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76 Unidade II Unidade II 5 CONTABILIDADE AMBIENTAL E BALANÇO SOCIAL A ideia de contabilidade social e ambiental assumiu várias formas na segunda metade do século XX. Essa tendência desenvolveu‑se notavelmente na França com o Bilan Sociétal e no Reino Unido com a contabilidade social e a auditoria (Freitas, 2018). A contabilidade ambiental, também chamada de contabilidade verde, refere‑se à modificação do Sistema de Contas Nacionais (SCN) para incorporar o uso ou esgotamento dos recursos naturais. Trata‑se de uma ferramenta vital para auxiliar na gestão dos custos ambientais e operacionais dos recursos naturais (Tinoco; Kraemer, 2004). Ao longo do tempo e das culturas, a ideia de contabilidade social assumiu muitas formas. Deve, portanto, ser entendida como uma corrente de pensamento alinhada com a noção de mensuração do impacto social e não como um método preciso. Por exemplo, alguns autores referem‑se não apenas à contabilidade, mas à auditoria e aos relatórios (Freitas, 2018). Um desses relatórios, e talvez o mais importante, é o balanço social. Ele contém as seguintes informações: extrato das pessoas ocupadas; tabela dos movimentos de pessoal durante o exercício; declaração contendo dados sobre as atividades de formação frequentadas pelos trabalhadores, cujo custo é suportado pelo empregador. 5.1 Contabilidade ambiental Freitas (2018) define contabilidade ambiental como: ramo da contabilidade em que são registrados e controlados dados correspondentes a ações da empresa que afetam o meio ambiente. Esse relatório funciona como um registro do patrimônio ambiental, apontando monetariamente os benefícios, prejuízos e resultados da exploração do meio ambiente. A contabilidade ambiental é composta de três facetas principais: custo de conservação ambiental (valor monetário), benefícios de conservação ambiental (unidades físicas) e benefício econômico associado às atividades de conservação ambiental (valor monetário) (Breda, 2020). Ela visa alcançar o desenvolvimento sustentável, manter um relacionamento favorável com a comunidade e buscar ações de conservação ambiental eficazes e eficientes (Tinoco; Kraemer, 2004). 77 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES Freitas (2018) aponta que os componentes da contabilidade ambiental são: • Despesas ambientais: aquelas utilizadas para o gerenciamento ambiental e que forem consumidas pela área administrativa da empresa. • Custos ambientais: aqueles relacionados direta ou indiretamente com a proteção ao meio ambiente, como tratamento de poluentes e resíduos, recuperação de áreas contaminadas, entre outros. • Perdas ambientais: aquelas que não proporcionarão benefício para a empresa, ou seja, serão gastos utilizados para cobrir acidentes ou questões imprevistas relacionadas ao meio ambiente. • Receitas ambientais: aquelas ligadas à prestação de serviços envolvidos com a área de gestão ambiental, bem como venda de produtos reciclados ou ainda redução de consumo de água ou energia. • Ativos ambientais: aqueles representados por bens e direitos que possuam capacidade de geração de benefício futuro e estejam ligados à preservação ambiental. • Passivos ambientais: aqueles valores que serão sacrificados pela empresa para preservar ou proteger o meio ambiente, decorrentes de ações planejadas ou ainda de condutas inadequadas da empresa. O autor (2018) afirma ainda, que: O foco da contabilidade ambiental está na sustentabilidade, na responsabilidade social e no relacionamento com a comunidade. Atualmente, já não podem prevalecer apenas os interesses financeiros da organização, pois a manutenção de uma empresa no mercado depende também do equilíbrio que ela conseguir estabelecer entre as próprias motivações econômicas, os interesses da administração pública e o entorno comunitário. Dessa forma, a contabilidade ambiental é muitas vezes defendida como componente da responsabilidade social empresarial (ou RSE). Como cada vez mais existe uma preocupação geral com o meio ambiente e a responsabilidade social, surgiram demonstrativos contábeis que permitiram a apresentação de dados contábeis ligados ao tema, como, por exemplo, o balanço social e o relatório de sustentabilidade. 5.2 Balanço social e relatório de sustentabilidade O balanço social pode ser definido como o instrumento no qual são detalhados os custos e benefícios do impacto das ações ou atividades que uma empresa realiza na sociedade. Trata‑se de um instrumento através do qual as instituições têm de comunicar a sua situação laboral e as práticas de formação em que os trabalhadores participaram. O balanço social contém informações específicas sobre a força de trabalho: número de pessoas empregadas, movimentação de pessoal, formação. Ele deve incluir os aspectos positivos e negativos que foram realizados (Tinoco; Kraemer, 2004). 78 Unidade II Entre os itens positivos pode haver criação de empregos, treinamento de pessoal, geração de riqueza e doações. Devem também ser incluídas as medidas tomadas para reduzir os custos sociais (negativos) e os atos que proporcionem um valor acrescentado positivo à sociedade. Quanto aos custos sociais (ou aspectos negativos), existem aqueles que têm a ver com a poluição ambiental, acústica e visual. Também estão incluídas as atividades que geram conflitos sociais, acidentes de trabalho, exploração excessiva dos recursos naturais, doenças e desemprego (Tinoco; Kraemer, 2004). Observação Ao contrário do balanço patrimonial, não existe obrigatoriedade de divulgação do balanço social. A principal finalidade do balanço social é construir práticas de responsabilidade social com maior transparência e visibilidade às informações que interessam a todos os stakeholders da organização, como acionistas, empregados, investidores, consumidores e comunidade. Já o relatório de sustentabilidade é a divulgação e comunicação das metas ambientais, sociais e de governança – bem como o progresso de uma empresa em relação a elas. Os benefícios desses relatórios incluem a melhoria da reputação corporativa, a construção da confiança do consumidor, o aumento da inovação e até a melhoria da gestão de riscos (Oliveira; Silva; Moreira, 2019). Por meio do relatório de sustentabilidade, as empresas comunicam seu desempenho e impactos em uma ampla gama de temas de sustentabilidade, abrangendo parâmetros ambientais, sociais e de governança. Ele permite que as corporações sejam mais transparentes sobre os riscos e oportunidades que enfrentam, dando aos stakeholders uma visão maior do desempenho