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Língua Portuguesa Etapa Ensino Médio O cortiço e o Naturalismo 2ª SÉRIE Aula 11 – 3º Bimestre (EM13LP01) Relacionar o texto, tanto na produção como na leitura/escuta, com suas condições de produção e seu contexto sócio-histórico de circulação (leitor/audiência previstos, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, época, gênero do discurso etc.), de forma a ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de análise crítica e produzir textos adequados a diferentes situações. (EM13LP48) Identificar assimilações, rupturas e permanências no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. Tempo sugerido para as seções Para começar: 3 minutos Foco no conteúdo: 20 minutos Na prática: 15 minutos Aplicando: Para casa O cortiço, de Aluísio Azevedo; O romance naturalista; Contexto histórico. Analisar um trecho literário naturalista; Retomar o contexto histórico da segunda metade do século XIX; Conhecer as características do Naturalismo. Conteúdo Objetivos (EM13LP01) Relacionar o texto, tanto na produção como na leitura/escuta, com suas condições de produção e seu contexto sócio-histórico de circulação (leitor/audiência previstos, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, época, gênero do discurso etc.), de forma a ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de análise crítica e produzir textos adequados a diferentes situações. (EM13LP48) Identificar assimilações, rupturas e permanências no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. Tempo sugerido para as seções Para começar: 3 minutos Foco no conteúdo: 20 minutos Na prática: 15 minutos Aplicando: Para casa O século XIX Você já parou para pensar como somos influenciados pelo que aconteceu dois séculos atrás? Seja na Política, na Arte, na Medicina, na Educação ou na Literatura? Já refletiu sobre o fato de que cada escola literária nos mostra uma forma de olhar o mundo? Para começar Fonte da imagem: https://www.gettyimages.com.br/detail/foto/fleet-street-19th-century-london-imagem-royalty-free/1432962998?phrase=s%C3%A9culo+XIX&adppopup=true “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da ultima guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia. A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. Trecho de O cortiço, de Aluísio Azevedo Foco no conteúdo As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas. Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. Foco no conteúdo No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimenta-vam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia. Cortiço da rua do Senado, Rio de Janeiro, 1906. Foco no conteúdo Fonte da imagem: https://www.ifch.unicamp.br/cecult/mapas/corticos/cortimagens1.html Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Foco no conteúdo Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas. O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e resingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.” Foco no conteúdo Correção Não existe privacidade no cortiço; a higiene matinal é feita na frente de todos, não há pudor nem preocupação com bons modos (para a época); latrinas (banheiros) abrem e fecham e as pessoas saem ainda se vestindo; crianças fazem suas necessidades fisiológicas no mato ao fundo. O trecho narrado apresenta a descrição do acordar do cortiço, quase como querendo nos mostrar uma fotografia. Que pistas ele nos dá da vida miserável e sem conforto daquele lugar? (Acesse o livro) O Cortiço, p. 13. Na prática Correção Um grupo da mais baixa classe social. 2. Que grupo social a cena apresenta? 3. Como é possível descrever a atmosfera no cortiço? Atmosfera alegre, cheia de barulhos, conversas, risos, choros, tudo isso com os sons de animais domésticos. De que ponto de vista (físico, psicológico ou social) os personagens são descritos? Traga elementos do texto que comprovem a sua resposta. Do ponto de vista físico e social, como se vê nas expressões “cabeças congestionadas de sono”, “amplos bocejos”, “pigarreava-se grosso” e “som de vozes que se altercavam”, além de todo o quinto parágrafo. Na prática Correção “Em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas.”; “suspendendo o cabelo todo para o alto do casco”; “fossando e fungando contra as palmas da mão”. O naturalista vê o ser humano como ser biológico, revelando seu lado instintivo e animal. Encontre no texto trechos que mostrem essa animalização. Por que o autor apresenta a cena do ponto de vista do coletivo, e não do indivíduo? Porque seu objetivo é mostrar um agrupamento social, denunciar um problema que não é de ordem individual. Na prática Como foi possível perceber, O cortiço é uma obra que analisa a vida no coletivo, retratando um microcosmo do Rio de Janeiro do século XIX. Nessa comunidade, na qual viviam negros e imigrantes portugueses, em meio à capoeira, à escravidão e às brigas constantes, tudo faz parte da luta pela sobrevivência. Nessa passagem, vemos que o autor retrata as pessoas como bichos, mostrando a animalização do homem. A zoomorfização, ou seja, a tendência a ver características animais em humanos, é uma estratégiapara denunciar a desumanização naquela sociedade, constituindo uma característica da literatura naturalista. Sobre o trecho que lemos... Foco no conteúdo Aluísio (Tancredo Gonçalves de) Azevedo (14/04/1857-21/01/1913) foi caricaturista, jornalista, romancista e diplomata, tendo nascido em São Luís, MA. Em 1881, Aluísio lança O mulato, romance que causou escândalo na sociedade pela crua linguagem naturalista e por tratar de preconceito racial. Depois, ele passou à análise dos agrupamentos humanos, da degradação das casas