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CENTRO UNIVERSITÁRIO AGES

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CENTRO UNIVERSITÁRIO AGES
Ana Luiza Almeida Mendonça
Ana Vitória Pereira
Beatriz dos anjos
Bianca Abreu Silva
Erica Anjos 
Gabriel Henrique
José Cristóvão Souza Santos
Larissa de Souza Santos
Larissa Micaele anjos de Jesus
Vitória Conceição
Vívia Silva Oliveira
Aborto: Uma visão da mulher
Paripiranga-Bahia
2022 
1. Introdução
No Brasil, o aborto é considerado crime, previsto nos artigos 124 a 126 do Código Penal, que data de 1940. A lei fixa que uma mulher que provocar aborto em si mesma ou consentir que outra pessoa lhe provoque – um médico, por exemplo – pode ser condenada a um até três anos de prisão.
 As únicas exceções previstas na lei são nos casos em que o aborto é necessário para salvar a vida da grávida, ou quando a gestação é fruto de um estupro. Nestes casos, o aborto é permitido e o Sistema Único de Saúde (SUS) deve disponibilizar o procedimento.
Uma terceira exceção é quando o feto é anencéfalo. Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a interrupção da gravidez de feto anencéfalo não pode ser criminalizada.
2. A falta de educação sexual e a acessibilidade aos métodos contraceptivos: influências para o aborto induzido
Segundo informações do site Brasil Escola, a educação sexual é o ensino que prepara os adolescentes para uma vida sexual segura. Nesse sentido, tal ferramenta é imprescindível para evitar DSTs e gravidez indesejada. Com isso, pode-se salientar o caso da Holanda, um dos países que instrui as crianças e adolescentes sobre a educação sexual, como uma história de sucesso. Nesse sentido, conforme o site Politize, a nação tem uma das taxas de gravidez precoce mais baixas do mundo.
Sendo assim, é possível notar a importância do tema para prevenir uma concepção não desejada e de doenças sexuais transmissíveis, entre os jovens. No entanto, no cenário atual brasileiro, essa matéria ainda está longe de ser acessada pela juventude. De fato, apenas 20% das escolas públicas brasileiras instruem os alunos sobre tal tópico, de acordo com a doutora em educação, Mary Neide Figueiró. 
Além disso, é necessário citar também que, segundo dados do IBGE, apenas 9 capitais brasileiras asseguram todos os métodos contraceptivos mencionados pela lei. Em consequência disso, muitas jovens acabam por ter uma gravidez não planejada. Logo, é viável dizer que uma parte dessas mulheres opta pelo aborto induzido, realizado clandestinamente, visto que a concepção não foi planeada anteriormente. Nesse cenário, podemos citar a história de Sofia, que realizou o aborto devido uma falha na contracepção. O relato foi extraído do site diplomatique.org.br
Relato de Sofia: 
Me senti invadida -“Além de motivos sociais, como a minha idade na época, eu morava de favor na casa de outras pessoas, não tinha estabilidade para mim ou para uma criança e tampouco maturidade emocional ou psicológica para criar uma criança”. Sofia era uma adolescente de apenas 15 anos vivendo em Maceió quando decidiu que não iria levar adiante sua gravidez. Na época, ela estava namorando Otávio, um homem de 20 anos, e tinha sido abandonada pelos pais.
A mãe de Sofia sofria de depressão e tinha surtos psicóticos. A primeira vez que expulsou a menina de casa, ela tinha apenas 10 anos. Aos 11, enquanto estava na casa de amigos da família, sofreu o primeiro abuso sexual.
Até os 13 anos, Sofia passou por muitos lares até ir morar com o pai, envolvido com agiotagem. Na época, ele era casado com uma adolescente de 16 anos. Sofia ficou oito meses naquela casa, até ser expulsa novamente. A menina viveu de favor em diferentes casas e aos 15 anos conheceu Otávio, com quem começou um relacionamento e que a ajudava a sobreviver, comprando comida e ajudando financeiramente. Ele também comprava o anticoncepcional que Sofia usava, mas como ambos não tinham muito dinheiro, o uso do remédio era inadequado e esporádico.
“Quando descobri a gravidez nessa situação, fiquei desesperada, ele deixou tudo a minha escolha, na realidade, mas mesmo assim, a gente ficou bem desesperado. No mesmo dia eu já tava certa de que queria abortar”, afirma ela.
