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UNIDADE DE APRENDIZAGEM NEGROS ESTUDOS RACIAIS NO BRASIL UNIDOMBOSCO 3 • Introdução • Para Início de Conversa: • Relações raciais no Brasil • Intelectualidade negra • Considerações • Referências bibliográficas ............. 03 ............. 03 ............. 04 ............. 06 ............. 08 ............. 08 Sumário 3 INTRODUÇÃO Esta aula tem como objetivo aproximar os estudantes do debate contemporâneo sobre as relações étnico-raciais no Bra- sil a partir de uma contextualização histórica, política e social acerca do tema. Além da bibliografia selecionada, a disciplina incluirá a indicação de outros materiais que permitam contex- tualizar todas as informações trazidas pelos textos. Promover a compreensão do que é o racismo e como ope- ra na sociedade brasileira ao longo da história; compreensão acerca do racismo estrutural; relação entre racismo e mito da democracia racial. - Discutir os conceitos que permeiam a Identidade Racial no Brasil; Políticas de Ações Afirmativas; Combate ao Racismo. Para Início de Conversa: 1. Colonialismo e o mito da democracia racial brasileira Tendo em vista que a construção da ideia de raça surge du- rante o período colonial para naturalizar os colonizados como inferiores aos colonizadores, é preciso compreender a atuação do processo de colonização do continente americano para en- tender como o racismo estrutura a sociedade moderna e funda- menta o capitalismo. Figura 1 – A mão de obra negra escravizada no período co- lonial O colonialismo foi um processo histórico que impactou 4 2. RELAÇÕES RACIAIS NO BRASIL Precisamos também analisar o conceito de raça no Brasil dentro de uma perspectiva histórico-social e as formas pelas quais o racismo se estabeleceu no país e no mundo. O mito da democracia racial brasileira é uma ideia que suge- re que o Brasil é uma sociedade livre de preconceitos raciais e que a mistura entre diferentes grupos étnicos e raciais resultou em uma harmonia racial. Esse mito é baseado na ideia de que a sociedade brasileira é formada por uma mistura de três raças – indígena, africana e europeia – e que, por isso, o Brasil seria um país sem discriminação racial. profundamente as relações raciais no Brasil. Durante o período colonial, o Brasil foi colonizado pelos portugueses, que trou- xeram milhares de africanos escravizados para trabalhar nas plantações e minas do país. Esse processo de escravização du- rou mais de três séculos e deixou um legado de desigualdade e discriminação racial que persiste até hoje. A escravidão no Brasil foi um dos sistemas mais brutais e violentos de exploração humana já registrados na história. Os africanos escravizados eram tratados como propriedade, sem direitos e sem voz na sociedade. A sua força de trabalho foi fun- damental para o desenvolvimento econômico do país, mas essa exploração gerou uma profunda desigualdade social e econômi- ca que persiste até hoje. Além disso, a estruturação do sistema escravista brasileiro foi fundamentada na ideia de que os africanos eram inferiores e que a sua escravização era justificada pela suposta superiorida- de dos colonizadores europeus. Essa ideologia racista foi perpe- tuada por muitos anos, e ainda se reflete nas relações sociais e políticas do Brasil. 5 Figura 2 – Ato que marcou o sétimo dia da morte de João Al- berto Silveira Freitas, em 2020 FONTE: SENADO FEDERAL No entanto, a realidade é bem diferente. A discriminação racial é um problema sério no Brasil, e a população negra e in- dígena ainda enfrenta desigualdades em várias áreas, como na educação, saúde, emprego e segurança pública. Há, ainda, uma falta de representatividade desses grupos em posições de poder e decisão na sociedade. O mito da democracia racial é uma crença equivocada que desconsidera a importância do reconhecimento e da luta con- tra o racismo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. O reconhecimento da existência do racismo estrutu- ral é fundamental para se trabalhar na promoção da igualdade racial e para a construção de uma sociedade mais justa e inclusi- va. Racismo Estrutural: o racismo estrutural é uma forma de discriminação racial que está enraizada nas estruturas sociais, econômicas e políticas de uma sociedade. É uma forma de ra- cismo que não depende apenas das atitudes ou comportamen- tos individuais, mas sim de um conjunto de práticas, políticas e valores que se combinam para criar desigualdades persistentes e sistemáticas entre grupos raciais. Essas desigualdades podem ser evidenciadas em diversas áreas, como no acesso a oportunidades de educação, emprego, saúde e moradia, na justiça criminal, na política e nas relações de poder. O racismo estrutural muitas vezes é invisível ou ne- gligenciado, pois está enraizado em sistemas e estruturas que são considerados como “normais” ou “neutros” e pode ser per- petuado tanto por indivíduos como por instituições. Por exem- plo, quando políticas públicas ou leis perpetuam desigualdades raciais, ou quando empresas adotam práticas que discriminam certos grupos, como a recusa em contratar pessoas negras para cargos de alto escalão. É importante entender que o racismo estrutural não se refere apenas a indivíduos ou grupos específicos, mas sim a um con- 6 Figura 3 – Abdias Nascimento, ex-senador da República e in- telectual conhecido no Brasil e no exterior FONTE: AGÊNCIA BRASIL No final do século XIX, surgiram as primeiras organizações negras no Brasil, como a Sociedade Beneficente Floresta Auro- ra, fundada em 1888 por José do Patrocínio, Luís Gama e André Rebouças. Essas organizações lutavam pela abolição da escrava- tura e pela igualdade de direitos para os negros. Após a abolição da escravatura em 1888, os negros foram dei- xados à própria sorte, sem acesso a educação, saúde e trabalho digno. junto de estruturas e sistemas que moldam as experiências de vida das pessoas e que criam desigualdades persistentes entre grupos raciais. Para combater o racismo estrutural, é necessário reconhecer e trabalhar para desmantelar essas estruturas e ins- tituições que perpetuam a desigualdade racial. 