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OS DIREITOS HUMANOS E SUA INTERCONEXÃO COM A PRÁTICA DA ENFERMAGEM

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FACULDADE DE GOIANA
FILOSOFIA, ÉTICA E LINGUAGEM
ENFERMAGEM
OS DIREITOS HUMANOS E SUA INTERCONEXÃO COM A PRÁTICA DA ENFERMAGEM
GOIANA – PE
2024
OS DIREITOS HUMANOS E SUA INTERCONEXÃO COM A PRÁTICA DA ENFERMAGEM
RESUMO
A relação entre a enfermagem e os direitos humanos deve ser entendida à luz do quadro internacional de direitos humanos e do Código de Ética para Profissionais de Enfermagem do Conselho. Além disso, estipula as obrigações do pessoal de enfermagem de proteger, respeitar e promover os direitos humanos nos cuidados de saúde e afirma que o pessoal de enfermagem é responsável pelas suas ações ou omissões na proteção dos direitos humanos. 
Embora se reconheça que as atividades dos profissionais de enfermagem estão vinculadas aos valores dos direitos humanos, a adoção de um arcabouço de direitos humanos nos cuidados e serviços de saúde pode ser considerada fundamental. Os profissionais de enfermagem têm um potencial inegável para serem destacados defensores dos direitos humanos dos pacientes e utentes, mas por outro lado parece que há muito trabalho a ser feito para integrar esta referência nos itinerários de formação e qualificação destes profissionais, para que possam reconhecer e utilizar a linguagem dos direitos humanos no seu trabalho diário.
Palavras Chaves: Direitos Humanos. Cuidado. Enfermagem.
1. INTRODUÇÃO
Após a Segunda Guerra Mundial, aumentou a necessidade de pensar e refletir sobre o respeito pelos direitos humanos e pela dignidade humana. Portanto, a criação, implementação e divulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), elaborada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948, são importantes para o desenvolvimento de muitos documentos que visam unificar os direitos individuais e proteger os seres humanos. Incluindo a Constituição da República Federativa do Brasil promulgada em 1988 (Borges et al., 2020).
Assim, podemos dizer que os seres humanos são seres e causas de necessidades de cuidado e conforto. A consideração existe na estrutura da vida e coexiste na natureza e em diversas áreas, permitindo a sobrevivência das espécies. O cuidado aparece como um envoltório de vida sempre necessário e perseguido racionalmente para que os objetivos de vida possam ser bem alcançados. As escolhas de um indivíduo para atender às necessidades de cuidados são determinadas pelo pensamento racional e pela maximização da utilidade, o que leva à melhoria e a melhores resultados (Santin, 1998).
Desta forma, as sociedades modernas criaram organizações complexas destinadas a prestar serviços de saúde. Cuidar há muito deixou de ser uma atividade exclusiva da família ou vinculada ao papel do indivíduo. Os cuidados de saúde são processados ​​e prestados pelas organizações complexas que os moldam e definem, e são por vezes vistos como apenas mais um produto no mercado, produzido por instituições que nem sempre são concebidas para melhorar a vida (Erdmann, 2004).
Dito isso, embora os direitos humanos não sejam a linguagem universal da enfermagem, os princípios que orientam a prática da enfermagem e procuram alcançar o bem-estar dos pacientes e das comunidades são consistentes com os princípios que sustentam a Declaração Universal dos Direitos Humanos (Cofen, 2018).
Assim, na prática profissional das equipes de enfermagem é importante perceber que os direitos humanos estão vinculados a valores indivisíveis como a justiça e a dignidade humana. Ao considerar a saúde como um direito humano, é importante considerar que os Estados têm a responsabilidade de fornecer cuidados de saúde de qualidade, acessíveis e aceitáveis ​​para a população. (Oliveira, 2018).
2. DESENVOLVIMENTO 
2.1 Profissionais de enfermagem vivenciam o desrespeito aos direitos humano no cuidado à pessoa
Os direitos humanos são direitos inerentes a todo ser humano, independentemente da sua nacionalidade, sexo, origem, cor, religião, língua, orientação sexual ou qualquer outra condição pessoal. Todos gozam dos direitos humanos sem qualquer forma de discriminação. Os direitos humanos estão interligados e indivisíveis. Isto significa que a realização de um direito humano está intimamente ligada à realização de outro direito humano. A relação entre o direito à não discriminação e o direito à saúde (Mann, 1994).
