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Ludoterapia Comportamental

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LUDOTERAPIA COMPORTAMENTAL 
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Sumário 
NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2 
INTRODUÇÃO................................................................................................. 3 
Conceitos de Ludoterapia ................................................................................ 6 
A Ludoterapia como Ferramenta de Tratamento ............................................. 8 
A Criança e o Brincar ..................................................................................... 10 
Ludoterapia Comportamental ........................................................................ 12 
Avaliação em ludoterapia comportamental .................................................... 13 
Visita à escola da Criança ............................................................................. 14 
Visita à casa da criança ................................................................................. 14 
Sessões lúdicas de psicodiagnóstico ............................................................ 14 
Laudo ............................................................................................................. 15 
Intervenções .................................................................................................. 16 
Conclusão ...................................................................................................... 18 
Referências ................................................................................................... 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, 
em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo 
serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que 
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de 
publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
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INTRODUÇÃO 
 
A ludoterapia comportamental é muito utilizada com crianças e visa criar um 
paralelismo entre a brincadeira e o mundo real. Para tal é importante a participação 
das mesmas na intervenção e procurar compreender os processos inerentes à sua 
forma de brincar. 
A revisão da literatura permite-nos compreender que a ludoterapia 
comportamental, usada fundamentalmente no processo de tratamento realizado junto 
de crianças, tem o intuito de avaliar os problemas infantis através do olhar das 
atividades lúdicas (Guerrelhas, Bueno, & Silvares, 2000). 
De acordo com as pesquisas de Gadelha e Menezes (2004) entende-se por 
ludoterapia comportamental, todo o processo psicoterapêutico que envolve o 
recurso a jogos, brinquedos, desenhos e livros de histórias com o objetivo de perceber 
alterar um comportamento. 
Assim é possível controlar o comportamento, bem como perceber os 
sentimentos espelhados nas brincadeiras, promover o autoconhecimento e a 
aprendizagem de comportamentos mais adequados nas crianças e, abarcando todas 
estas estratégias, orientar as mesmas socialmente, no atendimento psicológico 
(Guerrelhas, Bueno, & Silvares, 2000). 
O objetivo da ludoterapia comportamental é exatamente o de encontrar 
recursos que permitam o desenvolvimento vital saudável para estas crianças através 
dos jogos e das fantasias que permitem identificar motivos para determinados 
comportamentos menos adequados (Guerrelhas, Bueno, & Silvares, 2000). 
Não nos podemos esquecer ainda que a arte de brincar permite encontrar 
comportamentos alternativos mais adequados para determinadas situações, uma vez 
que a criança tem a possibilidade de observar o seu método de brincadeira e corrigir 
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aquilo que é menos bem conseguido e melhorar a sua relação com o ambiente 
(Guerrelhas, Bueno, & Silvares, 2000). 
Uma vez que as brincadeiras escolhidas são reflexos da vida diária destas 
crianças, a ludoterapia comportamental vem, precisamente, no sentido de encontrar 
alternativas de comportamento e situações que se possam comparar com a vida real 
(Guerrelhas, Bueno, & Silvares, 2000). Esta possibilidade de comparar a brincadeira 
com a vida real vem no sentido de a criança se orientar pelos seus próprios padrões 
de comportamento junto de amigos e familiares quando fala das relações entre os 
personagens da história (Gadelha, & Menezes, 2004). 
Assim a criança ao planear a sua brincadeira, tendo em conta os brinquedos 
existentes à sua disposição encontra a forma mais bem sucedida de adicionar 
aprendizagens e habilidades ao seu dia a dia (Gadelha, & Menezes, 2004). Com base 
neste ponto de vista podemos dizer que o brinquedo é um meio saudável de estimular 
o desenvolvimento social, emocional e intelectual das crianças (Gadelha, & Menezes, 
2004). 
A psicoterapia junto das crianças não difere muito da psicoterapia que se usa 
junto dos adultos, no entanto, o recurso à ludoterapia comportamental é fundamental 
no primeiro caso, já que é necessário ter em atenção a fase de desenvolvimento em 
que a criança se encontra, para que se possa encontrar os recursos específicos 
adequados à sua fase, habitualmente, lúdicos (Guerrelhas, Bueno, & Silvares, 2000). 
Importa ainda sublinhar que o recorrer à ludoterapia no processo da 
monitorização comportamental junto de crianças, é fundamental para reforçar a 
motivação das mesmas, já que lhes é muito mais fácil aderir a qualquer processo 
terapêutico se for introduzida a questão da brincadeira (Gadelha, & Menezes, 2004). 
É necessário ainda, na ludoterapia comportamental, que a criança seja uma figura 
ativa do processo psicoterapêutico para que o processo seja mais eficaz, pelo que 
se pode recorrer a várias estratégias, a saber: 
 Envolver a criança na brincadeira 
 Focar sentimentos, pensamentos, fantasias e ambiente em que a criança se 
insere. 
 Intervir no âmbito daquilo que está na origem do problema 
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 Psicoterapia estruturada, diretiva e focalizada, pelo que o psicólogo deve 
ajudar a criança a definir o seu objetivo 
 O processo deve ser realizado com base em estratégias cuja eficácia está 
comprovada 
 Possibilidade de analisar empiricamente e estudar os efeitos da terapia 
(Guerrelhas, Bueno, & Silvares, 2000). 
Para tal, Gadelha e Menezes (2004) consideram que a ludoterapia 
comportamental pode ser exercida com recurso a diferentes objetos que sejam 
passíveis de usar como brinquedos, isto é, um pedaço de madeira pode ser usado 
como um boneco, com uma folha pode construir-se um barquinho, etc, ou seja, o 
importante é que determinado objeto permita iniciar uma brincadeira. 
 
