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1041-Texto do artigo-2573-1-10-20200217

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ECCOM, v. 11, n. 21, jan./jun. 2020 
Políticas públicas de inclusão: desafios e benefícios da 
implementação da política de cotas para deficientes nas 
universidades federais 
Cíntia Beatriz Duarte Pereira 
Mestranda em Diversidade e Inclusão e Especialista em Gestão em Administração Pública pela Universidade 
Federal Fluminense (UFF), Especialista em Docência no Ensino Superior pelas Faculdades Integradas da 
Grande Fortaleza (FGF). Servidora do Corpo Técnico-Administrativo da UFF. 
Resumo 
O presente artigo tem como objetivo relatar os desafios e benefícios da implementação da política 
pública de cotas nas Universidades Federais do Brasil. A problemática aqui apresentada é a da 
necessidade de acompanhar, registrar e relatar os desafios e benefícios encontrados pelas universidades 
federais nessa implementação para que seja registrado como base para futuros estudos e ações. Para 
a coleta dos dados, foi utilizada a metodologia qualitativa, aplicada com procedimentos de revisão 
bibliográfica e descritiva sobre os temas pelo qual o estudo perpassa. Num encadeamento lógico e 
ordenado, foram estudados a legislação que legitima o direito do deficiente a cotas, a implementação 
das políticas públicas de inclusão nas universidades federais e a inclusão social desses deficientes, 
observando os desafios e benefícios encontrados nesse processo. Os resultados observados foram, 
basicamente, comuns entre os autores consultados, destacando os desafios de atenção à acessibilidade, 
a mão de obra especializada e a permanência. Em contrapartida, os benefícios destacados são: 
democratização do ensino, a inclusão social de deficientes e não deficientes e a possibilidade de 
preparação do deficiente para o mercado de trabalho. 
 
Palavras-chave 
Ensino superior, implementação, políticas públicas, desafios e benefícios. 
 
Abstract 
This article aims to report on challenges and benefits of the implementation of the public quota policy 
in the Federal Universities of Brazil. The problem presented here is the need to monitor, record and 
report the challenges and benefits found by federal universities in this implementation to be registered 
as a basis for future studies and actions. For the data collection, the qualitative methodology was used, 
applied with procedures of bibliographical and descriptive revision on the themes through which the 
study runs. In a logical and ordered chain, the legislation that legitimates the right of the disabled to 
use quotas, the implementation of the public policies of inclusion in the federal universities and the 
social inclusion of those with disabilities, observing the challenges and benefits found in this process. 
The results observed were basically common among the consulted authors, highlighting the challenges 
of attention to accessibility, skilled labor and permanence. On the other hand, the outstanding benefits 
are: democratization of education, social inclusion of the disabled and non-disabled, and the possibility 
of preparing the disabled for the labour market . 
 
Keywords 
Higher education, implementation, public policies, challenges and benefits. 
Introdução 
O cenário educacional brasileiro vem sendo ampliado com o avanço das políticas 
públicas de cotas, através da reserva de vagas, para um público diverso, em condições 
socioeconômicas específicas, caracterizados como de maior vulnerabilidade social. A partir de 
2017, os deficientes passam a ser contemplados nessa política conforme expresso no decreto 
 
 
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n.º 9.034 de 20 de abril de 2017 que “Altera o Decreto nº 7.824, de 11 de outubro de 2012, 
que regulamenta a Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012, que dispõe sobre o ingresso nas 
universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio” (BRASIL, 
2017). 
O contexto aqui apresentado é o das Universidades Federais Brasileiras no que tange a 
obrigatoriedade de implementação desse novo eixo da política pública afirmativa de cotas, por 
uma análise dos desafios apontados pela literatura correlata ao tema, bem como dos benefícios 
dessa implementação para o deficiente, a comunidade universitária e a sociedade. 
