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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS BIOQUÍMICA I Alunos: Beatriz Strelow, Isabela Marostica, Leonardo de Oliveira, Luciana Lima e Luisa Mendes. MICROBIOTA INTESTINAL E DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS 1. Microbiota Intestinal Primeiramente, vale ressaltar que a microbiota se encontra em comunicação com o sistema nervoso central pelo eixo intestino- cérebro(bidirecional), influenciando o funcionamento adequado do cérebro pela via neural, endócrina ou imunitária. Também é importante deixar claro a diferença entre microbioma e microbiota. Microbiota é o conjunto de microorganismos que habitam o intestino humano, enquanto o microbioma é o conjunto de genes e genomas presentes na microbiota. A microbiota intestinal humana, por exemplo, é lar de mais de 1.000 espécies distintas de microorganismos, sendo as bactérias as mais numerosas, sobretudo as anaeróbicas. Existem basicamente três formas de interação entre a microbiota e o sistema nervoso. A primeira consiste em que uma barreira intestinal debilitada leva a um aumento da permeabilidade da mesma, permitindo a passagem de microorganismos intestinais para o tecido linfoide. Essa passagem de microorganismos desencadeia uma resposta imunitária, havendo libertação de citoquinas inflamatórias, ativação do nervo vago e dos neurônios aferentes da medula espinal que irão modular a atividade do sistema nervoso central (SNC) e entérico. A segunda, mostra que esse mesmo aumento da permeabilidade intestinal também permite a passagem de lipopolissacarídeos e peptídeos neuroativos que vão afetar o funcionamento do SNC. A terceira forma de interação consiste na influência dos metabólitos bacterianos que podem ser absorvidos pela corrente sanguínea tendo efeito no cérebro. Em outra perspectiva, as bactérias intestinais ainda são capazes de produzir diversos neurotransmissores e neuromoduladores como produtos secundários. Por exemplo, Lactobacillus spp. e Bifidobacterium spp. produzem ácido gama-aminobutírico (GABA), enquanto Candida spp., Streptococcus spp., Escherichia spp. e Enterococcus spp. Produzem serotonina, Bacillus spp. produz dopamina, Escherichia spp., Bacillus spp. e Saccharomyces spp. produzem noradrenalina e Lactobacillus spp. Produz acetilcolina. Nesse sentido, as ações desses neurotransmissores e neuromoduladores podem ser ampliadas ou diminuídas devido a quantidade de bactérias de uma espécie específica presente na microbiota. Por exemplo, o GABA, por ser o principal neurotransmissor inibitório do cérebro, tem sua desregulação intimamente associada a depressão e a ansiedade. 2. Influência da Microbiota em Doenças Mentais Em relação ao estresse e a ansiedade, vários estudos sugerem que a adolescência e o início da idade adulta representam períodos críticos, nos quais perturbações a nível da microbiota intestinal e desregulação na comunicação do eixo microbiota-intestino-cérebro, podem ter um impacto significativo no desenvolvimento cerebral, levando ao aparecimento de comportamento ansioso na idade adulta. Estudos apontam também a influência de determinadas espécies de bactérias no aumento do stress e da ansiedade como é o caso da Campylobacter jejuni e a Citrobacter rodentium que aumentaram o efeito ansiogênico nos ratos infetados do estudo. Na questão da depressão, essa doença está associada a um aumento das citoquinas pró-inflamatórias, como a interleucina-1 (IL- 1), a interleucina-6 (IL-6) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). Uma vez que os microrganismos intestinais influenciam o sistema imunitário, como citado anteriormente, eles encontram-se intimamente ligados à depressão. Diversos estudos também comprovaram a influência de determinadas espécies bacterianas com comportamentos depressivos, em um deles, por exemplo, concluiu-se que os pacientes com depressão apresentaram um aumento na população de Bacteroidetes e Proteobacteria e uma diminuição da população de Firmicutes. Outro estudo contou com a a utilização de minociclina (antibiótico que reduziu a diversidade microbiótica) e teve como resultado a melhora significante da depressão quando ess e antibiótico foi administrado juntamente com antidepressivos em pacientes com quadros de depressão Assim, é importante destacar que os microorganismos do trato gastrointestinal são uma comunidade dinâmica que se alteram ao longo da vida do indivíduo, dependendo do estilo de vida e, principalmente, da alimentação. Dessa forma, fica claro que a alteração da microbiota intestinal, com aumento ou diminuição das diversas espécies de microorganismos nela presentes, está atrelada ao desenvolvimento de diversas doenças mentais como a ansiedade e a depressão, considerada pela Organização Mundial da Saúde como o “mal do século XXI”. Nesse sentido, é vital que novos estudos envolvendo essas áreas sejam patrocinados e encorajados para que possamos, cada vez mais, entender essas enfermidades e atenua- las. 3. Microbiota e Doença De Alzheimer Em primeira análise, é importante destacar que o número de pessoas que sofrem de alguma demência é de mais de 50 milhões de pessoas, sendo o Alzheimer responsável por cerca de 80% desses casos. Essa doença, bastante comum em idosos, resulta na perda de funções cognitivas como memória, pensamento, linguagem e comportamento. A Doença de Alzheimer tem sintomas de deficiência cognitiva causados, principalmente, pelo acúmulo de proteína beta-amilóide e proteína Tau hiperfosforilada, além da influência dos microorganismos existentes no intestino. Nesse contexto, a disbiose (alteração da microbiota intestinal) pode estar associada ao Alzheimer. Estudos recentes revelaram que indivíduos com essa doença possuem composição microbiótica distinta e menos diversificada em relação a indivíduos normais. Os lipopolissacarídeos e endotoxinas provenientes