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ELETRICIDADE Luciana Maria Margoti Dielétricos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever as propriedades de um dielétrico. � Determinar a capacitância para diferentes tipos de dielétrico. � Identificar as possibilidades de utilização dos dielétricos. Introdução Neste capítulo, você vai estudar o que são materiais dielétricos e quais são as principais características que possibilitam essa classificação. A partir da determinação das características e do comportamento dos dielétricos, na presença de campo elétrico, você vai aprender a determinar como esses elementos podem ser utilizados em capacitores e qual é a influência dos dielétricos nesses elementos. Com essas informações, ficará mais fácil entender e identificar outras possibilidades de uso dos dielétricos, a partir da sua principal grandeza, relacionada à interação com eletricidade. Você verá também a importân- cia desses elementos, que — embora não sejam condutores de energia elétrica — são amplamente utilizados nas diversas formas como os cir- cuitos elétricos e eletrônicos se apresentam. 1 Propriedades dos dielétricos Dielétricos são materiais isolantes, ou seja, eles não são condutores de carga elétrica (ou eletricidade). Esses materiais apresentam alta resistividade elétrica e, neles, as cargas elétricas não podem se mover. Como exemplos de dielé- tricos, temos os plásticos utilizados para isolar fios em instalações elétricas, a borracha, o óleo, o vidro. Na Figura 1, você poderá observar a comparação entre alguns materiais que são bons condutores de cargas elétricas (corrente elétrica) e outros que são dielétricos. As propriedades desses elementos dielétricos se devem à sua estrutura atômica e ao comportamento elétrico dos seus átomos na presença de campo elétrico. Nos dielétricos, os elétrons das camadas mais externas dos átomos apresentam uma ligação mais forte e, por isso, não é propícia a ligação com elétrons de átomos vizinhos, nem o seu movimento. Materiais com essas par- ticularidades são maus condutores de corrente elétrica e de calor (HEWITT, 2015; KNIGHT, 2009). Figura 1. Comparativo entre materiais condutores e isolantes. Fonte: Adaptada de VectorMine/Shutterstock.com. CONDUTORES ELÉTRICOS ISOLANTES ELÉTRICOS Condutores permitem que a energia passe através dele Metal Prata Ouro Vidro Borracha Madeira Plástico ÓleoCobreÁgua do mar Isolantes não permitem que a energia passe através dele Dielétricos2 Uma das características intrínsecas dos átomos que constituem os materiais é a resistividade elétrica ρ (Rô, do alfabeto grego). É ela que possibilita a sua classificação, quando esses materiais são expostos a uma diferença de potencial, por exemplo. Essa propriedade colabora na definição de quanto determinado material resiste ao fluxo de carga elétrica. Quanto mais alta a resistividade de um material, mais isolante ele é (ALEXANDER; SADIKU, 2013). No Quadro 1, veja as resistividades elétricas de alguns materiais. Observe que materiais como papel, mica, vidro e teflon, que são materiais dielétricos (isolantes), apresentam alta resistividade elétrica. Fonte: Alexander e Sadiku (2013, p. 27). Material Resistividade (Ω · m) Emprego Prata 1,64 × 10-8 Condutor Cobre 1,72 × 10-8 Condutor Alumínio 2,8 × 10-8 Condutor Ouro 2,45 × 10-8 Condutor Carbono 4 × 10-5 Semicondutor Germânio 47 × 10-2 Semicondutor Silício 6,4 × 102 Semicondutor Papel 1010 Isolante Mica 5 × 1011 Isolante Vidro 1012 Isolante Teflon 3 × 1012 Isolante Quadro 1. Resistividade elétrica 3Dielétricos Outra característica intrínseca dos elementos que compõem os materiais, capaz de indicá-los como isolantes ou condutores, é a permissividade dielé- trica, que indica a capacidade do material de reagir à exposição a um campo elétrico. A permissividade dielétrica é representada pela letra grega ε (Epsilon), e a sua unidade de medida em geral aparece em F/m (Farad por metro). Em materiais condutores que são submetidos a um campo elétrico, os seus elétrons livres se rearranjam sobre a superfície do material, formando uma carga superficial. Isso não acontece nos dielétricos: eles favorecem a concentração do campo elétrico, por não permitirem que a carga se espalhe sobre a sua superfície. A permissividade dielétrica dos materiais é analisada de forma relativa à permissividade elétrica do vácuo. Assim (KNIGHT, 2009): onde: � εr = permissividade relativa do material; � ε = permissividade do meio; � ε0 = permissividade dielétrica do vácuo, que tem valor de ε0 = 8,85 × 10–12 C2/Nm2. A permissividade relativa também é conhecida como constante dielétrica e pode ser representada pela letra K. Essa constante indica quantas vezes a permissividade de um material é maior ou menor que a do vácuo. Observe no Quadro 2 a constante dielétrica de alguns materiais à temperatura ambiente (25 ºC). Outra propriedade importante é a rigidez dielétrica de um material, que é descrita como o valor máximo de potencial elétrico aplicado por unidade de espessura desse material, sem que ele deixe de se comportar como um dielétrico (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). Em outras palavras, para valores maiores do que a rigidez dielétrica de determinado material isolante, ele deixa de se comportar como dielétrico e pode permitir a passagem de corrente elétrica pelo seu meio. A unidade de rigidez dielétrica é V/mm (Volt por milímetro). Alguns valores de rigidez dielétrica podem ser vistos no Quadro 2. Dielétricos4 Fonte: Knight (2009, p. 931). Material Constante dielétrica k Rigidez dielétrica Emax (106 V/m) Vácuo 1,6 — Ar (1 atm) 1,0006 3 Teflon 2,1 60 Plástico poliestireno 2,6 24 Mylar (filme fino de poliéster) 3,1 7 Papel 3,7 16 Vidro pirex 4,7 14 Água pura (a 20 °C) 80 — Dióxido de titânio (TiO2) 110 6 Titanato de estrôncio (SrTiO3) 300 8 Quadro 2. Constante dielétrica de alguns materiais Embora haja propriedades bem peculiares que caracterizam os dielétricos, é importante ressaltar que qualquer material, ao ter os seus limites (grandezas) extrapolados, deixa de se comportar como isolante, o que pode comprometer a finalidade a que ele foi destinado. Assim, é necessário garantir o uso sob condições adequadas desses materiais, para que se garanta o comportamento esperado de proteção, isolamento ou blindagem. Entre todas as propriedades abordadas, uma delas traz uma grande con- tribuição para a determinação da capacitância dos materiais. A capacitância tem relação direta com o armazenamento de campo elétrico, proveniente de uma interação com dielétricos adequados e propriedades adequadas ao uso. A seguir, você verá que a permissividade dielétrica do material tem grande importância na determinação da capacitância de elementos armazenadores de energia. 5Dielétricos 2 Determinação da capacitância a partir de diferentes dielétricos Os dielétricos são muito importantes em diversas aplicações. Uma delas é no isolamento de placas condutoras na construção de elementos que armazenam energia elétrica, conhecidos por capacitores. Capacitores são componentes muito utilizados em eletrônica, comunicação, computadores e sistemas de potência (ALEXANDER; SADIKU, 2013). Eles são formados por duas placas condutoras paralelas, separadas por um dielétrico, de forma que a ausência de contato entre os condutores permita que cargas elétricas sejam armazenas, por atração, em forma de campo elétrico. Quando for necessário, essas cargas podem ser devolvidas para o circuito ao qual o capacitor está conectado. As Figuras 2 e 3 mostram detalhadamente os capacitores, com os seus elementos condutores intercalados por dielétricos (isolantes). Figura 2. Capacitor e a representação da sua constituição interna. Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com. Separador Placa de metal Caixa de alumínio Terminal Dielétricos6 Figura 3. Capacitor e o elemento que armazena energia em forma de campo elétrico. Fonte: Adaptada deDesignua/Shutterstock.com. Separador Recipiente Terminal Folha de cátodo (-) Folha de ânodo (-) A quantidade de carga armazenada em um capacitor é proporcional à tensão aplicada a ele. A essa constante de proporcionalidade dá-se o nome de capacitância, representada pela letra C, com unidade de medida Farad (F): Q = CV onde: � Q = carga elétrica armazenada nas placas condutoras; � C = capacitância; � V = tensão aplicada aos terminais do capacitor. 