogas. É o chamado índice terapêutico (IT), ou seja, a 
relação entre a dose que produz efeito tóxico em 50% dos indivíduos (DT50) e a 
dose efetiva em 50% dos pacientes (DE50). Quanto maior o IT, mais segura será 
a droga. 
 
 
 
 
Fatores Modificadores das Respostas Terapêuticas 
 
A resposta terapêutica da grande maioria dos fármacos depende 
fundamentalmente de sua adequada concentração no sítio de ação, em última 
27 
 
 
análise da interação entre suas moléculas com receptores farmacológicos 
específicos. Contudo, é fato perfeitamente conhecido que a relação existente 
dose e efeito de fármacos são muito variáveis entre os indivíduos (Esquema 11-
1). 
Tais variações interindividuais dependem não só da dose, mas podem 
estar relacionadas ao estado patológico (distúrbios renais, hepáticos, 
cardiovasculares, endócrinos etc), gravidez, fatores constitucionais tradicionais 
(idade, sexo, fator genético e ritmos biológicos) e ao modo de administração de 
fármacos (interação medicamentosa). 
Ademais, a otimização da resposta terapêutica dependem também de 
fatores socioeconômicos e culturais e da qualidade de vida dos indivíduos. 
 
Estado patológico 
 
Depuração renal: A insuficiência renal traz várias consequências 
nocivas, particularmente pelo acúmulo de fármacos e outras substâncias que 
dependem dos rins para sua excreção. A dose de vários fármacos deve ser 
28 
 
 
ajustada ou intervalo de dosagem aumentada para evitar o acúmulo no 
organismo. 
Depuração hepática: A eliminação de fármacos está também 
prejudicada na obstrução portal e especialmente na insuficiência 
parenquimatosa, a qual pode ou não estar associada à insuficiência excretora. 
Insuficiência hepatocelular no homem (insuficiência das células hepáticas) pode 
ocorrer em várias formas de doenças hepáticas, sendo comum na cirrose portal 
e na hepatite aguda por vírus. Em ambas as condições, a metabolização e a 
excreção biliar estão alteradas. Outras patologias podem influenciar a depuração 
hepática. 
Alteração da união de fármacos às proteínas plasmáticas: O fígado é 
o principal local de síntese de albumina e de outras proteínas ligantes de 
fármacos; portanto, diversas patologias hepáticas podem influenciar em grau 
variável essa síntese e subsequente a união de fármacos às proteínas. 
 
Gestação e lactação 
 
No uso racional de medicamentos, avaliação de risco/benefício na 
gestação é única e complexa, pelo fato dos efeitos de fármacos envolverem dois 
organismos - mãe e feto. A presença de patologias crônicas pré-existentes e a 
ocorrência de doenças durante a gestação, dentre elas a hipertensão, diabetes, 
transtornos psiquiátricos (depressão) e epilepsia. Justifica às vezes o uso de 
farmacoterapia nessas patologias que pode comprometer a gestação e o 
desenvolvimento fetal. 
No Brasil, estimativas mostraram que pelo menos, um fármaco é usado 
durante 90 % das gestações, sendo de 4 medicamentos em média por gestação. 
Contudo, pouco se sabe sobre os efeitos de fármacos sobre gestante e o feto. 
Por esta razão se faz necessário uma avaliação criteriosa na escolha e utilização 
de medicamentos pelos clínicos. Os riscos do uso de fármacos durante a 
29 
 
 
gestação, segundo Food and Drug Administration (FDA) podem ser classificados 
em cinco categorias de risco: 
 
Quando se prescreve um medicamento para uma gestante é importante 
considerar as alterações fisiológicas que podem alterar a farmacocinética e a 
farmacodinâmica. Durante a lactação, o uso de fármacos pode ser prejudicial à 
lactante e ao desenvolvimento do recém-nascido e da criança. 
 
Idade 
 
A grande maioria dos estudos de avaliação das respostas terapêuticas 
aos fármacos é realizada em indivíduos adultos jovens ou de meia-idade, sendo 
que as informações são escassas em indivíduos idosos e recém-nascidos e 
crianças. O fator etário nos dois extremos da vida é muito importante na clínica 
geriátrica e pediátrica. Além disso, na prática não existe nenhum princípio 
fidedigno ou fórmula para converter doses de fármacos utilizados em adultos em 
doses que sejam eficazes e seguras em idosos, recém-nascidos e crianças. 
Recém-nascidos e infantes: Em recém-nascidos, a atividade 
metabolizadora dos sistemas enzimáticos de microssomas hepáticos está 
totalmente ausente ou aparece em nível muito reduzido, embora em algumas 
isoenzimas do sistema CYP (CYP3A4) surgem depois de uma semana. 
30 
 
 
Idosos: O processo de envelhecimento reflete uma progressão de 
alterações nos processos biológicos que acarretam modificações estruturais e 
funcionais dos órgãos, as quais podem ser acompanhadas de mudanças 
graduais nos efeitos dos fármacos. 
Sexo: De importância particular são as interações medicamentosas entre 
as mulheres. Devido ao uso de contraceptivos orais que aumentam a atividade 
glicuroniltransferase. Por isso alteram a depuração de vários fármacos entre 
outros, acetominofeno, morfina e temazepam. Ademais, o uso de produtos 
dietéticos e fitoterápicos (erva de S. João) são mais frequentes entre as mulheres 
de que nos homens. Esses produtos contem princípios ativos naturais com 
propriedade indutora enzimática que são responsáveis por interações 
medicamentosas. 
 
Considerações sobre o uso racional de medicamentos 
 
Na prática clínica, é importante levar em conta apenas a hipótese do que 
vai acontecer num paciente em particular e as possibilidades da resposta 
terapêutica pode não ocorrer num determinado paciente, efeitos adversos não 
previstos e de muitas respostas não serem relatadas na rotina clínica. Para isso, 
a prescrição médica deve contemplar os seguintes aspectos: 
a) diagnóstico (s); 
b) escolha das alternativas de tratamento medicamentoso; 
c) relação entre conhecimento sobre os medicamentos, diagnóstico e 
condições do paciente; 
d) possibilidade de interações entre os medicamentos; 
e) hábitos e alimentação que possam interferir na eficácia do 
medicamento ou no aparecimento de efeitos adversos; 
f) escolha dos medicamentos a serem prescritos; e 
g) orientação ao paciente e redação da prescrição. 
No caso de paciente não apresentar resposta terapêutica, as seguintes 
hipóteses podem ser admitidas: 
a) diagnóstico errado; 
31 
 
 
b) escolha inadequada da dose ou dos intervalos de administração; e 
c) ausência de adesão. No tocante à adesão, na sua grafia original 
significa, “a obediência participativa, ativa, do paciente à prescrição a ele 
dirigida”. Alguns autores preferem usar a grafia “ concordância”, pois a decisão 
de ser medicado é prerrogativa exclusiva do paciente. 
O fato de o paciente receber uma prescrição médica correta não garante 
a adesão, devidos aos seguintes obstáculos: 
a) tratamento longo; 
b) patologia é pouco sentida/entendida pelo paciente; 
c) posologia é complicada por várias doses diárias ou vários 
medicamentos; 
d) semelhança na aparência de diferentes medicamentos ou de suas 
embalagens; e 
f) pacientes têm dificuldades em compreender instruções consideradas 
perfeitamente claras pelo profissional que as escreveu ou transmitiu oralmente. 
Em resumo, todo o conhecimento sobre os fatores modificadores da 
resposta terapêutica são fundamentais para individualização da terapia e 
aprendizagem aos pacientes. 
 
 
 
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