Misoprostol - Apesar de Otávio dizer que assumiria a gravidez, não era o que Sofia queria, então começou a pesquisar por métodos abortivos na internet. Após descobrir o valor do remédio, o casal começou a juntar dinheiro e vender pertences para conseguir a quantia. Durante o processo, um casal de amigos mais velhos, Rodrigo e Pedro, pediram para que ela mantivesse a gravidez, pois eles tinham interesse em adotar o bebê. No entanto, Sofia não se sentia bem com a gestação. “Eu não consegui suportar a ideia de uma barriga crescendo em mim, de ter algo dentro de mim, eu me sentia invadida”. Otávio a ajudou a comprar o medicamento abortivo e ficou com ela até que ela tomasse o remédio.
Emocional - Durante uma semana, Sofia ficou internada após sangramentos intensos. Rodrigo e Pedro a levaram para um hospital particular e os médicos realizaram a curetagem, um procedimento médico que raspa a cavidade uterina. A menina falou para a família com quem morava que não sabia que estava grávida e que o aborto foi espontâneo. Otávio não foi até a clínica.
“Depois do aborto, eu senti como se tivesse realizado com sucesso uma tarefa bem difícil. Eu senti que nunca mais queria passar por aquilo, a gravidez, mesmo sendo fruto de sexo consensual, foi um estupro ao meu emocional”, lembra Sofia. O relacionamento da jovem com Otávio durou mais quatro meses. Com 17 anos, ela tentou se reaproximar da mãe, mas não deu certo. Aos 18, ela recebeu uma herança após a morte do pai e decidiu mudar para outro país. Sofia escolheu a Dinamarca pela qualidade de vida e pela oportunidade de estudar.
Atualmente aos 21 anos, ela afirma que, se engravidasse, faria um aborto novamente, mesmo agora sabendo mais sobre os riscos dos medicamentos e procedimentos. Sua certeza de que não quer ser mãe é tão grande que escolheu o DIU de cobre como método contraceptivo porque pesquisas mostram que o cobre aumenta a chances de aborto espontâneo. Ela também acredita que a ideia de que formas de prevenir uma gestação está disponível para todas as mulheres é irreal, já que não são todas as pessoas que conseguem arcar com qualquer método contraceptivo.
Barreiras - Além disso, durante parte da adolescência, ela encontrou outra barreira para ter acesso a preservativos: “Eu não lembro de um posto de saúde perto de casa que tinha e eu não podia ser atendida, porque não tinha “pais” como responsável. Eu não podia pegar camisinhas ou nenhum outro [método contraceptivo]. Foi o que me disseram”. Sofia acredita que a decisão de abortar não é uma decisão egoísta nem fácil. “Eu tive pais ruins e eu definitivamente não quero por uma criança no mundo irresponsavelmente e proporcionar as coisas que eu vivi por descaso parental. A maternidade é algo socialmente empurrado nas costas como se fosse a única obrigação tua a partir do momento que a gravidez surge”, explica ela.
A história de Sofia é similar a de muitas adolescentes brasileiras. A Pesquisa Nacional do Aborto apontou que 29% dos abortos realizado em 2016 foram de mulheres com idade de 12 a 19 anos.
Portanto, é inegável que a falta de acessibilidade aos métodos de contracepção e a própria falta de instrução sobre sexo seguro têm uma forte influência nos casos de gravidez indesejada e o aborto induzido.
