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Atividade morte como fato jurídico

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Atividade sobre a morte como fato jurídico 
 
O direito é intrínseco à sociedade; onde há agrupamentos de pessoas, os conflitos 
inevitavelmente surgem, e a resolução desses conflitos depende do direito ou de uma 
estrutura similar para alcançar a paz dentro do grupo. 
Qualquer evento na sociedade pode resultar em um fato jurídico, seja ele natural ou 
não. Em ambas as circunstâncias, quando interpretado pelo direito, esse evento pode ou 
não gerar uma norma. A sobreposição de ideias e a aparente redundância são 
características típicas deste campo do pensamento. 
O Código Civil é reconhecido como o código da vida, pois retrata a maioria dos 
eventos que envolvem o ser humano e sua trajetória. Ele aborda o nascimento, o 
casamento, a velhice e a morte, buscando, por meio de suas normas, antecipar pontos que 
possam gerar conflitos e regulamentá-los. 
Essa regulação tem como objetivo principal a pacificação, pois sem ela a sociedade 
seria inviável. 
Fábio Ulhôa Coelho 1oferece uma reflexão sobre esse acontecimento: 
As normas jurídicas estabelecem consequências para os fatos aos quais se referem. 
Elas observam determinadas situações da realidade e determinam que, quando ocorrerem, 
devem ser seguidos os resultados definidos por elas. Essa estrutura é facilmente 
identificável na norma do direito penal que tipifica os crimes. Por exemplo, o artigo 121 do 
Código Penal, ao afirmar "matar alguém: pena - reclusão de 6 a 20 anos", está impondo a 
consequência da pena de reclusão, dentro desses limites temporais, à pessoa que comete 
o crime de homicídio. O fato (matar alguém) está conectado à consequência (pena de 
reclusão) pela norma jurídica. 
Todas as normas jurídicas, incluindo aquelas do direito civil, podem ser 
caracterizadas como previsões das consequências que se deseja impor a determinados 
eventos. Quando o artigo 145 do Código Civil estipula que "são os negócios jurídicos 
 
1 COELHO, Fábio Ulhoa. Professor Titular da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo (PUCSP). Livre-Docente, Doutor e Mestre em Direito pela PUCSP. Advogado. 
anuláveis por dolo, quando este for a sua causa", está atribuindo uma consequência (a 
anulabilidade do negócio jurídico) a um evento específico (o dolo de uma das partes sendo 
a causa do negócio jurídico). (COELHO, 2012, p. 252)2 
A vida está espelhada no direito civil em seus diversos aspectos: as interações dos 
seres humanos entre si, com suas atividades, pertences, família, sociedade, consigo 
mesmos e seus bens. Aborda-se todos os aspectos multifacetados da vida humana em sua 
totalidade, inclusive prevendo seu desfecho inevitável, a morte. 
 Para definir o conceito de morte, sem dúvida o ramo do direito indicado é o da 
medicina legal, que interliga o direito e as ciências médicas. Esse campo destina-se a 
estudar os aspectos jurídicos relacionados à vida humana, em conjunto com a medicina. 
Delton Croce Júnior expressa o que a morte significa para esse ramo: 
"Vamos nos ater às razões incontestáveis da morte: a cessação dos fenômenos 
vitais, pela parada das funções cerebrais, respiratórias e circulatórias, e o surgimento dos 
fenômenos abióticos, lentos e progressivos, que danificam irreversivelmente os órgãos e 
tecidos. Assim, deve-se prudencialmente deixar passar certo tempo antes de afirmar com 
rigor clínico a realidade da morte..." 3 
O autor define a morte como o término da vida. Maria Helena Diniz4, discutindo sob 
a égide do Código Civil de 1916, como um fato jurídico, lista suas consequências: 
"Com a morte real, cessa a personalidade jurídica da pessoa natural, que deixa de 
ser sujeito de direitos e deveres, acarretando: 
a) dissolução do vínculo conjugal e do regime matrimonial (Lei nº 6.515/77 e CC, art. 
1.571, 1); 
b) extinção do poder familiar (CC, art. 1.635,1); dos contratos personalíssimos, como 
prestação de serviço (CC, art. 607), e mandato (CC, art. 682, II; STF, Súmula 25); 
 