além do resultado final. Construir e manter a confiança em empresas e governos é fundamental para criar uma economia global sustentável e um mundo próspero. Todos os dias são tomadas decisões que têm impactos diretos em seus stakeholders, relacionadas a instituições financeiras, organizações trabalhistas, sociedade civil, cidadãos e o nível de confiança que eles têm. Essas deliberações raramente são baseadas apenas em informações financeiras e em geral consideram riscos e oportunidades relacionados a uma variedade de fatores de curto e longo prazo. Os temas de sustentabilidade estão cada vez mais integrados a esses processos decisórios (Oliveira; Silva; Moreira, 2019). Consequentemente, o relatório de sustentabilidade corporativa (RSC) representa um mecanismo potencial para gerar dados e medir o progresso e a contribuição das empresas para os objetivos globais de desenvolvimento sustentável, pois pode ajudar as empresas e organizações a medir seu desempenho em todas as dimensões do desenvolvimento sustentável. De acordo com Souza, De Benedicto e Silva (2021), são benefícios do relatório de sustentabilidade: • aumentar a compreensão dos riscos e oportunidades; 79 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES • realçar a ligação entre o desempenho financeiro e não financeiro; • influenciar a estratégia de gestão de longo prazo, políticas e planos de negócios; • agilizar processos, reduzindo custos e melhorando a eficiência;• comparar e avaliar o desempenho de sustentabilidade em relação a leis, normas, códigos, padrões de desempenho e iniciativas voluntárias; • ajudar as empresas a evitar falhas ambientais, sociais e de governança divulgadas; • possibilitar a comparação de desempenho internamente e entre organizações e setores; • mitigar impactos ambientais, sociais e de governança negativos, melhorando a reputação e a fidelidade à marca; • permitir que as partes interessadas externas entendam o verdadeiro valor da organização, com os ativos tangíveis e intangíveis; • demonstrar como a organização influencia e é influenciada pelas expectativas sobre o desenvolvimento sustentável. Os benefícios dos relatórios de sustentabilidade incluem melhor gerenciamento de risco, otimização de custos e economia, facilitação da tomada de decisões e maior confiança e reputação corporativa – em relação aos clientes como investidores (Souza; De Benedicto; Silva, 2021). De qualquer forma, isso parece lógico: como as preocupações sociais e ambientais implicam em ameaças futuras aos negócios, investir tempo e recursos em soluções de sustentabilidade pode permitir que qualquer empresa enfrente desafios. Em outras palavras, o relato de sustentabilidade é uma forma de fortalecer sua estratégia de longo prazo. Saiba mais Quer saber como um relatório de sustentabilidade é apresentado? Acesse os sites a seguir e veja os relatórios de sustentabilidade da Enel e Natura. ENEL. Relatório anual de sustentabilidade: Enel Brasil 2021. São Paulo: Enel Brasil, 2022. Disponível em: https://cutt.ly/UMAuav2. Acesso em: 3 out. 2022. NATURA. Relatório anual Natura 2020. Cajamar: Natura, 2021. Disponível em: https://cutt.ly/5MAytdO. Acesso em: 3 out. 2022. 80 Unidade II 5.3 Incentivos fiscais para prática de responsabilidade social As práticas de responsabilidade social ganharam um forte aliado no início dos anos 1990 no Brasil: os incentivos fiscais para motivar empresas a investirem em responsabilidade social. A primeira lei de incentivo brasileira, o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), data de 1991 e marca uma nova era para a responsabilidade social nas organizações (Nelson, 2018). Os incentivos fiscais consistem no abatimento do valor de impostos devidos que serão destinados a algum programa ambiental, social, saúde e esporte. Para o autor (2018), eles significam que as organizações privadas – e também pessoas físicas – podem direcionar parte dos seus impostos para iniciativas que promovam o desenvolvimento e bem‑estar social. Observação Pessoas físicas, também, podem destinar parte do seu imposto de renda devido para práticas que promovam o desenvolvimento e bem‑estar social. Os incentivos fiscais promovidos pelos governos municipais, estaduais e federal contribuem para que as empresas estejam mais empenhadas em se engajarem em ações de responsabilidade social, mas devemos deixar claro que a sua utilização é opcional e nenhuma companhia é obrigada a utilizar‑se deles (Nelson, 2018). Porém, algumas regras são obrigatórias para o uso dos incentivos, e a principal delas é: a empresa para fazer o abatimento do imposto devido, deve, obrigatoriamente, ter optado pelo lucro real. As organizações dispõem de três maneiras de aferirem seus lucros: real, presumido e arbitrado. O artigo 10 da Lei n. 9.532 veda a dedução tributária no que diz respeito aos incentivos fiscais, para corporações que tenham optado pelos lucros presumido e arbitrado. Conforme o Portal Tributário (s.d.), “o lucro real, de acordo com o regulamento de imposto de renda é formado pelo lucro líquido da empresa, ajustado pelas adições exigidas e pelas exclusões ou compensações permitidas pela lei”. Algumas empresas, como as listadas a seguir, são obrigadas, por lei, a optarem pelo lucro real (CRCRS, 2016): • Bancos comerciais, bancos de investimentos ou de desenvolvimento. • Sociedades de crédito, financiamento e investimento. • Crédito imobiliário. • Corretoras de títulos, valores mobiliários e câmbio. • Distribuidora de títulos e valores mobiliários. 81 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES • Cooperativas de crédito. • Empresas de seguro privado e capitalização. • Entidades de previdência privada aberta. Para facilitar o entendimento, podemos definir que os incentivos fiscais voltados à prática de responsabilidade social pelas organizações não consistem em menos pagamento de impostos. O poder público faz uma renúncia fiscal e o imposto devido é direcionado para áreas consideradas carentes de investimento pela gestão pública. Conforme Pamplona (2018), seis em cada dez organizações lançam mão dos incentivos fiscais ao realizarem seus ajustes tributários. De acordo com a reportagem, foram quase 3 bilhões de reais destinados a ações de responsabilidade social nos últimos anos através dos incentivos. Lembrete Os incentivos fiscais não significam que as empresas pagam menos impostos. Não há desconto no valor total a ser pago. Trata‑se de uma forma de direcionar até, no máximo, 9% do imposto devido para algum programa de responsabilidade social. A fim de melhor aproveitar esta oportunidade, é necessário que a empresa identifique qual é o imposto que mais impacta em suas finanças, isso porque o direcionamento dos valores pode ocorrer em três esferas: municipais, estaduais e federal (CRCRS, 2016): • Municipais: incentivos são utilizados no imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS), imposto sobre propriedade predial urbano (IPTU) e imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI). • Estaduais: incentivos são utilizados no imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte (ICMS). • Federal: incentivos são utilizados no imposto de renda de pessoa física (IRPF) e no imposto de renda de pessoa jurídica (IRPJ). Observação Existe um valor máximo do imposto de renda devido, seja ele por pessoa física ou jurídica, que pode ser direcionado aos incentivos fiscais: 6% para pessoas físicas e 9% para pessoas jurídicas. 