 
 
 
 
 
 
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Conceitos de Ludoterapia 
 
Pensar em atendimento clínico infantil nos remete imediatamente a 
ludoterapia, uma vez que esta prática permite que a criança expresse seus anseios, 
frustrações, dificuldades através do brincar. Também definida como “terapia pelo 
brincar” se caracteriza por ser 
 
(…) uma relação interpessoal dinâmica entre a criança e um terapeuta 
treinado em ludoterapia que providencia a esta um conjunto variado de 
brinquedos e uma relação terapêuticasegura de forma que possa expressar 
e explorar plenamente o seu self (sentimentos, pensamentos, experiências, 
comportamentos) (...). (LANDRETH, 2002, p. 16 apud HOMEM, 2009, p. 21). 
 
Em outras palavras, o brincar proporciona um ambiente natural e confortador 
que possibilita a expressão das situações conflitantes de sua vida. Entretanto, este 
brincar não se assemelha ao qual comumente observamos no cotidiano dos 
pequenos, a ludoterapia por sua vez recorre à brincadeira como fonte de externalizar 
ocasiões do dia-a-dia, estresse e novas aprendizagens. 
Brito e Paiva (2012) salientam que o método da Ludoterapia pode ser diretivo 
e não diretivo. Em outras palavras, referem-se à aplicabilidade do brincar como 
pressuposto de análise e intervenção. No método não diretivo, trabalhada pela 
psicanálise, a criança assume a condução das brincadeiras, propiciando dessa forma 
o aparecimento dos conflitos intrapsíquicos. Porém, o método diretivo, defendida pela 
abordagem comportamental, todo o brincar é direcionado e estruturado para um alvo 
delimitado. 
Dessa forma, ao resgatarmos a origem da ludoterapia podemos observar que 
está se iniciou na Psicanálise a partir das descobertas de Freud (1909) com o caso 
do Pequeno Hans. Foi possível com esse episódio esclarecer a existência e 
manifestação dos conteúdos internos infantis confirmados pela análise dos desenhos 
encaminhados à Freud pelo pai de Hans. 
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Tais revelações abriram caminho anos mais tarde para as postulações de Anna 
Freud (1926) e Melanie Klein (1920). Ambas referências no trabalho com crianças, 
introduziram técnicas e instrumentos que possiblitaram e ampliaram os recursos 
utilizados na terapia clínica infantil. Porém, cada uma seguiu caminhos diferentes, 
Anna Freud inseriu o uso de desenhos nas interpretações dos sonhos com as 
crianças e Klein passou a analisar crianças introduzindo “a técnica do brincar” 
(GUERRELHAS et. al., 2000). 
Neste ambiente, foi possível segundo as observações de Klein (1970) perceber 
que o brincar se faz semelhante à Associação Livre de Ideias, isto é, a brincadeira 
remonta simbolicamente fantasias, desejos e anseios sendo permitido o acesso as 
manifestações dos conteúdos internos, que estimula o aparecimento das desordens 
intrapsíquicas. 
Diante disso, Winnicott (1975 apud FERNÁNDEZ, 1991, p. 166) ressalta que 
“a criança joga (brinca), para expressar agressão, adquirir experiência, controlar 
ansiedades, estabelecer contatos sociais como integração da personalidade e por 
prazer”. Em suma, o brincar é o espaço em que se constituem experiências culturais, 
sociais, emocionais; bem como, o momento de exposição, reflexão e resolução dos 
problemas e situações vividas no cotidiano. 
Mas, este método não se restringe apenas a psicanálise, o brincar como 
processo de intervenção infantil pode ser vislumbrado também nas obras de Piaget 