 O estudo encontra-se centrado na problemática relevante e necessária da carência de 
observação, acompanhamento, análise e registro dos desafios e benefícios encontrados na 
implementação dessa política de cotas nas universidades federais, uma vez que a aplicação da 
legislação é recente e, consequentemente, os estudos na área, ainda, são escassos. 
Rua (2014, p. 109) diz que “as políticas públicas são implementadas mediante alguns 
processos destinados a gerar produtos com a finalidade de produzir efeitos, ou seja, 
transformar a realidade”. Registrar os desafios na implementação da política de cotas para 
deficientes tem a finalidade de propor a mudança na realidade citada por Rua (2014), ao 
identificar os déficits a serem corrigidos tendo por base a resposta do público envolvido na 
política: os servidores, os deficientes, o Estado e a sociedade. Os benefícios visam demostrar 
a viabilidade da implementação da política de cotas no contexto social em que a política 
encontra-se inserida. 
Dessa forma, o objetivo da pesquisa é relatar desafios e benefícios da implementação da 
política pública de cotas para deficientes nas universidades federais. Para isso, foi necessário 
realizar uma pesquisa que dialogasse com a temática das políticas afirmativas, compreender a 
política de cotas (reserva de vagas) para deficientes, observar a implementação de políticas 
públicas, sobretudo, no contexto da inclusão e elencar os desafios e benefícios advindos dessa 
inclusão social. 
O estudo justifica-se pela relevância e a carência de pesquisas que envolvam o acesso de 
deficientes no ensino superior, a relação desse direito com a implementação de políticas 
públicas adequadas para o acesso e a permanência desses estudantes, assim como a 
importância de relatar desafios a serem enfrentados e os resultados benéficos dessa política 
pública de inclusão para integração do deficiente à comunidade universitária e à sociedade. 
Legislação 
O direito legal acerca da educação para deficientes foi abordado pela Constituição 
Federal, artigo 205, ao afirmar que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da 
família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno 
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação 
para o trabalho” (BRASIL, 1988). A educação sendo direito de todos, adicionando, ainda, o 
contexto da inclusão, foi corroborada na recente declaração de Incheon, no Fórum Mundial da 
Educação, na Coreia do Sul, Organização das Nações Unidas para a Educação, à ciência e a 
cultura (ONU, 2015), assim como, o exercício da cidadania e qualificação foram corroborados 
no contexto do direito legal à educação para o deficiente (BRASIL, 1988; WENCESLAU, 
2009). 
 Embora exista todo o ordenamento jurídico sobre a importância da inclusão do deficiente 
e dos seus direitos como tal, mais recentemente, o decreto n.º 9.034 de 20 de abril de 2017, 
 
 
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alterou a Lei de cotas n.º 12.711/2012, que versa sobre o ingresso nas universidades federais 
e nas instituições de ensino técnico de nível médio, trouxe uma concepção de igualdade para 
o público deficiente considerado em exclusão, em vulnerabilidade e exposto à invisibilidade e 
discriminação (BRASIL, 2017; BRASIL, 2012). 
 Essa política é justificada pela educação básica pública que, ao longo da história, não 
permitiu o aluno ingressar no nível superior caracterizado como seletivo (TAVARNARO, 
2007; OLIVEIRA, 2012). 
 Uma medida reparadora dentro do contexto da educação pública como um bem para todos 
(CARA, 2012). 
Política Pública de Cotas nas Universidades Federais 
 O Brasil temavançado na criação de políticas na área da educação, conduzindo esforços 
para ofertar formação superior em universidades federais para pessoas deficientes. Num 
estudo histórico exclusivo sobre políticas afirmativas (cotas), conceituou-se essa política como 
uma ação ou estratégia em que se define uma porcentagem de vagas para atendimento a um 
público alvo definido por questões de exclusão social e cuja interferência na sociedade, articula 
grupos, interesses, expectativas diferenciadas, sendo marcada pela temporalidade (AGUM; 
RISCADO; MENEZES, 2015; CIANTELLI; LEITE,2016). 
