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DIREITO FALIMENTAR: RECUPERAÇÕES JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL Fernanda Ribeiro Souto Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 Defesa do devedor empresário Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Listar os fundamentos da defesa do devedor empresário. � Definir as hipóteses de reconhecimento e de inércia ante ao pedido. � Descrever a hipótese de prescrição do pedido de falência. Introdução O princípio da preservação da empresa determina que uma empresa deve ser preservada sempre que possível, considerando principalmente sua função social, pois trata-se de uma fonte geradora de riqueza econômica e de emprego e renda. Em razão disso, e considerando ainda o princípio da ampla defesa e do contraditório previsto na legislação civil, permite-se ao devedor empresário (ou sociedade empresária) apresentar defesa no pedido judicial de falência contra ele iniciado. Neste capítulo, você vai estudar a defesa do devedor empresário. Vai ver quais são as estratégias e fundamentos que podem ser utilizados na defesa e o que acontece nas hipóteses de inércia, reconhecimento e prescrição. Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 1 Fundamentos da defesa do devedor empresário O art. 94 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 (Lei de Recuperação Judicial e Falências), prevê as hipóteses de decretação de falência, veja: Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência; II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal; III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial: a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos; b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não; c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo; d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor; e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo; f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento; g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial. (BRASIL, 2005, documento on-line). Com a decretação da falência, uma série de consequências surgem ao devedor, como a extinção da pessoa jurídica da sociedade empresária, tornando- -o inabilitado empresarialmente e podendo ser declarada a nulidade de atos por ele praticados. Além disso, ao devedor falido podem ser aplicadas várias restrições, como inabilitação para exercer qualquer atividade empresarial e administrar os seus bens ou deles dispor, e até mesmo a possibilidade de responder a crimes falimentares. Em razão disso, se o devedor não concorda com o eventual pedido de falência contra ele (e a empresa) perpetrado, deverá apresentar sua defesa, na tentativa de impedir a decretação da falência. Defesa do devedor empresário2 Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 Iniciado o processo de falência e citado o devedor, este poderá apresentar sua defesa em até 10 (dez) dias. Segundo Coelho (2016, p. 287): Quando requerida a falência por terceiros (credor, sócio da sociedade deve- dora, inventariante etc.), o rito prevê a citação do empresário devedor para responder no prazo de 10 dias (LF, art. 98). Sua resposta só pode consistir na contestação, já que não prevê a lei a reconvenção ou o reconhecimento da procedência do pedido. Além de questões processuais preliminares quanto às condições da ação, pressupostos processuais e questões prejudiciais, o devedor pode adotar várias estratégias de resistência ao pedido de falência, de acordo com as hipóteses do art. 94 da Lei de Falências. Veja, a seguir, os fundamentos de defesa do devedor de acordo com as hipóteses mencionadas. Recuperação judicial Em qualquer das hipóteses de falência, o devedor pode pedir, no prazo de defesa, sua recuperação judicial, conforme previsto no art. 95 da Lei nº. 11.101/2005: “Art. 95. Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua recuperação judicial” (BRASIL, 2005, documento on-line). Impontualidade extrajudicial e judicial Para as hipóteses previstas no inciso I do art. 94, que se refere à impontualidade extrajudicial do devedor, este poderá alegar (art. 96): a) falsidade de título; b) prescrição; c) nulidade de obrigação ou de título; d) pagamento da dívida; e) qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a cobrança de título; f) vício em protesto ou em seu instrumento; g) apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação; h) cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado. (BRASIL, 2005, documento on-line). 