(1950), quando este na construção de sua teoria realizou a observação sistemática 
da função dos jogos nas fases de desenvolvimento infantil, o lançando como fonte de 
ciência da criança. 
Cardoso (2010) salienta que este é o “motivo pelo qual Piaget acredita que a 
atividade lúdica é essencial na vida da criança, pois, se constitui, em expressão e 
condição para o desenvolvimento infantil, já que quando as crianças jogam, assimilam 
e transformam a realidade” (CARDOSO, 2010, p. 12). Assim, o jogo não deve ser 
considerado somente sob a perspectiva do entretenimento, este se refere 
inegavelmente ao fator indispensável para o desenvolvimento biopsicossocial da 
criança. 
Fortuna (2007) ressalta ainda que as brincadeiras e os brinquedos operam 
como intermediadores da relação homem-mundo alteram a percepção e a apreensão 
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que se tem dele, estabelecendo-se em ferramentas de vivência em sociedade. O 
brincar também é uma atividade social que tem a característica especial de possibilitar 
a reconstrução das relações sociais, ao mesmo tempo em que instrui a habitar em 
um mundo culturalmente simbólico. 
Ante o exposto, fica claro a relevância do lúdico como instrumento eficaz no 
atendimento a criança. Porém, a maneira de aplicação prática derivará da linha 
teórica do profissional. 
Partindo desse pressuposto, o uso de bonecos, jogos, pinturas, colagens, 
argila, massa de modelar, dentre outros, proporcionam um ambiente livre de 
recriminação e habitual para que a criança construa seu mundo de fantasia 
(GADELHA e MENEZES, 2004). E justamente por meio da fantasia é que se podem 
penetrar os recantos mais íntimos das crianças, a partir das próprias perspectivas 
delas (OAKLANDER, 1980). 
Assim sendo, a ludoterapia representa um instrumento indispensável para 
prática terapêutica infantil, pois possibilita entrar em contato com o mundo 
intrapsíquico da criança, bem como oferecer suporte teórico-metodológico para o 
tratamento e o desenvolvimento de habilidades e competências favoráveis. 
 
A Ludoterapia como Ferramenta de Tratamento 
 
A ludoterapia refere-se à prática terapêutica subsidiada pelos brinquedos e 
brincadeiras como mecanismo evocador dos conteúdos internos provocadores de 
desordens e traumas psíquicos. 
Desse modo, o brincar surge no ambiente da psicoterapia como instrumento 
de observação e atendimento infantil, como afirma Ribeiro (2013, p. 29) "o brincar 
envolve um conjunto muito amplo de atividades, desde o brincar com o próprio corpo, 
brincar com brinquedos de forma livre até ao brincar estruturado, o jogo”. Ou seja, 
esta técnica permite a compreensão da realidade psíquica e funcionamento do 
cliente, como forma extensa de sua realidade amparando, portanto, a resolução de 
conflitos 
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Podemos dessa maneira, conceber que no âmbito do setting terapêutico o 
brincar conduz a criança penetrar e criar seu espaço imaginário, vivendo, revivendo 
e transportando para este momento situações de medo, angústia, prazer e ameaça. 
Schmidt e Nunes ainda salientam que 
(...) através do brincar, é possível que a criança evidencie sua imaginação e 
seu mundo “faz de conta”, e nesse processo elabore aspectos frustrantes da 
realidade, transforme algo passivo em ativo, aprenda a compartilhar e a 
experimentar um contato social, além de exercer a sua criatividade e o 
treinamento da plasticidade psíquica que lhe será útil por toda a vida 
(SCHMIDT; NUNES, 2014, p. 18). 
 
