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Caboguerraentre_Ferreira_2023

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA 
LABORATÓRIO DE EVOLUÇÃO DO COMPORTAMENTO HUMANO 
 
 
LUCAS EMANUEL FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O cabo de guerra entre a evitação de patógenos e o comportamento sexual em um 
cenário pandêmico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal/2023 
Lucas Emanuel Ferreira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O cabo de guerra entre a evitação de patógenos e o comportamento sexual em um 
cenário pandêmico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação desenvolvida no Laboratório de 
Evolução do Comportamento Humano da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 
sob orientação da Prof. Dra. Fívia Araújo Lopes, 
como etapa de formação de Mestre em 
Psicobiologia. 
 
 
 
 
 
 
Natal/2023 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências - CB 
 
 
Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351 
Ferreira, Lucas Emanuel. 
O cabo de guerra entre a evitação de patógenos e o 
comportamento sexual em um cenário pandêmico / Lucas Emanuel 
Ferreira. - 2023. 
137 f.: il. 
 
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande 
do Norte, Centro de Biociências, Programa de Pós-graduação em 
Psicobiologia. Natal,RN, 2023. 
Orientadora: Profa. Dra. Fívia de Araújo Lopes. 
1. COVID-19 - Dissertação. 2. Sistema imunológico 
comportamental - Dissertação. 3. Aversão a patógenos - 
Dissertação. 4. Comportamento sexual - Dissertação. I. Lopes, 
Fívia de Araújo. II. Título. 
RN/UF/BSCB CDU 616-036.21 
Título: O cabo de guerra entre a evitação de patógenos e o comportamento sexual 
em um cenário pandêmico 
Autor: Lucas Emanuel Ferreira 
 
Data da defesa: 10 de fevereiro de 2023 – 14h 
Banca Examinadora: 
 
 
 
 
 
 
 
Professora Doutora Rovena Clara Galvão Januário Engelberth 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
 
 
 
 
 
 
 
Professora Doutora Anthonieta Looman Mafra 
Faculdade de Medicina – Instituto de Psiquiatria – USP 
 
 
 
 
 
 
 
 
Professora Doutora Fívia de Araújo Lopes (Orientadora) 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Primeiramente ao meu pai, José Ferreira e a minha tia, Lourdes Ferreira, pois sem o 
apoio deles durante toda minha trajetória acadêmica eu não teria conseguido e também a minha 
avó Francisca Maria da Conceição (in memoriam) que apesar de todos os meus defeitos sempre 
me apoiou em todas as minhas escolhas. 
A doutora Fívia de Araújo Lopes por sua orientação, pelo auxílio e amizade durante a 
elaboração deste trabalho e por permitir o desenvolvimento desta dissertação. 
Ao Laborátorio de Evolução do Comportamento Humano (LECH) e ao professor Dr. 
 
Felipe Nalon Castro que foi fundamental nas análises estatísticas. 
 
Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia e a todos os professores 
que dele fazem parte, aprendi e aprendo muito com todos vocês, obrigada por tudo. 
Obrigado também ao CNPq por fomentar minha pesquisa, bem como toda a ciência 
feita neste país. 
A tantos outros que direta e indiretamente ajudaram principalmente aqueles que se 
disponibilizarem em responder os questionários, permitindo que este trabalho pudesse ser 
concluído. 
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal 
de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. 
 
 
RESUMO 
Uma vez que a defesa imunológica contra patógenos é dispendiosa e meramente reativa, 
a defesa antipatógena humana também é caracterizada por mecanismos comportamentais 
pró-ativos que inibem o contato com patógenos. Esse sistema imunológico 
comportamental (SIC) compreende processos psicológicos que reduzem o risco de 
contágio a partir da resposta a pistas ambientais por meio da ativação de comportamentos 
aversivos. Esses processos têm efeitos importantes para a cognição social humana e o 
comportamento social, incluindo implicações no comportamento sexual, sobretudo na 
sociossexualidade. Isto é particularmente importante quando novas doenças infecciosas 
(por exemplo, a COVID-19) se espalham pela população. Em nosso trabalho, 
apresentamos os conceitos teóricos sobre SIC, sociossexualidade e diferenças individuais. 
Empiricamente, buscamos compreender, a partir de uma perspectiva evolucionista, se o 
SIC tem relação com a resposta sociossexual e a ansiedade e se essas variáveis se 
manifestam de formas diferentes, de acordo com o sexo e a orientação sexual dos 
indivíduos. A pesquisa utilizou um conjunto de questionários online: questionário 
sociodemográfico, Escala de Transtorno de Ansiedade Generalizada, Questionário de 
Vulnerabilidade Percebida à Doença, Subescala de repulsa de patógenos, e Versão 
reduzida do inventário de sociossexualidade. Participaram 274 voluntários, de todas as 
regiões do país, com idade entre 18 e 64 anos, heterossexuais e não heterossexuais. No 
estudo 1, os homens tiveram níveis mais altos de sociossexualidade, sobretudo nos 
domínios de comportamento e desejo, mas não em atitude; já as mulheres apresentaram 
níveis mais significativos de aversão a patógenos e em ansiedade. Encontramos 
correlações negativas entre SIC e sociossexualidade e correlação positiva entre SIC e 
ansiedade. Somente o domínio comportamento da sociossexualidade se correlacionou com 
ansiedade. No estudo 2, paricipantes não-heterossexuais pontuaram mais no questionário 
de sociossexualidade, sendo caracterizados como mais irretristos sexualmente, enquanto 
o público heterossexual pontuou mais nas escalas de aversão moral e aversão germinativa, 
embora não tenham sido encontradas diferenças gerais na escala total do SIC. Nossos 
dados revelam que há uma tensão entre o comportamento sexual e a tendência em evitar 
pistas consideradas potencialmente patogênicas, indicando que esses dois aspectos estão 
em constante interação ou conflito. 
 
 
Palavras-chave: COVID-19, Sistema Imunológico Comportamental, aversão a 
patógenos, comportamento sexual. 
6 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
Since the immune defense against pathogens is expensive and merely reactive, human anti- 
pathogen defense is also characterized by proactive behavioral mechanisms that inhibit contact 
with pathogens. This behavioral immune system (BIS) comprises psychological processes that 
reduce the risk of contagion by responding to environmental cues through the activation of 
aversive behaviors. These processes have important effects on human social cognition and 
social behavior, including implications for sexual behavior, especially sociosexuality. This is 
particularly important when new infectious diseases (eg. COVID-19) spread through the 
population. In our work, we present theoretical concepts about the behavioral immune system, 
sociosexuality and individual differences. Empirically, we seek to understand, from an 
evolutionary perspective, whether SBS is related to sociosexual response and anxiety and 
whether these variables manifest themselves in different ways, according to the sex and sexual 
orientation of individuals. The research used a set of online questionnaires: sociodemographic 
questionnaire, Generalized Anxiety Disorder Scale, Perceived Vulnerability to Illness 
Questionnaire, Pathogen Disgust Subscale, and Short Version of the Sociosexuality Inventory. 
We had the participation of 274 volunteers, from all regions of the country, aged between 18 
and 64, heterosexual and non-heterosexual. In study 1, men had higher levels of sociosexuality, 
especially in the domains of behavior and desire, but not in attitude; women, on the other hand, 
showed more significant levels of aversion to pathogens andanxiety. We found negative 
correlations between BIS and sociosexuality and a positive correlation between BIS and 
anxiety. Only the behavior domain of sociosexuality was correlated with anxiety. In study 2, 
non-heterosexual participants scored higher on the sociosexuality questionnaire, being 
characterized as more sexually unrestrained, while the heterosexual audience scored higher on 
the moral aversion and germinal aversion scales, although no general differences were found 
on the total BIS scale. Our data reveal a tension between sexual behavior and the tendency to 
avoid cues considered potentially pathogenic, indicating that these two aspects are in constant 
interaction or conflict. 
 