3. Impactos psicológicos do aborto na mulher
Um aspecto muitas vezes pouco debatido quando se trata do tema aborto é a quantidade de consequências psicológicas que o procedimento pode trazer para a mulher. Aqui não se procura observar tão somente os meios que levaram aquela gravidez ou algo relacionado. Mas, principalmente o período “pós-aborto”. Inúmeros podem ser os motivos que levam a mulher a interromper uma gravidez, e aqui não cabe fazer juízo de cada um deles; mas algo que não se pode deixar de falar é que independente do motivo, haverão consequências psicológicas, de qualquer que seja a natureza. “De acordo com a psicóloga Ana Cláudia Brandão, que trabalha com esse tipo de situação, umchá conjunto bem definido de sintomas psicológicos que caracterizam as sequelas associadas ao período pós-aborto. Os mais frequentes são danos à autoestima da mulher, alteração de sono e do apetite, pesadelos, desequilíbrio familiar, perda de sentido da vida e até tentativas de suicídio, de acordo com a especialista. “A verdade é que constatamos que a mulher é a segunda vítima do aborto. Elas sofrem os efeitos nocivos dessa prática tanto na sua saúde mental quanto no seu relacionamento com o meio”, ressalta a psicóloga"¹ Existem uma série de estudos que atestam esmagadora maioria das mulheres que realizam um aborto desenvolvem doenças mentais graves, como é o caso de um artigo publicado no British Journal of Psychiatry em 2011, que levou o nome de “Aborto e saúde mental: síntese quantitativa e análise de pesquisas publicadas 1995–2009” que apresentou os seguintes dados: (O risco de doenças mentais é 81% maior em mulheres que fizeram um aborto Mulheres que abortam têm 34% mais chance de sofrerem ansiedade, 37% de depressão, 110% de risco de se tornarem alcoólatras 115% mais risco de tentarem suicídio. ). “Trazendo um outro parâmetro para esses dados, um artigo publicado em 2013 que leva o nome de “Aborto, depressão, autoestima e resiliência: uma revisão”, vem nos dizer o seguinte: Embora não haja uma relação direta de causa e efeito entre aborto e depressão, sua associação tem sido reconhecida. Trabalhos recentes chamam a atenção para a alta frequência de melancolia, sentimento de culpa e diminuição de autoestima em mulheres que vivenciaram alguma situação de abortamento 1-4. O abortamento é um episódio especial, responsável por intenso sofrimento físico e existencial, podendo gerar consequências como depressão e diminuição da estima pessoal dependendo do contexto socioeconômico e cultural das mulheres associado aos fatores de risco tais como os fatores econômicos, apoio familiar e do companheiro, uso de álcool e drogas por elas e pela família, desemprego, falta de renda, trabalho, moradia e qualidade de vida 5-” Observando as duas pesquisas percebemos a diferença de abordagem, mas podemos identificar o seguinte ponto em comum: Ambos reconhecem que o abortamento tem relação com a baixa autoestima, ansiedade e depressão na mulher. Tendo esse fato constatado podemos ver que um esse assunto é um entrave real e que precisa ser tomado para os cuidados públicos, mais do que a própria pauta do aborto. É necessário que as mulheres que passam pelo episódio abortivo, seja ele de qual espécie for, precisam de um acompanhamento psicológico para resguardar sua saúde mental e principalmente para prepará-la para o enfrentamento de críticas, julgamentos e outras tantas situações que infelizmente elas estarão expostas seja no ambiente social ou familiar.
4. Tipos de aborto mais comum
4.1 Aborto Natural e o seu acontecimento após os 40 anos
 O adiamento da gestação é cada vez mais comum na sociedade e a gravidez após os 40 anos, geralmente, ocorre por meios de reprodução assistida, uma vez que as chances de engravidar nessa idade são de 50% em um ano e, aos 43 anos, de apenas 1%.
 • Abortamentos: após os 40 anos, as pacientes têm maiores chances de ter aborto espontâneo, sendo que até 25% das gestações em idade materna avançada resultam em aborto;
• O planejamento do parto é uma etapa essencial, sendo importante que ele seja acompanhado do médico de confiança e realizado com a infraestrutura adequada para emergências.
• Portanto, para reduzir os riscos de abortamento na gravidez após os 40 anos o fundamental é o planejamento da gestação, o acompanhamento pré-natal e assistência no parto. Além disso, seguir todas as recomendações da equipe médica.
 Sabendo que essas condições não são privilégios da maioria, mulheres nessa faixa etária da vida com o sonho de se tornarem mães ou até mesmo coroarem um atual relacionamento com o advento de um bebe se submetem a engravidarem sem o planejamento necessário passando por recorrentes abortos que lhes trazem dor, risco físico e psicológicos, pelo fato de não poderem gestar (pensamento do aborto como algo que viveu ou pode viver)
Na contra mão do anteriormente narrado temos, meninas (mulheres) ainda muito novas sem organização de vida e muitas vezes sem expectativas nenhuma também, não sabem o querem pra vida tão pouco o caminho que irão traçar, mas entendem que não querem ser mãe naquele momento, nem mesmo querem gestar, são meninas (mulher) normalmente com baixa escolaridade pela própria idade eu pelo contexto social o qual estão inseridas muitas vezes em rodas de conversas se dizem contra o aborto, mas quando por um “descuido” descobre uma gravidez acabam por optarem pelo aborto, e são diversas as circunstâncias que as levam a essa atitude além é claro da acima já narrada, imaturidade, dificuldade financeira, entre outas. Nesse caso estas sofrem pela eminência de uma gestação (pensamento do aborto como algo que viveu ou pode viver)
Temos ainda um grupo de mulheres, que entendem que aborto é algo que em qualquer circunstância deve ser resolvido unicamente por quem engravidou sem qualquer interferência do Estado quanto ao que se deva fazer. E Mais percebemos a turma das mulheres que em nenhuma hipótese admite o aborto, estas normalmente mulheres religiosas ou de mais idade.