Fica evidente a importância de que a criança viva o mundo infantil de uma 
forma ampla, empregando parte do seu tempo e energia naquilo que lhe traz prazer 
e satisfação: o brincar, pois é neste momento que são reforçados e amadurecidos 
seu psiquismo, conhecimento e capacidade motora. Segundo Aberastury (1992, p. 
15) 
 
(...) a criança (...) repete no brinquedo todas as situações excessivas para 
seu ego fraco e isto lhe permite, devido ao domínio sobre os objetos externos 
a seu alcance, tornar ativo aquilo que sofreu passivamente, modificar um final 
que lhe foi penoso, tolerar papéis e situações que seriam proibidas na vida 
real tanto interna como externamente e também repetir à vontade situações 
prazerosas (ABERASTURY, 1992, p. 15). 
 
Na brincadeira, a relação estabelecida com o objeto não se caracteriza como 
a parte principal, na verdade ele se configura mediador entre a realidade e a 
imaginação. Compreendemos que o real papel do objeto principal é recriar através do 
“como se”; isto é, livrar a criança para experimentar o que quiser, ela pode ser tudo e 
nesse faz de conta, ela imita a vida, as alegrias e tristezas. 
 
Winnicott acrescenta que além das significações e sentidos, os brinquedos 
são também objetos transicionais, isto é, eles se encontram no meio do 
caminho entre a chamada realidade concreta e a realidade psíquica da 
criança (MRECH, 1999, p. 166). 
 
Oaklander (1980) instrui o terapeuta receber a criança despido de 
preconceitos, julgamentos e/ou resistências, uma vez que reconhecer e respeitar as 
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especificidadesdesta criança implicará na revelação de seus sentimentos e 
angústias. 
O imaginário também contribui para elucidar tais emoções, já que por meio 
dele: 
Geralmente o seu processo de fantasia (a forma como faz as coisas e se 
move em seu mundo fantasioso) é o mesmo que acontece no seu processo 
de vida. Podemos penetrar nos recantos mais íntimos do ser da criança por 
meio da fantasia. (OAKLANDER, 1980, p. 25). 
Desse modo, todas estas ferramentas possibilitam que o processo ludoterápico 
se revele não apenas como solucionador de conflitos, mas sim um recurso para 
instrumentalizar o indivíduo em seu crescimento emocional, afim de que possa 
elaborar o atual problema, bem como os que surgirem, de forma coesa e sem dano 
para o ego. 
Contudo, para abranger o melhor desenvolvimento nesse processo é 
imprescindível maior atenção às atitudes do terapeuta, a adesão e participação dos 
pais e o emprego de técnicas e habilidades ludoterápicas visando maior efetividade 
no trabalho e consequentemente a explicação de pensamentos, fantasias, emoções 
evocadas através do brincar. 
 
A Criança e o Brincar 
 
Considerado fundador da Terapia Cognitiva Comportamental – TCC, Aaron 
Beck juntamente com outros pesquisadores de sua época iniciaram na década de 
1960 a denominada “revolução cognitiva”, a qual propunha reformulações nos 
modelos conhecidos da teoria comportamental enfatizando a união dos pressupostos 
da Terapia Cognitiva e Comportamental. 
Sob a concepção de um novo modelo de interpretação e atuação dos 
transtornos emocionais a psicoterapia cognitivo-comportamental se apresenta como 
de acordo com as considerações de Rangé (2001, p. 35), 
 
(...) uma prática de ajuda psicológica que se baseia em uma ciência e uma 
filosofia do comportamento caracterizada por uma concepção naturalista e 
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determinista do comportamento humano, pela adesão a um empirismo e a 
uma metodologia experimental como suporte do conhecimento e por uma 
atitude pragmática quanto aos problemas psicológicos (RANGÉ, 2001, p. 35) 
 