 
Keywords: COVID-19, Behavioral Immune System, aversion to pathogens, sexual behavior. 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Você nunca sabe a força que tem. Até que a sua única alternativa é 
ser forte” (Johnny Depp). 
8 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
 
A presente dissertação possui a seguinte estruturação: primeiramente, será apresentada 
uma introdução geral, seguida por dois capítulos, em que o primeiro está em formato de 
capítulo de livro (já publicado) e o segundo subdividido em dois artigos empíricos, seguido por 
uma seção de considerações finais, referências bibliográficas e apêndices/anexos. A introdução 
geral apresentará o contexto geral do trabalho, introduzindo alguns conceitos-chave essenciais 
na subárea e que serão explorados no capítulo teórico e nos artigos empíricos. Nela também 
estarão contidas as hipóteses e predições que foram analisadas nos capítulos empíricos. 
No primeiro capítulo, escrito em formato de capítulo de livro, publicado na obra Temas 
em evolução do comportamento humano II (ISBN: 978-85-8333-276-3), está contida a base 
teórica da dissertação, trazendo conceitos e explicações indispensáveis para compreensão do 
leitor acerca da temática geral abordada na dissertação. 
Em seguida, teremos o segundo capítulo, apresentado em formato de dois artigos 
científicos, que foram construídos a partir da coleta de dados durante o mestrado. Seu conteúdo 
contempla resultados e discussão quanto às hipóteses e predições que foram apresentadas na 
introdução geral. 
As considerações finais apresentarão o contexto em que a coleta de dados foi feita, o 
resumo dos principais pontos discutidos no trabalho, conclusão sobre os objetivos propostos 
na introdução, reflexão sobre a contribuição do estudo para a área de pesquisa e limitações do 
estudo e sugestões para pesquisas futuras. Além disso, também terá um quadro resumindo as 
hipóteses, predições e resultados encontrados nesta pesquisa. 
Por fim, estarão apresentadas as referências bibliográficas e anexados os instrumentos 
utilizados na coleta de dados e outros documentos relacionados a esta pesquisa. 
9 
 
 
 
 
 
Sumário 
INTRODUÇÃO GERAL ...................................................................................................... 12 
Impactos da pandemia COVID-19 na saúde mental .......................................................14 
Como a Psicologia Evolucionista explica nossas reações diante de patógenos? .............15 
Sistema imunológico comportamental ............................................................................15 
Sistema imunológico comportamental e comportamento social ......................................17 
Sistema imunológico comportamental e comportamento sexual .....................................18 
JUSTIFICATIVA ................................................................................................................. 19 
OBJETIVO GERAL............................................................................................................. 20 
Objetivos específicos .....................................................................................................20 
Capítulo 1 ............................................................................................................................ 22 
CAPÍTULO TEÓRICO ........................................................................................................ 24 
Intolerância, repulsa, sensibilidade: o sistema imune comportamental e suas implicações 
à saúde humana .............................................................................................................24 
1 Impacto sobre o comportamento sexual ...............................................................29 
2 Aversão à doenças e ideologia política .................................................................33 
3 Estereótipo e preconceito .....................................................................................35 
4 Qual a relação entre o SIC e a pandemia da COVID-19? ......................................38 
5 Considerações finais ............................................................................................42 
Referências .......................................................................................................................... 43 
Capítulo 2 ............................................................................................................................ 51 
ARTIGO EMPÍRICO 1 ........................................................................................................ 52 
Sensibilidade ao nojo, ansiedade e sociossexualidade na pandemia da COVID-19 .........52 
Resumo .........................................................................................................................52 
Introdução .....................................................................................................................53 
Método ..........................................................................................................................57 
Participantes ..........................................................................................................57 
10 
 
Procedimento de coleta de dados ...........................................................................58 
Instrumentos ...........................................................................................................58 
Análise de dados ....................................................................................................59 
Resultados .....................................................................................................................60 
Discussão ......................................................................................................................63 
Referências ....................................................................................................................72 
ARTIGO EMPÍRICO 2 ........................................................................................................82 
Sociossexualidade durante a pandemia da COVID-19: comparações entre o público 
heterossexual e não-heterossexual ..................................................................................82 
RESUMO......................................................................................................................82 
Introdução ............................................................................................................................83 
Método ..........................................................................................................................87 
Participantes ..........................................................................................................87 
Procedimento de coleta de dados ...........................................................................88 
Instrumentos ...........................................................................................................88 
Análise de dados ....................................................................................................89Resultados .....................................................................................................................90 
Discussão ......................................................................................................................92 
Considerações finais ......................................................................................................95 
Referências ....................................................................................................................97 
LIMITAÇÕES GERAIS ..................................................................................................... 104 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 106 
REFERÊNCIAS GERAIS .................................................................................................. 110 
Apêndice A – TCLE ........................................................................................................... 115 
Apêndice B - Questionário Sociodemográfico ..................................................................... 118 
Apêndice C – Convite à pesquisa ........................................................................................ 122 
Anexo A - Questionário GAD-7 ......................................................................................... 123 
11 
 
Anexo B - Questionário de Vulnerabilidade Percebida à Doença (Marques, 2016) .............. 125 
Anexo C – Subescala de repulsa de patógenos .................................................................... 126 
Anexo D - SOI-R Brasil ..................................................................................................... 127 
Anexo E – Parecer consubstanciado do CEP ....................................................................... 129 
12 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO GERAL 
 
O sexo, quando buscado de forma livre e por prazer, é uma popular forma de lazer que 
proporciona múltiplos benefícios tanto físicos quanto psicológicos (Berdychevsky & Carr, 
2020). A pandemia do coronavírus, causada pelo vírus SARS-CoV-2, causou mudanças 
radicais nas relações sexuais de grande parte das pessoas em todo o planeta (Ludwick & 
Zarbock, 2020). Com o intuito de evitar o avanço da doença através da diminuição da curva de 
contágio, a maior parte dos governos impuseram às suas populações sérias medidas de 
restrição. Ordens de bloqueio e diretrizes de distanciamento social geraram mudanças 
significativas no cotidiano das populações, influenciando diretamente nas atividades sociais e 
de lazer, sobretudo o sexo. Além disso, o medo do contágio também foi um impeditivo para a 
concretização do contato sexual corpo-a-corpo. A situação é ainda mais delicada para aqueles 
que moram sozinhos e sob “lockdown” se viram obrigados a passar por um período de celibato 
para conter o avanço da pandemia. 
É importante salientar que até mesmo coabitados tiveram suas vidas sexuais 
diretamente afetadas. Esses casais ficaram suscetíveis a certo desconforto, pois a pandemia 
exacerbou o incômodo natural de se viver confinado com outra pessoa durante todo o dia, a 
limitação do próprio espaço e o fato de compartilhar todos os momentos diários, propiciando a 
ocorrência de brigas e deixando vir à tona conflitos e problemas típicos da vida a dois, 
intensificando esses problemas e pondo em risco a própria relação (Ibarra et al., 2020). Durante 
o confinamento, os casais não conseguiam se afastar quando começaram uma discussão. 
Devido ao momento de isolamento e constante paralisação social, eles se viram 
impossibilitados de se afastarem momentaneamente um do outro em momentos de estresse e 
desgaste na relação. Isso pode aumentar a atenção dada ao argumento e, assim, pode prolongar 
ou intensificar o conflito. Toda essa carga emocional afeta negativamente a vida sexual, pois 
13 
 
 
 
 
 
fatores psicológicos, como estados de humor específicos podem inibir o desejo sexual, tais 
como nas condições de depressão e ansiedade, associadas a um baixo desejo sexual (Mieras, 
2018; Nimbi et al., 2018). Com muitos países em lockdown, os hábitos sexuais sofreram, 
consequentemente, mudanças profundas (Cocci et al., 2020). Além disso, a presença contínua 
dos filhos em casa, devido ao fechamento das escolas, prejudicou significativamente a vida 
sexual de coabitados, pois os momentos de intimidade consequentemente diminuíram (Ibarra, 
2020). 
O efeito foi tão relevante na vida familiar que, em 2020 no Brasil, houve um 
crescimento de 177% nas procuras por advogados especializados em Direito Familiar e 
divórcios, em comparação com o ano anterior (Neves, 2020). Além disso, o Colégio Notarial 
do Brasil - Conselho Federal (CNB/CF) apontou, no segundo semestre de 2020, uma turgência 
de 43,8 mil processos de divórcio, sendo este o maior número já registrado no Brasil, 
totalizando um acréscimo de 15% em relação ao ano anterior (Souza, 2020). A organização 
indicou um aumento de 4% em 2021 nos casos de divórcio em comparação a 2020. 
Especialistas em relacionamentos acreditam que os estressores externos, como a COVID-19, 
juntamente com problemas preexistentes, como problemas financeiros e depressão, podem 
impor tensão nos relacionamentos, levando até mesmo casais fortes a enfrentar tensões 
(Pietromonaco & Overall, 2020) 
Aqueles que estavam engajados em uma relação estável, porém sem viver junto, ao 
contrário, tinham um forte desejo pelo outro, mas não podiam expressar esse desejo em uma 
relação sexual por causa do distanciamento físico e social e a impossibilidade de aproximação 
devido às medidas restritivas impostas pelos governos (Ibarra et al., 2020). Já em relação aos 
solteiros tornou-se praticamente impossível manter relações sexuais casuais, visto que não 
havia (caso fossem seguidas as orientações de distanciamentos social) oportunidade de 
conhecer novos parceiros. Apesar disso, a sexualidade pode ser exercida de maneira alternativa 
14 
 
 
 
 
 
graças ao uso da Internet, apesar de nem todos os indivíduos estarem dispostos a fazer sexo 
online. 
O sentimento de aflição com a situação mundial, acompanhado com a exposição 
constante de notícias que veiculam imagens de doença e morte, comprometeu fortemente a 
estabilidade emocional dos indivíduos. Na literatura, pesquisas investigaram as respostas 
psicossociais da população em geral à epidemia de síndrome respiratória aguda grave (Cao et 
al., 2020; Taylor, 2019; Wang et al., 2019). Os itens incluídos nas respostas psicológicas foram 
ansiedade, medo, depressão, raiva, culpa, dor e perda, estresse pós-traumático e estigma (Chew 
et al., 2020). Baseado nos dados anteriormente citados fica evidente que as consequências 
psicológicas foram e têm sido avassaladoras e o comportamento sexual tem sido uma das 
esferas mais afetadas. 
 
