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Definição de conceitos A seguir, conheceremos três conceitos essenciais ao estudo deste tema. Governança corporativa Uma das definições de governança corporativa trata o conceito como a forma de influenciar as organizações sobre a alocação de recursos e retornos (GROENEWEGEN, 2004). Podemos elaborar então as seguintes questões: Que cuidados as instituições devem tomar ao alocar os recursos? De que forma elas devem aplicar os retornos obtidos? Você, como gestor, utilizaria quais ferramentas para executar essas ações? Segundo o IBGC (2019), há quatro princípios básicos fundamentais para a boa governança corporativa: Equidade Prestação de contas Responsabilidade corporativa Transparência Gerenciamento de riscos Todas as atividades desenvolvidas por uma organização detêm um certo grau de risco. Por esse motivo, eles devem ser gerenciados para serem identificados, analisados e avaliados quanto à necessidade de alteração após o tratamento dado ao risco mapeado (ABNT, 2009). Os cuidados necessários para a alocação dos recursos e o exercício da governança corporativa passam pelo gerenciamento de riscos, pois é neste momento que o gestor mapeará as melhores oportunidades para investir os retornos. Serão escolhidas, portanto, as que representam o menor grau de risco/incerteza. Compliance O compliance é uma das ferramentas essenciais para a governança corporativa, já que, ao fortalecer o ambiente de controle interno da instituição, permite que a prestação de contas (um dos princípios da governança corporativa) seja realizada. Além disso, ele monitora a conformidade com os regulamentos e as políticas internas, o que resulta em credibilidade do mercado e aumenta a transparência da organização, atendendo, assim, a mais um princípio básico da governança corporativa (BLOK, 2017). Para que a efetivação do compliance seja possível, ele deve estar baseado em três pilares: Gestão ética dos negócios (alta administração); ações em conformidade com as determinações estabelecidas (atuação em âmbito operacional); e avaliação do estado de adesão a essa política (ter respaldo na cultura organizacional) (BLOK, 2017). O sistema GRC A atuação conjunta do compliance e da gestão de riscos como integrantes de uma política de governança corporativa é conhecida pela sigla GRC. Ela representa a adoção de processos e soluções integradas de governança (g), gestão de risco (r) e compliance (c). Este sistema de solução tem como objetivo obter informações de qualidade e operacionalidade necessárias e suficientes para a realização da gestão dos negócios e da governança. O fator sistêmico das políticas permite que sejam atendidos tanto as exigências dos stakeholders quanto os critérios de desempenho e as conformidades. Outro fator importante da integração dessas ferramentas é que a verificação do desempenho e o atendimento às conformidades da organização são os resultados mínimos devolvidos pela instituição para os interessados que assumiram riscos ao se relacionarem com ela (BLOK, 2017). Benefícios do GRC para as organizações A integração da governança corporativa com o compliance e a gestão de riscos gera uma série de benefícios para as organizações (ALLIANCE FOR INTEGRITY, 2016; BLOK, 2017): O resultado das atividades apresenta um maior padrão de desempenho Maior conhecimento sobre o negócio em que atua e sobre a própria realidade Melhoria na prestação de contas de todos os tipos de informações geradas pelas empresas, obtendo o consequente aumento de transparência Atuação corporativa com maior ética e integridade Aperfeiçoamento na aplicação dos recursos Adequação à realidade atual em decorrência do aumento crescente da regulação nas organizações A competição típica do mercado globalizado requer que as instituições atendam às demandas e às pressões por melhorias da gestão, especialmente no que se refere à atração de investidores Otimização do desempenho baseada no melhor entendimento das obrigações a serem atendidas, identificação da dosagem adequada dos riscos que podem ser admitidos, além de foco nos objetivos estratégicos que devem ser perseguidos O foco da cultura, das pessoas, dos processos e das tecnologias se alinha para a obtenção de melhores resultados de desempenho Maior capacidade de atrair profissionais comprometidos com a ética e o atendimento aos regulamentos, além dos que apresentam um alto desempenho para a equipe Modelo indispensável aos negócios que atuam com operações mais complexas, como o funcionamento em locais diferentes Alocação mais adequada dos recursos investidos em processos e tecnologia, permitindo a integração das ferramentas de gestão e a consequente otimização dos custos Maior eficácia da administração para gerenciar os riscos quando ela implementa