A pobreza e as condições sociais desiguais colocam os indivíduos num estado vulnerável e tornam-nos mais vulneráveis a violações dos seus direitos. Este contexto sugere uma prática de enfermagem de cuidados mais humanos e propositais como recomendação para fortalecer os Sistemas Únicos de Saúde. (SUS) (Maffacciolli; Oliveira, 2018).
Desta forma, os profissionais de enfermagem descreveram suas experiências de respeito aos direitos humanos na prestação de cuidados em ambientes públicos e privados. Consideram que as deficiências nas estruturas físicas, humanas e económicas, bem como a necessidade de cuidados e a burocracia, são fatores intermediários na garantia de direitos, o que é contrário à realidade dos hospitais públicos e privados (Borges et al., 2022).
Além disso, os cuidadores devem capacitar os utilizadores dos serviços de saúde, a fim de proteger o seu estatuto de titulares de direitos. Além disso, a subjetividade humana deve ser valorizada e a equipe de enfermagem desempenha um papel importante na promoção dos direitos dos usuários. (Lacerda, 2017).
Os trabalhadores da saúde desempenham um papel transversal na luta pelos direitos humanos, especialmente porque são muitas vezes as primeiras testemunhas dos danos sofridos pelas vítimas das mais diversas formas de violência. Principalmente na área da enfermagem, onde os profissionais se preocupam com as pessoas eles são mais vulneráveis ​​devido a doenças ou lesões (Hannibal; Lawrence, 1994).
2.2 Enfermagem e os direitos humanos violados
Segundo Campos e Pierantoni (2010), evidencia em seu estudo que os profissionais de saúde estão em maior risco, sendo responsáveis ​​por um quarto de todos os casos de violência no local de trabalho. Na verdade, a pesquisa descobriu que os cuidadores correm mais riscos do que outros profissionais de saúde. Descobriram que isso acontecia porque os enfermeiros estavam em contato direto com os pacientes e seus familiares e se tornavam alvos em situações estressantes, principalmente por outros membros da equipe de saúde.
Foi destacado por Vieira (2017), que os cuidadores enfrentam taxas mais elevadas de violência física, psicológica, verbal ou sexual em comparação com outros profissionais de saúde.
No Brasil, é comum que os enfermeiros vivenciem estresse devido à sua impotência diante de serviços médicos que não atendem aos padrões mínimos de acessibilidade e qualidade. Grande parte da equipe de enfermagem trabalha em condições inseguras, com cargas pesadas de trabalho, sem insumos e laboratórios adequados, além de outros requisitos básicos para uma assistência à saúde segura e de qualidade (Albuquerque et al., 2019).
Os enfermeiros parecem ser um grupo muito vulnerável, uma vez que os direitos humanos são violados diariamente em ambientes profissionais. Por outro lado, a aplicação do marco dos direitos humanos no setor da saúde e por profissionais dessa área ainda está em seus primórdios no Brasil (Cohen; Ezer, 2013).
O atual contexto de violência e abuso enfrentado pelos cuidadores é visto a partir de uma perspectiva de direitos humanos, em particular através de uma nova abordagem: os Direitos Humanos do Paciente (DHP). Compreender o abuso e a violência contra os profissionais de saúde a partir de uma perspectiva de direitos humanos exige que os Estados abordem os contextos e as condições que facilitam este comportamento. A estrutura dos direitos humanos ocupa um lugar importante no discurso público, no debate político e nas políticas públicas, e carrega valores consistentes com as aspirações humanas (Tarantola; Gruskin, 2013).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta trabalho contribui para ampliar o conhecimento na área da saúde, especialmente da enfermagem, e potencializao pensamento para apoiar a tomada de decisão nas equipes de saúde. Para o enfermeiro, mesmo quando o profissional se depara com a proteção do respeito aos direitos humanos em suas práticas, ele presta um cuidado humanizado e atua de forma confortável e prazerosa de acordo com as necessidades do usuário, potencializando assim a conscientização do serviço de enfermagem. De forma a promover a sua atuação no campo dos direitos humanos de forma responsável e sensível.
REFERÊNCIA
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CAMPOS, Augusto de Souza; PIERANTONI, Célia Regina. Violência no trabalho em saúde: um tema para a cooperação internacional em recursos humanos para a saúde. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde, v. 4, n. 1, 2010.
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SANTIN, Silvino. Cuidado e/ou Conforto: um paradigma para a enfermagem. Desenvolvido segundo o Costume dos Filósofos. Texto & contexto enferm, p. 111-32, 1998.
TARANTOLA, Daniel; GRUSKIN, Sofia. Human rights approach to public health policy. In: Health and human rights in a changing world. Routledge, 2013. p. 43-61.
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