Buscar

(Microsoft Word - Estudo da Doutrina Esp_355rita - Rev 1 doc)

Prévia do material em texto

ESTUDO 
 
DA 
 
DOUTRINA 
 
 
ESPÍRITA 
 
 
 
 
 
 
 
I N D Í C E 
 
AULA 01 BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC PG. 1 
 
AULA 02 INTRODUÇÃO AO LIVRO DOS ESPÍRITOS PG. 7 
 
AULA 03 A IDÉIA DE DEUS - VISÃO HISTÓRICA COMPARADA PG. 13 
 
AULA 04 DEUS PG. 17 
 
AULA 05 ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO PG. 23 
 
AULA 06 ESPÍRITO PG. 33 
 
AULA 07 PERISPÍRITO PG. 42 
 
AULA 08 CENTROS DE FORÇA PG. 55 
 
AULA 09 REENCARNAÇÃO PG. 60 
 
AULA 10 DESENCARNAÇÃO - RETORNO DA VIDA CORPORAL PARA VIDA ESPIRITUAL PG. 76 
 
AULA 11 INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS NO MUNDO CORPORAL PG. 87 
 
AULA 12 LEI DIVINA OU NATURAL PG. 95 
 
AULA 13 LEI DE ADORAÇÃO PG. 100 
 
AULA 14 LEI DE TRABALHO PG. 107 
 
AULA 15 LEI DE REPRODUÇÃO PG. 111 
 
AULA 16 LEI DE CONSERVAÇÃO PG. 118 
 
AULA 17 LEI DE SOCIEDADE PG. 125 
 
AULA 18 LEI DE PROGRESSO PG. 131 
 
AULA 19 PERFEIÇÃO MORAL PG. 140 
 
AULA 20 OBSESSÃO PG. 148 
 
 
 1 
 
 
 
ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA 
 
Aula 01 
 
Biografia de Allan Kardec 
 
 
Allan Kardec, cujo verdadeiro nome é Hippolyte Leon Denizard Rivail, nasceu na 
cidade de Lion, França, a 03 de outubro de 1804 no seio de antiga família lionesa, de 
nobres e dignas tradições. 
Foram seus pais Jean-Baptiste Antoine Rivail, magistrado íntegro e Jeanne 
Louise Duhamel. 
Realizou seus primeiros estudos em Lion, sua cidade natal, completando-os em 
Yverdon, Suíça, no famoso Instituto de Educação Pestalozzi. O Instituto de Yverdon, 
fundado em 1805, era visitado todos os anos por grande número de estrangeiros, citado, 
descrito, imitado, era, numa palavra, a escola modelo da Europa. 
O menino Denizard Rivail, ao qual os destinos reservariam sublime missão, logo 
se revelou um dos discípulos mais fervorosos do insigne pedagogista suíço, já dobrado 
sob setenta anos de lutas, realizações e decepções. Possuidor de inteligência penetrante 
e alto espírito de observação, e, ainda mais, inclinado naturalmente para a solução dos 
importantes problemas do ensino e para o estudo das ciências e da filosofia, Rivail 
cativou a simpatia e a admiração do velho professor, deste se tornando, pouco depois, 
eficiente colaborador. Os exemplos de amor ao próximo fornecidos por Pestalozzi 
norteariam para sempre a vida do futuro Codificador do Espiritismo. 
Com catorze anos, Rivail já legava à Humanidade bela contribuição: para os 
seus condiscípulos menos adiantados abriu cursos, nos quais ensinava o que ia 
aprendendo, nos momentos que lhe eram reservados ao descanso. 
Procurando seguir as pegadas do mestre, cujo método permitia ao povo e às 
crianças em geral uma educação mais adequada, mais racional e mais prática, Rivail 
meteu mãos à obra e, em 1824 saía a lume o primeiro livro dele, a saber: Cours Pratique 
Et Théorique D’Arithmétique D’Apres La Méthode de Pestalozzi, Avec Des Modifications. 
O eminente Codificador do Espiritismo, em 1824, com apenas dezenove anos já 
tirava à luz, para o bem de seus irmãos em Humanidade, importante e utilíssimo livro, 
fruto do seu próprio engenho. Foi esta a primeira obra de cunho pedagógico e a primeira 
entre todas as demais por ele publicadas. 
Obtendo isenção do serviço militar, Rivail deixou a Suíça e rumou para a 
cosmopolita capital francesa, onde, a princípio, por saber falar e escrever o alemão tão 
bem quanto o francês, vertia para a Alemanha livros que mais lhe tocavam o coração, 
dando preferência às obras de Fénelon. Além de continuar seus estudos, dedicou-se à 
educação, e suas obras alcançaram tal êxito, que logo se tornou uma figura popular, 
querida e elogiada. Fundou também um Instituto Técnico que obedecia aos moldes do 
extinto Instituto de Yverdon. Até 1834, essa obra do esforçado e laborioso discípulo de 
Pestalozzi, agora amparado por sua dedicada esposa Professora Amélia Boudet, abriu 
novos horizontes à inteligência de um punhado de alunos que ali iam em busca da água 
lustral. Ao mesmo tempo em que lecionava, prosseguia escrevendo, nas poucas horas 
que lhe sobravam, páginas e mais páginas relacionadas com as questões educacionais. 
Em 1835, o Instituto que ele dirigia com proficiência e alto espírito missionário 
teve que cerrar suas portas. A quantia que lhe coube da liquidação do referido 
 
 2 
estabelecimento foi confiada a um amigo negociante, que, realizando maus negócios, 
entrou em falência, deixando o pobre professor sem um níquel. 
Rivail, entretanto, demonstrando firme vontade e inquebrantável energia, 
empregou-se como contabilista de casas comerciais, dedicando as noites à organização 
de novos trabalhos pedagógicos, à tradução de obras do inglês e do alemão e à 
preparação de todos os cursos de Levi-Alvarès. Em sua própria residência, ministrou 
cursos gratuitos de Química, Física, Astronomia, Fisiologia e Anatomia Comparada. 
Rivail fora um destes homens, que, como Pestalozzi, regeu sua vida pelo lema: 
tudo para os outros, nada para si mesmo. Durante toda sua existência procurou 
educar, educar sempre, intelectual e moralmente, objetivando a construção de um 
mundo melhor. 
Tudo fazia o jovem professor-filantropo para facilitar aos alunos o aprendizado 
das matérias que geralmente trazem àqueles certo cansaço cerebral. Com engenho e 
arte, arquitetava, então, métodos e processos especiais, tendo em vista obter maior 
aproveitamento do aluno, com o menor dispêndio de energias intelectuais por este 
último. 
Através de sua carreira pedagógica, exercitou a paciência, a abnegação, o 
trabalho, a observação, a força de vontade e o amor às boas causas, a fim de melhor 
poder desempenhar a gloriosa missão que lhe estava reservada. 
Hyppolyte Leon Denizard Rivail, antes que o Espiritismo lhe popularizasse e 
imortalizasse o pseudônimo de Allan Kardec, já se havia, pois, firmado bem alto no 
conceito do povo francês, como distinguido mestre da Pedagogia moderna. 
Durante a vida inteira regeu suas ações por três virtudes: Trabalho, 
Solidariedade, Tolerância. 
Entre outras matérias, lecionou, como pedagogo de incontestável autoridade: 
Química, Matemática, Astronomia, Física, Fisiologia, Retórica, Anatomia Comparada e 
Francês. Era dado a estudos filológicos e de gramática da língua francesa. Conhecia 
profundamente o alemão, o inglês, o holandês, assim como eram sólidos seus 
conhecimentos do latim e do grego, do gaulês e de algumas línguas novilatinas. 
O Consolador, consubstanciado no Espiritismo, vinha de alvorecer, e um homem 
extraordinário fora destinado a preparar-lhe o advento e a consolidação. Denizard Rivail 
foi este homem. Os fatos observados por Rivail em 1855, com diferentes médiuns, foram 
de tal ordem que o perspicaz e clarividente professor sentiu que algo de momentoso se 
estaria passando. Observando, comparando e julgando os fatos, sempre com cuidado e 
perseverança, concluiu que realmente eram os Espíritos daqueles que morreram a causa 
inteligente dos efeitos inteligentes e deduziu as leis que regem esses fenômenos, 
extraindo admiráveis conseqüências filosóficas e toda uma doutrina de esperança e 
consolações. 
Freqüentando reuniões inúmeras onde, por meio da cesta, muitas vezes se 
obtinham comunicações que deixavam fora de toda a dúvida a intervenção de entidades 
estranhas aos presentes, Rivail começou a levar para as sessões uma série de perguntas 
sobre problemas diversos, às quais os Espíritos comunicantes respondiam com precisão, 
profundeza e lógica. 
Em 1856, a 30 de abril, em casa do Sr. Roustan, a médium Japhet, utilizando-se 
da cesta, transmitiu a Rivail a primeira revelação positiva da missão que teria de 
desempenhar, fato que mais adiante, em circunstâncias diferentes, seria confirmado, e 
com mais clareza, por outros médiuns. 
É uma página emocionante da história da vida de Rivail. Humilde, sem 
compreender a razão de sua escolha para missionário-chefe de uma doutrina que 
revolucionaria o pensamento científico, filosófico e religioso, pareceu duvidar. Mas o 
Espírito de Verdade lhe respondeu: Confirmo o que foi dito,mas recomendo-te 
discrição, se quiseres sair-te bem. Tomarás mais tarde conhecimento de coisas 
que te explicarão o que ora te surpreende. Não esqueças que podes triunfar, 
como podes falir. Neste último caso, outro te substituiria, porquanto os 
desígnios de Deus não assentam na cabeça de um homem. 
Rivail prosseguiu com devotamento exemplar seus estudos acerca da comunhão 
entre o mundo dos encarnados e o dos desencarnados. Inicialmente, o professor Rivail 
esteve a ponto de abandonar as investigações, porquanto não era positivamente um 
entusiasta das manifestações espíritas. Premido também por preocupações de outra 
 