82 Unidade II O imposto de renda pessoa jurídica (IRPJ) tem alíquota base de 15% e sobre a base de cálculo que ultrapasse R$ 240.000 anuais ou proporcional mensal, e ainda incide o adicional de 10%. Os benefícios concedidos a título de incentivo fiscal e que são passíveis de redução do imposto a ser pago são calculados apenas sobre a alíquota base. Após calcular normalmente o imposto, o contribuinte poderá descontar do valor devido as contribuições efetuadas a determinados órgãos, fundos ou projetos de interesse do governo (Brasil, 1996). Para direcionamento do imposto devido, é necessário que o programa a qual se destina a verba esteja cadastrado em alguma das categorias a seguir: a) Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente (Funcriança) e Fundos dos Direitos da Pessoa Idosa; b) Operações de caráter cultural; c) Projetos audiovisuais; e d) Atividades desportivas. Segundo a Receita Federal do Brasil (s.d.), as regras para destinação das verbas para os campos a seguir são: • Fundo dos direitos da criança e do adolescente: conforme o art. 88 da Lei n. 8.069 (Brasil, 1990), do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) prevê a criação de fundos vinculados aos conselhos dos direitos da criança e do adolescente com o intuito de buscar recursos destinados a assegurar a esses grupos o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá‑los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. A legislação permite destinar 1% do imposto de renda devido para tais fundos, ou seja, em vez de recolher diretamente aos cofres públicos, a empresa optante pelo lucro real destina diretamente para a instituição ou projeto a ser beneficiado. • Fundos dos direitos da pessoa idosa: com o mesmo intuito e funcionamento similar, apenas com público‑alvo diferente,foi instituído o Fundo dos Direitos da Pessoa Idosa, por meio da Lei n. 12.213/2010, no qual a pessoa jurídica poderá deduzir do imposto de renda devido, em cada período de apuração, o total das doações feitas aos fundos nacional, estaduais ou municipais da pessoa idosa, devidamente comprovadas, vedada a dedução como despesa operacional. Entretanto, o limite de 1% é cumulativo com as doações efetuadas aos fundos dos direitos da criança e do adolescente, portanto concorrem entre si. • Atividades desportivas: os projetos esportivos deverão ser aprovados pelo Ministério da Cidadania, com proponentes que não tenham fins lucrativos, e devem estar ligados ao desporto educacional, de participação ou de rendimento. Os valores das doações ou patrocínios em dinheiro captados são depositados em uma conta aberta em nome do proponente e por projeto. Da mesma forma que as doações efetuadas ao fundo da criança e do adolescente, o limite aqui da dedução dos valores doados ou de patrocínio é de 1% do imposto de renda devido, sempre lembrando que o percentual é calculado sobre a alíquota base de 15%. Também não é permitida a dedução da doação da base de cálculo do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (Ministério da Cidadania, 2020). • Lei de incentivo à cultura: os investimentos em projetos culturais podem ser efetuados utilizando‑se até 4% do imposto de renda anual total (Ministério da Cidadania, 2021). 83 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES • Lei do audiovisual: a empresa que aplicar em obras audiovisuais, registradas na Agência Nacional do Cinema (Ancine) criada pela Medida Provisória 2.228‑1, de 6 de setembro de 2001, que é o órgão responsável pelo controle da política audiovisual nacional, poderá deduzir todo o valor aplicado, limitado a 4% do imposto devido pelas pessoas jurídicas e a 6% do imposto devido pelas pessoas físicas, conforme prevê o art. 1º‑A da Lei n. 8.685 (Brasil, 2001). Saiba mais O estado de São Paulo dispõe de um programa de incentivo estadual chamado ProAC. A empresa que patrocina um projeto aprovado pelo ProAC recebe de volta 100% do valor repassado na forma de desconto no ICMS devido. Conheça mais sobre este programa no site a seguir: PROAC. [Homepage]. ProAC, São Paulo, c2022. Disponível em: https://cutt.ly/U0Wyub8. Acesso em: 3 out. 2022. O VRProjetos (2020) apresenta alguns projetos que podem ser patrocinados pelas pessoas jurídicas e físicas e utilizados como benefícios fiscais: O primeiro é o Estante de Histórias, que pode ser realizado em qualquer região do país e está em sua 5ª edição. Ele consiste na doação de uma estante lúdica com 100 livros infantis, recursos lúdicos para contação de histórias, além de eventos de promoção e incentivo à leitura que são realizados por experts no tema. Outro projeto que pode ser enviado para qualquer parte do Brasil é o Sacola Literária, que doa um acervo de 200 livros para diferentes públicos (crianças, jovens e adultos), incluindo obras nacionais e internacionais. Por fim, o projeto Book Truck, que transforma um veículo (furgão) em uma biblioteca itinerante, que apresenta de forma lúdica a experiência da leitura para mais de 40.000 pessoas por onde ele passar. Dessa forma, as empresas podem manter o cuidado com a comunidade e ajudar o governo a cumprir sua meta de universalização das bibliotecas escolares até 2024, o que traria muitos benefícios para a educação do povo brasileiro. 5.4 Greenwashing A forma como consideramos nossos hábitos de consumo está mudando completamente devido ao mundo enfrentar uma indiscutível crise climática, social e ambiental. Quase todos os produtos que compramos e serviços que utilizamos afetam o meio ambiente, por isso faz sentido que agir a tendência da nova geração (Mangini et al., 2020). Para os autores (2020), com isso em mente, muitas corporações, empresas e marcas começaram a anunciar produtos e serviços ecologicamente corretos em um esforço para promover a conscientização sobre o papel de seu setor nas mudanças climáticas. Sapatos e sofás estão sendo feitos de couro sintético, carros rotulados como “ecologicamente corretos” e cada vez mais embalagens de alimentos se tornam recicláveis. 