das bactérias, promovem uma intensa resposta inflamatória e, de acordo com um estudo realizado por Zhang et al. (2009), os pacientes com Alzheimer possuíam níveis mais elevados de lipopolissacarideos do que indivíduos saudáveis. Também foi observado um aumento da calprotectina fecal, proteína que é um marcador de inflamação intestinal, em pacientes com esse tipo de demência, relacionando a microbiota com essa enfermidade. Além disso, outra evidencia direta da relação da microbiota com essa doença foi observada em estudos em que os doentes com Alzheimer possuíam níveis inferiores de GABA no córtex frontal, temporal e parietal. O GABA é produzido no intestino por bactérias do gênero Lactobacillus e Bifidobacterium, ou seja, como o GABA esta diminuído no SNC de pessoas com essa demência, foi constatado uma diminuição dessas espécies de bactérias na flora intestinal de pessoas acometidas com Alzheimer. Outrossim, pessoas com esta doença têm níveis mais altos de bactérias pró-inflamatórias em seus intestinos, o pode estar relacionado ao agravamento da função mental devido ao aumento da passagem de metabólitos produzidos pelo sistema digestivo. Dessa forma, a nutrição desempenha um papel vital no controle da inflamação, regulando a produção e o acúmulo de proteínas amilóides. Alguns estudos veem demonstrando que hábitos alimentares saudáveis reduzem os riscos do desenvolvimento de Alzheimer. Também existem evidências que mostram que os prebióticos, compostos fermentados por microrganismos, e os probióticos, microrganismos vivos ingeríveis, desempenham papéis benéficos para a cognição de indivíduos com essa doença. Portanto, é evidente o avanço dos estudos que conectam a disbiose com o Alzheimer e é de suma importância que essas pesquisas continuem sendo incentivadas para que possamos entender cada vez mais essa doença responsável por quase 1,2 milhões de casos somente no Brasil. 4. Microbiota e Parkinson A doença de Parkinson é a segunda doença degenerativa mais comum do mundo, atingindo maisde 400 milhões de pessoas. O Parkinson afeta os neurônios dopaminérgicos do cérebro, levando à diminuição dos níveis de dopamina do organismo e acarretando sintomas como tremores, bradicinesia e mudanças comportamentais. A principal causa dessa doença é o acúmulo da proteína α-sinucleína em sua forma tóxica e insolúvel, formando depósitos proteicos chamados corpos de Lewy. A doença de Parkinson é considerada multi sistêmica, afetando não só o sistema nervoso central, mas também o sistema nervoso periférico, dando origem a alterações intestinais, como, por exemplo, gastroparesia e constipação. Devido ao surgimento precoce de sintomas relacionados ao sistema gastrointestinal, precedendo os sintomas motores, a microbiota é considerada uma peça chave no desenvolvimento do Parkinson, podendo afetar as α- sinucleínapatias, assim como influenciar a neuroinflamação. Estudos recentes mostram que uma célula do sistema nervoso entérico, chamada célula enteroendócrina, possui muitas propriedades similares às dos neurônios, incluindo a expressão da proteína α-sinucleína, sendo diretamente influenciada pela microbiota intestinal (MI). Dessa forma, acredita-se que o processo de alteração dessa proteína inicie como resposta inflamatória por fatores externos que alteram a MI. Além disso, pacientes com Parkinson apresentaram permeabilidade e inflamação intestinais aumentadas, o que está diretamente relacionado a baixos níveis de ácidos graxos de cadeira curta no organismo. Essas substâncias são essenciais na manutenção da microbiota, sendo produzidas na fermentação das fibras ingeridas. Esse quadro inflamatório, somado à alta permeabilidade do sistema gastrointestinal, possibilita a entrada de patógenos na corrente sanguínea, estimulando a produção de α- sinucleína alterada devido ao processo inflamatório. Biópsias intestinais realizadas em pacientes com a doença de Parkinson evidenciaram o acúmulo de α-sinucleína alterada nas células do sistema nervoso entérico. Assim, essa proteína alterada se propaga até tronco encefálico por meio de nervo vago, que inerva o estômago, promovendo neuroinflamação e acúmulo de proteína na substância negra do mesencéfalo. Portanto, fica claro que a disbiose, desequilíbrio bacteriano da microbiota, está diretamente relacionada ao desenvolvimento da doença de Parkinson, uma vez que a resposta inflamatória originada pela disbiose provoca a formação de α-sinucleína tóxica e insolúvel, que se propaga até o SNC por meio do nervo vago, promovendo a neuroinflamação e morte dos neurônios dopaminérgicos. 5. Referências Bibliográficas FERREIRA, Regina Manuela. Microbiota Intestinal e Doença de Alzheimer: O Impacto da Nutrição. Porto, Portugal: Julho 2022. Disponível em: https://repositorio- aberto.up.pt/bitstream/10216/142331/2/570083.pdf. Acesso em 16 out. 2022. LANDEIRO, Joana Almeida. Impacto da Microbiota Intestinal na Saúde Mental. Almada, Portugal: Novembro 2016. Disponível em: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/17565/1/Landeiro_Joan a_Almeida_Vilão_Raposo.pdf. Acesso em 16 out. de 2022. RODRIGUES, P.V., DE GODOY, J.V.P., BOSQUE, B.P. et al. Transcellular propagation of fibrillar α-synuclein from enteroendocrine to neuronal cells requires cell-to-cell contact and is Rab35-dependent. Sci Rep 12, 4168 (2022). Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41598-022-08076-5. Acesso em 16 out. 2022. https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/142331/2/570083.pdf https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/142331/2/570083.pdf https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/17565/1/Landeiro_Joana_Almeida_Vilão_Raposo.pdf https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/17565/1/Landeiro_Joana_Almeida_Vilão_Raposo.pdf https://doi.org/10.1038/s41598-022-08076-5
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