Impactos da pandemia COVID-19 na saúde mental 
 
Ao longo do período pandêmico, houve uma deterioração gradual na saúde mental, à 
medida que as restrições governamentais de mitigação da pandemia se prolongaram (Murphy 
& Elliot, 2022). A maioria das pessoas demonstrou resiliência, mas uma minoria considerável 
foi afetada emocionalmente (Prati & Mancini, 2021). A deterioração da saúde mental envolve 
principalmente o aumento da depressão, mas também o aumento da ansiedade, insônia e abuso 
de substâncias (Prati & Mancini 2021). Estudos longitudinais durante a COVID-19 revelaram 
que o humor deprimido tende a persistir ou piorar progressivamente, enquanto os níveis de 
ansiedade tendiam a flutuar; por exemplo, a ansiedade aumentou à medida que os casos de 
infecção aumentaram e diminuíram à medida que as taxas de infecção e as restrições de 
distanciamento social diminuiram (Yarrington et al. 2021). Depois que as comunidades foram 
liberadas do confinamento, a saúde mental tendeu a melhorar em média, mesmo quando outras 
restrições pandêmicas (por exemplo,prevenção de reuniões sociais) ainda estavam em vigor e 
15 
 
 
 
 
 
as vacinas ainda não estavam disponíveis (Lego et al., 2022). No entanto, é provável que nem 
todas as pessoas conseguiram se recuperar do estresse ocasionado durante a pandemia. 
 
Como a Psicologia Evolucionista explica nossas reações diante de patógenos? 
 
A Psicologia Evolucionista traz uma hipótese que pode contribuir para explicar a 
relutância das pessoas realizarem contato social e, consequentemente, sexual. Ser morto por 
uma doença contagiosa era uma grande ameaça para os nossos ancestrais. Isso significa que 
certos comportamentos para evitar doenças foram selecionados evolutivamente (Griskevicius 
& Kenrick, 2013). Comportamentos que têm como objetivo evitar doenças fundamentam-se na 
ideia de um sistema imunológico comportamental, que é complementar ao sistema 
imunológico fisiológico, e visa prevenir os indivíduos de contrair doenças (Griskevicius & 
Kenrick, 2013; Schaller & Park, 2011). As pistas ambientais podem sinalizar uma ameaça 
vinda de algum patógeno (Tybur & Lieberman, 2016), como tosse, espirro, sujeira, cheiros 
desagradáveis, deformidade ou todos os tipos de objetos transmissores de patógenos (por 
exemplo, fezes, sangue, comida estragada). A ativação desse sistema é feita por meio da 
experiência da emoção nojo e predispõe as pessoas a se envolverem em uma ampla variedade 
de comportamentos de evitação de doenças (Griskevicius & Kenrick, 2013). No caso do 
sistema imunológico comportamental, o custo de contrair uma doença infecciosa é muito maior 
do que um possível custo acarretado pela evitação de algo ou alguém que não represente risco 
real (um erro denominado falso positivo). Isso significa que a tendência a interpretar situações 
ou pessoas como portadoras de doenças infecciosas, mesmo que elas não sejam de fato 
portadoras, pode ser um viés adaptativo (Haselton et al., 2016). 
 
Sistema imunológico comportamental 
 
O sistema imunológico comportamental (SIC) pode afetar diretamente a cognição e o 
afeto, e tem sido utilizado para explicar vários comportamentos a nível grupal e também 
16 
 
 
 
 
 
individual (Kock et al., 2020). O aumento da rejeição em relação a pessoas que fogem dos 
padrões físicos e comportamentais socialmente estabelecidos como, por exemplo, deficientes 
físicos, idosos e indivíduos com sobrepeso tem sido associado com a hipótese do sistema 
imunológico comportamental, pois estes indivíduos são inconscientemente considerados como 
portadores de patógenos, uma vez que eles não estão dentro dos padrões médios da população 
(Schaller & Neuberg, 2012). Porém, é importante deixar claro que o sistema imunológico 
comportamental não diz respeito apenas a uma questão de aparência física do outro, mas 
também está ligado a uma maior preocupação com a autoimagem devido ao potencial de ser 
visto negativamente pelos outros (Ackerman et al., 2018). 
Além das questões apresentadas anteriormente, o sistema imunológico comportamental 
tem implicações para traços e valores de personalidade. Por exemplo, pessoas que vivem em 
regiões historicamente caracterizadas pela presença elevada de ameaça por patógenos tendem 
a pontuar menos em extroversão, sociossexualidade e abertura a experiências (Schaller & 
Murray, 2008). Igualmente, a ameaça de patógenos tem sido associada ao aumento do 
conservadorismo político, religiosidade e forte apego a laços familiares (Beall et al., 2016; 
Fincher & Thornhill, 2012; Murray & Schaller, 2012). Outro estudo, conduzido por Shook e 
colaboradores (2020), examinou se as diferenças individuais na reatividade do sistema 
imunológico comportamental (aversão a germes e patógenos, sensibilidade ao nojo) foram 
associadas à preocupação com a COVID-19 e ao envolvimento em comportamentos de saúde 
preventivos recomendados (distanciamento social, lavar as mãos, limpar/ desinfetar, evitar 
tocar o rosto, usar máscaras). A aversão a germes e a sensibilidade ao nojo de patógenos foram 
as duas variáveis mais consistentemente associadas à preocupação com a COVID-19 e aos 
comportamentos preventivos de saúde, enquanto representam covariáveis demográficas, de 
saúde e psicossociais. Os resultados têm implicações para o desenvolvimento de intervenções 
destinadas a aumentar os comportamentos preventivos de saúde. 
17 
 
 
 
 
 
Sistema imunológico comportamental e comportamento social 
 
Dado que o SIC tem sido consistentemente associado a valores socialmente 
conservadores, alguns estudos sugeriram que tais valores podem funcionar como estratégias de 
prevenção de doenças (Terrizzi et al., 2013). Entretanto, valores conservadores e atitudes de 
evitação de doenças e patógenos se correlacionaram de forma contrária a algumas predições. 
No Brasil, indivíduos que se identificam com ideologias mais progressistas como a esquerda e 
a centro-esquerda demonstraram maior probabilidade de responder “Sim” ao uso de vacinas, 
sendo 12,39% e 8,9%, respectivamente. Essas diferenças entre grupos foram consideradas 
significativas. Ou seja, há diferenças entre grupos condicionados a sua ideologia em tomar a 
vacina. Em contrapartida, pessoas à direita (24,2%) e centro-direita (11%) apresentam maior 
probabilidade de escolher a resposta “Depende da vacina” (Barberia et al, 2021). Os resultados 
têm implicações para o desenvolvimento das intervenções pretendidas para aumentar os 
comportamentos preventivos de saúde. 
Porém, é importante deixar claro que como em outros comportamentos adaptativos, o 
sistema imunológico comportamental não é perfeito em sua capacidade de detecção e resposta 
a ameaças. Erros de generalização e falsos positivos não podem ser descartados. A teoria do 
gerenciamento de erros explica esse fenômeno observando que a direção de um viés depende 
dos custos relativos de erros de falso positivo a falso negativo (Haselton et al., 2016). Esse viés 
é particularmente forte quando os benefícios de evitar a doença claramente superam os custos, 
como quando uma pessoa é, ou se sente particularmente vulnerável à doença (Faulkner et al 
2004; Schaller & Park, 2011). Portanto, esse pode ser o caso durante surtos de doenças 
regionais ou globais (Kim et al., 2016). 
18 
 
 
 
 
 
Sistema imunológico comportamental e comportamento sexual 
 
Diante do exposto, é importante dizer que o sistema imunológico comportamental e o 
comportamento sexual são dois instintos presentes no reino animal, inclusive em seres 
humanos, que atuam conjuntamente, embora aparentemente possam entrar em conflito. A 
atividade sexual envolve contato interpessoal próximo que traz consigo um risco aumentado 
de transmissão de doenças. Consequentemente, assim como o despertar de uma motivação de 
acasalamento pode levar as pessoas a se sentirem menos enojadas por atos sexuais que 
normalmente provocam nojo (Stevenson et al., 2011), a ativação do sistema imunológico 
comportamental pode levar as pessoas a serem mais cautelosas em termos comportamentais no 
contexto das relações sexuais. Uma manifestação desse cuidado comportamental foi 
documentada em um estudo que impregnou o odor ambiente de fezes humanas para ativar o 
sistema imunológico comportamental e, em seguida, avaliou as intenções dos indivíduos de 
comprar e usar preservativos (Tybur et al., 2011). Os resultados revelaram que, em comparação 
com uma condição de controle sem odor, a sugestão olfativa que desencadeia nojo levou ao 
aumento da intenção de usar preservativos. 
Estudos recentes identificaram um fenômeno ligeiramente inusitado ligando a ameaça 
da doença aos comportamentos sexuais das mulheres. Fundamentada na premissa de que a 
aptidão reprodutiva feminina pode ser aprimorada pela produção de descendentes 
geneticamente diversos, e que este benefício de aptidão de longo prazo pode ocorrer 
especialmente em ecologias caracterizadas por altas densidades de patógenos, Hill et al. (2015) 
previram que quandoas mulheres antecipam um futuro a longo prazo caracterizado por 
ameaças crescentes de uma variedade de doenças, elas irão, consequentemente, desejar uma 
maior variedade de futuros parceiros sexuais. Hill et al. (2015) relataram resultados de cinco 
estudos que apoiaram essa hipótese. Em relação às condições de controle (por exemplo, uma 
condição que ressaltou uma previsão para dificuldades econômicas futuras), mulheres 
19 
 
