Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Contexto da Lei Sarbanes-Oxley A Lei Sarbanes-Oxley (SOX) é um dos dispositivos legais americanos cujas regras rígidas influenciaram a adoção da prática de governança corporativa no Brasil e no mundo. Na visão das autoras Oliveira e Linhares (2007), os condicionantes para a criação da referida lei foram: A Lei Sarbanes-Oxley (SOX) é um importante instrumento legal que busca inibir práticas que prejudiquem a credibilidade das informações apresentadas pelas empresas norte-americanas, assim como naquelas que registram ações nas bolsas de valores situadas nos Estados Unidos. Vejamos quais eventos impulsionaram a criação da Lei Sarbanes-Oxley: · No final do ano de 2001, diversas fraudes foram verificadas, principalmente as ocorridas nas empresas enron e arthur andersen. Ambas surpreenderam o mercado após vir à tona que os excepcionais lucros apresentados nos registros contábeis dos anos anteriores eram, na verdade, resultado de fraudes. · A descoberta das fraudes abalou a economia dos Estados Unidos e despertou o alerta sobre o futuro do país, pois o prejuízo econômico poderia ser ainda maior caso ações desse tipo continuassem a ser negociadas em um ambiente tão globalizado, devido ao grande impacto no sistema econômico mundial. · Surgiu a necessidade de uma solução para que as empresas que mantivessem relações financeiras em território norte-americano fossem vistas pelo mercado geral, especialmente pelos investidores, como organizações confiáveis nas quais investir. Isso pela necessidade cada vez mais valorizada de se garantir, no ambiente empresarial, a transparência necessária às relações entre os investidores, os executivos e a sociedade. · Em 2002, os senadores norte-americanos Paul Sarbanes e Michael Oxley propuseram a normatização de regras que resultassem em mais confiabilidade no mercado financeiro, estabelecendo severas punições àqueles que não se adequassem às determinações. A proposta foi convertida em lei, sendo batizada posteriormente com o nome de seus idealizadores. A lei foi formalizada para proteger os acionistas e a sociedade contra as fraudes verificadas no final do ano 2001. Regras e critérios da Lei Sarbanes-Oxley De acordo com Oliveira (2006), a SOX buscou reparar a perda da credibilidade pública dos líderes empresariais dos Estados Unidos, além de destacar, novamente, a necessidade do cumprimento de parâmetros éticos para a confecção e a divulgação das informações contábeis. A SOX teve como propósito proteger os investidores por meio da divulgação de demonstrações financeiras mais precisas e confiáveis, evitando a possível fuga dos investidores financeiros para outros países, pois eles poderiam não estar seguros sobre a qualidade e a credibilidade das ações de governança corporativa praticadas pelas empresas. Segundo Defond e Francis (2005), por causa da SOX, todas as empresas que negociam ações nas bolsas dos Estados Unidos devem seguir, detalhadamente, diversas obrigações, entre as quais se destacam: Implementar reformas que garantam a governança corporativa e a divulgação de informações contábeis confiáveis. Determinar que, dentro de sua administração, a empresa garantirá o controle dos seus processos. Garantir a transparência em suas relações de mercado. Evidenciar em auditoria, por meio de amostragem aleatória e mecanismos confiáveis, que os seus processos estão sendo executados conforme planejado anteriormente. Criar comitês para supervisionar as atividades e garantir mais independência na atuação da auditoria externa, resultando em mudanças, como: determinação da qualidade do serviço e aumento em mais de 50% dos honorários da auditoria, visando à diminuição dos conflitos de interesses entre a administração e a empresa de auditoria. Atenção A atividade de auditoria passou a ser autorregulada e supervisionada pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (Securities and Exchange Commission – SEC), a qual teve a atividade controlada diretamente por uma agência quase governamental: o Conselho de Supervisão de Contabilidade de Companhias Abertas (Public Company Accounting Oversight Board – PCAOB). (DEFOND e FRANCIS, 2005) No que se refere à criação e à composição dos comitês de auditorias que a SOX estabeleceu, devem ser atendidos os seguintes critérios (IBGC, 2017): Todas as empresas devem ter um comitê composto inteiramente por membros independentes da administração. Deve conter, no mínimo, um especialista em finanças (financial expert) e, caso não possua, explicar o motivo. O comitê é o responsável pela nomeação da empresa de auditoria externa. Devem ser assegurados todos os requisitos para o cumprimento da independência dos auditores externos. Devem ser discutidas com os auditores as questões que tenham impacto nas demonstrações financeiras. A empresa deve ter um consultor externo e outros consultores que o comitê julgar necessário para cumprir as obrigações legais. O comitê deve implementar procedimentos para receber e investigar queixas de empregados sobre as práticas e políticas contábeis. Atenção Se qualquer uma das regras for descumprida, graves implicações poderão acometer as empresas, como também seus dirigentes máximos. Existe, inclusive, a possibilidade de responsabilização penal do presidente e da diretoria da instituição ou o pagamento de elevadas multas devido à publicação de informações não condizentes com a verdade. Contribuições da Lei Sarbanes-Oxley Até aqui você já conseguiu compreender o verdadeiro objetivo da Lei Sarbanes-Oxley? O objetivo da SOX é recuperar a credibilidade da informação contábil, além de ampliar o custo de litígio e o grau de governança corporativa para minimizar os riscos dos negócios e garantir a transparência dos resultados contábeis das companhias. Para Machado (2008 apud Contezini; Beuren, 2012), a SOX funciona como um pacote de reformas para a ampliação da responsabilidade dos executivos, o aumento da transparência, a