3. INTELECTUALIDADE NEGRA Já sabemos que a trajetória histórica do movimento negro no Brasil remonta ao período da escravidão, quando os africanos foram trazidos à força para o país para serem explorados como mão de obra. Durante séculos, os negros foram submetidos a condições desumanas e a uma série de violações de seus direi- tos humanos. Ainda hoje, o país lida com os legados da escravi- dão, como a desigualdade social, econômica e racial. 7 ciais no Brasil e em outros países. Houve uma maior visibilidade e discussão sobre a discriminação racial e suas consequências, tanto no âmbito individual como no coletivo. Um dos eventos mais marcantes desse período foi a realiza- ção da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discrimina- ção Racial, a Xenofobia e as Formas Correlatas de Intolerância, em Durban, África do Sul, em 2001. A conferência teve como objetivo discutir medidas concretas para combater o racismo e promover a igualdade racial em todo o mundo. No Brasil, o movimento negro passou a focar cada vez mais na questão da identidade afro-brasileira e na luta contra o racis- mo estrutural, e a criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), em 2003, foi um marco importante nesse sentido. O movimento negro também ganhou força com a criação do Estatuto da Igualdade Racial em 2010, que estabeleceu políticas públicas para a promoção da igualdade racial em diversas áreas, como educação, saúde e trabalho. Além disso, houve uma maior visibilidade dos líderes e ativistas negros na mídia e na política, com a eleição de alguns representantes negros para cargos pú- blicos. No entanto, apesar dessas conquistas, ainda há muito a ser feito no combate ao racismo e à discriminaçãoracial. O movi- mento negro continua lutando por políticas públicas mais efe- tivas e por uma sociedade verdadeiramente igualitária, em que No início do século XX, surgiram as primeiras organizações negras, como a Frente Negra Brasileira, criada em São Paulo em 1931. Durante a década de 1950 e 1960, o movimento negro se tornou mais visível, especialmente por meio da luta contra o ra- cismo e da busca por igualdade de oportunidades. Nessa época, foram criadas organizações como a União dos Homens de Cor e o Teatro Experimental do Negro, que ajudaram a promover a cultura afro-brasileira. Nos anos 1970, o movimento negro ganhou ainda mais força, com a criação de entidades como o Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978, e o Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-Bra- sileiros (IPEAFRO), em 1979. Essas organizações lutavam pela valorização da cultura afro-brasileira, pelo fim do racismo e pela defesa dos direitos civis e políticos dos negros. Nos anos 1980 e 1990, o movimento negro continuou a cres- cer, e surgiram novas organizações, como a Coordenação Nacio- nal de Entidades Negras (CONEN) e a Articulação Nacional de Negras e Negros Brasileiros (ANNNB). Essas organizações tam- bém buscavam promover a cultura afro-brasileira e lutar contra o racismo, mas agora com um enfoque mais amplo, que incluía questões como a saúde, a educação e a violência. O movimento negro nos anos 2000 foi caracterizado por uma crescente mobilização e conscientização sobre as questões ra- 8 REFERÊNCIAS CABRAL, Amílcar. 1979. Análise de alguns tipos de resistência. Bolama, Guiné-Bissau: Imprensa Nacional – Cap. 1: Resistência política e Cap. 3: Resistência Cultural, pg. 7-31 e 71-107. CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006 (adaptado). FERNANDES, Florestan. 2008. A integração do negro na so- ciedade de classes – vol. 1. São Paulo: Globo – Cap. I: item 3; Cap. II: item 2; Cap. 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RIBEIRO, Djamila. Pequeno manual antirracista — 1a ed. — São Paulo : Companhia das Letras, 2019. Disponível em: https:// img.travessa.com.br/capitulo/COMPANHIA_DAS_LETRAS/PE- QUENO_MANUAL_ANTIRRACISTA-9788535932874.pdf. MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem conceitual das no- ções de raça, racismo, identidade e etnia. Programa de educa- ção sobre o negro na sociedade brasileira. Niterói: EDUFF, 2004. NASCIMENTO, Abdias do. O Genocídio do Negro Brasileiro. Processo de um racismo mascarado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. NASCIMENTO, Abdias do. O Negro Revoltado. Organização e Apresentação de Abdias do Nascimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. NASCIMENTO, Abdias do. Quilombismo. Documentos de uma militância pan-africanista. Petrópolis: Editora Vozes Ltda, 1980. NOGUEIRA, Renato. Afrocentricidade e educação: os princí- pios gerais para um currículo afrocentrado. Revista África e Afri- canidades, ano 3, n. 11, nov., 2010, p. 01-16. 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