 
 
 
 
relataram um desejo maior de variedade sexual sob condições que tornaram destacadas uma 
previsão de ameaças crescentes de doenças múltiplas. Estes efeitos ocorreram principalmente 
entre mulheres que se autopercebiam como mais propensas a contrair infecções. Tais efeitos 
não generalizaram as preferências de variedade em domínios não sexuais, e os efeitos foram 
específicos para as atitudes sexuais femininas (nenhum desses efeitos foi encontrado para 
homens) (Hill et al, 2015). 
Considerados em conjunto, esses estudos sugerem uma variedade de fenômenos 
distintos ligando a ameaça da doença às atitudes sexuais, e ainda sugeriram que a natureza 
dessas relações pode depender crucialmente se as pessoas - talvez especialmente as mulheres - 
estão respondendo a preocupações sobre a ameaça imediata de infecção (do tipo que muitas 
vezes desperta nojo), ou uma preocupação mais orientada para o futuro com as implicações 
para a saúde e a forma física da prole. 
 
 
JUSTIFICATIVA 
 
Os estudos anteriormente apresentados fornecem alguns dados introdutórios sobre a 
atividade sexual da população em geral. Porém, não foram capazes de fornecer uma 
compreensão mais detalhada dos fatores que explicam a atividade sexual relatada e nem como 
o sistema imunológico comportamental atua nos indivíduos e como ele pode afetar o 
comportamento sexual. A qualidade do relacionamento e o estado de humor foram duas 
variáveis não avaliadas nesses estudos, limitando o entendimento. Porém, é pertinente supor 
que o papel de tais fatores foram moderadores na influência da pandemia na atividade e 
comportamento sexual durante esse período. 
Nesse sentido, estudos referentes ao comportamento sexual e como ele está imbricado 
ao emocional em contextos hostis como no da pandemia, pela lente evolutiva expandem a 
compreensão e propiciam efeitos positivos a partir de uma educação sexual mais abrangente, 
20 
 
 
 
 
 
inclusive aumentando o conhecimento dos jovens e melhorando suas atitudes relacionadas à 
saúde mental e comportamentos sexuais e reprodutivos. Uma educação sexual de qualidade – 
dentro ou fora das escolas – pode ajudar a diminuir o comportamento sexual de risco ou as 
taxas de infecção por DST/HIV. Além disso, a sexualidade e a vida sexual são experiências 
altamente individuais e se expressam pelo bem-estar físico e mental. Uma vez que a saúde 
sexual e reprodutiva está fortemente ligada ao bem-estar psicológico, emocional e social e o 
atual aumento de doenças psicológicas provavelmente a afetou gravemente, estudos a respeito 
dessas relações constituem uma rica fonte de dados para o conhecimento acerca do 
comportamento humano. 
 
OBJETIVO GERAL 
 
Compreender, a partir de uma perspectiva evolucionista, a magnitude da ansiedade 
acarretada pelo distanciamento social e isolamento social durante a pandemia da COVID-19 
no comportamento sociossexual de adultos bem como a relação e do sistema imunológico 
comportamental na manifestação do comportamento sexual durante o período histórico 
analisado. 
 
Objetivos específicos 
 
● Investigar se há diferenças de sexo nas estratégias de sociossexualidade mediante estresse 
psicológico pandêmico; 
 
● Identificar se homens e mulheres pontuam de modo diferente em relação à sensibilidade 
ao nojo (sistema imunológico comportamental) durante o período pandêmico; 
 
● Observar como as variáveis sociossexualidade, ansiedade e sensibilidade ou repulsa a 
patógenos se interrelacionam durante a pandemia da COVID-19. 
https://www.sciencedirect.com/topics/medicine-and-dentistry/reproductive-public-health
21 
 
 
 
 
 
● Identificar se há diferença entre a população heterossexual e não-heterossexual na medida 
de sistema imunológico comportamental e sociossexualidade. 
 
 
 
HIPÓTESES E PREDIÇÕES 
As hipóteses e predições são as seguintes: 
 
Hipótese 1: Há diferenças entre os sexos quanto à percepção ao nojo e sociossexualidade 
durante o período pandêmico. 
Predição 1.1: Mulheres relatarão maior sensibilidade geral ao nojo e menor pontuação em 
 
todos os três domínios da sociossexualidade; 
 
Predição 1.2: Os homens pontuam menos no escore geral do sistema imunológico 
 
comportamental ao mesmo tempo em que pontuam mais alto do que as mulheres em todos 
os três domínios da sociossexualidade. 
Hipótese 2: Há uma relação entre ansiedade e sociossexualidade durante a pandemia de 
COVID-19. 
Predição 2.1: Mulheres que relatam níveis mais altos de ansiedade, apresentam menor 
 
desejo sexual e menor pontuação no domínio comportamento da sociossexualidade; 
Predição 2.2: Homens apresentam menor restrição sociossexual tendo pontuações maiores 
nos três domínios da sociossexualidade ao mesmo tempo em que apresentam menores níveis 
de ansiedade; 
Hipótese 3: Há uma relação entre ansiedade e sistema imunológico comportamental (SIC) 
durante a pandemia da COVID-19: 
Predição 3.1: Mulheres relatam um SIC mais ativo e níveis mais altos de ansiedade em 
 
comparação com os homens, durante a pandemia da COVID-19; 
 
Hipótese 4: Há diferenças na sociossexualidade em função da orientação sexual no período 
 
pandêmico: 
22 
 
 
 
 
 
Predição 4.1: Durante a pandemia, heterossexuais apresentaram sociossexualidade mais 
 
restrita que não-heterossexuais, independente do sexo; 
Hipótese 5: Há diferenças na expressão do sistema imunológico comportamental (SIC) em 
 
função da orientação sexual, durante o período pandêmico: 
 
Predição 5.1: O público heterossexual possui maior sensibilidade em todos os domínios da 
 
escala de SIC do que os indivíduos não heterossexuais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 1 
23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Status: Publicado 
 
Ferreira, L. E. (2022). Intolerância, repulsa, sensibilidade: o sistema imune comportamental e 
suas implicações à saúde humana. In Lopes, F. A., Castro, F. N. e Santos, D. B. (Orgs.), 
Temas em evolução do comportamento humano II (pp. 63-98). Natal: IFRN. [ISBN: 978- 
85-8333-276-3] 
24 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO TEÓRICO 
 
 
Intolerância, repulsa, sensibilidade: o sistema imune comportamental e suas implicações 
à saúde humana 
 
Lucas Emanuel Ferreira 
 
 
¹Programa de Pós-graduação em Psicobiologia, Laboratório de Evolução do Comportamento 
Humano - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil 
 
Quem diria que temos uma defesa imunológica comportamental? Ou que, quando 
ativada, ela pode diminuir nossa motivação para nos conectarmos socialmente com nossos 
amigos? Embora as doenças infecciosas tenham representado uma ameaça significativa e 
persistente à sobrevivência e ao bem-estar humanos ao longo da história, apenas recentemente 
as implicações psicológicas e comportamentais de ameaça de doenças se tornaram um tópico 
de pesquisa nas ciências do comportamento. Buscando esclarecer essa questão, apresentamos 
neste capítulo o conceito de sistema imune comportamental – série de mecanismos 
psicológicos que permitem que organismos detectem a presença de agentes infecciosos 
(patógenos) em seu ambiente externo, tomando atitudes preventivas para se defender desses 
agentes - e suas implicações sociais e comportamentais no que diz respeito à ameaça percebida 
à doença nos processos de julgamento e tomada de decisão e como isso impacta nas normas 
culturais. 
É provável que a ameaça representada por doenças infecciosas ao longo da evolução 
humana tenha causado mais mortesdo que todas as outras causas de mortalidade combinadas 
(INHORN; BROWN, 1990). Entretanto, essa ameaça não impacta a vida de apenas seres 
humanos; os cientistas caracterizam a evolução de todas as espécies animais como tendo sido 
25 
 
 
 