 No contexto das universidades federais, a política de cotas para deficientes é reconhecida 
como uma política afirmativa cuja implementação visa corrigir um atraso com relação à 
educação desse grupo. A implementação da política é iniciada com a reserva de vagas para 
deficientes por curso de acordo com o número de pessoas nessa categoria dentro da federação 
em que a universidade se encontra. O ingresso desses estudantes ocorre pelo sistema de seleção 
unificado (Sisu), que tem como pré-requisito a execução do Exame Nacional de Ensino Médio 
(Enem), permitindo democratizar o ingresso. Com o acesso, os alunos são recebidos pelos 
núcleos de acessibilidade e inclusão responsáveis pelas execuções de diversas ações de apoio 
no ingresso e permanência desse estudante na instituição, sobretudo, com relação à 
acessibilidade e desenvolvimento das atividades acadêmicas (OLIVEIRA, 2012; SILVEIRA; 
BARBOSA; SILVA, 2015; CIANTELLI; LEITE, 2016). 
Com esse acesso, as universidades federais encontram-se diante da responsabilidade 
social de implementar, desenvolver, acompanhar e avaliar todas as condições de adequação 
desses estudantes no contexto acadêmico, ensino, pesquisa e extensão, (GARCIA; BACARIN; 
LEONARDO, 2018; BRASIL, 2015). 
Inclusão social dos deficientes nas Universidades Federais: desafios 
e benefícios 
 Com a implementação das políticas afirmativas de cotas para deficientes, as 
universidades estão diante dos desafios da inclusão, através da aceitação social, devido à 
histórica exclusão de grupos por condições diversas onde se encontra os deficientes. Mesmo 
diante de desafios a serem enfrentados, é possível reconhecer benefícios sociais oriundos dessa 
integração entre diferentes grupos pela implementação da política de cotas nas universidades 
federais. 
 
 
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Desafios 
 Dentre os desafios relatados na literatura, a acessibilidade tem destaque, pois representa 
o atendimento às necessidades básicas de acesso, eliminação das barreiras arquitetônicas, 
utilização e permanência num determinado espaço. Isso significa a colocação de elevadores 
com sintetizadores de voz, rampas com inclinação para cadeirantes, piso tátil e placas com 
identificação/localização em linguagem braille, banheiros e mobiliários adaptados, biblioteca 
acessível, laboratórios com softwares inclusivos, sites acessíveis, tecnologia assistiva e 
materiais didáticos (SIEMS-MARCONDES, 2017; BACARIN, GARCIA, LEONARDO, 
2018). 
Os recursos humanos especializados para o atendimento ao deficiente foram 
identificados de forma relevante, onde se pode destacar a presença do intérprete de libras, dos 
servidores técnicos e docentes que saibam lidar com as peculiaridades de cada deficiência, 
destacando, assim, a relevância de um profissional com uma visão inclusiva. Ressalta-se, 
sobretudo, a capacitação do professor como um investimento em seus comportamentos, 
métodos e práticas para adequar-se ao contexto inclusivo da sala de aula (BACARIN, 
GARCIA, LEONARDO, 2018; ANACHE E CAVALCANTE, 2018). 
 A permanência como um desafio possui correlação estreita com proporcionar 
acessibilidade e recursos humanos especializados, citados nos parágrafos anteriores, para que 
os deficientes possam ter capacidade de se integrar, adequadamente, ao contexto pela 
diminuição das dificuldades no espaço físico e no acesso a informações e ao conhecimento. 
Acrescenta-se, ainda, a importância do desenvolvimento de projetos que os incluam, uma vez 
que as barreiras, ainda, são muitas, além da criação de programas de apoio financeiro como 
incentivo e auxílio, por exemplo, no atendimento das necessidades básicas de alimentação 
(NOZU, SILVA, ANACHE, 2018; COSTA; DIAS 2015). 