84 Unidade II Embora seja um grande passo adiante, nem tudo são boas notícias. Marcar algo como ecologicamente correto, sustentável, vegano ou verde não significa que sempre seja sustentável. A este fenômeno dá‑se o nome de greenwashing; várias corporações têm participado dele, consciente ou inconscientemente. Em tradução literal, seu nome significa lavagem verde. E o que seria isso? Trata‑se da prática de rotular algo como bom para o meio ambiente sem realmente ser bom para o meio ambiente (Braga Junior et al., 2019). O termo foi originalmente cunhado pelo ativista ambiental Jay Westerveld em meados de 1980. Ao se hospedar em um hotel, ele viu uma placa que pedia aos hóspedes que reutilizassem toalhas para ajudar a salvar o meio ambiente. Westerveld notou a ironia de a placa demonstrar que o hotel não havia tentado “salvar o meio ambiente” em nenhuma outra operação. Isso o levou a acreditar que o hotel pretendia economizar dinheiro não lavando toalhas, e fez isso escondendo‑se atrás do rótulo ecológico (Braga Junior et al., 2019). A frase greenwashing chegou às manchetes quando a ativista ambiental Greta Thunberg chamou a atenção da indústria da moda por participar do fenômeno. Em um post de mídia social que acompanhou seu anúncio de capa, ela disse que muitos estão fazendo parecer que a indústria da moda está começando a assumir a responsabilidade, gastando quantias exorbitantes em campanhas nas quais se retrata como sustentável, ética, verde, neutra ao clima e justa (Jong; Huluba; Beldad, 2020). Greenwashing também pode se referir ao momento no qual as empresas desviam a atenção dos danos ambientais que causam ou quando se colocam como aliadas na luta pela justiça climática quando, na realidade, não o são. Uma análise recente da publicidade relacionada à cúpula climática COP26 encontrou uma lavagem verde desenfreada por empresas em plataformas de mídia social. Trata‑se da atuação de sustentabilidade sem nenhuma ação de sustentabilidade. Na sua forma mais simples, o greenwashing pode ser um truque sutil de embalagem. Pense na embalagem de ovos criados em que aparecem fotos de colinas, galinhas soltas nos campos e áreas verdes na caixa. Não há qualquer afirmação direta de sustentabilidade e criação orgânica dos animais, mas há uma tentativa de nos guiar para longe da realidade de como esses ovos foram gerados, com animais criados a base de rações, presos em gaiolas apertadas. Lembrete Greenwashing refere‑se à quando empresas e organizações enganam seus consumidores fazendo‑os acreditar que um produto, serviço que fornecem ou a própria organização é ambientalmente amigável ou sustentável, quando não o é. 85 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES Observação Três coisas que você precisa saber sobre greenwashing: • É uma estratégia de marketing que induz o consumidor a acreditar que uma empresa se preocupa com o meio ambiente apesar de suas ações. • A indústria da moda é uma de suas maiores perpetradoras, com marcas como Asos, H&M e Zara sendo criticadas nos últimos anos. • Não é um fenômeno novo, tem sido um problema desde a década de 1980. A indústria alimentícia também tem sido uma grande culpada quando se trata de greenwashing, com empresas como Nestlé e Lay’s chips sendo acusadas de contribuírem fortemente para o problema global do lixo plástico ou serem insustentáveis em seu processo de produção. Outras indústrias que foram acusadas são a automotiva, com a BMW, que anuncia um carro elétrico de carbono zero que provou ter a opção de incluir um motor à gasolina; a indústria de hospitalidade, em que hotéis anunciam prêmios de sustentabilidade que não condizem com a realidade; e a indústria da beleza, em marcas como Tarte Cosmetics e The Body Shop (Jong; Huluba; Beldad, 2020). Oproblema é se tratar de uma ferramenta de marketing usada para gerar lucro, em vez de assumir responsabilidade ambiental. Com a crise climática tão terrível, os consumidores, especialmente aqueles da geração Z, estão mais cautelosos ao comprar produtos ou serviços que não levam em consideração os interesses ambientais. Eles também são mais propensos a gastar a quantia extra de dinheiro necessária para garantir que adquiram itens ecologicamente corretos – o que significa que, se uma empresa aumentar o preço de um produto e rotulá‑lo como sustentável, poderá ganhar muito mais dinheiro do que se não o tivesse comercializado dessa forma (Jong; Huluba; Beldad, 2020). Trata‑se essencialmente de exploração, pois as empresas priorizam as oportunidades financeiras ao parecerem ambientalmente responsáveis, sem fazer ativamente as mudanças necessárias para realmente o serem. Elas não reconhecem o impacto relacionado ao clima que suas escolhas de marketing podem causar. Este é um grande problema, pois essa forma de fazer negócios pode não diminuir a poluição e a degradação ambiental. Na prática, as corporações estão preocupadas em “regar as plantas” visando apenas o retorno financeiro. 86 Unidade II Figura 15 – Regar plantas Disponível em: https://bit.ly/3T7KRvw. Acesso em: 3 out. 2022. Como identificar o greenwashing (Braga Junior et al., 2019)? Ninguém gosta de ser enganado, especialmente quando se trata de prejudicar o planeta. Identificar e chamar a atenção para o greenwashing é importante para ajudar a acabar com o fenômeno. Aqui estão algumas coisas que podem ser feitas: • Desconfie de chavões verdes: empresas e produtos afirmam ser ambientalmente responsáveis usando palavras como “ecologicamente correto”, “reciclado”, “sustentável”, “vegano”, “consciente”. Eles usarão esses termos sem explicar como conseguiram atingir esse status. Quando você os vir, faça sua pesquisa para observar se deram mais informações; se não forneceram, provavelmente é greenwashing. • Pesquise a empresa: embora alguns produtos e serviços sejam anunciados como, ou realmente sejam ambientalmente conscientes, sua empresa anfitriã pode não o ser. Pense em comprar um cinto de couro vegano de um fabricante de jeans que polui ativamente os rios ou chocolate com embalagem reciclável de uma companhia que também vende garrafas plásticas de água de uso único. • Procure verificação: se uma empresa está realmente fazendo o que afirma, na maioria das vezes ela será verificada por terceiros. Isso