 
 
impulsionada substancialmente por uma corrida armamentista evolucionária de um bilhão de 
anos entre os parasitas e seus hospedeiros (MURRAY; PROKOSCH; AIRINGTON, 2019; 
ZUK, 1992, 2007), com apenas os vírus sendo responsáveis por 33% das adaptações genéticas 
de mamíferos (ENARD et al., 2016). O resultado dessa corrida armamentista em humanos e 
demais vertebrados é o sistema imunológico, que é composto por um conjunto de mecanismos 
extraordinariamente complexos que derrotam infecções de forma reativa quando elas ocorrem, 
possuindo a capacidade de gerar bilhões de anticorpos únicos (FANNING; CONNOR; WU, 
1996; MURRAY; PROKOSCH; AIRINGTON, 2019). Protegendo o hospedeiro de agentes 
químicos e de microrganismos, o sistema imune fisiológico está presente desde bactérias a 
mamíferos e tem sido um sucesso em termos evolutivos. Esse sistema é capaz de responder 
adequadamente às mudanças que ocorrem no ambiente externo dos organismos 
(NICHOLSON, 2016; SHAKHAR, 2019). É também evidente que todos os seres vivos se 
mantêm interligados por uma gigante e complexa rede de contato. Isso é ainda mais notório 
para as espécies que desenvolveram o gregarismo (tendência a viver em grupos/bando). Porém, 
apesar do surgimento e manutenção da existência de grupos sociais terem trazido uma série de 
benefícios há também, em especial, o custo do aumento de doenças transmissíveis. 
(SHAKHAR, 2019). 
Os seres humanos, além de outros animais, ao longo de sua história evolutiva têm tido 
contato com diversos organismos patogênicos como bactérias, vírus, fungos, protozoários e 
helmintos (SCHALLER, 2011). As populações ancestrais que tiveram proximidade com esses 
organismos desenvolveram, por pressão seletiva, adaptações que diminuíram os custos 
impostos por esses patógenos (SHELDON; VERHULST, 1996). Essas adaptações nada mais 
são que os mecanismos fisiológicos de defesa que detectam a presença de patógenos e, caso 
detectados dentro do corpo do indivíduo infectado, acionam respostas que em última instância 
eliminam o organismo invasor (SCHALLER; PARK, 2011). Existem várias linhas de defesa 
26 
 
 
 
 
 
que evoluíram para nos proteger contra infecções. Esses mecanismos de defesa interagem entre 
si e atuam de forma colaborativa, mas também serial. Por exemplo, as barreiras químicas e 
físicas bloqueiam a entrada de patógenos nos tecidos. Inclui a pele que serve como uma barreira 
física e as membranas mucosas do estômago que secretam suco gástrico e moléculas que 
encapsulam e destroem muitos patógenos (SHAKHAR, 2019). Se os patógenos ultrapassarem 
a primeira linha de defesa e invadirem o potencial hospedeiro, o sistema imunológico será 
ativado (KELLEY; DE BONO; TROWSDALE, 2005). Porém, se os patógenos ultrapassarem 
a primeira linha de defesa e invadirem o corpo, o sistema imunológico fisiológico será ativado. 
Este é o mecanismo de defesa mais conhecido. As proteínas por ele utilizadas são codificadas 
por mais de 7% do nosso genoma (KELLEY et al., 2005), refletindo a forte pressão seletiva 
ocasionada por patógenos. 
É importante destacar que a defesa imunológica fisiológica é energeticamente custosa. 
Em primeiro lugar, ela consome recursos calóricos que poderiam ser direcionados para outras 
atividades como busca por parceiros, acasalamento e procura por alimentos. Além disso, essa 
primeira linha de defesa produz algumas reações a presença de invasores como fadiga, febre e 
outras respostas fisiológicas debilitantes e fisiologicamente agressivas. Em terceiro, a resposta 
fisiológica é meramente reativa, ou seja, ela só é acionada quando o patógeno já está instalado 
no corpo do hospedeiro (SCHALLER; PARK, 2011; SHELDON; VERHULST, 1996). 
Devido a esses custos ligados à defesa imunológica contra patógenos, Schaller, em 
2007, conceituou um sistema de defesa adicional e complementar – o sistema imunológico 
comportamental (SIC). O SIC é tido como um sistema motivacional que modifica o 
comportamento e através de pistas perceptuais é capaz de induzir a redução de contato com 
agentes infecciosos (Fig. 1). É a partir dele que os indivíduos acionam mecanismos emocionais 
e cognitivos que identificam ameaças potenciais a partir de pistas, consequentemente 
27 
 
 
 
 
 
interpretando-as e respondendo-as de maneira evasiva e se distanciando da possível fonte 
contagiosa (SCHALLER; PARK, 2011). 
 
 
 
 
Figura 1: modelo ilustrativo sobre o mecanismo de ativação do sistema imune comportamental e como ele 
reverbera sobre o sistema motivacional (tomada de decisão). 
 
 
O SIC foi observado em várias espécies animais, como em girinos, chimpanzés e 
morcegos (HART, 1990; WISENDEN; GOATER; JAMES, 2009). O tipo de defesa 
comportamental pode ser classificado como defesa pró-ativa (de caráter antecipatório) ou 
reativa. A automedicação e o comportamento de nojo foram algumas das maneiras de defesa 
comportamental reativas já observadas (DANTZER; KELLEY, 2007; LARSON; DUNN, 
2001; SINGER; MACE; BERNAYS, 2009). Porém, também há evidências de defesa 
comportamental proativa como no caso de espécies de girinos que evitam nadar próximos a 
girinos doentes (KIESECKER et al., 1999), fêmeas de camundongo que apresentam aversão a 
odores de camundongos machos infectados por nematódeos (KAVALIERS; COLWELL, 
1995); chimpanzés que respondem agressivamente a outros chimpanzés infectados pelo vírus 
causador da poliomielite (GOODALL, 1986); e morcegos que adotaram um padrão solitário 
28 
 
 
 
 
 
de hibernação como estratégia de distanciamento para evitar vizinhos infectados por uma 
doença fúngica (LANGWIG et al., 2012). 
Nos humanos, as principais evidências que apoiam a presença do SIC se concentram 
em estudos que apontam na capacidade de detectar doentes por meio de alguns indícios. Por 
exemplo, através do odor presente em peças de roupa, foi possível detectar indivíduos que 
tiveram seu sistema imunológico ativado, indicando que possivelmente essas pessoas tiveram 
seu organismo invadido por algum patógeno (OLSSON et al., 2014; REGENBOGEN et al., 
2017). Além disso, a aparência física e o modo de caminhar foram percebidos como menos 
saudáveis (SUNDELIN et al., 2015) e desejáveis (REGENBOGEN et al., 2017). Há também 
vários estudos que mostram que o SIC tem implicações sociais referente a falsos positivos 
como no caso do preconceito, xenofobia, categorias sociais e diferenças interculturais 
(FAULKNER et al., 2004a; MILLER; MANER, 2012; PARK, 2003; PARK; SCHALLER; 
CRANDALL, 2007). Nos próximos parágrafos iremos explorar os impactos do SIC no 
comportamento social (Fig. 2) e consequentemente à saúde humana. 
29 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2: imagem ilustrativa que representa as muitas maneiras pelas quais a ameaça de infecção molda o 
comportamento social. (Imagem adaptada) Direitos autorais da imagem por Paola Bressan e Peter Kramer (2021). 
 
 
 
1 Impacto sobre o comportamento sexual 
 
 
O SIC é capaz de afetar diretamente o comportamento sexual. Isso é explicado porque 
as relações sexuais podem ser a porta de entrada para infecções sexualmente transmissíveis 
(IST). Como os micróbios infecciosos são muito pequenos para serem vistos diretamente, o 
sistema imunológico comportamental foi moldado para monitorar e responder a sinais que se 
correlacionam de forma confiável com a presença de patógenos (SCHALLER; PARK, 2011). 
Várias linhas de pesquisa têm se concentrado em compreender melhor o que leva a 
30 
 
 
 