3Defesa do devedor empresário Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 Nas hipóteses previstas nos incisos II e III do art. 94, que se referem à impontualidade judicial do devedor, também poderão ser utilizadas as estra- tégias de defesa mencionadas, mas, além disso, o devedor poderá se utilizar de qualquer outra forma de defesa, podendo produzir toda prova que entender necessária. Para isso, à impontualidade judicial é aplicável o princípio da ampla defesa. Por esse princípio o devedor poderá utilizar todos os meios de prova admitidos em direito para fazer sua defesa. Depósito elisivo Nos casos em que o devedor, sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência (art. 94, I), e, executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal (art. 94, II), poderá, no prazo da defesa, depositar o valor refe- rente ao valor total da dívida. Esse depósito é chamado de depósito elisivo. De acordo com o parágrafo único do art. 98 da Lei de Falências: [...] o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar o valor correspon- dente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários advocatícios, hipótese em que a falência não será decretada e, caso julgado procedente o pedido de falência, o juiz ordenará o levantamento do valor pelo autor (BRASIL, 2005, documento on-line). Feito o depósito pelo devedor, dentro do prazo determinado, a falência não será decretada. O depósito elisivo impõe a denegação da falência. A doutrina e a jurisprudência também têm admitido o depósito elisivo perante a hipótese do inciso III do art. 94, que diz respeito aos atos temerários. Tal permissão tem se dado porque o depósito elisivo atende aos interesses do credor e do devedor, já que quita a dívida conforme valor atualizado e, ainda, impede a decretação da falência. Assim, o depósito elisivo poderá ser utilizado como defesa em todas as formas de falência litigiosa. Defesa do devedor empresário4 Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1Quaisquer das formas de defesa apresentadas (recuperação judicial, fun- damentos da contestação e depósito elisivo) podem ser utilizados quanto ao mesmo pedido de falência, lembrando que o princípio da concentração e a preclusão consumativa impõe que o devedor empresário opte por uma das seguintes formas de defesa: 1. Contestação 2. Realização do depósito elisivo 3. Contestação e realização do depósito elisivo. 4. Solicitação de Recuperação judical 5. Reconhecer a procedência do pedido 6. Permanecer inerte (revelia) Vale lembrar que no caso de depósito elisivo sem a apresentação de con- testação, há a presunção de reconhecimento da dívida, cabendo ao credor levantar o depósito. Neste caso, o pedido de falência será improcedente e não será decretada a falência. Por outro lado, tratando-se de depósito elisivo apresentado juntamente com a contestação, será atribuição do juiz do feito indicar quem levantará o depósito. Caso acolhida a contestação, o pedido de falência será denegado e a quantia será levantada pelo próprio devedor. Caso não aceitas as arguições do devedor, o magistrado julgará elidido o pedido de falência, determinando o que o credor levante o depósito. 2 Hipóteses de reconhecimento e de inércia ante ao pedido Além das estratégias de defesa contra o pedido de falência que acabamos de ver, o devedor poderá também reconhecer o pedido ou até mesmo manter-se inerte (ou seja, sequer se manifestar quanto ao pedido de falência dentro do prazo legal). Se o devedor permanecer inerte quanto ao pedido, será consi- derado revel, conforme previsão do art. 344 do Código de Processo Civil: “Art. 344. Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir- -se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor” (BRASIL, 2015, documento on-line). Assim, de acordo com esse artigo, a inércia do devedor gerará confis- são quanto à matéria de fato, eventualmente alegada no pedido de falência, ou seja, se o autor (credor) alegar requerido (devedor) alguma das hipóteses previstas no art. 94 da Lei nº. 11.101/2005 em face ao devedor, o juiz, diante 5Defesa do devedor empresário Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 da revelia, deverá considerar como verdadeiras tais alegações. No entanto, inerte o devedor, caberá ao juiz verificar se estão presentes os pressupostos para decretação da falência. Apesar da confissão quanto à matéria de