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Teoria Geral do Crime. Conceito. Entre nós, o termo "infração" é genérico, abrangendo "crimes" (ou "delitos") e as "contravenções". Mas o que é crime? Hoje, predominam dois sistemas de conceituação do crime: o sistema formal (analítico) e o material. Formalmente, conceitua-se o crime sob o aspecto da técnica jurídica, do ponto de vista da lei. Já, materialmente, tem-se o crime sob o ângulo relativo. Procura-se explicar a razão porque o legislador colocou determinada conduta como infração, sujeitando-a a uma sanção penal. Características do crime sob o aspecto formal. Para que exista o crime mostra-se necessária uma conduta humana positiva (ação) ou negativa (omissão). Ainda, essa conduta deve estar descrita na lei como infração penal (exigência do princípio da legalidade, que já estudamos outrora). Ainda, só haverá crime se o fato for antijurídico,ou seja, contrário ao direito, uma vez não protegido por causa de exclusão de ilicitude. Dessa forma, são características do crime a tipicidade e a antijuridicidade. Fato típico é o comportamento humano que provoca, em regra, um resultado previsto como infração. Fato antijurídico é aquele que contraria o ordenamento jurídico. Assim, não haverá crime se houver qualquer das causas excludentes da culpabilidade (legítima defesa, estado de necessidade...), que permitem, em determinadas hipóteses, a prática da conduta. Requisitos, elementos e circunstâncias do crime. Em razão do conceito formal de crime, como vimos, para que um comportamento seja considerado delituoso e possa, sim, ser aplicada uma sanção ao agente, mostra-se necessário que constitua um fato típico e antijurídico. Assim, o fato típico e a antijuridicidade são verdadeiros requisitos para a existência do crime, pois, faltando um deles, não haverá crime algum. Verifica-se que esses dois requisitos são exigidos para a existência de qualquer delito, seja ele qual for. Por isso, são chamados de requisitos genéricos. No entanto, temos, ainda, os requisitos específicos, que são as elementares ou elementos do tipo, que são as várias formas que assumem os requisitos genéricos nos diversos tipos penais. São o verbo que descreve a conduta, o objeto material, os sujeitos ativos e passivos, todos inscritos na figura penal. São pecinhas que, se retiradas, fazem desaparecer o crime (atipicidade absoluta) ou o transformam em outro (atipicidade relativa). Já as circunstâncias são dados que, agregados à figura típica fundamental, têm a função de aumentar ou diminuir as conseqüências jurídicas. Mexem, portanto, na pena do delito. Enquanto a ausência de um elemento faz com que o fato não possa ser mais considerado crime (ou, pelo menos, aquele determinado crime), a falta de uma circunstância não influi sobre a existência do delito. O crime continua existindo, sem aquela determinada circunstância. Imagine o caso do furto, descrito como o fato de alguém subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. Se o sujeito subtrair coisa própria, o fato será considerado atípico, pois falta um de seus elementos. Assim, não haverá crime, porque só há crime quando o fato é típico, ou seja, quando estão presentes todos os elementos descritos na figura delitiva. Verifica-se, entretanto, que o parágrafo 1° do artigo 155 do CP determina que a pena deverá ser aumentada de 1/3 se o fato é praticado durante o repouso noturno. Trata-se de uma circunstância e não de um elemento do crime de furto. Afinal, o furto pode ocorrer, independentemente, de ter sido praticado durante o repouso noturno. Se o crime for praticado durante o dia, haverá o delito de furto, da mesma maneira, pois a ausência de uma circunstância (sempre acessória) não faz desaparecer o crime. A ausência de uma elementar, como mencionado pode gerar duplo efeito: a atipicidade absoluta e a relativa. Ocorre a atipicidade absoluta quando, excluída a elementar, o sujeito não responde por nenhuma infração. Por