Com esse novo formato, alicerçado pela postura construtivista, os modos de 
compreensão das fragilidades emocionais passaram a ser concebidas como reações 
a eventos internos e externos refletidos de forma idiossincráticos que dão origem aos 
transtornos de processamento de informação. 
Serra traduz essa afirmação ao dizer que 
 
(...) nossas representações de eventos internos e externos, e não um evento 
em si, determinam nossas respostas emocionais e comportamentais. Nossas 
cognições ou interpretações, as quais refletem formas individuais de 
processar informação e representar o real, constituiriam a base dos 
transtornos emocionais, os quais seriam definidos, em TCC, mais 
propriamente como transtornos de processamento de informação (2016, 
p.1). 
 
Para Pureza et. al. (2014), a TCC se propõe alcançar a flexibilidade e a 
ressignificação dos modos patológicos no processamento da informação, pois 
acredita-se que os indivíduos não sofrem pelos problemas e fatos em si, mas sim 
pelas suas interpretações a respeito dos mesmos. Autores como Knapp (2008), 
Bunge (2011), Friedberg (2004) dentre outros, demonstram extensas evidências 
científicas que confirmam que o tratamento com TCC é eficaz em um considerável 
número de patologias psiquiátricas e demandas psicológicas. 
 
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Ludoterapia Comportamental 
 
A ludoterapia é uma forma de psicoterapia cuja meta é promover ou 
restabelecer o bem estar psicológico do indivíduo através de atividades lúdicas; no 
contexto de desenvolvimento social da criança a atividade lúdica é parte do repertório 
infantil e integra dimensões da interação humana necessárias na análise psicológica 
(regras, cadeias comportamentais, simulações ou faz-de-conta, aprendizagem 
observacional e modelagem); esta possibilidade de uso integrado de diversas 
técnicas talvez explique a aplicação da ludoterapia a diversas questões relativas ao 
comportamento de crianças (traumas psíquicos, abuso sexual, retardo, adoção, 
orientação a filhos de dependentes químicos) e de adultos (Schaefer,1994; Silvares, 
2001). Nas décadas de sessenta e setenta, o atendimento comumente realizado em 
terapia comportamental para crianças era realizado via implementação de um 
programa que previa a administração de reforço positivo, punição, extinção, 
biofeedback e contrato de contingência dentre outras intervenções. 
Em alguns casos, as intervenções eram implementadas pelos pais com o 
mínimo de contato entre terapeuta e criança (Azrin e Foxx, 1974; Knell, 1993). 
Segundo Knell 1993), intervenções nas quais há pouco contato entre terapeuta e 
criança negligenciam a participação ativa da criança no atendimento e são pouco 
eficazes nos casos onde há conflitos entre a criança e os responsáveis pelas 
implementações de intervenções (em geral, os pais). O seguimento das orientações 
por parte dos pais é fundamental para o atendimento. Os principais fatores que afetam 
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a adesão ao atendimento são o nível educacional dos pais, a empatia da terapeuta 
face aos sentimentos ou reações emocionais dos pais e interação terapeuta-cliente. 
O modelo de atendimento em ludoterapia apresentado a seguir foi elaborado a partir 
da especificação de alguns fatores que podem afetar a relação terapeuta-cliente 
(Mettel, 1986). 
 
Na ludoterapia comportamental, o lúdico é a dimensão central tanto para a 
compreensão do comportamento da criança que está em atendimento psicológico 
quanto para criar intervenções clínicas por meio de jogos, filmes e/ou interações 
verbais (Coelho, 2001, 2008; Gomes, 1998). As análises teóricas sobre o lúdico 
elaboradas por Aristóteles (2009) e Tomás de Aquino ressaltam a importância do 
lúdico para a compreensão do ser humano (Lauand, 2006). Segundo Aristóteles 
(2009), “a vida também inclui o descanso e uma forma de descanso é o 
entretenimento proporcionado pela conversação ... o descanso e o entretenimento 
parecem ser um elemento necessário à vida” (p. 140). Segundo Lauand (2006), 
Tomás de Aquino concorda com Aristóteles de que há “uma virtude do brincar: a 
eutrapelia. E há também vícios por excesso e por falta: as brincadeiras ofensivas e 
inadequadas, por um lado, e, por outro, dureza e a incapacidade de brincar (também 
um pecado)” (p. 2) e argumenta que, para Tomás de Aquino, o lúdico está associado 
a uma aprendizagem mais eficiente e menos aborrecida, permitindo a criação de 
novos conhecimentos e, talvez, esteja na base da criação do mundo por Deus. 
Segundo Lauand (2006), a proposta de Tomás de Aquino sobre o lúdico vai de 
encontro à concepção do senso comum e da literatura (por exemplo, no romance “O 
nome da Rosa”, de Umberto Eco) acerca da relevância do lúdico na Idade Média. 
 