 3 
ordem, quase deixou de freqüentar as sessões, somente não o fazendo em atenção a 
pedidos reiterados dos Srs. Carlotti, René Taillandier e Didier. 
Pouco a pouco erigia-se a base de um monumento filosófico-religioso. Com o 
concurso de mais de uma dezena de médiuns, auxiliado direta e indiretamente por uma 
plêiade de Espíritos Superiores superintendidos pelo Espírito de Verdade, ele desenvolvia, 
completava e remodelava aqui e ali o seu trabalho. Em 11 de setembro de 1856 recebia 
na casa do Sr. Baudin a seguinte comunicação mediúnica assinada por “Muitos Espíritos”: 
Compreendeste bem o objetivo do teu trabalho. O plano está bem concebido. 
Estamos satisfeitos contigo. Continua; mas lembra-te, sobretudo quando a obra 
se achar concluída, de que te recomendamos que a mandes imprimir e 
propagar. É de utilidade geral. Estamos satisfeitos e nunca te abandonaremos. 
Crê em Deus e avante. 
Corre o tempo e, em princípios de 1857, entrava para o prelo da Livraria E. 
Dentu a obra que seria o clarim do “Consolador” prometido por Jesus. 
A 18 de abril de 1857, finalmente era dado à luz “O Livro dos Espíritos”. No 
momento de publicá-lo, o autor ficou muito embaraçado em resolver como o assinaria, 
se com o seu nome ou com um pseudônimo. Sendo o seu nome muito conhecido do 
mundo científico, em virtude dos seus trabalhos anteriores, e podendo originar confusão, 
talvez mesmo prejudicar o êxito do empreendimento, ele adotou o alvitre de o assinar 
com o nome de Allan Kardec, nome que, segundo lhe revelara o guia, ele tivera ao 
tempo dos Druidas. 
A 1o de abril de 1858, Kardec fundou a Sociedade Parisiense de Estudos 
Espíritas, a primeira regularmente constituída na França. 
Vivia em Barcelona um cidadão que comungava com as idéias de Kardec; o 
livreiro Maurício Lachâtre, famoso redator e editor conhecido do Dicionário Universal 
Ilustrado. Ele escrevera ao codificador pedindo-lhe livros espíritas, porquanto desejava 
fazer propaganda do novo credo, da nova filosofia. Cerca de trezentos livros foram 
enviados por Kardec a Lachâtre, que pagou os direitos alfandegários comuns, ao governo 
espanhol. Contudo, graças a um procedimento irregular, que aberra dos princípios éticos, 
o destinatário não recebeu os livros. É que o bispo de Barcelona, Dr. Antônio Palau y 
Termens, não podendo levar Kardec à fogueira, considerou as obras perniciosas à fé 
católica. Fez confiscar os livros pelo Santo Ofício. Kardec reclamou a devolução dos 
mesmos, infrutiferamente, porque o bispo de Barcelona é quem ditava ordens. 
Kardec perdeu os livros; os direitos aduaneiros não foram restituídos pelo fisco 
espanhol, mas tudo isso favoreceu o Espiritismo. Compreendeu o Codificador que, 
embora pudesse reaver o perdido, se agitasse por via diplomática, era preferível deixar 
as coisas como estavam, porquanto a ignomínia constituiria, como constituiu, excelente 
propaganda do Espiritismo. O bispo de Barcelona fez queimar em praça pública as obras 
de Kardec. 
O episódio de Barcelona parece ter sido uma advertência para a obra que Allan 
Kardec divulgaria em abril de 1864: O Evangelho Segundo o Espiritismo. 
Por sua doutrina filosófica, seu método científico e sua moral universal, a obra 
espírita de Kardec penetrou rapidamente em várias partes do Mundo, conquistando 
milhões de seguidores entre as mais diferentes classes sociais. 
Aos 64 anos de idade, Kardec preocupava-se com um projeto de organização do 
Espiritismo, por meio do qual esperava imprimir maior vigor e mais ação à filosofia de 
que se fez apóstolo, objetivando desenvolver o lado prático e social da Doutrina. Esse 
trabalho e muitas outras tarefas o haviam cansado bastante. Desde 1860 vinha 
realizando magistrais conferências em mais de vinte cidades da França e da Bélgica. Em 
31 de março de 1869, estava em preparativos de mudança de residência, quando, 
repentinamente, tomba fulminado pela ruptura de um aneurisma, na idade de 65 anos 
incompletos. 
O enterro realizou-se, dois dias depois, no Cemitério Montmartre, contando o 
cortejo mais de mil pessoas. Seus despojos mortais foram, depois, transferidos para o 
afamado Cemitério do Père-Lahaise, repousando até os dias de hoje. 
É o túmulo de Allan Kardec, o único que durante o ano inteiro recebe as flores e 
as preces do reconhecimento de criaturas vindas de todas as partes, fato este já 
destacado pela imprensa de várias nações, recomendando-o mesmo como uma das 
principais atrações turísticas de Paris. 
 
 4 
Nos últimos quinze anos de vida, Kardec se transformou no homem universal. 
Seus livros doutrinários foram publicados nas línguas tcheca, russa, inglesa, italiana, 
alemã, norueguesa, holandesa, polonesa, grega moderna, croata, castelhana, 
portuguesa, esperanto e japonesa e, ainda no alfabeto Braille. 
À semelhança de todos os gloriosos reformadores, Allan Kardec brilhará, através 
dos tempos, como um fulgurante sol na aurora do espiritismo. 
Madame Allan Kardec recebeu da França e do estrangeiro numerosas e efusivas 
manifestações de simpatia e encorajamento, o que lhe trouxe novas forças para o 
prosseguimento da obra de seu amado esposo. 
Amélie Boudet tinha nove anos mais que Kardec, mas tal era a sua jovialidade 
física e espiritual, que a olhos vistos aparentava a mesma idade do marido, jamais essa 
diferença constituiu entrave à felicidade de ambos. Kardec foi alvo do ódio, da injúria, da 
calúnia, da inveja, do ciúme e do despeito de inimigos gratuitos, que a todo custo 
queriam conservar a luz sob o alqueire. Intrigas, traições, insultos, ingratidões, tudo de 
mal cercou o ilustre reformador, mas em todos os momentos de provas e dificuldades 
sempre encontrou, no terno afeto de sua nobre esposa, amparo e consolação. Ante a 
partida do querido companheiro para a espiritualidade, portou-se como verdadeira 
espírita, cheia de fé e estoicismo, conquanto, como é natural, abalada no profundo do 
ser. 
Esforçando-se por concretizar os planos expostos por Kardec, ela conseguiu, 
depois de cuidadosos estudos feitos conjuntamente com alguns dos velhos discípulos de 
Kardec, fundar a Sociedade Anônima do Espiritismo. Destinada à divulgação do 
Espiritismo por todos os meios permitidos pelas leis, a referida sociedade tinha, como fito 
principal, a continuação da Revue Spirite, a publicação das obras de Kardec e bem assim 
de todos os livros que tratassem de Espiritismo. 
Graças, pois, à visão, ao empenho, ao devotamento sem limites de Madame 
Allan Kardec, o Espiritismo cresceu a passos de gigante, não só na França, como também 
no Mundo todo. 
Muito ainda fez essa extraordinária mulher a prol do Espiritismo e de todos 
quantos lhe pediam um conselho ou uma palavra de consolo, até que em 21 de janeiro 
de 1883, às cinco horas da madrugada, docemente, com rara lucidez de espírito, 
desatou-se dos últimos laços que a prendiam à matéria. A querida velhinha tinha então 
87 anos. 
De acordo com seus próprios desejos, o enterro de Madame Allan Kardec foi 
simples e seus despojos enterrados junto ao marido. 
A nota mais tocante no ato de seu sepultamento foi dada pelo Sr. Lecoq. Ele leu, 
para alegria de todos, bela comunicação mediúnica de Antônio de Pádua, recebida em 22 
de janeiro, na qual esse iluminado Espírito descrevia a brilhante recepção com que 
elevados Amigos do Espaço, juntamente com Allan Kardec, acolheram aquele ser bem-
aventurado. 
Não deixandoherdeiros diretos, pois que não teve filhos, por testamento fez sua 
legatária universal a Sociedade para Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec. 
Embora uma parente sua, já bem idosa, e os filhos desta intentassem anular essas 
disposições testamentárias, alegando que ela não estava em perfeito juízo, nada, 
entretanto, conseguiram, pois as provas em contrário foram esmagadoras. 
Em 26 de janeiro de 1883, o conceituado médium parisiense Sr. E. Cordurié 
recebia espontaneamente uma mensagem assinada pelo Espírito de Madame Allan 
Kardec, logo seguida de outra, da autoria de seu esposo. Singelas na forma, belas nos 
conceitos, tinham ainda um sopro de imortalidade e comprovavam que a vida continua. 
 
 
MESAS GIRANTES 
 
O Fenômeno 
 
A Doutrina Espírita teve em seu nascimento uma série progressiva de 
fenômenos, sendo o primeiro fato observado o de objetos diversos colocados em 
movimento, que designaram-se vulgarmente sob o nome de mesas girantes ou dança 
 
 5 
das mesas. Esses fenômenos a princípio levantaram muita incredulidade, mas a 
multidão das experiências logo não mais permitiu que se duvidasse da realidade. 
 
 
Veracidade do Fenômeno 
 
Se esse fenômeno tivesse sido limitado ao movimento dos objetos materiais, 
poderia se explicar por uma causa puramente física. Não haveria, pois, nada de 
impossível em que a eletricidade modificada por certas circunstâncias, ou outro agente 
desconhecido, fosse a causa desse movimento. 
A reunião de várias pessoas aumentando a força de ação parecia apoiar essa 
teoria, porque se poderia considerar esse conjunto como uma pilha múltipla da qual a 
força está na razão do número de elementos. 
O movimento circular não tinha nada de extraordinário. Está na natureza, todos 
os astros se movem circularmente. Mas os movimentos não eram sempre circulares, 
freqüentemente era brusco, desordenado, o objeto violentamente sacudido, tombado, 
levado numa direção qualquer e contrariamente à lei da estática, levantado do chão e 
mantido no ar. 
Nada ainda nesses fatos que não se possa explicar pela força de um agente 
físico invisível. Não vemos a eletricidade derrubar árvores, lançar longe corpos pesados, 
atraí-los ou repeli-los? 
Os ruídos, as pancadas, supondo que não fossem um dos efeitos ordinários da 
dilatação da madeira, ou de outra causa acidental, poderiam, ainda, muito bem ser 
produzidos pela acumulação do fluido oculto. A eletricidade produz os mais violentos 
ruídos. 
Até aí, como se vê, tudo pode entrar no domínio dos fatos puramente físicos e 
fisiológicos. Mas não foi assim, acreditou-se descobrir, não sabemos por qual iniciativa 
que o impulso dado aos objetos não era somente o produto de uma força mecânica cega, 
mas que havia nesse movimento a intervenção de uma causa inteligente. Este caminho 
uma vez aberto era um campo todo novo de observações, era o véu levantado sobre 
muitos mistérios. 
Começaram as indagações se havia com efeito nesses fenômenos uma força 
inteligente. Se essa força existe, qual sua natureza, sua origem? Está acima da 
humanidade? 
 