fato causada pela revelia, a decretação da falência não será automática. Além disso, também deverão ser analisadas pelo juiz matérias de ordem pública, como prescrição, pressupostos de constituição válida do processo, litispendência e interesse de agir. Conforme Tomazette (2020), a matéria de direito sempre será apreciada pelo juiz, e cabe a ele decidir se é caso de decretação de falência ou não, principalmente no aspecto da legitimidade passiva específica. Em 2019, foi julgada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais a Apelação Cível 1.0470.16.003471-1/001, que considerou procedente o pedido de falência de um de- vedor empresário após este ter apresentado defesa intempestiva e não ter produzido nenhuma prova durante o prazo que lhe foi concedido. O tribunal ainda analisou as preliminares de matéria de ordem pública apresentadas pelo devedor, como incom- petência absoluta e nulidade da citação. Todavia, tais alegações não foram capazes e suficientes para elidir a procedência do pedido de falência. Conheça a ementa do referido caso: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL - FALÊNCIA DA ADMINISTRADORA - DEVER DE INDENIZAR - NULIDADE DO PROCESSO - COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA FALÊNCIA - AUSÊNCIA - AÇÃO QUE DEMAN- DA QUANTIA ILÍQUIDA - PROCESSAMENTO NO JUÍZO CÍVEL - NULIDADE DE CITAÇÃO - NÃO VERIFICADA - COMPARECIMENTO NOS AUTOS . 1. “Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que de- mandar quantia ilíquida” - art. 6 da Lei 11.101/2005. 2. Não há nulidade de citação quando a parte comparece aos autos por meio de procurador e preposto com poderes outorgados pelo administrador judicial. 3. Sendo o réu revel, presumem-se verdadeiros os valores indicados como devido pela parte autora (MINAS GERAIS, 2019, documento on-line). O reconhecimento do pedido, por sua vez, também gera confissão quanto à matéria de fato, se assemelhando a um pedido de autofalência. Todavia, mesmo um pedido de autofalência pode ser indeferido pelo juiz, que também deverá analisar os pressupostos para decretação da falência. Veja mais detalhes sobre o pedido de autofalência do devedor empresário a seguir. Defesa do devedor empresário6 Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 Autofalência Se o devedor empresário (ou sociedade empresária) não reunir condições para requerer sua recuperação judicial, deve requerer sua própria falência. Quando isso ocorre é denominada autofalência. O pedido de autofalência, ao contrário do pedido de falência pelo credor, independe de títulos vencidos e protestados. Se o devedor empresário verifica que não tem condições de preencher os requisitos para obter a recuperação judicial (conforme a Lei nº. 11.101/2005), poderá antecipadamente pleitear sua própria falência. Todavia, o art. 105 da Lei de Falências lista os documentos essenciais para instruir do pedido de autofalência: I - demonstrações contábeis referentes aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório do fluxo de caixa; II - relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos; III - relação dos bens e direitos que compõem o ativo, com a respectiva esti- mativa de valor e documentos comprobatórios de propriedade; IV - prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação de seus bens pessoais; V - os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe forem exigidos por lei; VI - relação de seus administradores nos últimos 5 (cinco) anos, com os respectivos endereços, suas funções e participação societária. (BRASIL, 2005, documento on-line). Tais documentos listados no art. 105 são essenciais. Se o devedor deixar de apresentar algum deles, o juiz dará oportunidade para que emende o pedido, apresentando-os. Se ainda assim o devedor empresário não apresentá-los, o processo será extinto sem resolução do mérito. A lei falimentar impõe ao próprio empresário devedor o dever de requerer a autofalência quando não atender as condições legais para obter a recuperação judicial (LF, art. 105). O descumprimento desse dever não acarreta sanção nenhuma e, por isso, a previsão da lei é ineficaz. Raramente o empresário requer a autofalência, mesmo na presença dos pressupostos legais (COELHO, 2016, p. 285). 