2 COELHO, Fábio. Capítulo 10. Os Negócios Jurídicos In: COELHO, Fábio. Direito Civil. São Paulo (SP): 
Editora Revista dos Tribunais. 2022. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/doutrina/direito-
civil/1540361368. Acesso em: 29 de março de 2024. 
3 CROCE, Delton; JÚNIOR, Delton Croce. Manual de medicina legal. Editora Saraiva, 2017. 
4 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das sucessões-v. 6. Saraiva Educação SA, 
2007. 
https://www.jusbrasil.com.br/doutrina/direito-civil/1540361368
https://www.jusbrasil.com.br/doutrina/direito-civil/1540361368
c) cessação da obrigação de alimentos com o falecimento do credor (RJTJSP, 
82:138; RT, 574/68; CC, art. 1.700); do pacto de preempção (CC, art. 520); da obrigação 
oriunda de ingratidão do donatário (CC, art. 560); 
d) extinção de usufrutos (CC, art. 1.410, I; CPC, art. 1.112, VI); da doação na forma 
de subvenção periódica (CC, art. 545); do encargo da testamentaria. (CC, art. 1.985)" 
Nas palavras da autora, as consequências jurídicas da morte são claramente 
delineadas. Ou seja, quando ocorre um evento relevante para o direito, como a morte, e 
esse evento é objeto de suas normas, torna-se um fato jurídico, com dezenas de 
implicações, como no caso em questão. 
No Direito Civil brasileiro, a morte é considerada um fato jurídico de grande 
importância, pois tem consequências jurídicas significativas. Quando uma pessoa falece, 
ocorre a extinção de sua personalidade jurídica, o que implica em diversas consequências 
patrimoniais e pessoais. 
 Em termos jurídicos, a morte é definida como a cessação definitiva da vida, sendo 
reconhecida tanto pela parada completa e irreversível das funções vitais do organismo 
quanto pela declaração médica do óbito. Essa definição é importante porque estabelece 
critérios claros para determinar o momento em que ocorre a morte em um contexto jurídico.
 
Entre as consequências jurídicas da morte no Direito Civil brasileiro, destacam-se: a 
extinção da personalidade jurídica: com a morte, encerram-se os direitos e obrigações da 
pessoa falecida. Essa extinção da personalidade jurídica influencia questões como a 
capacidade para ser titular de direitos e deveres, a possibilidade de praticar atos jurídicos 
e a sucessão dos bens e direitos; a sucessão hereditária: a morte de uma pessoa abre 
espaço para a sucessão hereditária, na qual os bens, direitos e obrigações do falecido são 
transmitidos aos seus herdeiros legítimos ou testamentários. 
Esse processo é regido pelo Código Civil brasileiro, especialmente nos artigos 1.784 
a 2.027; a transferência de bens e direitos: com a morte, os bens e direitos do falecido são 
transferidos para seus herdeiros, de acordo com as regras de sucessão estabelecidas pela 
lei. Isso implica em uma série de procedimentos legais, como a abertura do inventário e a 
partilha dos bens entre os sucessores; a extinção de obrigações: para além da transmissão 
de bens e direitos, a morte também pode implicar na extinção de obrigações pessoais do 
falecido, especialmente aquelas que não são transmissíveis aos herdeiros. 
No sentido de deixar de ser sujeito de direitos e deveres, para o direito, o caso do 
nascituro é relevante, termo usado para descrever aquele que está prestes a nascer. O 
nascimento é regulamentado pelo Código Civil, conforme a seguinte disposição: 
"Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei 
põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro." (BRASIL, 2002)5 
 Ainda, o mesmo código trata do fim da vida: 
"Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se está quanto 
aos ausentes nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva." (BRASIL, 
2002)6 
Nota-se que o Código Civil aborda imediatamente após o início da vida seu desfecho, 
ao estabelecer que o começo é o nascimento com vida, e ao se referir ao "nascimento com 
vida", implicitamente faz menção à morte. 
É importante destacar o termo"com vida" presente no código, pois ele contém a 
declaração de que o ser que nasce com vida é também aquele que pode ser objeto do 
artigo seis, ou seja, se nasceu com vida, pode morrer. 
Carlos Roberto Gonçalves que acrescenta sobre o assunto: 
Não exige o corte do cordão umbilical, 
nem que seja viável (aptidão vital), nem 
que tenha forma humana. Nascendo 
vivo, ainda que morra em seguida, o 
novo ente chegou a ser pessoa, 
adquiriu direitos, e com a sua morte os 
 
5 Portal da Câmara dos Deputados. Camara.leg.br. Acesso em 29 de março de 2024. Disponível em: 
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2002/lei-10406-10-janeiro-2002-432893-publicacaooriginal-1-pl.html 
6 Portal da Câmara dos Deputados. Camara.leg.br. Acesso em 29 de março de 2024. Disponível em: 
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2002/lei-10406-10-janeiro-2002-432893-publicacaooriginal-1-pl.html 
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2002/lei-10406-10-janeiro-2002-432893-publicacaooriginal-1-pl.html
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2002/lei-10406-10-janeiro-2002-432893-publicacaooriginal-1-pl.html
transmitiu. (GONÇALVES, 1998a, p. 
59)7 
Em suma, a morte é um fato jurídico de extrema importância no ordenamento 
legal, delineando o término da existência da pessoa natural perante o direito. A 
legislação civilista não apenas reconhece o nascimento como marco inicial da 
personalidade civil, mas também estabelece a morte como seu fim. A distinção entre 
nascer com vida e nascer sem vida é crucial, pois define a própria existência legal do 
indivíduo. A partir do momento em que a morte ocorre, uma série de consequências 
jurídicas se desencadeiam, como a extinção de direitos e obrigações, a dissolução de 
vínculos familiares e contratuais, entre outros aspectos que afetam o status jurídico do 
falecido e de seus herdeiros. Assim, a morte não é apenas um evento biológico, mas 
também um evento jurídico que molda o panorama legal e impacta diretamente na vida 
dos envolvidos. 
 
 
7 GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito Civil: Parte geral: Coleção Sinopses Jurídicas, Saraiva: São Paulo, 
1998a.

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