 
Primeiras Manifestações Inteligentes 
 
As primeiras manifestações inteligentes ocorreram por meio de mesas se 
levantando e batendo com um pé um número determinado de pancadas e respondendo 
desse modo por sim e por não, segundo a convenção, a uma questão posta. 
Até aqui nada que convencesse seguramente os céticos, porque se poderia ver 
num efeito do acaso. 
Obtiveram-se depois respostas mais desenvolvidas por meio de letras do 
alfabeto: o objeto móvel batendo um número de pancadas correspondentes ao número 
de ordem de cada letra, chegara assim a formular palavras e frases que respondiam às 
questões propostas. A precisão das respostas e sua correlação com a pergunta 
aumentavam o espanto. 
 O ser misterioso interrogado sobre sua natureza declarou que era um espírito, 
se deu um nome e forneceu diversas informações a seu respeito. 
 
Nota: Ninguém imaginou os espíritos como um meio de explicar os fenômenos, foi o 
próprio fenômeno que revelou a palavra. 
 
 
 
 6 
Espiritismo na Europa e no Brasil 
 
Na Europa a idéia espiritualista era somente objeto de aberrações e pesquisas 
nos laboratórios ou de grandes discussões estéreis no terreno da filosofia. 
A Europa recebeu a nova revelação sem conseguir aclimá-la, no seu coração 
atormentado pelas necessidades mais duras. As próprias sessões mediúnicas são ali 
geralmente remuneradas, como se esses fenômenos se processassem tão somente pelas 
disposições estipuladas num contrato de representações. 
No Brasil, o espiritismo derramou seus frutos sazonados e doces no coração da 
coletividade brasileira, em seu seio, nas grandes sociedades e nos lugarejos obscuros, a 
doutrina consoladora apresentou sempre as mais belas expressões de caridade e de 
fraternidade. 
Jesus com as suas mãos meigas e misericordiosas fez viver no país abençoado 
os seus ensinamentos, as curas maravilhosas dos tempos apostólicos. Abnegados 
médiuns curadores desde os primórdios nas terras do Brasil, espalharam, como 
instrumentos da verdade as mais fartas colheitas de bênçãos do céu. Curando enfermos 
os novos discípulos do Senhor restabeleciam o espírito geral para a grande tarefa. 
O espiritismo penetrou no Brasil com todas as suas características de 
Cristianismo Redivivo, levantando as almas para uma alvorada de fé. 
Todas as suas instituições se alicerçaram no amor e na caridade, as próprias 
agremiações científicas que, de vez em quando, aparecem para cultivá-lo na sua 
rotulagem de metapsíquica, são absorvidas, no programa cristão, sob a orientação 
invisível e indireta dos emissários do Senhor. 
Todas as possibilidades e energias são aproveitadas para o bem comum e para 
a tarefa de todos os trabalhadores, e é por isso que todos os grupos sinceros do 
Espiritismo, no país, têm as suas águas fluidificadas, a terapêutica do magnetismo 
espiritual, os elementos da homeopatia, a cura das obsessões, os auxílios gratuitos no 
serviço de assistência aos necessitados, dentro do mais alto espírito evangélico, dando-
se de graça aquilo que se recebeu como esmola do céu. 
Não é raro vermos caboclos que engrolam a gramática nas suas confortadoras 
doutrinações, mas que conhecem o segredo místico de consolar as almas, aliviando os 
aflitos e os infelizes, ou, então, médiuns da mais obscura condição social e nas mais 
humildes profissões a se constituírem em instrumentos admiráveis nas mãos piedosas 
dos mensageiros do Senhor. 
Dentro do Brasil, a grande obra tem a sua função relevante no organismo social 
da Pátria do Cruzeiro, vivificando a seara da educação espiritual. E não tenhamos dúvida, 
superior às funções dos transitórios organismos políticos, é essa obra abençoada, de 
educação genuinamente cristã, o ascendente da nação do Evangelho e o elemento que 
preparará o seu povo para os tempos do porvir. 
 
 
Bibliografia: 
O Livro dos Espíritos – Allan Kardec 
Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho – Chico Xavier. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7 
 
 
 
ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA 
 
Aula 02 
 
Introdução ao Estudo do Livro dos Espíritos 
 
 
O Livro dos Espíritos na Codificação 
 
Prolegômenos 
 
Fenômenos que escapam das leis da Ciência vulgar se manifestam em toda a 
parte e revelam, em sua causa, a ação de uma vontade firme e inteligente. 
A razão diz que um efeito inteligente deve ter por causa uma força inteligente, e 
os fatos provaram que essa força pode entrar em comunicação com os homens por meio 
de sinais materiais. 
Essa força, interrogada sobre a sua natureza, declarou pertencer ao mundo dos 
seres espirituais que se despojaram do envoltório corporal do homem. É assim que foi 
revelada a Doutrina dos Espíritos. 
As comunicações entre o mundo espírita e o mundo corporal estão na natureza 
das coisas e não constituem nenhum fato sobrenatural. Por isso, delas se encontram 
vestígios entre todos os povos e em todas as épocas. Hoje, elas são gerais e patentes 
para todo o mundo. 
Os espíritos anunciamque os tempos marcados pela Providência, para uma 
manifestação universal, são chegados, e que, sendo os ministros de Deus e os agentes 
de sua vontade, sua missão é instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era 
para a regeneração da Humanidade. 
Este livro é a compilação dos seus ensinamentos. Foi escrito por ordem e sob o 
ditado dos Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia 
racional, livre dos preconceitos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a 
expressão do seu pensamento e que não tenha se submetido ao seu controle. Somente a 
ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma de 
algumas partes da redação são obras daquele que recebeu a missão de o publicar. 
Entre os Espíritos que concorreram para a realização desta obra, vários viveram 
em diversas épocas sobre a Terra, onde pregaram e praticaram a virtude e a sabedoria. 
Outros não pertencem, pelo seu nome, a nenhum personagem do qual a História tenha 
guardado a lembrança, mas sua elevação é atestada pela pureza de sua doutrina e sua 
união com aqueles que trazem um nome venerado. 
Eis os termos pelos quais deram por escrito, e por intermédio de vários 
médiuns, a missão de escrever este livro: 
“Ocupa-te com zelo e perseverança do trabalho que empreendeste com o nosso 
concurso, porque esse trabalho é nosso. Nele pusemos a base do novo edifício que se 
eleva e deve um dia reunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e de 
caridade; mas antes de o propagar, nós o reveremos em conjunto, a fim de controlar 
todos os detalhes”. 
Estaremos contigo todas as vezes que o pedires e para te ajudar em teus outros 
trabalhos, porque este não é senão uma parte da missão que te está confiada, e que te 
já foi revelada por um dos nossos. 
 
 8 
Entre os ensinamentos que te são dados, há os que deves guardar só para ti, 
até nova ordem. Nós te indicaremos quando o momento de os publicar tenha chegado. 
Até lá, medite-os, a fim de estar preparado quando o dissermos. 
Coloca na cabeça do livro a cepa de vinha que te desenhamos, porque ela é o 
emblema do trabalho do Criador, todos os princípios materiais que podem melhor 
representar o corpo e o espírito nela se encontram reunidos: o corpo é a cepa; o espírito 
é o licor; a alma ou o espírito unido à matéria é o grão. O homem quintessencia o 
espírito pelo trabalho e tu sabes que não é senão pelo trabalho do corpo que o espírito 
adquire conhecimentos. 
Não te deixes desencorajar pela crítica. Encontrarás contraditores obstinados, 
sobretudo entre as pessoas interessadas nos abusos. Encontrá-los-ás mesmo entre os 
Espíritos, porque os que não estão completamente desmaterializados procuram, 
freqüentemente, semear a dúvida por malícia ou por ignorância. Mas prossegue sempre. 
Crê em Deus e caminha com confiança. Aqui estaremos para te sustentar, e 
está próximo o tempo em que a verdade brilhará por toda parte. 
A vaidade de certos homens que crêem tudo saber e querem tudo explicar à sua 
maneira, fará nascer opiniões dissidentes. Mas todos aqueles que tiverem em vista o 
grande princípio de Jesus, se confundirão no mesmo sentimento de amor ao bem, e se 
unirão por um laço fraternal que abrangerá o mundo inteiro. Eles deixarão de lado as 
miseráveis disputas de palavras para não se ocupar senão das coisas essenciais e a 
doutrina será sempre a mesma, quanto ao fundo, para todos aqueles que receberão as 
comunicações dos Espíritos superiores. 
É com a perseverança que chegarás a recolher o fruto do teu trabalho. O prazer 
que experimentarás vendo a doutrina se propagar e ser compreendida te será uma 
recompensa da qual conhecerás todo o valor, talvez mais no futuro que no presente. Não 
te inquietes, pois, com as sarças e as pedras que os incrédulos ou os maus semearão 
sobre teu caminho. Conserva a confiança: com a confiança tu chegarás ao fim, e 
merecerás ser sempre ajudado. 
“Lembra-te de que os bons Espíritos não assistem senão àqueles que servem a 
Deus com humildade e desinteresse, e repudiam a qualquer que procure, no caminho do 
céu, um degrau para as coisas da Terra. Eles se distanciam do orgulhoso e do ambicioso. 
O orgulho e a ambição serão sempre uma barreira entre o homem e Deus; é um véu 
atirado sobre as claridades celestes, e Deus não pode se servir do cego para fazer 
compreender a luz”. 
São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, O 
Espírito de Verdade, Sócrates, Platão, Fenélon, Franklin Swendenborg, etc. 
 