Verdade é que em todas as faixas etárias de idade e em todas as condições social, ou de escolaridade as “mulheres” são tendenciosas até mesmo as que se dizem ser pela vida e portanto contra o aborto, a admitirem o abortamento quando a gravidez foi resultado de estupro. Essa é a média da concepção da visão das mulheres que mantivemos contato nos últimos dias. Não trouxemos aqui aspectos jurídicos quanto a nenhum dos casos tão pouco imprimimos nossa visão particular quanto ao que abordamos.
4.2 Aborto decorrente do estupro
Há muito tempo a legislação penal brasileira permite a realização da interrupção de uma gravidez de feto gerado pelo ato criminoso do estupro (artigo 213 do Código Penal), não havendo qualquer consequência criminal ao médico que o realiza, sendo direito da mulher violentada. Em casos recentes no Brasil reacenderam esta questão devido aos envolvimentos religiosos que uma parte da sociedade argumenta em conectar à legislação vigente, buscando a sua modificação.
Em 27 de agosto de 2020 foi publicada a portaria 2.2821 do Ministério da Saúde com novas obrigatoriedades no ato do procedimento médico do aborto, objetivando a geração de mais segurança jurídica ao profissional de saúde. São as modificações:
a. É obrigatória a notificação à autoridade policial pelo médico;
b. Os profissionais deverão preservar possíveis evidências materiais do crime de estupro a serem entregues imediatamente à autoridade policial;
c. O Procedimento de Justificação e Autorização da Interrupção da Gravidez nos casos previstos em lei compõe-se de quatro fases que deverão ser registradas no formato de termos, arquivados anexos ao prontuário médico, garantida a confidencialidade desses termos;
d. A primeira fase será constituída pelo relato circunstanciado do evento, realizado pela própria vítima, perante 2 (dois) profissionais de saúde do serviço;
e. O Termo de Relato Circunstanciado deverá ser assinado pela vítima ou, quando incapaz, também por seu representante legal, bem como por 2 (dois) profissionais de saúde do serviço;
f. A segunda fase se dará com a intervenção do médico responsável que emitirá parecer técnico após detalhada anamnese, exame físico geral, exame ginecológico, avaliação do laudo ultrassonográfico e dos demais exames complementares que porventura houver;
g. Três integrantes, no mínimo, da equipe de saúde multiprofissional subscreverão o Termo de Aprovação de Procedimento de Interrupção da Gravidez, não podendo haver desconformidade com a conclusão do parecer técnico;
h. A equipe de saúde multiprofissional deve ser composta, no mínimo, por obstetra, anestesista, enfermeiro, assistente social e/ou psicólogo;
i. Na segunda fase procedimental a equipe médica deverá informar acerca da possibilidade de visualizaçãodo feto ou embrião por meio de ultrassonografia, caso a vítima deseje, e essa deverá proferir expressamente sua concordância, de forma documentada;
j. A terceira fase se verifica com a assinatura da gestante no Termo de Responsabilidade ou, se for incapaz, também de seu representante legal, e esse termo conterá advertência expressa sobre a previsão dos crimes de falsidade ideológica (art. 299 do Código Penal) e de aborto (art. 124 do Código Penal), caso não tenha sido vítima do crime de estupro;
k. A quarta fase se encerra com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que conterá (I) o esclarecimento à mulher deve ser realizado em linguagem acessível; (II) deverá ser assinado ou identificado por impressão datiloscópica, pela vítima ou, se for incapaz, também por seu representante legal; e (III) deverá conter declaração expressa sobre a decisão voluntária e consciente de interromper a gravidez.
Ao contrário do que parece e do que foi, ao que parece, a intenção do Ministério da Saúde na criação de mais passos dentro deste procedimento, medidas como tornar dever do médico o requerimento detalhado do ato do estupro (que nada se relaciona com o trabalho que será realizado pelo profissional da saúde), ou a obrigação do médico em questionar à vítima se ela deseja visualizar o ultrassom do feto gerado por violência, acabou por burocratizar, ainda mais, o procedimento; gerar nova violência e constrangimento à vítima; como também a ampliar da obrigação do profissional da saúde, aumentando o receio deste na realização do procedimento, o que é completamente contrário à intenção de gerar segurança jurídica e médica.