significa que a instituição deveria ter recebido a aprovação de uma organização de auditoria ambiental. A lavagem verde não é ilegal em todos os lugares, a fraude ambiental direta é ilegal nos Estados Unidos e atualmente há ações sendo tomadas para implementar uma lei contra ela na Europa. Com 87 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES isso em mente, vale a pena pesquisar se o greenwashing é ilegal no país onde um produto ou serviço é produzido e acompanhar um processo de denúncia oficial para ajudar a garantir que a empresa seja punida (Braga Junior et al., 2019). Mangini et al. (2020, p. 3) rotularam o greenwashing como “desinformação corporativa”. Já Braga Junior et al. (2019, p. 6) definiram o termo como “o ato de enganar consumidores em relação às práticas ambientais das organizações ou os benefícios ambientais de um produto ou serviço”. Eles caracterizaram a lavagem verde em termos de organizações combinando desempenho ambiental ruim com alegações sobre seu desempenho ambiental. Alguns exemplos ocorridos no Brasil podem ser objetos de nossa discussão. Em 2017, a montadora de automóveis Fiat trouxe para as mídias uma campanha que levantou questionamento das entidades ambientais do país. Ela fez a divulgação de um pneu verde, em que destacava como benefícios do tal produto o baixo consumo de combustível e a durabilidade. Após atuação das entidades ambientais e do consumidor, foi inferido que não havia como um pneu ser verde, principalmente devido ao seu modelo de produção e descarte. O resultado foi uma advertência do Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar) pela prática de greenwashing. Outra prática que podemos trazer para nossa reflexão aconteceu em 2008, quando a Nestlé lançou uma marca de água mineral cujo slogan era: água engarrafada é o produto mais ambientalmente responsável do mundo. As entidades protetoras do meio ambiente mais uma vez agiram, questionando não a água em si, mas a embalagem em que ela era disponibilizada, gerando lixo, que levava anos para se decompor. O greenwashing pode ser apresentado como ambíguo, superficial, vago ou com falta de informação, utilizando ainda imagens, símbolos, slogans que visam mostrar propriedades ecológicas que não existem (Braga Junior et al., 2019). Além disso, ele destaca fatos irrelevantes para disfarçar o fraco desempenho ambiental que reflete no comportamento do consumidor. Saiba mais Um bom exemplo da prática de greenwashing está no documentário Seaspiracy. Ele discute o impacto da pesca comercial e atraiu o apoio de celebridades e aplausos dos fãs com sua imagem condenatória dos danos que a indústria causa à vida oceânica. SEASPIRACY. Direção: Ali Tabrizi. Santa Rosa: AUM Films Disrupt Studios, 2021. 89 min. 88 Unidade II 6 NORMAS E CERTIFICAÇÕES EM RESPONSABILIDADE SOCIAL A responsabilidade social nas organizações não deve ser uma prática que vise apenas certificações, construção de imagem positiva ou valorização das ações nas bolsas de valores. Ela precisa ser algo institucional, enraizada, visando a recuperação e a construção de uma sociedade melhor para todos. Mas não se pode negar que a prática de responsabilidade social favorece, e muito, aos ativos intangíveis da organização, como reputação, marca e imagem que o público venha a ter da empresa. Assim, há algumas certificações que podem ser concedidas às instituições que estabelecem determinadas práticas. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, s.d.) define certificação como “[...] um processo no qual uma entidade independente (3ª parte) avalia se determinado produto atende às normas técnicas. Esta avaliação se baseia em auditorias no processo produtivo, na coleta e em ensaios de amostras”. Tais certificações não são normativas, ou seja, não são obrigatórias, mas muitas empresas fazem o pleito para poder comprovar as suas práticas socialmente responsáveis. Divididas em categorias de certificações ambientais, sociais, saúde e segurança, esse reconhecimento é feito pelo Programa Brasileiro de Certificação em Responsabilidade Social (PBCRS). De acordo com o Inmetro (s.d.b), este programa “é um processo voluntário, no qual a organização busca demonstrar aos clientes e à sociedade, por meio de uma avaliação de terceira parte, que o sistema de gestão atende aos princípios da responsabilidade social”. A concessão de uma certificação envolve três agentes: o Inmetro (gestor do PBCRS), a ABNT (agente normalizador) e uma terceira parte, o acreditador (agente responsável por direcionar, avaliar, inspecionar e conceder a certificação). O programa brasileiro de certificação em responsabilidade social considera que as principais vantagens das certificações são (Inmetro, s.d.b): • estímulo a um processo decisório com pareceres fundamentados e baseados na melhor compreensão das expectativas da sociedade, das oportunidades associadas à responsabilidade social (inclusive com mais controle dos riscos legais) e dos riscos de não ser socialmente responsável; • melhoria das práticas de gestão de risco da organização; • evolução da reputação da organização e promoção de mais confiança por parte do público; • suporte à licença de operação de uma organização; • geração de inovação; 89 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES • avanço da competitividade da organização, incluindo acesso a financiamento e status de parceiro preferencial; • progresso do relacionamento da organização com as partes interessadas, expondo‑a a novasperspectivas e ao contato com diferentes partes interessadas; • aumento da fidelidade, do envolvimento, da participação e da moral dos empregados; • refinamento da saúde e segurança dos trabalhadores de ambos os sexos; • impacto positivo na capacidade da organização de recrutar, motivar e reter os empregados; • economia resultante do aumento de produtividade e eficiência no uso dos recursos, redução no consumo de energia e água, diminuição do desperdício e recuperação de subprodutos valiosos; • maior confiabilidade e equidade das transações por meio de envolvimento político responsável, concorrência leal e combate à corrupção; • prevenção ou redução de possíveis conflitos com consumidores referentes a produtos ou serviços. Entre as certificações que iremos ver a seguir, destacaremos que aquelas referentes à qualidade são as únicas normativas, ou seja, obrigatórias. Sendo as principais a ISO da família 9000. ISO é uma sigla para International Organization for Standardization, que significa Organização Internacional de Normalização. Trata‑se de uma respeitada organização mundial que cuida dos padrões de normatização de procedimentos (Soratto et al., 2006). 