 
A Metodologia de Kardec 
 
Kardec aplicou a esta ciência o método experimental, não aceitando teorias 
preconcebidas, observava, comparava e deduzia as conseqüências, dos efeitos procurava 
elevar-se às causas, pela dedução e encadeamento dos fatos, não admitindo por valiosa 
uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão. 
Compreendeu logo a gravidade da tarefa que ia empreender, e entreveu 
naqueles fenômenos a chave do problema, tão obscuro e tão controvertido, do passado e 
do futuro da humanidade, cuja solução viveu sempre a procurar, era enfim uma 
revolução completa nas idéias e nas crenças do mundo. 
Cumpria-lhe, pois, proceder com circunspecção e não levianamente, ser positivo 
e não idealista para não se deixar levar por ilusões. 
Um dos primeiros resultados de suas observações foi saber que, sendo os 
Espíritos as almas dos homens, não possuíam a soberana sabedoria, nem a soberana 
ciência, e que o seu saber era limitado ao grau de adiantamento, assim como a sua 
opinião só tinha o valor de opinião pessoal. Esta verdade, reconhecida desde o princípio, 
preservou-lhe do perigo de acreditar na infalibilidade deles e livrou-lhe de formular 
teorias prematuras sobre os ditados de um ou de alguns. 
 
 9 
O fato apenas de comunicação com os Espíritos, independente do que eles 
pudessem dizer, provava a existência do mundo invisível: ponto capital, campo imenso 
aberto às suas explorações, chave de uma multidão de fenômenos inexplicados. 
O segundo ponto não menos importante era conhecer o estado desse mundo e 
seus costumes. Viu logo que cada espírito, segundo a sua posição e conhecimentos, lhe 
patenteava uma fase daquele mundo, do mesmo modo como se chega a conhecer o 
estado de um país, interrogando habitantes de todas as classes e condições, podendo 
cada um ensinar-nos alguma coisa e nenhum, individualmente, ensinar tudo. 
Incumbe ao observador formar o conjunto, coordenando, colecionando e 
conferindo, uns com os outros, documentos que tenha recolhido. Procedeu com os 
espíritos como teria feita com os homens, considerou-os, desde o menor até o maior, 
como elementos de instrução e não como reveladores predestinados. 
Tais foram as disposições com que empreendeu e com que sempre seguiu os 
estudos espíritas: observar, comparar e julgar, essa foi a regra invariável que se impôs. 
As sessões na casa do Sr. Baudin nunca tinham tido um fim determinado, 
procurou, nelas resolver problemas que lhe interessavam: sobre filosofia, psicologia e a 
natureza do mundo invisível. 
Em cada sessão apresentou uma série de perguntas preparadas e 
metodicamente arranjadas, obtinha sempre respostas precisas, profundas e lógicas. As 
reuniões então tomaram outro caráter, entre os assistentes achavam-se pessoas sérias 
que tomaram vivo interesse pelo seu estudo e se lhe acontecia faltar um dia, nenhum 
trabalho se fazia. 
As questões fúteis tinham perdido todo o atrativo, para a maior parte. A 
princípio não teve em vista senão sua própria instrução, mais tarde, porém, quando viu 
que formava um núcleo em torno do qual os trabalhos tomavam as proporções de uma 
doutrina, pensou em torná-los públicos para a instrução de todos. Foram aquelas 
questões desenvolvidas e completadas, que constituíram a base de O Livro dos Espíritos. 
Em 1856, acompanhou também as reuniões espíritas na casa do Sr. Roustan e 
Srta. Japhet, sonâmbula. Essas reuniões eram sérias e ordeiras. Seu trabalho estava 
quase acabado e dava para um livro,mas quis revê-lo com outros espíritos, mediante 
outros médiuns. 
Teve o pensamento de fazer dele objeto de estudo para as sessões do Sr. 
Roustan, mas no fim de algumas sessões os Espíritos disseram que preferiam revê-lo na 
intimidade e marcaram para este feito certos dias, em que trabalhariam com a Srta. 
Japhet, a fim de o fazerem com mais calma, e mesmo pra evitar indiscrições e 
comentários prematuros do público. 
Não se contentou com essa verificação que os próprios espíritos lhe 
recomendaram. 
Tendo-se relacionado com outros médiuns, sempre surgiam ocasiões que 
aproveitava para propor algumas das perguntas, que lhe pareciam mais espinhosas. 
Foi assim que mais de dez médiuns prestaram a sua assistência ao trabalho e 
foi da comparação e da fusão de todas essas respostas, coordenadas, classificadas e 
muitas vezes remoídas no silêncio da meditação, que formou a primeira edição de O 
Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857. 
 
 
Características da Doutrina Espírita 
 
O Espiritismo é uma filosofia espiritualista. 
Quando Allan Kardec codificou a Doutrina Espírita, houve por bem criar o 
vocábulo Espiritismo, para designar a doutrina propriamente dita, e espírita ou 
espiritista, pra identificar os adeptos do Espiritismo. 
Afirmou, então, o Codificador que, para designar coisas novas, é imprescindível 
criar termos novos, pois, assim exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão 
inerente à variedade de sentidos de uma mesma palavra. 
Numerosas religiões tradicionais são alicerçadas no espiritualismo, porém, o 
Espiritismo difere da grande maioria delas porque consagra princípios que elas repelem, 
 
 10 
por conflitarem com os seus dogmas, principalmente a reencarnação e a pluralidade dos 
mundos habitados. 
Quem quer que acredite haver em si algo mais que a matéria, é espiritualista, 
uma vez que o espiritualismo é o oposto do materialismo. 
O Espiritismo é a Ciência, Filosofia e Religião e, como tal, não veio para destruir 
ou combater as demais religiões, mas sim para ajudá-las na compreensão da 
imortalidade da alma. 
Os princípios básicos da Doutrina Espírita são: 
 
» a existência de Deus; 
» a pluralidade das existências; 
» a preexistência e persistência eterna do espírito; 
» a intercomunicação entre encarnados e desencarnados; 
» recompensas e penas, como conseqüência natural dos atos praticados; 
» progresso infinito, comunicação universal entre os seres. 
 
Os nomes Espiritismo e espírita têm sido indevidamente usados por outros 
agrupamentos espiritualistas, autênticos movimentos paralelos. 
A Doutrina Espírita é fundamentalmente diferente de qualquer outra ramificação 
religiosa, pois, é uma doutrina religiosa sem dogmas propriamente ditos, sem liturgia, 
sem símbolos, sem sacerdócio organizado. 
O Espiritismo evangélico é o Consolador prometido por Jesus, que pela voz dos 
seres redimidos, espalham as luzes divinas por toda a Terra, restabelecendo a verdade e 
levantando o véu que cobre os ensinamentos na sua feição de Cristianismo redivivo, a 
fim de que os homens despertem para a era grandiosa da compreensão espiritual com o 
Cristo. 
A Doutrina Espírita não veio para exterminar outras crenças, parcelas da 
verdade que a sua doutrina representa, mas sim, trabalhar por transformá-los, elevando-
lhes as concepções antigas para o clarão da verdade imortalista, sua missão tem que se 
verificar junto às almas e não ao lado das glórias efêmeras dos triunfos materiais. 
Esclarecendo o erro religioso, onde quer que se encontre e revelando a verdadeira luz, 
pelos atos da fé, representa o operário da regeneração do Templo do Senhor, onde os 
homens se agrupam em vários departamentos, ante altares diversos, mas onde existe 
um só mestre que é Jesus Cristo. 
O Espiritismo não tem o caráter isolado de uma filosofia, de uma ciência ou de 
uma religião, porque é, ao mesmo tempo, religião, filosofia e ciência. É simultaneamente 
revelação divina e obra de cooperação dos espíritos humanos desencarnados e 
encarnados. Tem a característica singular de ser impessoal, complementar e progressivo; 
primeiro, por não ser fruto da revelação de um só Espírito, nem o trabalho de um só 
homem; segundo, por ser a complementação natural, expressa e lógica das duas 
primeiras grandes revelações divinas (a de Moisés e a do Cristo); terceiro, porque, 
como bem disse Kardec, ele jamais dirá a última palavra. É ciência, porque investiga, 
experimenta, comprova, sistematiza e conceitua leis, fatos, forças e fenômenos da vida, 
da natureza, dos pensamentos e dos sentimentos humanos. É filosofia, porque cogita, 
induz e deduz idéias e fatos lógicos sobre as causas primeiras e seus efeitos naturais; 
generaliza e sintetiza, reflete, aprofunda e explica; estuda, discerne e define motivos e 
conseqüências, comos e porquês de fenômenos relativos à vida e à morte. É religião, 
porque de suas constatações científicas e de suas conclusões filosóficas resulta o 
reconhecimento humano da paternidade Divina e da irmandade universal de todos os 
seres da criação, estabelecendo, desse modo, o culto natural do amor a Deus e ao 
próximo. 
Somente sendo assim como é, poderia o Espiritismo realizar a sua grande 
missão de transformar a Terra, de mundo de sofrimento, de provas e expiações, em orbe 
regenerado e pacífico, a caminho de mais altas expressões de glória cósmica. Essa 
missão de transformar o mundo, o Espiritismo cumprirá; não com palavrório 
inconseqüente, nem com tricas políticas ou com ações de forças bélicas, mas fazendo a 
humanidade enxergar e entender a evidência das grandes leis e dos grandes fatos da 
vida, a imortalidade do espírito, a justiça indefectível, o imperativo do amor. 
 