Benefícios 
 Pesquisadores consideram a “Lei de Cotas” como um marco referencial para o benefício 
da democratização do ensino brasileiro e a possibilidade de transformar o contexto 
educacional de formação superior. Essa democratização está correlacionada à igualdade 
condições de acesso e permanência, o direito à educação gratuita e de qualidade, a não 
segregação e à cidadania, pois a educação é um direito de todos (BRASIL, 1988; OLIVEIRA, 
2012; DOURADO, 2012). 
 A política da cota trouxe para as universidades o benefício da inclusão da diversidade 
humana, integração, a aceitação e o respeito à diferença. Há uma troca de experiências de onde 
surge a valorização da diversidade entre as pessoas e o crescimento dos grupos sociais pelas 
diferenças de ideias e ações, além da eliminação das barreiras, preconceitos, do medo e da 
insegurança em lidar com o desconhecido. Professores necessitam adaptar suas aulas, os 
alunos acabam por se sensibilizar para ajudar o colega e todos se envolvem naturalmente e, 
para isso, a universidade tem grande papel integrador (BERETA; VIANA,2014). 
 A Declaração Mundial de Educação para Todos da Organização das Nações Unidas 
(ONU) propôs, como objetivo básico, a aprendizagem que capacite para participação 
econômica, social e cultural na sociedade (Jomtien, 1990). Essa participação é, também, 
proporcionada pelo benefício de formação superior do deficiente de forma a prepará-lo para 
inclusão no mercado de trabalho visando autonomia e uso da capacidade produtiva. Essa 
inserção no mercado de trabalho foi ampliada pela “Lei de cotas para deficientes no mercado 
 
 
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de trabalho” tendo as universidades federais o papel apoiador através da educação inclusiva 
(BRASIL, 1991; CARLOU, 2014). 
Metodologia 
 Gil (2008) define método como caminho a se percorrer para se chegar a um determinado 
fim, utilizando de procedimentos intelectuais e, também, técnicos. 
 A metodologia desta pesquisa foi realizada sob uma abordagem qualitativa com o propósito 
de investigar, descrever, compreender e explicar o contexto da política pública de cotas como 
uma política de inclusão social para pessoas com deficiência dentro das universidades federais 
pela perspectiva dos desafios e benefícios da implementação da política pública. Os dados 
coletados foram baseados em informações mais próximas da realidade possível dos grupos 
envolvidos na temática como forma de atender, adequadamente, aos objetivos da pesquisa 
(GERHARDT; SILVEIRA, 2009). 
 A pesquisa foi, ainda, produzida sob o viés da pesquisa aplicada com base teórica na revisão 
bibliográfica. Sendo uma investigação de natureza aplicada teve o objetivo de produzir um 
conhecimento sobre a realidade e interesses de um grupo específico a partir de uma reflexão 
analítica e crítica. Com relação aos objetivos da investigação, a metodologia utilizada foi 
descritiva, pois buscou descrever fatos atuais vinculados a uma realidade tendo propósito de 
aplicação prática e contribuição social (GERHARDT; SILVEIRA, 2009; GIL, 2008). 
 O estudo baseou-se no procedimento de revisão bibliográfica como forma de coleta de dados 
sobre os temas apresentados em produções científicas públicas. A coleta de dados foi realizada 
sobre obras escritas, referências teóricas produzidas por outros autores, sobretudo, na forma de 
artigos científicos oriundos de fontes oficiais, na forma, principalmente, de pesquisa eletrônica 
e páginas de Web Sites, pois o tema tratado carece de maiores fontes de informações devidoaos estudos, ainda, escassos (LAKATOS; MARCONI, 2010). 