de pensão e de sua exploração pelo imigrante, principalmente o português, e publicou: Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890). (Academia Brasileira de Letras – Adaptado) Foco no conteúdo Fonte da imagem: https://www.academia.org.br/academicos/aluisio-azevedo/biografia https://youtu.be/X7p8pRIpVxc Contexto histórico Foco no conteúdo Professor, caso a sala de aula apresente instabilidade da internet, a sugestão é você baixar o vídeo e levar em um pen drive. Este vídeo tem música de fundo. Videoanimação criada por Jorge Will e disponibilizada para este material. Século XIX – “No que concerne às ciências biológicas, as novas descobertas exerceram influência direta na literatura naturalista. Logo nas primeiras décadas do oitocentos, Lamark (1744-1829) abrira caminho para a ‘teoria da evolução’, confirmada e desenvolvida por Charles Darwin (1809-1882), em 1859, por meio da publicação de Origem das espécies por meio da seleção natural, marco da ciência e do pensamento do século XIX. A teoria evolucionista, segundo a qual apenas os seres mais fortes e mais bem adaptados ao meio sobrevivem, contribui, com efeito, para legitimar a tendência materialista promovida pela industrialização. Origem do pensamento naturalista Foco no conteúdo [...] A visão animalizada do homem, presente nos romances naturalistas, originou-se desse modo de uma premissa de Darwin, cujo princípio fundamental se encerra na ideia de que o homem descende de animais inferiores. Ao abordar o homem animalizado, o naturalismo inverteu o processo de evolução, expondo a degeneração do ser.” (Corrêa, 2011, p. 58 e 59) Obra inaugural: Germinal, de Émile Zola (França). Saiba mais sobre Darwin e A origem das espécies. Foco no conteúdo Comuns ao Realismo: objetividade, denúncia social, racionalismo. Zoomorfização: ênfase no lado animalesco do homem (reflexo da teoria evolucionista de Darwin); ideia de degeneração do ser humano. Determinismo: o homem é fruto do meio; a natureza determina o caráter e o comportamento do ser humano. Cientificismo: crença na ciência, em oposição à crença religiosa. Patologias sociais: degradação de certos grupos sociais e do indivíduo que integra um desses grupos. Cotidiano: descrição do dia a dia de trabalhadores, operários e escravos. Características da literatura naturalista Foco no conteúdo ENEM (2022) – Leia o texto abaixo A senhora manifestava-se por atos, por gestos, e sobretudo por um certo silêncio, que amargava, que esfolava. Porém desmoralizar escancaradamente o marido, não era com ela. [...] As negras receberam ordem para meter no serviço a gente do tal compadre Silveira: as cunhadas, ao fuso; os cunhados, ao campo, tratar do gado com os vaqueiros; a mulher e as irmãs, que se ocupassem da ninhada. Margarida não tivera filhos, e como os desejasse com a força de suas vontades, tratava sempre bem aos pequenitos e às mães que os estavam criando. Não era isso uma sentimentalidade cristã, uma ternura, era o egoísta e cru instinto da Na prática No trecho do romance naturalista, a forma como o narrador julga comportamentos e emoções das personagens femininas revela influência do pensamento: maternidade, obrando por mera simpatia carnal. Quanto ao pai do lote (referia-se ao Antônio), esse que fosse ajudar ao vaqueiro das bestas. Ordens dadas, o Quinquim referendava. Cada um moralizava o outro, para moralizar-se. PAIVA, M. O. Dona Guidinha do Poço. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d. Na prática capitalista, marcado pela distribuição funcional do trabalho. liberal, buscando a igualdade entre pessoas escravizadas e livres. científico, considerando o ser humano como um fenômeno biológico. religioso, fundamentado na fé e na aceitação dos dogmas do cristianismo. afetivo, manifesto na determinação de acolher familiares e no respeito mútuo. Correção científico, considerando o ser humano como um fenômeno biológico. Na prática Ah, não se esqueça de trazer suas anotações para a próxima aula. Aprofundando... Na aula de hoje, você conheceu o Naturalismo e Aluísio Azevedo e analisou um trecho de O cortiço. Quais outros escritores brasileiros aderiram ao Naturalismo? Houve alguma mulher? Quais outras obras são referências? Pesquise e descubra as respostas para essas perguntas (anote as referências). Aplicando Analisamos um trecho literário naturalista; Retomamos o contexto histórico da segunda metade do século XIX; Conhecemos as características da literatura naturalista. O que aprendemos hoje? Fonte da imagem: https://br.freepik.com/vetores-gratis/jovens-sendo-felizes_7010933.htm#query=estudantes%20juntos%20desenho&position=0&from_view=search&track=ais Tarefa SP Localizador: 98301 Professor, para visualizar a tarefa da aula, acesse com seu login: tarefas.cmsp.educacao.sp.gov.br Clique em “Atividades” e, em seguida, em “Modelos”. Em “Buscar por”, selecione a opção “Localizador”. Copie o localizador acima e cole no campo de busca. Clique em “Procurar”. Videotutorial: http://tarefasp.educacao.sp.gov.br/ 23 Slides 4 a 8 – AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000015.pdf. Acesso em: 21 jun. 2023. Slides 15 e 16 – CORRÊA, Patrícia A. M. O naturalismo em perspectiva comparada: de Émile Zola a Aluísio Azevedo. Tese (Doutorado em Letras). Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: https://www.bdtd.uerj.br:8443/handle/1/6005#preview-link0. Acesso em: 22 jun. 2023. Referências Lista de imagens e vídeos Slide 3 – https://shre.ink/l9sm Slide 6 – https://shre.ink/lTBt Slide 13 – https://shre.ink/rgdB2o Slide 14 – https://youtu.be/LG5hosUFxR0 Slide 22 – https://shre.ink/lYR0 Referências Material Digital
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