6.1 Qualidade A ISO 9001 é conhecida como a norma internacional que apresenta e direciona os requisitos para um sistema de gestão da qualidade (SGQ). As organizações utilizam‑na para demonstrar a capacidade de fornecer consistentemente produtos e serviços que atendem aos requisitos do cliente e regulamentares. Trata‑se do padrão mais acessível da série ISO 9000 e o único da série que as empresas podem certificar (Mariani, 2006). Figura 16 – Símbolo que uma empresa certificada ISO 9001 pode utilizar Disponível em: https://bit.ly/3EEiyRc. Acesso em: 3 out. 2022. 90 Unidade II A ISO 9002 refere‑se à certificação empresarial que segue um padrão publicado pela ISO. Conforme Mariani (2006), a ISO criou diretrizes para garantia de qualidade na instalação, produção e prestação de serviços. A ISO 9003 é uma certificação não específica da indústria, que destina‑se a empresas que não precisam de controle de projeto, processo, compra ou manutenção, mas usam inspeção e teste como meio de determinar se os produtos ou serviços finais atendem aos requisitos (Mariani, 2006). Também é muito comum encontrarmos as ISOs como NBRs, isto é, quando adaptadas para normas ABNT no Brasil, por exemplo: ABNT NBR ISO 9001, ABNT NBR ISO 9002 e ABNT NBR ISO 9003. Elas indiretamente contribuem para a RSE em função da melhoria contínua de qualidade (Mariani, 2006). 6.2 Ambiental Vejamos na sequência algumas certificações ambientais: • EMAS: o EU Eco‑Management and Audit Scheme (EMAS) é um instrumento de gestão integrada desenvolvido pela Comissão Europeia para empresas e outras organizações avaliarem, reportarem e melhorarem o seu desempenho ambiental (Borges, 2021). • ISO 14001: a ISO 14001 é a norma internacional que especifica os requisitos para um sistema de gestão ambiental (SGA) eficaz. Ela fornece uma estrutura que uma organização pode seguir, em vez de estabelecer requisitos de desempenho ambiental. Esta ISO também pode ser encontrada como NBR 14001, que diz ser adaptada para normas ABNT no Brasil como ABNT NBR ISO 14001. A ABNT NBR ISO 14001 é uma norma aceita internacionalmente que define os requisitos para colocar um sistema da gestão ambiental em vigor. Ela ajuda a melhorar o desempenho das empresas por meio da utilização eficiente dos recursos e da redução da quantidade de resíduos, ganhando assim vantagem competitiva e a confiança das partes interessadas (ABNT, 2015). Alguns dos seus pilares são: cumprimento da legislação ambiental; diagnóstico atualizado dos aspectos e impactos ambientais de cada atividade; procedimentos padrões e planos de ação para eliminar ou diminuir os impactos ambientais e pessoal devidamente treinado e qualificado. 6.3 Saúde e segurança Vejamos na sequência algumas certificações de saúde e segurança: • OHSAS 18001: OHSAS 18000 é uma especificação internacional de sistema de gestão de saúde e segurança ocupacional. Ela compreende duas partes, 18001 e 18002, e abrange várias outras publicações. A OHSAS 18001 é uma série de avaliação de saúde e segurança ocupacional para sistemas de gestão de saúde e segurança que estabelece diretrizes para eliminar ou minimizar o risco para os funcionários e outras partes interessadas que possam estar expostas aos riscos associados às suas atividades, além de implementar, manter e melhorar continuamente o ambiente de trabalho. 91 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES • ISO 45001: a ISO 45001 é uma norma internacional para saúde e segurança no trabalho desenvolvida por comitês de normas nacionais e internacionais independentes do governo. Foi introduzida em março de 2018, substituindo o BS OHSAS 18001. A principal diferença entre ambos os padrões é que a ISO 45001 adota uma abordagem proativa que exige que os riscos de perigo sejam avaliados e remediados antes que causem acidentes e lesões, enquanto a OHSAS 18001 adota uma abordagem reativa que se concentra apenas nos riscos e não nas soluções (ISO, s.d.). • ISO 45005: gestão de saúde e segurança no trabalho — Diretrizes gerais para um trabalho seguro durante a pandemia de Covid‑19. Este documento fornece diretrizes para as organizações sobre como gerenciar os riscos decorrentes da pandemia para proteger a saúde, a segurança e o bem‑estar relacionados ao trabalho (ISO, s.d.). • HCS e HHPS: o Human Cosmetic Standard (HCS) e o Humane Household Products Standard (HHPS) são os únicos padrões internacionais para produtos cosméticos e produtos de limpeza que confirmam que os itens e seus ingredientes não foram testados em animais. Vejamos o seu símbolo na sequência: Figura 17 – Símbolo das empresas que não testam produtos em animais Disponível em: https://bit.ly/3g0ez7e. Acesso em: 3 out. 2022. 6.4 Sustentabilidade e responsabilidade social Vejamos na sequência algumas certificações de sustentabilidade e responsabilidade social: • FSC e FSC Brasil: o FSC é o principal catalisador e força definidora para uma melhor gestão florestal e transformação do mercado, mudando a tendência global das florestas para o uso sustentável, conservação, restauração e respeito por todos. Tornar‑se certificado pelo FSC mostra que você atende aos mais altos padrões sociais e ambientais do mercado. A preocupação pública com o estado das florestas e dos recursos madeireiros do mundo está aumentando, e o FSC oferece uma solução confiável para questões ambientais e sociais complexas. Existem três tipos de certificação: manejo florestal, cadeia de custódia e madeira controlada (Borges, 2021). Vejamos seu selo na sequência: 92 Unidade II Figura 18 – Selo FSC para empresas certificadas Disponível em: https://bit.ly/3rHseTB. Acesso em: 3 out. 2022. • MSC: o Marine Stewardship Council é uma organização internacional sem fins lucrativos. Ele reconhece e recompensa os esforços para proteger os oceanos e salvaguardar os suprimentos de frutos do mar para o futuro. Vejamos o seu selo na sequência: Figura 19 – Selo MSC para empresas certificadas Disponível em: https://bit.ly/3ROgXv5. Acesso em: 3 out. 2022. • AA1000: a série de padrões AA1000 da AccountAbility é formada por estruturas baseadas em princípios usadas por empresas globais, empresas privadas, governos e outras organizações públicas e privadas para demonstrar liderança e desempenho em prestação de contas, responsabilidade e sustentabilidade. Ela pode ser definida como o conjunto de princípios e padrões de prestação de contas que contribuem para o sucesso da implementação de políticas de sustentabilidade. Seus princípios são: inclusão – as pessoas devem ter voz nas decisões que as afetam; materialidade ‑ os tomadores de decisão devem identificar e ser claros sobre os tópicos de sustentabilidade que importam; capacidade de resposta – as organizações devem agir de forma transparente sobre temas materiais de sustentabilidade e seus impactosrelacionados. Portanto, representa um fator‑chave para o desempenho econômico, social e ambiental (Dayankac, 2022). 