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Estudo de Caso- A violência Psicologica contra a Mulher

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Anexo de pesquisa social - Sociologia Jurídica e o Estudo de Caso sobre o tema
violência psicológica contra mulher.
A violência é um tema muito abrangente. Historicamente, é caracterizada como um
fenômeno social que pode ser analisada pelo viés antropológico, jurídico, sociocultural,
psicológico e biológico, ou seja, a violência é multicausal. Nesse estudo de caso, iremos tratar
especificamente sobre um tipo de violência: a violência psicológica. As consequências da
violência psicológica tendem a atingir áreas significativas da vida de todos os envolvidos,
como a carreira profissional, os vínculos familiares e sociais.
Mas, afinal, o que é a violência psicológica?
De acordo com a Lei Maria da Penha – Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Art. 7 São
formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional
e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou
que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante,
perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito
de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação;
A violência psicológica é um grave problema social que afeta milhares de mulheres em todo
mundo. Trata-se de uma forma de violência de difícil identificação, pois o dano não é físico
ou material. Muitas vítimas não se dão conta de que estão sofrendo danos emocionais. As
agressões psicológicas acontecem de variadas formas, podendo ser mais violentas ou mais
sutis. Como a diversidade de ações violentas é grande, a vítima pode ficar confusa ao tentar
identificar o que é problemático e o que é da personalidade do agressor.
O agressor comumente consegue fazer a cabeça dela, criando um laço de dependência difícil
de ser quebrado, o que impede que a vítima termine a relação tóxica, seja ela romântica,
profissional, familiar ou de amizade. Outras esferas da vítima também são afetadas. Ela deixa
de trabalhar com afinco, de fazer amizades,de cuidar da saúde, da aparência, de sair de casa
(quando dividem moradia com o agressor é comum que isso aconteça), visto que, pela
ausência de uma ocupação faz com que essas mulheres dependam economicamente de seus
companheiros. Quem está por fora pode não entender a decisão da mulher de permanecer ao
lado do agressor. É assim que surgem concepções errôneas acerca de relacionamentos
doentios, tais como “ ela gosta de sofrer”. Na verdade, a vítima precisa de ajuda psicológica e
apoio para se reerguer e conseguir deixar esse relacionamento abusivo.
Para a construção de uma indagação relacionada ao estudo de caso em análise, considere a
exemplificação de um caso individual hipotético de violência psicológica contra mulher:
Larissa, de 23 anos, estudante de direito, relatou em uma pesquisa feita pela universidade que
durante o período que morou com os pais foi bastante conturbado, presenciava violências
diárias. No decorrer de sua infância e adolescência, presenciou muitas cenas de violência
física, mas, principalmente, violência psicológica na relação de seus pais. Ela relatou que no
relacionamento conjugal dos pais havia muita briga, que o pai bebia e quando chegava em
casa batia nela e nos irmãos.
Ao sair da casa dos pais, Larissa conheceu seu ex-marido. Eles namoraram durante três
meses e, em seguida, resolveram morar juntos. O casal ficou junto por dois anos, porém,
neste período ocorreram vários episódios de violência doméstica, tanto física, quanto
psicológica que deram-se principalmente pelos xingamentos e humilhações, além de relatar
ter sentido-se abandonada e pouco valorizada pelo marido em muitos momentos. Larissa
acreditava que as atitudes de seu ex eram demonstração de amor, que aquelas atitudes eram
por causa da sua “personalidade forte”, e que mesmo depois de identificar que estava sendo
vítima de violência não conseguia sair desse relacionamento pois dependia economicamente
do seu parceiro.
Ao analisar esse caso hipotético, podemos concluir que algumas mulheres permanecem
numa relação conjugal violenta em que são vítimas, sem que adquiram consciência da sua
vitimização, em consequência, não tomam as desejáveis iniciativas no sentido da cessação do
abuso. Durante muito tempo Larissa presenciou a violência, seja no relacionamento com seus
pais, seja no relacionamento conjugal, no entanto teve dificuldade de identificar os atos de
violência, pois ela já estava acostumada em presenciar aquele cenário. Em situação
semelhante a da Larissa, muitas mulheres também dependem financeiramente do
companheiro, o que as torna vulneráveis e dificulta a saída nesse tipo de relacionamento.
Ser vítima de violência psicológica sem ocorrência de violência física e a própria situação
de abuso, são fatores externos à mulher que também podem contribuir para que esta não
interprete enquanto tal a situação de violência a que é submetida. E na maior parte das vezes,
a violência física só surge quando a mulher resiste à violência psicológica. Sendo assim, o
presente trabalho tem como objetivo responder algumas indagações, quais são as
características comuns em vítimas de violência psicológica? Quais são os fatores sociais
e culturais que influenciam a prevalência da violência psicológica contra mulheres?