 11 
Infinitamente superior a todas as ciências limitadas, dispensa laboratório 
sofisticado, aparelhagens caras e rígidos métodos empíricos. Imensamente mais eficaz 
do que todas as demais filosofias conhecidas, não se perde em devaneios da inteligência, 
nem se limita exclusivamente a fenômenos materialmente verificáveis ou deduzíveis por 
meio de insuficientes raciocínios de lógica matemática. Incomparavelmente mais 
racional e eficiente do que qualquer outra religião dispensa sacerdócio, altares, 
rituais e dogmatismo, porque atua diretamente sobre o entendimento e o 
coração de cada pessoa, fala à alma de cada indivíduo e assenta o seu império 
na mente de cada ser. 
Por isso, o Espiritismo não necessita de exterioridades para empreender a 
reforma do mundo, porque isso ele realizará através de cada pessoa, de cada grupo de 
pessoas, de cada sociedade, de cada comunidade humana. Como a Doutrina Espírita tem 
a natureza de uma revelação progressiva e incessante, sua influência será cada vez mais 
específica e mais ampla, em todos os setores da atividade humana, inspirando novos 
rumos e novas motivações suscitando novos pensamentos criativos e promovendo o 
progresso. 
Através da literatura, da música, das artes plásticas, do cinema, do rádio, do 
teatro, da televisão, as idéias espíritas realizarão um trabalho educacional de altíssimo 
rendimento, semeando os pensamentos mais altos e enobrecendo sentimentos. 
No campo da medicina o Espiritismo está destinado a ajudar a ciência a 
descobrir e entender que o ser humano é um complexo mento-físico-perispirítico. 
Na medicina Psiquiátrica, o Espiritismo está fadado a introduzir profunda 
inovação de conceitos e de métodos, a partir da aceitação científica, da ascendência do 
espírito sobre os cérebros perispirituais e físico e sobre todo o cosmo orgânico de cada 
ser humano. Isso, e mais o conhecimento objetivo dos processos obsessórios e dos 
desequilíbrios de natureza mediúnica, darão novas dimensões de entendimento e 
grandeza à psiquiatria, induzindo-a estudar as repercussões mútuas das lesões físicas, 
espirituais e perispirituais, para reformular todas as suas técnicas de diagnóstico e de 
tratamento e assim alcançar resultados mais positivos e mais consentâneos com o 
progresso. 
Nas áreas da psicologia e da psicanálise, oEspiritismo introduzirá modificações 
fundamentais de conceituação e tratamento dos problemas clínicos, começando pela 
consideração dos ascendentes espirituais e cármicos determinantes de cada situação 
individual e grupal. Com efeito, como entender-se e tratar-se convenientemente inibições 
graves sem causa aparente e fobias inatas, inexplicáveis mesmo à luz da 
hereditariedade, senão através de vivências pretéritas, em passadas encarnações? Por 
falar nisso, até onde essas transatas vivências são responsáveis por difíceis quadros 
clínicos no campo da pediatria? E ainda aí, quem seria capaz de medir, por agora, o valor 
da contribuição espírita para numerosas soluções, teóricas e práticas, ainda não 
encontradas para dirimir sérios desafios no âmbito da pedagogia. Doenças de natureza 
cármica, afecções provenientes de choques reencarnatórios e diferenças físico-intelecto-
morais de ordem evolutiva são coisas que a ciência oficial por enquanto desconhece, mas 
que, em porvir não mais remoto, há de incorporar ao rol dos seus saberes. 
No terror da filosofia religiosa, a obra libertadora do espiritismo já é mais do que 
evidente. Reconceituou as antigas noções de céu, inferno, purgatório e limbo, de anjos e 
de demônios; de bem e de mal; de ressurreição e de penitência; de amor e de trabalho; 
de riqueza e de cultura; de beleza e de progresso; de liberdade e de justiça. Aos 
desvalidos e doentes, aos solitários e aos tristes, aos pobres e aos perseguidos, aos 
injustiçados e aos aflitos, a todos renovou as esperanças num Pai Justo e Bom, num 
futuro sem fim, numa bem-aventurança eterna e sem limites, mas merecida e 
conquistada no dever bem cumprido, no trabalho bem feito, na paz da 
consciência limpa e na fraternidade operosa e desprendida. 
Esta é, por sinal, a face mais bela da missão do Espiritismo: 
- consolar, enxugar lágrimas, semear as flores divinas da esperança. Por isso, o 
próprio Cristo, que o prometeu e o enviou, chamou-o Consolador. Ele realmente anima 
e conforma, ajuda e retempera. Traz-nos de volta redivivos, os nossos mortos queridos; 
mantém acesos nossos ideais, mesmo quando as nossas condições atuais de existência 
não nos permitem realizá-los de pronto. Foi por essa razão que o Espiritismo nasceu 
visceralmente ligado ao Evangelho de Jesus, do qual não se pode nunca 
 
 12 
separar. Se não fosse apostolicamente cristã, a Doutrina Espírita careceria de sentido. 
Seus fundamentos são o amor e a justiça; sua finalidade é o bem – fonte única 
de verdadeira felicidade. 
Com muito empenho, muita humildade e muita ênfase, advertimos a todos os 
irmãos em humanidade que jamais se utilizem do Espiritismo para qualquer fim menos 
nobre; que não se valham dele para a maldade ou para o crime, e nem mesmo para 
simples satisfação estéril de tolas vaidades pessoais. Saibam todos que é 
imensamente perigoso abusar dele, porque usar a mediunidade para o mal é 
abrir sobre a própria cabeça as portas do inferno. 
O Espiritismo é a mais poderosa das ciências, porque lida com forças vivas e 
integradas de dois planos da existência; DIRIGIR INCONSCIENTEMENTE ESSAS 
FORÇAS PODERÁ SER GENOCÍDIO, MAS SERÁ NECESSARIAMENTE SUICÍDIO 
DAS MAIS DESOLADORAS CONSEQÜÊNCIAS. 
 
 
Bibliografia: 
O Livro dos Espíritos – Allan Kardec 
Obras Póstumas – Allan Kardec 
O Consolador – Chico Xavier 
Universo e Vida – Hernani T. Sant’Anna 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 13 
 
 
 
ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA 
 
Aula 03 
 
A Idéia de Deus – Visão Histórica Comparada 
 
 
Concepção de Deus ao Longo da História 
 
As primeiras organizações religiosas da Terra tiveram, sua origem entre os 
povos primitivos do Oriente, aos quais enviava Jesus, periodicamente, os seus 
mensageiros e missionários. 
Dada a ausência da escrita, naquelas épocas longínquas, todas as tradições se 
transmitiam de geração a geração através do mecanismo das palavras. Cada raça 
recebeu os seus instrutores das verdades espirituais e a verdade é que todos os livros e 
tradições religiosas da antiguidade guardam entre si a mais estreita unidade substancial. 
As revelações evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento. 
Todos se referem ao Deus impersonificável, que é a essência da vida de todo o 
Universo. 
Enquanto a civilização egípcia e os iniciados hindus criavam o politeísmo para a 
satisfação dos imperativos da época, já o povo de Israel acreditava somente na 
existência do Deus Todo-Poderoso, por amor do qual aprendia a sofrer todas as injúrias e 
a tolerar todos os martírios. Quarenta anos no deserto representaram para aquele povo 
como que um curso de consolidação de sua fé, contagiosa e ardente. 
Todas as raças da Terra devem aos Judeus esse benefício sagrado que consiste 
na revelação do Deus único, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os seres. 
O grande legislador dos hebreus trouxera a determinação de Jesus, com 
respeito à simplificação das fórmulas iniciáticas, para compreensão geral do povo. 
A missão de Moisés foi tornar acessíveis ao sentimento popular as grandes 
lições que os demais iniciados eram compelidos a ocultar. E de fato, no seio de todas as 
grandes figuras da antiguidade, destaca-se o seu vulto como o primeiro a rasgar a 
cortina que pesa sobre os mais elevados conhecimentos, filtrando a luz da verdade 
religiosa para a alma simples e generosa do povo. 
No reino de Israel sucederam-se as tribos e os enviados do Senhor. Todos os 
seus caminhos no mundo estão cheios de vozes proféticas e consoladoras, acerca 
d’Aquele que ao mundo viria para ser glorificado como o Cordeiro de Deus. 
 
 
Definição de Deus 
 
Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. 
 
OBS: Não nos é possível uma definição completa de Deus, pois nossa linguagem é 
insuficiente para definir o que está acima da nossa inteligência e capacidade de 
compreensão. 
 
 14 
Provas da Existência de Deus 
 
Se não sabemos definir Deus, como podemos ter certeza da sua existência? 
“Não há efeito sem causa, negando a existência de Deus estaremos negando a 
Lei da Causa e Efeito, estaríamos aceitando que o nada pode fazer alguma coisa”. 
 
Exemplo: Se um pássaro que está voando, é atingido por chumbo mortal, julga-se que 
um hábil atirador o feriu, embora não se veja o atirador. 
 
Não é, pois, sempre necessário ter visto algo para saber que ele existe. Em tudo 
é observando-se os efeitos que se chega ao conhecimento das causas. 
Outro princípio também elementar é que todo efeito, inteligente deve ter uma 
causa inteligente. 
Muitas vezes pensamos que o sentimento íntimo que temos da existência de 
Deus está ligado à educação e ao produto das idéias adquiridas. Mas porque os selvagens 
têm esse mesmo sentimento, se eles não foram educados, chegamos à conclusão que 
eles não poderiam ter essa certeza. 
Julga-se o poder de uma inteligência pela suas obras, se nenhum ser humano 
pode criar o que produz a natureza, então a causa primeira, pois, é uma inteligência 
superior a humanidade. 
Por isso não temos condições de compreender a natureza de Deus. Teremos 
condições um dia, quando nosso espírito não estiver mais obscurecido pela matéria e 
alcançado a perfeição para nos aproximarmos Dele e ao vê-lo, compreende-lo. 
 
Alguns adotam o seguinte raciocínio: 
As obras ditas da natureza são o produto das forças naturais que agem 
mecanicamente, em conseqüência das leis de atração e repulsão; as moléculas dos 
corpos inertes se agregam e se desagregam sob o império dessas leis. As plantas 
nascem, brotam, crescem e se multiplicam sempre do mesmo modo, cada uma em sua 
espécie, em virtude dessas mesmas leis; cada indivíduo é semelhante àquele do qual 
saiu; o crescimento, a floração, a frutificação, a coloração, estão subordinadas a causas 
materiais, tais como o calor, a eletricidade, a luz, a umidade, etc. Ocorre o mesmo com 
os animais. Os astros se formam pela atração molecular, e se movem perpetuamente, 
em suas órbitas, pelo efeito da gravitação.Essa regularidade mecânica, no emprego das 
coisas naturais, não acusam uma inteligência livre. O homem movimenta seu braço 
quando quer, e como quer, mas, aquele que movimentasse no mesmo sentido desde o 
nascimento até a morte, seria um autômato; ora, as forças orgânicas da natureza são 
puramente automáticas. 
Tudo isso é verdade, mas essas forças são efeitos que devem ter uma causa, e 
ninguém pretende que elas constituam a divindade. São materiais e mecânicas, não são 
inteligentes por si mesmas, e isso é, ainda, verdade; mas são postas em ação, 
distribuídas, apropriadas para as necessidades de cada coisa por uma inteligência que 
não é a dos homens. 
A apropriação útil dessas forças é um efeito inteligente que denota uma causa 
inteligente. 
Um pêndulo se move com regularidade automática, e é essa regularidade que 
lhe dá o seu mérito. A força que o faz assim agir é toda material e nada inteligente; mas 
o que seria desse relógio se uma inteligência não houvesse combinado, calculado, 
distribuído o emprego dessa força para fazê-la caminhar com precisão? Do fato de que a 
inteligência não está no mecanismo do relógio, e de que ela não é vista, seria racional 
concluir que não existe? Ela é julgada pelos seus efeitos. 
A existência do relógio atesta a existência do relojoeiro, a engenhosidade do 
mecanismo atesta a inteligência e o saber do relojoeiro. Quando o relógio vos dá no 
momento próprio, a informação de que tendes necessidade, jamais veio ao pensamento 
de alguém dizer: eis um relógio bem inteligente. 
Ocorre o mesmo com o mecanismo do Universo; Deus não se mostra, mas se 
afirma pelas suas obras. 
 