7Defesa do devedor empresário Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), todavia, tem enten- dido que o pedido de autofalência é uma faculdade da sociedade empresária, e não um dever legal. Em 2019, a Justiça de Cuiabá indeferiu a petição inicial do pedido de autofalência da empresa Sport Cars Comércio e Locações de Veículos Eireli (autos nº. 1012647- 40.2019.8.11.0041), em virtude da ausência de alguns dos documentos relacionados no art. 105 da Lei de Falências. Segundo fundamentado na sentença: [...] não se trata de uma negação ao estado de insolvência da empresa SPORTCARS COMÉRCIO E LOCAÇÕES DE VEÍCULOS EIRELI que, no caso, é notório diante do encerramento abrupto de sua atividade empresarial, amplamente noticiado pela mídia, até mesmo em âmbito nacional. Trata-se, na verdade do reconhecimento da inépcia da petição inicial, por falta de requisitos essenciais(MATO GROSSO, 2019, documento on-line). 3 Hipótese de prescrição do pedido de falência A prescrição é a perda de pretensão da reparação do direito violado por inércia do titular do direito no prazo legal. Segundo Tartuce (2017, p. 207): É antiga a máxima jurídica segundo a qual o exercício de um direito não pode ficar pendente de forma indefinida no tempo. O titular deve exercê- -lo dentro de um determinado prazo, pois o direito não socorre aqueles que dormem. Com fundamento na pacificação social, na certeza e na segurança da ordem jurídica é que surge a matéria da prescrição e da decadência. […] Na prescrição, nota-se que ocorre a extinção da pretensão; todavia, o direito em si permanece incólume, só que sem proteção jurídica para solucioná-lo. Portanto, o que prescreve é o direito de executar o título, e não a obrigação contida no título. Defesa do devedor empresário8 Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 Nos termos do art. 189 do Código Civil, violado um direito, nasce para o seu titular uma pretensão, que pode ser extinta pela prescrição, nos termos dos seus arts. 205 e 206. Assim, por exemplo, se o devedor (pessoa jurídica) não paga a dívida ao credor, nascerá a este o direito de executá-lo e, não havendo o pagamento, conforme hipóteses do art. 94 da Lei nº. 11.101/2005, poderá ser pleiteada a falência. Todavia, se o credor (titular do direito) fica inerte, não ingressa com o pedido dentro do prazo estipulado em lei, ele terá perdido o direito a exercer sua pretensão. É a aplicação da famosa regra “o direito não socorre aos que dormem”. Nas palavras de Fazzio Júnior (2016, p. 650), “L’extinction d’un droit par écoulement de temps, a prescrição é identificada, aqui, como a perda do direito creditório pelo transcurso do tempo, em razão de seu não exercício”. Dessa forma, se o título fica desprovido de sua executividade em razão da prescrição, não pode ser usado também para embasar o pedido de falência. A prescrição, então, é uma hipótese de fundamento e estratégia para de- fesa do devedor. Mas então será que a prescrição deve ser alegada em até 10 (dez) dias, conforme prazo de defesa determinado em lei? A resposta é não. A prescrição é denominada de matéria de ordem pública, o que significa que poderá ser suscitada a qualquer tempo e grau de jurisdição. Acompanhe o teor do art. 193 do Código Civil: “Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita” (BRASIL, 2015, documento on-line). Assim, o fato de o devedor não alegá- -la no prazo de contestação não o impede fazê-lo posteriormente. Inclusive, a prescrição pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, ou seja, o juiz poderá decretá-la mesmo que não haja qualquer pedido das partes. Todavia, para conseguir obstar a decretação da falência, a prescrição deve estar aperfeiçoada antes do pedido. Logo, se o pedido de falência for distribu- ído em juízo antes de consumar-se a prescrição do título, não há que se falar em denegar a falência em razão de prescrição. Logo, se o devedor demorar a ser citado para apresentar sua defesa, em razão de lentidão do judiciário, por exemplo, tal situação não poderá ser atribuída à culpa do credor, que não é responsável por essa demora. Ainda, encontrando-se prescrito o título, é possível que o credor ingresse com uma ação judicial de cobrança para que, após sentença positiva, forme o título executivo que esteja apto a embasar a ação falimentar. 