exemplo, se no furto, faltar o intuito de assenhoramento, como já vimos, no caso do sujeito que pega um carro "emprestado" para levar sua "mina" ver estrelas na Serra do Japi, nesse caso, haverá a atipicidade absoluta, porque, excluído o intuito de assenhoramento, o sujeito não terá cometido crime algum. Já, a atipicidade relativa ocorre quando, excluída a elementar, não subsiste o crime de que se cuida, mas há a desclassificação para um outro crime. Imagine, por exemplo, que o sujeito esteja sendo processado por crime de peculato (art.312). Verifica-se, no entanto, no transcorrer da instrução processual, que o sujeito não era funcionário público ao tempo da prática da infração, elemento necessário para a configuração desse crime. Nesse caso, acabará desaparecendo o crime inicial de peculato, subsistindo, entretanto, o delito de apropriação indébita, previsto no artigo 168 do CP. Ilícito civil e ilícito penal. Inexiste diferença substancial (de natureza, ontológica) entre o ilícito penal e o civil, uma vez que ambos ferem o ordenamento jurídico. A diferença está, justamente, na conseqüência da prática desses ilícitos. Isso porque o ilícito penal é sancionado com pena, enquanto o ilícito civil produz somente sanções civis. O legislador há sempre de verificar se as sanções civis se apresentam suficientes para a proteção da ordem legal. Se essas não lograrem colocar fim à agressão, faz-se necessária a proteção penal. Hungria muito bem colocava que o ilícito penal é a violação do ordenamento jurídico, contra a qual, pela sua intensidade ou gravidade, a única sanção adequada é a pena, enquanto o ilícito civil é a violação da ordem jurídica, para cuja debelação bastam as sanções atenuadas da indenização, da execução forçada, da restituição em espécie, da breve prisão coercitiva, da anulação do ato etc. (Comentários ao Código Penal, Rio de Janeiro, Forense, 1977, v.1, t.2, p.35). Nada impede, no entanto, que, além da sanção penal imposta ao autor de um determinado crime, possa também ser imposta uma sanção civil ou administrativa. No caso do furto, além da pena, pode ser imposta a indenização ou restituição (sanção civil). Também, no crime de peculato, pode haver sanção administrativa (exoneração do serviço público). O crime na teoria geral do direito. O crime é um fato jurídico (acontecimento capaz de produzir efeitos jurídicos). Como fato jurídico é uma ação (ou omissão) humana de efeitos jurídicos involuntários (porque o sujeito não deseja ser punido). Nessa categoria, encontra-se entre os atos ilícitos penais. Sujeito ativo do crime. Conceito. Sujeito ativo do delito é aquele que pratica o fato descrito na norma penal incriminadora. Deve-se lembrar de que somente o homem pode delinqüir, não podendo ser sujeitos ativos de crimes animais ou coisas. Assim, se um sujeito utiliza seu cão de guarda para matar um desafeto, esse somente servirá de instrumento para a prática do delito, uma vez que o animal não pode ser agente ativo de crime. Terminologia da lei. O CP e o CPP empregam várias denominações para expressar o sujeito ativo do delito. O Código Penal, geralmente, vale-se da expresssão "agente". Na fase do inquérito, o sujeito é denominado "indiciado". Durante o processo, recebe o nome de acusado, denunciado ou réu. Já, aquele que sofreu sentença condenatória, é chamado "sentenciado", "preso", "condenado" , "recluso" ou "detento". Sob o ponto de vista biopsíquico, recebe o nome de "criminoso" ou "delinqüente". Direitos e obrigações. A prática da conduta punível cria para o Estado o direito concreto de punir e a obrigação de impor a sanção penal. Por outro lado, cria para o cidadão a obrigação de não obstacularizar a imposição da pena. Ainda, o sujeito ativotem o direito de liberdade, somente podendo o Estado punir o agente de acordo com os moldes determinados pela sanção jurídica. Capacidade Penal. Capacidade penal é o conjunto de condições necessárias para que alguém possa tornar-se titular de direitos ou