 15 
A existência de Deus é, pois, um fato adquirido, não somente pela revelação, 
mas pela evidência material dos fatos. Os povos selvagens não tiveram revelação e, não 
obstante, crêem, instintivamente, na existência de um poder sobre-humano; vêm coisas 
que estão acima do poder humano, e delas concluem que provêm de um ser superior à 
humanidade. Não são mais lógicos do que aqueles que pretendem que elas se fizeram 
sozinhas? 
 
 
Atributos do Criador 
 
Sem o conhecimento dos atributos de Deus seria impossível compreender a obra 
da criação, é o ponto de partida de todas as crenças religiosas, e foi pela falta de a elas 
se referirem, como farol que poderia dirigi-las, que a maioria das religiões errou em seus 
dogmas. As que não atribuíram a Deus a onipotência imaginaram vários deuses. As que 
não lhe atribuíram a soberana bondade Dele fizeram um deus ciumento, colérico, parcial 
e vingativo. 
Atribuímos a Deus várias qualidades: suprema e soberana inteligência, eterno, 
imutável, imaterial, único, todo poderoso e soberanamente justo e bom, com isso 
pensamos ter uma idéia completa dos seus atributos porque cremos tudo abraçar, mas 
há coisas acima da nossa inteligência e para as quais nossa linguagem é limitada às 
nossas idéias e sensações, o que nos impossibilita ter a expressão adequada. 
A razão nos diz que Deus deve ter essas perfeições no supremo grau porque se 
o tivesse um só de menos ou não fosse de um grau infinito, Ele não seria superior a 
tudo, e por conseqüência não seria Deus. 
Por estar acima de todas as coisas, Deus não deve suportar nenhuma vicissitude 
e não ter nenhuma das imperfeições que a imaginação pode conceder. 
 
 
DEUS é: 
 
Suprema e Soberana Inteligência: a inteligência do homem é limitada, uma 
vez que não pode fazer e nem compreender tudo que existe, a de Deus abarcando o 
infinito, deve ser infinita. Se a supuséssemos limitada em um ponto qualquer poder-se-ia 
conceder um ser ainda mais inteligente, capaz de compreender e de fazer o que um 
outro não faria; assim, sucessivamente até o infinito. 
 
Eterno: se Ele tivesse tido um começo, teria saído do nada, ou teria sido criado, 
Ele mesmo por um ser anterior. 
 
Imutável: se estivesse sujeito às mudanças, as leis que regem o Universo não 
teriam estabilidade. 
 
Imaterial: quer dizer, sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria, de 
outro modo Ele não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria. 
 
Único: se houvesse vários deuses, não haveria unidade de vistas, nem de poder 
no ordenamento do Universo. 
 
Todo Poderoso: porque é único. Se não tivesse o soberano poder, haveria 
alguma coisa mais poderosa ou tão poderosa quanto Ele; não teria feito todas as coisas, 
e as que não tivesse feito seriam obras de um outro deus. 
 
Soberanamente Justo e Bom: a sabedoria providencial das Leis Divinas se 
revela nas menores coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não permite dúvidas da 
sua justiça, nem da sua bondade. 
 
 
 
 16 
Conclusão 
 
Deus existe, não podemos duvidar, é o essencial. 
Não devemos ir além para não nos perdermos num labirinto do qual não 
poderemos sair. 
Isso não nos tornaria melhores, mas talvez um pouco mais orgulhosos, porque 
acreditaríamos saber o que na realidade nada sabemos. 
Deixemos, pois, de lado, todos esses sistemas. Temos muitas coisas que nos 
tocam mais diretamente, a começar por nós mesmos. 
Estudemos as nossas imperfeições, a fim de nos desembaraçarmos delas, isso 
nos será mais útil do que querer penetrar o que é impenetrável. 
Trabalhemos nossa perfeição, em todos os sentidos, que um dia chegaremos a 
ela e aí sim teremos adquirido as condições intelectuais e morais para chegarmos até 
Ele. 
 
 
Bibliografia: 
A Gênese – Allan Kardec 
O Livro dos Espíritos – Allan Kardec 
A Caminho da Luz – Francisco Cândido Xavier 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 17 
 
 
 
ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA 
 
Aula 04 
 
Deus 
 
 
Deus e o Infinito 
 
Deus 
 
É a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. 
 
Infinito 
 
É aquilo que não tem começo nem fim; o desconhecido; todo desconhecido é 
infinito. 
Poderíamos dizer que Deus é infinito? 
Definição incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, insuficiente para 
definir as coisas que estão além da sua inteligência. 
Deus é infinito nas suas perfeições, mas o infinito é uma abstração, dizer que 
Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa por ela mesma, definir uma coisa, 
ainda não conhecida, porque também não o é. 
 
 
A necessidade da idéia de Deus 
 
O primeiro interesse de Kardec foi saber dos Espíritos que era Deus e eles 
responderam dentro da maior simplicidade, mas com absoluta segurança: Deus é a 
inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. 
Não poderemos nos sentir seguros onde quer que estejamos, sem pelo menos 
alimentar a idéia de uma fonte criadora imortal. O estudo sobre o Senhor nos dá um 
ambiente de fé que corresponde na sua feição mais pura, à vontade de viver. Sentimos 
alegria ao entrarmos em contato com a natureza, pois ela fala de uma inteligência acima 
de todas as inteligências humanas, de um amor diferente daquele que sentimos, de uma 
paz operante nos seus mínimos registros da vida. O Deus que procuramos fora de nós 
está igualmente no centro da nossa existência, porque Ele está em tudo, nada vive sem 
a sua benfeitora presença. 
O Criador estabeleceu leis na sua casa maior, que cuidam da harmonia na 
mansão divina, sem jamais esquecer do grande e do pequeno, do meio e dos extremos, 
para que seja dado, a cada um, segundo as suas necessidades. Não existe injustiça 
em campo algum da vida, pois cada espírito ou coisa se move no ambiente que a sua 
evolução comporta; daí resulta o porquê de devermos dar graças por tudo o que nos é 
colocado no caminho. 
É justo, entretanto, que nos lembremos do esforço individual, e mesmo coletivo, 
de sempre melhorar, como sendo a nossa parte, para alcançarmos o melhor. Aquele que 
acha que tem fé em Deus, mas que vive envolvido em lugares de dúvida, com 
companheiros que não corresponde às suas aspirações de esperança, ainda carece da 
 
 18 
verdadeira fé, iluminada pela temperatura do amor. É a confiança que requer reparo. 
Assim sucede com todas as virtudes conhecidas e, por vezes, vividas por nós. 
Estudemosa harmonia do Universo, meditemos sobre ela, pedindo ao Mestre 
que nos ajude a compreender esse equilíbrio divino, porque se entrarmos em plena 
ressonância com a Criação, sanar-se-ão todos os problemas, serão desfeitas as 
dificuldades e todos os infortúnios cessarão. Somente depois disso, pelas vias da 
sensibilidade e pelo porte espiritual que escolhermos para viver, é que teremos a 
resposta mais exata sobre que é Deus. 
Conhecer e amar são duas metas que não poderemos esquecer em todos os 
nossos caminhos. Estes dois estados d’alma abrir-nos-ão as portas da felicidade, pelas 
quais poderemos viver em pleno céu, mesmo estando andando e morando na Terra. A 
Suprema Inteligência está andando conosco e falando constantemente aos nossos 
ouvidos, em todas as dimensões do entendimento, porém, nós ainda estamos surdos aos 
seus apelos e passamos a sofrer as conseqüências da nossa ignorância. Todavia, o 
intercâmbio entre os dois mundos acelera uma dinâmica sobremodo elevada a respeito 
das coisas divinas, para melhor compreensão daqueles que dormem; é o Cristo, como 
guia visível através das mensagens, toca os clarins da eternidade anunciando novo dia 
de libertação das criaturas, mostrando onde está Deus e que Ele nos espera, filhos do 
seu coração, de braços abertos como Pai de amor. 
 
 
A Providência 
 
A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Deus está por 
toda parte e tudo vê, tudo preside, mesmo as menores coisas, é nisso que consiste a 
ação providencial. 
“Como é que Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, pode se 
imiscuir em detalhes ínfimos, preocupar-se com os menores atos e os menores 
pensamentos de cada indivíduo? Tal é a questão que o incrédulo se coloca, donde conclui 
que, em admitindo a existência de Deus, sua ação não deve se estender senão sobre as 
leis gerais do Universo; que o Universo funciona de toda a eternidade em virtude dessas 
leis, às quais cada criatura está submetida em sua esfera de atividade, sem que seja 
necessário o concurso incessante da Providência”. 
Em seu estado atual de inferioridade, os homens não podem, senão dificilmente, 
compreender Deus infinito, porque o figuram restrito e limitado, igual a eles; 
representando como um ser circunscrito, e dele fazem uma imagem à sua imagem. 
Nossos quadros que o pintam sobre traços humanos não contribuem pouco para manter 
esse erro no espírito das massas, que adoram nele, mais a forma do que o pensamento. 
Para a maioria é um soberano poderoso, num trono inacessível, perdido na imensidão 
dos céus; e, porque suas faculdades e suas percepções são limitadas, não compreendem 
que Deus possa ou se digne intervir, diretamente, nas pequenas coisas. 
Na impossibilidade que está o homem de compreender a própria essência da 
Divindade, não pode dela fazer senão uma idéia aproximada, com a ajuda de 
comparações, necessariamente, muito imperfeitas, mas, que podem, pelo menos, 
mostrar-lhe a possibilidade daquilo que, à primeira vista, parece-lhe impossível. 
Suponhamos um fluido bastante sutil para penetrar todos os corpos; esse fluido, 
sendo ininteligente, age mecanicamente, tão só pelas forças materiais; mas, se 
supusermos esse fluido dotado de inteligência, de faculdades perceptivas e sensitivas, ele 
agirá, não mais cegamente, mas, com discernimento, com vontade e liberdade; verá, 
entenderá e sentirá. 
As propriedades do fluido perispiritual podem nos dar uma idéia disso. Ele não é 
inteligente, por si mesmo, uma vez que é matéria, mas é o veículo do pensamento, das 
sensações e das percepções do Espírito. 
O fluido perispiritual, não é o pensamento do espírito, mas o agente e 
intermediário desse pensamento; como é ele que o transmite, dele está, de certa forma, 
impregnado, e, na impossibilidade, que estamos, de isolá-lo, parece não formar senão 
um com o fluido, do mesmo modo que o som parece não formar senão um com o ar, de 
sorte que podemos, por assim dizer, materializá-lo. Do mesmo modo que dizemos que o 
 