 
 
comportamentos que evitam IST, incluindo o uso de preservativo (ALBARRACÍN et al., 2001; 
BRYAN; AIKEN; WEST, 1996) e medidas profiláticas pós-coito sexual, como tentativas de 
rastreio de IST’s (LORENC et al., 2011; MEVISSENet al., 2011). Muitas das pesquisas sobre 
prevenção de IST’s são conduzidas por teorias sociais cognitivas, como a teoria do 
comportamento planejado (AJZEN, 1985, 1991; GODIN; KOK, 1996) e o modelo de crença 
na saúde (JANZ; BECKER, 1984; ROSENSTOCK, 1974). 
A teoria do comportamento planejado (TPB) propõe que a decisão de um indivíduo de 
se envolver em um comportamento específico, como fazer ou não sexo, pode ser baseada em 
sua intenção de se envolver nesse comportamento (AJZEN, 1985). Pressupõe-se que os fatores 
motivacionais estão sujeitos as intenções internas que influenciam um comportamento; 
indicam o quão as pessoas estão dispostas a tentar, de quanto esforço planejam exercer para 
executar o comportamento. Como regra geral, quanto mais forte a intenção de se envolver em 
um comportamento, mais provável deve ser seu desempenho (AJZEN, 1991). Já o modelo de 
crença em saúde tenta prever o comportamento relacionado à saúde em termos de certos 
padrões de crenças. A motivação de uma pessoa para assumir um comportamento de saúde 
pode ser dividida em três categorias: percepções individuais, fatores modificadores e 
probabilidade de ação. As percepções individuais são fatores que afetam a percepção da doença 
e da importância da saúde para o indivíduo, a suscetibilidade percebida e a gravidade percebida. 
Os fatores de modificação incluem variáveis demográficas, ameaça percebida e pistas 
para ação. A probabilidade de ação são os benefícios percebidos menos as barreiras percebidas 
de tomar a ação de saúde recomendada. A combinação desses fatores causa uma resposta que 
muitas vezes se manifesta na probabilidade desse comportamento ocorrer (JANZ; BECKER, 
1984; ROSENSTOCK, & STRECHER, 1988). Esses modelos propõem que as crenças 
pessoais (por exemplo, aquelas relacionadas à avaliação de risco e habilidades pessoais) são os 
principais determinantes do comportamento de saúde. 
31 
 
 
 
 
 
A suposição de que as pessoas têm acesso consciente a esses fatores psicológicos 
anteriormente citados que influenciam o comportamento de saúde está subentendida em tais 
modelos. Embora essas abordagens para o comportamento de proteção à saúde tenham sido 
úteis na previsão do comportamento e na identificação de alvos para intervenções, uma série 
de processos motivacionais adicionais e menos examinados (o próprio SIC) também pode estar 
associados ao comportamento de saúde (GRUIJTERS et al., 2016). Mas como o SIC impacta 
as relações sexuais? Um estudo conduzido por Oaten em 2019 observou que a excitação sexual 
diminui a aversão a IST’s em potencial e aumenta a disposição para fazer sexo. Além disso, 
foi identificado que indivíduos que apresentaram tolerância maior ao nojo estiveram 
positivamente predispostos a se envolverem em relações sexuais. Obviamente, há muitos 
benefícios para o comportamento sexual, como a procriação e a experiência de prazer e 
intimidade - benefícios que geram fortes motivações para envolvimentoem comportamento 
sexual (HILL; PRESTON, 1996). Na verdade, a motivação sexual e a evitação a patógenos 
estão provavelmente relacionados de forma antagônica entre si. Ou seja, estados objetivos 
relevantes, como evitar patógenos e o desejo de experimentar prazer sexual, podem atuar como 
forças psicológicas opostas ao motivar o comportamento. Portanto, o estudo supracitado 
evidencia o cabo de guerra entre o sistema de motivação sexual e o SIC, ambos modulando de 
modo oposto o controle de tomada de decisão sexual. Do mesmo modo, indivíduos do sexo 
masculino demonstraram redução nos julgamentos negativos acerca do risco de contaminação 
por ISTs graças à excitação sexual (BLANTON; GERRARD, 1997). Posteriormente, estudos 
confirmaram que o comportamento de risco assumido tanto por homens quanto por mulheres 
é intensificado pelo grau de excitação sexual e em consequência, os sentimentos de 
autocontrole são reduzidos (SKAKOON-SPARLING; CRAMER, 2016; SKAKOON- 
SPARLING; CRAMER; SHUPER, 2016). 
32 
 
 
 
 
 
Para além da excitação sexual anteriormente citada, a atratividade física também é um 
fator importante. Indivíduos independente da orientação sexual e da identidade de gênero 
apresentam maior disposição em fazer sexo desprotegido com um parceiro atraente em relação 
a um menos atraente (EPSTEIN et al., 2007; SHUPER; FISHER, 2008). Baseado nisso é 
importante se perguntar: se um estado de excitação sexual e um parceiro potencial atraente 
aumentam a probabilidade de tomar uma decisão sexual arriscada, como fazer sexo sem 
proteção, por que isso ocorre? Uma hipótese plausível pode ser a emoção de nojo. Quando a 
excitação 
sexual é alta, as respostas de nojo relacionadas à ameaça do patógeno podem diminuir (BORG; 
DE JONG, 2012). Com efeito, indivíduos com nível de evitação de patógenos mais elevados 
são menos inclinados a fazer sexo com múltiplos parceiros, o que é um fator-chave para adquiri 
uma doença infecciosa (JOFFE et al., 1992). As pessoas com um SIC mais ativo podem julgar 
os custos do sexo casual como maiores que os benefícios, portanto fariam menos sexo casual 
e perceberiam uma maior necessidade de manterem um comportamento de proteção á saúde 
(por exemplo, fazerem teste de HIV após sexo desprotegido). Portanto, uma motivação básica 
para evitar patógenos pode influenciar a atitude e a intenção em relação ao comportamento de 
proteção à saúde (GRUIJTERS et al., 2016). 
A pista sensorial olfativa é uma forte preditora na identificação de possíveis riscos de 
infecção. Tybur e colaboradores (2011) convidaram os participantes para um laboratório que 
foi pulverizado com um odor semelhante aos associados a fontes de patógenos. Os autores 
levantaram a hipótese de que esta pista olfativa para patógenos motivaria inconscientemente o 
comportamento preventivo - aumentando a intenção dos participantes de usar, comprar e 
discutir o uso de preservativos em futuros encontros sexuais. Os resultados foram consistentes 
com esta hipótese: os participantes que foram expostos a patógenos relataram maiores 
intenções de uso de preservativo do que os participantes em uma condição controle. Outra 
33 
 
 
 
 
 
evidência foi apresentada por Meertens e seus colaboradores, em 2013: foi demonstrado que 
os participantes que se imaginaram acordando em um quarto sujo depois de um encontro sexual 
passaram a se considerar mais suscetíveis a ISTs em comparação aos participantes que se 
imaginaram acordando em um ambiente limpo depois de uma relação amorosa à noite. Os 
participantes que idealizaram a sala suja também consideraram as chances de se envolverem 
em sexo casual inseguro significativamente menor no futuro. 
 
2 Aversão à doenças e ideologia política 
A orientação política é uma forma consciente de pensamento presente em um indivíduo 
ou em um grupo, incluindo uma ideologia (por exemplo, esquerda ou direita) e/ou preferência 
partidária. Os cientistas sociais normalmente se debruçam sobre o que pode influenciar a 
orientação política. Já os psicólogos questionam quais fatores inconscientes podem moldar a 
nossa opinião política. 
Nesse sentido, os sistemas que abordam traços neurofisiológicos, como o SIC, são 
cruciais para a compreensão dessas preferências (HOLMES, 2016). O SIC pode induzir as 
atitudes políticas adotadas pelas pessoas, em especial aquelas que reduzem a probabilidade de 
contato com patógenos, reais ou fictícios, mesmo que esses indivíduos não tenham a mínima 
consciência dos mecanismos psicológicos que podem estar por trás de tais inclinações. 
(BILLINGSLEY; LIEBERMAN; TYBUR, 2018). 
A atitude favorável dos governos a respeito de uma maior abertura a entrada de 
imigrantes é um notório exemplo de política vista com considerável resistência por aqueles que 
se consideram mais conservadores no campo político. A Ciência Política demonstra que são 
duas as razões que contribuem para a oposição à entrada de um indivíduo em um território que 
não sejao de origem: (a) o desejo de conservar as normas e valores culturais vigentes, 
especialmente por aqueles indivíduos com menor grau de instrução e menos abertos a visões 
de mundo, progressistas (WRIGHT; CITRIN; WAND, 2012) e (b) preocupações com a 
34 
 
 
 
 
 
competição econômica e a instabilidade no emprego, com indivíduos de baixa renda e baixa 
qualificação sendo que mais se opõem (HAINMUELLER; HISCOX, 2010). 
Mas qual razão psicológica subjacente poderia estar influenciando tamanha repulsa a 
essa política? Pense bem: você já sabe que o SIC é um sistema adaptativo comportamental que 
previne o contato contra possíveis fontes de infecção. Agora imagine a seguinte situação: seria 
desastroso para nossos ancestrais se aproximarem indiscriminadamente de tudo e todos que 
estavam presentes no ambiente, pois não se sabia o risco que aquela interação poderia 
ocasionar. 
Porém, igualmente desvantajoso seria evitar a formação de novos vínculos potencialmente 
benéficos. Com base nisso, é razoável pensar que os indivíduos deveriam negociar o custo e a 
probabilidade de serem infectados com o custo e a probabilidade de renunciar à cooperação 
(AARØE; OSMUNDSEN; PETERSEN, 2016; TYBUR; LIEBERMAN, 2016). Essas perdas 
e possibilidades mudam de acordo com o contexto e também de pessoa para pessoa (AL- 
SHAWAF; LEWIS, 2013; FESSLER; ENG; NAVARRETE, 2005; FESSLER; 
NAVARRETE, 2003). Desse modo, o SIC possui uma flexibilidade que ajusta sua resposta à 
ameaça representada pelo meio ambiente (CURTIS; DE BARRA; AUNGER, 2011) e a 
capacidade do indivíduo lidar com isso (SCHALLER; DUNCAN, 2007). 
Buscando elucidar os fatores acerca da rejeição às políticas de imigração, a psicologia 
evolucionista, através do SIC, vem reunindo um corpo de evidências que apontam que a 
oposição à imigração também surge de inclinações psicológicas mais profundas. Por esse viés, 
os pesquisadores propõem que os imigrantes podem desencadear reações de repulsa que 
motivam sentimentos anti-imigração (FAULKNER et al., 2004b). A primeira possibilidade é 
a de que os humanos desenvolveram uma mecanismo psicológico adaptativo que provoca 
hostilidade contra grupos externos desconhecidos, porque indivíduos de outros grupos e 
regiões carregaram diferentes patógenos potencialmente perigosos durante sua história 
35 
 