93 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES • GRI: a GRI (Global Reporting Initiative) é a organização internacional independente que ajuda empresas e outras organizações a assumirem a responsabilidade por seus impactos, fornecendo‑lhes a linguagem global comum para comunicá‑los. Para permitir que todas as instituições relatem seu desempenho econômico, ambiental, social e de governança, a GRI produz gratuitamente diretrizes para relatórios de sustentabilidade. • SA8000: o SA 8000 é um padrão de certificação internacional que incentiva as organizações a desenvolver, manter e aplicar práticas socialmente aceitáveis no local de trabalho. Seus critérios foram desenvolvidos a partir de vários códigos da indústria e corporativos para criar um padrão de conformidade com o bem‑estar social. Alguns dos pilares desta certificação são: gestão eficiente e eficaz para realização do trabalho em nome da organização, melhoria dos sistemas de governança corporativa na organização, aumento do desempenho e controle da cadeia de suprimentos na organização, além do crescimento da taxa de retenção de funcionários na empresa. • NBR 16001: a NBR 16001 foi desenvolvida em 2004 pela ABNT e tem como objetivo estabelecer padrões para a implantação de um sistema de gestão de responsabilidade social nas organizações. A ABNT NBR 16001 adota uma definição ampla de responsabilidade social, em que são incorporadas as dimensões ambientais, econômicas e sociais da sustentabilidade, bem como o engajamento das partes interessadas e a participação delas em todo o processo. Implantar, manter e aprimorar um sistema para tal, além de assegurar‑se de sua conformidade com a legislação aplicável e com a sua política da responsabilidade social e gerar o engajamento das partes interessadas nos processos são os requisitos desta NBR. Ela menciona os objetivos, metas e programas que a organização deve contemplar na área de responsabilidade social (Soratto et al., 2006). Entre as várias orientações da ISO, destacam‑se: — boas práticas de governança corporativa; — combate à pirataria, sonegação, fraude e corrupção; — práticas leais de concorrência; — combate ao trabalho infantil, seguindo o Estatuto da Criança e do Adolescente; — remuneração justa, benefícios básicos e combate ao trabalho forçado; — inclusão e diversidade no ambiente de trabalho; — promoção do desenvolvimento profissional; — promoção da saúde e segurança no ambiente de trabalho; — processos de produção sustentáveis desde os fornecedores até o consumidor final; — promoção do desenvolvimento sustentável. 94 Unidade II Saiba mais Quer conhecer mais sobre a NBR 16001? Acesse o site do Inmetro e leia o artigo a seguir: INMETRO. A norma nacional – ABNT NBR 16001. Inmetro, Rio de Janeiro, [s.d.]. Disponível em: https://cutt.ly/tMAonML. Acesso em: 3 out 2022. Lembrete • Certificação: um processo no qual uma entidade independente (3ª parte) avalia se determinado produto atende às normas técnicas. • Normas: padrões a serem seguidos para cumprimento dos processos e obtenção das certificações. As certificações não são obrigatórias e não geram multas. 6.5 ISO 26000 Para empresas e organizações comprometidas em operar de forma socialmente responsável, existe a ISO 26000. Trata‑se de uma norma internacional desenvolvida para ajudar as corporações a avaliar e abordar suas responsabilidades sociais. Sua versão mais recente, ISO 26000:2010, foi revisada e confirmada pela última vez em 2017 (Inmetro, s.d.b). Ela fornece orientação para aqueles que reconhecem que o respeito à sociedade e ao meio ambiente é um fator crítico de sucesso. Ainda de acordo com o referido órgão (s.d.b), além de ser a coisa certa a fazer, a aplicação da ISO 26000 é cada vez mais vista como uma forma de avaliar o compromisso de uma organização com a sustentabilidade e seu desempenho geral. A ISO 26000 destina‑se a ajudar as instituições a contribuir para o desenvolvimento sustentável. Incentiva‑os a ir além da legalidade do cumprimento, reconhecendo que tal fato é um dever fundamental e uma parte essencial do seu programa de responsabilidade social. A norma busca promover um entendimento da responsabilidade social enquanto complementa – mas não substitui – outras ferramentas e iniciativas existentes. Ao aplicar a ISO 26000, as organizações devem considerar questões social, ambiental, legal, cultural, político e organizacional, bem como as diferenças nas condições econômicas, sendo consistente com normas internacionais de comportamento (Park; Kim, 2011). Não se trata de uma norma de sistema de gestão. Não contém requisitos e, como tal, não pode ser utilizada para certificação. Qualquer oferta ou alegação de certificação, de acordo com a ISO 26000, seria uma deturpação de sua intenção e propósito (Inmetro, 2022). 95 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES Mais de 80 países adotaram a ISO 26000:2010 como padrão nacional, fazem parte: EUA, Reino Unido, Canadá, Alemanha e França, bem como muitos países em desenvolvimento. Milhares de empresas e organizações em todo o mundo usam o padrão, incluindo marcas globais como Coca‑Cola e Starbucks (Park; Kim, 2011). Em conformidade com Deus, Seles e Vieira (2014), o desempenho de uma organização em responsabilidade social pode influenciar, entre outras coisas, em: • vantagem competitiva; • reputação; • capacidade de atrair e reter trabalhadores ou membros, clientes e usuários; • manutenção do moral dos funcionários, comprometimento e produtividade; • percepção de investidores, proprietários, doadores, patrocinadores e comunidade financeira; • relacionamento com empresas, governos, mídia, fornecedores, pares, clientes e comunidade na qual opera. A ISO 26000 destina‑se a ajudar todos os tipos de organizações nos setores público, privado e sem fins lucrativos. Seus temas centrais abordam questões que são relevantes a todas as empresas, independentemente do tamanho ou localização. Eles devem ser adaptados a qualquer setor, incluindo energia, transporte, manufatura, varejo e alimentos. Embora os primeiros adotantes do padrão fossem muitas vezes corporações multinacionais, a ISO 26000 foi projetada com a flexibilidade de ser usada por todos, inclusive por hospitais, escolas e instituições de caridade sem fins lucrativos. Observação A certificação é um interesse da organização. Não há nenhuma lei, por exemplo, que obrigue a empresa a ser certificada pela ISO 26000. 