 19 
ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito pela causa, dizer que o fluido se torna 
inteligente. 
Que ocorra assim, ou não, com o pensamento de Deus, quer dizer, que ele atue 
diretamente ou por intermédio de um fluido, para facilidade de nossa inteligência, 
representemo-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente, preenchendo o Universo 
infinito, penetrando todas as partes da criação: a natureza inteira está mergulhada no 
fluido divino; ora, em virtude do princípio de que as partes de um todo são da mesma 
natureza, e tem as mesmas propriedades do todo, cada átomo desse fluido, se pode 
exprimir-se assim, possuindo o pensamento, quer dizer, os atributos essenciais da 
Divindade, e esse fluido estando por toda parte, tudo está submetido à sua ação 
inteligente, à sua previdência, à sua solicitude; não há um ser, por ínfimo que se o 
suponha, que, dele não esteja de algum modo saturado. Estamos, assim, 
constantemente em presença da Divindade; não há uma única das nossas ações, que 
possamos subtrair ao Seu olhar; o nosso pensamento está em contato com o Seu 
pensamento, e é com razão que se diz que Deus lê nas mais profundas dobras do nosso 
coração. Estamos Nele, como Ele está em nós, segundo a palavra do Cristo. 
Para estender sua solicitude sobre todas as criaturas, Deus não tem, pois, 
necessidade de mergulhar seu olhar do alto da imensidade; as nossas preces, para 
serem ouvidas por Ele, não têm necessidade de cortarem o espaço, nem de serem ditas, 
com voz retumbante, porque, incessantemente ao nosso lado, os nossos pensamentos 
repercutem Nele. Os nossos pensamentos são iguais aos sons de um sino, que fazem 
vibrar todas as moléculas do ar ambiente. Longe de nós o pensamento de materializar a 
Divindade; a imagem de um fluido inteligente universal não é, evidentemente, senão 
uma comparação, mais própria para dar uma idéia mais justa de Deus, do que os 
quadros que o representam sob figura humana; ela tem por objeto fazer compreender a 
possibilidade, para Deus, de estar por toda parte e de se ocupar de tudo. 
Compreendemos o efeito, já é muito; do efeito remontamos à causa, e julgamos 
da sua grandeza pela grandeza do efeito; mas a sua essência íntima nos escapa, igual a 
da causa de uma multidão de fenômenos. Conhecemos os efeitos da eletricidade, do 
calor, da luz, da gravidade; calculamo-los e, no entanto, ignoramos a natureza íntima do 
princípio que os produziu. É, pois, mais racional, negar o princípio divino, porque não o 
compreendemos? 
Nada impede admitir, para o princípio de soberana inteligência, um centro de 
ação, um foco principal irradiando, sem cessar, inundando o Universo com seus fluidos, 
do mesmo modo que o Sol com a sua luz. Mas onde está esse foco? É o que ninguém 
pode dizer. É provável que esteja mais fixado em um ponto determinado do que não 
esteja a sua ação, e que percorra, incessantemente, as regiões do espaço sem limites. 
Se simples espíritos têm o dom de ubiqüidade, essa faculdade, em Deus, deve ser sem 
limites. Deus, preenchendo o Universo, poder-se-ia, ainda admitir, a título de hipótese, 
que esse foco não tem necessidade de se transportar, e que se forma sobre todos os 
pontos, onde a soberana vontade julgue a propósito produzir-se, de onde se poderia 
dizer que ele está por toda parte e em parte alguma. 
Diante desses problemas insondáveis, a nossa razão deve se humilhar. Deus 
existe; disso não poderemos duvidar; é infinitamente justo e bom; é a sua essência; a 
sua solicitude se estende a todos; compreendemo-lo; não pode, pois, querer senão o 
nosso bem, e é por isso que devemos ter confiança Nele: eis o essencial; quanto ao 
mais, esperemos que sejamos dignos de compreende-lo. 
 
 
A Grandeza do Infinito 
 
O infinito, como que desconhecido para todos nós, é a causa de Deus, cujas 
divisões escapam aos nossos sentidos, mesmo os mais apurados. O Pai Celestial está, 
por assim dizer, no centro de todas as coisas que existem e, ainda mais, se encontra 
onde achamos a permanência donada. 
Se acreditamos somente naquilo que vemos e que tocamos, somos os mais 
infortunados dos seres, pois, desta forma agem também os animais. A razão nos diz, e a 
ciência confirma pelas inúmeras experiências dos próprios homens, que o desconhecido 
 
 20 
tem maior realidade. O que as almas encarnadas não vêem e não podem tocar definem a 
existência de força energética, senão inteligência exuberante, capaz de nos mostrar a 
verdadeira grandeza do infinito em todas as direções do macro e do microcosmo. 
Se sentimos dificuldade para definir o que é a vida, certamente não sabemos 
explicar o que é o infinito, que está configurado na ordem dos mistérios de Deus. 
Compete a nós outros darmos as mãos em todas as faixas da existência a alistarmo-nos 
na escola do Senhor sem perda de tempo, sem desprezar o espaço a nós oferecido, por 
misericórdia do Criador. 
Estamos situados em baixa escala, no pentagrama evolutivo. Falta-nos a 
capacidade de discernir certas leis que regem o Universo, como as leis menores que nos 
sustentam todos em plena harmonia, como microvidas nos céus da Divindade. Devemos 
estudar constantemente, cada vez mais, no grande livro da natureza, cujas páginas 
somente encontraremos abertas, pela visão do amor. Nada errado existe na lavoura 
universal, o erro está em quem o encontra. Basta pensarmos que o perfeito nada faz 
sem o timbre da sua perfeição, para crermos que tudo se encontra onde deve estar e 
onde a vontade do Senhor desejar. 
Vivemos em um mundo de duras provas, de reajustes em busca da harmonia. O 
Cristo é a porta dessa felicidade, nos ensinando a conquistar este estado d’alma com as 
nossas próprias forças, porque Deus sempre faz primeiro a sua parte em nosso favor, em 
favor de todos os seus filhos. Ninguém é órfão da Bondade Suprema. 
O infinito é infinito para nós; para Deus é o seu Lar, onde vibra o amor e onde o 
perfume exalante é a alegria na sua pureza singular. É de ordem comum nos planos 
superiores que devemos começar pelas lições mais elementares, que nos despertam o 
coração, primeiramente, para a luz do entendimento. 
Querer buscar entender o profundamente desconhecido, sem se iniciar nos 
rudimentos da educação espiritual, é perder tempo e andar nas perigosas e escuras 
estradas da ignorância. Se queremos conhecer alguma coisa, no que se refere ao infinito, 
principiemos na auto-educação dos costumes, observando quem já fez este trabalho, e 
copiemos suas lutas, que os céus da nossa mente abrir-se-ão e as claridades da 
sabedoria universal nos banharão com o esplendor da conscientização da verdade. 
Quem deixa para depois o conhecimento de si mesmo e tenta a 
sabedoria exterior, desconhece a verdadeira porta da felicidade. Cada Espírito é 
um mundo, um universo em miniatura, onde mora Deus e vibram todas as suas leis, em 
ação compatível com o tamanho da individualidade. Assim, para entender o infinito da 
Criação, necessário se faz começar a entender o infinito da alma. 
 
 
Materialismo 
 
Bem poucos são aqueles que não cuidam do dia de amanhã. Se inquieta com o 
que possa vir depois de um dia de vinte e quatro horas, com sobrada razão deve 
preocupar-se com o que será depois do grande dia da vida, porque não se trata de 
alguns instantes, mas da eternidade. 
Viveremos ou não depois daquele dia? Não há que fugir, é questão de vida ou 
de morte, é a suprema alternativa! 
Se se interroga o senso íntimo da quase universalidade dos homens, todos 
responderão: “viveremos”. 
Esta esperança é para eles uma consolação. Entretanto, esforça-se uma 
pequena parte, sobretudo depois de algum tempo, por provar que não viveremos. Esta 
escola faz prosélitos, força a confessá-lo e principalmente no seio daqueles que, temendo 
a responsabilidade do futuro, acham mais cômodo gozar do presente, sem 
constrangimento, sem se perturbar com a perspectiva das conseqüências. Não passa, 
porém isto, de opinião de um pequeno número. 
Se vivermos, como havemos de viver? Em que condições viveremos? Aqui os 
sistemas variam, segundo as crenças religiosas e filosóficas. 
 
 
 