garantia da independência do trabalho dos auditores, a introdução de regras no trabalho destes e a redução dos conflitos de interesses dos analistas de investimentos. Ela amplia substancialmente as penalidades por fraudes e crimes de colarinho branco. A SOX também influenciou a gestão pública, pois empresas que detêm a maioria das ações com propriedade do Estado brasileiro (como é o caso da Petrobras e suas subsidiárias) devem obedecer às regras estabelecidas pela lei norte-americana, pois possuem ações listadas nas bolsas de valores daquele país. Após a crise Enron, os benefícios da boa governança se tornaram mais claros, possibilitando o desenvolvimento desta no mundo corporativo. Segundo o IBGC (2004), a governança corporativa adequada passou a ser buscada para permitir o alinhamento favorável dos interesses dos acionistas e dos gestores, além de ter a finalidade de aumentar o valor da organização, facilitar o acesso ao capital e contribuir com a relação de longo prazo. Evolução das Práticas de Governança Corporativa A implementação da política eficaz de governança corporativa busca alterar o cenário de insegurança no mercado financeiro, caracterizado pela renda variável dos investidores, para um ambiente capaz de atrair recursos, graças à confiabilidade das informações apresentadas, resultando em benefícios para todos os envolvidos na negociação. A governança corporativa destaca a relevância das funções desempenhadas pelo conselho de administração, dos executivos e da administração das empresas, pois estes devem ter como propósito a definição de regras de conduta e responsabilidades claras. Por meio de instrumentos de monitoramento e controle, a governança garante a proteção dos acionistas e credores, de forma que eles não sejam prejudicados pelos membros da organização (SHLEIFER; VISHNY, 1997). Fonte: Shutterstock Veja a seguir como as práticas de Governança Corporativa foram evoluindo com o tempo. 1929 – Quebra da Bolsa de Nova York Nos Estados Unidos, a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, resultou na criação do Securities and Exchange Commission (SEC), órgão equivalente à Comissão de ValoresMobiliários (CVM) no Brasil. As fraudes apuradas nos registros de títulos em 1929, associadas à exagerada liberdade de contratos privados, resultaram na mudança de postura e na adoção de um modelo mais contratualista nos Estados Unidos. Pela SEC, os norte-americanos reconheceram o grau de importância que a regulação tem sobre as relações contratuais. Já no Brasil, durante muito tempo, o país era reconhecido como um mercado atrativo para capitais de curto prazo, com alta liquidez, atraindo investidores pouco preocupados com questões ligadas a dividendos, lucros, conselhos de administração e fatores dessa natureza. 1980 - O termo ganha notoriedade em diferentes áreas de estudo A Governança Corporativa tem recebido mais destaque após o aumento dos debates há cerca de três décadas. O termo ganhou mais notoriedade no campo da Administração de Empresas, no início dos anos 1980, sendo também abordado nas áreas de Contabilidade, Direito, Economia e Finanças, gerando interesse tanto no âmbito acadêmico como no empresarial. O marco histórico da utilização do termo é impreciso, porém se pode perceber o gradual amadurecimento e a percepção da necessidade de sua prática nos últimos anos, sendo a sua adoção obrigatória e extremamente esperada no mundo organizacional atualmente. 2000 – Bovespa desenvolve níveis de Governança A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) desenvolveu, no fim dos anos 2000, níveis diferenciados de governança corporativa. Os critérios de adesão buscam reduzir a diferença entre as informações dos investidores e aquelas prestadas pelas empresas participantes desses grupos. O objetivo do escalonamento é aumentar a transparência das informações divulgadas e diminuir o custo de captação de recursos no mercado. A importância prática verificada pelos países para garantir a confiabilidade das informações prestadas pelas empresas levou à criação de códigos nacionais próprios, com base nos princípios e melhores práticas de governança corporativa discutidas e orientadas pela OCDE (Organisation for Economic Co-operation and Development) (ALMEIDA, 2010). 2001 - Criação da Lei nº 10.303 Em 2001, o Brasil promulgou a lei nº 10.303, que propicia aos acionistas minoritários a redução de riscos e a maximização das participações destes no controle das empresas. A motivação principal era contribuir para que o mercado de capitais brasileiro diminuísse a concentração acionária, estimulando o pequeno investidor. Foram adotadas, para isso, práticas essenciais de governança corporativa, que contribuíram para o tratamento igualitário dos acionistas. As mudanças resultantes da adoção da nova lei, assim como as medidas adotadas pelos órgãos reguladores do mercado (Bovespa, CVM e Banco Central do Brasil – BC), permitem que o mercado de ações brasileiro avance na prática de governança corporativa. Esse cenário vai ao encontro da expectativa mínima dos investidores, que é preferir a compra de ações de empresas com maior grau de maturidade de governança, pois isso resulta em menor risco ao capital investido. Como vimos, as práticas de Governança evoluíram bastante desde a quebra da Bolsa de Nova York. No entanto, os padrões de Governança Corporativa adotados diferem em alguns países. Brasil X Estados Unidos X Europa Os instrumentos brasileiros de governança têm evoluído fundamentalmente com concentração na relação entre os administradores e os acionistas, fato que demonstra similaridade com o modelo de governança norte-americano. Já na Europa, o padrão de governança corporativa é o que expande a relação acionistas-gestores e inclui outros membros do processo empresarial, como: empregados, fornecedores e clientes. image6.jpeg image7.jpeg image8.jpeg image9.jpeg image1.jpeg image2.jpeg image3.jpeg image4.jpeg image5.jpeg
Compartilhar