Desafios e benefícios da implementação da política pública de 
cotas para deficientes nas Universidades Federais 
A pesquisa realizada alcançou seus resultados ao elencar os desafios e benefícios 
encontrados na implementação da política pública de cotas para deficientes nas universidades 
federais em virtude do direito de ingresso desse público no ensino superior. Dessa forma, os 
resultados e a discussão serão apresentados de acordo com os tópicos estipulados no 
referencial teórico. 
 A Constituição Federal/CF (BRASIL, 1988), para o segmento da educação, previu o 
direito à educação para todos, onde se inclui a pessoa deficiente, buscou destacar o 
desenvolvimento de cada indivíduo, o exercício da cidadania e a importância da 
profissionalização para a vida em sociedade. Na mesma linha, Wenceslau (2009) destacou, 
também, a cidadania e profissionalização como possibilidade de participação social e de 
formação do deficiente o que é de extrema relevância pensando na perspectiva de direito e 
garantia da inclusão social pela educação. 
O decreto n.º 9.034 de 20 de abril de 2017, alterou a “lei de cotas”, legitimou o direito de 
acesso do deficiente à universidade federal trazendo a aplicabilidade da lei na forma de política 
pública para um grupo vulnerável (BRASIL, 2017). Tal vulnerabilidade vincula-se à 
seletividade que, historicamente, dificultou o acesso às universidades federais (OLIVEIRA, 
 
 
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2012). A lei, ainda, é relevante, pois é a forma de ajuste por conta da defasagem histórica com 
relação à inserção dos deficientes na sociedade (CARA, 2012). Dessa forma, percebe-se o 
quanto é relevante o direito legal e sua aplicação, a criação da política pública como forma de 
promover ajustes sociais em busca de um contexto social mais igualitário e inclusivo. 
 A política pública de cotas nas universidades federais pôde ser compreendida como 
conjunto de ações e estratégias propostas pelo governo para atender à demanda por educação 
superior para os deficientes (AGUM; RISCADO; MENEZES, 2015). A aplicabilidade prática 
dessa política pública, realizada pelas universidades federais, inicia com o ingresso dos 
estudantes pelo sistema do Enem e, posteriormente, pelo Sisu (SILVEIRA; BARBOSA; 
SILVA, 2015). Todos os candidatos participam igualmente, reservadas as especificidades da 
deficiência, o que marca a inclusão social e o respeito às diferenças a partir da seleção. Em 
seguida, são recebidos pelos núcleos de acessibilidade que são centros de apoio e ações no 
atendimento ao deficiente (CIANTELLI; LEITE, 2016). Esses núcleos são essenciais no apoio 
aos estudantes, seja por questões financeiras ou atendimento especializado. Nesse momento, 
as pesquisas começam a relatar os desafios e benefícios dessa implementação política. 
Em geral, os autores destacam a importância da acessibilidade e da mão de obra 
especializada como essenciais e fundamentais, ainda, para o desafio da permanência e se 
complementam nessa abordagem. A acessibilidade nos espaços físicos foi identificada como 
mobiliários adaptados, piso tátil, rampas, recursos e materiais adaptados, softwares específicos 
que são obrigatórios para que o acesso do deficiente seja adequado. Já em relação à mão de 
obra especializada, destaca-se o intérprete de libras e o docente capacitado às especificidades 
de cada deficiência (BACARIN; GARCIA; LEONARDO, 2018). Acrescentou-se, ainda, a 
possibilidade de acessibilidade pelos meios do apoio entre os pares e o uso da tecnologia em 
favor das deficiências (SIEMS-MARCONDES, 2017). Os funcionários técnicos foram 
considerados, também, como mão de obra que deve ser capacitada, assim como os docentes, 
mantendo a atenção na adaptação de recursos pedagógicos acessíveis nesse último caso 
(ANACHE; CAVALCANTE, 2018). 
 Acessibilidade e mão de obra especializada foram identificadas pelos autores como tendo 
estreita ligação como desafio da permanência, ou seja, manter os deficientes nas universidades 
zelando, dessa forma, pelo desenvolvimento acadêmico (NOZU; SILVA E ANACHE, 2018). 