 21 
Doutrina Materialista 
 
A inteligência do homem é uma propriedade da matéria, nasce e morre com o 
organismo. O homem é tão nada antes, como é nada depois da vida corporal. 
Não sendo senão matéria, o homem não tem de reais e de invejáveis senão os 
gozos materiais; as aflições morais são efêmeras, os laços morais, a morte os rompe 
para sempre; as misérias da vida não têm compensação; o suicídio deve ser o fim 
racional e lógico da existência, quando não há esperança de melhoria para os 
sofrimentos. É inútil qualquer constrangimento para vencer ruins inclinações; deve viver 
para si, o melhor possível, enquanto dura a vida terrestre; é estupidez contrariar-se e 
sacrificar comodidades e bem-estar por amor a alguém, isto é, por quem há de ser 
aniquilado também; os deveres sociais ficam sem fundamento, o bem e o mal são coisas 
inventadas e a contenção social fica reduzida à ação material da lei civil. 
O materialismo firmando-se como nunca o fizera em época alguma, dando-se 
como regulador supremo dos destinos morais da humanidade, assombrou as massas 
pelas conseqüências inevitáveis das suas doutrinas com relação à ordem social. Por essa 
razão, provocou, em favor das idéias espiritualistas, uma enérgica reação, que deve dar-
lhe a medida do quanto está longe de possuir simpatias tão gerais como supõe, e do 
quanto se ilude, esperando poder um dia dar leis ao mundo. 
É incontestável que as crenças espiritualistas do tempo passado são 
insuficientes para o atual, não se acham ao nível intelectual da nossa geração e são, em 
muitos pontos, contraditos pelos dados seguros da ciência, sustentam idéias 
incompatíveis com as necessidades positivas da sociedade moderna, incorrem, além 
disso, na grande falta de impor-se pela fé cega e proscrever o livre exame. Daí, sem a 
menor dúvida, o desenvolvimento da incredulidade na maior parte dos homens. 
Naturalmente que se eles fossem criados e educados com idéias mais tarde, 
confirmadas pela razão, nunca seriam incrédulos. Quantos, aceitando o Espiritismo, nos 
têm dito: “se nos tivesses sempre apresentado Deus, a alma e a vida futura de maneira 
racional, nunca teríamos duvidado”. Por se haver em princípio recebido má ou falsa 
aplicação, é razão para que o rejeitem? 
As coisas espirituais são como a legislação e todas as instituições; precisam 
acomodar-se aos tempos, sob pena de sucumbirem. 
Em vez de apresentar algo melhor que o velho espiritualismo, preferiu o 
materialismo, tudo suprimir, dispensando-se de procurar a verdade, o que parecia mais 
cômodo àqueles a quem era importuna a idéia de Deus e da vida futura. 
Há na atualidade, um determinado partido contra as idéias espiritualistas em 
geral, dos quais naturalmente participa o Espiritismo. O que procuram, não é um Deus 
melhor e mais justo, é o deus-matéria, menos modesto, porque ninguém lhe precisa 
prestar constas. 
Ninguém nega a esse partido o direito de opinião e o de discutir as dos outros; 
mas não se lhe pode autorizar a pretensão, bem singular de homens, que se dão por 
apóstolos da liberdade, de impedir que os outros creiam a seu modo e discutam as 
doutrinas de que não compartilham. Intolerância por intolerância, tanto vale a das velhas 
crenças, como a do moderno materialismo. 
 
 
Panteísmo 
 
O princípio inteligente, independente da matéria está espalhado por todo o 
Universo, mas individualiza-se em cada ser durante a vida, e volta, pela morte, à massa 
comum, como voltam ao oceano as águas da chuva. 
Sem individualidade e sem consciência de si mesmo, o ser é como se não 
existisse. As conseqüências morais dessa doutrina são exatamente as mesmas do 
materialismo. 
 
OBS: Um determinado número de panteístas admite que a alma, aspirada, ao nascer, do 
todo universal, conserva a sua individualidade por tempo definido, não voltando à massa 
geral senão depois de ter alcançado o último grau de perfeição. As conseqüências desta 
 
 22 
variedadede crenças são absolutamente as mesmas que as da doutrina panteísta, 
propriamente dita, porque é completamente inútil todo trabalho para adquirir 
conhecimentos, dos quais se perderá a consciência, aniquilando-se a alma depois de um 
tempo relativamente curto. 
Há os que acham que todos os corpos da natureza, todos os seres, todos os 
globos do Universo seriam parte da Divindade e constituiriam, pelo seu conjunto, a 
própria Divindade. 
Não podendo ser Deus, o homem quer pelo menos ser uma parte de Deus. Essa 
doutrina faz de Deus um ser material, que embora dotado de inteligência suprema, seria 
um ponto grande aquilo que somos em ponto pequeno. Ora, a matéria se transformando 
sem cessar, Deus, nesse caso não teria nenhuma estabilidade e estaria sujeito a todas as 
vicissitudes e mesmo a todas necessidades da humanidade; faltar-lhe-ia um dos 
atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. As propriedades da matéria não 
podem ligar-se a idéia de Deus, sem que o rebaixemos em nosso pensamento, e todas as 
sutilezas do sofisma não conseguirão resolver o problema da sua natureza íntima. Não 
sabemos tudo o que Ele é, mas sabemos aquilo que não pode ser, e este sistema está 
em contradição com as suas propriedades mais essenciais, pois confunde o Criador com 
a criatura, precisamente como se quiséssemos que uma máquina engenhosa fosse parte 
do mecânico que a concebeu. 
A inteligência de Deus se revela nas suas obras, como a de um pintor em seu 
quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, como o quadro não é o pintor 
que o concebeu e executou. 
 
 
Bibliografia: 
Obras Póstumas – Allan Kardec 
O Livro dos Espíritos - Allan Kardec 
Filosofia Espírita – João Nunes Maia/Miramez 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 23 
 
 
ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA 
 
Aula 05 
 
Elementos Gerais do Universo 
 
 
Espírito 
 
É o princípio inteligente do Universo. 
 
 
O Livro dos Espíritos: 
 
23. Qual a sua natureza íntima? 
- Não é fácil analisar o espírito na vossa linguagem. Para vós, ele não é nada, 
porque não é coisa palpável; mas para nós, é alguma coisa. Ficai sabendo: 
nenhuma coisa é o nada e o nada não existe. 
 
24. Espírito é sinônimo de inteligência? 
- A inteligência é um atributo essencial do espírito; mas um e outro se 
confundem num princípio comum, de maneira que, para nós, são uma e a 
mesma coisa. 
 
25. O espírito é independente da matéria, ou não é mais do que uma 
propriedade desta, como as cores são propriedades da luz e o som uma 
propriedade do ar? 
- São distintos, mas é necessária a união do espírito e da matéria para dar 
inteligência a esta. 
 
Para vós essa união é necessária para a manifestação do espírito, porque não 
estais organizados para perceber o espírito sem a matéria, vossos sentidos não foram 
feitos para isso. O espírito pode ser conhecido sem a matéria e esta sem o espírito, pelo 
pensamento. 
Há no Universo dois elementos gerais: a matéria e o espírito, e acima de 
ambos Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Essas três coisas são o princípio de tudo 
que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material é necessário ajuntar o fluido 
universal, que exerce o papel do intermediário entre o espírito e a matéria propriamente 
dita, demasiado grosseira para que o espírito possa exercer alguma ação sobre ela. 
 
 
Matéria 
 
A matéria é o liame que escraviza o espírito, é o instrumento que ele usa, e 
sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce essa ação. 
Do vosso ponto de vista é definida como aquilo que tem extensão, pode 
impressionar os sentidos e é impenetrável porque só falais daquilo que conheceis, mas a 
matéria existe em estados que não percebeis. Ela pode ser, por exemplo, tão etérea e 
 
 24 
sutil que não produza nenhuma impressão nos vossos sentidos: entretanto, será sempre 
matéria, embora não o seja para vós. 
 
 
Propriedades da Matéria 
 
A ponderabilidade é um atributo essencial da matéria como a entendeis, mas 
não da matéria considerada como fluido universal. A matéria etérea e sutil que forma 
esse fluido é imponderável para vós, mas nem por isso deixa de ser o princípio da vossa 
matéria ponderável. A ponderabilidade é uma propriedade relativa. Fora das esferas de 
atração dos mundos, não há peso, da mesma maneira que não há alto nem baixo. 
A matéria é formada de um só elemento primitivo. Os corpos que considerais 
como corpos simples não são verdadeiros elementos, mas transformações da matéria 
primitiva. 
As diferentes propriedades da matéria provêm das modificações que as 
moléculas elementares sofrem, ao se unirem, e em determinadas circunstâncias. 
De acordo com isso o sabor, o odor, as cores, as qualidades venenosas ou 
salutares dos corpos não são mais do que modificações de uma única e mesma 
substância primitiva e só existem pela disposição dos órgãos destinados a percebê-los. 
 
OBS: Esse princípio é demonstrado pelo fato de nem todos perceberem as qualidades 
dos corpos da mesma maneira: enquanto um acha uma coisa agradável ao gosto, outro 
a acha má; o que para uns é venenosa, para outros é inofensivo ou salutar. 
A mesma matéria elementar é suscetível de passar por todas as modificações e 
adquirir todas as propriedades, por isso dizemos que tudo está em tudo. 
 
EXEMPLO: Este princípio explica o fenômeno conhecido de todos os magnetizadores, 
que consiste em dar, pela vontade, a uma substância qualquer, a água por exemplo, as 
mais diversas propriedades: um gosto determinado, e mesmo as qualidades ativas de 
outras substâncias. 
Uma modificação análoga pode produzir-se pela ação magnética, dirigida pela 
vontade, assim a água que é formada de uma parte de oxigênio e duas de hidrogênio, 
torna-se corrosiva, se duplicarmos a proporção do oxigênio. 
 
 
Fluido Universal 
 
O fluido cósmico é o princípio elementar de todas as coisas, da qual as 
modificações e transformações constituem a inumerável variedade de corpos da 
natureza. 
Quanto ao princípio elementar universal, ele oferece dois estados distintos: 
 
Eterização ou Imponderabilidade, pode se considerar como o estado normal 
primitivo, não é uniforme, sem deixar de ser etéreo, ele sofre modificações bastante 
variadas em seu gênero, mais numerosas talvez que no estado de matéria tangível. 
Essas modificações constituem os fluidos diferentes, que estão dotados de propriedades 
especiais e dão lugar aos fenômenos particulares do mundo invisível. 
 
OBS: tudo sendo relativo, esses fluidos têm para os espíritos, que são eles mesmos 
fluídicos, uma aparência tão material quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados 
e são para eles o que são para nós as substâncias do mundo terrestre. Eles os elaboram, 
os combinam para produzirem efeitos determinados, como fazem os encarnados com 
seus materiais, todavia, por procedimentos diferentes. Mas lá como aqui, não é dado 
senão aos espíritos mais esclarecidos compreenderem o papel dos elementos constituídos 
de seu mundo. Os ignorantes do mundo invisível são tão capazes de explicar os 
fenômenos de que são testemunhas quanto os ignorantes da Terra o são para explicarem 
os efeitos da luz ou da eletricidade. 
 
 
 25 
Materialização ou Ponderabilidade, não é senão um estado transitório do 
fluido universal que pode retornar ao seu estado primitivo quando as condições de 
coesão deixam de existir. 
O fluido universal é o elemento de onde eles retiram os materiais sobre os quais 
operam, é o meio onde se passam os fenômenos especiais, perceptíveis à visão e ao 
ouvido do espírito, e que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis unicamente pela 
matéria tangível. 
É nessa atmosfera que se forma a luz particular ao mundo espiritual, diferente 
da luz ordinária por suas causas e efeitos, é enfim o veículo do pensamento como o ar é 
o veículo do som. 
Os espíritos agem sobre os fluidos, não os manipulando como os homens 
manipulam os gases, mas com a ajuda do pensamento e da vontade. O pensamento e a 
vontade são para o espírito o

Continue navegando