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29 Tem-se repetido muitas vezes que as raças domésticas não diferem umas das outras por caracteres de valor genérico. Pode demonstrar-se que esta asserção não é exata; todavia, os naturalistas têm opiniões muito diferentes quanto ao que constitui um caráter genérico, e, por conseguinte, todas as apreciações atuais so- bre este ponto são puramente empíricas. Quando eu explicar a origem do gênero natural, ver-se-á que não devemos de modo algum esperar encontrar nas raças domésticas diferenças de ordem genérica. Estamos reduzidos a hipóteses desde que tentamos avaliar o valor das di- ferenças de conformação que separam as nossas raças domésticas mais vizinhas; não sabemos, com efeito, se elas derivam de uma ou muitas espécies mães. Seri- a, portanto, um ponto muito interessante a elucidar. Se, por exemplo, pudesse provar-se que o Galgo, o Sabujo, o Caçador, o Espanhol e o Buldogue, animais cuja raça, como sabemos, se propaga tão puramente, derivam todos de uma mesma espécie, eStávamos evidentemente autorizados a duvidar da imutabilidade de grande número de espécies selvagens estreitamente ligadas, a das raposas por exemplo, que habitam as diversas partes do globo. Não creio, como veremos em breve, que a soma das diferenças, que constatamos entre as nossas diversas raças de cães, se tenha produzido inteiramente no estado de domesticidade; julgo, ao contrário, que uma parte destas diferenças provém da descendência de espé- cies distintas. Apesar das raças muito características de algumas outras espécies domésticas, há fortes presunções, ou mesmo provas absolutas de que descendem todas de uma origem selvagem comum. Tem-se pretendido muitas vezes que, para os reduzir à domesticidade, o homem escolheu animais e plantas que apresentam uma tendência inerente ex- cepcional à variação, e que possuíam a faculdade de suportar os mais diferentes climas. Não contesto que estas aptidões tenham aumentado muito o valor da mai- or parte dos nossos produtos domésticos; mas como poderia um selvagem saber, quando aprisionou um animal, se esse animal era suscetível de variar nas gera- ções futuras e suportar as mudanças de clima? Acaso a fraca variabilidade do ju- mento e do pato, a pouca disposição da rena para o calor ou do camelo para o frio, impediram a sua domesticação?
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