Adicionou-se a esse desafio da permanência, a importância de observar o aspecto financeiro 
para a ampliação do estudante com deficiência quando se pensa no acesso no ensino superior 
(COSTA; DIAS, 2015). Sendo assim, a acessibilidade e a mão de obra são o alicerce, 
sobretudo, físico e de apoio educacional apropriado aos estudantes deficientes e, ainda, a 
estrutura para a permanência que irá mantê-los na universidade para inclusão social e a 
formação enquanto cidadão e profissional. 
 Em contrapartida aos desafios a serem superados, oriundos da implementação da política 
de cotas, a democratização do ensino foi considerada como um avanço social vinculado aos 
desafios de acesso e permanência (DOURADO, 2012). Esse avanço proporcionou a educação 
para todos, deficientes e não deficientes, num processo de inclusão social que surge do caráter 
democrático originado da expansão do ensino superior (OLIVEIRA, 2012). A questão sempre 
atual da democratização do ensino como um fator beneficiador trouxe a reflexão do direito ao 
aprendizado, em uma perspectiva mais igualitária que visa o futuro e a ampliação do 
desenvolvimento social, político e econômico pela educação. 
 O benefício da inclusão social foi identificado com um processo construtivo ao lidar, 
aceitar, respeitar, trocar experiências com o outro independente das diferenças e como isso 
ocorreu, naturalmente, no exercício da socialização acadêmica entre os estudantes deficientes 
e os ditos “normais” que beneficia a todos (BERETA; VIANA, 2014). Essa integração é uma 
das bases que auxilia, ainda, a permanência do deficiente na universidade que tem a 
possiblidade de formá-lo como profissional para exercer participação ativa nos segmentos da 
 
 
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sociedade (CARLOU, 2014). 
Considerações finais 
A construção desse estudo permitiu identificar os principais desafios e benefícios na 
implementação da política pública de cotas para deficientes, nas universidades federais, 
iniciada em 2017. 
A estruturação da pesquisa foi realizada com base na formação do referencial teórico e 
na apresentação dos resultados e discussão de acordo com os autores abordados. A pesquisa 
foi iniciada com a legislação sobre a legitimidade acerca do direito do deficiente à reserva de 
vagas, cotas, no ensino superior, no âmbito das universidades federais. Em seguida, foi 
realizada uma abordagem sobre políticas públicas, sobretudo as políticas de inclusão, e como 
ocorreu o processo de implementação da política de cotas nas universidades com a realização 
dos processos seletivos para ingresso, o Enem/Sisu, e o recebimento dos estudantes pelos 
núcleos de acessibilidade. 
A inclusão social desses deficientes nas universidades federais, podendo ser entendida 
como o ato da matrícula, foi o momento em que foram ressaltados os desafios da 
implementação da política pública de cotas que podem ser entendidos como a necessidade de 
acessibilidade adequada, de mão de obra capacitada que contribuirão para o desafio da 
permanência desses estudantes ao longo do curso. Em contrapartida, foi possível, perceber que 
essa implementação trouxe benefícios, sobretudo, sociais onde se destacou a democratização 
do ensino superior que se encontra em avanço, a inclusão social entre deficientes e não 
deficientes que implica na isonomia, no respeito ao lidar com o diferente, trocar experiências 
e aprender nesse processo. Essa inclusão acadêmica se estende à sociedade quando esse 
deficiente integrado à comunidade universitária obtém uma formação e é preparado para o 
mercado de trabalho exercendo, de fato, sua cidadania na sociedade. 
Tendo em vista os escassos estudos envolvendo políticas públicas de inclusão no ensino 
superior, o aumento doacesso decorrente das leis de inclusão, torna-se, extremamente, 
relevante publicar pesquisas, preencher lacunas que possam registrar e relatar esse momento 
de expansão do ensino superior que se torna mais inclusivo. 
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