um ambiente de controle interno e as melhores práticas de gestão (governança corporativa) Alinhamento com as expectativas dos stakeholders no que se refere ao atendimento dos objetivos definidos para a organização em todos os níveis da administração (estratégico, tático e operacional) Convergência entre a conformidade e o desempenho para a definição dos objetivos corporativos Maior proteção contra fraudes e outros desvios que possam ocorrer na cadeia de valor Definição dos indicadores-chave para monitorar o desempenho e os riscos identificados que contribuirão para as tomadas de decisão Mais chances de celebração de contratos de médio e longo prazo com empresas que valorizam ações de integridade e ética Adoção de práticas de mensuração e divulgação de relatórios utilizados para reduzir os riscos de situações inesperadas, tanto em termos operacionais quanto financeiros Mapeamento e melhoria de processos para eliminar duplicidades, retrabalhos ou atividades que não contribuam para o resultado, assim como a identificação de possibilidades de automatização Segundo Blok (2017), para atingir tais benefícios, as organizações precisam estar atentas à ampliação das medidas de governança corporativa, além de reconhecerem as estruturas e atividades que atuam de forma coesa para apoiar os negócios. Uma importante medida que também precisa ser adotada para haver uma boa governança corporativa é incluir os aspectos mapeados pela gestão de riscos como parte integrante e indispensável da tomada de decisões. Somente com isso será possível alcançar os benefícios resultantes da gestão de riscos (BLOK, 2017). Ainda de acordo com Blok (2017), a agregação dessas ferramentas de gestão permite ainda que as organizações evitem as seguintes situações negativas: Ampliação de multas por fraudes que podem ser evitadas pelo compliance Escândalos éticos e financeiros decorrentes da conduta inadequada da alta administração, resultando também em prejuízo para a credibilidade moral (imagem) da instituição Eventos não esperados nos resultados financeiros que podem afetar o prestígio da instituição e a imagem da marca Práticas frágeis de gestão com potencial para aumentar o custo de capital Altos custos de operação e resultados ineficientes Custos indevidos resultantes de controles duplicados quando a atividade de compliance não ocorre de maneira proativa Para que a ferramenta de compliance ocupe um patamar estratégico na organização, ela não deve ser encarada apenas como um atendimento às exigências legais e regulamentares. O compliance deve se concentrar nas normas, nas políticas internas e, especialmente, na pretensão dos stakeholders. Somente assim ele conseguirá ser percebido como um instrumento de gestão que agrega valor ao bem/serviço (BLOK, 2017). Ainda segundo Blok (2017): "[...] as pessoas, os processos e a tecnologia devem ser desenhados e direcionados de tal maneira que o alcance dos objetivos seja mensurado, os riscos sejam avaliados e melhorias contínuas sejam realizadas para apoiar a prática de governança corporativa, a atividade de gestão de riscos e a de compliance de forma eficaz." - BLOK, 2017, p. 187 Incentivos da administração à implementação do GRC Todas as ações de apoio da alta administração às práticas de governança corporativa, incluindo as de gerenciamentode riscos e compliance, devem, sempre que possível, ser documentadas. A formalização pode ser feita por meio de vídeos, cartas, memorandos, atas de reunião, ofícios e divulgação na intranet, além de outros meios de comunicação que sejam vistos como adequados. A documentação registrada tem o objetivo de comprovar, de forma clara e objetiva, o atendimento aos requisitados estabelecidos (ROCHA JÚNIOR; GIZZI, 2018). (Fonte: garagestock / Shutterstock). Se ela ainda não constitui uma prática da organização, é natural (e, até certo ponto, esperado) que a adoção de ações de compliance e de gerenciamento de riscos encontre algumas resistências para a sua implementação. Essas ferramentas envolvem a mudança no padrão de comportamento e o desenvolvimento de uma nova cultura organizacional. Dessa forma, é muito importante que não só a alta administração apoie a adesão, como também demonstre concordância com as mudanças propostas (ROCHA JUNIOR; GIZZI, 2018). A alta administração também deve estar respaldada no exemplo dado por meio de suas ações e decisões. Sem essa representação, as práticas de compliance e governança corporativa não têm como atingir o sucesso. É vital que as lideranças da empresa transmitam a mensagem de que seus valores éticos e morais não estão apenas no discurso. Para que o programa tenha amplitude e efetividade, os gestores devem adotar uma política de engajamento de boas condutas, resultando, assim, em um ambiente com diminuição das