Avaliação em ludoterapia comportamental 
 
 
A avaliação tem duração aproximada de três semanas e segue a seguinte 
ordem: entrevistas com os pais, visita à escola e sessões lúdicas com a criança. Nesta 
etapa, é solicitado aos pais registros sobre o comportamento do filho, a frequência 
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de ocorrência do comportamento e verbalizações do filho relacionadas à queixa 
principal; escalas de temperamento; questionário das atividades de vida diária, 
seguimento de regra, alimentação, atividades lúdicas e relacionamento social da 
criança (Windholz, 1988) e um questionário específico sobre a queixa. 
 
 
 
 
Visita à escola da Criança 
 
Realiza-se visita à escola com o objetivo de observar e registrar a interação da 
criança com os colegas assim como contatar os técnicos da escola, como são 
realizadas as atividades solicitadas pela professora, brincadeiras com os colegas, 
autonomia nas atividades escolares e de vida diária exigida pela escola (guardar os 
brinquedos com os quais brinca, por exemplo). 
 
Visita à casa da criança 
 
É realizada uma visita à casa com o objetivo de observar o comportamento da 
criança e o local da casareservado às atividades lúdicas; a relação entre as regras 
da casa e o comportamento da criança e realização das atividades de vida diárias. A 
visita à casa permite observar como a criança explora os brinquedos nos espaços 
disponíveis para brincar; e a sequência de eventos que antecedem a ocorrência dos 
comportamentos inadequados. Em alguns casos é realizada intervenção no momento 
em que ocorre o comportamento (cf. exemplo em Gomes, 1998). 
 
Sessões lúdicas de psicodiagnóstico 
 
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São realizadas sessões lúdicas com o objetivo avaliar o comportamento lúdico 
da criança. Nas sessões lúdicas, realizadas com a presença da mãe ou do pai 
conforme o nível de habituação e sensibilização da criança ao consultório, são 
registrados o tipo de brinquedo, número de brinquedos com os quais a criança brinca, 
preferência por brinquedos, qualidade do brinquedo, o uso funcional e o tempo de 
permanência em cada brinquedo (Windholz, 1988; Bomtempo, 1992). A avaliação das 
sessões lúdicas indicam ) se e como a criança reproduz nas sessões lúdicas 
acontecimentos do cotidiano (separação dos pais, a rotina diária e o padrão 
alimentação), alteração no padrão lúdico (tempo de permanência nas atividades 
lúdicas comparativamente às crianças da mesma faixa etária), comportamento 
assertivo e seguimento das regras estabelecidas na situação lúdica e as informações 
fornecidas pela mãe sobre autonomia nas atividades de vida diária e relacionamento 
social foram corroboradas. O papel da terapeuta é reforçar as situações de autonomia 
da criança nas situações de escolha de brinquedos ou de autonomia (realizar a 
atividade sem auxílio). 
 