O Código Penal Brasileiro no seu artigo 128, do Decreto - Lei n° 2848 de 07/12/1940, diz: "Não se pune o aborto praticado por médico:
"I - Se não há outra maneira de salvar a vida da gestante.
II - Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu responsável legal".
Recentemente assistimos ao caso de uma mãe que levou sua filha de 10 anos a um hospital universitário, em Florianópolis, logo após constatar que ela estava grávida de 22 semanas. Segundo o artigo 217-A do Código Penal Brasileiro configura-se estupro de vulnerável, pelo fato de tratar-se de uma menor de 14 anos. Na oportunidade, a instituição negou-se a realizar o aborto legal, amparando-se em uma norma técnica do Ministério da Saúde que inviabiliza sua prática, acima das 20 semanas. Não conformada e orientada pelo próprio hospital, a mãe recorreu ao Poder Judiciário para obter autorização, sendo a menor persuadida a prosseguir com a gestação, com base em que, passadas as 22 semanas, seu produto teria possibilidades de vida. Dado que o fato se tornou público, com importantes repercussões dentro e fora do Brasil, o MPF local lamentou a situação e reafirmou seu compromisso em zelar pelo efetivo respeito aos direitos fundamentais consagrados na Constituição brasileira, sendo posteriormente a gravidez interrompida, sem intercorrências. De fato, situações como estas exigem a realização de procedimentos de interrupção da gestação, independentemente da idade gestacional e peso fetal, tornando-se desnecessária qualquer autorização judicial ou comunicação policial a respeito.
DIREITO AO ABORTO EM CASO DE ESTUPRO
· Uma criança é mãe a cada 20 minutos; 6 abortos por dia em meninas de 10 a 14 anos
· 96% das cidades não têm serviço de aborto legal
· 87% dos brasileiros concordam com o direito ao aborto pós-estupro
· Para 74%, os casos de aborto previsto por lei devem ser mantidos ou ampliados
· Apenas um a cada 10 estupros é denunciado
4.3 Aborto por indicação médica
Além do aborto espontâneo onde ocorre devido a um problema no feto o aborto sendo ele uma indicação médica decorre de alguns fatores menos comuns que envolvem a saúde da mulher, como anomalias no útero, infecções e alterações de coagulação do sangue (trombofilias). Segundo o Ministério da Saúde os abortamentos podem ser classificados como 
• Ameaça de Abortamento; 
 Nesse caso, o concepto mantém sua vitalidade, entretanto, são observados na gestante o sangramento genital e cólicas, geralmente, o sangramento é de pouca intensidade e as
cólicas pouco intensas. O colo uterino permanece fechado, o correto é que a mulher permaneça em repouso.
• Abortamento Completo;
Comumente acontece em gestações que apresentam menos de oito semanas e é observada uma eliminação total do conteúdo do útero. Nesse caso, a mulher fica em observação para que seja conferido se o sangramento é mantido e para que as infeções sejam evitadas.
• Abortamento Inevitável/Incompleto;
 Nesse tipo de abortamento, temos uma situação em que apenas parte do conteúdo uterino é eliminado. É verificado, um sangramento maior que na ameça de abortamento, além disso o colo do útero encontra-se aberto e a mulher sente dores, em situações assim, é necessário realizar procedimentos como a AMIU (Aspiração Manual Intrauterina) ou curetagem (técnica que consiste na raspagem da parte interna do útero).
• Abortamento Retido; 
Observa-se nesse tipo de abortamento que o colo do útero permanece fechado e a mulher não apresenta perda sanguínea, entretanto, o embrião não apresenta sinais de vida. Nesse caso pode ser realizada a técnica AMIU ou ser utilizado medicamentos.
• Abortamento Infectado;
Nessa circunstância, observa-se infecções decorrentes principalmente de abortamentos realizados de maneira ilegal. Verifica-se um abortamento incompleto e sinais de infecções causadas geralmente por bactérias. Febre, sangramento, dores e eliminação de pus pelo colo uterino podem ser notados.
 • Abortamento Habitual;
Considera-se abortamento habitual quando a mulher apresenta três ou mais abortos espontâneos consecutivamente. Essa situação não é comum e as causas devem ser averiguadas.