possibilidades de ocorrência de fraudes, atos de corrupção e prejuízos financeiros (ROCHA JUNIOR; GIZZI, 2018). Atenção Segundo Bateman e Snell (2006), um clima ético é gerado na empresa quando tanto os processos de trabalho quanto as decisões tomadas têm como principal base aquilo que é considerado o certo a ser feito. Com uma visão ainda mais sistêmica, agir de maneira ética é orientar-se para atos que, em busca da ordem e do respeito mútuo, não interfiram negativamente no bem-estar do outro. Para que essa experiência seja vivenciada, a ética deve ser implícita para todos os envolvidos da organização, constituindo a base que ordena os limites de suas ações (CAMARGO; BARCELLO; LINCK; NEUBAUER, 2014). Além do aspecto comportamental, é muito importante o estabelecimento de procedimentos internos rotineiros, pois é por meio deles que serão identificados e prevenidos possíveis desvios na organização. As normas de conduta devem ser claras, os procedimentos definidos de maneira objetiva. Além disso, os documentos devem passar por critérios de padronização. Essas medidas contribuem tanto para a prática de compliance quanto para a análise dos riscos internos às organizações (ALLIANCE FOR INTEGRITY, 2016). (Fonte: shutteratakan / Shutterstock). (Fonte: howcolour / Shutterstock). Sobre o gerenciamento de riscos, resgatamos o conceito de risco estabelecido pela ISO 31000:2009: o efeito da incerteza sobre os objetivos da organização (ABNT, 2009). Por esse motivo, é necessário destacar a importância desse gerenciamento para qualquer tipo de organização, uma vez que os riscos são inerentes à execução das atividades e a ocorrência deles está relacionada a algum dano, trazendo, consequentemente, prejuízos para as empresas. Por isso, a boa governança corporativa não pode deixar de gerenciá-los para prevenir ou evitar perdas. Não há como garantir a ocorrência dos riscos mapeados. Porém, como existe alguma chance de eles ocorrerem, a organização deve agir para encontrar os meios para reduzi-los ou minimizar os impactos deles. Portanto, os riscos devem ser avaliados quanto à probabilidade de ocorrência e ao impacto deles. Em ambos os casos, os riscos devem ser classificados como altos, médios ou baixos (ROCHA JÚNIOR; GIZZI, 2018). Obrigações legais para atender às normas Além dos incentivos de gestão para a implementação da governança corporativa, não podemos deixar de considerar certas obrigações legais de atendimento às normas: Divulgação de informações contábeis confiáveis; garantia de controle interno sobre os processos; transparência nas relações com o mercado; realização de auditorias externas; criação de comitês para supervisionar as atividades; e garantia de maior independência na atuação da auditoria externa (DEFOND; FRANCIS, 2005). Essas obrigações passaram a valer para as instituições financeiras que comercializavam ações na bolsa de valores de Nova York, sendo adotadas pelo ordenamento jurídico graças à Lei Sarbanes-Oxley (SOX) após escândalos de fraudes envolvendo grandes empresas americanas, com destaque para o caso Enron. Em âmbito nacional, destacam-se a Lei Anticorrupção (Lei nº 12.683/2012) e o Decreto nº 9.203/2017, normatizando a política de governança para a administração pública federal, além de sinalizar a necessidade de a alta administração manter, monitorar e aprimorar os controles internos e definir as atribuições para as auditorias internas dos órgãos públicos. Práticas modernas de incentivos financeiros No campo das práticas modernas de incentivos financeiros para as organizações que adotam boas práticas de governança corporativa, citamos como exemplo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que possui o programa de incentivo à adoção de práticas de governança corporativa. Ele fornece benefícios crescentes para os clientes, aumentando a vantagem de acordo com o grau de boas práticas da empresa (MATOS; MATOS; ALMEIDA, 2017). De acordo com Matos e Almeida (2017), o programa do BNDES é formado por quatro diferentes pacotes, dividindo-se entre as seguintes categorias: Amplia-se o prazo para o pagamento da dívida em até um ano, enquanto o banco aumenta em 10% o montante de participação no projeto financiado. A amortização da dívida é de dois anos, e a participação no financiamento aumenta em 20%. Além de ampliar o prazo em três anos e a participação no projeto em 25%, o banco também reduz em 0,5% o custo da transação. Tem as mesmas condições de aumento do tempo de amortização da dívida e do percentual de participação da categoria ouro, porém sua redução do custo é ainda maior: 0,7%. image7.jpeg image8.jpeg image9.png image10.png image11.png image12.png image1.jpeg image2.jpeg image3.jpeg image4.jpeg image5.png image6.jpeg
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