Laudo 
 
A partir dos dados fornecidos pelos pais, observação nas sessões lúdicas no 
consultório, na escola e na casa da criança é elaborado e entregue aos pais um laudo 
por escrito que relaciona aspectos do ambiente físico (por exemplo, mudança de 
residência) e social (e.g., regras sociais), e a reação psicológica da criança. 
Sensibilização é uma das formas mais elementares de aprendizagem e é 
definida como um aumento na força da resposta reflexa resultante da ocorrência de 
um estímulo novo e aversivo. Aprendizagem ocorre quando, gradualmente, o 
organismo se habitua à resposta sensibilizada, isto é, a resposta sensibilizada diminui 
após repetições do estímulo (Sato, 1995). 
Recentemente, a relação entre habituação e temperamento tem sido 
estabelecida através de estudos longitudinais (Smith, Dixon, Jankowski, Sanscrainte, 
Davidson e Loboschefski, 1997); tais estudos mostram que a taxa de habituação de 
bebês (tempo de observação total, número de tentativas para atingir o critério de 
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habituação e tempo de fixação de estímulos novos) é significativamente associada 
com cinco dentre nove dimensões de temperamento (adaptabilidade, nível de 
atividade, humor, distratibilidade, força da resposta e persitência). 
Tais estudos podem ser relacionados aos trabalhos clássicos de Pavlov, 
Strelau e Eysenck sobre o papel do temperamento na adaptação do indivíduo ao 
ambiente; tenho sugerido em trabalhos prévios (Gomes, 1998; Coelho, 2000) que 
algumas dimensões de temperamento (e.g., adaptabilidade, nível de atividade, 
humor, distratibilidade, força da resposta e persitência) sejam agrupadas em dois 
fatores: habituação e sensibilização. 
 
Intervenções 
 
As sessões lúdicas têm como objetivo de habituar a criança às atividades 
lúdicas e, através de tais atividades, promover ou restabelecer o bem estar da criança 
enfatizando parte de uma cadeia de atividades de vida diária; e reforçar 
positivamente a criança nos contextos de autonomia e assertividade. Os pais são 
orientados sobre aprendizagens inadequadas que podem ocorrer ao longo do 
desenvolvimento da criança. São discutidas crenças comuns aos pais (a aplicação do 
termo “culpa”, por exemplo, é aplicado de modo inadequado em casos de encoprese) 
e os pais são orientados acerca das reações sobre as quais a criança ainda aprendeu 
a exercer controle. As atividades lúdicas são escolhidas pela criança. A biblioterapia, 
uso de livros para abordar-te- mas específicos relacionados ao tratamento, é uma 
forma de intervenção utilizada para alcançar os objetivos estabelecidos (Coelho, 
2000; Knell, 1993; 1994) 
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As intervenções psicológicas realizadas no contexto da ludoterapia 
(habituação e dessensibilização ao ambiente, biblioterapia, orientação aos pais e 
seguimento das instruções) possibilitam o restabelecimento do bem estar do 
indivíduo. A participação dos pais no atendimento é essencial para que as crianças 
avaliem o consultório como um ambiente agradável e de confiança. 
Matheny (1991) e Gomes (1998) sugerem que sensibilização e habituação em 
situações lúdicas e no comportamento exploratório sejam interpretados como 
medidas de temperamento infantil. Por exemplo, as escalas de temperamento de 
Presley e Martin (1994) procuram especificar reações mais frequentes das crianças 
diante de mudanças nas condições do ambiente físico e social sensibilização. 
 
 
 
 
 
 
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Conclusão 
 
A ludoterapia comportamental utilizada com crianças permite encontrar 
respostas aos seus problemas e intervir junto das mesmas de uma forma muito mais 
eficaz do que seria conseguido num processo em que não se introduzisse esta 
técnica. Entendemos como ludoterapia todo o processo que inclua objetos possíveis 
de usar como brinquedos e com os quais se possa criar um cenário imaginado pela 
criança, no qual, ela vai espelhar factos da sua própria realidade. 
 
 
 
 
 
 
 
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Referências 
 
Azrin, N.H. e Foxx, R.M. (1974) Toilet training in less than a day. New York: 
Simon and Schuster 
Bomtempo, E. (1992) Brinquedoteca: espaço de observação da criança e do 
brinquedo. Em O Direito de Brincar: A Brinquedoteca. São Paulo: Scritta Editorial. 
Bosa, C. A. e Piccinini, C.A. (1994) temperamento infantil e apego mãe-criança: 
considerações teóricas, Psicologia: Teoria e Pesquisa, 10, 193-212 
Coelho, L. S. G. (2008) Aprendizagem vicária de treino de toalete através de 
filme de animação: estudo de caso em ludoterapia comportamental. Psicologia: 
Ciência e Profissão, 28(4). 
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