obrigações no campo do Direito Penal. A capacidade penal se refere a momento anterior ao crime, enquanto a imputabilidade verifica-se no momento da prática do delito (tempo da ação). Incapacidade penal. Ocorre nos casos em que não há a qualidade de pessoa humana viva e quando a lei não se aplica a determinada classe de pessoas. Lembre-se sempre que os seres inanimados (uma cadeira, por exemplo) e os animais não possuem capacidade penal. Capacidade penal das pessoas jurídicas. E a pessoa jurídica? Tem capacidade penal? É capaz de cometer crimes? A questão era bastante discutida. Havia duas posições a respeito. Aqueles que acreditavam que a personalidade jurídica era uma ficção legal diziam que a pessoa jurídica não poderia cometer crimes, já que não possuía vontade própria. Sua vontade era, justamente, a de seus membros diretores e representantes. Assim, esses é que eram penalmente responsáveis pelos crimes cometidos em nome da pessoa jurídica. Por sua vez, a teoria da realidade enxergava a pessoa jurídica como um ser real, com vontade própria, acreditando que ela poderia, de fato delinqüir. Ainda, acreditava que a pessoa jurídica apresentava tendência criminológica especial, face aos poderosos meios e recursos que tinha em mãos. A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 173, parágrafo 5° , e 225, parágrafo 3° , determinou que a legislação infraconstitucional estabelecesse punições para as pessoas jurídicas, nos crimes cometidos contra economia popular, a ordem econômica e financeira e o meio ambiente. A Lei de Proteção Ambiental (lei n.9605, de 12-2-98) prevê essa responsabilidade, em seus artigos 3° e 21 a 24, devendo-se, hoje, reconhecer que, de fato, a lei brasileira admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Capacidade especial do sujeito ativo. Há crimes que podem ser praticados por qualquer pessoa imputável, como o homicídio, o furto, o estelionato, a lesão corporal. No entanto, existem outros que exigem determinada posição jurídica ou de fato do agente. É o caso, por exemplo, dos crimes praticados por funcionário público. Para sua configuração, exige-se que o delito seja praticado por um funcionário público (condição jurídica do sujeito ativo). Também, no auto-aborto, exige-se a qualidade de gestante (condição de fato). Nessas hipóteses, dizemos que o sujeito ativo deve possuir capacidade penal especial, recebendo os delitos a denominação de crimes próprios, diferindo, assim, dos crimes comuns, que podem ser cometidos por qualquer pessoa imputável, sem qualquer condição especial. Esses sujeitos ativos, dos quais se exige capacidade penal especial, são denominados pessoas qualificadas (intranei). Veremos, mais para frente, que o fenômeno da capacidade penal especial do sujeito ativo será bastante importante para solucionar os problemas de concurso de agentes, porque, embora os crimes de infanticídio e peculato sejam próprios, respondem por eles não só a mãe ou o funcionário público, mas também o estranho que dele participe. Existem, ainda, os chamados crimes de mão própria ou de atuação pessoal. São aqueles que somente podem ser praticados pelo autor em pessoa. No caso do crime de falso testemunho, por exemplo, ninguém poderá mandar outra pessoa praticar falso testemunho em seu lugar. Capacidade penal especial em face das normas permissivas. Para alguns casos de exclusão de crime ou penal, a lei pode exigir certas qualidades do agente. É o caso do aborto legal, previsto no artigo 128, que somente pode ser praticado por médico, e da difamação e injúria praticadas em juízo pela parte ou seu procurador (art.142, I). Também, a escusa absolutória (causa de exclusão de pena), prevista nos crime contra o patrimônio, somente ocorre quando o fato é praticado em prejuízo do cônjuge (na constância do casamento), de ascendente ou descendente. Assim, sempre que exigida uma condição própria do agente, essa deve estar presente.
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