96 Unidade II Resumo Nesta unidade, apresentamos para discussão e aprendizagem a contabilidade e as certificações como aliadas da responsabilidade social. Falamos sobre contabilidade ambiental, balanço social e relatório de sustentabilidade e incentivos fiscais. De forma ampla, a contabilidade ambiental, também chamada de contabilidade verde, refere‑se à modificação do Sistema de Contas Nacionais para incorporar o uso ou esgotamento dos recursos naturais. Trata‑se de uma ferramenta vital para auxiliar na gestão dos custos ambientais e operacionais dos recursos naturais. Devemos relembrar que o Conselho Federal de Contabilidade (2020) afirma que a contabilidade ambiental é composta de três facetas principais: custo de conservação ambiental (valor monetário), benefícios de conservação ambiental (unidades físicas) e benefício econômico associado às atividades de conservação ambiental (valor monetário). Vimos que na contabilidade ambiental existem alguns demonstrativos contábeis como o balanço social e o relatório de sustentabilidade. O balanço social pode ser definido como o instrumento no qual são detalhados os custos e benefícios do impacto das ações ou atividades que uma empresa realiza na sociedade. Já o relatório de sustentabilidade é a divulgação e comunicação das metas ambientais, sociais e de governança, bem como o progresso de uma empresa em relação a elas. Ainda tratamos acerca dos incentivosfiscais oferecidos a organizações e pessoas que praticam responsabilidade social, eles consistem no abatimento do valor de impostos devidos que são destinados a algum programa ambiental, social, esportivo e de saúde. Na sequência, lidamos com o conceito de greenwashing, que é considerado uma alegação infundada para enganar os consumidores a acreditar que os produtos de uma companhia são ecologicamente corretos. Por exemplo, as empresas envolvidas no comportamento de lavagem verde podem alegar que seus produtos são de materiais reciclados ou têm benefícios de economia de energia. Posteriormente, focamos nas certificações em responsabilidade social. Foram apresentadas e discutidas certificações de qualidade, ambiental, saúde e segurança e sustentabilidade e responsabilidade social. Devemos sempre nos lembrar que a certificação é um processo no qual uma entidade independente 97 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES (3ª parte) avalia se determinado produto atende às normas técnicas. Não se trata de algo obrigatório ou que gere multas. Por fim, exibimos a ISO 26000. Trata‑se de uma norma internacional desenvolvida para ajudar as organizações a avaliar e abordar suas responsabilidades sociais, destina‑se a ajudá‑las a contribuir para o desenvolvimento sustentável. Incentivando‑as a ir além da legalidade cumprimento, reconhecendo que o cumprimento da lei é um dever fundamental e uma parte essencial do programa de responsabilidade social. 98 Unidade II Exercícios Questão 1. Leia o texto a seguir. A contabilidade ambiental como diferencial comercial É cada vez maior o número de consumidores que levam em consideração as decisões ambientais de uma empresa e o seu consequente envolvimento com a sociedade na hora de comprar um produto. Empresas que sabem capitalizar essa preocupação com o meio ambiente, portanto, podem ter benefícios comerciais diretos decorrentes dessa política, como melhoras na percepção de marca, publicidade espontânea e defesa dos consumidores nas redes sociais. Adaptado de: https://bit.ly/3yt2eyW. Acesso em: 3 out. 2022. Com base no exposto e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas. I – As despesas ambientais são aquelas relacionadas direta ou indiretamente com a proteção do meio ambiente, como o tratamento de resíduos de produção. II – Na contabilidade ambiental, as perdas representam os recursos utilizados para saldar os valores decorrentes dos acidentes ambientais. III – As receitas ambientais representam os bens e direitos relacionados à preservação ambiental que tenham a capacidade de formação de proventos futuros. É correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) II, apenas. C) III, apenas. D) II e III, apenas. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa B. 99 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: as despesas ambientais são aquelas relacionadas com o gerenciamento ambiental, ou seja, as que têm relação com a área administrativa da empresa. II – Afirmativa correta. Justificativa: as perdas ambientais são aquelas que representam gastos para amortizar imprevistos relacionados ao meio ambiente, como eventuais acidentes e desastres ambientais. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: as receitas ambientais são aquelas oriundas das vendas de produtos reciclados e afins ou da prestação de serviços relacionados com a gestão ambiental. Questão 2. Avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I – O termo greenwashing diz respeito às práticas que as empresas ambientalmente responsáveis empregam quando informam aos clientes que um determinado produto é “amigo” do meio ambiente. porque II – Existem produtos que se intitulam ambientalmente corretos, no entanto, não apresentam certificações nem ingredientes que comprovam tal característica. É correto afirmar que: A) As duas asserções são verdadeiras, e a segunda asserção justifica a primeira. B) As duas asserções são verdadeiras, e a segunda asserção não justifica a primeira. C) A primeira asserção é verdadeira, e a segunda asserção é falsa. D) A primeira asserção é falsa, e a segunda asserção é verdadeira. E) As duas asserções são falsas. Resposta correta: alternativa D. 100 Unidade II Análise da questão A primeira asserção é falsa, pois o termo greenwashing refere‑se à prática empresarial de rotular produtos como ecologicamente corretos, mas que nem sempre são sustentáveis. A comunicação, para atrair o cliente, pode apresentar um apelo ecológico; no entanto, trata‑se apenas de uma falsa aparência de sustentabilidade, ou seja, uma prática enganosa. A segunda asserção é verdadeira, pois o uso do greenwashing deixa o consumidor em dúvida sobre as características ecológicas de alguns produtos que na prática não cumprem o que está descrito em suas embalagens.
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