 
 
 
 
evolutiva (FINCHER; THORNHILL, 2012). A segunda hipótese é que a tendência de perceber 
outros indivíduos como vetores de patógenos é um subproduto, em vez de predisposição 
adaptativa, de uma tendência de hipervigilância contra tudo e qualquer coisa que pareça 
desconhecida (AARØE; OSMUNDSEN; PETERSEN, 2016). Por exemplo, os indivíduos 
tendem a tratar muitos desvios físicos do fenótipo médio no interior de seu grupo interno como 
um sinal de risco potencial de patógenos, 
especialmente desvios que são semelhantes aos sintomas reais de doença, como erupções 
cutâneas, inchaço e descoloração da pele. A hipervigilância pode até ir além de sinais de 
anormalidade física. Ela também pode ser ativada por práticas comportamentais desconhecidas 
que podem sugerir um risco de patógenos (por exemplo, má higiene ou hábitos alimentares 
incomuns) (FESSLER; NAVARRETE, 2003). 
Tanto diferenças físicas quanto culturais podem ser mentalmente interpretadas, a partir 
do SIC como pistas que indicam presença de patógenos, causando estranhamento e fazendo 
com que as pessoas evitem o contato com indivíduos etnicamente diferentes, 
consequentemente despertando a preferência por políticas de imigração mais restritivas. É 
importante salientar que os indivíduos com maior sensibilidade imunológica comportamental 
são mais inclinados a reagir defensivamente a fontes percebidas de patógenos, incluindo 
imigrantes (FAULKNER et al., 2004a). Esta área de pesquisa tem implicações importantes 
para descobrir o que motiva as crenças políticas das pessoas, mas tem recebido relativamente 
pouca atenção até agora. Eventos políticos e sociais atuais são lembretes de que é imperativo 
continuar a descobrir o que desperta 
as pessoas a tomarem certas decisões dessa natureza. 
 
 
3 Estereótipo e preconceito 
Há dentro da hipótese do SIC uma abordagem sociofuncional que tenta explicar o 
preconceito baseado na ameaça por patógenos (COTTRELL; NEUBERG, 2005). Eles sugerem 
36 
 
 
 
 
 
que o preconceito intergrupal se caracteriza por reações afetivas específicas que são evocadas 
em resposta à percepção de ameaças (à saúde grupal, liberdade individual, integridade física e 
recursos econômicos) advindas de grupos externos que supostamente colocam em risco a vida 
em grupo. Em outras palavras, a sensibilidade ao nojo, que evoluiu como proteção contra 
ameaças de patógenos, também desencadeia reações a pistas que não são visceralmente 
nojentas, como pessoas com características raras ou que fogem aos padrões majoritariamente 
aceitos, e, portanto, podem explicar o preconceito em relação aos membros desses grupos. No 
contexto das reações emocionais, o preconceito refere-se a crenças negativas sobre os outros 
que podem ou não ser 
baseadas em dados da realidade (ALLPORT, 1954). 
 
Ameaças percebidas a segurança intergrupal predizem o medo e a evitação como 
estratégia de proteção; quando relativas à saúde do grupo, predizem reações de nojo para 
minimizar o risco de contaminação; quando interpretadas como direcionadas aos valores 
internos de um grupo, a resposta se traduz em repulsa moral e em tentativas de manter os 
sistemas de valores dentro do grupo por meio da limitação de influências do grupo tido como 
perigoso; e obstáculos percebidos em relação ao funcionamento dentro do grupo (como 
ameaças aos recursos 
econômicos, propriedade, liberdades e direitos individuais, e cooperação social) predizem 
respostas comportamentais de raiva para recuperar os recursos e restaurar a dinâmica 
tradicional do grupo que se sente ameaçado (COTTRELL; NEUBERG, 2005). 
Um exemplo clássico de uma forma de preconceito ainda muito presente ao redor do 
mundo é a rejeição a pessoas não heterossexuais (especialmente gays e lésbicas). Os 
comportamentos negativos dirigidos a homossexuais variam de agressão física violenta a votar 
contra o casamento gay (FILIP-CRAWFORD; NEUBERG, 2016). Estereótipos, preconceitos 
37 
 
 
 
 
 
e comportamentos discriminatórios dirigidos às pessoas com base na orientação sexual variam 
amplamente. As perspectivas existentes sobre o preconceito sexual defendem diferentes causas 
subjacentes, às vezes fornecem evidências díspares ou conflitantes para suas raízes e, 
normalmente, não levam em conta variações observadas nos estudos (PIRLOTT; COOK, 
2018). 
Um número considerável de estudos demonstrou relação entre a sensação de nojo de 
pessoas heterossexuais e preconceito em relação aos gays (ou seja, homofobia) (KISS; 
MORRISON; MORRISON, 2020). A literatura científica a respeito do assunto ainda é 
incipiente, com poucos estudos buscando explicar por que ocorrem sentimentos de nojo de 
indivíduos heterossexuais para com gays, lésbicas e bissexuais. No entanto, uma revisão da 
literatura existente sobre homonegatividade (preconceito e discriminação dirigidos a 
indivíduos considerados gays ou lésbicas) (MORRISON; MORRISON, 2003) sugerem que 
certas crenças amplamente aceitas podem ser responsáveis pela capacidade dos membros da 
comunidade LGBT+ de desencadear um estado afetivo negativo em pessoas que não se sentem 
pertencentes a essas minorias sexuais. São elas: (1) estigma de “sodomia”; (2) homens 
homossexuais como vetores de doenças; (3) homens gays como desestabilizadores de valores 
heteronormativos; e (4) rejeição (percebida) dos gays em relação a práticas religiosas 
tradicionais (KISS; MORRISON; 
MORRISON, 2020). 
A repugnância de cunho sexual, moral e relativa ao medo de contaminação são 
preocupações significativas para a compreensão de comportamentos homonegativos. As 
percepções de anormalidadesão um indicativo para a presença de patógenos (SCHALLER; 
NEUBERG, 2012). O contato sexual com indivíduos do mesmo sexo é inerentemente não 
reprodutivo; assim, a ideia de tal contato pode provocar repulsa sexual, particularmente em 
resposta a percepções de interesse sexual indesejado. PIRLOTT; NEUBERG (2014) 
38 
 
 
 
 
 
demonstraram que homens e mulheres heterossexuais percebem gays e lésbicas, 
respectivamente, como ameaças de interesse sexual indesejado, e estas ameaças percebidas 
predizem atitudes homofóbicas. 
Como a pressão seletiva desencadeou a repulsa como uma adaptação filogenética, a 
evitação de patógenos continua a desempenhar um papel fundamental na psicologia de 
enfrentamento a contaminantes e contágios. Portanto, compreender a psicologia de rejeição a 
patógenos é útil para elucidar os mecanismos que provocam a reação de nojo. Nesse sentido, é 
importante salientar que gays e lésbicas não são o único grupo que provoca reações de repulsa. 
Pesquisas indicam que o nojo é uma reação comum contra portadores de obesidade 
(LIEBERMAN; TYBUR; LATNER, 2012), a pessoas com deficiências físicas, anomalias 
faciais e outras anormalidades corporais (FAULKNER et al., 2004a), como também contra 
indivíduos que não compartilham as mesmas crenças religiosas hegemônicas, como no caso 
dos ateus (COOK; COTTRELL; WEBSTER, 2015), entre outros. Dessa forma, entende-se que 
os novos modelos evolutivos baseados na tese do sistema imunológico comportamental podem 
impulsionar uma melhor compreensão da diversidade de comportamentos anti-homossexuais 
e fatores pessoais e situacionais que induzem e moderam sua ocorrência, bem como ajudam a 
elucidar outras formas de preconceito presentes em nossa sociedade, ajudando a quebrar 
crenças equivocadas sobre indivíduos que não fazem parte do grupo hegemônico. 
 