Análise de dados estatísticos referentes a violência psicológica
No período de 2011 a 2021 foram mais de 655 mil casos notificados de violência
psicológica no Brasil, representando 21,3% de todas as violências. Neste período, o país teve
mais de três milhões de casos de violências (física, psicológica/moral, tortura, sexual,
negligência/abandono) registrados no DATASUS.
De todas estas notificações, a violência “física” foi a mais notificada, com um percentual de
54,4%, seguida, então pela “violência psicológica”, “negligência/abandono” com 10,9%,
violência “sexual” com 11,2% e a “tortura” foi a menos notificada, com 2,2%. Em relação
aos casos de violência psicológica, 83,8% foram vítimas do sexo feminino, 16,1% foram as
vítimas do sexo masculino e apenas 0,02% das notificações tiveram o sexo ignorado. Este
dado mostra que as mulheres são as vítimas mais atingidas pela violência psicológica. Na
figura 1, apresenta-se os casos notificados como violência psicológica classificados por idade
e sexo das vítimas.
Observa-se também, que os casos notificados de violência estão classificados de acordo com
a raça das vítimas. Para esta classificação, as notificações em que a raça foi ignorada ou
deixada em branco, representam 8,08% do total de notificações e foram retiradas dos dados,
como pode ser visto na Figura 2.
Os resultados revelam que a raça branca é a que mais denuncia a violência psicológica,
todavia, não necessariamente é a mais atingida. Visto que esses achados denotam
exclusivamente as notificações de violências psicológicas sofridas.
Fonte: periodicos.ufn.edu.br
DF: 84% dos casos de agressão a mulheres são de violência psicológica.
Casos nos quais a violência verbal evolui para agressão física são mais comuns do que
parece. Apesar de tapas ou socos serem a primeira representação quando se trata de violência
contra mulher, não é apenas a agressão física que define um relacionamento abusivo.
Analisando todas as propostas para elaboração desse estudo de caso, chegou o momento da
elaboração de hipóteses. Com base nos dados e estatísticas postos na desenvoltura do
trabalho, é nítido que a violência psicológica ocorre, e é mais recorrente quando a vítima é
mulher, mesmo não estando explícito o local onde ocorre a violência psicológica os dados
mostram que esse tipo de violência é contra mulher, pois na maioria das vezes o agressor, se
sente superior a vítima e mesmo que não chegue a praticar violência física, faz diversos
comentáriose usa expressões que são próprias da violência psicológica fazendo com que a
vítima sinta-se inferior.
Podemos destacar também que esse tipo de violência foi mais recorrente na pandemia, haja
vista, que devido ao isolamento social as vítimas tiveram uma convivência em tempo integral
com os agressores. Por exemplo, um casal que divide sua vida morando na mesma residência,
esse casal está constantemente juntos, então a probabilidade da vítima sofrer violência
psicológica é gigantesca.
Outra hipótese que pode ser apresentada em relação às características comuns de vítimas da
violência psicológica é o fato da relação da violência psicológica com a etnia, dados
comprovam que mulheres negras sofrem mais violência psicológica do que mulheres brancas,
( apesar de serem as que menos denunciam), por exemplo, em uma empresa, no dia a dia de
um ambiente de trabalho, em um setor onde exista o chefe geral (um homem) a gerente
(mulher branca) e a funcionária (mulher negra), podendo ser de forma involuntária ou não, a
mulher negra sofre uma pressão muito maior do que a branca, é claro que podemos levar em
consideração o fato hierárquico de funções, mas qual a necessidade de fazer pressão
psicológica com um mulher? E em específico com uma mulher negra?
São esses os questionamentos que vêm à tona, os dados comprovam que existe essa
diferença na prática da violência, o ambiente de trabalho é um local muitas vezes estressante,
mas sabemos que coisas são ditas nesse meio e é como me expressei anteriormente, pode ser
de forma involuntária mas a violência psicológica está presente nesse local, atinge sempre
aquele que, na concepção do gestor da empresa é um “alvo fraco”, algo para amenizar e
consertar essa situação de forma rápida ainda está em processo, pois nesse exemplo, é uma
relação de trabalho onde existem variáveis que possam impedir a vítima de realizar uma
denuncia, então é preciso de medidas implantadas na empresa, pois além da violência
psicológica o racismo também está presente neste caso.