• Abortamento Eletivo Previsto em lei
Essa situação diz respeito aos abortamentos solicitados em caso de estupro, risco de vida para a mulher ou feto anencéfalo (que não apresenta total ou parcialmente a calota craniana e o cérebro). Diferentes técnicas podem ser utilizadas, como uso de medicamentos, AMIU e curetagem. Nesse caso, apesar do aborto ser provocado, não se configura um crime. Portanto é permitida a realização de aborto quando há risco de vida para a gestante e quando a gravidez é resultado de um estupro. O aborto também pode ser realizado quando há a comprovação de que o feto é anencéfalo, ou seja, que o feto não apresenta total ou parcialmente a calota craniana e o cérebro.
5. O aborto ilegal e as clínicas clandestinas
É de fato que o aborto é um tema difícil de ser discutido, porém, apesar de tentarem impedir que tal ato aconteça, a sua prática é mais comum do que muitos imaginam. No Brasil, o aborto induzido é crime, com penas previstas de 1 a 3 meses de detenção para a gestante, e de 1 a 4 anos de reclusão para o médico ou qualquer outra pessoa que realize o procedimento da retirada do feto. É somente em três situações específicas em que o aborto provocado não é punível por lei, mas essas situações serão explicadas a diante. Levando em consideração a lei que determina esses aspectos, como dito anteriormente, essa prática mesmo que ilegal perante a norma acaba ocorrendo com muita frequência, isso se dá, pelas inúmeras condições que a mulher se vê durante a descoberta da gravidez e dos motivos que a leva a optar por isso.
Além do parecer negativo da justiça, uma parcela da sociedade também criminaliza essa prática, engajando ainda mais o debate sobre o assunto. Apesar de uma parte da população ser contra, outras pessoas entendem que essa decisão deve partir da própria mulher, uma vez que ela deve decidir sobre os processos do seu corpo, considerando a autonomia que cada mulher possui sobre ele, fazendo com que somente ela possa encarar aquilo que é melhor para ela.
Com isso, segundo o relatório divulgado pelo Instituto Patrícia Galvão e pelo Instituto Locomotiva, em março de 2022: ´´Oito em cada dez pessoas (84%) dizem saber que o aborto clandestino é uma das principais causas de morte de grávidasno país. ´´
É nítido que, mesmo existindo ´´argumentos´´ que impeçam, a prática do aborto continuará existindo e sendo cada vez mais perigosa, já que quando não legalizada, as clínicas, médicos e pessoas que realizam a retirada do feto vivem ás cegas, com medo de serem pegas. Por esse motivo que, alguns desses locais são de extrema precariedade e por seu ambiente hostil e sujo acabam que consequentemente colocando em risco a vida de qualquer uma que se submeter ao procedimento. Ainda, vale lembrar que por não possuírem conhecimento adequado sobre o assunto, muitas acabam que aderindo a esses locais e a qualquer pessoa que faça, a fim de acabar de uma vez com a gravidez indesejada. 
Diante do exposto, a seguir alguns relatos sobre a prática do aborto ilegal:
1°- “Quando eu cheguei lá, eu fui recebida por um médico vestido de açougueiro, com um avental branco, todo ensanguentado, e com instrumentos claramente artesanais, rudimentares. […] Eu comecei a ter uma crise de vômito, enquanto o médico me tortura dizendo que, se eu não tivesse procurado ele, eu não estaria vivendo aquilo”. O depoimento, registrado no curta Clandestinas, de Fádhia Salomão, é de uma mulher que teve que buscar uma clínica clandestina para interromper a gravidez.
2°- ´´A clínica é bem pequena, imunda! Parece um lugar pra cachorro dormir, é horrível! Tinha sangue no lençol também, tudo muito escuro, parecia filme de terror. Eu tomei uma anestesia e ‘apaguei’ na hora. Aí ela tinha um machadão, tipo foice, aí eu fechei os olhos, e não senti mais nada. Eu dormi na casa de uma amiga nesse dia, não sabia como ia ser. Eu sangrei bem pouquinho durante a noite, mas não tinha mais nada lá dentro, ela tirou tudo! Eu dormi bastante e depois voltei pra casa, depois fui pra escola normal” (Evelin, 17 anos, aborto aos 15, parceiro de 20 anos, gravidez de uma relação sexual episódica )´´. 
6. Acesso ao aborto legal
Segundo levantamento feito pelo Lunetas no Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 1.387 autorizações de internação hospitalar (AIH) de abortos realizados por razões médicas foram registradas entre janeiro e agosto de 2022. Das autorizações voltadas a crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, foram 69 procedimentos, sendo 41 pacientes meninas negras (pretas e pardas). A maioria dos procedimentos (26) aconteceu na região Norte.