9Defesa do devedor empresário Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 Em dezembro de 2018, o Superior Tribunal de Justiça entendeu, por meio do julgamento do Recurso Especial nº. 1.466.200/SP, que a dívida tributária inscrita em processo de falência não prescreve se o Fisco a tiver inscrito em certidão dentro do prazo de cinco anos desde a constituição do débito. O Tribunal de Justiça de São Paulo havia declarado a nulidade de uma dívida de ICMS inscrita em um processo de falência que ultrapassava os cinco anos. O STJ, todavia, entendeu que, apesar da inscrição na dívida fiscal ter ocorrido há mais de cinco anos, o Fisco paulista ajuizou execução fiscal dentro desse mesmo prazo. Suspensão da prescrição Um dos efeitos da falência é também a suspensão da prescrição das obrigações do falido, ou seja, enquanto o pedido judicial de falência se encontrar em an- damento, não haverá o risco ao credor de que as obrigações prescrevam e não possam ser devidamente cobradas do devedor. Acompanhe o teor do art. 6º da Lei de Falências, que assim prevê: “A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário” (BRASIL, 2005, documento on-line). Encerrado o processo falimentar, será devolvido aos credores o direito de executar o devedor (ou sócios de responsabilidade solidária) pelo seus créditos. Além disso, também após o trânsito em julgado da sentença (quando não há mais chance de recurso pelas partes), o prazo prescricional voltará a fluir para os credores. Por fim, outro efeito da falência consiste na suspensão da prescrição das obrigações do falido, que voltam a fluir apenas com o trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência (arts. 6.º e 1 57). Não se suspende, no entanto, a prescrição das obrigações de que era credor o falido. Prazos decadenciais, mesmo das obrigações devidas pelo falido, não se suspendem também (COELHO, 2016, p. 319). Defesa do devedor empresário10 Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 Importante ainda esclarecer que a prescrição será suspensa no processo de falência, não interrompida. Dessa forma, o prazo prescricional não se reinicia do zero para os credores após o trânsito em julgado da sentença e falência, mas volta a correr a partir da data em que foi suspenso. O tempo eventualmente anteriormente transcorrido entra na contagem da prescrição. A prescrição das obrigações em que o falido é credor não serão suspensas. BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Brasília: Presidência da República, 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/ l11101.htm. Acesso em: 18 jul. 2020. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília: Presidência da República, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 18 jul. 2020. COELHO, F. U. Manual de Direito Comercial: Direito de empresa. 28. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. FAZZIO JÚNIOR, W. Manual de Direito Comercial. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2016. MATO GROSSO. Tribunal de Justiça. Número: 1012647-40.2019.8.11.0041. Cuiabá, 27 mar. 2019. Disponível em: https://www.pontonacurva.com.br/download.php?id=6913. Acesso em: 18 jul. 2020. MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. (15ª Câmara Cível). Apelação Cível 1.0470.16.003471- 1/001. Relator(a): Des.(a) José Américo Martins da Costa. Julgamento em: 10 out. 2019. Minas Gerais: TJMG, 18 out. 2019. TARTUCE, F. Manual de direito civil: volume único. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017. TOMAZETTE, M. Curso de direito empresarial: falência e recuperação de empresas. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2020. v. 3. 11Defesa do devedor empresário Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Leituras recomendadas BRASIL. Lei nº 10.406 de 10 de janeirode 2002. Institui o Código Civil. Brasília: Presidência da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ l10406.htm. Acesso em: 18 jul. 2020. CHAGAS, E. E. Direito Empresarial esquematizado. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Jurisprudência TJMG. Minas Gerais, [2020?]. Disponível em: https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaPalavrasEspelhoAcordao.do?pa lavras=autofalencia&pesquisarPor=ementa&orderByData=2&referenciaLegislativa=C lique%20na%20lupa%20para%20pesquisar%20as%20refer%EAncias%20cadastradas ...&pesquisaPalavras=Pesquisar&&linhasPorPagina=10&linhasPorPagina=10&paginaN umero=2. Acesso em: 18 jul. 2020. Defesa do devedor empresário12 Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 Identificação interna do documento O0K4F30PG3-AES4RH1 Nome do arquivo: C09_Defesa_devedor_empresario_FINAL_202211251634124125988. pdf Data de vinculação à solicitação: 25/11/2022 16:34 Aplicativo: 639595
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