7Dielétricos De forma alternativa, a capacitância é a quantidade de carga armaze- nada por placa para uma unidade de diferença de potencial em um capacitor (ALEXANDER; SADIKU, 2013). Embora a capacitância seja a razão entre tensão e carga elétrica, ela depende das dimensões físicas do capacitor. Para um capacitor de placas paralelas (o mais comum), a capacitância pode ser escrita como: onde: � ε = permissividade do material dielétrico entre as placas; � A = área das placas; � d = distância entre placas condutoras. Essas grandezas estão representadas no esquema da Figura 4. Figura 4. Capacitor de placas paralelas e as suas dimensões. Fonte: Alexander e Sadiku (2013, p. 190). Dielétricos8 Além da área e da distância entre as placas, quanto maior for a permissividade do material, maior será a sua capacitância. Dois capacitores foram projetados com placas condutoras de materiais idênticos e mesma área, e a distância entre as placas também é a mesma nos dois capacitores. A diferença construtiva entre eles ocorreu na seleção do dielétrico utilizado: no capacitor A, o dielétrico utilizado foi o vácuo; já no capacitor B, foi utilizado o plástico poliestireno entre as placas. Considerando A = 0,003 m2 e d = 0,009 m, determine a capacitância de cada um dos capacitores. Para solucionar esse problema, inicialmente você precisa observar se todas as uni- dades estão no Sistema Internacional de Unidades. Caso não estejam, será necessário fazer as conversões adequadas. Para o capacitor A: Para o capacitor B, o dielétrico utilizado foi a plástico poliestireno. Do Quadro 2, você pode verificar que a permissividade relativa do plástico poliestireno é 2,6, em relação à do vácuo. Assim, a permissividade do plástico poliestireno será: Logo, Observe que, ao adicionar, entre as placas condutoras, um material com maior permissividade dielétrica (mais isolante), a capacitância será maior. 9Dielétricos Os dielétricos são importantes na fabricação dos capacitores, uma vez que, como você viu, a escolha de diferentes dielétricos pode alterar significativa- mente a sua capacitância. No entanto, os dielétricos têm outras aplicações em eletricidade, como você verá na próxima seção. 3 Utilização de dielétricos Os dielétricos normalmente são utilizados em locais em que se deseja isolar partes eletricamente, visto que não ocorre fluxo de corrente elétrica através deles. Com o uso desse tipo de material, é possível manusear partes expostas à corrente elétrica ou à diferença de potencial, eliminando os riscos de choque elétrico. Os dielétricos podem ser encontrados nos estados sólido, líquido e gasoso. Como exemplos de dielétricos no estado sólido, podemos citar madeiras, borrachas, cerâmicas e mica. Na Figura 5, observe o uso da porcelana em isoladores utilizados em componentes do sistema elétrico de potência. Figura 5. Sistema de proteção com hastes de aterramento. Fonte: FOTOGRIN/Shutterstock.com. Dielétricos10 Dielétricos no estado gasoso podem ser encontrados encapsulados também em equipamentos do sistema elétrico de potência (transformadores, disjun- tores). O ar é um exemplo de dielétrico no estado gasoso. Óleos minerais são bons exemplos de dielétricos em estado líquido. Eles também são utilizados em transformadores, isolando fisicamente as suas partes, ou impregnando papéis usados no isolamento de enrolamentos de motores elétricos (Figura 6). Figura 6. Detalhe de um motor elétrico aberto, em que é possível ver os papéis utilizados como isolantes. Fonte: Smoczyslaw/Shutterstock.com. Os dielétricos, em sua maioria, além de bons isolantes elétricos, apresen- tam boa resistência mecânica — principalmente aqueles utilizados para a sustentação de outros elementos. Uma aplicação muito comum dos dielétricos é no revestimento de fios e cabos condutores. Assim, são diversos os tipos de revestimentos existentes, que, além do isolamento elétrico, diferenciam-se pela temperatura de trabalho suportada por cada um (FOWLER, 2013). 11Dielétricos O isolamento de cabos elétricos é tão relevante que a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) tem uma norma específica para indicar o comportamento adequado à utilização dos dielétricos no revestimento de cabos e fios elétricos. A norma é a ABNT NBR 6813:1981 – Fios e Cabos Elétricos – Ensaio de resistência de isolamento. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6813:1981. Fios e cabos elétricos - Ensaio de resistência de isolamento. Rio de Janeiro: ABNT, 1981. ALEXANDER, C. K.; SADIKU, M. N. O. Fundamentos de circuitos elétricos. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: AMGH, 2012. FOWLER, R. Fundamentos de eletricidade: corrente contínua e magnetismo. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. (Série Tekne, v. 1). HEWITT, P. G. Física conceitual. 12. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015. KNIGHT, R. D. Física: uma abordagem estratégica. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. (Eletricidade e Magnetismo, v. 3). Dielétricos12
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