Das AIHs que envolvem atendimento após abortos espontâneos ou realizados por outras razões, os números sobem para 110.166 internações, sendo 773 crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, e três meninas atendidas entre 5 e 9 anos. Não é possível mensurar quantos dos abortos totais acontecem de forma clandestina, pois envolvem também abortos decorrentes de gravidez ectópica (quando o embrião se desenvolve fora do útero, geralmente nas tubas uterinas) ou molar (gestação que pode gerar um tumor no útero).
Vale ressaltar que, em 2021, foram registrados 35.735 estupros de vulnerável contra meninas menores de 13 anos – a maioria dos casos acontece por agressores conhecidos das vítimas, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022. O documento também indica que, em 2020, existiam 3.651 pontos de exploração sexual infantil nas rodovias federais, mas apenas 29% do universo de pessoas que já tinham visto ou sabiam de alguma situação desta natureza denunciavam. A situação indica um alto índice de subnotificações voltadas ao crime “devido à tendência de culpabilizar a vítima pela violência sofrida”, como apontam os responsáveis pelo Anuário.  Em junho deste ano, uma menina grávida aos 11 anos sofreu tentativas de repressão ao não ser informada sobre seus direitos de acesso ao aborto legal por Joana Ribeiro Zimmer, juíza responsável pelo caso. Frases como “Essa tristeza de hoje para a senhora e para a sua filha é a felicidade de um casal” e “Você acha que o pai do bebê concordaria pra entrega para adoção?” foram ditas pela juíza, reforçando um comportamento de revitimização – violência institucional que consiste em submeter a vítima a procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos, e levando-a a reviver, sem necessidade, situações de violência ou outras potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização.
Falar sobre o direito ao aborto legal impede que pessoas adultas, crianças e adolescentes sejam revitimizadas no processo de atendimento, constrangidas e, portanto, violentadas uma vez mais, além de evitar que recorram a métodos inseguros de interrupção da gravidez. Além do caso envolvendo a juíza Joana Zimmer, Damares Alves, ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, esteve envolvida em tentativas de impedir que uma outra menina, de 10 anos, grávida após um estupro, realizasse o procedimento de interrupção da gravidez previsto em lei
7. Aspectos jurídicos e sociais do aborto
O aborto é um problema social. A discussão a respeito de existência e consequências deve ser feita mediante a incorporação de justiça social, direitos humanos e saúde pública.
Em várias conferências, chegou-se à constatação de que as legislações restritivas são danosas para a saúde da mulher e não reduzem o número de abortos praticados.
Faz-se necessário aumentar a consciência social sobre os direitos humanos das mulheres e desenvolver atividades de capacitação para profissionais da saúde. Deve ser estudada uma forma de se descentralizar os serviços de aborto a fim de ampliar o acesso das mulheres aos serviços de saúde.
O acesso também é dificultado em razão da alta incidência da escusa dos profissionais da saúde em realizarem os procedimentos abortivos em razão da objeção de consciência. Neste caso, mostra-se fundamental a elaboração de diretrizes para o seu uso. Configura-se um desacordo moral razoável, ou seja, ocorre a ausência de consenso sobre opiniões racionalmente defensáveis. De um lado, o direito do profissional da saúde em se negar a praticar determinado tipo de tratamento e, de outro, a autonomia de vontade da gestante amparada pelo direito à saúde e pelo princípio da dignidade humana.
Nas retromencionadas diretrizes, deve-se buscar o equilíbrio entre o direito individual do médico em alegar objeção de consciência e sua responsabilidade ética profissional de zelar pela saúde das pessoas. As diretrizes também deveriam tratar das responsabilidades institucionais, parâmetros para a recusa em prestar o serviço e o direito de informação das mulheres à informação e referência de outro profissional ou hospital que realize o procedimento. O respeito ao direito de informação sobre direitos humanos e ética para atenção ao aborto é imprescindível.
“Em termos de estatísticas mundiais temos: 75 milhões de gestações não desejadas, 35 a 50 milhões de abortos induzidos, 20 milhões de abortos inseguros, 70 a 80 mil mortes de mulheres por aborto inseguro, milhares de mulheres com graves complicações reprodutivas; 95% dos abortos inseguros ocorrem em países em desenvolvimento; dois em cada cinco abortos são feitos em condições inseguras; 13% das mortes maternas se devem ao aborto inseguro; uma mulher morre a cada três minutos; 380 mulheres engravidam; 190 mulheres com gestações não planejadas ou indesejadas; 110 mulheres relatam complicações da gravidez; 40 mulheres praticam aborto em condições inseguras” (DREZETT, 2005).