Uma hipótese em relação aos fatores sociais e culturais que influenciam a prevalência da
violência psicológica contra mulheres são, por exemplo, as consequências históricas. Durante
muitos séculos as mulheres são vítimas de violência, apenas pelo fato de serem mulheres,
essas experiências acumuladas ao longo do tempo podem ter efeitos duradouros na forma
como as mulheres são tratadas e na prevalência desse tipo de violência. Em muitas
sociedades, ainda existem normas de gênero que perpetuam a desigualdade e a submissão das
mulheres. Isso pode levar à ideia de que as mulheres são inferiores aos homens e devem ser
controladas. O machismo e a misoginia são atitudes que também influenciam a prevalência
desse tipo de violência, são atitudes enraizadas na sociedade, que consideram as mulheres
como inferiores e propriedade dos homens.
Desse modo, fazendo uma breve explicação da relação causal entre as 2 hipóteses
apresentadas e os dados estatísticos, podemos concluir que a violência psicológica contra
mulheres pretas é uma realidade preocupante e merece atenção, é importante reconhecer que
mulheres pretas muitas vezes enfrentam uma interseção de discriminação racial e de gênero,
o que pode agravar a violência psicológica que enfrentam. O Racismo e a violência
psicológica contra mulheres pretas podem ser alvo de abuso psicológico que é enraizado no
racismo estrutural e nos estereótipos raciais. Isso pode incluir insultos raciais, humilhação
com base na cor da pele ou textura do cabelo, além de outras formas de discriminação que
têm um impacto psicológico profundo.
Os estereótipos e invisibilidade também são um nexo de causalidade com as mulheres pretas
que muitas vezes enfrentam estereótipos negativos que as retratam como agressivas,
promíscuas, menos inteligentes ou menos atraentes. Esses estereótipos podem ser utilizados
para desvalorizar, diminuir e manipular psicologicamente as mulheres pretas, causando danos
emocionais significativos. É fundamental combater o racismo, a discriminação de gênero e a
violência psicológica em todas as suas formas, garantindo o respeito, a igualdade e a
valorização das mulheres pretas.
A violência psicológica geralmente ocorre também em situações em que há uma dinâmica
de poder desigual, na qual o agressor busca exercer controle e domínio sobre a vítima. Isso
pode ocorrer em relacionamentos íntimos, no ambiente de trabalho, na família ou em outras
configurações sociais. Os agressores também muitas vezes isolam as vítimas de sua rede de
apoio, limitando seu contato com amigos, familiares e outras fontes de suporte. Isso torna
mais difícil para as vítimas buscar ajuda e escapar do ciclo de violência. É importante lembrar
que cada caso é único, e essas características não se aplicam a todas as vítimas de violência
psicológica. Além disso, é fundamental abordar a violência psicológica como um problema
sistêmico, trabalhando na prevenção, educação e no fortalecimento das leis e políticas para
garantir a proteção das vítimas e responsabilizar os agressores.
Conclusão
Ao final deste trabalho, podemos concluir que a violência psicológica contra mulher é um
grave problema social que precisa ser combatido de forma eficaz. Que apesar dos avanços na
luta pelos direitos das mulheres e na conscientização sobre a gravidade da violência
psicológica, ainda vemos muitos casos de violência, além de uma cultura que, em muitos
casos, ainda naturaliza e minimiza esses tipos de violência.
Dessa forma, é importante trabalhar para conscientizar a sociedade sobre essa questão e para
implementar políticas e medidas que possam prevenir e combater esse tipo de violência. É
preciso investir em políticas públicas que promovam a igualdade de gênero e o respeito aos
direitos humanos. Além da Lei Federal n.º11.340/2006, chamada de Lei Maria da Penha,
existem outros dispositivos de proteção como a Constituição Federal e os Tratados
Internacionais. Por se tratar de uma violência "invisível", que não deixa marcas físicas, no
entanto violam os Direitos Humanos das mulheres, a violência psicológica é difícil de ser
analisada e penalizada, por esse motivo, é papel do Estado trabalhar em políticas de
assistência e prevenção eficazes.
A Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres, adotada pela Assembleia
Geral das Nações Unidas em 1993, reconhece que a violência contra as mulheres constitui
uma violação dos direitos humanos e uma forma de discriminação de gênero. A Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW), um
tratado internacional adotado em 1979, também estipula que a violência contra as mulheres
inclui violência baseada no gênero que resulta ou tem potencial de causar danos físicos,
psicológicos ou mentais.
Em suma, a comunidade internacional reconhece que a violência psicológica contra as
mulheres é uma violação dos direitos humanos e trabalha para prevenir e combater essa
forma de abuso, promovendo a igualdade de gênero e garantindo a proteção dos direitos das
mulheres. Sendo assim, é essencial que a pesquisa social e a avaliação equilibrada e imparcial
continuem sendo realizadas para ampliar o conhecimento sobre esse problema e, dessa forma,
trabalhar para combatê-lo de forma mais eficaz. É importante que haja uma redução da
violência psicológica contra a mulher e que a sociedade como um todo passe a enxergar essa
questão como uma violação grave dos direitos humanos.

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