4 Qual a relação entre o SIC e a pandemia da COVID-19? 
No final de 2019, o mundo inteiro foi pego de surpresa por uma doença que redefiniu 
os padrões da sociabilidade humana. Quase 2 anos depois, a COVID-19 ainda representa uma 
séria ameaça à saúde global. O vírus SARS-CoV-2 se espalhou tão rapidamente que em março 
de 2020 a Organização Mundial de Saúde decretou status de pandemia ao surto (WORLD 
HEALTH ORGANIZATION, 2020). A fim de diminuir a transmissão do vírus, os governos e 
as organizações de saúde recomendaram uma série de comportamentos preventivos, como 
39 
 
 
 
 
 
aumento de frequência da lavagem de mãos, evitar tocar o rosto, aumentar a frequência da 
limpeza e desinfecção de superfícies, distanciamento social para evitar contato muito próximo 
com outras pessoas e utilização de máscaras (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND 
PREVENTION., 2020; WORLD HEALTH ORGANIZATION., 2020). 
Desta maneira, apesar do sucesso da produção de vacinas e sua respectiva aplicação, a 
pandemia impôs a todos mudanças de comportamento que ainda persistem como um possível 
meio de reduzir a transmissão de doenças. Nesse sentido, diferenças individuais na reatividade 
do SIC (aversão a germes, sensibilidade a repulsa por patógenos) estão associadas à 
preocupação com COVID-19 e ao envolvimento em comportamentos de saúde preventivos 
recomendados anteriormente destacados (SHOOK et al., 2020). 
Embora as pessoas encontrem patógenos diariamente, a ameaça dos patógenos é 
realçada 
por situações como uma temporada de gripe ou resfriado, ou no caso de uma epidemia ou 
doença de propagação global. Para desacelerar o surto de novas doenças infecciosas como 
COVID-19, é crucial envolver-se em comportamentos preventivos, como distanciamento 
social e práticas rígidas de higiene pessoal. No entanto, muitos menosprezam essas 
recomendações nos estágios iniciais e críticos porque os sinais de doença não são 
imediatamente evidentes. Portanto, o SIC é fundamental para compreender os fatores que 
predizem as percepções da ameaça de pandemia e a importância dos comportamentos 
preventivos. Um desses fatores pode ser a evitação de patógenos característicos das pessoas 
(MAKHANOVA; SHEPHERD, 2020). 
Os indivíduos variam quanto à sensibilidade ao nojo, ou na facilidade com que um fica 
enojado e também na intensidade de sua resposta de nojo (HAIDT; MCCAULEY; ROZIN, 
1994; TYBUR; LIEBERMAN; GRISKEVICIUS, 2009). Aqueles que manifestam maior 
reatividade do SIC devem ser mais sensíveis às ameaças de patógenos e tendem a evitar mais 
40 
 
 
 
 
 
situações ou coisas que as exponham a ameaças potenciais. Como tal, os indivíduos com maior 
sensibilidade ao nojo e aversão aos germes devem estar mais preocupados com a pandemia de 
COVID-19 e mais propensos a adotar comportamentos preventivos de saúde para evitar a 
doença. Algumas evidências dão suporte a essa proposição, de modo que a maior reatividade 
do SIC foi associada a intenções comportamentais e esforços anteriores para seguir as diretrizes 
de saúde do COVID-19 (DÍAZ; COVA, 2021). 
Em dois estudos conduzidos por Makhanova e Sheperd em 2020, o traço relativo à 
evitação de patógenos foi associado a reações mais fortes a uma ameaça real de patógenos e a 
uma maior predisposição a se engajarem em comportamento preventivos que protegem o 
indivíduo do contágio e diminuem a propagação do vírus. No Estudo 1, a vulnerabilidade 
percebida a doença foi positivamente associada a reações mais fortes à ameaça de COVID-19, 
incluindo aumento da ansiedade, percepções de que as pessoas devem alterar seu 
comportamento bem como a importância relatada de que os indivíduos tomem atitudes 
cuidadosas e de distanciamento social. No Estudo 2, a vulnerabilidade percebida a doença foi 
mais uma vez correlacionada ao aumento da ansiedade, bem como a um comportamento mais 
precavido ao fazer compras no mercado, como diminuição a idas à loja e menos interações face 
a face. Embora as duas subescalas utilizadas nesses estudos de vulnerabilidade a ameaça 
percebida (aversão ao germe e infectabilidade percebida) fossem frequentemente preditores 
paralelos, surgiram várias diferenças entre as subescalas. A aversão aos germes pode estar mais 
associada a comportamentos, enquanto a infectabilidade percebida relacionada à vigilância. 
Esses dados são 
 
consistentes com pesquisas anteriores, sugerindo que a psicologia de prevenção de patógenos 
das pessoas reage às ameaças reais de doenças (BEALL; HOFER; SCHALLER, 2016). 
O SIC pode influenciar até mesmo nas intenções de vacinação. Três estudos 
investigaram e demonstraram que em contraste com pesquisas anteriores, aqueles com maior 
41 
 
 
 
 
 
aversão aos germes durante a pandemia perceberam que as vacinas eram mais seguras e tinham 
maiores intenções de aceitar a vacinação. A aversão aos germes antes da pandemia não estava 
associada às intenções de vacinação. Indivíduos que se consideravam mais suscetíveis à doença 
mostraram-se um pouco mais dispostos a aceitar a vacinação (KARLSSON et al., 2021). 
Entretanto, paradoxalmente, vários estudos mostram que os indivíduos com maior 
sensibilidade à repulsa por patógenos e mais aversão a germes têm atitudes mais negativas com 
relação à vacina (CLAY, 2017; CLIFFORD; WENDELL, 2016; LUZ; BROWN; 
STRUCHINER, 2019; REUBEN et al., 2020). 
Maior sensibilidade à repulsa e aversão a germes prediz positivamente atitudes mais 
negativas em relação a vacinação, pois as vacinas são administradas de maneiras que, por si 
mesmas, indicam presença de contaminantes ao perfurarem a pele ou pressupõem a inalação 
ou ingestão de substâncias desconhecidas (CLAY, 2017). Para que essa explicação tenha 
suporte, os indivíduos que são mais avessos a patógenos devem reagir à vacinação mais 
repulsivamente pois têm a percepção de que isso representa uma contaminação em potencial. 
Essa reação, por sua vez, levaria a atitudes mais negativas em relação às vacinas. Essa noção 
deriva de evidências que demonstram que indivíduos com maior aversão a agulhas e sangue 
têm atitudes mais desfavoráveis em relação àsegurança e eficácia das vacinas (HORNSEY; 
HARRIS; FIELDING, 2018). Indivíduos com medo de injeção também se mostraram menos 
dispostos a aceitar a vacinação contra COVID-19 (FREEMAN et al., 2021). Além disso, 
pessoas pertencentes a movimentos antivacina comumente as descrevem como "não naturais", 
contendo substâncias tóxicas e causando doenças (KATA, 2010; MORAN et al., 2016). As 
preocupações sobre a segurança da vacina estão entre as razões mais comuns para a dificuldade 
em aceitar a vacinação contra a COVID-19 (KARLSSON et al., 2021; NEUMANN-BÖHME 
et al., 2020; TAYLOR et al., 2020). Nessa perspectiva, uma maior aversão a germes poderia, 
42 
 
 
 
 
 
de modo contra intuitivo, diminuir a aceitação e o engajamento das pessoas em aderirem à 
vacinação. 
 
5 Considerações finais 
O sistema imunológico comportamental é uma recente concepção utilizada para 
explicar e descrever comportamentos anti-patogênicos (sensibilidade, aversão/repulsa e nojo) 
que foram selecionados em nossa história evolutiva, uma vez que reduzem o risco de 
contaminação por agentes infecciosos. Esse sistema possivelmente surgiu porque foi capaz de 
aumentar o sucesso reprodutivo (aptidão). O sistema imunológico comportamental é capaz de 
oferecer explicações 
plausíveis acerca da relação entre sociabilidade e doenças infecciosas sobretudo acerca da 
imunidade, personalidade, comportamento sexual, diferenças culturais, moralidade, visão 
política, estereótipos e preconceitos, teorias conspiratórias e uma série de outros assuntos de 
interesse social não abordados nesse capítulo. A integração de materiais tão diversos em uma 
narrativa coerente tem o potencial de produzir novas compreensões. 
Os processos evolutivos de prevenção de patógenos podem fornecer um novo ângulo 
para o entendimento dos comportamentos de proteção à saúde e podem complementar as 
abordagens existentes da psicologia da saúde na previsão e mudança do comportamento em 
saúde. Para melhorar ainda mais os mecanismos de promoção à saúde, compreender quando e 
como a motivação para evitar patógenos afeta o comportamento profilático pode contribuir 
para o desenvolvimento de intervenções mais eficazes. E, de forma mais geral, a exploração 
adicional de sistemas motivacionais fundamentais, como aqueles pertencentes à prevenção de 
patógenos, pode fornecer táticas novas e promissoras para aumentar a eficácia das 
intervenções, além de promover um ambiente social mais coeso, pacífico e tolerante. 
43 
 
 
 
 
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