Na América Latina, há 182 milhões de gestações por ano das quais 36% não são planejadas, quatro milhões de abortos, 21% das mortes maternas, 3,65 abortos por 100 mulheres entre 15 a 49 anos, 20% dos mortes maternas no Maranhão (1987-1991); o aborto inseguro é a primeira causa de morte materna em Salvador, Bahia, desde 1990; a terceira causa de morte materna em São Paulo; a quinta causa mais frequente de internação; o segundo procedimento obstétrico mais realizado; são 250 mil internações no SUS para tratamento de complicações (LANGER, 2002). São vários os motivos que levam a mulher a abortar: uma prole maior do que a planejada, dificuldades para se obter métodos anticonceptivos modernos, falta de orientação no planejamento familiar, pouca ou nenhuma instrução, comportamento sexual de altorisco, dentre outros.
As mulheres também abortam porque existem relações sexuais não voluntárias ou não desejadas seja por violência sexual, coerção nas relações sexuais ou gravidez forçada.
Discriminar a mulher que procura o aborto seguro é penalizá-la duplamente. Tal decisão é de índole muito pessoal, gera consequências irreversíveis no campo psíquico e, muitas vezes, no físico, somados ao sentimento de frustração e desamparo.
A mulher encontra na gravidez indesejada o resultado da incapacidade da sociedade de prover condições de educação, cidadania e planejamento reprodutivo; a violência e a desigualdade de gênero são violações frequentes dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, sendo que geralmente são as mulheres pobres que enfrentam as mais graves consequências da ilegalidade. A dimensão dos números comprova que o aborto inseguro é um assunto de saúde pública que deve ser priorizado pelos governantes, pelos legisladores e pela sociedade, seja por meio de uma reforma da legislação ou de uma campanha educativa séria. As mulheres não podem ser condenadas à morte por não terem acesso aos seus direitos previstos na legislação maior e infraconstitucional. O Estado deve ser capaz de propiciar às mulheres condições de saúde adequadas, direito que está dentro do mínimo existencial e não lhe pode ser negado. A eficácia das políticas públicas depende do planejamento estatal e da participação popular e os gastos devem ser direcionados para as áreas prioritárias. Sendo o aborto a quarta causa de mortalidade materna, deve ser reavaliada a atenção que está voltada para a saúde da mulher, sem o comodismo da solução simplista de afirmar que o aborto é crime.
8. Conclusão 
Diante de todo o exposto, é possível observar que, a questão do aborto seja ele legalizado ou não ainda traz muitos questionamentos, ainda há muitas pessoas que se consideram contra e tem outra parcela que é a favor, esses levando em consideração a escolha e decisão da mulher sobre o seu próprio corpo, e sobre a sua própria vida. Apesar de ser considerado um tema ´´tabu´´, essa questão deveria ser amplamente discutida, em casa, nas escolas e em projetos públicos. É visível que não é possível chegar apenas a um lado, é possível tentar um consenso, pois apesar do assunto ser discutido na visão da mulher, nem todas pensam e vivem a mesma realidade, por isso essa visão pode variar muito, não chegando assim a um consenso. 
Acima de qualquer coisa que venham a relacionar com a prática do aborto, é preciso levar em consideração a mulher, as suas vontades, desejos, escolhas, decisões e acima de tudo a sua autonomia. É preciso que se pare um pouco de criminalizar tanto as que acabam por aderir o procedimento e realmente tentar entender e acolher da forma mais humana possível.
9. Referências
Instituto Patrícia Pavão 
https://jornal.usp.br/artigos/o-acesso-ao-aborto-por-estupro-um-caminho-acidentado-e-dificultoso/
https://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/viewFile/447/330
https://www.migalhas.com.br/depeso/333623/aborto-em-caso-de-estupro
http://www.cofen.gov.br/uma-mulher-morre-a-cada-2-dias-por-causa-do-aborto-inseguro-diz-ministerio-da-saude_64714.html
http://www.brasildefato.com.br/2022/03/28/aborto-clandestino-nova-pesquisa-mostra-o-que-pensa-a-populacao-brasileira-sobre-a-pratica
https://www.lunetas.com.br./mapa-do-aborto-legal
Atenção humanizada ao Abortamento: norma técnica- Autor: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde Da Mulher. Assunto: Saúde da mulher.
• Por: Dr. Rodrigo da Rosa Filho (CRM 119789) Erica Anjos e Victoria Conceição
• Mater Prime; Ministério da Saúde (blog),Bebê Abril, ,Fiocruz

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